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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE CURITIBA/PR

Apelante: Soraia
Apelada: Eletrônicos S/A
Origem: n° do processo, 1° vara cível

RAZÕES DE APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL

EMÉRITOS DESEMBARGADORES

1. BREVE RELATO DOS FATOS

Em junho de 2009, a apelante, adolescente de 13 anos, perdeu a visão do olho direito após a
explosão do aparelho de televisão, que atingiu superaquecimento após permanecer 24 horas ligado
ininterruptamente. A TV, da marca Eletrônicos S/A, fora comprada dois meses antes pela mãe da
vítima.
Exatos sete anos depois do ocorrido, em junho de 2016, a vítima propõe ação de indenização
por danos morais e estéticos em face da fabricante do produto.
Na petição inicial, a autora alegou que sofreu dano moral e estético em razão do acidente de
consumo, atraindo a responsabilidade pelo fato do produto, sendo dispensada a prova da culpa,
razão pela qual requereu a condenação da ré ao pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais) a título de danos morais e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos estéticos
sofridos. No mais, realizou a juntada de todas as prova docuementais que produziu, inclusuve laudo
pericial elaborado na época, apontando o defeito do produto, destacando, desde já, a desnecessidade
de dilação probatória.
Recebida a inicial, o magistrado da 1° Vara Cível da Comarca Y, determinou a citação da ré e
após oferecida a contestação, na qual não se requereceu produção de provas, decidiu proferir
julgamento antecipado, decretando a improcedência dos pedidos da autora, com base em dois
fundamentos:

(i) inexistência de relação de consumo, com consequente inaplicabilidade do Código de Defesa


do Consumidor, poisa vítima/autora da ação já alegou, em sua inicial, que não participou da
relação contratual com a ré, visto que foi sua mãe quem adquiriu o produto na época; e
(ii) prescrição da pretensão autoral em razão do transcurso do prazo de três anos, previsto no
Art. 206, pg. 3°, inciso V, do Código Civil.

Por sua vez, o juízo quo julgou improcedente o pedido formulado pelo Autor ora Apelante. No
entanto, como será demonstrado a seguir, a sentença merece ser reformada.

2. RAZÕES PARA REFORMA

De início cumpre salientar que estão presentes os pressupostos de admissibilidade recursal,


das quais sejam;

A previsão dos tipos de recurso se faz de acordo com o princípio da taxatividade: só há os


recursos que a lei prevê;
Art. 994 do Código de Processo Cívil. São cabíveis os seguintes recursos:
I – apelação; .

O recurso foi interposto no prazo legal sem pena de preclusão temporal;

Art. 1.003 do Código de Processo Cívil. O prazo para interposição de recurso conta-se
da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a
Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.

§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para


responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

Vale salientar que foram feitos todos os pagamentos das custas para o processamento do
recurso;

Art. 1.007 do Código de Processo Cívil. No ato de interposição do recurso, o


recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo
preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

Cumpre-se também os pressupostos subjetivos, as partes tem legitimidade e interesse de agir.

No tocante à reforma da sentença, observa-se os seguintes pontos: Como a autora já


produziu toda a prova pré-constituída que julga adequada, deve devolver toda a matéria,
pugnando pelo provimento total do recurso de apelação, para que o Tribunal examine as
demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau, na forma do
Art. 1.013, § 4º, do CPC/15.

Art 1.013 do Código de Processo Cívil. A apelação devolverá ao tribunal o


conhecimento da matéria impuganada ;

§ 4° Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o


tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar
o retorno do processo a o juízo de primeiro grau.

No caso, a despeito de não ter participado, como parte, da relação contratual de compra e
venda do produto, a autora é qualificada como consumidora, pois, nas hipóteses de
responsabilidade pelo fato do produto;

Art. 17 do Código de Defesa do Consumidor - Lei 8078/90

Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do


evento.

Presente também a relação de consumo entre apelante e apelado, sem necessidade de retorno
dos autos à instância inferior, a fabricante responde independente de culpa por danos causados
por defeitos de fabricação que ponham risco a segurança dos consumidores;
Art. 12 do Código de Defesa do Consumidor. O fabricante, o produtor, o construtor,
nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1 °O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se


espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

Deve-se pretender o afastamento da prescrição. Isso porque não ocorre prescrição contra
absolutamente incapaz (Art. 198, inciso I, do CC), razão pela qual o termo inicial de contagem do
prazo prescricional de 5 (cinco) anos (Art. 27 do CDC) efetivou-se apenas em 2012, quando a
autora completou 16 anos, tornando-se relativamente capaz. Dessa forma, a prescrição de sua
pretensão ocorreria apenas em 2017;

Art. 198 do Código Civil - Lei 10406/02


Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;

Art. 27 do Código de Defesa do Consumidor - Lei 8078/90


Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto
ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir
do conhecimento do dano e de sua autoria.

Depreende-se, portanto, que a sentença, data venia, merece ser reformada no sentido para que o
pedido seja julgado, desde logo, procedente, mediante o reconhecimento da relação de consumo e o
afastamento da prescrição, dando provimento integral ao recurso de apelação, com o julgamento do
mérito da demanda, na medida em que o feito se encontra maduro para julgamento.

3. REQUERIMENTO DE REFORMA

Por todo o exposto, a Apelante requer que o presente recurso de apelação seja conhecido e,
quando de seu julgamento, lhe seja dado intregral provimento para reformar a r. Sentença recorrida
no sentido de acolher o pedido inicial do Autor/Apelante e por ser de inteira Justiça.
Requer, ainda, a inversão do ônus da sucumbência para condenar o apelado ao pagamento do
mesmo.
Nestes termos, pede deferimento.
Local e data
ADV / OAB

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