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195/21)
OPINIÃO
Entrou em vigor no último dia 26 de agosto a Lei nº 14.195/21, que promoveu inúmeras
mudanças no Código de Processo Civil (CPC).
Como bem se sabe, a citação é ato solene que, além de integrar sujeitos à relação
processual, constitui requisito de validade do processo, induzindo a litispendência,
tornando litigiosa a coisa, constituindo em mora o réu e interrompendo a prescrição.
Ocorre que, antes da reforma, a redação do CPC determinava que, regra geral, a citação
dar-se-ia pelo correio, além das hipóteses subsequentes previstas no artigo 246, quais
sejam: oficial de Justiça, comparecimento em cartório, edital e meio eletrônico.
Esta última forma, listada no então artigo 246, V, do CPC, indicava o propósito do
legislador de aprimorar a citação por meio eletrônico, determinando ainda que empresas
públicas e privadas, com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte,
deveriam manter cadastro junto aos sistemas de processo em autos eletrônicos para
recebimento de citações e intimações.
https://www.conjur.com.br/2021-out-01/pedroso-recentes-alteracoes-cpc-lei-1419521?imprimir=1 1/4
11/03/22, 14:58 ConJur - Pedroso: As recentes alterações no CPC (Lei nº 14.195/21)
No Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o projeto para cadastramento dessas empresas
começou em 2020, como o próprio site do tribunal noticiou [1]. Ou seja, pelo que se
verifica, apesar da intenção manifestada pelo legislador de fazer uso da tecnologia por
ocasião da realização do ato citatório, iniciativas organizadas para a efetivação desse
objetivo só começaram a tomar forma cinco anos depois, ao que se verifica, em razão da
necessidade de manter distanciamento social em decorrência da pandemia provocada pelo
Covid-19.
Assim, diante da premente necessidade de tornar o ato citatório mais moderno e alinhado às
novas tecnologias que temos às mãos, a mencionada lei reforma o CPC para determinar que
a citação seja feita preferencialmente por meio eletrônico, a partir de um banco de dados
mantido pelo Poder Judiciário, regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Entretanto, até a presente data, não há registro da existência deste banco de dados.
Caso não o faça, a citação será feita pelos outros meios citatórios tradicionais, quando então
o réu, na primeira oportunidade de falar aos autos, deverá apresentar justa causa por não ter
respondido o e-mail enviado, sob pena de ato atentatório à dignidade da Justiça, passível de
multa de até 5% do valor da causa. Caso confirme o recebimento, contar-se-á o prazo a
partir do quinto dia útil subsequente, conforme alteração no artigo 231 do CPC.
Ainda, a legislação reformista disciplina que a citação será efetivada em até 45 dias da
propositura da ação. E se não o for? Não há previsão de qualquer consequência. Trata-se,
portanto, de prazo impróprio para o juízo.
Por fim, questiona-se se a justa causa apta a justificar a falta de resposta a uma mensagem
eletrônica (e-mail), evitando a fixação de multa, poderia se dar por eventual falha de
conexão, direcionamento ao spam ou qualquer outro problema tecnológico? Fato é que
"justa causa" constitui um conceito jurídico indeterminado, cercado apenas por uma
aparência de objetividade. Nesse sentido, a falta de elementos que confiram concretude ao
termo que serve como baliza para fixação de multa constitui fonte de incertezas.
Destaca-se ainda que as alterações promovidas pela Lei nº 14.195/21 têm impacto direto no
fluxo da tramitação dos procedimentos de cunho executório, diminuindo substancialmente
o tempo para que o credor localize o devedor e/ou seus bens.
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11/03/22, 14:58 ConJur - Pedroso: As recentes alterações no CPC (Lei nº 14.195/21)
Lembre-se que, pela redação anterior, só depois de um ano de suspensão começava a correr
o prazo da prescrição intercorrente. Essa mudança exige mais diligência do credor que
agora deverá pesquisar e localizar o devedor e seu patrimônio penhorável antes de iniciar a
execução, sob pena de, já na primeira tentativa frustrada, ver correr contra si o prazo
prescricional[2].
c) Insere o parágrafo 4º-A, que dispõe sobre a interrupção da prescrição, incidente uma
única vez, nas hipóteses de: 1) efetiva citação/intimação do devedor; e 2) constrição de
bens penhoráveis, sendo excluídos do seu cômputo o tempo necessário para a prática desses
atos, desde que cumpridos os prazos fixados em lei ou pelo juiz;
Nesse ponto, ao admitir pedidos mais genéricos, a mudança parece reforçar uma das
novidades do CPC de 2015, qual seja, o alargamento do escopo da ação de produção
antecipada de prova (artigo 381 e seguintes do Código).
Aplicada a referida alteração legislativa, a ação probatória autônoma se mostra ainda mais
útil, considerando principalmente o artigo 381, III, do CPC, já que, a depender do(s)
documento(s) ou da(s) coisa(s) previamente coletados(as), a produção antecipada da prova
poderá de fato justificar ou até mesmo evitar o ajuizamento da ação pretendida.
[1] TJSP. Conheça o projeto de citação e intimação eletrônica do TJSP. Disponível em:
<https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=63173
[2] ASSIS JUNIOR, Luiz Carlos de. Prescrição intercorrente — saiba tudo sobre as
alterações no CPC. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=eDcIJNXRl_o>.
Kaio César Pedroso é especialista em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito
Contratual, Advocacia Extrajudicial, Direito Empresarial e em Direito Constitucional
Aplicado, mestre pelo IDP, filiado à AASP, IBDCONT e ao IBRADIM.
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