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11/03/22, 14:58 ConJur - Pedroso: As recentes alterações no CPC (Lei nº 14.

195/21)

OPINIÃO

Considerações sobre as recentes alterações no


CPC (Lei nº 14.195/21)
1 de outubro de 2021, 17h12

Por Kaio César Pedroso

Entrou em vigor no último dia 26 de agosto a Lei nº 14.195/21, que promoveu inúmeras
mudanças no Código de Processo Civil (CPC).

Entre as diversas alterações promovidas na


legislação processual civil, destacam-se aquelas
relacionadas ao ato citatório "pelo qual são
convocados o réu, o executado ou o interessado
para integrar a relação processual", nos termos
do artigo 238 do CPC.

O objetivo seria incrementar a sua realização por


meio eletrônico.

Como bem se sabe, a citação é ato solene que, além de integrar sujeitos à relação
processual, constitui requisito de validade do processo, induzindo a litispendência,
tornando litigiosa a coisa, constituindo em mora o réu e interrompendo a prescrição.

Ocorre que, antes da reforma, a redação do CPC determinava que, regra geral, a citação
dar-se-ia pelo correio, além das hipóteses subsequentes previstas no artigo 246, quais
sejam: oficial de Justiça, comparecimento em cartório, edital e meio eletrônico.

Esta última forma, listada no então artigo 246, V, do CPC, indicava o propósito do
legislador de aprimorar a citação por meio eletrônico, determinando ainda que empresas
públicas e privadas, com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte,
deveriam manter cadastro junto aos sistemas de processo em autos eletrônicos para
recebimento de citações e intimações.

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No Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o projeto para cadastramento dessas empresas
começou em 2020, como o próprio site do tribunal noticiou [1]. Ou seja, pelo que se
verifica, apesar da intenção manifestada pelo legislador de fazer uso da tecnologia por
ocasião da realização do ato citatório, iniciativas organizadas para a efetivação desse
objetivo só começaram a tomar forma cinco anos depois, ao que se verifica, em razão da
necessidade de manter distanciamento social em decorrência da pandemia provocada pelo
Covid-19.

Assim, diante da premente necessidade de tornar o ato citatório mais moderno e alinhado às
novas tecnologias que temos às mãos, a mencionada lei reforma o CPC para determinar que
a citação seja feita preferencialmente por meio eletrônico, a partir de um banco de dados
mantido pelo Poder Judiciário, regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Entretanto, até a presente data, não há registro da existência deste banco de dados.

Implementado o aludido banco de dados e realizado o cadastro pelo citando, após a


determinação da citação, o envio do e-mail deverá ocorrer no prazo de até dois dias úteis.
Após esse envio, o citando terá o prazo de três dias úteis para confirmar o recebimento da
mensagem.

Caso não o faça, a citação será feita pelos outros meios citatórios tradicionais, quando então
o réu, na primeira oportunidade de falar aos autos, deverá apresentar justa causa por não ter
respondido o e-mail enviado, sob pena de ato atentatório à dignidade da Justiça, passível de
multa de até 5% do valor da causa. Caso confirme o recebimento, contar-se-á o prazo a
partir do quinto dia útil subsequente, conforme alteração no artigo 231 do CPC.

Ainda, a legislação reformista disciplina que a citação será efetivada em até 45 dias da
propositura da ação. E se não o for? Não há previsão de qualquer consequência. Trata-se,
portanto, de prazo impróprio para o juízo.

Por fim, questiona-se se a justa causa apta a justificar a falta de resposta a uma mensagem
eletrônica (e-mail), evitando a fixação de multa, poderia se dar por eventual falha de
conexão, direcionamento ao spam ou qualquer outro problema tecnológico? Fato é que
"justa causa" constitui um conceito jurídico indeterminado, cercado apenas por uma
aparência de objetividade. Nesse sentido, a falta de elementos que confiram concretude ao
termo que serve como baliza para fixação de multa constitui fonte de incertezas.

Destaca-se ainda que as alterações promovidas pela Lei nº 14.195/21 têm impacto direto no
fluxo da tramitação dos procedimentos de cunho executório, diminuindo substancialmente
o tempo para que o credor localize o devedor e/ou seus bens.

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Assim, de forma pontual, o legislador insere a previsão sobre o prazo da prescrição


intercorrente — o mesmo da prescrição da pretensão — incorporando ao texto da lei o que
já previa o Enunciado nº 150 da súmula do STF. Contudo, o foco das alterações
promovidas pela Lei nº 14.195/21 é realmente o plano processual, especificamente o artigo
921 do CPC, pois:

a) Inova a redação do inciso III ao prever a suspensão da execução na hipótese de o próprio


executado não ser localizado. Além disso, substitui o termo "não possuir bens
penhoráveis" por não "localizar" bens penhoráveis;

b) Altera o termo inicial da prescrição intercorrente constante do parágrafo 4º do artigo 921


do CPC, que agora dispõe ser "(…) a ciência da primeira tentativa infrutífera de
localização do devedor ou de bens penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo
prazo máximo previsto no § 1º deste artigo".

Lembre-se que, pela redação anterior, só depois de um ano de suspensão começava a correr
o prazo da prescrição intercorrente. Essa mudança exige mais diligência do credor que
agora deverá pesquisar e localizar o devedor e seu patrimônio penhorável antes de iniciar a
execução, sob pena de, já na primeira tentativa frustrada, ver correr contra si o prazo
prescricional[2].

c) Insere o parágrafo 4º-A, que dispõe sobre a interrupção da prescrição, incidente uma
única vez, nas hipóteses de: 1) efetiva citação/intimação do devedor; e 2) constrição de
bens penhoráveis, sendo excluídos do seu cômputo o tempo necessário para a prática desses
atos, desde que cumpridos os prazos fixados em lei ou pelo juiz;

d) Acrescenta na redação do parágrafo 5º que o juiz poderá reconhecer a prescrição


intercorrente e extinguir o feito "sem ônus para as partes". No parágrafo 6º,
estabelece também que eventual alegação de nulidade quanto ao procedimento só será
conhecida se demonstrado o prejuízo, sendo este presumido apenas na hipótese de
inexistência da intimação tratada no §4º;

e) Em sua última inserção (parágrafo 7º), possibilita-se a aplicação desses regramentos ao


cumprimento de sentença, a evidenciar que esses procedimentos se sujeitam ao mesmo
regime jurídico.

A Lei nº 14.195/21 também modificou o artigo 397 do CPC, ampliando o procedimento


para exibição de documento ou coisa, já que antes, exigia-se a "individuação" daquilo a
que se pretendia ter acesso. Com a alteração, basta a mera "descrição" e passaram a ser
admitidas "categorias de documentos ou de coisas buscados".
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11/03/22, 14:58 ConJur - Pedroso: As recentes alterações no CPC (Lei nº 14.195/21)

Nesse ponto, ao admitir pedidos mais genéricos, a mudança parece reforçar uma das
novidades do CPC de 2015, qual seja, o alargamento do escopo da ação de produção
antecipada de prova (artigo 381 e seguintes do Código).

Aplicada a referida alteração legislativa, a ação probatória autônoma se mostra ainda mais
útil, considerando principalmente o artigo 381, III, do CPC, já que, a depender do(s)
documento(s) ou da(s) coisa(s) previamente coletados(as), a produção antecipada da prova
poderá de fato justificar ou até mesmo evitar o ajuizamento da ação pretendida.

Percebe-se, portanto, que as mudanças implementados pela Lei nº 14.195/21 são


substanciais, sendo certo que inúmeros debates se seguirão após a vigência das referidas
alterações legislativas.

[1] TJSP. Conheça o projeto de citação e intimação eletrônica do TJSP. Disponível em:
<https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=63173

[2] ASSIS JUNIOR, Luiz Carlos de. Prescrição intercorrente — saiba tudo sobre as
alterações no CPC. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=eDcIJNXRl_o>.

Kaio César Pedroso é especialista em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito
Contratual, Advocacia Extrajudicial, Direito Empresarial e em Direito Constitucional
Aplicado, mestre pelo IDP, filiado à AASP, IBDCONT e ao IBRADIM.

Revista Consultor Jurídico, 1 de outubro de 2021, 17h12

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