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PROCESSO CIVIL
6. A evidência e certeza de que se trata de citação ficta, como de resto são todas as
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A CITAÇÃO POSTAL: UMA INUTILIDADE NO CÓDIGO DE
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citações postais (salvo aquelas que devem ser feitas em mão própria), é dada pelo art.
12, § 3.º, da Lei 6.830/1980, que exige então a intimação pessoal do executado, em
relação à penhora, nas hipóteses em que ele ou seu representante legal não tenham
assinado o Aviso de Recepção (AR) da correspondência.
Ali a citação postal é considerada feita - tal como ocorre na Justiça do Trabalho - pela
presunção do recebimento da mesma pelo destinatário, se não ocorrer a devolução da
correspondência por qualquer das hipóteses postais em que isso deve ocorrer, ou, como
indica o inc. III supra transcrito, se o Aviso de Recepção não retornar dentro de 15 dias
da data da entrega da carta à agência postal.
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9. Como deixou claro Arruda Alvim, apesar de referir a lei à pessoalidade da citação
postal, "o correio está servindo de veículo processual", e tal veículo, como veremos
adiante, terá que ser usado na forma da legislação que o rege e dá segurança às suas
atividades.
A propósito, e evidenciando desde logo que o tema não é pacífico, verifica-se que
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Alexandre de Paula anota "a citação pelo correio é ficta e não real".
11. Já o art. 223 trouxe disposição praticamente igual àquela do art. 841 da CLT
(LGL\1943\5), com regra expressa que, indesejavelmente, pretendeu dar à citação
postal o caráter de pessoalidade (o que é impossível, pelo menos, com a eficiência
desejada), e o que, já de muito tempo, a experiência e a jurisprudência trabalhista
tinham corretamente afastado. Disse o parágrafo único do artigo 223 a esse respeito: "A
carta será registrada pela entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega,
que assine o recibo. Sendo o réu pessoa jurídica, será válida a entrega a pessoa com
poderes de gerência geral ou administração."
12. O exame da redação anterior desse texto mostra como, em busca de uma certeza no
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A Lei 5.295, de 01.10.1973, assim escrevia o artigo 223 do Código de Processo Civil
(LGL\1973\5): "Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe da secretaria porá
a cópia da petição inicial, despachada pelo Juiz, dentro do sobrescrito com timbre
impresso do juízo ou tribunal, bem como do cartório, indicando expressamente que visa
a intimar o destinatário".
Seus parágrafos, hoje inexistentes, assim estavam redigidos: "(§ 1.º) Se já não constar
da cópia da petição inicial, o despacho do juiz consignará a advertência a que se refere o
art. 285, segunda parte, se o litígio versar sobre direitos disponíveis; (§ 2.º) A carta será
registrada, com aviso de recepção, a fim de ser junto aos autos; (§ 3.º) O carteiro fará
entrega da carta registrada ao destinatário, exigindo-lhe que assine recibo."
13. Vê-se, portanto, que o novo texto, em vigor, substituiu a expressão destinatário pela
expressão citando, a evidenciar preocupação com a interpretação que vinha sendo dada
à palavra destinatário.
14. Com efeito, antes ainda da vigência da Lei 8.710, de 1993, a respeito da dificuldade
e mesmo da impossibilidade de ser tal citação postal admitida como pessoal, afirmava a
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doutrina: "Por outro lado, quando o Código regula a citação, dispõe no art. 215 que ela
deve ser feita pessoalmente ao réu, ao seu representante legal ou a procurador
autorizado (...) Se formos, finalmente, examinar as conseqüências da revelia no sistema
de 1973, veremos que elas são demasiadamente drásticas, o que é incompatível com a
simplicidade da citação pelo correio em situação que não a entrega da carta
pessoalmente ao citando."
Concluindo, o autor citado afirma: "Evidentemente, a partir desta idéia, esvazia-se muito
o sentido da citação por carta, pois não será fácil ao carteiro ter acesso ao diretor ou ao
gerente de uma grande empresa, para colher deste a assinatura no aviso da recepção.
Esta modalidade citatória, na realidade, vai servir unicamente contra o pequeno
comerciante ou industrial que é facilmente encontrado atrás de seu balcão, mas para o
grande industrial, não! Este nunca vai ser atingido".
16. Coerente com essa solução, o Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, 1979, no
julgamento do AgIn. 267.664, pela sua 1.ª Câmara, relatando o Juiz Macedo Bittencourt,
decidia: "Citação pelo Correio - AR. não assinado pelo destinatário. Invalidade. A citação
postal deverá ser feita na pessoa do destinatário, havendo constar do AR a sua
assinatura, sob pena de invalidade."
O mesmo entendimento foi sufragado por significativa doutrina representada por Moniz
de Aragão, Comentários, Forense, vol. II, p. 212; Hélio Tornaghi, Comentários, RT, vol.
II, p. 169; José Carlos Barbosa Moreira, O Novo Processo Civil Brasileiro, Vol. I, Forense,
p. 48, recomendando essa doutrina que não encontrado o destinatário ou se recusando
ele a receber a carta ou a assinar o recibo, "o carteiro - que não é auxiliar do Juízo -
nem tem fé pública, simplesmente reterá a correspondência para a devolução ao
remetente."
17. Mas essa posição, que é rígida na proteção do direito do réu, citando, discrepa
totalmente do entendimento que há mais de quarenta anos os tribunais trabalhistas vêm
aprimorando a respeito, em contacto com a realidade da citação postal, e que resultou
na efetiva afirmação de que a citação postal é na realidade ficta, uma mera presunção
relativa, como definido pelo Enunciado 16 da Súmula Predominante do Tribunal Superior
do Trabalho: "Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de
sua regular expedição. O seu não recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo,
constituem ônus da prova do destinatário".
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A esse respeito, nos "Debates" antes referidos constate-se a oportunidade das ressalvas
estabelecidas pelo Professor Luiz Sérgio de Souza Rizzi: "Ressurge, na justiça comum,
um problema que foi muito debatida na Justiça Trabalhista. Lá se firmou posição
segundo a qual a notificação, não sendo devolvida, considera-se o reclamado notificado,
embora esta tenha sido recebida por empregado, ou mesmo, pela seção de
correspondência do reclamado. Quer nos parecer - e assim é a opinião de vários
doutrinadores, na área trabalhista - que a Justiça do Trabalho tenha encontrado uma
solução, do ponto de vista prático, muito boa, mas não a melhor solução do ponto de
vista teórico e doutrinário."
18. Com toda a verdade, verificou-se na Justiça do Trabalho a plena eficácia da citação
postal, com raríssimas e verdadeiras exceções, porque, efetivamente, a correspondência
enviada, em papel timbrado da Justiça, com todos os dizeres, carimbos etc..., chega
sempre ao destinatário, mediante AR, seja ele empresa ou mesmo pessoa física.
19. Da mesma forma, no processo civil, nas ações relativas a alimentos, cuja prática do
chamamento postal do réu é anterior, o índice de comparecimento das partes sempre foi
grande, confirmando a recepção da correspondência oficial, sobretudo porque no artigo
4.º da Lei 5.478, de 1968 está expresso que: "o juiz, ao despachar o pedido, fixará
desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor", e o não comparecimento
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do réu à audiência para a qual foi também intimado pela citação postal, a teor do art.
7.º da mesma lei, significa o julgamento do pedido inicial favoravelmente, de pronto,
sem mais oportunidade ao réu para apresentar resposta.
20. Entretanto, no processo civil em geral, tal como vem ocorrendo, escudados no artigo
214, § 2.º da Lei Adjetiva, vêm os réus a juízo, - curiosamente sempre dentro do prazo
da defesa! - afirmando terem tomado conhecimento da inicial por terceiros (?) e daí
manifestam sua resistência indireta, pugnando pela declaração de nulidade da citação,
ato esse que acaba ocorrendo, depois, com a intimação pelo Diário Oficial, do despacho
que acolhe a referida nulidade.
21. Ocorre, ainda, que se não fosse para adotar a impessoalidade e ficção da citação
postal, não teria o legislador progredido na aceitação dessa modalidade, como ocorreu
na recente alteração de 1993, dos artigos 221 et seq. do Código de Processo Civil
(LGL\1973\5), para deixar estabelecido que a citação postal não mais se restringia aos
comerciantes e industriais, nem aos devedores de tributos e de alimentos e aos outros
casos do art. 13 da Lei 5.478/1978, nem também somente aos locadores e locatários
que a tenham contratualmente aceito, mas, sim, a todos os réus, com as exceções que a
própria lei resolveu proteger, por considerar naqueles casos indispensável a citação
pessoal.
22. Ocorre que adotando o método postal para a citação, ordinariamente, não pode a lei
processual (e muito menos o julgador) desprezar no exame dos conflitos decorrentes
dessa própria citação postal, o que a respeito estabelece a Lei 6.538, de 22.06.1978,
que regula os serviços postais, e que estabelece, expressamente, nos artigos 21 e 22:
"Art. 21. Nos estabelecimentos bancários, hospitalares e de ensino, empresas industriais
e comerciais, escritórios, repartições públicas, associações e outros edifícios não
residenciais de ocupação coletiva, deve ser instalado, obrigatoriamente, no recinto de
entrada, em pavimento térreo, local destinado ao recebimento de correspondência. Art.
22. Os responsáveis pelos edifícios, sejam administradores, os gerentes, os porteiros,
zeladores ou empregados são credenciados a receber objetos de correspondência
endereçados a qualquer pessoa de suas unidades, respondendo pelo extravio ou
violação."
Estamos assim diante de uma realidade legal que a lei processual não pode ignorar
quando utiliza o serviço postal como "veículo processual", forma corretamente
assinalada por Arruda Alvim.
Se a citação é feita pelo correio, deverá ser entregue nos locais para isso destinados nas
diversas situações referidas pela própria Lei Postal e deverá ser recebida por aqueles que
estão, pela lei, credenciados a fazê-lo.
23. Entretanto, as decisões judiciais proferidas ignoram a existência da lei postal, muito
embora não possam desconhecer que a citação postal é feita pela forma ali determinada.
A Lei Postal é lei federal, constitucional e está em vigor.
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24. A não compreensão de tal situação tem gerado a perplexidade do Judiciário, que
mais e mais, e salvo algumas honrosas exceções, tem tornado inútil a citação postal,
obrigando as partes a abandoná-la ou a repetir os atos da citação por oficial de justiça,
exatamente pela incompreensão de que tais atos são efetivamente impessoais e
necessariamente regidos pela referida Lei 6.538, de 1978, e pelo seu Regulamento,
através do Decreto 83.858, de 15.08.1979.
25. Significativo ainda, a propósito das alterações recentes do Código de Processo Civil
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(LGL\1973\5), o comentário feito por Cândido Dinamarco referindo-se à forma de
realização da citação postal: "... Segunda inovação no procedimento da citação postal:
sendo a ré pessoa jurídica, a entrega da correspondência far-se-á "a pessoa com
poderes de gerência geral ou administração" (art. 223, par.) Essa redação é
exageradamente restritiva e poderá conduzir à aniquilação da citação de pessoas
jurídicas pelo correio se o texto não for adequadamente interpretado em confronto com
outros dispositivos contidos na ordem jurídica (interpretação sistemática). Seria até
ingênuo crer que pudesse o carteiro, que não tem as prerrogativas de um oficial de
justiça, ingressar no estabelecimento, exigir a presença de pessoa assim qualificada,
pedir sua identificação e prova de poderes etc. A experiência que se tem quanto à
citação postal, máxime aquela oriunda da Justiça do Trabalho, aponta para soluções de
extremo informalismo, que dispensa esses cuidados e tem-se mostrado eficiente. Por
isso, e porque a pessoa jurídica citanda será invariavelmente de direito privado (v. art.
222, c), o preposto que atender ao carteiro no estabelecimento receberá eficazmente a
citação e a ré considerar-se-á citada mediante a ciência atestada por ele. A
jurisprudência vinha evoluindo no sentido de ter por eficaz a citação na pessoa do
preposto presente no estabelecimento, mesmo quando feita por oficial de justiça (é
regra geral a da representação do preponente pelo preposto, no estabelecimento
comercial). Augura-se, pois, que saibam os juízes mitigar a aparente rigidez desse
parágrafo, evitando que a inovação venha a figurar como fator de um indesejável
retrocesso."
26. Acresça-se, ainda, o surgimento de outra novidade legal, e que vem reforçar o
entendimento referido, de que a despeito da regra dos arts. 215 e e 223, parágrafo
único, do CPC (LGL\1973\5), a citação postal conserva a impessoalidade decorrente da
entrega da correspondência, autorizada pela lei especial do tema, às pessoas
encarregadas de recebê-la em empresas, edifícios etc...
27. Está previsto no artigo 18 da Lei 9.099, de 26.09.1995, que: "A citação far-se-á: (I)
- por correspondência, com aviso de recebimento em mão-própria; (II) - tratando-se de
pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que
será obrigatoriamente identificado."
Assim, quando o citando for pessoa física, a citação será feita pelo correio, mas pela
forma determinada pelo artigo 47, d, do Decreto 83.858, de 15.08.1979, ou seja, "... de
mão-própria, o (objeto) que deva ser entregue ao próprio destinatário", ou seja, citação
pessoal.
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28. Fica claro, portanto, e até mesmo pela nova legislação editada, que a citação postal
deferida pelo Código de Processo Civil (LGL\1973\5), sem os cuidados da entrega em
mão-própria (modalidade que está na lei desde 1978), é citação ficta, impessoal, e que
se dará por perfeita e realizada, desde que a correspondência seja entregue àquelas
pessoas referidas nos artigos 21 e 22 da Lei Postal cabendo ao citando, de forma efetiva
e inafastável, demonstrar que daquela forma não se realizou o ato.
29. Não tem sentido e não é necessário o recurso à teoria da aparência para justificar a
validade da citação postal entregue no local devido, a quem a lei postal legitimamente
credenciou para tal. Como visto, a Lei Postal, ela própria, cuidou de regular a hipótese
acolhida pela legislação processual, estabelecendo a diferença entre cada caso: o da
citação impessoal, através de aviso de recebimento (AR) e o da citação pessoal, através
da entrega em mão-própria.
30. Assim, se e quando desejar o Juízo que o réu receba, efetivamente em mãos, o
mandado de citação, deverá determinar que a correspondência seja remetida em
mão-própria.
É comum a afirmativa no foro de que os juízes não são atentos às demais leis, ainda que
válidas, constitucionalmente eficazes etc., que não sejam aquelas conhecidas através
dos Códigos e é nossa função, quer nos autos quer em outras sedes, chamar a atenção
para a existência das mesmas, para que se integrem como instrumento adequado de
solução dos conflitos em que tenham influência.
A Lei Postal é texto indispensável na aplicação das regras do Código de Processo Civil
(LGL\1973\5) e de todas as demais leis extravagantes, a propósito das citações,
intimações e notificações, e isso, sem dúvida, na medida em que o Código escolheu essa
via de comunicação, e sem sua integração no contexto do tema, na aplicação aos casos
de citação postal, repita-se, melhor será suprimi-la, em benefício da efetividade do
processo.
32. O problema tem, na sua base, a dogmática antiga e ultrapassada do tema, que
apesar de já rompida pela evolução da sociedade e de suas necessidades de efetiva
jurisdição, persiste equivocadamente na raiz, art. 215 do CPC (LGL\1973\5), a
determinar que a citação postal (apesar de ser isso hoje impossível!) deverá ser feita
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pessoalmente.
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José Carlos Barbosa Moreira já observava, em 1986, a dificuldade do legislador de lidar
com o sentido da expressão 'citação pessoal' afirmando: "Observe-se que o Código usa
às vezes em sentido diverso do exposto a expressão 'citação pessoal', ora para designar
a feita in faciem pelo oficial de justiça ao próprio citando, como no art. 241, I (em que
ela se contrapõe à citação com hora certa), ora ainda a abranger qualquer forma de
citação diversa da edital, como no art. 942, II, (que, aliás, sem embargo do seu teor
literal, não preexclui a possibilidade de recorrer-se à citação por edital da própria pessoa
em cujo nome esteja transcrito o imóvel usucapiendo, ou alguns dos confinantes, v.g.,
nos casos do art. 231, II)."
33. Após a recente reforma, e diante da evidente revisão implícita do conceito pelo
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próprio legislador, impende acolher as palavras de J. J. Calmon de Passos no sentido de
que a nova dogmática tem que ser pensada e escrita para manter o processo atualizado,
efetivo, no interesse dos administrados. A citação pessoal é dogma vencido. A citação
preferencialmente pessoal pode ser compreendida, mas não como dogma, a limitar o
juízo de todos, já que ela terá que ser sempre impessoal, ficta, nos casos em que para
obtê-la pessoal haverá sacrifício da utilidade do processo, como se tem visto ocorrer
diante da velha dogmática.
34. A propósito, e para exata compreensão de que não se estará ofendendo cláusulas
pétreas com tal entendimento, mas, tão-somente, atualizando a nossa dogmática, vale
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ouvir e beber as palavras do eminente José Carlos Barbosa Moreira ao se referir ao
intenso movimento legislativo novo, decorrente da pressão das transformações políticas,
sociais e econômicas, evidenciando que é possível progredir dogmaticamente no alcance
de um processo viável e sério, apesar do dogma fundamental do "garantismo" do direito
pátrio, consagrado com solenidade na Constituição de 1988: "No universo processual -
se nos permitem repetir o que já dissemos alhures -, há pouco espaço para absolutos, e
muito para a interação recíproca de valores que não deixam de o ser apenas porque
relativos (cfr. a referência de Mauro Cappelletti no prefácio ao volume The Judicial
Process in Comparativa Perspective, Oxford, 1989, p. 13-14). Nem os mais altos
princípios devem ser arvorados em objetos de idolatria: para usarmos expressão em
voga noutros setores, todos admitem certa dose de flexibilização. Como advertia o
filósofo, nada pior do que um bom princípio mal aplicado; e é fora de dúvida que isto
ocorre, quando aplicamos mal um princípio quando o pomos em prática sem levar em
conta os outros princípios que lhe surgem em contrapeso e com ele precisam
conjugar-se para assegurar o equilíbrio do conjunto. Um dos erros mais graves de
determinado tipo de dogmatismo foi - e é - o de descrever o mundo em preto e branco,
ignorando os matizes variadíssimos que medeiam entre esses dois extremos. Felizmente
tomamos consciência de quão infecundo é, do ponto de vista científico, transformar em
oposição toda e qualquer distinção, a começar pela distinção mesma, fundamental para
o nosso labor, entre as entidades a que os anglo-saxônicos atribuem as denominações
de substance e procedure (cf. Nota de Rodapé 21 do texto transcrito). A nitidez dos
conceitos, com o conseqüente emprego de terminologia precisa, é sem dúvida de valor
inestimável, digno da mais cuidadosa preservação. Evitemos, no entanto, supor que a
realidade sempre se deixe cortar em fatias perfeitamente diferenciáveis. A vida é mais
rica e mais complexa que qualquer representação conceptual."
35. Por isso ousamos dizer que se mantida atual interpretação do judiciário a respeito da
citação postal, continuará a ser ela útil figura de retórica de nossa legislação. A única
hipótese de citação postal pessoal da nossa legislação é aquela do art. 18, I, da Lei
9.099/1995, sendo todas as outras, evidentemente, e a despeito das regras dos artigos
215 e 223, parágrafo único, do Código de Processo Civil (LGL\1973\5), de caráter
impessoal. Se a sociedade se sente insegura com a formulação da citação postal ficta,
como estabelecida pelo legislador, se ela não garante o princípio da ampla defesa, então,
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que se inclua no art. 9.º do CPC (LGL\1973\5), novo inciso, III, e que fará referência ao
réu (revel?) citado pelo correio com Aviso de Recebimento. O que não se pode,
evidentemente, é tratar a nova realidade com a dogmática antiga.
(2) Arruda Alvim, Manual de Direito ProcessualCivil, vol. II, Processo de Conhecimento,
São Paulo: RT, 1978.
(3) Alexandre de Paula, Código de Processo Civil (LGL\1973\5) Anotado, vol. I, São
Paulo: RT, 1980, I/563.
(4) Clito Fornaciari Júnior, RePro 3/41-42, 1976, Ano I, São Paulo: RT.
(5) RePro 5/177 (DTR\1977\52)et seq., ano II, 1977, São Paulo: RT.
(6) RePro 5/177 (DTR\1977\52)-178, ano II, 1977, São Paulo: RT.
(7) Cândido Rangel Dinamarco, A Reformado Código de Processo Civil (LGL\1973\5), 2.ª
ed., ed. revista e ampliada, São Paulo: Malheiros, 1995, p. 87 et seq.
(8) José Carlos Barbosa Moreira, O Novo Processo Civil Brasileiro, p. 37 da ed. Forense
de 1986.
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