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Processo e Procedimento
Processo e Procedimento
Atualizado às 08:50
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No que toca ao interstício para oposição dos embargos, o artigo 915, ao estabelecer a citação
como marco inaugural para a contagem do prazo de quinze dias, passa a fazer remissão ao
artigo 213, que identifica o termo inicial a partir das diferentes modalidades de citação. A
referência foi providencial, ajustando-se a redação da norma com possibilidade, antes já
existente, de que a citação em sede de execução se fizesse por modalidade diversa, que não
exclusivamente por oficial de justiça, como induzia a crer o artigo 738 do CPC/73. Com essa
singela mudança, houve, a um só tempo, (i) aperfeiçoamento técnico, porque a citação por edital
na execução já se fazia possível no CPC/1973, embora o artigo 738 não a considerasse em sua
redação; como, também, (ii) adaptação em relação à possibilidade de que a citação na execução
ocorra, no novo Código, por correio, eis que ausente, no artigo 247, a exceção que punha a
execução a salvo dessa modalidade na lei anterior (artigo 222, d).
Ainda a respeito do prazo para oposição dos embargos à execução, outra diferença em relação
ao Código anterior está na variação do termo inicial em se tratando de execução por carta: a teor
do § 2º do artigo 915, o prazo será contado (i) da juntada, na carta, da certificação da citação,
quando versarem os embargos unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da avaliação ou
da alienação dos bens; ou (ii) da juntada, nos autos de origem, do comunicado da citação ou,
não havendo este, da juntada da carta devidamente cumprida, quando versarem sobre questões
diversas daquelas sumariadas em (i).
O artigo 916 do CPC/15 conserva a possibilidade, antes constante do artigo 745-A da lei
anterior, de o executado, no prazo para oferecimento dos embargos à execução de obrigação de
pagar quantia certa, reconhecer o direito do exequente e, mediante o depósito de trinta por cento
do crédito exequendo - incluídos honorários e custas -, requerer o pagamento em até seis
parcelas mensais1, que serão acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao
mês.
Há a sanação de omissões importantes com o § 1º do artigo 916, passando o Código a prever
que, a partir do pedido de parcelamento, será o exequente intimado a se manifestar sobre o
preenchimento ou não dos requisitos legais exigidos para concessão, cabendo ao juiz decidir
sobre requerimento em cinco dias. Além disso, o § 2º passa a prever, com ineditismo, que, na
pendência da decisão judicial, deverá o executado depositar as parcelas vincendas, facultado ao
exequente seu levantamento. Concedido o parcelamento, ficará o feito suspenso, como reza o
artigo 921, V.
Seguindo adiante, o artigo 917 elenca as matérias suscetíveis de serem invocadas em embargos.
O inciso I fala em inexequibilidade do título e inexigibilidade da obrigação, substituindo a
expressão "por não ser executivo o título apresentado", antes prevista no inciso I do artigo 745
do Código anterior. Sendo o título executivo, com seus requisitos intrínsecos e extrínsecos, e a
exigibilidade da obrigação, ambos, requisitos indispensáveis a toda e qualquer execução, como
rezam os artigos 783 e 786, o ajuste promovido, em nossa opinião, foi benéfico.
O inciso II do artigo 917 faz menção à penhora incorreta e à avaliação errônea como
fundamentos dos embargos. É sabido, contudo, que, não raro, a penhora e a avaliação somente
ocorrem após o prazo para oposição dos embargos. Assim, veio bem a calhar a previsão, contida
no § 1º do artigo 917, no sentido de que, a incorreção da penhora ou da avaliação também
"poderá ser impugnada por simples petição, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do
ato".
Uma vez mais, o tema foi enfrentado pelo STJ, que, em apelo afetado como paradigma, segundo
o rito dos recursos especiais repetitivos, definiu, ao examinar a questão sob o prisma da
impugnação ao cumprimento de sentença, que, fosse em razão da manutenção da redação do
artigo 741 pela lei 11.382/06, fosse em razão da indisponibilidade do interesse público, a
exigência de indicação do valor reputado correto quando invocado o excesso de execução não
alcançava a Fazenda Pública:
O entendimento esposado pelo STJ mereceu, na doutrina, a arguta crítica de Leonardo Carneiro
da Cunha:
Na realidade, o STJ generalizou uma situação particular. Quando a Fazenda Pública embargar
alegando excesso de execução, deve, sim, indicar o valor que entende correto. A regra é geral,
não havendo qualquer particularidade que a afaste da execução contra a Fazenda Pública.
Afastá-la é desconsiderar os deveres de cooperação que devem ser cumpridos no processo, além
permitir dilações indevidas na execução contra a Fazenda Pública, o que não se revela
adequado. Não é preciso que haja expressa previsão no art. 741 do CPC: a regra, contida nos
citados dispositivos, aplica-se à execução contra a Fazenda Pública.
A regra tem aplicação nos casos em que o valor da execução foi liquidado em fase própria ou,
unilateralmente, pelo credor, se isso for possível por simples cálculos aritméticos. Não
raramente, porém, acontece a utilização abusiva da "liquidação por cálculo do credor" (CPC,
art. 475-B), que se vale desta autorização em situações em que isso não era possível, pois
exigiriam a dilação probatória para a verificação da extensão dos prejuízos. O STJ considerou
esses casos e generalizou a análise, entendendo que, em todas as hipóteses, a Fazenda Pública
estaria liberada do ônus da declinação do valor5.
A despeito do entendimento do insigne processualista, o fato objetivo era que, no CPC/73, por
força de entendimento jurisprudencial consagrado, a Fazenda Pública estava imune à exigência
de indicação do valor reputado correto quando invocasse, em embargos à execução, o excesso
da execução.
No CPC/15, porém, o artigo 910, § 3º, faz remissão expressa a que as normas constantes dos
artigos 534 e 535, que regulam o cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública, também
deverão reger os embargos à execução opostos pelo ente fazendário. Nessa senda, o § 2º do
artigo 535 é categórico ao impor à Fazenda que, quando alegar, em impugnação, que o
exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante do título, declare "de
imediato o valor que entende correto, sob pena de não conhecimento da arguição". Por força do
artigo 910, § 3º, como adiantado, essa obrigatoriedade é estendida aos embargos.
Forçoso concluir, portanto, que, no CPC/15, o ônus da indicação, na petição inicial dos
embargos à execução, do valor reputado correto, sempre que se aduzir excesso de execução,
passa a alcançar a Fazenda Pública.
Prosseguindo em nosso exame, o inciso IV do artigo 917 dispõe sobre a retenção por
benfeitorias úteis ou necessárias como matéria passível de se suscitadas nos embargos à
execução de entrega de coisa. Os §§ 5º e 6 do mencionado dispositivo mantêm a possibilidade
de compensação das benfeitorias com eventuais danos invocados pelo exequente e de imissão
na posse do exequente mediante caução ou depósito do valor das benfeitorias.
No CPC/73, embora o artigo 745 fosse omisso, o artigo 741, em seu inciso VII, dispunha sobre
a incompetência, o impedimento ou a suspeição do juízo como matérias de embargos. No
CPC/15, a incompetência, absoluta ou relativa, consta do inciso VII do artigo 917, dispondo o §
7º que o impedimento ou a suspeição serão suscetíveis de arguição nos termos dos artigos 146 e
148, isto é, por petição específica.
O artigo 919, de sua vez, reza que o efeito suspensivo dos embargos à execução remanesce ope
judicis, exigindo-se, como requisitos, além da prévia garantia por penhora, caução ou depósito
suficientes, os pressupostos da tutela provisória. Dado que o dispositivo não faz distinção, é
lícito supor que os pressupostos a que se alude tanto podem ser aqueles exigidos para a tutela
provisória de urgência (artigo 300), quanto para a tutela provisória de evidência (artigo 311).
Essas as considerações que reputávamos mais oportunas acerca dos embargos à execução à luz
do CPC/15. Até semana que vem!
__________
1 O pagamento parcelado, nos termos do artigo 916, passa a ser possível, também, em sede de
ação monitória, a teor do artigo artigo 701, § 5º.
2 STJ, Quarta Turma, REsp 1.264.272-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ de 22.6.2012.
3 Era o entendimento de Diele Nunes, Alexandre Bahia, Bernardo Ribeiro Câmara, Carlos
Henrique Soares e Humberto Theodoro Júnior, dentre outros. MARTINS, Guilherme Vinseiro.
Embargos à execução. In: THEODORO JÚNIOR, Humberto et. al. (coord.). Primeiras lições
sobre o novo Direito Processual Civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 620.
4 Corte Especial, REsp 1.387.248-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJ de 19.5.2014.
5 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Execução contra a Fazenda Pública. Exceptio declinatoria
quanti. Entendimento do STJ de que a Fazenda Pública não se sujeita ao ônus da indicação do
valor quando alegar excesso de execução. Acesso em 20/4/2016.
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https://www.migalhas.com.br/coluna/processo-e-procedimento/238155/embargos-a-execucao--
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