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Universidade Federal de Mato Grosso

FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA DE PROCESSO CIVIL III
DOCENTE: Me. FABIANO FERNANDO DA SILVA
DISCENTE: KLEVERSON JOSIAS FRANCO SILVA; RUTH OLIVEIRA BARROS;
VICTOR GABRIEL LELIS DE BESSA

AÇÃO MONITÓRIA

CUIABÁ-MT
FEVEREIRO/2024
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Sumário

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 2
1. DA AÇÃO MONITÓRIA (ARTIGO 700 A 702 DO CPC).......................................... 4
2. A NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO MONITÓRIA...................................................5
3.2 . Interesse de Agir............................................................................................ 6
3.3. Prova documental............................................................................................7
4. OBJETO DA AÇÃO MONITÓRIA.............................................................................9
5. COMPETÊNCIA..................................................................................................... 11
6. PROCEDIMENTO.................................................................................................. 12
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 17

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INTRODUÇÃO

No contexto do ordenamento jurídico brasileiro, os dispositivos relacionados à


ação monitória, delineados nos artigos 700 ao 702 do Código de Processo Civil
(CPC), desempenham um papel de destaque no âmbito do direito processual civil.
Essa modalidade de ação tem como propósito primordial proporcionar aos credores
que detêm provas escritas, carentes de eficácia de título executivo, um meio célere e
eficaz para a obtenção da satisfação de seus créditos. Mediante o cumprimento de
requisitos específicos, a ação monitória assume uma importância crucial na busca
pela eficiência da prestação jurisdicional.
Por meio da apresentação de prova escrita da dívida, embora não
constituindo um título executivo, a ação monitória permite que documentos que
atestam obrigações assumidas sejam reconhecidos como suficientes para
demonstrar a existência do débito. Essa abordagem, pautada na apreciação da
documentação pelo juiz, viabiliza o acesso à justiça de forma simplificada e
acessível, contribuindo para a efetividade do sistema jurídico e para a garantia dos
direitos das partes envolvidas.
Desta forma, o estudo analisará a natureza jurídica da ação monitória,
considerando seus fundamentos e características essenciais, os requisitos
necessários para a propositura da ação, bem como o procedimento a ser seguido.

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1. DA AÇÃO MONITÓRIA (ARTIGO 700 A 702 DO CPC)

A ação monitória é um instrumento jurídico especial que busca uma via célere
para a cobrança de créditos ou bens, oferecendo uma alternativa ágil em
comparação aos procedimentos tradicionais de execução judicial com a
simplificação da fase de conhecimento.
Este procedimento especial é regulamentado nos art. 700 a 702 do CPC,
destaca-se pela possibilidade do autor a cobrança de dívidas com base em prova
escrita que não constitui título executivo,assim, agilizando a averiguação do direito
alegado simplificando a fase de conhecimento.
Nesse cenário, a ação monitória surge como uma alternativa ao trâmite usual da
execução judicial, permitindo ao credor reivindicar seus créditos ou bens sem se
submeter aos procedimentos padrão das ações executivas. Antes, o credor
precisaria passar pela fase de conhecimento para comprovar a existência da dívida
e, assim, obter um título executivo que o habilitasse a iniciar a ação de execução
para recuperar o débito.
O procedimento monitório se desdobra em duas modalidades: o puro e o
documental. No primeiro caso, as alegações do autor se fundamentam em um juízo
de verossimilhança, enquanto no segundo, é imperativo que o autor apresente prova
documental, ou seja, prova escrita. No contexto do ordenamento jurídico brasileiro,
optou-se exclusivamente pelo procedimento monitório documental.
Este procedimento especial visa à obtenção de um título executivo judicial em
favor da parte que disponha de prova escrita. Essa prova deve abranger: a
obrigação de pagamento de uma quantia em dinheiro; a obrigação de entrega de
coisa fungível ou infungível, seja móvel ou imóvel; ou ainda, a obrigação de realizar
ou de se abster de determinada conduta.
Ademais, a legislação oferece ao credor duas vias distintas para buscar a
satisfação de seu crédito: as vias ordinárias ou o procedimento monitório. Enquanto
nas vias ordinárias o devedor é citado para contestar a ação, no procedimento
monitório, sua participação se restringe ao pagamento da dívida dentro do prazo
legal, sem necessidade de contestação. Essa abordagem visa simplificar o
processo, facilitando assim a execução do crédito.

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2. A NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO MONITÓRIA

A discussão acerca da natureza jurídica da ação monitória tem suscitado


debates profundos no meio jurídico, resultando em três correntes distintas de
pensamento.
A primeira vertente, embora minoritária, sustenta que a ação monitória deve
ser enquadrada como parte do processo de execução. Argumentam que sua
finalidade não se limita à satisfação do crédito, mas visa primordialmente à
constituição de um título executivo.
Por outro lado, uma segunda corrente de pensamento sugere que o
procedimento monitório representa uma nova categoria de processo, independente
dos processos de conhecimento, execução e cautelar. Segundo essa visão, a ação
monitória caracteriza-se por propiciar com extrema celeridade a obtenção de um
título executivo judicial, fundamentando-se em documentos idôneos apresentados
pelo autor.
Já a terceira corrente, majoritária, defende que a ação monitória deve ser
compreendida como um procedimento especial do processo de conhecimento. Essa
perspectiva argumenta que, embora a ação monitória envolva aspectos típicos tanto
do processo de conhecimento quanto do processo de execução, sua função
primordial é a formação de um título executivo judicial, mediante cognição baseada
exclusivamente em prova documental apresentada pelo autor.

3. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

3.1 Legitimidade

A legitimidade na ação monitória se divide entre dois agentes. No polo ativo,


figura o legitimado ativo, detentor do direito de crédito respaldado por prova escrita,
buscando a obtenção rápida de um título executivo judicial para viabilizar a
execução forçada. No polo passivo, encontra-se o legitimado passivo, identificado
como o devedor mencionado na prova escrita, confrontado com a alegação do
credor acerca da existência de uma obrigação pendente.

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3.2 . Interesse de Agir

No que tange ao interesse de agir na ação monitória, este se encontra


intrinsecamente vinculado à necessidade e utilidade da tutela jurisdicional almejada,
bem como à pertinência do procedimento escolhido para alcançá-la. A ausência de
qualquer desses elementos pode acarretar na extinção do processo sem resolução
do mérito.
O demandante na ação monitória detém a prerrogativa de escolher o caminho
procedimental a ser trilhado, podendo optar entre a via ordinária ou a especial
(monitoria), desde que esteja munido da prova escrita que fundamenta seu direito de
crédito.
Na presença de controvérsias e incertezas relacionadas ao crédito
representado pelo título executivo, tanto a doutrina quanto a jurisprudência
reconhecem a admissibilidade do ajuizamento da ação monitória. Cabe destacar que
essa alternativa não ocasiona prejuízo ao devedor, o qual mantém a faculdade de
apresentar ampla defesa no âmbito dos embargos à monitória.
Sobre isso, transcreve-se trecho do voto do Min. Barros Monteiro no
julgamento do REsp 394.695/RS:

“Ainda que possa ter como títulos hábeis a embasar a


execução o ‘contrato particular de consolidação, confissão e
renegociação de dívida’ e a nota promissória relativa ao débito
consolidado, não se pode afirmar ausente no caso o seu
interesse de agir. A escolha da via judicial é, de fato, uma
opção do autor, uma vez satisfeitos os requisitos necessários.
Se lhe é facultado por lei aparelhar a execução, não se
encontra obstado o credor a intentar ação monitória, na
eventualidade de pairar alguma dúvida no tocante à
executoriedade dos títulos de que dispõe. [...]. Ademais, não se
justifica, ante a ausência de prejuízo para os devedores e em
face dos princípios da celeridade e economia processuais, a
extinção do feito com a perda de todos os atos processuais já
praticados”.
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Em um contexto mais atual, fortalecendo a compreensão prévia:

“Direito civil. Processual civil. Locação. Recurso especial. Ação


monitória fundada em título executivo extrajudicial.
Possibilidade. Precedentes. Retorno dos autos ao tribunal de
origem para julgamento do mérito do recurso de apelação dos
recorridos. Recurso conhecido e parcialmente provido. 1. A
ação monitória pode ser instruída por título executivo
extrajudicial. Precedentes do STJ. 2. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido. Necessidade de retorno dos
autos ao Tribunal de origem para prosseguimento do
julgamento do recurso de apelação dos recorridos” (STJ, REsp
1.079.338/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 18.02.2010).

3.3. Prova documental

Essa ação se destina a resolver disputas em que o título que representa a


dívida – a prova – possui uma legitimidade incontestável, possibilitando ao juiz
antever que o devedor não terá alternativa senão liquidar o débito pendente.
Ela, portanto, foi concebida para viabilizar a cobrança praticamente direta de
uma dívida comprovada por meio de um documento quase indiscutível. Tal
abordagem permite que a análise desse documento seja conduzida de maneira
rápida, conferindo agilidade ao processo.
Assim, a ação monitória foi elaborada para lidar com cenários nos quais a
controvérsia é superficial, focada na insatisfação da pretensão, e em que o título
representativo do débito é tão robusto que, por si só, evidencia a legitimidade,
permitindo uma cognição sumária por parte do juiz.
Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça já deliberou sobre a
admissibilidade do uso de e-mails como elementos probatórios substanciais para
fundamentar uma ação monitória. A Corte estabeleceu que, sob a condição de
convencimento do juízo acerca da verossimilhança das alegações e da idoneidade
das declarações (REsp 1.381.603/MS, julgado em 06.10.2016, Informativo 593), os
e-mails podem ser reconhecidos como prova escrita no desenrolar do processo.

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Ademais, o CPC/2015 estabelece que a prova escrita requerida deve provir
da pessoa contra a qual o pedido é formulado, permitindo ao juiz formar seu
convencimento, não necessariamente tendo origem escrita.
Em caso de dúvida sobre a prova apresentada na inicial da ação monitória, o
CPC determina que o juiz deve intimar o autor para emendar a petição inicial de
acordo com o procedimento comum (art. 700, § 5º). Interpretando esse dispositivo,
caso a emenda satisfaça o juiz quanto à suficiência da prova da obrigação, a ação
monitória seguirá o rito especial (Enunciado 188, FPPC). Se a dúvida persistir, o
procedimento especial pode ser convertido em procedimento comum para evitar a
extinção sem resolução do mérito. Se o autor não emendar, o juiz extinguirá o
processo conforme o art. 485, I.
Uma questão relevante é a admissibilidade do cheque prescrito como prova
documental no procedimento monitório. Se a ação cambial prescrever, o cheque
perde a eficácia como título executivo, impedindo o portador de executar o direito de
crédito contra os coobrigados. No entanto, a cártula mantém a prova da existência
do crédito e de sua transferência, permitindo que o portador exija o crédito, não o
título, por meio da ação monitória.
Em outras palavras, a comprovação da origem do débito é essencial. Esse
entendimento foi ratificado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento do
REsp 1.094.571/SP, conduzido sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do
CPC e Res. nº 8/2008 do STJ). Destaca essa perspectiva:

“Em ação monitória fundada em cheque prescrito, ajuizada em


face do emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico
subjacente à emissão da cártula. No procedimento monitório, a
expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa é
feita em cognição sumária, tendo em vista a finalidade de
propiciar celeridade à formação do título executivo judicial.
Nesse contexto, há inversão da iniciativa do contraditório,
cabendo ao demandado a faculdade de opor embargos à
monitória, suscitando toda a matéria de defesa, visto que recai
sobre ele o ônus probatório. Dessa forma, de acordo com a
jurisprudência consolidada no STJ, o autor da ação monitória
não precisa, na exordial, mencionar ou comprovar a relação
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causal que deu origem à emissão do cheque prescrito, o que
não implica cerceamento de defesa do demandado, pois não
impede o requerido de discutir a causa debendi nos embargos
à monitória” (REsp 1.094.571/SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 04.02.2013).

Ademais, a Súmula nº 531 estabelece que "em ação monitória fundada em


cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula". Em termos simples, o autor da ação
monitória não precisa, na petição inicial, mencionar ou comprovar a causa que deu
origem à emissão do cheque prescrito, eliminando a necessidade de provar a origem
da dívida.
No entanto, isso não impede que a causa debendi do cheque prescrito seja
discutida. Essa iniciativa fica a cargo do réu, que pode apresentar argumentos nos
embargos à ação monitória. Dessa forma, o ônus de comprovar a inexistência da
dívida ou a nulidade da causa que originou a emissão do cheque recai sobre o réu
da ação monitória.
Já em relação ao prazo, a Súmula nº 503 do STJ estipula que "o prazo para
ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva
é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula".
Embora exista discordância na doutrina, prevalece o entendimento do STJ, que
adota a teoria dos precedentes judiciais, privilegiando os posicionamentos
consolidados nos tribunais superiores.

4. OBJETO DA AÇÃO MONITÓRIA

O objeto da ação monitória, conforme disposto no art.700 do Código de


Processo Civil (CPC) são: I) “quantia em dinheiro, II)” coisa fungível ou infungível”,
“bem móvel ou imóvel” ou IV) “inadimplemento de obrigação de fazer ou de não
fazer”
O termo “quantia em dinheiro” mencionada é a mesma “quantia certa”
mencionada para execução conforme estabelecido nos artigos 824 e seguintes do
Código de Processo Civil de 2015. A ação monitória, que deve ser iniciada com um
mandado de pagamento baseado na prova apresentada inicialmente, não permite a

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requisição de uma quantia incerta com expectativa de liquidação futura, pois não
existe fase posterior para definir o quantum debeatur. Se o demandado não reagir à
citação, o mandado inicial, por sua natureza, está destinado a se transformar
automaticamente em um mandado de execução por quantia certa assim que o prazo
para embargos expirar, eliminando a necessidade de um estágio adicional de
liquidação. (Theodoro Júnior,2023)
A execução forçada, como explica Theodoro Júnior (2023) para a satisfação
de obrigações, conforme previsto nos arts. 806 a 813 do CPC/2015, aplica-se tanto
à "entrega de coisa fungível", que diz respeito às obrigações de entregar coisas
genéricas ou incertas, identificadas apenas pelo seu gênero e quantidade (CC, arts.
243 a 246), quanto à entrega de coisas infungíveis, sejam elas móveis ou imóveis.
Esta última se enquadra na obrigação de entregar coisa certa, abrangida pelos arts.
233 a 242 do Código Civil. Portanto, quando a lei menciona a "entrega de coisa
fungível", está se referindo a uma categoria específica de obrigações que contrasta
com as obrigações de entregar coisa certa, cada uma com seus respectivos regimes
e procedimentos de execução. (Theodoro Júnior, 2023)
No CPC de 1973, apenas as coisas certas móveis eram abrangidas pelo
procedimento em discussão. Contudo, na atual legislação, o CPC de 2015, os bens
imóveis também podem ser objeto dessa ação. Além disso, o CPC/2015 ampliou o
escopo do procedimento monitório para incluir a possibilidade de se exigir o
cumprimento de obrigações de fazer e não fazer, conforme estabelecido nos arts.
247 a 251 do Código Civil. A execução dessas obrigações em juízo é efetivada
conforme o previsto nos arts. 814 a 823.
O autor Humberto Theodoro Júnior (2023), destaca em sua obra que houve
uma mudança significativa na abordagem jurídica do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) brasileiro sobre a cobrança de dívidas de jogo contraídas no exterior.
Historicamente, empréstimos ou obrigações financeiras resultantes de jogos
realizados fora do Brasil eram considerados inexigíveis em território brasileiro,
baseando-se na ideia de que tais dívidas violavam a ordem pública interna conforme
o entendimento do Código Civil brasileiro.
No entanto, o autor afirma que essa perspectiva mudou recentemente. O STJ
passou a permitir a cobrança dessas dívidas no Brasil, desde que o jogo que deu
origem à dívida estivesse de acordo com as leis do país onde ocorreu. Essa nova
orientação foi solidificada em um caso específico relacionado a uma dívida de jogo
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contraída em um cassino nos Estados Unidos, onde o jogo é legalizado e
regulamentado. O STJ argumentou que, se tanto a legislação estrangeira quanto a
brasileira permitem certos tipos de jogos de azar regulamentados pelo Estado, então
a cobrança de dívidas oriundas desses jogos deveria ser permitida.
A decisão do STJ levou em conta que as obrigações são regidas pela lei do
local onde foram contraídas. Assim, uma dívida de jogo assumida legalmente em um
país onde o jogo é permitido e regulado não deve ser automaticamente descartada
no Brasil. A recusa em honrar tal dívida, especialmente quando contraída de forma
livre e consciente em um país onde é legal, foi considerada pelo STJ como contrária
aos princípios da boa-fé e da proibição do enriquecimento sem causa. Por
conseguinte, o tribunal brasileiro passou a aceitar a cobrança de dívidas de jogo
contraídas legalmente no exterior, utilizando-se, por exemplo, da ação monitória
para efetivar tal cobrança em território brasileiro.

5. COMPETÊNCIA

A ação monitória, quanto à competência, seguirá o procedimento


estabelecido pelo artigo 16 do CPC. Sendo uma ação de natureza pessoal, deve ser
ajuizada no foro do domicílio do réu, conforme a regra geral de competência
territorial.
De acordo com o autor Marcelo Ribeiro (2023), "A ação monitória deve ser
proposta no foro onde a obrigação deve ser satisfeita (art. 53, III, 'd'), conforme
evidenciado na documentação que instrui a petição inicial."
Theodoro Júnior (2023), aborda a discussão sobre a possibilidade da atração
da ação monitória para o juízo universal da quebra durante um processo falimentar.
A jurisprudência do STJ, considerando-a uma demanda atípica não abrangida pela
lei de falências, conclui que, mesmo com a massa falida como autora, não há
prejuízo para os interesses da massa, escapando assim da atração do foro do juízo
concursal.
No contexto de ações movidas contra a União, autarquia ou empresa pública
federal, a Justiça Federal é competente para julgar, conforme estabelecido pelo
artigo 109, inciso I, da Constituição Federal.

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6. PROCEDIMENTO

Procedimentos Iniciais

A Ação Monitória começa com a petição inicial nos termos do artigo 319 e
320 do Código de Processo Civil, não há, em primeiro momento, requisitos
específicos bem como não há peculiaridades quanto à escolha da competência.
Na causa de pedir, o autor deve requerer a expedição de mandado para o
cumprimento de obrigação, devendo informar, conforme o caso, a importância
devida, valor da causa, conteúdo patrimonial ou o proveito econômico perseguido
em juízo.
Caso reste dúvidas acerca do título disposto na inicial, o juiz será intimado
para emendar a exordial, adaptando-a para seguir pelo rito comum, caso o juízo
ateste a veracidade dos fatos, este profere decisão que abarca o mandado de
pagamento/entrega da coisa, cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, no
prazo de quinze dias.
Após a citação, se não oferecido embargos, o réu deve cumprir as obrigações
que lhe forem impostas e pagar o valor de honorários advocatícios de 5%. Inclusive
sobre citação a Súmula 282 do Superior Tribunal de Justiça diz que cabe citação por
edital em ação monitória.
De acordo com Elpídio Donizetti o devedor possui 5 posturas que pode tomar
após citado que são:
1 - Cumprir o que o juízo estabeleceu - causa a extinção do processo e o réu
fica isento de custas processuais;
2 - Cumprir o que o juízo estabeleceu mas apresentar embargos - neste caso o
processo prossegue e o autor da ação não pode pedir o levantamento da
quantia depositada enquanto não forem julgados os embargos monitórios;
3 - Permanecer inerte - hipótese em que o mandado monitório será convertido
em executivo.
4 - Opor embargos monitórios no prazo de 15 dias - tais embargos têm em
vista a suspensão da eficácia do mandado e o impedimento da formação do
título executivo, com a desconstituição da dívida. Sua interposição independe
de segurança do juízo e eles são processados nos próprios autos do
procedimento monitório (art. 702). A critério do juiz (trata-se de método de

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organização do feito), os embargos poderão ser autuados em apartado, se
parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à
parcela incontroversa (art. 702, § 7º). Rejeitados os embargos, o título
executivo será constituído, o que possibilitará ao credor promover o respectivo
cumprimento e ao devedor oferecer bens à penhora e impugnar o cumprimento
da sentença (art. 702, § 8º) ;
5 - Pleitear o parcelamento do débito, na forma do art. 916 do CPC - O
parcelamento deve ser formulado no prazo para a oposição dos embargos e,
uma vez deferido, inviabiliza a oposição destes (art. 701, § 5º, c/c art. 916, §
6º).

Embargos Monitórios e Natureza Jurídica

Ainda na lição de Elpídio Donizetti os embargos monitórios tem natureza de


defesa, como se contestação fosse, neste sentido o doutrinador cita jurisprudência
do STJ:
Direito processual civil. Inexigibilidade de recolhimento de
custas em embargos à monitória. Não se exige o recolhimento
de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória.
Isso porque, conforme se verifica dos precedentes que deram
origem à Súmula nº 292 do STJ (‘A reconvenção é cabível na
ação monitória, após a conversão do procedimento em
ordinário’), os embargos à monitória tem natureza jurídica de
defesa” (STJ, REsp 1.265.509/SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 19.03.2015).

Desta feita, de acordo com a jurisprudência, como já citado, não há que se


falar em garantia do juízo para opor os embargos.

O Processamento dos embargos

Os embargos serão processados nos mesmos autos da ação monitória, se,


como já dito, versarem sobre apenas parte da dívida reclamada, eles serão
autuados em apartado. Neste caso, quanto ao que não foi embargado será formado
título executivo.
Quanto ao objeto dos embargos, como o legislador pretendeu conferir aos
embargos natureza de defesa, este não apresenta restrições quanto à matéria de
defesa, os §§ 2º e 3º do art. 702, por sua vez, definem que quando o objeto dos
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embargos se fundar no excesso da obrigação exigida pelo credor, cumprirá ao
devedor declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando
demonstrativo discriminado e atualizado da dívida no momento da apresentação dos
embargos. Caso contrário, e sendo o excesso o único fundamento de defesa, os
embargos serão liminarmente rejeitados. Na falta desta declaração e comprovação,
o juiz não conhecerá da questão ou rejeitará liminarmente os embargos, exceto
quando estes se fundarem em outro fundamento que não apenas o excesso.
Quando os embargos forem opostos, o autor será intimado para impugnação
no prazo de 15 dias. A inércia do polo ativo da ação não traz maiores consequências
ao feito, uma vez que, a documentação que instrui a inicial já fornece elementos
acerca da probabilidade da existência do direito por ele invocado, não sendo caso
de julgamento antecipado, a audiência será designada.
Caso na audiência de instrução, haja conciliação, o acordo será homologado,
com a respectiva constituição do título executivo, em favor do autor e consequente
extinção do feito com resolução de mérito, caso contrário, a instrução iniciará, com
produção de todas as provas necessárias à elucidação da controvérsia instaurada,
culminando com a prolação de sentença.
Caso o autor desista da ação monitória, e versando os embargos apenas
sobre questões processuais, a extinção da monitória acarretará o não conhecimento
dos embargos, independentemente da anuência do devedor. Entretanto, se os
embargos versarem sobre matéria fática (existência ou não do crédito pleiteado), a
extinção só será possível com a anuência do réu, que tem direito ao prosseguimento
do feito para ver acertada a matéria controvertida.

Da Sentença

Encerrada a instrução do feito, a sentença será prolatada, a sentença que


rejeita os embargos e julga procedente a monitória é de cunho eminentemente
declaratório – torna certa a existência do direito invocado. Sendo assim, ocorre a
convolação do mandado injuntivo em título executivo judicial, prosseguindo-se com a
fase do cumprimento de sentença. A decisão que julga improcedente o pedido inicial
(acolhe os embargos) também é meramente declaratória, limitando-se a certificar a
inexistência do crédito pleiteado. Contra a sentença, cabe apelação, quanto aos
efeitos da apelação, o magistério de Elpídio Donizetti, citando jurisprudência do STJ:

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Processual civil. Recurso especial. Embargos à monitória.
Apelação. Efeitos. As hipóteses excepcionais de recebimento
da apelação no efeito meramente devolutivo, porque restritivas
de direitos, limitam-se aos casos previstos em lei. Os embargos
à monitória não são equiparáveis aos embargos do devedor
para fins de aplicação analógica da regra que a estes
determina seja a apelação recebida só no seu efeito devolutivo.
Rejeitados liminarmente os embargos à monitória ou julgados
improcedentes deve a apelação ser recebida em ambos os
efeitos, impedindo, o curso da ação monitória até que venha a
ser apreciado o objeto dos embargos em segundo grau de
jurisdição” (REsp 207.728/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 17.05.2001, DJ 25.06.2001, p. 169).

Ainda há na doutrina certo desacordo quanto aos efeitos dos embargos,


porém o STJ tem se manifestado na interpretação de que os embargos possuem
duplo efeito.
Uma vez esgotadas as vias recursais, a sentença definitiva que julga os
embargos à monitória dará ensejo à coisa julgada material.

Da Execução

Após a constituição do título executivo, inicia-se a fase do cumprimento de


sentença que será de acordo com os procedimentos dispostos no Código Civil.

Possibilidade de ajuizamento de ação monitória em face da Fazenda


Pública

Nada obsta o ajuizamento de ação monitória em face da Fazenda Pública


observando nestes casos que a inércia do polo passivo não importa na constituição
de título executivo automaticamente, sendo necessário ser observado o duplo grau
de jurisdição, conforme entendimento consagrado pela Súmula nº 339 do STJ.

Ação monitória contra incapazes

Também não há óbice quanto o ajuizamento da ação monitória contra


incapazes, podendo o autor optar tanto pela ação monitória quanto pela ação
ordinária comum.

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Ação monitória contra massa falida e devedor insolvente

O professor Donizetti leciona que não há, portanto, qualquer prejudicialidade


entre a situação de insolvência/falência e o processamento da monitória. O que irá
ocorrer é, apenas, a modificação da competência para o processamento do
cumprimento do título executivo judicial que vier a ser formado. Dessa forma, é de
se admitir o ajuizamento da ação monitória em face do devedor falido ou insolvente.

Jurisprudências

Súmula nº 247 do STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente,


acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o
ajuizamento da ação monitória”.
Súmula nº 282 do STJ: “Cabe a citação por edital em ação monitória”.
Súmula nº 292 do STJ: “A reconvenção é cabível na ação monitória, após a
conversão do procedimento em ordinário”.
Súmula nº 299 do STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque
prescrito”.
Súmula nº 339 do STJ: “É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”.
Súmula nº 384 do STJ: “Cabe ação monitória para haver saldo remanescente
oriundo da venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em garantia”.
Súmula nº 503 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face
do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à
data de emissão estampada na cártula”.
Súmula nº 504 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face
do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia
seguinte ao vencimento do título”.
Súmula nº 531 do STJ: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito
ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à
emissão da cártula”.

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REFERÊNCIAS

DONIZETTI, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. 23 ed. São Paulo, Atlas, 2020.
JÚNIOR, Humberto T. Curso de Direito Processual Civil. v.2. Grupo GEN, 2023. E-book.
ISBN 9786559647286. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559647286/. Acesso em: 02 fev. 2024.

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