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I – DOS FATOS
Ocorre que essa metodologia de cálculo não é adequada no presente caso, pois a regra
prevista no art. 3º da Lei 9.876/99 trata-se de regra de transição, motivo pelo qual deve ser
oportunizado ao segurado optar pela forma de cálculo permanente se esta for mais favorável.
E no caso em tela, constata-se que a aplicação da regra permanente do art. 29, II da Lei
8.213/91 é mais favorável ao segurado (vide cálculo em anexo).
Por esse motivo a parte Autora, vem postular a revisão de seu benefício.
II – DO DIREITO
DO INTERESSE DE AGIR - DESNECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO
Isto porque se está diante de pedido de revisão de benefício, hipótese em que o prévio
requerimento administrativo é dispensado, nos termos do julgamento do Tema 350 pelo
Supremo Tribunal Federal:
DO MÉRITO
A Lei 8.213/91 previa, em sua redação original, que o salário-de-benefício deveria ser
calculado através da média aritmética dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores a
concessão do benefício até o máximo de 36 salários-de-contribuição encontrados nos 48 meses
anteriores. Veja-se o texto original do art. 29 da Lei 8.213/91:
Art. 29. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os últimos salários-de-
contribuição dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da data da
entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48
(quarenta e oito) meses. (Redação original)
Assim, segurado poderia verter contribuições sobre valor inferior durante toda a vida
laboral, e elevar o valor destas nos últimos 36 meses anteriores à aposentadoria, garantindo
um benefício de valor elevado.
Buscando maior equilíbrio financeiro e atuarial, foi editada a Lei 9.876/99, que alterou
drasticamente a forma de cálculo do benefício determinando que o salário-de-benefício fosse
calculado através da média aritmética simples dos oitenta por cento maiores salários-de-
contribuição existentes durante toda a vida laboral do segurado, nos seguintes termos:
I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18, na média aritmética simples
dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período
contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário;
II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética
simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período
contributivo. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99).
Dessa forma, considerando a necessidade de evitar prejuízos aos segurados que já eram
filiados a previdência social pelo alargamento do período básico de cálculo para todo o período
contributivo, tornou-se necessário introduzir uma regra transitória para ser aplicada aqueles
trabalhadores que já estavam próximos da aposentadoria e poderiam ter seu benefício
reduzido pela drástica alteração na forma de cálculo do benefício.
Tal regra de transição foi introduzida pela Lei 9.876/99, em seu art. 3º, in verbis:
Art. 3º - Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei,
que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos
maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período
contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do
caput do art. 29 da Lei n. 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.
§ 2º - No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas "b", "c" e "d" do inciso I do art. 18, o divisor
considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1º não poderá ser inferior a sessenta por
cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício, limitado a
cem por cento de todo o período contributivo.”
Frisa-se que esta norma possui caráter transitório como forma de resguardar o direito
dos segurados que já estavam inscritos na previdência social até 29/11/1999. Giza-se que o
caráter de norma transitória fica evidente quando se considerar que a limitação temporal
prevista no art. 3º da Lei 9.876/99 deixará de ser aplicada a partir do momento em que
deixarem de existir segurados filiados ao RGPS antes da edição da referida Lei.
E como norma de transição que é, não pode o art. 3º da Lei 9.876/999 prejudicar o
segurado que já possuía um trajetória contributiva regular antes da edição da Lei 9.876/99.
Ressalta-se que até então o período básico de cálculo era restrito aos últimos 36 meses
de contribuição, nos termos da redação original do art. 29 da Lei 8.213/91, e a regra de
transição, ao estipular o termo inicial do Período Básico de Cálculo em julho de 1994 permite
que o número de salários-de-contribuição utilizados no cálculo fosse elevado
progressivamente, com o passar dos anos, até que regra de transição deixe de ser aplicável.
Ocorre que existem vários casos em que o segurado possui regularidade nas
contribuições antes de 1994 e muitas vezes com valores superiores aos dos salários-de-
contribuição vertidos após julho de 1994. Nesses casos, a aplicação da regra permanente é mais
vantajosa ao segurado.
Destaca-se que a regra de transição não pode impor ao segurado que possui muito mais
contribuições, por vezes em valor mais elevado que as vertidas após julho de 1994, uma
situação pior do que a regra nova.
“As regras de transição existem para atenuar os efeitos das novas regras aos segurados já filiados ao
regime, que detinham expectativa de direito com base nas regras anteriores. Quando nova regra surge,
dividem-se os segurados em três grandes grupos:
a ) o segurado que preencheu os requisitos para determinado benefício com fulcro nas regras
revogadas – neste caso existe o direito adquirido, incidindo as regras revogadas, se mais benéficas ao
segurado.
b) o segurado que iria preencher os requisitos para determinado benefício com base nas regras
revogadas – nesta hipótese o segurado não tem direito adquirido, mas tão somente, expectativa de
direito.
c) o segurado que se filiou ao regime após a alteração – neste caso, aplica-se somente as regras novas.
É justamente para o segurado que não tinha direito adquirido, mas que tinha expectativa de direito, é
que as regras de transição são criadas. Trata-se de maneira diferente o segurado que se encontra em
uma situação intermediária, para que o mesmo não seja tratado da mesma forma que os segurados
com direito adquirido nem da mesma foram que os segurados que se filiaram ao regime após o advento
da regra alteradora.
Exemplo disso ocorreu com as alterações na aposentadoria por tempo de contribuição operadas pela
EC20/98. Quem preencheu 25-30 de serviço (se mulher ou se homem) até 15.12.1998, tem direito a
aposentação pela regra anterior; quem se filiou ao regime a partir de 16.12.1998 terá direito á
aposentação apenas com 30-35 anos (se mulher ou se homem); agora, quem já se encontrava filiado
antes de 16.12.1998 e que não preencheu os requisitos da regra anterior, aplica-se a facultativamente
as regras de transição do art. 9º,§1º, da EC 20/98. Assim, a regra de transição é facultativa, pois existe
para beneficiar o segurado; em nenhuma hipótese pode ser retirado do segurado a possibilidade de
optar pela nova regra”.
Portanto, deve ser facultada ao segurado a escolha pela aplicação da norma que lhe
mais vantajosa, no caso, a regra permanente.
Veja-se que a ampliação do período básico de cálculo estipulada pela Lei 9.876/99 é
socialmente mais justa que regra anterior, pois assegura uma aposentadoria concernente com
as contribuições recolhidas durante a vida laboral, sendo que para resguardar a expectativa de
direito daqueles que já se encontravam próximos da aposentadoria a Lei 9.876/99 estipulou
regra indicando que o termo inicial do período de cálculo em julho de 1994.
A decisão da Corte Suprema tem eficácia vinculante, nos termos do Art. 927, inciso III,
do Código de Processo Civil.
Por todo o exposto, deve ser facultado ao segurado optar pela aplicação das regras
permanentes do art. 29, I, da Lei 8.213/91, com a utilização de todo o período contributivo,
incluindo as contribuições anteriores a julho de 1994.
Nos termos do art. 311, II do CPC, poderá ser concedida tutela provisória de evidência
quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver
tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
No presente caso, há tese firmada pelo STJ em sede de recurso especial repetitivo,
reconhecendo o direito dos segurados filiados antes de 29/11/1999 a utilizarem a regra
permanente do art. 29 da Lei 8.213/91. De outra banda, o direito à revisão pode ser
comprovado documentalmente, conforme o cálculo de simulação de RMI em anexo, na qual
foram consideradas as contribuições anteriores à 07/1994.
Ademais, consoante o parágrafo único do art. 311 do CPC, neste caso é possível que o
juiz decida liminarmente a tutela provisória.
O Autor vem manifestar, em cumprimento ao art. 319, inciso VII, do CPC/2015, que não
há interesse na realização de audiência de conciliação ou mediação, haja vista a iminente
ineficácia do procedimento e a necessidade de que ambas as partes dispensem a sua
realização, conforme previsto no art. 334, §4º, inciso I, do CPC/2015.
V – DO PEDIDO
1. A concessão do benefício da Gratuidade da Justiça, tendo em vista que o Autor não tem como
suportar as custas judiciais sem o prejuízo do seu sustento próprio e da sua família;
5. A citação da Autarquia, por meio de seu representante legal, para que, querendo, apresente
defesa;
Dá à causa o valor de R$ 23.818,85 (vinte e três mil e oitocentos e dezoito reais e oitenta e
cinco centavos).
, 18 de abril de 2023.
joao batista jornada
OAB/RS 96.974