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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ________ VARA

FEDERAL DE ________ SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE


________

OBJETO: NÃO APLICAÇÃO DA REGRA DE TRANSIÇÃO QUANDO ESTA FOR PREJUDICIAL – PEDIDO DE
APLICAÇÃO DA REGRA PERMANENTE E MAIS BENÉFICA
- DIREITO AO MELHOR BENEFÍCIO (RE 630.501 - STF)

AUTOR(A), nacionalidade, estado civil (informar se for o caso de união


estável), profissão, portador(a) do documento de identidade nº
_________________, expedida por _________________ e inscrito(a) no
CPF sob o nº _________________, e-mail _________________, residente
e domiciliado(a) na Rua _________________, Bairro _________________,
Cidade _________________, Estado _________________, CEP:
_________________, vem a presença de Vossa Excelência, por intermédio
do(a) advogado(a) subscrito(a), cuja procuração segue anexa, propor a
presente

AÇÃO DE REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO

em face do INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL - INSS , de


acordo com as os fatos e fundamentos adiante alinhavados.

1
1) DAS PRELIMINARES

1.1) BREVE RESUMO DOS FATOS

A parte Autora é titular de benefício previdenciário


vinculado ao Regime Geral de Previdência Social, mantido e administrado
pelo Instituto Nacional de Previdência Social - INSS, conforme comprovam
os documentos em anexo.
Cabe ressaltar que o cálculo do benefício da parte autora foi
efetuado de acordo com a Lei 9.876/99, ou seja, com base na média das
80% maiores contribuições.
Ocorre que no presente caso foi aplicada a regra de
transição prevista no artigo 3º da Lei 9.876/99, e o período básico de
cálculo teve seu início não no início do período contributivo da parte, como
demanda o art. 29, I e II da Lei 8.213/91, mas sim no período contributivo
após Julho de 1994.
A regra aplicada ao caso foi a regra de transição, entretanto,
como se comprovará a seguir, a aplicação da regra atual, vigente no
momento da concessão do benefício, importará em valor melhor, e,
portanto, deve ser o norteador do cálculo no caso concreto.
Logo, como a renda mensal inicial deveria ser maior, o
valor atualmente pago também está em desacordo com efetivamente
devido, causando prejuízo à parte autora e devendo ser revisado o benefício.
Assim, a seguir, no tópico específico, será detalhado os detalhes acerca do
direito ao melhor benefício.

1.2) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, cumpre afirmar que a parte Autora não tem


condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem
prejuízo do seu próprio sustento e de sua família, enquadrando-se nos
preceitos normativos contidos na Constituição da República Federativa do
2
Brasil, especialmente em seu art. 5°, LXXIV e na Lei 1.060/50, com a
posterior redação introduzida pela Lei 7.510/86.
Assim, é imprescindível, para que seja resguardado o seu
acesso à Justiça, que V. Exa. lhe conceda o benefício legal da Gratuidade de
Justiça.
Esse é o espírito da Lei nº 1.060/50:
“Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência
judiciária, mediante simples afirmação, na própria
petição inicial, de que não está em condições de pagar
às custas do processo e os honorários de advogado,
sem prejuízo próprio ou de sua família. (Redação
dada pela Lei nº 7.510, de 1986)
§ 1º. Presume-se pobre, até prova em contrário, quem
afirmar essa condição nos termos desta lei, sob pena
de pagamento até o décuplo das custas judiciais.
(Redação dada pela Lei nº 7.510, de 1986) [...]”

Em caso de indeferimento do pedido de Gratuidade, requer


a parte Autora em pedido subsidiário, o pagamento das custas judiciárias ao
término do processo, em consonância com o art. 12 da Lei nº 1.060/50 e
com a jurisprudência emanada do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio
de Janeiro, consubstanciada na ementa abaixo transcrita, nos autos do
processo 2005.002.22995, proferida em 14 de fevereiro de 2006. Assim, tão
logo haja situação póstuma que possibilite o pagamento das custas, haverá o
seu recolhimento.
“Art. 12. A parte beneficiada pela isenção do
pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las,
desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento
próprio ou da família, se dentro de cinco anos, a
contar da sentença final, o assistido não puder
satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.”
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. ABERTURA DE
INVENTÁRIO POR ARROLAMENTO. PLEITO
DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA INDEFERIDO.
Pedido de gratuidade de justiça formulado pela
inventariante alegando impossibilidade de arcar com
as custas judiciais porque, apesar dos bens arrolados,
entre eles duas contas bancárias, não teria, no
momento, disponibilidade sobre esses bens para
efetuar o pagamento das custas necessárias. Rol de
3
bens entre os quais se encontra lote de terreno e conta
bancária que totaliza mais de R$75.000 A decisão do
juiz está correta ao afirmar que, com esse monte, não
se pode atribuir - a condição de hipossuficiência ao
herdeiro ou à meeira. Considerando, contudo, que é
razoável a alegação de que, no momento, enfrenta
condições de indisponibilidade dos bens
inventariadas, concede-se o pagamento das custas
devidas ao final. Decisão que, nesses termos, se
reforma parcialmente, considerando-se que não faz a
agravante jus ao benefício da gratuidade justiça, mas
que poderá, ante a circunstâncias, fazer o pagamento
ao final.” [grifo nosso]

Com efeito, a parte Autora se enquadra nas exigências da


Lei de nº 1.060/50, na medida em que após todos os gastos correntes
pessoais, não lhe sobra valores suficientes ao pagamento das despesas
processuais, afirmando este fato mediante declaração, sob as penas da Lei,
devendo ser garantido o seu acesso à Justiça, pela primazia do Princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional, em razão do qual a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito,
garantindo o livre acesso ao Judiciário, tendo a parte direito a ver
apreciadas pelo juízo competente as suas razões e a ver fundamentadas as
decisões que lhes negam conhecimento.

2) DO DIREITO

DO NOVO SALÁRIO DE BENEFÍCIO E DA REGRA DE


TRANSIÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 3º DA LEI 9.876/99

Com a publicação da Lei n. 9.876, de 28.11.1999,


verificou-se uma grande modificação na fórmula de cálculo dos salários
de benefícios (SB) dos benefícios previdenciários.

Salienta-se que a fórmula básica não sofreu modificação


(RMI = SB X Coef. de cálculo), entretanto, como foi alterada a apuração
do Salário de Benefício, o resultado prático passou por grandes
mudanças. Vejamos a redação atual 1 no tocante ao SB, conforme a Lei
1
Redação anterior: Art. 29. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os
últimos salários-de-contribuição dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade

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8.213/91, com a redação dada pela 9.876/99:

Art. 29. O salário-de-benefício consiste:


I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c
do inciso I do art. 18, na média aritmética simples
dos maiores salários-de-contribuição
correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo, multiplicada pelo fator
previdenciário;
II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d,
e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética
simples dos maiores salários-de-contribuição
correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo.

O período básico de cálculo dos benefícios sofreu,


portanto, um alongamento significativo, de 36 meses para TODA A
VIDA CONTRIBUTIVA DO SEGURADO.

Entretanto, como a regra nova causaria mudança brusca


para todos os segurados, a Lei 9.876/99 previu uma regra de transição a
ser aplicada somente àqueles que tinham ingressado no RGPS antes de
1999. Vejamos os ditames:
Art. 3º – Para o segurado filiado à Previdência
Social até o dia anterior à data de publicação desta
Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a
concessão dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, no cálculo do salário de
benefício será considerada a média aritmética
simples dos maiores salários de contribuição,
correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o
período contributivo decorrido desde a competência
julho de 1994, observado o disposto nos incs. I e II
do caput do art. 29 da Lei 8.213, de 1991, com a
redação dada por esta Lei.

No caso concreto em análise, entretanto, verifica-se que, o cálculo baseado


na regra atual, VIGENTE NO MOMENTO DA CONCESSÃO DO

ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não
superior a 48 (quarenta e oito) meses.

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BENEFÍCIO, IMPORTARÁ EM RENDA SUPERIOR DO QUE
AQUELA BASEADA NA REGRA DE TRANSIÇÃO.
Assim, deve-se respeitar o direito da parte ao melhor benefício possível
dentro das eventuais diversas regras de cálculo.
Nesse passo, é importante desenvolver a racio relativa à regra de transição,
que será tratada na sequência abaixo.

LEI 9.876/99 E A REGRA DE TRANSIÇÃO

No presente caso o INSS apresentou o cálculo baseado


na nova apuração do salário de benefício com base na média das 80%
maiores contribuições, entretanto, a discussão maior se dá em razão da
definição do Período Básico de Cálculo, que deveria ser, na regra atual,
de todo o período contributivo, mas foi o da regra de transição do art.
3º. da Lei 9.876/99, contabilizando somente contribuições vertidas ao
sistema após julho de 1994.
Segundo a regra de transição, portanto, os valores
anteriormente contribuídos não seriam importantes para fim de
definição do valor do benefício, apenas no tocante a apuração do tempo
de contribuição do segurado.
Salientamos que as regras de transição são apenas
possíveis para aqueles que se filiaram ao Regime Geral da Previdência
Social antes da vigência da Lei nova, visando amenizar os efeitos
prejudiciais ao segurado. Importante destacar que aqueles que tinham
implementado o direito antes da vigência da Lei 9.876/99, que possuem
a proteção do direito adquirido.
A lei previu um aumento gradativo do PBC, de forma a
inicialmente (1999) ser um pouco maior do que 5 anos, e ir aumentando
até que chegasse à apuração efetiva da ordem atual, ou seja, todo o
período contributivo.
O objetivo maior dessa regra de transição também foi,
claro, o de amenizar a influência negativa do prolongado PBC nos
cálculos das aposentadorias imediatamente posteriores a aplicação da
Lei 9.876/99.
Entretanto, no presente caso, essa aplicação da regra de
transição é prejudicial à parte e portanto, é devido no presente caso a
aplicação da MELHOR FORMA DE CÁLCULO PARA O
RESULTADO DO MELHOR BENEFÍCIO.

6
Salientamos que a criação de regras de transição é de
liberalidade do legislador, mas uma vez criada, a regra deve ser usada
sempre e SOMENTE para beneficiar o segurado. Caso seja em seu
desfavor, ela deixará de ser aplicada cabendo a incidência da regra
nova. Nesse sentido, destacamos os ensinamentos de Wladimir
Martinez:
Regras de transição
Em certas circunstâncias, diante da noção do
direito em formação (capaz de criar o seu próprio
conceito de faculdade) e da natureza do vínculo,
que envolve o tempo, sucessividade de
mensalidades contribuição e prestacionais,
proximidade da consecução da pretensão, a norma
reconhece alguma grandeza preteria à expectativa
de direito e cria regras de transição.
Isto é, para quem está no sistema, reconhece a
validade do passado, ameniza os efeitos das
alterações, confere alguma confiabilidade
“contratual” a uma relação que não é civil. Matéria
que reclama positivação; regra de transição não se
presume juridicamente.
(MARTINEZ, Wladimir. Direito Adquirido na
Previdência Social. 3ª. edição. São Paulo: LTr, 2010,
pag. 192)

Cabe resumir, portanto, que a regra de transição é norma intermediária


entre a situação anterior benéfica e a posterior prejudicial ao segurado,
e serve exatamente para o fim de interligar os dois momentos de forma
menos drástica ao direito do segurado.
Nesse sentido, cabe ressaltar o entendimento da
jurisprudência no tocante a aplicabilidade da regra de transição apenas no
caso de beneficiar o segurado. Tal interpretação já foi sedimentada quando
da existência da regra de transição da aposentadoria por idade, constante na
EC 20/98. Naquele caso, a regra de transição trazia a exigência da idade
mínima e pedágio de 20%, enquanto a regra nova para o mesmo benefício
não o fazia. Assim, foi unânime a posição dos Tribunais no tocante a
inaplicabilidade de regra de transição, posto que mais gravosa aos
segurados do que a própria regra nova. Destaca-se que o próprio INSS
também adotou tal entendimento administrativamente, senão vejamos:

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PREVIDENCIÁRIO. REQUISITOS PARA A
APOSENTADORIA PREVIDENCIÁRIO.
REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA APÓS
A EC 20/98. IDADE MÍNIMA. Para os segurados
filiados ao RGPS até 16-12- 98 e que não tenham
atingido o tempo de serviço exigido pelo regime
anterior, aplicam-se as regras de transição (art. 9º da
EC n.º 20/98). Os requisitos da idade mínima e
pedágio somente prevaleceram para a aposentadoria
proporcional (53 anos/H e 48 anos/M e 40% sobre o
tempo que faltava, em 16-12-98, para o direito à
aposentadoria proporcional). OS EXIGIDOS PARA
A APOSENTADORIA INTEGRAL (IDADE
MÍNIMA E PEDÁGIO DE 20%) NÃO SE
APLICAM POR SEREM MAIS GRAVOSOS AO
SEGURADO, ENTENDIMENTO, ALIÁS,
RECONHECIDO PELO PRÓPRIO INSS NA
INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/DC N.º 57/2001,
mantido nos regramentos subsequentes.
(TRF4, AC 200071000387956, LUÍS ALBERTO
D'AZEVEDO AURVALLE, TURMA
SUPLEMENTAR, 15/05/2007)

Nesse sentido, ensinam os preclaros Daniel Machado da Rocha e José


Paulo Baltazar Júnior:

Com a derrubada do dispositivo que previa a idade


mínima nas regras permanentes e sua manutenção
apenas na regra transitória, criou-se uma situação
esdrúxula, especialmente diante da possibilidade de
opção pela aposentadoria de acordo com a regra
permanente ou temporária (EC nº 20, art. 9º). É que,
optando pela regra temporária, o segurado necessita
atender ao requisito idade mínima e do pedágio.
Pela regra permanente, não há idade mínima, nem
pedágio. Neste quadro, restou esvaziada a regra
temporária, a não ser no caso de aposentadoria

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proporcional, pois nenhum segurado irá optar pela
regra temporária.2

DO DIREITO AO MELHOR BENEFÍCIO

No direito previdenciário protege-se não apenas o


direito adquirido, mas também o direito ao melhor benefício, portanto,
ao melhor cálculo e a melhor renda mensal de benefício dentro do
direito e das hipóteses possíveis para cada segurado.
Salientamos que muitas vezes são possíveis não apenas
um, mas diversos cálculos para o mesmo segurado. Isso porque, com as
mudanças periódicas na legislação, muitos segurados possuem direito
adquirido ou direito à regra de transição, além, é claro, do direito à nova
regra.
Quando isso ocorre, devemos sempre garantir o melhor
benefício ao segurado.
Nesse caso, deverão ser elaborados os diversos cálculos
possíveis e utilizado aquele que resultar no melhor valor de renda
mensal inicial.

No tocante a parte Autora, existe direito à pelo menos dois


cálculos:
 Um com a regra atual, com a apuração do
PBC em todo o período contributivo da parte,
com eventual observância ao consignado no
Art. 21, §3º da Lei de Benefícios, por ocasião
do primeiro reajuste, e no RE 564.354, este
decidido em regime de repercussão geral pelo
STF;
 Um com a regra de transição, com a apuração
do PBC somente após julho de 1994.
Assim, servirá de base para a concessão do benefício
aquele cálculo que representar o melhor resultado possível, o que no

2
ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR Junior, José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da
Previdência Social. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 193.

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presente caso, é o cálculo com a do PBC de todo o período
contributivo.
Nesse sentido, cabe destacar:

Art. 621 da IN 45/10. O INSS deve conceder o


melhor benefício a que o segurado fizer jus,
cabendo ao servidor orientar nesse sentido.

Art. 627 da IN 45/10. Quando o servidor


responsável pela análise do processo verificar que
o segurado ou dependente possui direito ao
recebimento de benefício diverso ou mais
vantajoso do que o requerido, deve comunicar o
requerente para exercer a opção, no prazo de trinta
dias.
Ressaltamos ainda que a garantia do benefício
mais vantajoso também está preceituada no
Enunciado n.º 5 do Conselho de Recursos da
Previdência Social - CRPS: "A Previdência Social
deve conceder o melhor benefício a que o
segurado fizer jus, cabendo ao servidor orientá-lo
nesse sentido.”

Vale lembrar ainda que o entendimento referente ao


melhor benefício se consolidou no direito previdenciário brasileiro em
2013, com a decisão no Recurso Extraordinário 630.501, emanada do
STF, onde ficou decidido o direito do segurado à melhor forma de
cálculo e ao melhor resultado dentro de sua realidade individual.
Vejamos:
APOSENTADORIA – PROVENTOS –
CÁLCULO. Cumpre observar o quadro mais
favorável ao beneficiário, pouco importando o
decesso remuneratório ocorrido em data posterior
ao implemento das condições legais.
Considerações sobre o instituto do direito
adquirido, na voz abalizada da relatora – ministra
Ellen Gracie –, subscritas pela maioria. (STF, RE
630501, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO,

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Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, PUBLIC
26-08-2013).

A 2ª Turma Recursal do JEF’S do Estado de Santa Catarina, também já


se manifestou no tocante a aplicação da regra atual e permanente em
detrimento a regra de transição, nos casos onde esta for mais benéfica
ao segurado, garantindo desta forma o direito ao melhor benefício.
Vejamos trecho da Nobre decisão em que foi Relator o Juiz Federal
Zenildo Bodnar nos autos do processo nº 5006540-75.2011.404.7200:

“...Pois bem, como se sabe, a mencionada regra de


transição (art. 5º da Lei nº 9.876/99) veio para
amortizar os efeitos da instituição do fator
previdenciário, vale dizer, foi instituída com a
finalidade de diminuir o impacto da incidência do
fator previdenciário no cálculo do salário de
benefício.
Entretanto, no caso em tela, a aplicação regra de
transição é pior do que a regra permanente (art. 29, I,
da Lei nº 8.213/91), já que o fator previdenciário
apurado pela autarquia resultou valor superior a 1
(um).
Diante disso, penso que a melhor solução ao caso é o
cálculo do benefício conforme o art. 29, I, da Lei nº
8.213/91, em detrimento do disposto no art. 5º da Lei
nº 9.876/99, pois não é possível que uma regra criada
com a finalidade de beneficiar o segurado seja
utilizada em seu prejuízo...”

Cabe ainda ressaltar da jurisprudência:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR


TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO.
ATIVIDADE URBANA. ALTERAÇÃO DA
CONDIÇÃO DE SÓCIO PARA A DE
EMPREGADO. DESCONSIDERAÇÃO.
Demonstrando a prova dos autos que o segurado era
sócio de empresa familiar, passando posteriormente à

11
condição de empregado com o escopo de majorar a
RMI da aposentadoria a ser requerida, impõe-se a
respectiva glosa.
Reconhecido que o autor era sócio da empresa no
período em questão, podem ser aproveitadas as
contribuições efetuadas na qualidade de empregado,
após as devidas correções, uma vez que caracterizada
a condição de contribuinte individual.
Comprovado o exercício da atividade urbana em
questão, a ser acrescida ao tempo reconhecido pelo
INSS, TEM O SEGURADO DIREITO À
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE
APOSENTADORIA POR TEMPO DE
SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO, NAS CONDIÇÕES
QUE LHE SEJAM MAIS FAVORÁVEIS, EM
RESPEITO AO DIREITO ADQUIRIDO E ÀS
REGRAS DE TRANSIÇÃO, tudo nos termos dos
artigos 5º, inciso XXXVI, da CF, 3º e 9º da EC 20/98
e 3º e 6º da Lei 9.876/99.
(TRF 4ª., APELREEX 200470050068278,
GUILHERME PINHO MACHADO, TURMA
SUPLEMENTAR, 09/03/2009) AÇÃO
RESCISÓRIA. PREVIDENCIÁRIO. ACÓRDÃO
QUE CONDENOU O INSS A CONCEDER
APOSENTADORIA PROPORCIONAL POR
TEMPO DE SERVIÇO NA FORMA DO
REGRAMENTO ANTERIOR À EC 20/98.
OMISSÃO QUANTO AO DIREITO À OPÇÃO
DE INATIVAÇÃO PELAS REGRAS
ESTABELECIDAS PELA REFERIDA
EMENDA. VIOLAÇÃO LITERAL A
DISPOSITIVO DE LEI (ART. 485, V, CPC).
EXISTÊNCIA. APOSENTADORIA POR
TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO.
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 20, DE 1998.
IDADE MÍNIMA. PEDÁGIO. CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO MAIS VANTAJOSO.
A violação a literal dispositivo de lei não se restringe
à lei stricto sensu, devendo ser interpretada em
sentido amplo, de modo a abarcar também a
legislação infralegal.

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Viola literal disposição de lei o acórdão que, embora
condenando o INSS a conceder à parte autora
aposentadoria proporcional por tempo de serviço na
forma do regramento anterior à EC 20/98, não
declarou o direito da parte autora de opção à
inativação pelas regras de transição estabelecidas
pela referida emenda constitucional, porquanto "tanto
vulnera a lei aquele que inclui no campo de aplicação
hipótese não contemplada, como o que exclui caso
por ela abrangido" (STF, HC 74183-5, Rel. Min.
Marco Aurélio Mello). (...) 7. Embora a forma de
apuração do salário-de-benefício seja a mesma se a
inativação for concedida até a data do requerimento
ou até a data da Emenda Constitucional n. 20, de
1998 (redação original do art. 29 da Lei n. 8.213/91),
o valor do salário-de-benefício poderá variar
conforme o salário-de- contribuição da segurada nos
meses anteriores, de modo que deve o INSS conceder
o benefício que for mais vantajoso à segurada:
aposentadoria por tempo de contribuição
proporcional, computado o tempo de serviço até a
data do requerimento administrativo; ou
aposentadoria por tempo de serviço proporcional,
considerado o tempo de serviço até a Emenda
Constitucional n. 20, de 1998. Em qualquer caso, o
marco inicial da inativação é a data do requerimento
na esfera administrativa, em 03-09-1999x, nos termos
do art. 54 c/c art. 49, II, da Lei n. 8.213/91. 8. Ação
rescisória julgada procedente. (TRF4, AR
200604000224834, JOÃO BATISTA LAZZARI,
TERCEIRA SEÇÃO, 21/10/2009)

No presente caso, cabendo a elaboração do cálculo do


benefício com base nas regras atuais ou na regra de transição (todo o
período contributivo ou PBC após julho de 1994), pode o segurado
optar pelo benefício mais vantajoso, sendo tal entendimento mantido
pela Jurisprudência:

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE
BENEFÍCIO.

13
(...)2. O parágrafo 2º do art. 32 do Decreto
3.048/99, com a redação dada pelo Decreto
3.265/99, enquanto vigente, o parágrafo 20 do
mesmo artigo, com a redação do Decreto nº
5.545/2005, o parágrafo 3º do art. 188-A do
Decreto 3048/99, com a redação do Decreto
3.265/99, e o parágrafo 4º do mesmo artigo,
acrescentado pelo Decreto 5.545/2005, na redação
vigente até o advento do Decreto 6.939/2009,
contrariam o disposto no art. 29, inciso II, da Lei
8.213/91, com a redação dada pela Lei 9.876/99,
bem como o disposto no art. 3º, caput, desta última
lei, na medida em que estas leis, ao contrário dos
referidos decretos, não exigem que, no cálculo do
salário de benefício de auxílio-doença e de
aposentadoria por invalidez, seja considerada a
totalidade dos salários de contribuição, mas apenas
os maiores salários de contribuição
correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo (regra permanente, para o
segurado filiado a partir da publicação da Lei do
Fator Previdenciário) ou, no mínimo, oitenta por
cento de todo o período contributivo decorrido
desde a competência julho de 1994 (regra
transitória, para o segurado filiado à Previdência
Social até o dia anterior à publicação da Lei
9.876/99 - ocorrida em 29-11-1999 -, podendo o
segurado, neste caso, se eventualmente lhe for
mais favorável, utilizar-se de mais de oitenta
por cento do referido período contributivo). (...)
(TRF4 5001793- 19.2010.404.7103, Sexta Turma,
Relator p/ Acórdão Celso Kipper, D.E.
26/04/2013)
Não restam dúvidas, portanto, do direito da parte a
ter seu benefício revisto de forma que o mesmo tenho, para apuração do
salário de benefício, o previsto no artigo 29, I ou II, da Lei 8.213/91,
com a redação alterada pela Lei 9.876/99, ou seja, para que seu PBC
leve em consideração todo o período contributivo e não apenas os
salários contribuídos após julho de 1994.

PREQUESTIONAMENTO

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No caso em análise, a aplicação da regra de transição (mais
prejudicial) em detrimento da regra atual e permanente (mais benéfica) foi
de encontro abruptamente a diversos princípios, dentre eles citamos:
Princípio da Isonomia/Igualdade (art. 5ª, caput), Princípio da Legalidade
(art. 37, caput), Princípio do Direito Adquirido (art. 5º, XXXVI), Princípio
da Razoabilidade e Proporcionalidade, e ainda ao disposto no art. 201,
§1º, todos da Constituição Federal de 1988.
Ainda, ao efetuar o cálculo da Renda Mensal Inicial do
benefício da parte Autora, não foi observado o disposto no artigo 29 inciso
I ou II da Lei nº 8.213/91 (com redação dada pela Lei nº 9.876/99).
Assim, requer-se o explícito pronunciamento desta Colenda Corte acerca
das inconstitucionalidades mencionadas, no intuito de resguardar a
interposição de possíveis Incidentes de Uniformização e/ou Recurso
Extraordinário aos Tribunais Superiores.

3) DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

A citação do Instituto Nacional do Seguro


Social – INSS, na pessoa de seu Superintendente Regional
ou Procurador Regional, para, querendo, contestar o
presente feito, no prazo legal, sob pena de revelia.
A determinação ao INSS para que na primeira
oportunidade em que se pronunciar nos autos apresente o
Processo de Concessão do Benefício Previdenciário para
apuração dos valores devidos ao segurado, sob pena de
cominação de multa diária, nos termos dos arts. 287 c/c
461, § 4º do CPC - a ser fixada por esse Juízo;
Seja deferida, para fins de eventual liquidação
do julgado, a produção de todos meios de prova admitidos
em direito e úteis à elucidação do caso concreto,
especialmente, se necessário, a requisição, ao então
empregador, das fichas financeiras demonstrativas dos
salários-de-contribuição históricos da parte autora, bem

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como, à autarquia previdenciária, do histórico completo de
remunerações do Cadastro Nacional de Informações
Sociais;
A procedência da pretensão deduzida,
consoante narrado nesta inicial, condenando-se o INSS
a revisar o benefício da parte autora, de forma que seu
cálculo seja efetuado computando-se os salários
referentes a todo o período contributivo e não apenas
aqueles vertidos após Julho de 1994, com eventual
observância ao consignado no Art. 21, §3º da Lei de
Benefícios e no RE 564.354, em regime de repercussão
geral pelo STF. Salienta-se que tal regra está atualmente
prevista no art. 29, I ou II da Lei 8.213/91;
A condenação do INSS ao pagamento das
diferenças verificadas desde a concessão do benefício,
acrescidas de correção monetária a partir do vencimento de
cada prestação até a efetiva liquidação, respeitada a
prescrição quinquenal, valores esses corrigidos
monetariamente na forma de atualização prevista pela
legislação pertinente;
A condenação do INSS ao pagamento de
honorários advocatícios na base de 20% (vinte por cento),
conforme dispõem o art. 55 da Lei n.º 9.099/95 ou o Art.
20 do Código de Processo Civil;
Considerando, ainda, que a questão de mérito é unicamente de direito, requer o
julgamento antecipado da lide, conforme dispõe o art. 330 do Código de
Processo Civil. Sendo outro o entendimento de V.Exa., requer a produção de
todos os meios de prova em direito admitidos.
Requer, com base na Lei 8.906/94, que ao final da presente demanda, caso sejam
encontradas diferenças em favor da parte autora, quando da expedição da RPV
ou do precatório, que os valores referentes aos HONORÁRIOS
CONTRATUAIS (contrato de honorários em anexo), sejam expedidos em
nome da sociedade de advogados contratada pela parte Autora, qual seja,
_________, inscrita na OAB sob o número ________, no percentual constante
no contrato de honorários em anexo, assim como dos eventuais honorários de
sucumbência.
Requer ainda, por ser o autor pessoa pobre, na acepção jurídica do termo, sem
condições de arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios, sem
prejuízo de seu sustento e de sua família (conforme declaração em anexo),
digne-se Vossa Excelência a conceder ao mesmo o BENEFÍCIO DA JUSTIÇA

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GRATUITA, na forma do artigo 4º, da Lei 1.060/50, com a redação imposta
pela Lei 7.510/86, e artigos 128, Lei 8.213 /91.
Requer por fim, que seja apurado o valor devido ao Autor por meio de
cálculos realizados pela Contadoria Judicial, nos termos do art. 11 da Lei nº
10.259/2001.
Dá-se a causa o valor de R $ (___) (inserir valor por extenso), nos termos da
planilha em anexo.

Termos em que,
Pede deferimento.

Estado, ___ de __________ de 201_.

(Nome, assinatura e número da OAB do advogado)

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