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FACULDADE DE DIREITO
TÍTULOS DE CRÉDITO
DESMATERIALIZAÇÃO PARA TÍTULOS ELETRÔNICOS
RIO VERDE - GO
2020
RESUMO
O cenário econômico mundial com a crise financeira provocada pelo Sars-COV-2 obriga
diariamente que a população permaneça em casa evitando aglomerações. Para seguir o novo
modelo de negócio trazido pelo vírus, às empresas e instituições bancárias se veem obrigadas
à utilizar cada vez os meios tecnológicos em seus processos. O meio de garantir a circulação
do crédito no mercado é a criação de títulos de crédito dados em garantia à algum negócio. A
legislação exige que os títulos sejam cartulares. Aplicar a cartularidade em meio à tecnologia
pode ser um retrocesso. Desenvolver novos sistemas e meios de créditos implicam em colocar
o principio da cartularidade em prol do desenvolvido e celeridade. Utilizar títulos não
cartulados, exige adequação legislativa a fim se assegurar a idoneidade dos processos como se
físicos fossem. Desmaterializar os títulos de créditos e utilizar de forma eletrônica exige do
poder judiciário legislar sobre o novo. A proposta desse estudo é verificar a possibilidade de
desmaterialização dos títulos e documentos de crédito sob forma eletrônica. Analisar
desvantagens que restrinjam sua aplicação e avaliar a assinatura digital nos documentos
eletrônicos. Por fim, citar às legislações existentes, se houve, sobre o tema.
The global economic scenario with the financial crisis caused by Sars-COV-2 requires that
the population remains at home on a daily basis avoiding agglomerations. In order to follow
the new business model brought about by the virus, companies and banking institutions are
obliged to increasingly use technological means in their processes. The means of
guaranteeing the circulation of credit in the market is the creation of credit securities given
as collateral to some business. Legislation requires titles to be registered. Applying
cartularity in the midst of technology can be a setback. Developing new systems and means of
credit implies placing the principle of cartularity in favor of the developed and speed. Using
non-cartoned titles requires legislative adjustment in order to ensure the suitability of the
processes as if they were physical. Dematerializing credit titles and using them electronically
requires the judiciary to legislate about the new. The purpose of this study is to verify the
possibility of dematerialization of credit titles and documents in electronic form. Analyze
disadvantages that restrict its application and evaluate the digital signature in electronic
documents. Finally, mention the existing legislation, if any, on the topic.
O crédito se traduz como o direito a uma prestação futura. Uma dilação temporal e
boa-fé são referências, observando duas diretrizes: a certeza do direito e a segurança da
informação. (FAZZIO JR. 2010, p.317).
Ramos (2015, p. 440), explica que desde à evolução do homem permitiu que a
espécie não produzisse bens para seu próprio consumo, surgiram às necessidades de trocas e
negociações comerciais. Inicialmente como o escambo, a troca de uma mercadoria por outra,
posteriormente alguns bens foram transformados em moedas, como exemplifica ca o autor, o
sal, metais (prata e ouro) até que foi criada a moeda fiduciária ou papel-moeda. Até que até a
própria moeda não era mais suficiente para atender à demanda do mercado e então foram
criados os títulos de crédito.
De acordo com Negrão (2010, 24) “os títulos de credito são documentos que se
reportam exclusivamente a relações que envolvam credito e sua disciplina legal provê
instrumentos ágeis de transmissibilidade, de segurança e de cobrança em Juízo”.
Parafraseando Coelho (2000) os títulos de crédito são documentos representativos de
obrigações pecuniárias e não se confundem com a própria obrigação, as se distinguem dela na
exata medida em que a representam.
FAZZIO JR. (2010, p.318) explica que o título de crédito é um documento, “cártula” como o
autor denomina, este documento precisa mencionar uma ou mais obrigações autônomas e literais,
dando poderes e nomeando o portador do crédito ao exercício do seu direito contra o emissor do título,
“signatários” definição do autor. E, este título estará representando ou substituindo valores com caráter
de executividade para seu cumprimento.
O citado autor, ainda relaciona os requisitos invariáveis e indispensáveis de um título de
crédito (2010, p. 319): “cartularidade; literalidade; e autonomia”.
O autor COSTA (2008, p.91) propõe uma releitura sobre o direito cambial:
Podemos citar como exemplo de título eletrônico as duplicatas, que já são emitidas
por meio eletrônico ou magnético, proporcionado maior comodidade tanto para o vendedor
quanto ao comprador.
Em síntese AZEVEDO (2008) define a duplicata virtual como aquela que não existe
fisicamente, e que somente os dados que são referentes a ela é que poderão ser utilizados para
cobrança efetuada através de cobrança bancária e por boletos bancários. Pelo fato de se tratar
de uma duplicata que não existe fisicamente, o seu protesto é uma questão que gera dúvidas.
As duplicadas digitais permitem que o vendedor transmite por meio magnético
ordem ao banco para cobrança do sacado. De posse das informações enviadas, o banco gera
um documento chamado de boleto bancário, onde constam as informações necessárias a
respeito do título. O boleto é enviado ao devedor que de posse do documento dirige-se ao
banco e efetua o pagamento na data do vencimento.
Observa-se que em nenhum momento chegou a se materializar a duplicata. Caso o
devedor não faça o pagamento, caberá ao banco por meio magnético encaminhar a ordem de
protesto ao cartório, que realizará o protesto por indicações, dispensada a apresentação física
da duplicata.
O título pode ser cobrado ou até mesmo protestado por meio eletrônico, sem a
necessidade de materializá-lo. É o que prevê a Lei 9.492/97, no artigo 8º, parágrafo único:
É sabido que toda e qualquer mudança gera impactos, positivos e negativos à cerca
do tema que está em transformação. E não seria diferente com a desmaterialização dos títulos
de créditos notoriamente presentes na economia do país.
O princípio da cartularidade, acima detalhado, implica na impressão do documento
de forma física e, automaticamente o consumo de folhas e papel. E, implica no maior
consumo de matérias primas sustentáveis, com árvores e água doce em seu processo de
fabricação. Logo, um dos principais pontos positivo, elucidados pelos autores Faria e Alves
(2005) é a preservação ambiental oriunda de práticas sustentáveis.
Ainda, em síntese ao trabalho dos autores acima citados, identificamos como
benefício da desmaterialização dos títulos de crédito, à celeridade nos negócios. A Internet é
responsável pelo aumento nas negociações, nas operações financeiras, em vendas e tudo isso
sem a necessidade de emissão de cártula. Além de que, a atividade de forma virtual dispensa o
contato pessoal entre os envolvidos, permitindo que negócios sejam feitos de qualquer parte
do mundo através de vias eletrônicas.
Entretanto, os meios virtuais ainda exigem atenção e cuidado quando os empresários
optarem pela sua utilização, uma vez que o país ainda é carente de legislação e
regulamentação para assinaturas eletrônicas e, principalmente quanto sigilo e privacidade, o
que pode acarretar a facilitação em fraudes.
Ainda sobre as necessidades e adaptações ocorridas nos processos judiciais frente à
essa desmaterialização dos títulos de créditos, são às oportunidades diante das execuções, dos
protestos e da assinatura digital.
A execução é permitida nos principais títulos através do que prescreve o artigo 585, I
do Código de Processo Civil, uma vez caracterizados títulos executivos extrajudicial.
Art. 585 - São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o
documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o
instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;
III - os contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese e de caução, bem como
de seguro de vida e de acidentes pessoais de que resulte morte ou
incapacidade;
IV - o crédito decorrente de foro, laudêmio, aluguel ou renda de imóvel, bem
como encargo de condomínio desde que comprovado por contrato escrito;
V - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de
tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por
decisão judicial;
Vl - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, Estado, Distrito
Federal, Território e Município, correspondente aos créditos inscritos na
forma da lei;
Vll - todos os demais títulos, a que, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva.
§ 1º - A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título
executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.
§ 2º - Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para
serem executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país
estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de satisfazer aos
requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e indicar
o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.
“é ato formal porque atende a certas formalidades legais, mas não é solene,
pois nenhum ritual ou cerimônia é necessária para sua existência. O conceito
legal é defeituoso e seguiu algumas opiniões doutrinárias, que assim
afirmam sem qualquer rigor científico” (COSTA, 2008, p. 210).
Pontes de Miranda assevera que “o protesto era, e é, o ato formal, pelo qual se
salvaguardam os direitos cambiários, solenemente feito perante oficial público” (2001, p.
499).
Sobre a legislação do protesto, ROSA JR. resume com presteza:
Deste modo, não existe restrições quanto ao título ser eletrônico ou cartular, pois é
direito do credor provar que tentou receber seu crédito sem o sucesso esperado, uma vez que
para isso houve recusa ou omissão relativa à verificação do aceite ou do pagamento.
Por fim, para seguir com a utilização de títulos virtuais, através de meios eletrônicos
é obrigatório que os envolvidos tenham implementado às assinaturas digitais. A definição de
assinatura digital é dada pelo art. 2º, da Lei Modelo sobre Assinatura Eletrônicas da Comissão
das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional – Uncitral, versão de 2001:
Neste artigo foram citados os três princípios do regime jurídico disciplinador dos
títulos de crédito: cartularidade, literalidade e autonomia. E, o novo conceito de
desmaterialização dos títulos de crédito diante do avanço tecnológico.
Os avanços oriundos da evolução da sociedade e a celeridade exigida nas relações
comerciais diante do cenário econômico do país assim como, as adaptações provocadas pela
necessidade do afastamento social devido à prevenção ao Sars-Covid-19, estão fazendo com
os títulos em meios físicos fiquem cada vez mais escassos, cedendo lugar para os títulos
eletrônicos.
A lógica dos títulos de crédito está assentada em duas finalidades: a) promover e
facilitar a circulação de créditos e de seus respectivos valores; e b) propiciar segurança à
circulação de valores. Assim, pouco importa a forma que este deve ter se material ou virtual.
Um dos benefícios dos títulos de crédito virtuais é a agilidade nas transações e a
diminuição das distâncias entre as partes da relação obrigacional. Além disso, o não uso do
papel representa uma economia não só em dinheiro, mas em beneficio para o meio ambiente.
Ao termino deste estudo pode-se afirmar que ele atingiu aos objetivos a que se
propôs, tendo em vista que atingiu o objetivo geral, uma vez que o processo de
Desmaterialização dos Títulos de Crédito está passando por mudanças nas regras jurídicas
para regular a nova realidade, pois, na forma física estão perdendo o seu espaço no mercado
financeiro, com o surgimento de meios eletrônicos.
E, embora o estudo proposto, demostrou que o legislativo está em desenvolvimento
para acompanhar às mudanças do mundo, ainda não existe ordenamento adequado e
apropriado para gerir todas as relações comerciais de modo eletrônico.
LISTA DE REFERÊNCIAS
ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito, 1º ed. Editora: Servanda. São
Paulo. 2009.
AZEVEDO, Sílvia Nöthen de, O protesto de títulos e outros documentos de dívida: passo
a passo no dia a dia. Porto Alegre, Edipucrs: 2008.
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
COSTA, Wille Duarte. Títulos de Crédito. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
DUTRA, Maristela Aparecida. LEMOS, Florence Diniz dos Santos. Título de crédito
eletrônico no direito brasileiro. Revista Jurídica UNIARAXÁ, Araxá, v. 17, n. 16, p. 149-
178, 2013.
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito cambiário. 2. ed. Campinas: Bookseller, 2001.
NEGRÃO. Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado. 5ª ed. São Paulo, Saraiva, 2014.
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OPICE BLUM, Renato Muller da Silva e GONÇALVES, Sérgio Ricardo Marques. Comércio
Eletrônico. São Paulo: RT, 2001.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 4 ed. rev., atual. e
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REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
ROSA JÚNIOR, Luiz Enygdio Franco da.Títulos de Crédito.4 ed. revista e atualizada de
acordo com o novo Código Civil.Rio de Janeiro:Renovar, 2006.