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Lima)
Este texto tem por objetivo apresentar uma descrição etnográfica do filme Ó pai,
ó (2007) dirigido por Monique Gardenberg. A obra é adaptação de uma peça de teatro de
Márcio Meirelles, escrito como protesto contra o então governador Antônio Carlos
Magalhães, que havia expulsado moradores, para a restauração do centro histórico. Após
breve descrição, focarei nas cenas em que se manifestam o tema do racismo.
Ó pai, ó é um retrato bem humorado do contexto cultural, mas também crítico das
contradições sociais e da violência em Salvador- Bahia. As cenas são ricas de
musicalidade, ritmo e beleza, algo característico da brasilidade baiana, o que cria
contraste com as imagens da pobreza, do racismo e da violência presentes no filme.
Boca pede para Roque realizar serviços, como pintura de carrinhos de venda de
café, pois quer recrutar jovens para venda de drogas. Em uma das cenas da oficina, após
dialogo inicialmente pacífico, a tensão aumenta e ele dispara a seguinte frase: “Não vai
dar uma de preto e cagar minha porra na saída, meu brother!” Nesse momento, Roque
irado inicia a discussão. Boca o chama de cão e depois sai de cena. Apesar de irritado, o
dono da oficina apenas diz que os carrinhos estarão prontos às 5 horas e serão entregues
mediante pagamento.
Na mesma obra, ele continua: “Outra corrente, apesar de não negar os impactos
terríveis da escravidão na formação econômica e social brasileira, dirá que as formas
contemporâneas do racismo são produtos do capitalismo avançado e da racionalidade
moderna e não resquícios de um passado que não passa.” (Idem, p.144) Como isso,
Almeida defende que o racismo faz parte das estruturas sociais de poder e não é algo
estranho a elas. E isso pode ser ilustrado com os discursos e atitudes dos personagens.
Boca: Você está dizendo isso, porque você é negro, porque nunca teve oportunidade. Certo, velho!
E você agora quer ganhar o dinheiro dessa forma, brother...
Roque: Eu já suportei demais os teus escárnios e suportar é a lei da minha raça, tá ligado. Agora
é assim, quero o dinheiro todo.
Boca: Está seguindo o quê! Você é negro! Você é negro, certo. Você negro. Você é negro. Você
é Negro. Você é Negro. você é NEGRO. VOCÊ É NEEEGRO. VOCÊ É NEEEGROOO!
Roque: Eu sou negro sim, mas, por acaso, negro não tem olhos, Boca? Negro não tem mão, não
tem pau, não tem sentido, Boca? não come da mesma comida?. Não sofre das mesmas doenças,
boca? hem não precisa dos mesmos remédios. ? Quando a gente sua, não sua o corpo tal qual um
branco, Boca.? Quando vocês dão porrada na gente, a gente não sangra igual, meu irmão? Quando
vocês fazem graça a gente não ri? Quando vocês dão um tiro na gente, porra, a gente não morre
também? Pois se a gente é igual em tudo, nisso também vamos ser, caralho!
REFERÊNCIA: