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O primeiro dos mais célebres viajantes da época foi Colombo (1451-1506). Este
navegador genovês, esperava por meio de um plano ousado, chegar via ocidental até a
China e o Japão. Dentre os motivos que levaram Colombo a se lançar ao mar, estavam as
motivações religiosas e a busca por metais precisos. Este último, a principal motivação
dos marinheiros, dos armadores das expedições e dos reis católicos.
Mesmo com o avanço territorial, a busca pelo ouro não encontrara sucesso.
Buscando diminuir os danos do fracasso, Colombo decide levar consigo, o que considera
como os maus nativos, isto é, violentos e canibais, com o intuito de vende-los como
escravos na Espanha. Tem-se assim, um processo contraditório em que se separam
escravos indígenas em potencial, dos bons indígenas, ou seja, aqueles vistos como futuros
cristãos. Nesse caso, a ignorância do navegador não reconhece os indígenas como
plenamente humanos, o que leva a seguinte conclusão: “Colombo descobriu a América,
mas não os americanos” (p 236).
A nível de comparação, quando se fala de Américo Vespúcio (1454-1512), sabe-
se das polêmicas que permeiam a veracidade de suas viagens e seus méritos como
navegador, sendo a única fonte de tais viagens ele próprio. Constata-se também, que o
mesmo não era chefe dessas expedições, ainda que tenha sido agraciado com toda a glória,
muito em decorrência de seus relatos de viagem, intitulados: Mundus novus e de Quatuor
navigationes, obras cuja popularidade deu-se entre os intelectuais de sua época, o que por
sua vez, rendeu em sua homenagem, o nome de América ao novo continente.
Quanto as observações feitas pelos nativos por parte dois navegadores, são
evidentes grandes semelhanças. Os relatos em torno da nudez, da ausência da religião, da
não agressividade e da indiferença pela propriedade, projetam igualmente, a imagem do
indígena como bom selvagem. No caso de Vespúcio, há um maior destaque as descrições
em torno do canibalismo, cuja prática é descrita em inúmeros comentários, como também
da sexualidade, sendo esta última temática descrita de maneira a aguçar a imaginação de
seus leitores, descrevendo as mulheres dos índios como lúbricas, ao ponto de se restringir
em suas recordações por conta do pudor.
Se por um lado navegadores como Colombo e Vespúcio podem ser referidos como
curiosos ou iluminados, o conquistador do México, Hernán Cortez (1485-1547), foi o
primeiro viajante a dirigir-se ao continente americano com um plano político e militar
devidamente traçados. Prova disso, é que ao tomar conhecimento do reino de Montezuma,
torna-se decidido a conquistar e submeter esse novo reino ao poder hispânico. Para
realizar seu projeto político, Cortez colocou em prática o conhecimento dos indígenas a
seu favor, buscando ao desembarcar nas novas terras não ouro, mas um interprete.
Contudo, a atitude unionista de Las Casas sobre égide cristã, acaba por impor aos
indígenas uma imagem que não lhes pertence. Além disso, o dominicano não se opõe a
expansão colonizadora, defendendo uma colonização pacífica, que seria benéfica tanto
aos indígenas quanto as finanças do rei. Assim, a concepção de Estado para Las Casas
baseava-se em um poder teocrático, cujo poder espiritual se sobressai em relação ao
temporal.
Por sua vez, a postura de Las Casa em relação aos sacrifícios humanos, revela-
se como uma posição demasiadamente tolerante, visto que o sentimento religioso dos
índios é colocado acima ao dos espanhóis, e apesar do dominicano admitir a superioridade
da religião cristã em relação as outras, também argumenta que são vários os caminhos
que conduzem a Deus, levando-o a respeitar mais as demais religiões.
No México, passa a dar aulas aos filhos dos dignitários astecas, ensinando-os a
religião cristã e a língua latina. Juntamente, o professor aproveita o contato com seus
alunos para aprender sobre a língua e a cultura asteca, justificando seu interesse como
uma forma de difundir eficazmente a religião cristã.
A mensagem passada pelo livro tem um caráter dúbio. Por vezes, o autor defende
a renúncia às superstições, e simultaneamente, lamente o destino dos povos conquistados.
Trata-se de uma obra que não pertence nem unicamente a cultura espanhola e nem
unicamente a cultura asteca, pois é singularmente híbrida, sendo o primeiro grande
monumento da cultura mexicana. Paradoxalmente, Sahagún ao mesmo tempo em que
defende a conversão indígena, nota que tal prática os afasta de Deus ao invés de aproxima-
los.
Semelhante a Las Casas, Sahagún observa que antes da chegada dos espanhóis, os
índios eram mais religiosos, ainda que sua religião não fosse boa. Igualmente, defende o
universalismo cristão do frade dominicano, considerando os indígenas como irmãos.
Todavia, defende que os índios não são melhores e nem piores que os espanhóis, já que
uma cultura não determina automaticamente o juízo de valor de um indivíduo. A
investigação etnográfica realizada por Sahagún, ainda que tenha os seus limites
eurocêntricos, mostra-se essencial para que hoje se possa estudar um povo por muito
tempo ignorado e alheio ao processo histórico.