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Os 25 Landmarks compilados pelo médico e historiador maçónico americano

Albert Gallatin Mackey em 1858 são adoptados pelas Potências Maçónicas latino-


americanas e por algumas Grandes Lojas da América do Norte.

O número de Landmarks pode variar de acordo com o Rito e o País. São


conhecidos ainda Landmarks  de Findel, de Lecerff, de Pound, de Grant e outros. A
Grande Loja Unida da Inglaterra reduziu a oito o número de Landmarks, constando do
sexto a exigência da presença do “Livro da Lei Sagrada” durante os trabalhos.
Em maçonaria Landmark corresponde ao termo apropriado pela primeira vez na
“Constituição de Anderson”, no ano de 1723, com o sentido de marcos, limites ou
regras de conduta. Se uma só destas regras não for observada, a Potência rebelde é
declarada “Irregular”.
James Anderson, escocês e pastor da Igreja Presbiteriana em Londres, escreveu a
Constituição que leva o seu nome ou Constituição dos Maçons Livres, que foi
reformada e republicada em 1738. Muitos autores atribuem a Anderson a criação da
maçonaria simbólica, em função deste trabalho, mas há controvérsias. Segundo crítica
de Castellani, “o imaginoso Anderson” tomou a Bíblia como modelo, considerando
maçons todos os que nela apareciam, contribuindo para criação de patranhas e
desencontros que ainda repercutem.

Tema recorrente na maçonaria, a Bíblia ou Livro da Lei ou ainda Volume da Lei


Sagrada (VLS) ou Livro das Sagradas Escrituras, representa a fé pessoal e alude a um
código de moral e ética sobre o qual se presta um compromisso solene, não ensejando
um ritual religioso. Dos seus membros a maçonaria exige a crença em Deus, na
condição de que cada um livremente encontre conforto espiritual na sua crença. Já a
questão envolvendo religiões é objeto de estudos históricos, filosóficos e de reflexão.
A revolucionária invenção de Gutenberg possibilitou que a Bíblia fosse o primeiro dos
livros inteiros publicados pela técnica da imprensa, processo este que se iniciou cerca de
1450 e foi concluído em 1455.  A tradução para o alemão em 1522 (Novo Testamento)
e a edição completa em 1534, baseada num trabalho coordenado pelo ex-frade
agostiniano Martinho Lutero  (excomungado pelo Papa Leão X, em 1521), tornou-se
um forte instrumento posteriormente usado pelos reformadores (João Calvino, na
França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça), permitindo a massificação das traduções sem a
necessidade de aprovação eclesiástica.
Em 1534, no Acto de Supremacia em que Henrique VIII consolidou a Reforma
Anglicana, com o rompimento entre a Inglaterra e o Papa Clemente VII,
autoproclamando-se o chefe da Igreja do seu país, dentre outras medidas, pregou-se a
popularização da leitura da Bíblia. [6]
A primeira versão bíblica autorizada na Inglaterra, traduzida do original hebraico e
grego para o inglês, a pedido do rei James I da Inglaterra, foi publicada em 1611,
conhecida como a Bíblia do Rei James. Até então era utilizada a versão em inglês da
Bíblia de Genebra de 1560.

A introdução da Bíblia nas reuniões maçónicas foi sugerida por George Payne, em
1740, como bajulação à Igreja Anglicana, e não à Católica, pois naquela época era a
primeira que predominava na Inglaterra, conforme ensina Castellani. Embora citada em
vários documentos, não se (Publicado em freemason.pt) tem notícias da Bíblia
permanecendo sobre o Altar dos Juramentos durante as sessões de trabalho. Há autores
que registam o seu uso em 1670. Nos rituais de cerca de 1760 é referenciada como uma
das três grandes luzes, com lugar de honra nas Lojas.
Os “Antigos Deveres” ou “Old Charges” [7] não permitem comprovar que a Bíblia
fosse empregada nas lojas operativas inglesas antes da Reforma. O banir dos judeus de
toda a Grã-Bretanha – e com eles, todos os seus costumes, as suas leis, as suas tradições
– pelo Édito do rei Eduardo I, em 1290, foi motivo para o sumiço do Velho Testamento.
A anulação deu-se por acto de Oliver Cromwell mais de 350 anos depois, em 1656.
O que se sabe é que os novatos juravam ser fieis às confrarias estendendo a mão direita
sobre o Livro dos Evangelhos, sendo o preferido o de São João, festejado por ocasião
das colheitas. Consta que no manuscrito “Harleim”, de cerca de 1600, a Obrigação de
um iniciado fecha com as palavras: “Me ajude Deus e o conteúdo deste livro sagrado”.

Segundo Assis Carvalho (1997), não se tem notícias do uso da Bíblia antes de 1600.
Aduz que os Estatutos de Schaw, datados de 1598, não a mencionam, mas fazem
referência a contos bíblicos e lendas contadas aos obreiros. O documento de William
Schaw estabelecia os deveres de todos os Mestres Maçons dentro do reino da Escócia,
de onde se especula tenha a moderna maçonaria sido criada, de acordo com
argumentação defendida por David Stevenson, no livro “As Origens da Maçonaria – O
Século da Escócia – 1590-1710”.

O juramento sobre a Bíblia é uma tradição da herança cristã inglesa e não tem valor a
não ser que ele tenha um significado sagrado, sendo visto por muitos como resultado da
forte influência eclesiástica no ocidente, ratificando o poder da religião nos usos e
costumes. É praxe nos tribunais ou nas solenidades de posse de presidentes americanos.
George Washington ao ser empossado como primeiro Presidente da República, em 30
de Abril de 1789, prestou o seu juramento sobre uma Bíblia pertencente à Loja St John,
n° 1, filiada na Grande Loja de Nova York.

O Livro da Lei ou o Livro Sagrado utilizado em determinadas sessões é aquele


representativo da orientação religiosa do obreiro, podendo optar-se, nos casos de
juramentos iniciáticos, quando o candidato faz a promessa da sua Obrigação, pelo uso
do Alcorão ou da Torá, quando se tratar de muçulmanos ou judeus, respectivamente,
dentre outros livros básicos de natureza religiosa. Não oferecer esta alternativa seria
negar a universalidade da Maçonaria.

Existem ainda ritos ditos racionalistas ou dogmáticos que dispensam este procedimento,
sob o argumento de que as concepções metafísicas dos maçons são consideradas de foro
íntimo e ainda como sinal de respeito à liberdade de consciência e sem imposição de
padrão religioso, com os compromissos de honra sendo assumidos sobre a Constituição
de Anderson ou sobre a Constituição das Potências às quais pertença a Loja, como é o
caso do Rito Moderno ou Francês.

No Rito Moderno “não se pergunta aos candidatos qual a religião que professam por
ser, isso, da consciência individual de cada um, e não caber, a quem quer que seja, o
direito de devassá-la” (Castellani, 1987). Citando Oswald Wirth, Boucher (2015)
afirma: “Os anglo-saxões, ao exigir a Bíblia, e somente a Bíblia, negam a
universalidade da Maçonaria e, se encararmos o problema desse ponto de vista, a
“irregularidade” está do lado deles, e não do nosso”.
Os ritos representam um conjunto de regras e preceitos com os quais se desenvolvem os
trabalhos, e entre os mais praticados sobressaem os de orientação latina e os anglo-
saxões. O Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) [8], de inspiração católica e teísta, é o
mais praticado e tem a sua origem em França, em 1756, sendo posteriormente alterado
nos Estados Unidos, em 1801, com o aumento dos seus graus de 25 para 33 [9], por
norte-americanos de origem judaica. Em 1855, o advogado, militar, escritor e Maçom
norte-americano Albert Pike iniciou revisão do REAA, que culminou com a publicação
em 1872 da obra “Moral e Dogma”, considerada um clássico da maçonaria moderna.
Os três primeiros graus, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, chamados Simbólicos,
são comuns em todos os ritos, com pequenas diferenças. Foram reorganizados entre os
anos de 1700 e 1725. [10] Novos elementos, sob a forma de (Publicado em
freemason.pt) alegorias e lendas foram inseridos entre 1730 e 1745. Os superiores ao 3°
compõem os chamados Altos Graus, conhecidos genericamente como Graus
Filosóficos.
Em todos estes graus os trabalhos são realizados com a Bíblia Sagrada aberta e lida em
passagens diferenciadas, variando do Genesis ao Apocalipse, não como um culto
religioso, “mas como ensinamentos práticos e uma das formas de se estabelecer sempre
uma boa fraternidade e uma maior solidariedade.” (Vasconcellos, 1999). Há ritos que
regulamentam apenas a sua presença sem o procedimento de abertura e/ou leitura. [11]
O local das atividades maçónicas comumente denominado Oficina, Loja ou Templo tem
como modelo o Parlamento britânico e as Catedrais, de onde foram copiadas a
orientação e a divisão. As lendas que ilustram a maçonaria não têm nenhum
compromisso com verdades históricas, mas compõem as bases dos seus ensinamentos.
Já os símbolos da arte de construir representam ideias e mensagens que são restritos aos
iniciados e funcionam como veículos para que cada um descubra as suas próprias
verdades por meio de pesquisas e estudos.

A influência da Bíblia reflete-se em várias situações e tem inspiração por analogia


simbólica no Tabernáculo Hebreu e no Templo de Jerusalém, mesmo que indiretamente,
conforme assinala José Castellani. E esta associação de imagens tem reflexos das raízes
operativas da maçonaria agrupadas na visão dos construtores de catedrais da Idade
Média, cuja corporação era uma das mais organizadas e fechadas da época.

É grande o número de nomes e símbolos tomados da Bíblia pela maçonaria, que


adaptadas e aplicadas em alguns graus e à cultura maçónica, têm como objetivo
transmitir didaticamente uma lição simbólica ou moral, como já assinalado. Importa
ressaltar que a maçonaria não é de origem judaica e não faz nenhum vínculo de
continuidade com a construção liderada pelo Rei Salomão, a ponto de dizer que naquela
época haveria uma instituição maçónica. Alegoricamente, sob o simbolismo da
arquitectura, a obra que se deve edificar é o Templo Interior, no sentido esotérico
representado pela moral, carácter e personalidade, com inspiração na narrativa bíblica
contida em 1Cor 3,16. [12]
Como suporte lendário, na concepção da Loja é marcante a figura emblemática do
arquitecto que dirigiu as obras da construção do Templo de Jerusalém, o Mestre Hiram
de Tiro (1Rs 7,13 – 2Cr 2,13), que personifica a Virtude. Destacam-se, inicialmente, as
duas colunas ornamentais situadas à entrada, citadas em 1Rs 7,21 e em 2Cr
3,17, [13] significando força e beleza. Neste contexto, aceito que o templo maçónico
pode ainda simular a terra, essas colunas representam os solstícios de Inverno, presidido
por João Batista, e o de Verão, por João Evangelista, ambos os patronos da Maçonaria.
Da mesma fonte, quase todos os ornamentos e nomenclatura foram copiados, como o
altar para os juramentos (Altar dos Sacrifícios), a mesa para queimar incensos (Altar dos
Perfumes), a pia para as abluções (Mar de Bronze), o candelabro de sete braços
(Menorá), a Estrela de Davi (Selo de Salomão), dentre outros suportes relativos à
tradição judaico-cristã ou acontecimentos históricos e míticos.
Apropriou-se também do valor significativo da Acácia, [14] árvore mencionada em Ex
35,24 e sagrada entre os hebreus, cuja madeira foi utilizada na construção do
Tabernáculo, pela sua resistência e reputação de incorruptível, devido às suas resinas.
Da mesma forma foi também incorporado o simbolismo do trigo, cereal nobre, que na
Bíblia representa o alimento espiritual, o pão da vida, a comunhão entre irmãos, etc.
Do 28° Capitulo do Livro do Génesis, foi introduzida a alegoria da visão da Escada de
Jacob, fazendo alusão ao ciclo evolutivo da vida, representado pelo progresso
moral (Publicado em freemason.pt) e intelectual, vez que a maçonaria vislumbra na
escada um símbolo de progresso que cada Maçom deverá galgar para atingir um estado
de consciência plena, com Fé (determinação), alimentado pela Esperança e no exercício
da Caridade para com os seus semelhantes. O número de degraus é indeterminado
conforme as virtudes necessárias ao aperfeiçoamento do Maçom.
Os ritos maçónicos seguem um calendário onde se adiciona o número simbólico 4.000 à
era vulgar, baseado na história bíblica da criação do mundo. A maçonaria moderna
buscou ainda na Bíblia os mistérios relativos às “Palavras de Passe“ e às “Palavras
Sagradas”, além de acontecimentos históricos e nomes sagrados emprestados aos Graus
Filosóficos, de forma que o Maçom possa inspirar-se, juntamente com cada objeto,
utensílio e adorno, transferindo a filosofia destes elementos para o terreno espiritual, a
fim de erigir dentro de si mesmo um Templo da Virtude, um local de comunhão íntima
dedicado ao culto ao Criador.

Enfim, como observa Jules Boucher:

“Os Maçons não tentam reconstruir materialmente o Templo de Jerusalém; é um


símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada Maçom é uma Pedra,
preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação”.
Márcio dos Santos Gomes
NOTAS
[1] Conhecida também como Maçonaria Especulativa, organizada a partir de 1717, teve
como precursora a Maçonaria Operativa à qual pertenceram os profissionais ligados à
arte de construir na Idade Média.
[2] Chama-se Obediência, ou Potência Maçónica, uma aliança de Lojas subordinadas à
mesma orientação superior. São Obediências: as Grandes Lojas e os Grandes Orientes
(Castellani, 1987).
[3] Simbolismo apropriado de 2Rs 22,8.
[4] Até então, a Bíblia era um livro raro e manuscrita, contando com o trabalho dos
monges copistas, de difícil acesso e com o predomínio do Latim, sendo um privilégio
do alto clero. Há fontes que afirmam que aos católicos comuns era proibida a sua
leitura, porque eles não dispunham de capacidade para entendê-la.
[5] O privilégio atribuído a Lutero de ter traduzido, pela primeira vez, a Bíblia para uma
língua moderna, é contestado por vários autores.
[6] O estudo sobre a Bíblia pelos protestantes vem de longa data, ao passo que entre os
católicos tal prática somente se manifestou a partir dos anos de 1960, em decorrência do
Concílio Vaticano II.
[7] O “Poema Regius” ou “Manuscrito Halliwell”, provavelmente de 1390, e o
“Manuscrito de Cook”, estimado de 1450, são silenciosos a respeito.
[8] Embora nascido na França, o titulo “Escocês” é vinculado aos Stuarts ingleses,
destituídos do trono da Inglaterra e refugiados na França, em duas oportunidades,
durante os anos de 1649 e 1688. Epíteto aplicado aos partidários da dinastia Stuart
(jacobitas), originários da Escócia, com quem começou a surgir e de onde o rito
adquiriu o título.
[9] Segundo Castellani (1987), os irmãos Drake, que moravam em Charleston, por onde
passa o paralelo 33, elevaram os graus para 33, em homenagem ao paralelo. Outras
hipóteses sobre este número abundam.
[10] A Maçonaria só passou a ser iniciática a partir da criação do 3° Grau (1725). Até
então não havia “Iniciação” e sim uma “Recepção de um novo membro ou sócio” que
consistia de um compromisso prestado sobre o Livro de Registro da Confraria e, tempos
mais tarde, sobre o Evangelho de São João (Carvalho, 1997). Outras fontes registam a
criação deste grau em 1723 e efectiva implantação em 1738.
[11] No Rito de York e no Ritual de Emulação é aberta para os trabalhos, mas não é
lida. No Rito de Schroeder permanece fechado. No Rito Adonhiramita é aberta e lida
uma passagem.
[12] “Vocês não sabem que são templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vocês?”
[13] “À coluna da direita deu o nome de Firme, e à da esquerda o nome de Forte”
(Edição Pastoral). Na tradução de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do
Brasil (1994), consta: “… e chamou o nome da que estava à direita de Jaquim, e o nome
da que estava à esquerda Boaz”.
[14] De algumas espécies extrai-se a goma arábica. Para a maçonaria, cujo significado
de um simples ramo faz a diferença, é símbolo da imortalidade, da vida eterna e da
pureza.
BIBLIOGRAFIA
 A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral: São Paulo: Paulus, 1990; Tradução de
João Ferreira de Almeida, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004;
 BARROS, Zilmar de Paula. A Maçonaria e o Livro Sagrado. Rio de Janeiro: Ed.
Mandarino, n/d;
 BLOG O Ponto Dentro do Círculo
 BLOG do Pedro Juk
 BLOG da Revista Bibliot3ca,
 BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçónica. São Paulo: Pensamento, 2015;
 CARVALHO, Assis. A Descristianização da Maçonaria. Londrina: Ed. “A
Trolha”, 1997;
 CASTELLANI, José. A Maçonaria e a sua Herança Hebraica. Maringá: Ed. “A
Trolha”, 1993;
 CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História, Doutrina e Prática.
Londrina: Ed. “A Trolha”, 1996;
 CASTELLANI, José. A Maçonaria Moderna. São Paulo: A Gazeta Maçónica, 1987;
 SALOMÃO, Lutfala. Igreja Católica e Maçonaria: as causas do conflito. Londrina,
Ed. “A Trolha”, 1998;
 VASCONCELLOS, Jairo Boy. A Fantástica História da Maçonaria. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1999.

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