Você está na página 1de 9

FACULDADE DE DIREITO SANTO ANDRÉ

1º SEMESTRE NOTURNO - BACHARELADO EM DIREITO

Giovanni Costa

PANORAMA HISTÓRICO DO DIREITO NA ERA MODERNA

SANTO ANDRÉ - SP
2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 O DIREITO PARA A REFORMA PROTESTANTE . . . . . . . . . . . . . 3


2.1 CALVINO E AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ . . . . . . . . . . 3

3 DESDOBRAMENTO REFORMA E MODELOS EUROPEUS DE LIBER-


DADE RELIGIOSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3.1 ILUMINISMO E A LIBERTAÇÃO DO HOMEM PELO DIREITO . . . . . 5

4 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2

1 INTRODUÇÃO

Desde o início da história, o Direito exerceu um papel importante na organização e


regulamentação das relações sociais e políticas. A história do Direito remonta a civilizações
antigas, como os egípcios, babilônios e hebreus, que estabeleceram códigos de leis que
regiam as relações comerciais, matrimoniais e de propriedade.
Durante a Idade Média, o Direito Canônico e o Direito Romano foram desenvolvi-
dos e consolidados nas sociedades ocidentais, estabelecendo normas e princípios que
influenciaram o desenvolvimento do Direito moderno.
O início da modernidade, no século XV, marcou um período de grandes mudanças
sociais e culturais, em que a racionalidade e a ciência passaram a ocupar um papel central
na sociedade.
Historicamente, a era moderna se inicia no início do século XVI, marcada pelas
grandes navegações e pela reforma protestante, reforma esta que permite o homem se
desvencilhar do pesado jugo da Igreja Católica Romana, e o permite ter uma maior liberdade
religiosa e de pensamento.
Outro movimento de suma importância para este período foi o Iluminismo, movimento
iniciado por René Descartes que trouxe ao indivíduo maior liberdade e garantia de seus
direitos naturais.
Desde então, o Direito tem sido concebido como uma ferramenta essencial para a
construção de uma sociedade justa e igualitária, em que todos os cidadãos têm direito à
proteção e à justiça.
3

2 O DIREITO PARA A REFORMA PROTESTANTE

A nova religião cristã protestante, derivada da reforma, negava o direito canônico,


exclusivo à igreja católica, que entendia que além dos preceitos bíblicos, a tradição e os
costumes católicos, deveriam ser também observados como guia de conduta moral e cívica.
Lutero, biblicamente afirmava em sua sã doutrina, que a lei de Deus não poderia ser
usada para a salvação, uma vez que a salvação é concedida apenas pela graça, dada a
cada eleito por Jesus Cristo.
Sendo assim, o cristão se libertou dos vínculos do direito canônico e passou a ser o
seu próprio regulador de pensamento e ação.
Para Lutero, também não poderia existir uma hierarquia na Igreja de Cristo se o
ser-humano é igual perante a Deus, colocando em xeque mais uma vez a Igreja Católica
Apostólica Romana. (LAGO, 2018)
Todavia, Lutero afirmava que a não observação de tais leis divinas, era apenas
relacionada ao tema da salvação, e que no plano terreno, deveríamos obedecer às leis e
regras impostas.
É do ponto de vista da salvação que o cristão é totalmente livre em relação a
qualquer lei, e a qualquer regra de direito. Mas, além do reino de Cristo, existe
o “reino terrestre”, um reino dominado pelos “maus”. Essa é a noção geral da
doutrina luterana dos dois reinos, exposta na obra Sobre a autoridade secular
(1523). (LAGO, 2018)

A reforma chamou a atenção da monarquia de diversos países da Europa, uma vez


que os interesses da monarquia não seriam mais reféns das bulas papais.
Um dos reis que aderiu à reforma foi Henrique XIII, da Inglaterra, que motivado pelo
interesse em se divorciar de sua esposa, rompeu suas relações com o Papa Clemente VI
(Que não o permitiu de se divorciar de sua esposa). (ANGELIM, 2020)
Tendo assim, uma maior liberdade para legislar e agir conforme à sua própria vontade
política, interferindo diretamente nas relações sociais de todos os ingleses da época.

2.1 CALVINO E AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ

Mais tarde, quando João Calvino assume o controle do movimento reformado, por
temer movimentos anárquicos no meio cristão, escreve sobre este assunto em sua obra-
prima, “As Institutas da Religião Cristã (1536)“. Este magnífico livro histórico, traz em seu
último capítulo como deve ser o diálogo da igreja com a sociedade.
O autor John Witte Jr. Cita que: “Calvino antecipou um número de concepções
modernas de separação, acomodação e cooperação entre Igreja e Estado que mais tarde
dominariam o constitucionalismo ocidental” (WITTE JR., 2007, Pág. 76)
Os textos legados por Calvino transmitiram a seus seguidores uma forma mais
equilibrada de política civil e eclesiástica e uma jurisdição mais limitada da igreja.
Calvino defendeu explicitamente uma forma de governo aristocrática ou mista no
4

interior da igreja. Assim, a melhor forma de governo civil deveria ser rigorosamente
paralela à eclesiástica. (LAGO, 2018)
5

3 DESDOBRAMENTO REFORMA E MODELOS EUROPEUS DE LIBER-


DADE RELIGIOSA
Com o desdobramento político da reforma na Europa, os reinos precisavam decidir
sobre a pluralidade religiosa que os acometia, ao certo, precisavam decidir a qual religião
iriam seguir.
Sendo assim, surgiram três modelos principais que discorriam sobre este tema, o
modelo francês, o alemão e o modelo inglês.
O modelo alemão pugnava que a cada região deveria corresponder uma religião.
Assim, o monarca poderia definir a religião de um determinado povo, desde que
se resguardasse o direito de emigração.
A seu turno, o modelo francês identificava uma mera tolerância à escolha religiosa.
Assim, não havia um direito subjetivo a professar determinada fé.
Por derradeiro, o sistema inglês apresentava aspectos bem mais elaborados. Já
vigia, então, o princípio do devido processo legal. Por sua influência, entendia-se
que o rei poderia proibir uma religião, ou mesmo definir outra como obrigatória,
mas para tanto, era imprescindível a aprovação do parlamento. (SANTOS, 2013)

Em meados do séc. XVII, a maioria das igrejas reformadas tinham a sua própria
confissão de fé, a exemplo da e da “Confissão de Fé de Westminster, (1647)“ e da ”Confissão
de Fé Batista de Londres, (1689)“, porém, na maioria das vezes, estas confissões eram
publicadas de maneira ”clandestina“ visto que nem todos os reinos concordavam com a
mesma cosmovisão cristã.
Em 1689, John Locke escreve o seu livro “A Carta Acerca da Tolerância“, que em seu
conteúdo, pleiteia sobre o compromisso que o Estado deveria ter sobre estas cosmovisões,
afinal, segundo ele, ”a Bíblia era uma tentativa de um Deus perfeito se comunicar com
seres imperfeitos“, sendo assim, eram válidas todos os entendimentos sobre a crença
cristã, dando o primeiro passo para o direito à liberdade e manifestação religiosa individual.
(LOCKE, 1689)
Faz-se interessante citar, que às confissões de fé das igrejas reformadas e até
mesmo os documentos e catecismos da igreja católica (após o movimento da contra-
reforma), foram inspirados pelo Direito Positivo, uma vez que as confissões são uma série
de princípios bíblicos que devem fundamentar diversas pautas da vida da fé cristã, como
conduta, eclesiologia etc.

3.1 ILUMINISMO E A LIBERTAÇÃO DO HOMEM PELO DIREITO

Na sucessão histórica dos acontecimentos citados, surge um novo movimento em


meados do séc. XVII, o Iluminismo.
Immanuel Kant, um dos maiores representantes do movimento iluminista descrevia
o Iluminismo de tal forma:
“O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma menoridade que
estes mesmos se impuseram a si. (. . . ) Sapere aude! [Ouse saber!] Tem coragem
para fazer uso da tua própria razão!” (KANT, 1980)
6

O seu grande percursor, René Descartes, publicou o livro “O Discurso do Método”,


que em suma, dizia que para compreender qualquer assunto, por mais complexo que fosse,
o interessado deveria questioná-lo.
Esta nova forma de raciocínio, se opunha à Igreja Católica que, até então, não
aceitava nenhuma forma de questionamento sobre a sua “autoridade”. (ZIMMERMAN,
18/06/2021)
Para o ideal Iluminista, todo ser-humano deveria ser amparado por uma esfera de
direitos que seriam indispensáveis para a sua condição individual, direitos estes chamados
direitos humanos, (ou direitos naturais).
Estes direitos compreendem o direito à alimentação, vida, liberdade, propriedade
etc.
Os Iluministas defendiam que apenas em uma democracia os direitos humanos po-
deriam ser inteiramente preservados, afinal, todas às garantias que o Estado lhe concederia,
só poderiam ser pleiteadas em um estado não absolutista.
Dessa forma, apenas em uma democracia os direitos humanos poderiam ser
inteiramente encontrados. Apenas naquela sociedade em que ao indivíduo é
franqueada sua autodeterminação os direitos humanos poderiam se desenvolver
com a amplitude pretendida pelos iluministas. Se a democracia, para ser efetiva,
exige o respeito aos direitos humanos, estes só estão integralmente garantidos
em uma sociedade democrática. (SANTOS, 2013)
7

4 CONCLUSÃO

A Era Moderna foi um período de extrema importância para a garantia de direitos


fundamentais a todos os indivíduos, o intuito desta pesquisa, foi trazer um elo entre os dois
principais movimentos que caracterizaram a Era Moderna.
Mesmo tratando o direito e a política como segundo plano, a reforma protestante
contribuiu de forma avassaladora ao direito à liberdade religiosa como conhecemos hoje.
A reforma não só influenciou o direito, como também foi influenciada por ele, tendo
em vista as confissões de fé positivadas, que vigoram em algumas igrejas confessionais até
hoje, tendo em vista exemplos como a Igreja Presbiteriana e a Igreja Batista Reformada.
Já o Iluminismo, foi um movimento que influenciou diretamente a constituição dos
países ocidentais e até mesmo a Constituição Federal Brasileira de 1988, que contém
em seu conteúdo normativo, um núcleo de clausuras pétreas, dentre elas, estão todas as
garantias dos direitos naturais individuais.
8

REFERÊNCIAS

ANGELIM, F. Teologia Biblica Batista Reformada: Uma Introdução Baseada na Confissão


de Fé Batista de 1689. 1. ed. Francisco Morato: O Estandarte de Cristo, 2020.

KANT, I. Resposta à questão: O que é o Iluminismo?: Os Pensadores. São Paulo.: Abril


Cultural, 1980.

LAGO, D. A Reforma protestante e a gênese do Direito moderno. 2018. Artigo Online.


Disponível em: https://estadodaarte:estadao:com:br/a-reforma-protestante-e-a-genese-do-
direito-moderno/. Acesso em: 15/05/2023.

LOCKE, J. CARTA ACERCA DA TOLERÂNCIA: Coleção: Os Pensadores. São


Paulo.: Abril Cultural, 1689. 37 p. Disponível em: https://www:epedagogia:com:br/
materialbibliotecaonine/3614CARTA-ACERCA-DA-T0LERANCIA:pdf. Acesso em:
16/05/2023.

SANTOS, A. M. B. P. Iluminismo político: a libertação do homem pelo Direito. 2013.


Artigo Online. Disponível em: https://jus:com:br/artigos/23331/iluminismo-politico-a-
libertacao-do-homem-pelo-direito. Acesso em: 16/05/2023.

WITTE JR., J. The Reformation of Rights: Law, Religion and Human Rights in Early
Modern Calvinism. Cambridge: Cambridge University., 2007.

ZIMMERMAN, I. Iluminismo: o que foi e qual a sua importância? 18/06/2021. Artigo


Online. Disponível em: https://www:politize:com:br/iluminismo/#:~:text=O%20Iluminismo%
20se%20iniciou%20como; em%20detrimento%20do%20pensamento%20religioso: Acesso
em: 15/05/2023.

Você também pode gostar