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Semana Bíblica Nacional

De 04 -07 de Julho de 2023


Moçâmedes

Padre Amadeu Ngula, pedagogo


Diocese de Benguela.
.

A transmissão da fé/adesão a Cristo


Introdução

1. CONCEITOS BÁSICOS: EDUCAÇÃO E FÉ


1.1 - Educação
1.2 - Fé
2. EDUCAÇÃO CRISTÃ NOS VÁRIOS DOMÍNIOS DA VIDA
2.1 - Educação cristã na Família
2.1.1 Dificuldades
2.2.2 Propostas da NE
2.2 - A educação cristã na Catequese
2.2. 1 Dificuldades
2.2.2 Proposta da catequese
2.3 - Educação cristã na Escola
2.3. 1 O específico da escola católica
2.3. 2 O docente na escola católica

Conclusão

Excelência Reverendíssima Senhor, D. Dionísio Hisiilenapo, Venerando Bispo do Namibe


Reverendo Senhor Padre Bonifácio Tchimboto, Presidente da Comissão Nacional para a
pastoral Bíblica
Reverenda irmã Elisabete Corazza e Doutor José Manuel Pacheco, membros da comissão
nacional…
Distintos Directores diocesanos de pastoral bíblica
Delegados

Quero antes de tudo exprimir a minha profunda gratidão à Comissão nacional da Bíblia pelo
honroso convite que me foi formulado para tomar parte nesta SEMANA BIBLICA NACIONAL
que realiza nesta bela cidade de Moçâmedes.

Introdução
A experiência quotidiana diz-nos, e todos nós o sabemos, que hoje em dia educar para a
fé não é uma tarefa fácil e ainda o é mais quando se trata de fazê-lo para as crianças.
(ontem o Sr. Bispo fazia alusão ao desafio de linguagem na transmissão da Bíblia às
crianças).
Na realidade, hoje cada obra de educação parece tornar-se cada vez mais árdua e
precária. Quase que todos os nossos esforços nesse sentido, parecem votados ao
fracasso. Por este motivo, fala-se de uma grande “emergência educativa”, da dificuldade
crescente que se tem ao transmitir às novas gerações os valores-base da existência e de
um recto comportamento, dificuldade esta, que interpela tanto a escola como a família,
tanto a sociedade como a igreja e todos os outros organismos ou agências que se
propõem finalidades educativas.
Mas se olharmos com atenção para o panorama sócio-cultural que nos circunda
podemos dizer que se trata de uma “emergência educativa”, sim, mas uma emergência
inevitável, pois “numa sociedade, ou numa cultura que faz do relativismo o seu próprio
credo”, no dizer do Papa bento XVI, nessa sociedade vem a faltar a luz da verdade, a
ponto de se considerar perigoso falar de verdade.
Aqui começa a nossa questão: Então, como propor aos mais jovens e transmitir de
geração em geração algo de válido e de certo? Como transmitir regras de vida, como
indicar um significado autêntico da vida e como dar finalidades convincentes para a
existência humana, quer como pessoas quer como comunidade?
Estas e outras questões nortearão a nossa abordagem que antes de mais procura inserir-
se no contexto daquilo que os nossos Bispos da CEAST propõem para este segundo ano
do triénio dedicado à criança com um tema bastante sugestivo: “A educação da fé das
crianças”.

1. CONCEITOS BÁSICOS: EDUCAÇÃO E FÉ

Por isso, nós pensamos que nunca será demais voltarmos um pouco sobre a
compreensão etimológica das palavras e assim buscarmos o sentido original dos termos.

1.1 – Educação

Comecemos com a palavra educação. Mas então, qual é o significado da palavra


educação? O que quer dizer educar?
São cinco, (5) os significados que podemos encontrar no âmbito etimológico e que nos
ajudam a aprofundar o significado e o sentido real. Todos eles (5) válidos e sempre
actuais, sobretudo se entendidos como complementares.

1) Educação pode derivar do verbo latino docére (ensinar, transmitir, explicar). Docère:
aqui educar é sinónimo de ensinar1. Assim, educação é vista, portanto, como
transmissão de ensinamentos para a vida. Neste sentido, se realiza uma obra educativa,

1
Ensinar, do latim (signare) é colcar dentro, gravar no espírito, significando aqui, gravar ideias na cabeça
do aluno, sendo o método fundamental marcar e tomar a licção. (Cfr. PILETTI, C. Didáctica geral, 14ª
ed. S. Paulo, Ática, 1991).
quando o educador é capaz de despejar no educando toda uma bagagem de valores,
princípios, orientações capazes de fazer alcançar níveis formativos notáveis e altos.

2) A palavra educação pode também derivar do verbo edere (comer ou ainda produzir).
Edere: o verbo latino edere (edo, edis, esum, edere) tem dois significados diferentes.
Tanto pode exprimir o acto de comer ou sorver, chupar ou absorver (ouvir, quase
devorando) as palavras de alguém, como também, o acto de produzir ou manifestar.
Em ambos os significados está subentendida a acção educativa, na medida em que todo
o educando, enquanto se encontra em formação, deve absorver tudo quanto lhe vem
indicado, quase em atitude de quem tem fome de verdades sempre novas, úteis,
positivas, a ponto de torná-las próprias, assimilando-as para mostrá-las, ou melhor
demonstrá-las com a vida. Na verdade, toda e qualquer obra educativa tem a ver com
algo que acontece com o desenvolvimento harmónico e progressivo do corpo humano:
tomar alimento, mastigar, digerir, assimilar as várias substâncias nutritivas, fazê-las
próprias para depois exprimi-las vitalmente na plenitude da saúde. Sem nutrição não há
saúde física, sem aprendizagem não há educação moral, não há formação pessoal, nem
comunitária, nem social. Portanto, a educação leva cada pessoa a cultivar-se a si mesmo
assimilando valores, experiências, mensagens, para manifestar-se como homem maduro,
pessoa capaz de viver adequadamente em sociedade.

3) A educação pode ainda derivar do verbo ducere (conduzir, acompanhar, orientar).


Ducere: aqui educar é sinónimo de conduzir pela mão. A verdadeira obra educativa não
se limita apenas ao ensino, mas também em acompanhar, por parte do educador, o
educando. Aqui, acompanhar significa acções e gestos educativos como: o caminhar
juntos; (sinodalidade), o ajudar a superar dificuldades, imprevistos, sofrimentos e
problemas variados; o verificar o caminho já feito; o iniciar gradualmente o educando
rumo a autonomia e ao primeiro controlo de si; o permitir fazer escolhas comuns e
extraordinárias da vida com plena consciência; o incrementar o uso adulto da liberdade
e a plena autonomia do educando no seio da sociedade.

4) A educação pode também derivar do verbo e-ducere ou ex-ducere (tirar fora, trazer à
luz, evidenciar. Educare (educo, as, avi, atum, are): criar, nutrir, alimentar, cuidar.
Este seria o significado mais clássico, mais antigo e também moderno, comum a várias
culturas, geralmente consensual entre estudiosos, como radical-mãe, a quem se remetem
outras interpretações. O termo latino educatio é o equivalente ao grego (paideía) que
etimologicamente está ligada à raiz (pais) criança, de quem deriva (pedagogia), embora
com o tempo esta palavra assumirá também significados cultural e cientificamente
diversificados.

5) Enfim, a palavra educação pode vir ainda directamente de educare (nutrir, cuidar,
criar). E-ducere ou ex-ducere: educar aqui vem de um verbo mais antigo:”educere”,
composto da preposição “ex”, que indica direcção para fora, e do verbo
“ducere”(conduzir), significando, por isso, tirar de dentro para fora, fazer sair, levar de
um lugar ao outro, conduzir de um estado ao outro, modificar numa certa direcção.
Aqui trata-se de tirar, trazer ao de cima tudo o que o educando tem dentro de si.
Normalmente, em quase todos os textos sobressaem mais os dois sentidos: educare e o
ex-ducere. Estes dois significados etimológicos, apesar da sua falta de conciliação,
unem-se e completam-se para nos dizerem que a educação compõe-se de dois
movimentos: um, de dentro para fora: o desenvolvimento, crescimento, maturação;
outro de fora para dentro: ajuda, o alimento, o apoio, a orientação dos outros. Partindo
desta pequena resenha, pode-se definir a educação como desenvolvimento integral,
harmonioso e progressivo da pessoa humana até à sua plena maturidade.

1.2 – Fé

A palavra Fé tem origem no Grego, “peith” que indica a noção de acreditar e no Latim
“fides”, que remete para uma atitude de fidelidade. Quando buscamos o significado da
palavra fé em dicionários, deparamos-nos com palavras sempre de cunho positivo:
“crença firme e certa, baseada não em provas de factos, mas na convicção interior2;
Conjunto de verdades, princípios, valores nos quais se acredita, convicção da existência
de algum facto; fidelidade a compromissos e promessas; confiança; crédito3. No
contexto religioso, a fé é uma virtude daqueles que aceitam como verdade absoluta os
princípios difundidos por sua religião. Fé é uma palavra de grafia tão pequena e com um
valor intrínseco imenso! A fé está intimamente ligada a crer em algo ou alguém, que nos
transcende. Fé é crer! Fé é ter a certeza de que existe algo ou alguém que nos capacita,
zela e cuida. Fé é crer em algo que não se pode ver ou palpar, mas se está seguro da sua
presença.

E então como incentivar a fé desde a infância? Crianças são concretas, precisam da


visibilidade do palpável. (rogações para pedir chuva). Contudo, crianças também
possuem imaginação, compreendem mistérios de maneira mais fácil que nós adultos.
Por isso mesmo, a fé não pode ser imposta. A fé pode ser incentivada.

2. EDUCAÇÃO CRISTÃ NOS VÁRIOS DOMÍNIOS DA VIDA

Neste sub-ponto iremos olhar para os grandes desafios com que se depara a Igreja
Católica nos vários âmbitos da vida, para a educação cristã dos seus membros,
mormente das crianças. Iremos acenar aos grandes problemas e desafios que as famílias
têm hoje em suas mãos; o desafio de gerar uma catequese aberta a todas as camadas
etárias, sobretudo às crianças e, finalmente, ao mundo da educação que é o da Escola e
assim percebermos as exigências que são feitas ao educador católico e as linhas
orientadoras dos conteúdos de ensino.

2.1 - Educação cristã na Família

Um dos grandes deveres dos pais "deve estender-se à educação moral dos filhos e à sua
formação espiritual. O papel dos pais na educação é de tal importância que é impossível
substituí-los. O direito e o dever da educação são prioritários e inalienáveis para os
pais"4. A Igreja apela sempre como uma obrigação e dever da família em ser a primeira

2
DIZIONARIO FONDAMENTALE DELLA LINGUA ITALIANA, De Agostini, Novara, 1996.
3
DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 7ª ed., Porto Editora, Porto, 1995.
4
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 2000, n.º 2221.
escola de todo o indivíduo e nunca deixa de frisar a importância da moral e da
espiritualidade como dimensões essenciais na vida humana. "Os pais têm o direito-
dever de oferecer uma educação religiosa e uma formação moral aos seus filhos: direito
que não pode ser cancelado pelo Estado, mas deve ser respeitado e promovido; dever
primário, que a família não pode descurar nem delegar"5. Vê-se desde já que, no âmbito
da família, para a educação ser frutuosa terão os pais de ser coerentes e autênticas
testemunhas credíveis. "A ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço
desinteressado são a regra. É uma grave responsabilidade para os pais darem bons
exemplos aos filhos. Mostrando-se capazes de reconhecer diante deles os próprios
defeitos, serão mais capazes de os guiar e corrigir"6. Mas não só o catecismo apela a
esta matéria, pois a Doutrina Social da Igreja também o faz: "A autoridade deve ser por
eles exercida com respeito e delicadeza, mas também com firmeza e vigor: deve ser
credível, coerente, sábia e sempre orientada ao bem integral dos filhos"7 . Quanto à
educação da fé por parte dos pais "deve começar desde a mais tenra infância e tudo isto
sempre em conformidade com o evangelho. A catequese familiar precede, acompanha e
enriquece as outras formas de ensinamento da fé. A paróquia é a comunidade eucarística
e o coração da vida litúrgica das famílias cristãs; é o lugar privilegiado da catequese dos
filhos e dos pais"8. A Doutrina Social da Igreja deixa bem claro a importância da vida
espiritual na vida familiar e sobretudo a transmissão para os filhos: "Os pais, como
ministros da vida, não devem nunca olvidar que a dimensão espiritual da procriação
merece uma consideração superior à reservada a qualquer outro aspecto"9 . A relação da
família com a Igreja tem de ser permanente e vice-versa. Há uma pergunta que se fazem
muitos párocos e catequistas: como evangelizar e sensibilizar os pais para a educação
dos filhos que frequentam a catequese? Hoje, realmente, não se pode educar as crianças
na fé, sem a colaboração dos pais. A catequese paroquial deve ligar-se cada vez mais à
família"10. Verifica-se, então, que tem de haver uma inter-ajuda entre família e a
comunidade cristã. A comunidade tem de motivar os pais permanentemente. E o
primeiro passo é a valorização de encontros permanentes, depois vem a devida
sensibilização e, por fim, a respectiva formação em ordem ao acompanhamento dos
filhos.

2.1.1 Dificuldades e problemáticas

Não há dúvida nenhuma de que nos nossos dias a família na sociedade contemporânea e
particularmente em Angola, passa por muitos problemas. São várias as razões para esta
crise. O individualismo exasperado é talvez o maior factor de instabilidade, que
desnatura os laços familiares e acaba por considerar cada componente da família como
uma ilha, fazendo prevalecer, em certos casos, a ideia de um sujeito que se constrói
segundo os próprios desejos, tomados como um absoluto. Fechado no seu

5
COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, Principia, Cascais, 2005, 239, nº375.
6
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n.º 2223.
7
COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, nº 242.
8
Ibidem
9
Ibidem
10
Manuel PELINO, Formação Cristã de Pais, Gráfica de Coimbra, 1989, 13. 27.
individualismo, o homem de hoje não é capaz de confronto e cede à ilusão que o seu
estilo é que é o verdadeiro11. A tudo aquilo acrescenta-se também a crise de fé, que
atingiu tantos católicos e que, muitas vezes, está na origem das crises do matrimónio e
da família. Entre a doutrina da Igreja sobre a família e as convicções vividas por muitos
cristãos, criou-se um abismo. O ensinamento da Igreja parece afastado da realidade e da
vida inclusive de cristãos"12. Verifica-se hoje uma grande ausência de vida espiritual
que é uma consequência da crise de fé que trespassa o seio de grande parte das famílias.
A oração que devia ser o reforço, a estabilidade e a solidez espiritual da família, quase
que não se pratica. A própria Igreja pode ter a sua quota de responsabilidade, pois,
"muitas pessoas são baptizadas mas não evangelizadas"13 e sabemos bem que em muitas
partes das nossas dioceses isto se estende na vida adulta, ou seja, cresce-se em todas as
dimensões mas a formação religiosa e espiritual estagna na vida de muitas famílias.
Existe também uma sensação geral de impotência em relação à realidade
socioeconómica, que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias. Não raramente, as
famílias sentem-se abandonadas pelo desinteresse e pouca atenção por parte das
instituições. Não podemos também esquecer os problemas ao nível da organização
social: problemas de nível educativo (crianças fora do sistema de ensino), a relutância
de acolher a vida nascente e isto fruto de dificuldades económicas, (fuga à paternidade),
os idosos constituem para as famílias um grande peso e isto vai constituindo uma
grande carência dentro da família e, por fim, a situação mais grave que é a presença de
violência em muitas famílias. Talvez um dos grandes problemas com que se depara a
vida familiar é o crescente número de divórcios no seio dela. Não temos aqui estatísticas
das nossas Dioceses em relação a isso, mas creio que podiam ser alarmantes: quase
cinquenta por cento dos matrimónios acabam em separação/divórcio. Na prática, os
noivos mantêm-se casados só enquanto perdura o amor. Casamentos por interesses
económicos e também de uma grande falta de maturidade por parte de quem tenta
constituir família. O consumismo, o hedonismo e a cultura do provisório que os “midia”
tanto divulgam acabam por destruir planos para longo prazo. Há cada vez mais no
mundo actual uma afectividade narcisista, instável e mutável, que nem sempre ajuda as
pessoas a alcançar uma maior maturidade. Bem recentemente o Papa Francisco na Sala
de Audiências em Roma identificou um dos grandes problemas que afectam as famílias
nos nossos dias e comunicou-o deste modo: “Os pais centraram-se de tal forma em si
próprios e no seu trabalho, às vezes nas suas realizações individuais, que acabam por
esquecer-se até da sua família e deixam sós as crianças e os jovens”, lamentou, durante
a audiência pública semanal que decorreu na sala Paulo VI. Francisco revelou que já
como arcebispo de Buenos Aires questionava os pais sobre o tempo que dedicavam às
brincadeiras com os filhos e que, na maioria dos casos, o pai estava ausente e não queria
perder tempo"14. "Segundo o Papa, depois de uma época de autoritarismo, a figura do
pai foi simbolicamente ausente, sumida, removida da cultura ocidental, passando-se
11
8 Raniero CANTALAMESSA, Horizontes para uma Nova Evangelização, Paulus Editora, Lisboa,
2013, 102.
12
Walter KASPER, O Evangelho da Família, Paulinas Editora, Prior o Velho, 2014, 8.
13
Ignacio LARRANAGA, O Matrimónio Feliz, Editora Paulinas, Águeda, 2001, 115.
14
www.aciprensa.com https:/noticias/texto-completo-discurso-del-papa-francisco-en-el-encuentro-
conlas-familias-en-filipinas-99503/ (consultado a 29.06.2023).
assim de um extremo ao outro. O problema dos nossos dias já não parece ser tanto a
presença intrusiva dos pais, mas a sua ausência, a sua inércia, alertou. Francisco
declarou que a ausência dos pais provoca lacunas e feridas que podem ser muito graves,
por causa da falta de exemplos e guias com autoridade e da ausência de amor. O
sentimento de orfandade que muitos jovens vivem hoje é muito mais profundo do que
pensamos, sustentou". Digamos que "o Papa precisou que, para lá da ausência física, há
pais que, mesmo presentes, não dialogam com os filhos nem se apresentam como
figuras de referências com princípios, valores, regras de vida. “Às vezes parece que os
pais não sabem bem que lugar ocupar na família e como educar os filhos; então, na
dúvida, abstêm-se, afastam-se e descuram as suas responsabilidades, indicou. Neste
contexto, Francisco falou de improviso para dizer aos pais presentes na sala que devem
ser um companheiro para os filhos, mas sem esquecer que também são o pai. Se tu te
comportas apenas como um companheiro, igual ao filho, isso não fará bem ao rapaz,
advertiu. O Papa assinalou que esta crise da paternidade se estende à comunidade civil,
que descura ou exerce mal a sua responsabilidade em relação aos jovens, que são assim
preenchidos por ídolos como o dinheiro, as diversões e os prazeres"15. (Basta pensar no
uso frequente de drogas por parte das crianças). Vale bem a pena citar o que disse o
Papa Francisco na sua visita às Filipinas, no início do ano de dois mil e quinze e o que
disse às famílias: "Sim, por um lado, são demasiadas as pessoas que vivem em extrema
pobreza, outras, pelo contrário, estão afectadas pelo materialismo e um estilo de vida
que destrói a vida familiar e as mais elementares exigências da moral cristã. Essas são
as colonizações ideológicas. Outro dos grandes problemas que assola as famílias nos
dias de hoje, tal como referimos acima acerca da sociedade pós moderna em que nos
encontrámos uma das maiores pobrezas da cultura actual é a solidão, fruto da ausência
de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações. Também não devemos
esquecer a realidade socioeconómica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias e
isto sucede pela crescente pobreza e precariedade do trabalho, por vezes vivida como
um verdadeiro pesadelo e muitas vezes associado com problemas ligados à forte e
pesada fiscalidade que vão desencorajar os jovens a contrair o matrimónio. É cada vez
maior o número de pessoas que têm prática da convivência antes do matrimónio ou
mesmo de convivências não orientadas para assumir a forma de um vínculo
institucional.

2.2.2 - Propostas da Nova Evangelização

Na nova etapa da Evangelização solicitada pelo Papa Francisco a família tem uma
predilecção especial, pois ela é tida como núcleo vital da sociedade e comunidade
eclesial. A prova disso, são as duas etapas dos Sínodos dos bispos: em 2014 a
Assembleia Geral Extraordinária e em 2015 a Assembleia Geral Ordinária”16 . Aliás em
todas as declarações do Papa Francisco aos “midia” sente-se uma crescente preocupação
pelos problemas ligados à família. No que concerne à Doutrina do Magistério da Igreja

15
Idem.
16
Aristide FUMAGALLI, Il Tesoro e la Creta, Editrice Queriniana, Brescia, 2014, 15.
naturalmente que se tem mantido praticamente todas as Verdades da Tradição da Igreja
respeitantes à família17.

No entanto, a Igreja está chamada a reconhecer as solicitações do Espírito Santo acima


de toda a disciplina pastoral, mais concretamente no caso dos pais divorciados que é um
problema espinhoso e complexo mas também representa uma chance para uma
disciplina pastoral cada vez mais inspirada no evangelho da família. "Desde 1984, ou
seja, com o novo código de Direito Canónico tem-se verificado que a Igreja Católica
não prevê castigos. Com o papado de João Paulo II e também de Bento XVI falam dos
cristãos que se encontram em situações irregulares com amor. Não há referências
nenhumas a excomunhões ". A pastoral de acolhimento e da misericórdia vão e já estão
a acontecer no seio da Igreja, tanto para os que estão dentro como para aqueles que se
sentem foram dela. " A mensagem cristã traz sempre em si a realidade e a dinâmica da
misericórdia e da verdade, que em Cristo convergem.

Portanto a proposta da Nova Evangelização é que é a Igreja deve acompanhar com


atenção e solicitude os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e perdido,
restituindo-lhes confiança e esperança.

Naturalmente que através da Nova Evangelização a Igreja tem muitas propostas e


desafios. Todavia, se é verdade que está a verificar-se uma grande decadência da família
em muitas partes é também porque muitas das propostas que a Igreja costuma fazer, não
têm sido escutadas. Uma das grandes propostas é a aposta na vida da humanidade até ao
seu termo. Outra das grandes lacunas das nossas famílias dos nossos dias é a ausência
dos idosos no seu seio. São portanto muitas vezes descartados. "As famílias nucleares
para sobreviver terão de ter uma grande coesão familiar que atravesse as gerações - avós
e avôs - estes têm um papel determinante18. Verifica-se que grande parte dos idosos não
estão presentes na educação dos netos devido a variadas razões que não iremos abordar
neste trabalho, mas que trazem consequências nefastas para as gerações futuras, pois
estas ficam muitas vezes privadas da experiência e dos saberes das gerações passadas e
também a transmissão da Fé eram e continuam a ser os mais velhos que o fazem da
melhor maneira, visto muitos deles terem uma caminhada de fé que os pais desta época
pós moderna, na maior parte dos casos já não a possuírem. Não é por acaso que "o que
para nós agora é importante é que na bíblia existe a presença do avô como artífice não
apenas de uma família e de uma herança genética, mas também de um património
espiritual e cultural nacional19.

17
O que efectivamente se alterou foi a crescente preocupação do Papa argentino e por consequência de
toda a Hierarquia da Igreja Católica em relação "à crise do matrimónio cristão e verificação de um maior
número de coabitações em vez de casamento. Mas precisamente a posição da Igreja relativamente a esta
crise não é para condenar mas sim para constatar e acolher". Cada vez são mais as pessoas que estão
impedidas de estar em comunhão plena nas celebrações da Eucaristia, ora isto evidentemente causa
sofrimento. (Cfr. CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Instrução Pastoral - O
Acompanhamento dos Casais Novos, nº6, 78).
18
Walter KASPER, O Evangelho da Família, Paulinas Editora, Prior o Velho, 2014, 34.
19
Gianfranco RAVASI, Gerar Vida, Paulus Editora, Lisboa, 2014, 50. 33
Na verdade, das propostas que do Magistério da Igreja, dos teólogos e de encontros de
famílias organizados um pouco por todos os lados deixaram e continuam a propor à
família cristã de hoje a valorização do Domingo. "Dia do Senhor é dia de descanso. Isto
constitui a relativização do trabalho, que tem por finalidade o homem: aquele é para este
e não o contrário. Fazendo isso não há escravidão. O trabalho sempre organizado e
realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum"20.

Como Igreja doméstica, a família é chamada a anunciar, celebrar e servir o evangelho


da vida. Os conjugues são chamados a ser transmissores da vida. A família cumpre a
sua missão de anunciar o evangelho da Vida, principalmente pela educação dos filhos.
Palavras, gestos, exemplo, dom de si mesmo. A obra educadora dos pais cristãos deve
constituir um serviço à fé dos filhos e prestar uma ajuda para eles cumprirem a vocação
recebida de Deus. Testemunhar aos filhos o verdadeiro sentido do sofrimento e da
Morte"21. Portanto "é por este motivo que servir o evangelho da vida implica que as
famílias, nomeadamente tomando parte em associações apropriadas, se empenhem para
que as leis e as instituições do Estado não lesem de modo algum o direito à vida, desde
a sua concepção até à morte natural, mas o defendam e promovam"22 .

Depois a Igreja também propõe que a família não se feche em si mesma, pois, nestes
tempos pósmodernos verifica-se um egoísmo atroz por isso "longe de se fechar em si
mesma, a família deve abrir-se às outras famílias e à sociedade. Tudo deve ser inspirado
na gratuidade e acolhendo todos com igual dignidade"23. A relação da família com o
trabalho é decisiva, ou seja, a maneira como este é encarado vai dar qualidade de vida a
toda a família. Obviamente que teremos de excluir aqui todos os desempregados que
infelizmente continuam a ser em maior número na nossa sociedade. "O trabalho
constitui o fundamento sobre o qual se edifica a vida familiar. É um direito fundamental
e vocação do homem. Trabalho e laboriosidade condicionam o processar da educação
na família"24.

2.2 - A educação cristã na Catequese

O grande objectivo na catequese é obviamente levar cada catequizando não só a um


contacto, mas a uma relação íntima com Jesus Cristo. Para a educação cristã a catequese
tem várias tarefas a cumprir. Também em relação às crianças, a catequese terá de seguir
os passos de Jesus Cristo, ou seja, realizar as tarefas fundamentais: conhecer as
dimensões do Reino; ensinar a orar, transmitir atitudes evangélicas e iniciar à missão. A
catequese é responsável por educar nas diversas dimensões da fé: a fé professada; a fé
celebrada; a fé vivida; e a fé rezada, tudo inserido numa comunidade e com sentido
missionário.

20
CONSELHO PONTIFÍCIO DA FAMÍLIA, A Família: O Trabalho e a Festa, Gráfica de Coimbra,
Coimbra, 2012,50.
21
Idem, 27.
22
COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, Gráfica de Coimbra, 2005, nº231, 161.
23
CONSELHO PONTIFÍCIO DA FAMÍLIA, A Família: O Trabalho e a Festa, 42.
24
Ibidem, 58.
O conhecimento da fé: a catequese deve conduzir à apreensão de toda a verdade do
desígnio salvífico de Cristo. A compreensão da Sagrada Escritura, do Credo e demais
documentos da Fé da Igreja expressa e realiza esta tarefa.

A educação litúrgica: a comunhão com Jesus Cristo leva à celebração da Sua presença
nos sacramentos, pelo que a catequese além de favorecer o conhecimento dos
sacramentos, deve educar os discípulos de Jesus Cristo para a oração, para a gratidão,
para a penitência, para as preces confiantes, para o sentido comunitário, para a
percepção justa do significado dos símbolos, uma vez que tudo é necessário, para que
exista uma verdadeira vida litúrgica.

A formação moral: a conversão a Jesus Cristo tem como consequência que o discípulo
siga o caminho do Mestre. A Catequese deve favorecer uma educação que propicie ao
catequizando atitudes próprias do cristão, que lhe transmita a vida em Cristo,
concretizada em atitudes e opções morais.

Ensina a rezar: a comunhão com Jesus Cristo leva a que os discípulos assumam o
carácter orante e contemplativo do Mestre, conseguindo, deste modo, que a vida cristã
seja vivida em profundidade. Aprender de Jesus a sua atitude orante é rezar com os
mesmos sentimentos com os quais Ele se dirigia ao Pai. (reza do terço).

Educar para a vida comunitária: a educação para a vida comunitária implica que o
catequizando tenha condições para se ir envolvendo de uma forma progressiva na vida
da comunidade, assumindo responsabilidades e comprometendo-se com esta.

A Iniciação para a missão: só se adquire a maturidade da fé quando se tem capacidade e


necessidade de testemunhar essa mesma fé, nas diversas circunstâncias da vida. A
catequese, ao educar para o sentido missionário, capacita os discípulos para a sua
missão na sociedade, na vida profissional, cultural e social.

2.2.1- Dificuldades e problemáticas

Um dos grandes problemas da catequese e sobretudo no mundo actual é a falha no que


diz respeito à Iniciação Cristã. O que tem acontecido é que "na realidade não inicia mas,
paradoxalmente, conclui"25. Verifica-se que o sacramento da confirmação é para muitos
o passaporte para a despedida da vida religiosa. A crise da pastoral sacramental é outro
dos grandes obstáculos a uma boa catequização. Baptismos, matrimónios, funerais,
aniversários: muitas vezes encontramo-nos diante de cerimónias e ritos sagrados nos
quais parece não existir a expressão de uma atitude autêntica de fé cristã. Não esquecer
que a pastoral sacramental está estreitamente vinculada ao exercício da catequese"26.
Outro dado não menos importante tem a ver com a precariedade da catequese para
adultos. Na maioria das nossas comunidades, é, sobretudo, catequese infantil. Constata-
se que a fé da maior parte dos adultos ficou infantil e insiste-se em ficar nesse estado. A

25
Emilio ALBERICH, Catequese Evangelizadora - Manual de Catequética Fundamental, Editora
Salesiana, 2007, 38. 36.
26
Ibidem, 39.
insistência na urgência da aposta na catequese dos adultos já tem pelo menos décadas,
mas de facto verifica-se que, há ainda muito por se fazer nesta matéria. Outro grande
problema é que a catequese na maior parte das vezes "não comunica uma mensagem
compreensível e significativa para os homens e mulheres do nosso tempo (o mar para
quem nunca viu o mar). Não menos importante é a falta de formação de muitos agentes
da pastoral no campo catequético. Antes "a catequese transmitia-se por osmose, nos
acontecimentos de cada dia. Mesmo nas escolas o professor de moral catequizava, ele
era um prolongamento da família. Hoje quem dá a formação são os mídia. A sociedade
já não educa em termos religiosos27.

Não se pode esquecer também o desmembramento da maior parte das famílias e nas
quais "as crianças não respiram a fé pois elas estão divididas entre um pai num sítio e
uma mãe noutro, onde o amor conjugal não é a fonte do amor paternal28. Portanto
verifica-se a crise da família. A cultura ateizante também interferiu bastante, na medida
em que a fé passou para uma dimensão privada. "Hoje a fé cristã apresenta-se como um
produto desprezado, não mais significativo aos olhos de muitos29. A religião que antes
se transmitia com toda a naturalidade é agora deixada ao livre arbítrio de cada um.
Verifica-se também que a Igreja não goza de muita estima e credibilidade entre os
jovens.

2.2.2- Proposta da catequese

As grandes linhas de orientação da catequese passarão por ser mais comunitária. Já não
é o catequista o principal protagonista. Durante muitos anos assim o foi nesta área.
Agora "na comunidade cristã, todos, por força do baptismo, são responsáveis pelo
evangelho30. Isto implica que todos terão de ser protagonistas. Portanto, passamos a um
"novo conceito de catequese: o centro não são as crianças, mas sim os seus pais31.
Subentende - se que a comunidade cristã tem de estar toda envolvida. Trata-se, portanto,
duma catequese para adultos que implica também as crianças, não de uma catequese
infantil, que implica os adultos. Passagem duma catequese infantil a uma catequese
para todos, de uma catequese por franjas de idade a uma catequese
intergeracional, de uma catequese expositiva para uma catequese mistagógica32.

Dentro do contexto da catequese de adultos ela "precisa alcançar três grupos - alvo.
Antes de mais, os cristãos mais activos, ministros e leigos comprometidos. Têm de ser
ajudados a ter um conhecimento mais aprofundado da fé e a gozar a riqueza das
Escrituras, do Catecismo, das Encíclicas Sociais, dos Mestres Espirituais, da Ética
Médica. Depois os que não frequentam a Igreja, através de um bom programa de
27
Enzo BIEMI, El Segundo Anuncio, Sal Terrae, Santander, 2013, 17. 103
28
D. José POLICARPO, Fórum de Catequese, Vol 1, Secretariado Nacional de Educação Cristã, Lisboa,
2003,15.
29
Emilio ALBERICH, Catequese Evangelizadora, Editora Salesiana, S. Paulo, 2007, 43. 37.

30
António BOLLIN, A Catequese na Vida da Igreja, Paulinas Editora, Águeda, 1996, 228.
31
Cónego Carlos PAES, Repensar a Pastoral, Paulinas Editora, Águeda, 2011, 33.
32
Ibidem
Iniciação de Adultos. A apologética das Escrituras e os autores cristãos primitivos
constituem bons recursos. O terceiro grupo, os católicos “não praticantes”, é o mais
difícil e é preciso muita reflexão, oração e planeamento para saber como chegar a eles.
Mas o Natal, Páscoa, casamentos e funerais e outras celebrações são ocasiões que a
Igreja deve aproveitar bem para fazer a devida evangelização33.

Deste modo, a catequese terá de passar da “transmissão da fé” para ser adesão a
Cristo34. Digamos que não pode ser simples aprendizagem, pois, no crescimento da fé o
conhecimento é sobretudo, reconhecimento, descoberta do sentido de uma experiência
envolvente e misteriosa. De uma catequese monocórdica, reduzida praticamente à
transmissão de conhecimentos religiosos, passa-se a uma visão mais global da tarefa
catequética, que busca uma formação mais integral da experiência cristã de fé. O
primado do ensino deve dar lugar à preocupação com a iniciação: se antes o interesse se
centrava no ensino da doutrina, (Catecismo de Leconte), hoje redescobre-se a
importância única do processo iniciático (Caminho neo-catecumenal).

Outro dos aspectos importantes que a catequese não pode descurar é que tem de ter um
rosto local. A atenção ao homem, à sua cultura, à pluralidade das situações, à exigência
de inculturar o evangelho, obrigam cada país e cada igreja local a conceber projetos
pastorais e mediações catequéticas locais, que confirmem que o caminho escolhido é
realmente bom35. Por fim, a catequese parece assumir uma nota comum a todos os
ambientes: a exigência de ter uma função mais evangelizadora e de se colocar em
perspectiva missionária. Portanto, terá de haver uma passagem de uma pastoral de
conservação para uma pastoral evangelizadora, missionária. Não podemos deixar
de fazer referências ao catequista para os nossos tempos. "Aquele só pode ser entendido
numa perspectiva eclesial: ele não fala de si mesmo nem actua por sua conta e risco,
mas é porta-voz da Igreja36.

Propostas novas são também na área dos conteúdos da catequese: a experiência antes
da doutrina. Em vez de apontar para a transmissão da doutrina cristã, a catequese deve
ser antes de tudo, comunicação de experiências de fé. E aqui ganha uma extrema
importância a presença da oração na catequese. É impossível transmitir a fé sem formar
as pessoas na vida de oração. A Fé sem oração é uma contradição, é informação,
doutrina, história, mas não é fé37. Não exclui a doutrina mas a integra num contexto
mais amplo. Passagem da transmissão de verdades já possuídas a uma catequese que,
sem comprometer os elementos certos e definitivos da fé cristã, privilegia também a
dimensão escatológica da revelação. A preocupação com a ortodoxia é substituída
pela fidelidade às fontes, ou seja, primado absoluto da Bíblia e centralidade dos
Evangelhos. (história do padre que roubou os tallheres). A catequese há-de cuidar da
guarda dos documentos da fé e procurar recuperar a credibilidade do testemunho.

33
Cardeal Seán O´ MALLEY, Anel e Sandálias, Paulinas Editora, Águeda, 2010, 112.
34
António BOLLIN, A Catequese na Vida da Igreja, 229.
35
Ibidem, 229.
36
António BOLLIN, A Catequese na Vida da Igreja, Paulinas Editora, Águeda, 1996, 230.
37
Cfr. Manuel Queirós da Costa Fórum de Catequese, Vol 1, Secretariado Nacional de Educação Cristã,
Lisboa, 2003, 127.
Também no campo da pedagogia passa-se duma centralidade dos conhecimentos ao
primado das atitudes. De uma comunicação predominantemente verbal à
pluralidade de linguagem inclusiva. (Missa gestual) .Valoriza-se mais a pedagogia da
criatividade em detrimento da pedagogia da assimilação.

2.3 - Educação cristã na Escola Católica

2.3.1 - O específico da Escola Católica

A Igreja, para realizar o mandato recebido do seu fundador tem sua parte no processo e
difusão da educação e o Concílio Ecuménico considerou atentamente a gravíssima
importância da educação na vida da pessoa.
Para o nosso caso angolano, sabemos que existe um protocolo de colaboração entre o
Estado angolano e a Igreja Católica, pois a Igreja ao oferecer o seu projecto educativo
ao homem do nosso tempo, realiza a sua função eclesial insubstituível e urgente.
Portanto, o que define a especificidade do carácter “católico” da Escola é a sua
concepção cristã que ela dá à realidade, a partir de Cristo que é o centro da mesma
realidade e seu fundamento. A escola é “católica” porque os princípios evangélicos são
as suas normas educativas, motivações interiores e meta final.
A religião não é um acréscimo à educação. A religião persiste como uma instância de
resposta às ansiedades e expectativas daqueles que indagam um sentido existencial.
Antes de ser uma questão de confessionalidade, está mais ligada à identidade e
convicções. O cardeal Jorge Bergoglio já apelava aos educadores cristãos, em Buenos
Aires:

"A vossa tarefa tem um carácter pascal que não perde nada da sua autonomia como serviço ao
homem e à comunidade nacional e local, antes lhe dá um sentido e uma motivação
transcendentes, e uma força que não brota de nenhuma consideração pragmática, mas da fonte
divina do chamamento e da missão que decidimos assumir”38. Quanto aos seus conteúdos a
fenomenologia religiosa é um manancial de inesgotável interesse. Desde a oração ao
sacrifício, meditação, livros sagrados, à orgânica e hierarquia sabendo que está inserida
esta disciplina nas escolas do estado duma sociedade secularizada, democrática,
pluralista, multiétnica, multireligiosa e mlticultural. No que concerne aos fins do ensino
religioso "tem de contribuir para a identidade pessoal e cultural do aluno em formação,
preparar o aluno para saber viver junto com os outros na sociedade pluralista,
desenvolver a tolerância recíproca e capacidade diálogo intercultural, promover
competências religiosas em termos de informação crítica e capacidade de juízo39.
Muitas vezes, a dimensão religiosa é completamente esquecida e outras vezes colocada
à parte e isto sucede em muitos casos, sobretudo nos países mais desenvolvidos, onde o
centro de todas as decisões passou a ser o próprio homem. Já o Papa Francisco aquando
da sua presidência da Igreja em Buenos Aires alertava: "Como entender que em alguns
sectores educativos se convoquem todos os temas e questões, mas que haja um único
38
Jorge BERGOGLIO (Papa FRANCISCO), O Verdadeiro Poder é Servir, Editora Nascente, 2013,
Braga, 123.
39
5 Hélder Fonseca MENDES, Fórum de Catequese, Vol 1, Secretariado Nacional de Educação Cristã,
Lisboa, 2003, 47.
proscrito, um grande marginalizado: Deus? Em nome de uma reconhecida como
impossível neutralidade, silencia-se e amputa-se uma dimensão que, longe de ser
perniciosa, muito pode contribuir para a formação dos corações e para a convivência em
sociedade40. Mas também "por isso os professores de Religião não podem esquecer que
actuam, com cristãos que têm em si as energias do baptismo a aguardar quem as ajude a
desenvolver e actuar. Há maneiras de fazer isto, na aula, na transmissão do saber, na
atenção ao relacionamento, acções de solidariedade, abertura ao transcendente e à
natureza e por fim um viver eclesial41.

2.3. 2 – O docente da escola católica

O docente de uma escola católica terá que ter três grandes requisitos e as devidas
qualidades: Personalidade humana: Equilíbrio humano; maturidade; facilidade de
estabelecer relações interpessoais; sensibilidade à problemática sócio-cultural; abertura
de espírito universal; postura cívica e ética.

Personalidade docente: propensão para a educação e o ensino; aptidão científica


(teológica, didáctica e pedagógica) e profissional; compromisso na aquisição de
formação permanente; disponibilidade para assumir responsabilidades na comunidade
educativa; abertura ao estabelecimento de redes com as famílias e a comunidade
envolvente; capacidade de liderança.

Personalidade crente: Fé (comprometida); testemunho de coerência e integridade de


vida; clareza e objectividade na transmissão da fé e da doutrina da Igreja; capacidade
para criar nos alunos abertura à dimensão religiosa e à busca de opções pessoais;
capacidade para ajudar a amadurecer nos alunos as interrogações de sentido para a
vida"42.

Como acabamos de ver, a formação ou educação cristã pode e deve ser dada pela
escola. É, porém importante que tal formação se integre na formação intelectual, moral,
social, estética e física. Esta integração, que só a escola pode proporcionar, tem
particular importância numa sociedade pluralista que leva o indivíduo a estabelecer
barreiras entre a vida quotidiana e a vida religiosas. Enquanto visa educar o homem
todo a escola católica se apresenta como um campo privilegiado de evangelização, mas
para isso, precisa assegurar para os estudantes católicos uma educação crista com
linguagem e métodos actualizados. Os alunos exigem hoje uma linguagem nova na
apresentação da mensagem, pois o vocabulário deles está em continua evolução.

40
Jorge BERGOGLIO (Papa FRANCISCO), O Verdadeiro Poder é Servir, 24.
41
Maria Helena Calado PEREIRA, Fórum de Catequese, Vol I, Secretariado Nacional de Educação
Cristã, Lisboa, 2005.
42
Tomaz Silva NUNES, Fórum de Catequese, Vol II, Secretariado Nacional de Educação Cristã, Lisboa,
2003, 87.
Conclusão

À guisa de conclusão podemos afirmar que a educação cristã na família, a catequese e o


ensino da religião na escola, cada um segundo as próprias características peculiares,
estão intimamente ligados com o serviço da educação cristã das crianças, adolescentes e
jovens. Na prática, porém, é preciso ter em conta diferentes variáveis que geralmente se
apresentam, com o intuito de agir com realismo e prudência pastoral, na aplicação das
orientações gerais.
Portanto, cabe a cada Diocese ou região pastoral distinguir as diversas circunstancias
que intervêm, tanto no que concerne à existência ou não da iniciação cristã no âmbito
das famílias, para os próprios filhos, quanto no que diz respeito às incumbências
formativas que, na tradição ou situação locais exercitam as paroquias, as escolas.

Amadeu Ngula, sacerdote diocesano de Benguela, desde 1994. Tem doutorado em


Pedagogia da Escola pela Pontifícia Universidade Salesiana. Foi Director-Geral
fundador do ISPOCAB, é professor universitário e do Seminário do Bom Pastor,
também é pároco.

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