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os

SEBASTIANISTAS,

SEGUNDA PARTE.

POR
JOSE' AGOSTINHO DE MACEDO.
Credat Judaeus Apella
Non ego......
Horácio.

L I S B O A,
NA IMPRESSÃO REGIA.
ANNO 1810.
Com. Licença.

Vende-se na Loja de José Antonio da Silva,


LivreiroáPraça daFigueiraN.22.
D. Sebastião morréo em Africa a 4 de
Agosto de 1578 com 24 annos de
idade.

Folhinha da algibeira pag. 129, edição de 1810.


(3)

CARTA
AO I L L U S T R A D O
POVO PORTUGUEZ.
PROLOGO
DA SEGUNDA PARTE

DOS

SEBASTIANISTAS

Parte que .he hórh ?env^?áígjiq da


aftentjãp-, e e»t mâ do Público; qualquer
es$pr<^> que-se desterrar préoc-
tapaqQfes» e erros èueees ? i - q uí se híq
engrossado >com o tempo, pqssando des-
graçadamente de géráçljo em^geração -co-
irtO-tamflegadol^noratícià i e .de fer*
bàrvdáde. A ssiriv detemos \fulgar; á çreiif
qa ' irrisória dos Sebastianistas;,: Este -'ver-
dadeiro flagello péza sob e o Povo Por-,
ttrguez ha aga" ánnos , e basta qiié fe leia
com attenção de la Clede em 0 9 " Volume
-da Hisroriã, onde miudáríienre"cóniá
á morre do Senhor Rei I). Sebastião pa-
ra se coaheccr ^ueWigera j | quç maava
A2
(4)

tivesse tão pernicioso delirio. Alli dá a


conhecer seus Autòres , . destgnárido-bs
c o m o nome de tfíK^Bág^HMHR procu-
rarão cbm tão ridiciflo -ar t ifiejo e nxugãr
as Jâgrimàs de tantas viuvas, Senhoras
cja. primeirà Jerarquia, e socegár ò Povò
sublevado contra os. promotores de tão
ftip^expedição^O mesmo Historiador
declara os esforços, os estratagemas,dá
politica de '.Filippe 6 Prudehre para dis-
suadir o Joven M o h a r c a d a intentada
jornáda^ e antes Pedro da Alcaçova Car-
neiro lhe déssei o parecer da expedição
da; índia1 que" o da' iíivásao da : África.
Álli conta como o mesmo Maluco lhe
offerecia- vantajosos í partidos para que
desistisse.ida intentada,.em preza, pffere^'.
cendo-lhé até: quatro iegoas de teírénO
em torno de'tada^Foftálèia; q ué osPor-
tuguezes possuião nas Costas» de Africa
sem que. o Monarca quizesséI accéder :a
tantas vahtagens'pâra q Reino. Alli ex-
pée.os prudentíssimos Conselhos do Ge*
jieral Héápanhol Aldanay.com que pro-
curava persiiadir-lhe que não apresen-
tasse ,a batalha em burna planicie;, vendo
que seria em hum instante f è f l ^ J y i d ^ t ó ^
la Cavallarià Mourisca, que era de 7°cb >'
que o Exercito combinado se compunha
só de 13& homens de Infantaria, e que
(5)

destes só 5$) erao Portuguezes, | 9 rejS*--


to de. diversas NaçÔes: ;Compost'o .,.
mães , Flamengos , Italianos", HgSpa-
nhdes, gentes bisonhas , e discordantes ^
sem disciplina , que os Mouros , ;além d ç |
^oÁiièayallos';; traziab - í i Peças de gros-
sbtalibíe., e bem -servidas por Artilhei-
ros Europèos renegados, que :e.llè'.?ião
podia contar senío com,dois Regimentos,
Portuguezes , 0 do Duque de jAveiro,- é ;
0 de Lourenço «Pires-;de Távora, jÇàpa-J
zes- de fazerem testa a milhares de Mou-
ros ,>;mas que a Artelharia inimiga, Var-,
reria tudo'em campina rasa , que com os
: dois Regimentos dos Verdadeiramente in-
trêpidbs Portuguezes tomà«se Larache,
:
e :^ue: allí se- fortificáss?; se engrossar ,
que se chamasse o grande D. Luís
dç Atàyde. pára, comrrrandar ó Exercito
itíaís bem disciplinado que se final-
mente teimasse em dar íbataMía, o deixas-,
:
Çe a elle- Génerál Aldana. commandar a
acção'i è que* Sua Maggçtade resguar-
dasse a slla- R'èal ;Péssoa ; de aue; pendia
1 a felicidade, è a honra da Nação., que
elle era hum Soldado prático * e focas*'
do na, Escola do Operador Carlos
/ q u e se vira em muitas batalhas?-, e que
vengêraíade Paviat: riada bastou, deo a
(6)
batalha-, e el'e> e quasi todos nellâ mor»
j , " S e ; " v i q í i è |aó^' pn^?iro$ tiros ficòií
mai ^írido erh o hombíò esquerdo. Elie
morren, tudo sé. désbara pu ; o Reino
. ficou perdidoe des:e g r p d è mal resultou

« iJiptas çU-': 3 q.uiz ccrob^fer e 'de^roir j


cu idando q ue £u i j hum sèrvico'^ :Sfáçiíc*y
; salyando-ihe OvéréditOij^e desfazendo "a
:• opprob^ioícom qu^liqgJ^râtáÒ os;;' estrá^
nhos, taxand^-no; de imbêcLÍiQs,esfúnidc>s ,
pupérsiticiosos xe' visionários. Eu devera
; C perar 'Jjum agradecimento , mas tive p
|contíarió jvha ^r^Sêbaitlgnjistas-dp^què
eu julgava, e etao mais os solapados,
que;;',òs;descò^
d? iújitFÍa;algama;-com 'què flaó{tèfihà çi-
d o ataíâdo de;viva voz - p o r e^rito.
• Eii-, meus pafry: riíeiís avos
vida privada, os trrçus defeitos pessoaes,
d;; tudo se, tem1 feito púbíica ahnoeda,
Personalidades as mais § atrozes;, esçritos
infamatoros mandados á ; minha cása ano-
nymos j ameaços dé mórtè, é até o que,
he parto, da tnais ímpia baixeza , 45. b a r -
baridade , a comminíção de me fítivarém
dcs honrados ,' e. trabálhoJsíimps. meios
da minha subsistência ^ para r mè réduzi-
tóm a pe.nuria e.^ndigencia; p'õ;r|úè.to-
( 7 )
alimento,, banhando a triste fronte^&í -
copioso suor, e procurando desempenhar
bem o mais difficil ministério , só para
ter hum amargurado pão; e como se e$-
tá bai.keza ainda não satisfizesse os que
se: dizem •muito Christão Sebastianis-
tas , mè tem prometjtidô ate pancadas cora
ultraje público de., hum-jGp.ver.no Catho-
'lícov- que punjrk tão grande at tentado. .
Ei§-aqui o qué^tói^tiveií-çlm^i multidão
enorme de papeis a. litençjarem-se para
me ultrajar, eomo sè o.Supremo Tribu-1
nal V e os reçjissimos e sapietítissimos
| Censores ge. .pudessem Aludir., certifican-,,
I do-me em Cartas anonymas.y^que tinhao
| ém Londres João Baptista Reycend para
òs despicar , que assim como lá fizera
imprimir as Trovas do Bandarra , tam- •
; bfetrt
casrtios^lpersonalldades:, e injúrias pes^
soae?.: Cuidei .na - verdade, que não era
t t o granléfcrane nãP açrèdiíar o .^rftaí
do Japão v e as decimas' em bom PortUi-
guez, attribuidas aoSummo Pontifice São
Uiamaso, .que viveo no. quarto Século,
; as-decimas de Cleobina , de Nação Ita-
• è a i vísóes da Madre Leocadia da
^ c e i ç ã o » e as da Beata de Évora Leo-
nor Rodrigues. Cuidei que não era bum
( 8 )
.crime dizer que q ;bom ChristaO não de*t
ve tentar a Deos, obrigando-o a fazer o
grandemiJagre da:conservação, e vinda
delRei D. Sebastião sem .necessidade,
^ft senj mececanenfo djspçi^df ver. in-
tentado, bu ma guerra;,\não só injusta nos
$eus motivos, nias perçicioci^ijpaj: p^ra
•este Reino, como causa da nossa,:dèca-
dencia,- e,abatimentOv>;, Cuidei que; dizia
huma verdade em áffirmar, que h«m Se*
bastianista era mão Vassallo*, querendo
. huma Dyriastia ,que já acabou, e cla-
mando que Sua álteza, que Deos guar-
de , está intruso isto depois, que o gra-
ivissimo ,'e sapiéntissirno Doutó.r Francisr
co Velasco Gouvêa demonstrou em hum

da Europa consagrado âoSenhorRei


.D.,João IV.. a'legitimidade da sua A.c-
cjàmação. Tratado, que começa por estas
'.rtptayejs pàlayras,.» Morto elRei D.. Se-,
kbastiãp.J>% Klli vem a Acclàmaçap Jivré ye
;
Cbpontanea do Povo Portuguez, as Cortes,
de Lisboa, onde foi jurado ,VetC? Cuidei í
que dizia huma verdade em affirmar qité
hum Sebastianista he hum mão Cidadão
em clamar;, que devemos deixar entrar
Os Francezesr, e que deveiíi" vir cpnqáls
Ur a. Hespanh bF^ porque diz o Preto do
Japão « A Hespanha perderá a valentia}*
(9)
e que Bonaparte deve entrar em Pottugal
para morrer.em Évora ás mãos delRei
D. Sebastião,;;; e que' nos devemos alegrar
,. quanto mais prósperos forem os Françe-'
zes , e mais-desgraçádosos Hespanhóes,
e Portuguezes1; porque; tudo são signaes
'mg da .vinda. dellVçi D.-- Sebastião :. disto
he íèstetnunba todo o Povo , como lie
• presentemente | testemunha' do i çontenta-
. mento âctual dós Sebastianistas com a
noticia de que Sua Al teza, que Deos
guarde , estava enfermo /porque deve mor-
rer, como eiles affirmao que o diz o Pre-
. to do Japão, coisa atroz na verdade f e
digna: .dò';mâfSíex^mplàr'-cãstigo \ Cuidei
que fazia hum serviço á Nação em que-

irrisão-pública. Coisa que deve lastimar


' tbdò o bom Patriota-zeloso da glória,
e bom nome do Povo Portuguez. Enga-
nei-me em tudo ; p pelo que pertence á
| : dtís- Sebastianistas:m
^ ;refinarão ainda mais sem haver verdade ,
• jg ou evidencia que.os convença , e que.lhes
sare o fy.nesrO delírio. Consólo-me porém
que a classe illiístrada .da Nagão haja rei
•^ebido.bem a Livro * e o haja applaudi-
' J r ™ ! , porque conliece a minha boa inten-
w • çao,-e até o meu desinteresse ^ p&is dei
gratuitamente o Ms.-. a quem • o mandou
( 10 )

imprimir serq querer- para mim mais que


seis exemplares para os dar. Conheço
- que sou m uito defeituoso em tudo § mas
ao menos possuo huma virtude em gráo
lieroicôy qye he hum' amordecidido pe-
la glória dá} nossa ií lustre Nação, "deso-
járidO-a fàzer cOnhecer-peio que ella foi.,
e pôde çer , salvando-a de todo§„,os' op-
probrios .com quê a énióválhão "os* Es-
trangeiros , porqíie rios ríati conhecem, e
desçjando ter occasiãô de compor a sua
His tori.a de hjnk m, odo di gflofè- É É m p
s ó , cáriçándp-me; ha i ^ . âtinos emajutv-
tar Documentos.^ ç em pie instruir em
tudo ò que he neeeissario'. para-dar huni
corpo'; completo da Historia dá Naqão"
n.lo me faltando 1 mais que- -subsistência
para poder: . cuidar só neste1 objècto, ; e
prescindi r d o meu trabalhoso emprego,-
Todos sabem a liberdade ,.. e 2elo com
quê .fellava' no espaço dos nove^mezes do
nosso cativeiro , sem. temer as espadas
Fráncezas n.erri as' pesquizas barblífas' da
chaipâdíí Poli<cia% todos; conhecem a re-*

peito.- Se os Sebastianistas as fingem igno-


rar: para me últrajarem-^ pouço- me fa*
quieta esta injustiça. Eu julguei faler*
aieda íriais. patente ao Povo Portuguez
©s; déljrio?, è; parvoíces dos Sebastianis»
( 11 )
; tas, por isso escreverei segunda parte,
onde o Mundo verá a:é que ponto á de-
mencia os tém levado, e conhecia de
Jiuma <vez que coisa são Sèbagúarii^ías-,
as razões, ou loucuras cm que se funda
a sua cren£a, ellés' mesmos foliarão, e
.peço- ^ o ^ u n d o . .todo-'-que jtiljfuè-j'.* me
Cundémne sé ;èu tiver culpa. 'Ç.ern sido
çoiSa^bèm; digna dè lá^&ta^jw^rtiâneí-..
ra por que se tem procurado impugnar o
Livro.' Todos tem começado com hum ;
Preambulo vestranho , protestando , que
rãqvèãó SeHstianfetaâ;: poís;;Ke. o não sfo^
pu se euwgonhão de? o confessar / qtíe
tém xdm o Livro 1 h unia
;.crassa igftorapcia^é :riãó' conhecem o
•• .• ta 'o da que^o?',todífe.;.•«dnftiriàetn a
cren;a com d sngéito , p que he 'hum
',, •1 enorme abusó dos termos. Qiiem nega a
i bòa cónducta';âõs SebaistianiSiáfe^ e â sua
1 i Re1|giã;{J:at'éao pbntó .Sebâstico etcltiêi-
-vé ?; ,Êu sddigo que ne«te ponto, fnzen-
§ do absífaeçio do mais'^devem. ser taxados
do que mostrò nas quatro proposiç&ss.
^CJstseiJs costumes -sto luimá; coifrâ, d Se-
ba^tLanismo' he ouírà';e eu sd:-falio:com
.p homem Sébastianisra, ?e mais nada. j á
^ ^ I f f i s ' drsse que até è-te- trtesmo 'artigo he
j f nelleS.inydluotario e que .Os Seus defei-
íos ,ptoiíldsiia-;;.dò ' s e u ^ e n g a f t o - n ã o d'a
( 12 )

sôa malícia. já: procurei môstrar-lhes que :


n í o ficarão livres. de culpa, se presisti-
rém conhecido o engano, porque a cren-,
ça lie cjndemnadapor hum Tribunal sán-
tóv e recto, e competente Juiz em de-
terminar as matérias, què são oppostas' d.
i?éi, e á©isciplina <jtóTgréj$.yJá>ni<js-
frei corçjp '^-^gitiii^js-^obèrânós " tem
condemhãdo.1 €stè .errò, e sèmípre contM~
nuarei a- dizer, que he summa demencia'
esperar ,;'sèm: a promessa feita-revela-",
da por: Deos, a ressurreição dé hum mor-
to arites da universal: ressurreição > qtíe he .
hum artigo-: de Fé.; A- todos inculco a.
leitura da'douta Carta, estrita -ao amigo
de Santarém ^ondeívêm 'tjFaslàdadas por*
extenso cOm- louvável trabalho., e gran-
de erudição, às passagens dos Autores
ou testemunhas de vista,' Ou" coevos, que
rratão da morte do infeliz Monarca. . '
Com esta.leitura .se pode conhecer, que
fte rétnatada demência* oppôr .autoria
dade dos mais graves Escritores "Naeio-, | j
naes e Estrangeiros, hum aggregado ' \
de trovas disparatadas sem objecto de-
terminado , trovas apparecidas depois dà J
fcatastrofe deste -Reino,-porque está ro. 1
nhccida a malícia,, os fins sinistros ron^v '
que são attribuldas.'a.Bandarra as que em
seu nome circulãp, com a circunstancia de ^
( 13 )
|g ;naO' descobrir' ern. todas çltas mais. que
elllei D. João IV. para quem, forão fei-
tas , e a edição de .N.antésr c a de Bar.-
Céllóna sãò posteriores a este Monarca.
Más he Writa ^pertinácia n^tçí ljomens
Igll Í
• a t t e r i d ^ ^ /nada. analyzão , nada que-
rem conhecer., tudo.* atropelão, vozeando
^désêníòadamente Cp-ntrf'; mim ^ e'.txpu:-
tando-me por hum i.réo de alta traição.,
voltando-se •immediatamçnte contra mim
'•sèm piedade. Òra na-; verdade ^.Qí M i g a -
do Povo Portuguez se terá admirado de
me ver 'enxovàlhad.o e;n vhu.m: Libello
infaniatorio feito só còntra; mim , o. mais
; atroz ,'.,e virulento que no Mundo tem
apparecido em. letra redonda.. Nçste Li-
bello , ,em que os Sebastianistas .são, muito
xjngis; maltratados do. que no meu Livro.,
de- imoderaçãq' nas,; mi-
nhas ;èxpress6t's,- me cfhamão » menie-

rantò j hebetado ^irracional , sanguina-


;
rio , ;GeneràÍ- Maneta, Quiçhóte , e. o
que mais me dóe;, depois de me compa-
rarem na erudição- a S. Jeronymo 5linsul-
xado: no meu ministério de Orador sagra-
' d 5 , em que consumo vigílias , estudos,
applicação contínua de 26 annos, sendo
taí à raiva do ataque, qiíé dizem: notem
( 14 )
toJos bem que -nSo- descobrem no;? Ser--
tpoés impressoj , impressos , Unfresios
mais "do que n gesticulação . g a-ã-cla-
viação cie- en 'r t/menu. jj Isto vô-se em
Discur-o* impressos ? ... ._ Ainda mais-,
Qtie xo-me de qae os Sebastianistas, com
as ; chapas; que mandão abrir jj eom as
trovas <;ue aesoalhão ;- dá*o a entender,
que £ Rainha nossa Senhora -*V-e nossa
tmica^ verdadeira, e,legitima Soberana,
a quem .só o; Eêino ;per|l»çe por heran-
ça |K.r. acquiíiçao , por acclamaçãó , cs»v
tá É §firafidò >•
que disse huraa heiesia ^ I ^ Í c a ^Jirrfdi-;:
e a mim. he qUe querim prbvar qué
estáUegitimamenfe no Throno! He a!/u-:
cina.çãq,! He:5raiva,'! Prói/em-ísso ..os -,Se-.-
basrisnist-js.;. Se.eu os argua de máOs Vas-
sá.ios , como posso eu entender que está
intrusa. i ^•"•'ff^''* J'1""
ine a mim daqujilov tnSmo dei que eu5
arguo os Sebisíianisías ! ' "*/'•;• ;í •
Grande motivo n'a;yeivdáde.:d?veexrs*c
tir paia t;u> injustas tiradas ! !SIÍe^a-pp^:J
recé em toda à sua luz , quando-todos, se'
admirjo;;de ver erh hum p l l i i l l
que;sÓ;;deviã tratir de SebáStiariis?as.(
Ahbade Barruel, hòmem assrm .he- íffff''
muijp desãcrèditadd , mas •át.êgbra 'neih
dêsiifemido p nem impugnâd&' '
( 15 )
. Prhntts | ille dia Lcti, primusque maíormu I
| CãHid'f
. Sq. ;eu nao tivesse dado a ler em re-
sumo a.Història do Jacobinismo em dois
volumes,'dos quaes o;segundo he fmeu,
e o primeiro de huma doútá penna; èe
por éstii Composição; o. Povo não tives-
se entrado. no. couliecimento das tUtpitu*v
'.d'es , maldades da » Pedrcirada, » eu fico
que não seria insultadoI apupado, e ãmeav
çado cçm as Imprensas de Londres j- e com
a lsocratéa eloquencja , ou jargão canino
do magro Gorrció Braziliensé. E per- •
gUntló-me a mim,se eu conheço os Pe-
dreiros ? Sim 1 §en hores, -cônheço. òs . Pé
dreiros , e tanto os conheço, que podia
nomear. pelo seu NomeI C o g n o m e E m - ,
pregos, Patentes Qfticjos , hum Venera*
yel delòja, e hum Irmno insinuante , .que
me convidárão, instarão,impóruínáfáa
para entrar na Confraria, com a, nunca
admissível proposição do 19^200 para
a cêa dos gulosos. Sim, Senhores, co-
nheço os Pedreiros, e hão temo. .os ir-,
triaos terriveis de luva, e espada. Eu só-
|emo a Deos, o Governo, e entre nós I a
primeira Cabeça de Jerarquia Ecclesias-
tica : Pedreiros, não tenho medo délles.
Eijgoiados:Duendes, Lucífugos, Corujas
gulosas í
( 16 )
lds niveladoreslogrados pelo Corso, se
são bons, para que seèsçondem ? Qttt
mate agitj y òiit luá^-úe non y,e/ii( ad
lucem ut non vidçkvtur opera éhfs* v "
Não se admire o Illustre Povo Por-
tugúeíS de me ver tão maltratado. Os
homens de bem, bramem de indignação
á vista do LibeMo fiifatòàtdrio./ Os sensa-
tos descobrem o motivo da Filíppica, e
o resto| não se deve- admirar de ver;o\
nunca impugnado Barrueb de mistura com
os bons Sebastianistas, que .só são mãos
• por pura ignorancia, e não por malícia , •
por engano das tróvás y : e não pór 'perti-
nácia dé libertinos; e - pois caridade cp-
bre , e destróe a multidão de peccados,
hnm delles, tem tanta caridade, vque ha
muitos annos sustenta de gratuito pão
hum Convento de Freiras pobres. O Ceo
liè '
peito delRei IX • Sebastião y léa-se^ò |
;.Épitafio,;' da' siíâ SepultUr%|f
'ÇmditHr boc túmulo ÇsiPêra est f#ma)$ebastMs;'
Quem tulit ín LffiytiptòfosprQpêfóta plagis.
ISe mostra' por bum instante duvidar
da .identidadêvdo: cada^eri^' ríap*duvíday * *
antes de&tgna, e attéstàvá verdade damor-
t e , e o fugar onde aéonteeeó; que foi
nos Campos da Africa.
( 17 )

OS
SEBASTIANISTAS

SEGUNDA PARTE.

Ecce iterum Crispinus, et est mihi saepe voçandu


In partes..........
Juvenal.

Não ha, nem pôde haver recompensa


mais doce , mais útil , / e mais gloriosá
paia, quem escreve, que o bom acolhi-
mento que os homens sisudos fazem de
alguma composição que se lhes apresen-
te. Este suftragio he a verdadeira coroa.,,
e o verdadeiro premio. Eis-âqui; o que
, eu recebi pela muito fraca pbra dps Se-
bastianistas. Minha alma se encheo^è
çonsolação ; e não sçi de que maneira
r
agtadeça tãó distincta honra. He certo
B
( 18 )

quejjmhuma vantagem resulta aoPúbli-


cq , e,sei que o. merecimento de qualquer

s|aQ u til idade. ;Clóníes so ue nada teve


dé^uriiwâ mittha; composi<5ãb,^'m^ tam-
bsm q;yem:dejèita\ «erVee|iiter^sa vquarir
; foi
feira parar p u r q ' ^ no meio
dos' i ro-

ppdia merecer acolhimento. -Â grand'e>; e


, É L J ^ ^ ^ E I í ^ P Í ^ ^ ^ ã Ò i jfip il fusj,rada

sua matéria;,. geías^uçu^bpc^s' d é que


se,,revesje;^e :de>rrancar\ o risò.
ipi diais círcúnspectos., e austeros. Eis-
• aqúi' o que."eu queria,. e» q qtiq alcancei.

desejo' pãf^ ,
sp &ra^ingeniiidádev, que intentertau^'
bem desenganar ^degabusar 1 e.converter
para o grémio da boa raj^ao os Sebastia-
nistas. Vaqs|^rojécípilrt^^es ! ^ expe%
í^^fe^E^to^íO^ra^àoe^^^SK C y ê r ^ S ^ ' í *
raiiíente Juta* negocio de cósta açim't>e.
vejo cbeio deçonfusão', que n ^ fíz rn|is
que ir pfégaf á casa dos Orates. Ve/ice- •• -
a razão muitas paik<5es, cyra á Mediciná
muitas moléstias, rcnde-se á evidencia o
( 19 )

írsLs t e i m o s o , o m a i s t e s t a r u d o y G . i n a i s

eu desalío .toda a escola de Hipócrates,


q U e me Curar hum dçstes:4rianíacos en-
fermos chamados Sebastianistas.- Venha
o troyeia dòr-Demosthenes, e o ' espraiado

qUèncià", a p p a r e q a o m e s m i s s i m o Newton
com ós séas .concludentes cálcujos , eu
d e i x a r e i Éj@j§
rem
t á e r a capaz^múito'fEésrar:de
ra a Robespierre, que estava chegando'
EIRei D. Sebastião para o fazer passear
até "a gúilhotiii^ Húm. Sebastiaftista he
peor que humfPoeta. Algum jàia estava
eu • persuadido pela minha;lfibsma expe-
riência , e observação í que a metromania
era a mais yiolênía dè.jodas as paixões
o;maièvitifernaJ;:rde todos, os furores. Vi
Poeta CQÍn-muíhér,'é^sete filhís-rotos^^.
nus, e.berraMo por açorda á roda dei-"
lé , e eiic séth ter huma; fatia de pão ?
buscando hum cpnsoante para fechar hu-
ma quadra. Vi Poeta no Limoeiro cora
certeza; de embarcai; dentro erft três dias
para as Pedras deengoche, fazendo huma
decima á suá despedida , e conheci hum
• g í ^ s i a d o r - d e W ^ ^ V . ^ e r a capai de
repetir humas quadraS ao Carrasco ; > a
B2
( 20 )
H M É H para Jhç enxotar as mos-»
cas de citm da. pellè das çóstas. ..Ainda
Vi mais que tudo i^Ov bsTpmesirio dia era
que eutrárão pela primeira vez nèsta Ca.
pitai , e Com passo d e a r á q u e , os bra-
vos da Geroriqa , os triunfadores da Arhei-
dià • pâfí
homensde bem dáljÍra tbdnyr» não bia
riada , nesta .niesma hora çiingòada, e a
mais amarga da iUinha vida, cm q ue me
rcbentavão pelos olhos fóra iagrimas co-
mo laranjas bicaes, encontrei hum Poeta,
cujos Ossos deriscànjão, rito em paz, no
Lazareto da Trafaria., que me embutio
huma Ode â,;huhs annos. com a mesma
frescura com que estaríamos em Cintra
iía noite dè. S. João no tempo da nofsà
paz. Po3sestasmaCiçasMbeças,estès pe-
trificados ^ ^ ^ ^ j ^ ^ ^ s ^ i ^ s f f l i m
toico? do Parnaso são brandos como hiíià
jr^jjei^Q^W^^à^-çiòi^; huinà "eêra o á'
;,vistâ d.ós miolos de hum Sebastianista.
Cousa mais dura ? mais compacta ,. e me-
nos porosa .hão se encontra eou' iodos oà
-tres R.ejtios
D i ^ W e ine lisongeavãi cie os coiiver-:
tèrV: Fui o Prégadbr dô. deserto., Ã niu-

agua do poço levantou o braço, e ní^s-


trou os dedos gin figura. de tísoira pa-
( 21 )
ra acabar de zangar- o triste mando, isso
era huma creaturá muito docii confron-
tada, com hum Sebastianista.. E(i;gánei-me,

fiz mais òiae arriar contra mim hum exer-


cito dè leões indpmItósfl.Convocáfãp os
Estados gerâes, àpparecêrão representan-
tes de fodas as Colónias Sebasticas , os
sábios deste griipdé corpo deixarão as fa-
digas .litterarias éni que estavãa: ficarão
no meio as gravíssimas Dissertações, em
que se. hia à mostrar ao. gehero humano
a existcnaa rffal do Ericobsrto ria gemma
d'òvo infelizmente quebrado no aziago
dia de i i de Março deste anuo. Acudi-
rão os Naturalistas da seita, deixando
imperfeitas as Memorias sobre á Pata que
tinha posto o tal ovo, Víerao os Geneâlo?
gicós da mesma S e i t a q u e estavão acabaria
do a arvoree da geraçao daquella illustrç
| Avé, entroncada por bastardia nafamiliã
das Patas de solarconhecido no quintal
dásfcasas da mUralha deS. Pèdro de AL-

•multo, tudo confusão tocarão a rebate


geral, - cómrpárão gravíssimas penas aps
que faltassem, pois seliia a tratar o mais
Ridículo negocio çla ameaçada República
" ^fizerão sufrir i Tribuhà da Convenção
( 22 )
, p Presidente dás Cone!usoes >dá Magdá*
lena. Com effeitò foi verdadeiro este con-
gresso. E podernosdizer que egtre as íce-
nasMdicuJas^quesetemreprêsentãdonesí
t e grande theatro , qué se,chama Mundo ;
ainda não se observou òútra màis deir
tampada. O Senado Francez se pôde cha-
mar'huma assembléa de Catões á vista
dos Estados Geráes dos Sebastianistas,
f u d o era comiçõ b?stas f £brtes da mate-
rialidade, A Camara dertes Pares foi Jiu-
ma-casà de despacho yeiha , c armada de
têas de aranha , de certa confraternida*
d e : os bancos carunchosos J á meza com
suas desigualdades nos pés, o tinteiro era
de corno , as togas dos Senadores, e Con-
selheiros erão capotes pardos, e as ma-
géstosas gorras, cabelleiras vellias ,/e al-
gumas redondas i e assim como Eíieas
conheceo ámãi péíò andar, qualquer es-
peculador curioso, que visse d e repente
a gra vissima Seisãb .,' olha ndo para aq uel-
Jes importantirsimos figurões, e vendo os
capotes , as gravatas, as cabelleiras;, no-
tando o ar estúpido, e tolamente mystèr
xioso , o silencio, ãs horrendas boccas aber-
tas-,; os tremendos queixos -cabidos, po-
dia, dizer sem hesitar: .4 Isto são Sebas-
tianistas !.-.;?. Não ha no Mundo pape-
lões com quenv.se equivoquem f são ob*
( 23 )
jectos únicos, o olho maísdistrahido| e
até'o • mais I cego§
iinmsnsavdos homens, e até dos animaes.
hum Sebastianista1. Ora pois que o rid
culo Parlãmenío. sè abrio nâõ: padèce dú-v
vida alguma, íquebs debates for ao vio-
lentos também he certo., que o objecto
das gravíssimas deliberaçóes.fiii cu , he
cousa clara como a,lur, que se decretou
a filinha- ruina não padece contradicçííóy
que ô meu papel" foi lido e julgadof isso
se verá pelo decurso deste tratado , . que
ó Orador dos commQns Sebasficos me in-
y èçti vá ra gravissimamenteQ mostra o dis-
curso que sé;, me mandou a casa por.hum
Gallego , que.Sé decretou a sua impres-
são na Offíçina Calcográfica Tipoplasti-
ca também h e | verdade é para que o
Mundo não "ignore tudo isto., saiba que
imposto o siieiicio pelos Masseiros daquel-
lc estúpido Cabido ,' levantando. os bam-
bus em alto, subio acima de hum ban-:
co dè; veneráyé! j É ^ E p ^ ^ f r ^ ^ M
te Otador, já
Conclusões da Magdàlenà, dignamente
escolhido noimpedimento.do Conselhei-
ro do Governo Sebastico , Morgado de
Santa Cathariiia y e ficando o Orador em-
brulhado no seu capote. f"è ó magestoso
congresso naquelia mesma aptitude em-
( 24 )

que se tem visto muitas vezes hum Den-


tista em cima de httma meza no .Terrei-
ro do Paço > rodeado de boccàs abertas ,
óu hum explicador de Camara Óptica no
largo do Corpo Santo, cercado de rapa-
zes, be fama que fatiara desta •ãiantí-\

Até quando ó^Çatilina, lias de abu-


sar da nossa paciência ? Nãò premeste ao
pôr a sacrilega mão naquéile infame pa-
pel ? Não te aterrou o maciçoíçórpo, e
o -mais pezadó juizo destes Padres cori-
scriptos que aqui estão , e os outros que
a nossa teimosa esperança conserva espa-
lhados por todo este Reino para morti-
ficação dos hòmetis sensatos.* e confusão
dos incrédulos ? Cuidas que nos erao oc-
cultas as tuas maquinações ? Cuidas que
nos foi incógnita aqueíla refinada malí-
c i a , e serpentina bypocrisia , com que te
inculcasfe por hum crente para pescares
os nossosí fracos,' e explorares as nossas
baldas ? Cuidas que não formamos vehe-
mentissimas suspeitas do teu animo dobre
e refalsado , quando consultaste os nossos
mais: superficiaes Doutores para entrares
no conhecimento íntimo dos - nossos ridí-
culos mysterios, como lhe chama o vuj?
go H Cuidas, traidor, que não foi - pre-
scinda a tua perfídia jquàndò apanh&te
(25)
a mais ampla, rica , e trabalhada collec*
ção dos nossos oraculos , para depois os
profanares com às sinistras interpretações,
inculcando com a manifesta violência que
fizeste st tão venerandos textos , otit ro E n .
coberto, que náò he, nem pÓde ser meta-
fysicamente o nosso querido Encobferto ? E
pudeste tanto, ó pérfido, que. dissimulaste
a tua traição para nos atacares com as
mesmas armas, que nós te dêmos » lison-
geando-nos que a fraca nomeada q ú e t i -
rihas entre bs verdadeiros Sebastianistas íe
abriria o passo pata; conquistas novas, dir
làtandò ; assim os limites do; nosso gló.-
riosoimpério. A h , transfuga! Ahjapóst-
tata escandaloso! Tu vi virás coberto das
nossas maldições , andarás fugitivo como
Çaim, as nossas mãos se lavarão no teu
sangue dessorado pelo susto , apenas che-
gar ò Encoberto. Nap serão HÉ^^os Os
setenta guerreiros, com que e W terá | á
acabado de humilhar a Turcana , obri-
gándo-a a largar a Casa S a n t a p a r a te
esmagarem os miólos , e punirem a tua
audacia , e insolênciaestão dadas aspro-
i videncias í já que saltaste á praça, g g | g | g
po será dado em pasto aos dois leões,
que acompanhão óEncoberto g eque tao
mansos, e ínèigos se mostrárão aos Ca-
puchinhos , que o visitarão na sua lliia
( 26 )
encoberta ; para ti. não serão os limões do-
ces , nem aqueíle carneiro gúizado, á vista
de cujo sabor paredão de bacalhiwsédiço
as iscas do: braço forte.- Ingratoí; É pu-
deste ser insensível ás honras que rece-
berias na; chegada do Encoberto , .-tendo
nds-já decretado obterite; hum lugar aci-
ma da- Matutaria , que fosse recompensa
da tba ^félidade., edotéu ?elo. -ííósco-^
nhecemçs, assim he ,a tua filosofia , e o teu
animo superior ás grandezas da Terra;
mas tu não. vês hum Filosofo de outra
abotoadura que tu não és>,- a querer ser
Rei de Hespanha * ,é levando para isto
muita surrá, e muito enxovalho ? A mor-
te vingará as nossas affrontas, e nouíti-
mo dia do terceiro septenario- das .Tem-,
poraes tu conhecerás, mas debalde-, quem
he o maior- de todos os tolos, se. és; tu ,
ou; s.omo|kiósv Então^se rasgará a vetida^;
quer agira te tapa esses olhos atraiçoa-
dos , quererás fugirIá nossa vingança / e.
não poderás. O primeiro pássó que dará
o Encoberto para o campo de S.Braz,
será por-cima do, teu cadaver. O teu cri-
me h e t ã o grande;, que as mesmas Leis
de Portugal não se lembrárão delle, não
suppondo os relevantes talentos què as 6r£
zerão jjque ' pudesse caber tanta malícia
no córagão humano, no cbráção dejium
( 27 )
Portuguez*. A s circunstâncias ainda o fi-
zerãó mais aggravante ;( não sei-CQmb«s-
toirando a preri?a escandalizada de tamas

Sim i tu publicaste o, infame libello ,. o in-


jurioso , erévolioso folheto* escandaliza-,
dor das nossas empinadas i g e felpudi?_si-
mas orelhas j meimb nas barbas ^ o maior
prodígio que os séculos ouvirão desde que
as gaílinhas póe ovos;, e que só se vera
quando as gaílinhas tiverem dentes Quan : .
dó o Encoberto da gemma se digitou ap-
parecer a nossos indignos olhos, nao era
debalde que ellá tinha na mão direita
aquelía acha dè armasdo feitio de hum
arrocho , elle vinha disposto á: escovar o
pérfido que duvida da sua conse r vaçao|
por trez dias de choco mais tu escapas-
te M merecida pena ,, mas o que se nao
faz no dia de Santa Maria ,.fa^-se no ou-
tro dia v o tcu -cástigo' cr«seerá%com a de-
mora , é será ranto mais exemplar, quan-
to fôr mais público: Ora-pois.tu diícs^
que hum Sebastianista ', em quanto Sebas-
tianista | é mais; nada, te-mao Christao^
porqus quer obrigar a Deos que faça mi-
lagres, e julga p g f dom de profecia o
Preto do Japão j e ^ae Vieira fôra justa-
mente punido | por dizer que Bandarra
era ham verdadeiro Pròfcta V como cons-
( 28 )

tk ú i suâ sentença ,'como se se não i S É


trasse ser vérdadèiró Profeta em naOqUe-
rer Jevar: dinheiro pelas botas ào fréguez,
coufca !que ainda não fez qapateiro ne-
nhum , dando-lhas no mesiro dia emqòe
lhas promette©, oõusa manifestamente so-
brenatural i*ja que somos máos Christaós r
nao té ^ncéderemòs no teu supplicio ,
não digo eu tres dias de oratorio y mas
•nem Encoberto' a c h e -
gar tu logo esquartejado1 e friW.
i;.v Senhores, desculpai o meu zelo
Ofel se me derramou nai tripas I ape-
nas me v i "autorizado paia levantar a voz
no meio deste gravíssimo congresso': as
funqões de Orador

Crilego-, demorando a ponderação dos gra-


víssimos rtógociosy que de toda, a parte
•prgeBi , è arrentão contra à ncfssa Seguran-
' 0 • : verdade seja ; que o maligno protes-
I ta quê naó quer átacar a pessoa , mas a
crença-a que aquella bocca de praga cha-
ma ndicula ,: importuna., e irriisoria, des-
culpa i,-me pois, porque ém fim não pôde
deixar de me servir â carapuça, que aátièl-
1É demonio taíhou. •
Senhores, e Deputados meretissimos
de todas as Províncias Sebasticas, ;à*2gi
tífe Temos Motird na Costa, e não sd
( 29 )
tepiosMouro na Costa, mas já começá»
rão as hostilidades, e elle rornpeo o fogo
mesmo contra o Direito das Gentes , «
da guerra sem mandar hum Trombeta
ao? nossos í póstos
este. insecto, que Ousa affrontar qs Esqua»
droes do Encoberto ? Será RoJdão. yÊi
Roldão, não morrêo em .Ronsesvalhes ?;
Será o Gigante da Ponte de MontiNe ?
E não. morrêo. cortado à q ferro de sem
par Ricardo dè Normandia i1 Será Lopo
Barriga r E não haverá entre nós huma
lançada de Mouro esquerdo v que lha
atravesse ?< Seira o Bacharel Sansãó Car-,
rasco f E não iahio elle peia primeira
vez com hum bote de lança do Cavallei-
rp';íl^^riste, figura •?'.. Não hei cada hum
de nós hum D.-Quixote ? Que tememos,
ç que inos demoremos !, A minha \imági-
naeão esquentada, não só com aiproxi-
midade do j a n t a r q u e ainda hoje- pilhei,
mas com; as b1asfemias daqijeÍ!e ímpio,
me despertou a lembrança dos Bgróes,
que ' vos acabo de nomear tão afamados
em feitos de armas., estas serão o nOsso
uítimoreturso , nós devemos usar dás
mesmas armas com que elle nos ataca , é
eu contemplo está assembléa dos capotes,
como hum verdadeiro conselho dè Gene»
raes f j em que se devem estabelecer os
( 30 )

mais e s t e n s o s ^ o s m a i s profundos, os
mais prudentes planos de campanha para
0brar-mps/:0*ffensivãmente contra o T y -
ranno. Elie serve-se das armas da fàzão,
he-preciso corr.batello com estas armas;
Verdade, sêjà, : que os arseriaes das nossas
cabeçasestãointéirame'titedcspejadQsdes-
te petrecho. Náo :séi por que fatalidade
se metteo a Tenente General' das nossas
Fundigoes o . vobis / e. q u e maré pi-
lhou elle para nos deixar ir pela agóa
abaixo estacão importante munição. (Hum
confuso murmurio-,-; è hum pranto surdo
se ouvio então por toda a sala ) escuta
escuta. Qs-.nossos esforços se devem em-
pregar em restabelecermos o-Império da
razão; nias dizèrtí más . lingoas , qué se
elia: :;t,òrbá"/;deixaremos de ser Sebastia fíis-
tas ^fatal desgraça - que o;destino arrede
de nos. Mas se nos Falta a riazão., por

maá Fal:|ão-nqsíacaso as bombardas dos


tetros asjidà yatfc.
cÍHÍos»éái qucJo sacrílego- hão metteo o
dente ?,y Elie bem ò sabia, más o velhaco
os dissimulou , porque preséntio toda -a
força irresistível de que elles são dotados.
Que importa que os vaticínios falhem a
cada Ílustáii^í1 .ÀCàso. esta desgraça dos
vaticínios fallidos %déstròe a sua verdade ?
( 31 )
Íqt .ventura todos os falliclos-são velha-
cos E porque não diremos nós, que es-
ta falha nasce dia confusa o, de nossos cál-
c u l o , porquê-. a;fal!ãr ; .a verdade .entre
nós ha Sebastianista, que não .sabe qu©
• dois e vide como;
elle , Sempre refalsado^sempre inimigo,\
fugio cpm o corpo áo mais. substancial dos"
inimortaes Oráculos do nosso azevichado
Profeta do Japão. Vede como metteo no
esçuro;ò juramento, que deo hum barbei-
ro de Cascaes, que tinha -de alcunha o
Namorado', que affirmou tivêra era, sua
. casa o Encoberto, eque o curara de duas
cutiladas, e da caimbra de. huma perna'
que a não podia.mexer. Poç uídp isto
passou élie còmo cão por vinha vendi-

., Más para que detenho, e demóro o


i»éu^uizO ;né&à^.^isas- |3ç^uenasi^ e tri-;
>yi;aes4% A noss^, suprèmàvLei lie ã saudé,;
e conservação do nosso .Império. Se nos
deixamos esmagar pelo monstro, sesue,-
cumbirmõSvao pézo enormeiidãs suas>fá^
zdes, ò' escandaloso? argumenros , quese-.
rvrái de nós ! Vacillarlo as nossas mais for-
tes columnas, e succeder-ihes-ha por des.
graça O que succedéo por mysterio a do
Çáes da Pedra , 'manifèstissi mo.-signal da
; chegada do Encoberto. A h i nós náo co-
(32)
nhecemos o abysmo a que chegámos! Nem
a poeira que levantou o sacrílego .livri-
nho nos deixa ver o precipicio em que
vamos a cahir, se lhe não acudimos com
tempo. Vós sabeis quanto sejão superfi-
ciaes os talentos dos homens que. não, são
Sebastianistas, mesmos estés que andão
de casaca, e que se dizem de garavata
lavada se são incrédulos, se não esperao
o Encoberto ( perdoai respeitável Senado
desconseryadbr ) tsão huns 4snos»*:"Pois es-
tes mesmos deslumbradosv com as fúteis
razões dó folhetinho 1 estes mesmos sem
conhecerem a damnada tenção daqudie
desertor, lévgdos das chufas qué vomitou
sobre as nossas honradas bochechas ,
oliiáo já para nós com hum i r jnsultan-
t e , parece que teve mandinga aquelle
insolente, que despertou , e avivou o faro
em quem Ó tinha amortecido. Qual hè|§
de vós o que tem cruzado as ruas desta
Capital, que não sèja descoberto, e co-
nhecido por Sebastianista, e como tal in-
sultado e-apontado com o dedo ! Faça
embora frio , ou faça calma, quem de
nós se" atreverá ; desde hoje a apparecerp
para tomar o Sol, ou o fresco etn o alto
de Santa Catharina , ou np ádro das Cha»
g a s l Como poderemos ter humá Sessão
pública em ó Gáes 'da Alfandega* thea •
(.33 )
iro das nossas consolações. ( O h doces
éccs das nossas profundas reflexões , vós
permanecereis para sempre por aquellas
carunchosas estacas!) Quem de nós se
atreverá desde hoje a olhar para aquella
barra, ainda que seja á espera de hum fi-
lho, ou de hum cunhado, que não ouça
logo aquelie pungentíssimo Sutaque:
» Então vem o homem ?»»Eis-aqui, Pa-
dres Conscriptos, a que nos es põe a ma-
lícia do monstro : eis-aqui a ruina, que
nos ameaça. Temamos huma certíssima
revolução em fiosso Império, e seja ob-
jecto das 'nossas deliberações evitarmos o
mal em quanto hão lança profundas raí-
zes. He preciso fazer-lhe tornar a falia
ao bucho. Não me parece alheio da razão
hum expediente, que cortaria de hum só
golpe este nó gordio. Minha Sogra foi
rendeira das bravas , e ella me ensinou,
que a melhor razão que havia para con-
vencer huma .creatura racional, era hu-
ma descompostura. Vamos desenterrar os
Páis, os Avós, os Visavós do insolente,,
e démos-lhe com isto na cara , senão
acharmos verdades, Ievantemos-lhe hum
testemunho. Cavemos bem na túi da sua
vida e costumes, se acharmos algum po-
dre , dar-lhe com elle nos focinhos, tudo
.isto produzirá dois muito necessários,, e
( 34 )
uteis effeitosj o primeiro será o desafogo
da nossa raiva ; e o segundo muito mais
importante, comprovará a vinda do En-
cooerto. Este he o meu parecer. E vós
veneráveis cinzas de tantos Sebastianistas,
que tem existido nò Mundo desde a tar-
de 4 de Agosto de 1578 em que se su*
mio o Encoberto, vós que fostes, engul-
lidcs pela morte antes de terdes a consola-
rão de lhe pôr a vista em cima. Vós
doutíssimos VarÓes, que ou fingistes, ou
assoalhastes o tropel das tróvas que affir-
mão a sua conservação. Vós que canç>
dos de esperar o Encoberto neste Muncío
fcstes para o outro-avêr se havia por lá
novas ou mandado delle; Surgi desses me*
Jancolicos cemiterios em que jazeis , e vin-
de , vinde defender a vossa, e a nossa causa.
T u caritativo Cozinheiro de Chipre que
lhe déste humas sopas em Veneza , tu
Gaspar Antunes, que ó deixaste na E r - ;
mida do Algarve, em quanto lhe"hias
buscar as disciplinas para se açoitar. T u
Diogo de Sousa que lhe fallaste huma
noite inteira no Campo de Santa Ciará,
Coftservando-te por submissão , e respeito
com o chapéo na mão ainda que choves-
sem raios de agoá. T u honrado Militar
da Villa de Peniche, que lhe déste huns
calções péla miséria ejtn que o viste, tak
( 35 )
vez que por andar annexa ao nome de
Sebastião a falta de calções, e que indo
com elle por huma rua , que não tinha
travessas fez víspere a teus olhos sem sa-
beres o modo por que se esgueirara. Tu
Pantaleao de Aveiro , que o confessaste
em Jerusalém conforme a declaração quê
fizeste á hora da tua morte no Convento
de Santo Antonio deCascaes. E tu João
Craveiro que lhe fallaste em Kança:
do-te' curar de alporcas. E tu Fr. Ansel*
mo que lhe deste hum registro de Nossa
Senhora daArrabida, surgi todos, vinde
confundir o monstro , f tu também, ó
Piloto assassino, que por nome e sobre-
nome não percas, que estando para ir i '
enforcar promettias que irias mostrar á
Ilha encoberta se te perdoassem a mor-
t e , não sendo para desgraça do Mundô
attendida a tua súpplica, vem também/
e tapa â bocca a este sacrílego, etu pa-
ra remate de tudo, e para enterramento
do aleivoso folheto, tu alma barrenta,
daquelle generoso, e" magnanimo barbei-
ro , que no caminho de Alcacerquivir
para Arzilla o encontraste a cavallo em
huma mula manca, e lhe déste de beber
pela borracha que levavas a tiracolo,
vindo esganado com sêde , sahe do lu»
gar aonde estás, vem desmentir aquella
( 36)
praguenta bocca, vem confundillo para-
sempre, sc fôr possivel , fazer-se-lhe a
face vermelha. Este he , torno a dizer,
o meu parecer, entre vós, Padres Cons-
criptos, Doutores, ha que não são pêcos,
elles deliberem, e tomem em sua baixiá-
sima consideração os meios mais oppor-
tunos de o; fazerem desdizer , advertindo
desde já , que ainda que o insolente ar-
rependido , convencido, e confesso , quei-
ra outra vez tornar para o meio de nós,
não se creia verdadeira a sua rcsipiscen-
cia, nem se admitta para que não torne
a fazer outra, e seja o, nosso primeiro
cuidado ter-lhe Formado o processo, fa-
zendo appen~o aos Autos o escandaloso
folheto, e lançado a sentença até ao por
tanto . para que em chegando o En-
coberto, se lhe apre?ente, e lhe appli-
que a tortura, e as penas extraordinárias
aos delictos de alta traição, e eu mesmo,
sim, eu mesmo serei o carrasco, que bem
me ajuda para isto, esta cara que tenho ,
e a osga , que de todo o coração lhe
consagro.
Disse.
Acabada que foi a Filippica, e apea-
do o Demosthenes do banco, em que se
tinha trepado, soou por toda a sala do
Conselho, que era mais que de quinhen;
( 37 )
tos , hum confuso susurro ; e depois
soárão os applausos com urros semelhan-
tes aos da tempesrade de dia de Entrudo,
e; até dizem , que se bebeo .bastante ( e eu
o creio ) d saíide do "eloquentíssimo Ora*
dor f porque sem se molhar a palavra
não podia ir a Sessão por diante, para
se formar, e lançar o terribilissimo Se-
natus-ConsuIto, que me devia esmagar.
Mas quem diria, que naquelle baixissi-
mo Parlamento se encontraria hum com-
muni que quizesse ser do partido da op-
posição para mais se liquidar, e acriso-
lar Jèste grave, e muito importante nego-
cio , quando findados os debates appare-
ceo núa, e cnia a verdade da vinda do
Encoberto ?
Com effeito, levar.tou-se hum Sena-
dor bai*o, e roliço com hum capote de
camellão pardo, vesgo de hum olho, e
de profissão andador, homem de dias , e
circunspecto, conhecedor em controvér-
sia Sebastica , de quem se diz que com
muita prudência nunca desprezou as ar-
mas dos contrários, e pezou sempre em
"igual balança as razoes de hum, e outro
partido, e que estivera já a ponto de deser-
tar' para as Bandeiras da razão \ se o
não arrastrára o amor , e paixão cjue
tem pelo Encoberto, é as boas razões,
( 38 )
que ha para se presumir - que será elle o
que depene , e derrabe todos os Folhos
WÊ Águia , conforme os vaticínios do
.grão Gonçalo. Alguma coisa lhe tremia
o queixo, quando começou a fallar; mas
isso mesmo succedia a Cicero em outro
congresso menos respeitável, e circuns-
pecto. Disse pois: - •
_ Senhores , e Irmãos desta infinita
Confraria, porque as palavras de Salo-
mao parece que nos estão quadrando, e
encaixando de molde. O homem que es-
creveo o folheto sem dúvida estava to-
mado de espirito maligno, por não di-
zer de,outro esp.rito alegrador dos cora-
ções. Só hum homem que estivesse nes-
te estado de alegria,- o de verdadeira
possessão do inimigo, podia com tanto
despejo, coma desenvoltura, proferir , e
escrever as quatro condemnadas - proposi-1
çoes, que nos tem exposto á irrisão pú-
Wica, a demonstração dé cada huma das
proposições he igualmente escandalosa , e
extensiva; mas o ár de evidencia que el-
k lhe pretende, dar sem nenhum funda-
mento , ainda he mais aggravante , e o
caso he que nós não as podemos, despre-
zar, nem menos metter no escuro, por
<$«e se espalhárao de tal sorte os 5-00
folhetos, que tem corrido pelas mãos dç
( 39 )

todos, (,pelas minhas não, porqtle eu- as


não quertria contaminar com-semelhantes
inepcias ou ma s -depressa calvas , e
eoníummadas blasfémias. O mal está feito,
e he possível remcdiallo: as descompos- '
ruras de que se lembrou o honrado mem-
bro , náo são más , nem eu as reprovo,
porque os m?us maiores sempre me em-
balarão com este expediente para acabar
•controvérsias; com tudo, elle não as per-
de , e quando não pudermos pegar de
arado , pegaremos de aravessa ; convêm
primeiro que tudo- destruir as suas ra-
zoes-, -que mais pelas' tralhas, ou mais
pelas malhas são as mesmas.com que
sempre 03 r^sos cruéis adversários -nos
dêrão nas ventas. Já ha tempos que sá-
bio hum folheto, com o titulo de Car-
ta a hum Amigo de Santarém (lá seu
amigo dclle, pórque nosso não o pode*
rá ser, nem á hora da morte,, odio, e
.guerra eterna a quem não fòr Sebastia-
nista) em que'se prova com toda a evi-
dencia, que o Encoberto he morto, se
nós quando pretendemos huma Capata-
zia, produzirmos metade das Certidões;
de Óbito , que elle produz , não padece-.
rá até em.Juizo dúvida alguma a morte
do nosso predecessor. Ora se elle fosse
morto, o que nenhum: homem de juiz»
(40)
deve crer,' então cahia de certo o nosso
! respeitável Instituto , e escava acabada a
Seita Seba>tica, Parece-me que tivemos al-
guma Oração boa, porque não tendo ré-
plica o ta! folheto, flão se tem espalha-
do muito, não succedeo assim ao de que
tratamos, porque em fim o Povo he tua-
J% n 0 » e gosta de nos apoquentar. He
preciso pois que eu dê a conhecer pri-
meiro o estado da questão, e que a redu-
S m È t e r m o s claros, e preceptiveis, para
que se ventille arrazoadamente. Atten-
d e i j fitai, empinai bem as orelhas , he
preciso assim ainda que vos julgue bem
instruídos , porque Doutores lia entre
vos , e sempre òs teve, e tmá até dépois
da chegada do Encoberto amossa respei-
tável Irmandade^'Eis-aqui; sem o d ó l ò
ou malícia os artigos da crença I e para
razer-vos esta explicação não he preciso
estar de canna levantada na mão, porque
• ® n a ? sois meninos , ainda que eu pio- -
testo fazer vêr os meninos Órfãos a Ca-
vallo ao nosso adversario apóstata, in-
g r atissimo, vibora peçonhenta , que ras-
gou o seio á mesma M ã i , que o alenta-
va com as esperanças do Encoberto
lembrado estou da parda risada, que o'
monstro deo huma vez que disse, que
«^ena que aós | o fizéssemos Sirniilher.;
( 41 )
de Cortina na chegada do Encoberto,
agora nem Sacristão. (Silencio , e atten-

Creio que ha de vir o Encoberto,


porque não morreo na batalha. Creio,
queestá em huma Ilha encoberta, qtie
ainda que appareça algumas vezes em
manhãs claras, logo vem a névoa que a
empalma. Creio, que ha de vir em ca-
vai los de Madeira , que ha de trazer Mu-
lher , e Filhos, porque casou em Dina*
marca, e elle he que fez fugir hum tal
valentão , chapado Nelson , a quem eu
não sou desafeiçoado, porque pôz bem o
sal na molçira aos melcatrefes , que cá
viêrão -conforme aS Profecias. Creio, qué
ha de ir primeiro a Marrocos vencer
toda a Barbiria, e convertella. Creio,
que ha de ir a Inglaterra convertella.
Creio , que acompanhado dos Francezes,
(d'outros sem serem estes que cá viêrão,
que isso era huma-brejeirada ) á Tur-
quia acabar aquelle Império de todo,
que até faltarão cordas para atar os Tur-
cos , que ficarem, como diz Rocca Cel-
sa , e João de Frias. Creio, que irá a
Jerusalém pôr no andar da rúa a cana-
lha que lá está. Creio, que depois de
tudo isto virá desembarcar a Belém, e
que aqui mesmo se ha de coroar Impe»
( 42 )
râdor de todo o Mundo , endireitando
todos os tortos, que houver no mesmo
Mundo, que nos ha de fazer muitas mer-
cês , tirando nos desta miséria 3 e pioiha-
ria em que existimos. Creio , que elle
mesmo em pessoa sahirá,a campo depois
de fa zer huma Novena á Senhora do Es«
pinheiro j e esperará Bonaparte ao pé da
Ermida de S. Braz , e elle só por só o
fará comer terra , a vêr se depois de mor-
to restitue o que tem roubado. Creio tam-
bém , que alli morrerá com elle o Ma-
neta 4 , o la Borde, o Príncipe de Safra-
Salm , e o algoz dos homens, e dos cies
e inimigo jurado dos ferros velhos, todos
elles Sebastianistas puros , depois que
hum delles comprou a hum Judeo Mou-
ro os estribos dei liei Encoberto. Credes
tudo'isto? Nós o cremos-, responderão
a huma voz os do Congresso, e estamos
promptos a dar a fazenda, e a vida por
tudo quanto he da pioíissão da nossa-
crença! Credes nos signaes qúe hão de
apparecer ? Cremos. Duei-me lá hum.
Eilo:

Hum Gigante qual Golias


Mais forre do que Sansão
Com hum traçado na mão
Co'as pernas muito vazias.
( 43 )
.... -Onde ha de apparecer isso ? No ar»
Quando ? Quando vier elRei D. Sebas-?
lião. Bem está.- Não vos desçais da Bur-
ra , conservai-vos firmes ainda qye vos
matem. Dizem agora os Monstros, e cm .
çeu nome o Desn-tor, Que elRei D. Se-
bástião he morto, e que a .maior prova
he o -Epitáfio, que está em Belém.,.'....
O Epitáfio?. Sim o Epitáfio. Cuidais que
escapou alguma coisa á málicia diquelle
perverso ? N ã o , não ; porque o ladrão
sabe Latim, se me chegar a lingoa, eu
o direi também. O pftmeiro verso do Epir
tafio que diz o falsario , que fora feito
pelo jesuita Manoel Pimenta , que na
lingoa a msnecia elle pelas suas chocai hi-
ces , e mexericos , parece duvidar da
identidade do cadavçr alli depositado-;
mas o segundo verso, não só declara que
elle he morto (he muito saber) mas até
^ssigna o lugar da morte , e sem escrú-
pulo nenhum, diz que fora nos Campos
qe Africa,' • %
• Quim tulit in íibucls mors propcrata plagis.,:

• I Presentemente só he mais claro que


este desengano o caído do., caldeirão de
algumas Communidades (effeito da pro-
tecção!.) Eu pedi a hum P a d r e q u e mo
puzesse em Portuguez tintim por tintim *
( 44 )
e elle pôz os óculos, tomou algumas ve-
zes simon te, e disse assim com hum ri-
gor , e exacção de hum Pai-velho, .
Quem ao qual Rçi D. Sebastião-; mors
a morte, que he muito descortez, e mal
creada , properata , muito lampeira ,
apressada, abelhuda, e prematura , tulit
levou,' e se fói ^calcorreando§j§|| pUgis
nas regiões, nos campos, naquelfes es-
commungados areaes , Libycis Africanos
da Libya, da Moura ma , do Inferno, que
nunca tal Padro me apparccèra ! Ora se
isto assim he, o que me parece impôs•
sivel, e o será sempre que alli esteja en-
cerrado i sem se bulir o Encoberto, então
| f vai tudo quanto Martha fiou, se exis-
tiremjSebastianistss até ao Sm do Mundo,
SÓ então lhe apparecerá o Encoberto, q uan- •
do apparecerem os mais, e de^ta manei-
ra fica Bonaparte como quer, é nós sam
o vermos exhalar aqueila alma negra, e-
damnada.
Nos Campos oncle Sertorio
Os aqueductos formôu.
E isto será espinha, que nunca me1
pa?se da garganta para baixo; e qual se-
r i de nós que não nome huma verdadei- - jj
ra paixão com que dentro em breves au-
diencias de hum estouro como huma pe-
( 45 )
ça ? Ou o Padre me enganou# o que eu
presumo por alguns runs runs que tenho
ouvido a pessoas doutas , timoratas , e
maiores que toda a excepção, ou então
Be metter mãos á obra | yêr se álgum
de nós se introduz á sorrelfa , onde di-
xe m que está o Mausoléo, e riscar , e
apagar o tal Epitáfio, que na verdade se
he assim , he grande testemunho : verda-
de seja que a empreza he arriscada:., e
naquella Igreja ha Sacristães, ; e enxota-
cães; e desgraçado de algum de nós se
o apanhassem com a bocca nà botija.
' Diz mais o mesmo malévolo, que os
testemunhos que existem de que elle não
sahíra cativo da Africa, (istò não pôde
ser , pois o Encoberto podia morrer ? )
são incontestáveis, porque accrSscenta el-
le , ( mas isto he da sua cabeça ) muitas
pessoas fidedignas o virão muito ferido
na baralha , que quando pedira o primei-
ro cavallo a jorged'Albuquerque, vinha
já tão ferido , e coberto de sangue, que
custava a conhecer, e que se foi metter
nos maiores perigos daquella refrega; e
q ue dizendo-lhe Christovão de Távora
epois que fugissem para Arzila, e que
salvasse a vida, elle dêra aquella subli-
me resposta , que excede tudo quanto de
magnanimo proferirão os maiores Gene-
( 46 )
faes Gregos, eRomanos, J j Olhai, Chris-»
tOvão de Tavora, que se èú" quizéra sãí-í
var a vida , não salvava a honra. _ Que
a este tempo tinha <obre a sobrancelha
esquerda huma profunda cutilada, que as-
sim mesmo romreo per hum esquadrão
de M o u r o s , e cercado pela cavallariaj
lhe era impossive! escapar com vida 5 sei
ria coisa tão milagrosa , que se não de-
ve acreditar sem humá prová sobrenatu-
rai. ( mas eu digo que basta o Ourives
de Braga). Ainda que muitos digão que,
o virão sahir do tal campo da honra 3
{nunca eu lá me veja ) e entrar pelo rio,
ninguém ha que diga, que o ytra sahirj
e que he signal que lá se afFogaria , por
ir já esvaido em sangue, fatigado, esem
•alentos; e disse huma vez o tal melean*
t e , que elle assentava que se tinha affo*
gado no rio-'*, porque se fosse verdade
que elle despido se escondera entre hum
montão de corpos mortos até á noite
para ir para Arzila mais os tres embu-
çadinhos, de que falia M a r i z , como eu
ouvi dizer a hum batbeiro meu vizinho',
as suas armas devião apparecer ou rias
mãos de M o u r o , ou de Christão; porém
de nada houve novas , senão que muitos
corpos mortos hião depois aboiando na
corrente d'agoa. Diz mais ainda o mes-
( 47 )
mo levantador de aleives, que se ãle
vicse embarcar na armada , não iria des-f
embarcar a Sagres, e subir só pela esca-
da da fortaleza aberta ao picão em hu-
ma rocha , porque a Armada veio em di-
reitura a Lisboa , e nella muitos Fidal-
gos que escaparão , eelles não deixarião
o Monarca só mcttido em Sagres; eque
çe elle teimasse em ficar alli, odiriãoem
Lisboa aos do Governo; e se o dissêrão,
como não forão logo buscar o Rei co-
mo devião ? Como he possivel que por
todo." o Algarve se não soubesse, e dis-
sesse logo ? Qual he a -força , ou a for-
ca que seja capaz de fazer estar calado
hum Algarvio?- Nem cs da Eíqjiadj;a o
dis ç erão, nem o Povo o soube ,'.nerà os
Algarvios o mexiricárão. Isto são muitos
milagres juntos! Ainda continua com sua
enfadonha prelenga por diante, e diz que
era impossivel- viver hum Rei escondido
sem se communicar a pessoa alguma ; que
se se escondeo na Ermida para fazer pe-
nitencia, e confessar se, os mesmos Gen--
fessores o obrigarião a se declarar, pie-
vendo os motins , e desgraças a que' sei
hia expôr o Reino falto de succcssão
com os combates de tantos pretendentes,
que lhe disputavão a posse; e que ainda
que elle quizessc estar escondido , o vi»
( 48 )
rião declarar ; e se elle abalasse',' despe-»
dindo-se em latim Telles o buscarião, e
que não ba necessidáde de recorrer a mi-
. lagres; queseDeos o queria para gover-
nar , e possuir este Reino, para que o
, havia esconder tanto tempo, suspenden-
do todas as leis da Natureza I Se elle era
preciso para pôr tudo a direito , he limi-
| tar o poler de Deos sem necessidade,
porque permittindo elle por sua miseri-
córdia que elRei D. João IV.. restauras-
se, como restaurou este Reino, mostra
, bem que pôde fazer por outro qualquer
O que nós queremos que eile faça pelo
nosso amado , e querido Encoberto. Que
senos não tivéssemos, como para felici-
dade nossa ternos, hum Monarca natu-
ral deste Reino, e procedido do mesmo
Real Tronco, de que eile procedia , por-
que elRei D. Duarte, e o Infante D. Afc
V fonro ambos erão filhos: do mesmo Pai
D. João o I . , hum autor da Casa Real
1
extmeta com o Cardeal R ç i , outro au-
tor da Casa Reinante de Bragança , en-
tão bom seria que se conservasse o nos-
soEncoberto, mas agora não remos ne-
".:/. cessidade do Encobeno , fel ices somos
com o governo do Príncipe Regente Nos-
so Senhor j e hum Morgado passa ao pa-
rente mais prosimo , quando o legitimo
(49)
possuidor acaba sem descendência. .Dit
mais o tal Rabulista do Folheto, que as-
sim como nós recorremos âprodigios de
óvos, e outros lacticínios mais para com-
provarmos a existencia, do Encoberto ,
também ellé pôde recorrer a prodígios
para provar a sua não existencia ; (isto
-agora he mais comprido) e affirma que
he boa conjectura da sua morte ( e não
perde a falia hum homem destes! oh En*
coberto ! Encoberto !, muita paciência he
a Yossa!) o que succedeo no Mosteiro
dé S. Jeronymo de Pénha-Ionga em hu-
rtia pintura, que está no Refeitorio do
mesmo Mosteiro do milagre dos cinco
pães, e dois peixes j. porque 0 mehino
que os leva lie hum retrato delRei D.
Sebastião, que o célebre Pintor Diogo de
Reynoso quiz fazer de propósito, çomo
outro que está no tecto da Igreja de São
Roque, feito por Amaro do Valle , maior
Pintor ainda, i( porque.aquelle mofino tu-
do sabe, e tudo esquadrinha do queper-
tence a este Reino, por quem esta prom-
pto a dar a vida, devendo-a dar só pelo
Encoberto ) porque na tarde da batalha
se abrio sem. tremor a parede, e'se.par-
rio pelo meio aquella figura do menino ,
íkando intacto c resto do Painel , o que
foi mysterio I e não podia ser outro
( 50 )

rçenão-hum evidente sinal da sua morrei


Ísto>nem o eloquente Orador.que aca-
bou de -gritar, poderá dar volta. Ainda
adianta a-mais o Autor, do Folheto,
( que homem í que homem! elle será Fran-
jCez encoberto, porque mentir, § arengar
assim nunca se vio 1 (quç também elle
j)óde confirmar com ditos de Servas de
D e o s , como nqs fazemos-, a morte do
.Encoberto, porque a Madre Mór Nasr
•cense, Religiosa de conhecida virtude , da
.Ordem de S. Jeronymo no Mosteiro de
Jesus .de Vianna d'Alvíto , disse logo de-
pois da desordem do Encoberto, que el-
Rei D. Sebastião era morto, e que pas-
sados muitos annos haveria Bei Porru-
gaez , eque seria hum Duque de Bragan?
ça , eque esta acclamação traria grandes
felicidades a este Reino. Ainda accrescen-
ta mais aquella bocca de praga, que he
impossível que de alguma vez se lhe não
.jyonha á banda, que he tradição constan-
-te».'"e que acé se acha escrito, que estan-
-do o Cardeal Rei em oração no Mostei-
r o de. Alcobaça no mesmo dia da ba?á?
3ha> ibe apparecêra a alma de D. Ma?
noel de Meneses, Bispo de Coimbra , ,e
Jhe dissêra i ^ Para Q Mundo tudo se aca*
iàpu-> elReihe! morto, o Exercito per»
'dido- > ® a, gloria de. Portugal acabada;
( 51 )
mas netri tudo se acabou para a' Eterni*
dade, muitos sc salvarão. ^ Qtiasi são
idênticas a expressões de Santa Theresa,
quando chorava j e se lastimava da morte
do R e i , e do desbarato de tantos Chri-
stãos, que alli expirárão. Ora , diz o
mesmo violepto e -cáustico espirito de
contradicção, que elle mesmo não dá a
tudo, isto outro crédito "senão o que me-
rice a fé humana; mas que se nós alie-
gamos prodígios para àttestar a conser-
vação do noso Encoberto, também elle
allega outros tantos4,: e ainda maiis para
attestar a sua morte.' ( Qyando elle pro-
fere esta escandalosa, e mal soante pala-
vra morte -, então , então he que eu que-
ria que se cumprisse ó meu gostinho de
«e lhe pôr a bocca á banda.) Por ventu-
ra não o confundiremos nós de huma vez?
Elle he m á ó n a verdade, e muito máoj
basta para prova o que escreveo , haven-
do papel que lho consentisse; porém não
he homem falto de fé , e o mofino não,
cessa de clamar por esses grandes audi-
tórios da Corte, contra a incredulidade do
gfculo , contra os libertinos,- è produz
provas dl Religião , que me consolão.
©ra tendo elle toda a nossa papelada,
não havendo huma só tróva dos 92 Prop
fetas que contamos, que elle não saiba
D2
( 52 )
db cór, porque até sabe as decimas que
fez S. Damaso Papa no anno de'300 e
tantos da éra vulgar 4 em bom Portuguez,
cOmo he possível que escarneça das Pro-
feciãs, e não dê credita aos prodígios,
com que de século a século se vai afian»*
çando em nós a certeza da vinda d o nos*
so Encoberto ? Isto parece contradicio*
rio , mas he real. He hum homem tão
teimoso, e testarudo, que affirma a quem
o quer ouvir que elle não .conhece senão
quatro Profetas, a -que a Igreja dá o ti-
tulo de maiores, e doze menores , a quem
a mesma Igreja, declara divinamente ins-
pirados ; e que desta crença nem o pro-
prío. Bonaparte com todos os bravos da
Gerondá he capaz de o arrancar. Ri-se
aqueile, mesquinho èm lhe fallando nos
versos da mesma Madre Cleobina de
Nação Italiana, abana a cabeça , e m.ófa
com a mais escandalosa altivez das visões,
que tinha a Madre Leocadía de Monchi-
que , que era a flôr, e o cremen das Pro-
fetizas Sebasticas. G Irmão Pero de Bas-
tos., Pero de Frias, João da Roca Celsa
são por elle tratados com o affrontosis-
simo nome de corja. Como elle embir-
rou em nos .querer metter juÍ7o na cabe-
ça', (juizo na cabeça, de nossos irmãos
§ H Sebastianistas! Era habilidade! Mais
( 53 )

facilmente entraria elle na Cabeça de Mon»


tachique ) até cita hum Edital' do Senhor
Rei D. José de 1774, étn que se rimnda
queimar pela mão do Carrasco ò grande
livro de Manòel Bocarro Francez, (só
por este sobrenome elle o merecia ) e alli
se declara que feste Livro Sebástico - Astro-
lógico .fôra id^ádò pelos Jesuítas, pati-
fes mestres | cOmòcom toda a evidencia
se observa no Livro que veio de Roma
sobre a memoria qik^òGeral d^s Jesuí-
tas apresentou á Santidade de Clemente
XI11. Nó-mesmo Edital se'declara que
èão falsas, "Sé.iiciósas e obras da malf*
cia, da perversidade, do fanatismo as gran-
des e altas trovas attr íbuidas a Santo
Bidóro , Sf Methódió , S. Cyrillo Ere-
mita j João Carrirlo. ^ Em fimjÉ não ha
cou*a que nos pertença, â que èlle não
feiféc ãsl;míôs: ptófàiiàs1 audacés e con-
táminadoras ^f âíê' mettef eín
hum chinello o Preto do Japão f^Pretó ,
diz elle , tão biiçal y que promette que
ha dé reinar' a geração de Sebastião; diz
O ímpío, que 'ç^creto as-neára É Ou qtietíi
quer que era o que fíngio de Pai Clemente
Gomes, _ que ha de vir féínaí a geração
de Sebastião —.'que este Motjsrcá não
deixou g e r a ç ã o e qáe se por geração
~ftÓsí- quereriios entend er os pârentes proxi-
( 54 )

tnos do Encoberto-, então que o mais


proximo era elRei D: j o ã o 4 V . Final-
inente não nos deixa pôr pé cm ramo
verde ; pôr qualquer parte por que lhe'
queiramos escapar, abi apparece este fa-
tal" e endiabrado homem ,' tornando sem-
pre mais valente» e pertinaz á c a r g a . . . .
Vem c á , Besta muar , lhe devemos nós
dizer p também te atfeves a duvidar dos
prodígios que tem acontecido, manifes-
tíssimos signaes da-vinda do Encoberto?
Não vês entre os nossos papeis aquelle
caso dos mellóes, que sahindo sete bran-
cos, se disse que se o que se fosse a par-
tir sahisse vermelho , viria D. Sebastião,
e sahio o mellão vermelho ? He barro
aquelle caso do cópo do Abbade de São
Bade Francisco de Mello de Castro, que
disse, que se atirando com elle á pare*
d e , e se não quebrasse' veria elRei D.
Sebastião,, e atirou , e o cópo ficou "intei-
ro como se fosse de corno? He fabulosa
a Historia do Ovo com rabo, que se
achou em hum Convento de Carmelitas
ao pé de Béja |g e as dls pulgas, que se
a#ilrãô até pelas paredes, a dò bico de
cêra, que ardeo toda a noite sem se gas-
tar , posto a arder ao mesmo intento
dos meliões ? Negas o que succedeo em
Alcobaça ao áiwo de i 6 a 8 na gallialia
(55)
que tirou os perfis todos com quatro1?
pés . havendo oito a dona, que se assim;
sahissem , acreditaria-a vinda do Encober-)
to ? Por ventura • no mesmo anao huma»
mulher em Tangere não pariqhum gato ,
lendo dito que se, o parisse veria o En-
coberto?, No Bairre-de S. Roque huma
fisjueira por ser batoreira não dava figos,
e fazendo-se a mesma protestação
veio com elles de capa rota ? Que dizes ,
Moagpo, ás peras csrvalhaes, que appare-
cêiacrem Lisboa-ém Outubro do anno de
1619 em lulu» enxerto?-Não forao man-
dadas ao Conde deCatanhede, queestava.
em Extremoz ? Por ventura húma Olivei-
ra em Setuval não deo azeitonas brancas ?
O Blasfemo nada d.sto pode negar /
porque"são factos de que houve testemu-
nhas , todas e'!as Sebastianistas de res-
peito , e maiores que toda-a excepção. El-
ie com , isto Já engole em seeco pat>a
disfarce, diz y que o maior- milagre de
todos h e , não estarmos nós todos á car-
ga cerrada met tidos na casa dos orates
sem redempção. Outra coisa ha , que me
embatuca, e com que aquella bocca de
praga nos poderá fazer tornar a falia ao
buxo. Toda esta comitiva-, que aqui es-
tá , que certamente não existe òutra se-
melhante de cabeças mais impenetraveis,
( 56 )
sabe muito bem f,que huma das nossas
niais
e muitos de nós tem de lá vindo com as
cabeças a razão de juro f por certa pro-
priedade, que logra aquelle sitio até aò
ultimo- armazém da esquina do Poço do
Bispo, nós lhe attribuimos huroas trovas ,
das quaes huma he mesmo estar a gente
vendo o Encoberto a entrar pela Barra.

Ah | Portugal,,; Portugal 1
Fiel na divina L e i , - •
/ Verás o Encoberto Rei •
Com a Coroa Imperial. ÉÉ

Pois diz elle, esse tal nosSo çornmum


inimigo, que isto não he do Beato,,an-
tes que pelo contrario perguntando-se-íhe
se era vivo elRei D. Sebastião, e se vi-
ria , respondeo: -m Nos mortos não sa fal-
ia. _ Que volta havemos, de dar a isto
he que eu não sei. Diz mais aquelle máo
homem, que se nós nos fundamos na pro-
fecia de S. Fr. Gil essa só se deve en- ,
tender dei Rei D. João I V . , porque dia
a Profecia : Portugal orfão de sangue
Real chorará por- muito tempo , mas Deos
lhe será propicio t vir-Jhe-ha a salvação
inesperadamente, e será trazida por hum v *
qupfelie não espera. — Ora isto está cia* -
(57)
r© neste passo nos desamparou; a nó*
a Águia dos Prégadores Antonio Vieira,
e penitenciado peloSanto OíKcio por Se-
bastianista, pois disse no Sermão doNo-
me de Jesus , pregado na Capella Real
no anno de 1Ó42: _ Não se pôde dizer
que este não esperado he d Rei D. Se-
bastião,- porque não ha oatro que mais
se espere-do que ©lie , - ( e nós .0 espera-
mos, eesperaremos, e ha-de vir alli para
matar. Bonaparte») Só- delRei D. João
IV. se pôde' dizer í que se não esperava ,
«em elle mesmo o esperava. O-nosso Pin-
cho do Algarve, aquelle grande Profeta,
he que. falloti claramente em o nosfo Enco-
berto , e na Ilha encoberta, e na armada
encoberta , e em todas as nossas caber*
tas-, porém o maligno Autor do folhe-
to malsoante, não sei, onde foi desencan-
tar , que o Pincho acabása em cirna de
hum grande barril de alcatrão e„m* hum
tablado muito alto com a cabeça atada a
hum pdo com huma cordinha por- se
atrever a dizer em que anho devia ser o
dia de juizo contra o Orafiulo do Evan-
gelho; que protesta que ninguém o sabe,
e fob*porsentença declarado-embusteiro,
amotinádor ,-e velhaco, declarando-se na
mesma sentença que os- que affírmão à
vinda dei Rei D, Sebastiãq são verdade».-
(58)
tès ínconfidentes , porque; tendo hum Rei
Portuguez acclainado , e depois jurado
em Cortes , e conservandorseem posse int*
perturbaveí até seu,quarto N e t o , que
Deos guarde j não o podem excluir setn
manifesta rebellião., e desobediencia. 0 r :
Eis-aqui o que elle diz, e que se ar-
repende de o não ter dito no folheto
confessando ainda em cima, que por com-
paixão não nos quiz dar com todo o
chumbo, porque se elle declrrasse todos
os disparates dos nossos eartapneios ,:-e
aifarrabios, o Povo nos apedrejaria sem
dúvida. Padres conscriptos a nossa Re-
pública ameaça-manifesta ruina , he pre-
ciso que lhe acudamos com unhas, e
dentes, porque de certo vai a terra se
elle nos ataca segunda vez. Senhoras De«
putados Sebasticos, o caço não hp tara
sc desprezar , hum papel impresso contra
nós nao he qualquer coisa ;, nós temos,
sustentado cercos de assobios, de apupa-
das , do alto de Santa Catharina já tem
ido em certa éra alguns dos nossos cá*
niaradas bailar á lndia ^ e houve hura.
tempo de tão cruel perseguição contra
as nossas trovas em Coimbra, mandando-,
se pôr nas mãos. de Diogo Furtado de-
Mendoça , que não havia quem apa*.
nhasse hum papel de Profecias, nem pofi
( 59 )

.bum olho da cara; mas gemer oprélocot*.


era nós, egastaf-se huma edição.de^aç
folhetos em ,14 horas, | isto 'hc coisa qug
nunca seviO désde o principio doMu ndo ,
porque desde então hauve- Sebastiana*
tas, porque dizem más lingoas, que. nós
descendemos por linha recta dos primei*,
ros tolos que houve no Mundo. A-s ar-
mas, e a elle, morra o Tyranno.
Aqui se levantou hum Serralheiro ,
já se sabe com que çára, com «çára de
Ferreiro, e disse : O nobre membro fal*-
lou como htim Scipião, mas eu em duas
palavras confundo o monstro 5 tenho em
casa hum Retrato do Jin coberto que o
não dou-por quanto dinheiro tem os Fran-
cezes,(sòou huma voz de fóra que dis-
* s e w isso nao chega a setenta -réis ) che.-
gue ou não chegue tornou elle, cusiou-
me tres pintos nos ferros velhos, e não
o dou por dinheiro nenhum , este Retra-
to fallou comigo hum dia ao anoitecer-,
vinflo eu da horta dás Tripas, ou me trou-
xêrao;, e me disse varias coisas-, desde
esse,dia, que lhe accendo duas vélas ao
Domingo, e dia Santo, convido alguns
amigos que i presentes estão , e não nw
deixarão mentir ,v,e nos dias que. digo-, vão
a minha casa , e com algumas iscas, e o
ffiâisque se-segue, se festeja o fínçobçrr
( 60 )

f o , parece acertado para confundir ô


monstro, que se convide também e se
o Encoberto :lá o vir, talvez lhe falle;
tnas para isto he preciso estar bem me-
rendado, não importa, eu lhe encherei a
barriga , e onde vai o pião, vai o ferrão, 'M
e desta softe ficará- confundido para sem-
pre, e llíe pedirá perdão, ea nós todos,
ame».
Algumas risadas houve, e não passou
o Bil fítspecialmente quando se tratou de
bum empréstimo forçado para a meren-
dí'; e sendo os debates vivos, ficou adia-
do para' o tempo da cárne de porco.
Aqui depois de huma pausa silenciosa,
se levantou hum irmão de conhecido res-
peito, dado a obras pias, que para não J
se deitar sem xéa , amotinou algum dia* ^ f -
Lisboa com a maviosa voz de _ Quem
mais ajodã a fazer este acto de caridade.
« E disse : J* Os meus annos, as minhas
cãs , a boa vida que tenho levado sem-
pre corn o corpo direito * me tem promo-
vido aos primeiros lugares desta conspí-
cua assembléa ; os meus estudos .combi-
nados a minha infatigavçl curiosidade-,
o meu-ardente zêlo pela propagação da
nossa profissão, me tem enriquecroo de
documentos, e atulhado o meti cártorio
dé tamanha papelada de' tróvas , e vati*
(61)
.ciifeéque nãohaSibyila viva no Mun-
do , de quem eu não guarde os cadernos.
Eu fui mesmo a Berberia ver a Torre de
Fez,, e fallei em Argel com hum sobri-
nho' do Caciz Abel Mal»-» que me Aca-
gratuitamente as Profecias do lio. Fui de
lá a Constantinopla, e fallei muitas vezes
com hum mudo do Serralho, que affirrnou
por ácÇÔes, que tinha ainda visto o Astro-
logo Arábio de 135" annos , que fallára
com Roque Antunes, que foi companheiro
do Encoberto nas guerras da Tartaria^ e es-
te mesmo mudo me deo;acópia-do sonho
de Abedelá Mahamud , depois que a filha
achou amoeda de prata do Encoberto no
campo da Quinta feira, vindo huma tar-
de para Arzila , sonho em que elle-vira
o Encoberto, que o ameaçava, dizendo-
Ihc, que depréssa viria, a Marrocos co-
roar-se Imperador* -Este sonho foi depois
^impresso em Lisboa L eapprovado pôr Ff.
Lucas de Santa Cathariha} com estas ri-
quezas me recolhi a P o r t u g a l e eu mes-
mo fiz o desenho da estampa do Enco-
berto velho sem coroa, ecomhumasbar-
bas grandes, e medonhas ~f que se vende
na rua do Arsenal, com o retrato pega-
do do Senhor Rei D.Sebastião. Ora pos-
suindo eu-no meu archivo no maqo 45799
o-"Credo inteiro da nossa crença com to-
( 62 )

dftsoVpèus trinta artigos»sem lhe faltar


hum sóI e cada ham delles corroborado
áom a sua profecia competente, e ás ve-
zes com duâs,' efres, conforme a neces-
sidade do a r t i g o e as dúvidas que sobre
elles levantárâo alguns"incrédulos , que
sempre houve" homens máos , parece-md
que lhe seja remettido por cópia authen-
lica confrontada com o original , como
erão aquellas cartas , que ojunot manda-
va ao P. Lagarde , protestahdo-lhe que
o, General em Chefe passava bem , e que
ámanhã'acabaria de bater os Leopardos;
parece-me, digò , que as-im se lhe remet-
ia paia seu desengano; talvez que se ar«
rependa ,r;ndendo-seá força da evidencia f
e se abstenha de nos'atacar , e faça a de- ;
vida penitencia do peccado commettida
nas quatro affrontosas proposições, e nói
descarregamos as nossas consciências par
-ra o futuro; e se elle não quizer ser Se*
bastiánista-, morrerá no Seu peccado
pôr-se-lhe-ha a bocca á banda para não
poderfallarmaispalavrafsuGcéder-lherha
«fflèímo que se conta naquelJe nosso tão
sumido Livro m o triple cordão de amof
.tóque hum grande Ministro, que ahian*
dou cuidando em fatèr essas fUas direi»
Hasy asse berreiro do Paço-, e mais baga*
m S m de eáes , Alfandegas*, etc. asando* '
( 63 )
queimar com o seucempanheiro J3r«.
cjim ameno — Succedêra a hum Clérigo^
que se-arreveo a querer dizer huma Mis»
sa, pela alma do Encoberto , acceitand»
huma grande esmola que lhe dérão certos
incrédulos, que indo já revestido muito
abelhudo, lhe deo tamanho ramo de es-»
tupor, que pregou cem elle redondamen-
te no chão , este foi o Remate inpaci
que elle merecia. i
Eu também aqui descanqo, porque nun-
ca- me succèdeo fallar tanto, sem molhac
a palavra, e deixo tudo ás maduras dei
liberações do Conselho. Parecc-me mi is
acertada este caminho da brandura; se efe
le quizer ser Sebastianista que o seja; e
senão , sem elle-passaremos; mas-ao me*
nos sempre nos Jacará g .vantagem de dei*
xarmos a verdade clara-,-dando,-ao Mun-
do., para que abra os olhos £>h ti ma pro*
va do que somos, e dos motivos que te4
nflos para ser fiéis Sebastianistas.
Continuarão os debates;, porque que-<
rião muitos, que subirão depois a ba> ra,
que a coiza se levasse á unha, offereeen*
oo-se muitos graduados , e adidos ao Es*
tado maior para me esganarem-j especial*
mente hum alto e membrudo,, que algur»
dia teve tão importante lugar na Alfai».
dega., que ainguem podia lavar dalli naj
( 64 )

da sem elle, e em cujos hombrospezá-


rao os negocios mais graves, que se tem
tratado na Praqa do Commercio' junto ás
grandes balanças. Passou a matéria a vo*
tos, iito h e , sc a coiza se devia levar á
unha, esganando-me, ou pelo caminho da
convenção, etive a felicidade' de encapar
pela maioria de hum voto só.
í' vTttdo o que atégOra tenho dito des«»
tes Estados Geraes se encaminha a diver-
t i r , e entreter,os Leitores com huma-"fíc-
qão, ou pintura fantastica dos delírios Se-»
basticos, advertindo que tudo o que são
allusóes a ditos , factos, livros , e cha-
madas Profecia^ f ,he a pura verdade, por-
que na minha nião existe , e pára hum
sacco de papeis , que me forão remettidos
da Villa d'Arruda , escritos desde o anno
de i65"2 até o de 1727-, riquíssimo Era-
rio das parvoíces Sebasticas. Agora são
factos verdadeiros» „ 4
Eu tenho recebido como attesto na
Carta preliminar toda a qualidade de in-
júrias as mais atrozes que se podem es-
crever , e ficaria sem huma camiza se
pagasse a todos os Gallegos que me tern
trazido cartas a casa,além das que acho
por essas .lojas f das que vem no Correio,
e das que me embutem por debaixo da
porta. Entre todos o& papeis memora-
( 65 )
vc^i lie este qtie aqui vai agora traslada*
do o mais notável», por ser o symbolo da
crença ^efeastiea f e elle por si vai mais
que todos os discursos, que todas as in-
vectivas pgi a destruição d^^eitiéi Sefjasu-
ça, e a parte ii-lustrada. da Nação para
que unicamente escrevo, é cuja approva-
ção Unièamentèiambiciòno ^conhecerá a
muito justificada; razão com, que digo,,
que hum Sebastianista,,, como Sebastia-
nista he mio Çhristao r i máo Vassallo ,
máo^idadão, , o rnais alentado tolo qbè
come , pãQ.xAqui verá copi quanta ra^ão
o; Mini^tério^.tem muitas vezes.castigado
estes Sectarios.j êõmo todos os verdadei-
ros "Patriotas qs vfieyen^ • det^staç abo-
minar coaio prejudiciaes , .não.,só, aos iiir
dividuo^em particular^. m,as á Nação in-
teira,' q.ue eçpõeaos ludibrio., ao escar-
neo:, e .mófá, fazendo-a reputar semibar-
bara, corno vimos que faziao os promet-
tedores dos Canais, e do ÇamÓés no Al-
garve , e,do Camõesna Beirai. Deve re-
putar-se bum, ser viço, féito á Patria
terminação desta Seita, çon\o prejudicial
e, importunis^ma.^jé teimosa contra, Io-
das as luzes da eyidencia ^ e cada vez mais
endurecida., quando mais se procura des-
enganar, O mesmo que esperão estes Se-
bastianistas agora=, he o mesmo que es-
E
(66)
perárão,seus.quintos Ayós , marcando
époças para o apparecimenfo do Enco-
berto sem haver fumos-dellé, continuão
com as mesmas blasfémias, e, tentações
de Deos , porq ue §elles não , lhe pedem
| ú e mande o Encoberto, dizem que o
deve conservar . porque p<íâe., São nisto
semelhantes áo Diabo, porque Jesus Chris-
to Nosso Redemptof çomo Deos Omni-
potente podia converter as . pedras em
pão. no .Deserto ; e quando o Demónio^
lhe disse que as. converiêése, t;espondeo:.
Não tentarás a Deos teu Senhor. Eis-aqui
O que querem Sebastianistas 1 que con-
serve o Encoberto , porque pode. E que
Encoberto he c^te ? E para que he este
Encoberto ? Para, marcar Bonaparte, E*
por itso , se alegrao muito , qusndo ; os
ímpios Francezrs sé pproximão .ás nos-
sas Fronteiras , quando os Hespanhoès
vão,perdendo ou terreno, ou bátalhas;
em finr ,; quando e U i ^ ^ m o Reino i;mais
afflicto , e tímido, éritao he que se mos-
trão contentes ,'e'satisfeitos, porque está
chegando o Santo Velho , comó elles di-
zem. Os Jacobinos tem nos Sebastianis-
tas" ós melhores assoaíbadores ' das suas
novas de terror; e quando lhes vlo an-
nunciar, ( como succedéo na invasão da
Andaluzia, J os progressos dos Franeezes,
( 67 )
repondera , isso he que queremos, a
tomáramos nós que elles entrassem já,
E hão he hum dever de bom Patriota
procurar abolir esta perniciosa mania f
Que délicto ha em atacar estes estúpidos i
Vamos pois vêr o que éíles sâo ., e isto
pelo msaúo qtie. elles dizèmí- v

Papel que se me remetteo.


" - í "Ainda que nós fizemos pouco caso
do seu Folheto, porque todo elle está
cheio de mentiras T e testemunhos falsos,
com tudo para V.m. se desenganar lhe
mandamos á cára os motivos da» nossa
crença , e os.. fundamentos:, que temos
para vêr tudo isso cumprido á risca ; e
se atégbrag se tem já cumprido humâ.
grande parte; porque se nao cumprirá o
resto ? Tudo está profetizado ; e se V.ttt.
náo' fora falto de f e , não teria O atfi»
vimento de nos descompôr i e de tratar
tão vilmente hum corpo tão respeitável.
Os seus argumentos desfazem-se com
hum àssoprOí y As Verdades , que nós cre*
m©s, è esperamos ,/ Jsãó as seeurrites , a
todas ellas expreásas nas Profecias.
O sino de Belilha , tocando-se
per si m e s m o c o m o iíOs mais notável
casos, que succederão em Hespanha, an-
E2
( 68 )

fturícía*á,:~ a vinda .'do Encoberto.:?!,°'A


Reptrblíca de:Veneza , he a venturosa de
todasras teíras: conhecidas j a quem a pri?
Hi^yti vêz ha^mlnilestàr^a- sua pessoa,
• 3, - Ahi se ha dê embarcar corh 0 Sum-
ino Pontífice, e tnuitos Venezianos com
o tíiesoure commum j r e . riquezas parti-
ciliares , cfferecídSsj S scuSeiViço. ' 4,0 Ha
de traèér comsígb^dois, fil hos Príncipes
mui esforçados. 5\° Ha de virémhuma
-poderosa Armada I guarnecida de Infanta-
ria 'estrangeira. ó.°. Fieatá admirada a
.•África de vêr tão grande poder ; mas
deferindo-lhe o castigo, entrará peío Ês-
treitò^emproádo.. em Portugal;. 7.° En-
trará pela Barra de t-isboa'%ni huma ma-
nhã ' ;de Verão, 8.° Desèmbarcará, .em
Beleníi M j Ha de rèlístir a Cídádekpor,
espaço de hum quarto de hora. lo»" Co-
mo ha de ser a resistência tão breve, se
reipilta por nenhuma.' ij.° Depois de -ser
donfíè: ido>f lhe entr^gãTá • cotii gosto.
de entrar, e tomar posse pelas
Portas da p l É S ^ ^ M ^ f f l verão ; no
Ceò hum-soberano esplendor.' 14.?'Serão
tantas" as':lagrimas- cie alegria vendo tão
impensadadita\ que se fora possivel cau-
sáfão - enchentes | no' Tejo, í ^ . Referirá
as'traiç6esl què lhe tem feito Castell*,
i ó v l r á l o g o e m marcha p a r a l h e d a r ^
( 69 )
castigo , que todos os vaticínios-lhe re<
presentão tremendo. 17.? Degolará .tau?
tos Castelhanos, que se verão naqutlies
Reinos % lâgôas profundas dé sangue.
i S v O Rei; de Cásfelia , depois de des^
baratado, se rend"rá :a partido, entregan»
lhe. a Çbrbâ ^ e •fazèndo»Ée:*seu Vassallo.
19,0 Dividirá, pói1 trés Príncipes toda a-
qffella l i | o n a i q u i ã i ? ^ à r l f liga' univer-
sal com -todos Ós PrinçipesCatholícoSiv
21.° Tornará á pendência «a Africa; - 22v?
Àprestár-se-hão pára esta guerra sarita- tO-
dos. osPortuguezes capazes detomar ar-
mas sem ficar privílegiadoy nem o Pas-
tor ira-, montanha , -ném o Fraa^-tíâCiái»
?§ura. i231 Com;Ai madas , ê Exércitos.de
In nu merá v eis ÇMistãõs In -
fiéis vittor.ia,s iiirtumeraveis. 24A-Serácor
roadõ por Impêradorí a primeira .VÈz em
Marrocos.' ijrs^'.Estãrá^noye- -• mezes em
Africa, e Asia,. 26.° Os Mouros e Tur-
cos receberão a Fé Çafholiéa. 2?.° Arvo-
rará a Cruz Sagrada no Sepulchrò de
-Christo;; 28." Concluiráestasemprezas em
menos de sete annos. 29/Dando-lhe fim
g l ó r í o s O I m p é r i o s | | | seus> cfà|s
filhos -0 t Garcia Di* André.; jpí^ Ê
passará deste Mundo | a gozar na vida
eterna os prémios cómpetèntes; aos seus
merecimentos, Amem.
( 70 )
Atégora tenhq feito fallar os Se-
bastianistas á sua vontade, e tudo quan-
to se escuta nestas .ridiqulas prosopor
péas , he pontualmente o que elies dizem-,
O que elles crêm, o que elles querem,
o que elles espera o com tanto afinco, e
pertinacia. Destas quiméras se alimen-
ta a sua* imaginação, e com estas tão
solemnes parvoíces amotinão o Mun-
d o , e. r québrão a cabeça aos- cordatos-,
a quem se tornão insupportaveis. -Eu po-
deria- produzir ainda mais documentos. da
sua demencia; mas para que são mais
attestados, -que os trinta destampadissi-
mos artigos do tal symbolo ? K«te sym-
bolo he obra antiga , e a elle ,se fazem
ajustar as tempestuosas trovas , que exis-
t e m , ^ eu possuo não,para me rir, mas
para me lastimar dos terríveis progressos
d o império da estupidez, Nem ó mais
simples acaso tem verificado atégora
aquella enfiada'de imposturas. O symbo-
jo he composto sobre as mesmas trovas^
e para conheceria falsidade, e grosseira
jtópostura de cada hum de-,seus artigos,
sem nos lembrarmos do artigo Esqua-
dra Veneziana , thesouro da Republica,
pprque o. ímpio Corso deo eterno cabo
de tudo isto , basta que nos lembremos
do primeiro artigo que he o Sino de Be-
( 71 )

lilha que ha de tocar por si só; além de


ser isto -huma Fabula popular, hum er-
ro., -hum abuso do< vulgo demonstrado
com toda a evidencia pelo erudito Padre
Feijoo , onde .parará este sino em mão»
f j de Francezes, que occupao Bel ilha, que
he hum povo de Aragão ?• Não tocou
5-' por -si- este sino fadado, quando v.eio a
Hespanha a-maior < desgraqa, que foi a
invasão dos Francezesha de tocar quair»
do vier elRei D. Sebastião ? Eis-aqui co-
mo se cumprem as negras trovas, com que
os Sebastianistas endoudecem. Já lá vai
a Republica de Veneza,- e este artigo
já deixou de ser de fé no Symbolo Sebas-
,'tico. hh| ' - ' ; -V*- ' ""
Ora eu quizêra-que estes homeas
me aliegás§em hum motivo, pelo qual
dão crédito a tantas coisas milagrosas,
que £)eos he obrigado a executar ? Para
se itarem-, era preciso que fossem re-
' Velàip^por lDeò^-jpara haver esta revela^
iii çao j^eras-preciso que Deos tivessefallado.
Se teAiífaiJadò, dèye rser aos homens.i^è
estes homens erão sem d\ívida Profetas,
porque Deos lhes communicava o conhe-
, . cimento-sobrénatural dos futuros contin-
gentes. Para -serem cridos por Profetas
convinha , e cuiftpria que a Igreja Catho-
jjpêeídeclarasse taes, dizendo que os
( 72 )

Cadernos das trovas erao Livros Cano-


nicos ^ divinamente inspirados. Ora 'dí-
gao-me os Sebastianistas ,-e eu lho peço
por yida sua M tem por ventura a Igreja
Cathólica , Apostolica, Romana feito já
alguma declaração a este respeito;?,Não,
e não. Antes - o Tribunal da Fé , que
tem' legitima autoridade "para declarar o
que he contrario á F é , e punir os que
contravem seus princípios tem sole-
mnemente condemnado como verdadeiros
Réos Os que se arrevêráo a reconhecer
inspiração Divina em as trovas como
vemos na Sentença dç Vieira. Ainda em
maior luz se patentêa esta verdade na
condemnaqao de Malagrida, por se di-
zer elle mesmo Profeta^ protestando que
a vida de Santa Anna,, que compuzêra'
lhe fôra revelada pela- .mesma Sànta. Não
ha Profetas senão aquelles , que a Reli-
gião , e a Igreja reconhecem; não ha re-
velações verdadeiras, senão" aquellas que'
3 mesma Igreja declara taes. Ora não
he hum attentado contra o'espirito da
Religião, dar crédito ás tróvas qual lho
dão os Sebastianistas? Nada os, descul-
pa , e neste ponto só são máos Christãos.
Tenho visto muitos papeis-,''èm que se
•procurão justificar» Em primeiro lugar
appareceo hum de hum Confessor, e
( 73 )
Penitente, ambos Sebastianistas, tão in-
sulso , - tão miserável ',' tão descosido,
tão falto de siso com num, que não me-
rece impugnação,. Diz este homem Con-
fessor , que a Igreja reconhece agora
H L Canoriicos alguns Livros da Biblia , que
lios primeiros Séculos não andavão no
f f ; . Canon, e que ainda poderá- dec:làrar:Ca-
nonicas as tróvas tão justamente escar-
necidas. Isto na verdade não sei que me-
rece ! Compaixão, por não dizer severis.
simo castigo. Vejão que Confessor-esre !
A h ! Se eu'fora o seu examinador 1 A-
garrar-o Penitente , e abalar com elle
da Igreja para caêa r e ler-lhe o papel
que tinha leito comra mim l Se foi es-
ta a Penitencia que lhe deo, não foi pe-
quena, e por certo não he passa-culpas ,
pois lhe carregou' a mio, o papel só por
Penitencia Depois deste apparece hum
• Carlos Vieira da. Silva, que se diz hum
Rap-z? qúéísó lêo ô Matr^alónà r o Auto
pi de Maria Parda, Carlos Ma gno , e dep ois
desenrola imiriensa erndiqãp , para que?
Para ^prováí-qúe os Sebastianistas se con-
fessao , ouyem Missa , pagão os dizimos
a Deos ,-re' jejuãoquando o manda a San-
ta Madre Igreja, Abenqoados jsejão os
Sebastianistas, por isso "lhes não quero
"i mal, ainda >bertt que o fazèm, por-
( 74 )
quê não são da raça da Pedreirada. Eu
brigarei, se alguém me disser, que hum
Sebastianista, fora da sua teima; hemáo
Chnstão. Este rapaz Carlos Vieira , e
todos os mais que escrevem contra mim,
e que escrevem de boa f é , e como ho-
mens de bem, devem primeiro que tudo
determinar com a ultima clareza o ver-
dadeiro estado da questão; para se des-
truírem as minhas asserções, e theses he
preciso estabelecer outras diametralmente
oppostas.. A minha these he particular,
e só pôde ser destruída com outra parti-
cular. Eu. argumento .iji concrecto , elks
respondem-me in abstracto. Mas isto he
lingoagem desconhecida aos peralvilhos
de Cafés. Felices tempos em que se sa-
bia o que queria dizer. ' J g
" As seri t A , negat E , ver um uni-
versaliter ambo, etc.n Agora ha outros
conhecimentos mais profundos ; hum ho-
mem , que pode chegar a dizer seis ve-
zes em hum quarto de papel »». Fez-se
fogo ao Trocadero » ri-se da? summulas
de Aristóteles, e até ojha com compai-
xão para a Arte de discorrer de Porto
Real. Vamos adiante.
Eu peço .neste escrito sinceramente
a todos que me impugnem, que me con-
venção, e para isto (pois eu sem,a ba-
( 75 )
sofia do louco eloquente de Genebra)
não quero a vida senão para a empre-
gar na indagação e conhecimento da
verdade. Ora para esta impugnação eu
mesmo quero estabelecer i o projecto
( agora chama-se tudo ) Plano. Ei-lo

Hum Sebastianista na sua crenqa da


vida, e da vinda de D< Sebastião e mais
nada, he tnáo Christão, porque tenta a
Deos com hum milagre,.he semelhante
ao Diabo, quando disse a nosso Senhor
Jesus Chrisro — Dize que estas pe-
dras se fação pão. He máo Christão,
porque dá crédito de Profeta a quem nao
he declarado tal pela Igreja ; e julga di-
vinamente inspiradas humas tróvas, que
são parto da malícia humana.-Ora pára
se impugnar esta proposição , queren-
do proceder conforme as regras da ver-
dadeira controvérsia, he preciso estabe-
lecer a proposição contraria, desta ma-
neira.
He bom Christão o que tenta a Deos
contra seu formal preceito ^'Non tenta-
íisDominum Deum tu um. _ Não vai
contra ó espirito da Igreja quem acredi-
ta divinamente inspiradas as tróvas do Ban-
darra , e do Preto do Japão, etc. etc. Em
jjuanto isto se nSo; fizer, em quanto des-
( 76 )
ta maneira se nao argumentar, em quan-
t o com razoe; equipollentes no sentido con-
trario das minhas proposições estas não
forem destruídas,, o Livro não está im-
pugnado , ainda qué gastem em impugna-1
ções extravagantes quanto papel os.Geno-
vezes desejão mandar para cá e não pó*
dem. Consummir-se em ôcas declamaqóes
contra*1 mim •, contra. a minha conducta
moral, contra o meu "ministério, he gas-
tar tempo inutilmente, e conservar no en-
gano prejudicial, Os tristes Sebastianistas,
que podião ser muito prejudiciaes a este
Reino. Se acontecesse, o que Deos não
permitta, apparecer aqui entre o povo al-
gum impostor estrangeiro, que se dissesse
clReiD. Sebastião,' que desordem % Que
immenso partido não-encontraria elle no
vulgo estúpido í l«to he hum objecto , que
nas a c t u a e s e perigosíssimas circunstan-
cias em que nos vemos , merece a mais
séria reflexão pelas suas consequências.
Temos inimigos poderosos, eastutos. Os
ímpios Franceses sio para mim em tudo
abominaveis; essnio tão grandes os seus
dois primeiros crirass , impostura , e des-
caramento , eu me estimulo- ainda mais do
conceito , e opinião em qué nos tem*
julgão-nos huma Nação semibarbara, su-
persticiosa , e fanaçica,; a sua raiva se en
( 77 )

caminha em primeiro lugar, ao respeitá-


vel corpo -do Clero regular, e de tudo se
aproveitarião para fomentar p e promover
entre nós divisões | tumultos § e partidos-,
e ha huma classe de indivíduos entrenós,
H l ; a que eu chamo — A Academia dosOc-
cultos que mettem nas danças os bons,
e sinceros homens Sebastianistas, etoroá^-
rão os taes Seníiores Académicos do mys-,
terio, que apparecesse hum impostora A
primeira njaxima dos niveladores he fa-
zer as agoas envoltas pata pescarem. Não
posso calar-me a este'-respeito. Digão de
mim o que disserem, nada extinguirá cm
mim o'zelo, e o a m ò r d a Patria-, e da
1
jRiçlôITÀ/
j Concluamos,: Parece impossivel que
haja homens que queírão defender as par-
voíces4 dos 'Sebastianistas.' Eu não creio
que «4t|? es'ejão persuadidos seriamante
f que he vivo elRei D- Sebastião, e que
wtr ha de vir. Ora digão-me , para que ha de
f vir? Para governar? Não governou bem,
e nós temos quem nos governe bem, e
tão bem , que em menos de dois annos
ficando o Reino reduzido a nada pela in-
vasão dos fmpioè Francezes, o tem pos-
to em tão grande pé de defensa, que se
pôde' chamar verdadeiramente formidável j
• h ^ J q u a l nunca esteve desde D. Afiònso Hen-
( 78 )
riques atégora coisa que parece milâ«
grosa. Ha dè vir pará nos auxiliar icom
hum exercito-, qtíe ,ha. de .trazer da Ilha,
encoberta. ^Póçle acaso,;'ser maior niais.
opportuno o;soecorio qye nós trouxêrao o»
senhores Inglèzes da sua Ilha não enco-
berta , mas patente, e conhecida, qual
he a Grande Bretanha / verdadeiro ante-
mural contra os esforços do malvado , ver-
dadeiro domicilio da honra , e do poder ,
onde a justiça;,; e a razão acharão guari-
da , e conservão o Imperí?> ? Para que he
pois este D> Sebastião:^,e para quando se
guarda-esta vinda ^C&e motivo ha piara
que Deos se obrigue a fazer tão grande
milagre , e a respeito de quem entre OS'
Reis Portugueses menos o mereçeo ? Elle
teve valor ,> mas não-tinha prudência ã
primeira ba alha v que, deo foi a primei-
ra que pcrdeo. Commettco huma injusti-
ça , arruinou o Reino , foi causa do nos-
so cativeiro de: 6o annos, foi origem da
nossa declinação jv do eclipse fatal; da
nossa, g!oria»jv Em hm , eu não descu-if;
bro .hum motivo só por qtie se haja
executado a maravilha da sua conserva-'
ção. He huma das primeiras inepcias do
espirito humano esta tresloucada esperan-
ça 4 e se os Sebastianistas não tem des-
«ilpa nenhuma , muito menos a íem os
( 79 )
que tãoimperrinentemente os defendem;
Quero que não morresse na batalha, que-
ro dar por hum instante algum pezo á',
frase enfatica de Diogo Barbosa Macha-
do, que viveo-outro dia contra a depo-
sição de testemunhas oculares, contra o
mesmo tempo , que.não acaba de trazer
este'D. Sebastião em tantas occasióes, em-
que os Sebastianistas dizem, que se pre-
cisava delie» que querem dizer estas pa-
lavras _ Deixando a Posteridade iguatmea»
te duvidosa da sua1 vida -, e da sua morte?
Ora dado, e não concedido' que. a Poste-
ridade existe em igual dúvida, para.que
parte nos manda a razão natural que nos
inclinemos? Eu p e r g u n t o Q j i e coisa he
mais natural , que elle esteja /vivo , ou
que elle esreja morto! Decidamos, Se ha
iguaes razões para duvidar, e-para affir-
m,ar ou a sua vida, ou a sua morre, em
qye devemos ficar ? Sempre na mesma dú-
^ vida , porque não ha meio entre dois ter- -
mos _ Ou vida , ou morte. _ Para acre-
ditarmos a morre, basta a razão; e para
acreditarmos a vida , he precisa a revela-
ção. E onde está , onde pára esta revela-;!
ção?
Se esta ridícula matéria fosse digna
I de outra coisa, que não são risadas, apu-
tadas, chufas, e motejos, eu promettbi
(80)
que tomaria a peitos a tarefa de mostrar ,
que em nenhuma das tróvas existentes até
gora se falia em elRei D. Sebastião, j á
insinuei isto mesmo na Priirieiía Parte des-
ta verdadeira Comedia Sebastica ; mas não
merece huma letra mais. Os meus impu-
gnadores antes empregassem seus milagro-
sos talentos em materns mais utéis , e de-
corosas. Mas em fim, a inania he irreme-
diável, o fèrnesim Sebastico he incurável:
eu me desenganei depois que vi até huma;
chamada^impugnação doSyllogismo já em
caminho de se licenciar. Isto he querer por
força que haja Sebastianistas, que vem a
ser o mesmo que querer que haja hum
contínuo opprobrio da Nação, hum enxo-
valho da razão humana, huma nodoa do
scculo além das muitas que o afeão, hu-
ma rede de mentecaptos, de boccas abertas,
e tolos superfínos. Isto he querer livre, e
despropositadamente faier-me hum crime
atroz , confra o qual se devem armar todas
as pennas, e que pennas f por dizer a Portu-
gal , e ao Mundo o que a Portugal, e ao
Mundo está dizendo todos os dias a Fo-
lhinha de algibeira : D. Sebastião morreo
em Africa a 4 de Agosto de 1578.
( 81 )
APPENDIX

SEGUNDA PARTE
DOS
SEBASTIANISTAS.

T i n h a determinado emmtidecer pará


sempre sobre a mui ridicula questão Se-
bastica j mas a pertinacia" ainda mais rK*j
dicula dos seus suppostoS apologistas >
que são ainda cem vezes mais azedos
críticos contra os Sebastianistas, me obri- r
ga a escrever este Appendix.1 Creio que
desde quelha livros nò Mundo, ainda
não appareceó hutq contra quem se te-
nha levantado mais gente de todas as
classes, condições , è estados ; e todas
estas gentes, deixando intacta a questão,.
Sebastica ,?se volvem a mim.sem pieda-
de j e começando " hipocritamente • a
afear-me a minha falta de caridade em cha-
mar Raças aos taes irmãos , lá delles,
desfechão contra mim "huma tempestade
de impropérios tal, que a tempestade de
raios, e pedra de dia de E n t r u d o h e a -
par delia hum cuminhc£ Ninguém diz
F
( 82 )
que he Sebastianista, ante todo o tropel
•impugnador clama, berra , grita, e o f -
néa que- não he Sebastianista, e que não
he Sebastianista. Ora isto na verdade he
bem digna.de reflexão!. Defender os Se-
bastianistas , ,e protestarem todos,, que
não são Sebastianistas. Eu digo que he
mentira a vinda, do Encoberto , e por
isso nãò sou Sebastianista , elles dizem
que he verdade a vinda do Encoberto;
então se he verdade, por que não dizem
qqe são Sebastianistas? Por ex, na Es-
cóla velha havia huns homens chamados
os Nominaes , havia outros chamados os
Reaes. Huns escrevia© contra os outros,
0 que escrevia contra hum Nominal di*.
«ia que era Real, e vice versa cada
hum delles se dizia do partido que1 de-
fendia. Cá succede pelo contrario: ne-
nhum diz que he do partido, qtie defen-
d e ; pois se o não he, porque o de r ende;
e se o defende, porque diz que o não
he? Aqui ha mvsterio. Eu não sou Se»
basfianista, porque não creio nas Tró-
vas , porque sei quaes fossem os seus
Autores declarados ria Drducçao CbronO-
logica y nos Editaes de xo de'Junho de
Í 7 6 8 , e de 2 de Dezembro de 1774,
porque me salta aos olhos a parvo ice
«os esperançados, porque revolvi toda a
( 83 )
corja , ou caterva das chamadas Bas*
darriadas, e Companhia, porque he con-
trario á razão y que viva hum. homem ha
25*6 annos, sem se saber onde i quem jjT
cpnduzio á Ilha que Ilha hé esta , c
sem poder encontrar moti,vo$ por que a
Omnipotência, haja de^ obrar esta estu-
penda maravilha a respeito de hum ho-
mem, quê commêttço a maior imprudência
em que se podia cahir, qual era dar hu-
ma batalha côm i^fo Infantes contra
7 0 $ de Cavallariáv Éstas sãoás razoes,
por que eu não sou Sebastianista.; Elles
todos dizem que não são Sebastianistas j\
então, quaes são as razões, porque o não
são, Eu1;-a ponto os meus motiyog ellegi
liã<? allegão razões , dizem que o,não
são; porém.defendem o.Systema, Assen»
temos n'huma Coisa de pedra e cal, qu8
não ha homem, ainda que sejà o Fartu-
r a , ou o Pax vobis , que queira confes-
sar que he Tolo. Seja-me licito* allegar
aqui hum exemplo. Houve sempre Apo-
logistas do Christianismo. * S. Justino ,
Athenágoras Arnobio , Tertulliano ,
Minúcia Felix , e èm idades próximas a
nós, Qrocio, Abbadie,'Bergier,etç. ora
qual he destes homens aqueilé que di-
ria, que não era Christão defendendo
p Çhristianismo ? Todos dissêrão que
* . mMÈÊÊÊÈÈÊmm 1
( 84 )

erão, Christaos, e que defendiãõ a catK


- ea da verdade, porque ninguém se deve
çnyergonhar de dizer que he' Christão.
Qúèjn defende"a^verdade, não se atreve
a, negar , que he defensor da verdade.
Em o casO Sebastico vemos o contrario.
Ser Sebastianista! Isso não; defender os
Sebastianistas, isso sim. Porque? Po;que
«ínguem quer confessar q u e l i é T o l o .
Ourra coisa" ainda ha mais notável
«estes extraordinários Escriptores; con-
'yêm a saberg|Hum engano perpétuo fei-
to ao público, é huma contradicqão ma-
nifesta nos seus escritos. O Público,
quando os vê escrever contramim, quan-
• do ve no Diário, e -no -Telégrafo ( que
se vai finando) pomposos, e enfáticos
«itulos contr? o meu triste Livrinho, acor-
de ao reclamo, e cuida achar huma mi-
na de* pí-óvas da vinda do Encoberto,
lendo no Frontespicio t» Impugnação
Imparcial por José Maria de Sá. Re-
futação Analytica pelos Redactores do
Correio, quevemdas Peninsulas Ròcha,"
e Pato. Verdadeiro Espirito do Sebas-r
tianismo ao 1 Ilustríssimo-e Excellentissi- .
bio Senhor * * * estrellinhas por M a - •
noel Joaquim Pereira de Figueiredo, Prfs-'
bytero. Quando lê « Obra do Rapaz de
. Silva. Qyan-«
•%>"embiea còm huma coi^a muito com$
(85)
prida , e'p òdigiosatnenteseccante de 0? ; '
s

'Maria Pinheiro -Ungena , ou Historia bi-


partida dos Sebastianistas , e Cerco de
Gerprià / coisas que se casão, e concòr-:
dão estreitissimamente,' cr|" que'f hi *vem
'já o Encoberto, e que j á , já se houve
•rinchar "o seu grande Câváílb dê*Madèi*J<
. rá ,' yaj .a ler , c acha os Sebastianistas
postos a parir, ou a pão, e laránja , pois
na vetdáde são alli^trâfadqs; como Poderi»^
gos :1não íiá noimè affrorrtbâO eòtn que*
í os^níão* íégaiemM Ora entré' tantós.,. ètí
desculpo Róclia,:'ê: Pato , elles. mesmos
confèssao, que são de humôr ácré, e q f t ^
, rossivo que tem huma bitis;|feheia
viruis,, arrebatão-se; não está mais na
sua mão, génios sublimes, vastos , pro-
Tundos, "ardentes', impetuosos , 0 seu es?"
;
t j i o *he; estjlpiide., cáTçtj.a;,|:,hònrãà; oVS?íí
-a ^ ' h y j j ê r í i ^ t é ^ ^ â w ^ ^ é K ^

i são qjfigjj
Zeno , -hum-
de admirar, que préguem grandes cata-
•nadas' nos Sebastiaxiistãsr; e ^se/a scena
1'Portugueza tiver tanta fortuna que a el-
la "suba, á- flor, e o ^ é m e dos Dramas
TragicoTCom'co-E*ntremezaticos intitu-
lado"»-o Crítico Bezuntão >' ( Bezuntãò ?
f ^ c t n será Bezuíitão ? ) Ah pobres Se-
( 86 )
bastíanistas! Não lhes quero estâf na
pelle! Já/ digo, hãò he de àdmirar ern
homens desta têmpera rija, e boas fo»
lhas. Cada frase he penetrante como
huma sovina-: mas que admiração foi a
minha , quando li o escrito da Tia M a -
ria ! Quando esperava achar hum génio
brando, meigo, e assucarado, acho hum
vinagrão,'que faz arripiar ócabelío. Ou-
tro dia disse eu cá com cs meus botões
»>~Ora se houvesse hum curioéo , que
ajuntasse toda 1 enorme papel lada Sebas-'
tica que tem sahido, e quizesse fazer
hum Diccioriario dos nomes affrontosos i
qUe alli" se achão contra mim-, e contra
es Sebastianistas, forte 'gasto teria o tal
DicCionario na Ribeira Nova , e suas
Com missa rias volantes de pregão, e ce*
lha!V '
Ora pois,-senão são Sebastianistas ,
è se atacão tanto os Sebastianistas, para
que escrevem ? Para nadaf? Tres coisas
me fiaêrão admirar, huma cm Sá, ou-
tra em^Rocha Pato, outra em Pinheira.
Em Sá -, dizer que eu quiz com a
mãozinha do Folheto dar saque ás algi-
beiras dos amigos, e elle vender o seu.
Em Rocha Pato, ser D. Quixóte huma
personagem ideal, e não valer a com-
paração para os Sebastianistas; e quando
( 87 )

toe compárão com elle, não ser perso-


nagem ideal, e valer a compaiaçao. Era
Pinheira, vêr a auspéra moral com que
se manda restituir o dinheiro, que se tem
levado ao Público pelos papeis Sebasti»
cos, e ella vender por quatorze vinténs ^
quatro folhas de papel pardo 1 Em tudo
são raros, extraordinários, únicos Os im-
pugnadores do triste Li,vrinho W Os Se-,
bastianistas. >» Não ha estratagema algum
de guerra, que contra mim senão haja
empregado, e he tal o furor, que lhe mi-
nistra todas as armas. Hum Religioso de
certa Ordem compoz hum Entremez sem
outro titulo mais que e s t D r a m a , 9:
foi elle mesmo vendello á Companhia
da Rua dos Condes , elle mesmo o foi
ler ao T h e a t r o n e s t e Entremez, que faz
chorar contra a natureza dos Entremezes ,
"diz o Religioso es*as palavras: Sou Se-
bastianista, §fui.|Sebastianista,| hei âe
ser Sebastianista, •bcizàè: morrer Sebas-
tianista t • e hei .de resuscitar Sebas-
tianista-. Isto;he eoisa bem notável! Re-
suscit ar SzbastianistalQtieT dizer, que
depois da, ressurreição universal ainda
este, homem ha de esperar pela vinda
delRei D. Sebastião ,' porque a isto he
que se chama ser Sebastianista. Pode che-
gar a mais o excesso da :4emeacia ha»
( 88 )
mana ? A Impugnação Artalytica de Ró?
cha Paro ainda formiga em ^ôísã^mais
estranhas Vle desusadas ;-e entre eílas hu-
ma. digna de perpétua lembrança , e de
attenção de todo o género humano. Os
motivos, por que na segunda proposição
do triste e mâlfàdadtK Livrinho ...chamo
mãos Vassalios; aos Sebastianistas, são os
I procediméntos ," ditos , e factos dòàSebas-
m m ^ í respoito do Encoberto , que
y' não acaba de ápparecer j.-e concluo , que
e
lles julgáo intrusa a Dynastia reinante 1
c que,por isto são máos Vassalios, por-'
.quejar Dynastia reinante he a legitima ,
: e não òutçò que* ja : não Existe. E« sou ó
que arguo os Sebastianistas, porque não
reconhecem a incontestável legitimidade,
que faz Rócha .Pato , não faz nada, e
começa hunna lpriga Dissertação Lógico-
Juridica j sem subtilezas: do Rcmamsmo,
na qual me prova a mim , a quem cha-
ma Herège Logico-Juridico, que a nossa
Augusta Soberana Jíe lçgitima Imperan-
te destés Reinos^.p^rque éstd dê l>t>à
• fé! no seu Prédio, . furor igual'a este *
| furor } Em qué?pâgina i;-;em que lugar
do Livro nego eu o que, se me próva. E u
WÊm
que temos huma Soberana legitpr ;
ma, »clamo contra os Sebastianistas por
esperarem outro; e sou, a r g u i d o / e des*
( 89 )
^composto, como se eu negasse o que af-
,firmo. Produzem próvas, como se eu du-
vidasse. E são estes homens os que tem
a bocca cheia de Lógica ! São estes os
que berrão contra a má Lógica da minha
jtriste cabeça li Vio-se ^ bò> Mundo desfem*
pero, e inconsequência igual ?
O tempo corre, e traz, comsigo .coi-
sas noyas,: aqui chegava com estéAppen-,
dix hoje 20 de Junho, eis-qUe me vem 3
mão hum miserável. folhetinho intitulado
Syllogismo refutado _ pelo cheiro & Bor-
ras de Lógica conheci o seu autor, A es-
te podrissimo, e cadavérico raciocínio já
está respondido definitivamente em-outro
folhetinho intitulado Mais Lógica. —
Mas este homem -quemquer que seja,
apresenta-se com tanta ufania { como se
trouxera affinadas as teclas do Órgão; que
he» preciso.derruballo , edeixallo'pernear ,
como fazem todos os o u t r o s c o i s a que
se nãò prohibe nas Sentenças de morre.
Pcrnôe , irmão, peijièe, que o Encober-
to não chega; metta no escuro os docu-
mentos | que eu aliego e lembre-se só
si da Sentenqa do façarnoso , revoltoso y. in-
trigante ; e maléiolo Fieira , como lhe
, chama a Deducção Ghronòlogia metta:»:;':
torno a dizer; ^ no escuro os Edrtaes do
k Senhor Rei D. José ,* em qhe manda quei-
( 90 )
War pela mão do Carrasco todas as tró-
vas dos Sebastianistas , a que elles cha-
mão Profeciasfixe-se unicamente nacon-
demnação de Viçira j isso basta. Faz o
seu Syllogismo e quando chegamos a me-
nor , se eu lhe disséra baixinho _ nego
minorem com que a havia elle proyarí
A menor pois"he esta: pag. 6.
Atqui. Os Sebastianistas de hoje nao
tem por indubitáveis, einfalliveis as Pro-
fecias do Ban iaria. i /
, ..Isto he querer zangar de todo a pa-
ciência humana. Como o Autor não se
nomêa, posso desafogar, edizer — quem-
quer que sejas, vem tu cá, Besta muar,
quem he o que não ouve dizer continua-
mente aos Sebastianistas, que esperão D.
Sebastião ? E porque esperão este prodí-
gio ? Porquê o dizem os Profetas. Que
coisa são Profetas ? Homens divinamente
inspirados | | a quem Deos dá o conheci-
mento defuturòs incognitos á razão. Que
Coisa he a vinda1 dilRei D. Sebastião?
He hum prodígio futuro , e inçognito.
Quem dizes tu que o annuncía t O Ban-
darra. Para o annunciar que he preciso ?
Ser divinamente inspirado. Ergo, Ergo,
Ergo. Besta muarj tu diíes, tu crês, tu.
assoalhas que Bandarra he Profeta | por
isto foi condeajnado Vieira y 'tu incorres
( 91 )
na mesma condemnação, porque dizes o
mesmo, e és máo Christão. E não re9- ,
ponderai mais a Bestas muares.
' Faz estè homem hum Syllogismo con-
tra mim , e diz que prova que eu sou
máo Christão, máo Cidadão, máo Vas-
sallo , e o maiof de todos os tolos. Por-
que,? Porque digo — Raca,Raca, por-,
que chamo nomes aos Jesuitafc , porque
metto a bulha homens Sábios, Pios, e Re-
ligiosos. Concedo" totum. Então por iáto
vem elRei D. Sebastião ? Pois deixe-o vir.
Por eu ser tudo isto, segue-se que os Se-
bastianistas não são ó que eu digo?.Isso
agora mais devagar. Ora qual he o ho-
mem sensato J que não veja nisto huma
briga de Regateiras ? Vos sê \ sâ Sebas-
tianista , be tolo. ' Também vossê he to*
lo, íê Artt fcSébastianistã. Souk meu ir-
mão;, 'e bem tolo-he quem se lhe mette
em eabeça emendar íolos. /.
8 Ora como eu promettO ao Público
calar-me desta vez para sempre sobre Se-
bastianistas , he preciso não :deixaf im-
perfeita esta fornada. Chega o furor dos
Maníacos a tanto, que se oppóe a torto
e direito a tudo quanto eu digo. O Mea-
do está cheio de Livros contra os Jesuítas
desde a sua origem até a sua extmção.
hiò hé innegavel. Homens respeitáveis por
( 92 )
caracter, por .santidade, por doutrina /es-'
crevêrão contra os malvados Jesuítas, cau-
sa de tantos males. Os Tribunaes de to-
das as Naçdes, onde existirão , os Parla-
mentos da França Catholica^da França
I i I Íuscrada ; c o n demnárão todosf e enforca-i
ião alguns; os processos existem. Os So-
beranos da França de Portugal ,- e de
HejpanhaiDs'expulsarão. Ò PontificeCie-'
mentevXIV. os extingeio. M Bulla deste'
Pontífice, dirigida ao Cardeal MalveííÊ
Legado de Bolonha, os manda prender ,
sequestrar » exterminar^ A historia:do af-
: feçtado Reino do Paraguai os faz abomi-
nar pôr tod os os Povos , qUàndo sé viò
hum calças daqudles feito Rei Nicoíáoí.'v
com artilheiros Alemães a seu serviço; E l -
les arruináríío as Universidades, forão càu-1
sa da decadençia da lit-teratura em Pórtu-"
g^- A Cacleira de Diogo de Teive foi-
substituída-porihum roupeta asselvajado.
Ninguém.podia saber senão aquillo que
os Jesuítas deixavao saber. A sua Moral -
era a maiscoriompida, forão convencidos
de Regicidas, elles aguçarão os punhaes
de Jacob ^ C l e m e n t e d e Ravaillac, de
ThomásRób^ro 3 «FranciscoDamiens,rid'
dé Robéspierre , irmão de sua mãi. Por
isto forão punidos João de Matos, João
Alexandrej Gabriel Malagrida. Pascal , o-
( 93 )
profulldo Mathematico Pascal , o sublí-*
missimo Metafísico Pascal empregou
o seu milagroso' talento em os combater
sem réplica. A respeito da 'sua decanta-
da litteratúra já disse no Folheto "Os
Sebastianistas — que tres ou quatro se
distinguirão;- e póde-se dizer, que e-tés
não erãoJesuítas, não sabião, nem entra-
iSíoVnq. Concelho das trévas., o Astrono-'|
too, José Rogério Boscovik; depois dffl
Companhia extihcta perguntou, que/çrá 1
aquillo ? Eú ainda lhe accrescentarei mais
litteratos , não o triste' Escolástico Igna-,
«çio Monteiro',, mas o'grande, oincovn^?
paravel-, o máximo litterato João Baptist
ta Roberti, que mereceo esta honra , 1.°-;
dizir-se em Italia , que a sua exiítencia
^doçava a" saudade na morre do Conde
Francisco A Igaroti : a.° que o Pontífice
Clemente X l y . mandasse por Bulla espe-
cial , que se exceptuassem, para còm èlje
as. clausulas da Bulla da extinção-, • orde-
nando-lhe huma pensão, pecuniária do
thesouro Apostolico , em atténçaò ^ ^ua
: vastíssima litteratúra, raro merecimento;
;e cophécida virtude : e com effeito he
hum prodigío.:;;ME por isto sè devia con-
servarhum corpo, que aspirando á Mo-
narquia universaj , niá/darido com tudo
em pantàna^ Hum homem como este
(94)
Roberti deve dar o império íifterario" eí*
dusivamente aos Jesuítas ? E"as outras Cor-
porações Religiosas não valêm nada P Ora
cá em Portugal Egídio da Apresentação
não he mais que Soares Granatense ? Em
Itália Henrique Noris não he mais Ro-
berto Bellarmino ? Em summa ,os Jesuitai
erão péssimos, porque o dizem os Reis,
os". Papas, os Tribunaes, os Sábios, os
Santos ,' e mais que tudo a sua me^íia
conducta manifesta enuantos Livros, tan-
tos documentos, tantos tratados existep*
tespartos das mais doutas pennas. Mas
porque eu digo que os Jesuítas j sjío
máos, berrão os Sebastianistas, e tornáò
a berrar , que os Jesuítas são bons,
e que eu falto ao preceito da Carida-
de christí em os atacar, porque ergo huns
homens respeitáveis, sábios, e santos
dizem isto os Senhores Sebastianistas á
face de Jium Reino, onde os Jesuítas fo-
ra o origem de tantas desgraças ? Qnde
existe entre innymeraveis Livros huma De»
ducção Clironologicaque se não pode
dizer que he obra da paixão, ou do in-
teresse , porque toda ella, além de não
constar senão de factos públicos, e con-
servados todos na memoria dos homens,
he documentada com monumentos | | p *
tentes todos no RealArçhiyodaTorre
( 95 )
d» Tombo nos mesmos armários chama*
dos Jesuíticas. Monstros na verdade per-
versos , e eu me espantei sobremaneira
quando vi em o primeiro volume daspró-
vas da mencionada Deducqão Chronolo-
gica, que existia até hum, borrão origi-
nal do Jesuíta Nuno da Cunha , que- he
o autografo da Bulla attribuida a Ciemen-,
te VIII. sobre a entrega do Reino a el-
Rei D. Sebastião. E diz o Presbyrero
correspondente do Illustrissimo e Excel-
lentíssimo * * * em cujas salas nunca
entrarão as minhas palavras, que os Je-
suítas não fòrão os primeiros architectos
do Sebastianismo r
Mas quero dar por hum instante ao?
tresloucados Sebastianistas , que lie msn-
tira tudo quanto se diz em todos os Li-
vros, em todos os Decretos, e Leis dos
Soberanos , e Bulias dos Summos Pontífi-
ces a respeito dos crimes -dos péssimos
Jesuita9,' e que até as mesmas «iàrtas de
Pascal são huma solemne um postura , e
que nada do que diz este homem raro se
encontra em os Livros Jesuíticos. Di "So-
me , Senhores Sebastianistas. também se-
rá' falsa , maliciosa, e apócrifa a carta
da Rainha D. Carharina,escrita a S . Fran*
cisco de Borja , em-que lhe pede queira
sunover, e tirar de.-te Reino o Padre Luís
(96)
Gonçalves, Confessor de seu Neto 0 Se»
nhor Rei D. Sebastião, porque o deita-
va a perder, e fomentava ímpias divisões
e partidos entre os Vagsallos ? Carta ver-
dadeiramente enternecedora, e capaz de
compungir os corações mais duros. Ora
isto era ná origem da mesma Companhia,
e que será depois' que elles Começárão
a deirar os bracirihos de fora, e a apodé-
rar-se * dos Confessionários dos Prinei-
pes, e dos Grandes, à dominar os Pó»
vos , a tyrannizar a mocidade com o
iúgo dos seus chamados estudos !
Tsto he gaètàf' cêra com ruins defun-'
tos ; yerdades demonstradas por si mes-
mas -não necessitão de próvas | • nem de
amplMtações'; más fallo para que se Co-
nheça até que ponto chega a raiva , e
frenesi Sebastico na dysenteria de es-
.critcs publicados contra mim parâ me,
arguirem de mal intenciohado a respeito
dc Jcsuitas. Mas pára que me admiro
que haja quem faqa a apologia dos Je-
suítas só porque èu os ataco, se ha quem
faqa a apologia dos Sebastianistas ? Se
ao menos dissessem alguma coisa a pro*
posito, serião toleráveis os seus escritos;
mas atégora nada tem apparecido que
tenha g e i t o t u d o são contradicções, e
'íncohereficias. Fazem enormíssima carga
( 97 )
'Jãechamar Raca r Raca aos Sebastianis- ..
tas , e que sou réo ,;.do. Concellio , e que "*
sou réo do fogo; e èllçs tem esgottado
os erários da eloquência erri medescom-
'.-pôr/, em me atacar, não lia nome affoon-
toso -que • me não tenhão chamado , . e
chega a sua caridade a tanto, e são |ão
justos: estes .Pregadores da moderação,
que me atacão rio mesmo Officio, ou mi-
. nisterio, destruindo o pequeno conceito
que o Público possa fazer de mim, para
me tolherem os meios da existencia , coisa
/ na verdade. horrenda, e .são estes homens '
os que me repreliendem " deí chamar Ra-
ca, Raca aos. Sebastianistas g Se de es-
critos impressos eu quizêra passar a pa-
peis . Mss., que poderia eu dizer . aos
Senhoras Sebastianistas,, que querem ser
bons Çhristãos, vendo que não ha^Bote-
quim , onde elles mesmos, não vão ler
libeilos infamatorios, , .èViíijo^.ssUç^'-
;-Eis-aqui a sua boa moral como Chríç-,
V-tãos , eis-aqui a sua obediência corno
yassallos ás, Leis dos êobéfãnos y
dão i os Libeilos infamatorios , eistaqui
, como •elles são bons Cidadãos,, atacando
o ; crédito , de quem protestou' sempre,
SÉ que não atacava ninguém em pàrticulaí,
porque ainda que.falle em hum Doutor
Theologo , a Universidadcnao graduou
( 98 )
\ hum só; eis-aqui o juizo que elles tem ,
eppòrem des.composturas .á razões sóli-
das, a argumentos extrahidos de factos
públicos. Ao ultimo Logicão do Syllo-
gi ; mo sempre digo, que para atacar os
Sebastianistas nSó vai hum Syllogismo
qu£ tem quatro termos, e para me ata-
car a mim . faz elle mesmo bum Syllogis-
iao^%uètem mais de quatrocentos termos.
Era sobejo motivo para seenver-
gonharem , quererem defender os Sebas-
;tiauistas, buscando perpetuar hutna infru*
ctuosa mania , e que assim mesmo in-
fructuosa em quanto ao seu objecto , pô-
de ter consequências perigosíssimas, e de
que podem lançar mão os nossos inimi-
gos , fiuma mania que enxovalha o todo da
Nação, que ataca o crédito d'e homens
benemeritos, e que nos expõe a irrisão j
mas ha ainda mais sobejo motivo de se en-
vergonharem , vêr, que não tem tocado
a questão, que cantão fora do Côro,
que não produzem hum só argumento, que
conclua contra os meus argumentos ,'âlle-
gando huma só razão, por que haja de vir
o vEnçoberta. Tudo são subterfúgios f i -
diculos, objectos estranhos , descompos-
turas atrozes, digressões desloc^diSsima» ,
chufas insulsissimas destempéros sole-
mnes, erudições intempestivas, o que tudo
( 99 )
dá a conhecer ao homem sisudo, queês*
tão, e estarão sempre na impossibilidade
de responder , porque eternamente, exis-
tirão na impossibilidade de demonstrar, a
, inutilissima vinda do Encoberto, chegan-
do a tanto a sua fraqueza, que em seus
mesmos escritos impressos me tem chega-
do a pedir misericórdia, dizendo que de-
via deixar na consolação da sua errónea
crença aquelles pobres homens'',- e boas
gentes", que lá vivião tranquilloá com os
seus Cartapacios.
Ora finalizemos esta ridícula questão-,
em que os S,enhores Apologistas Sebas-
ticos renl exprimido tanto fel, com tan-
to ridicuJo de mistura ,jq-ue não se enver-
gonha d? dizer o Confessor . ao ..Pe^feri* !:
te »í eu tenho mais juizoque ©
D. M . » finalizemos com os SebroiíjfflÈs-
tás , e acabe isto com huma risada.-
Entre as tróvas dos maganões , que eu
prometti desfiar, e que assentei que erá
abusar até; da attenqão dos S^plentíssi-
mos Senhores Censoresexiste huma que
he o fundamento,- mais seguro das espe-
ranças Sebasçlcas , e que elles conservão
em tanta,:, veneração, que só ^ sé deixa vér
aos DefiaidOr-es da Ordem, e Çonsélheí-
s
ros secretos do Instituto dos mentecaptos
ou Rocas, Rocas, ella marca o dia
G2
( 100 )
m e z / e . anno, cm que^o cayallò de ma-
detraVdevegalopar. com o Encoberto no
lombo por aquellâ JBarra dentro, ei-Ia

Profecias de Thámàr Lamim, Mouri íi


negro'.
Depois de nove :
Juntftràs. hum
Tres' a quatro
•Tira sete de barato
Se' houver quem te reprove Y&r
He insensato.
Mui antes de succedido
| ^ Tens ouvido. •
Quando troaram as'peças
Contra DiancL-, . . . Diana s.íó»s íuíos.
Que com tres caras
> Já vem chegando
Se perguntas , quando ?
,Nao tenhas,, canceira
Olha bem para.a Figueira ';
ASe tem boraò. > p i i
J á Vem chegando ocVerão',.
Se vires o Gavião.; ^ g opi-mcípedeoan^
Deixar o ninho.
Sahir do mar o Golfinho . kircí jacobo.
A buscàr flores........................França.
Ouvirás muito?tambores........Guerra.
( 101 )
A Grifa semfructo...............Castellasemfilhos.
A serpe brotandomuito..........Portugalcomfilhos.
Canta o Gallo..................Victoria de França.
Treme o Leão.....................Temores de Castella.
A Gallinha mette a mão
Mas nada obra.........................O Papa medianeiro.
Agora apparece aCobra...........ElReyD.Sebastião.

Explicação

Pelos nove se entendem .......................900


Pelo hum se entende.............................100
que fazem.....1000

Pelos quatro se entendem 400 )


Pelos tres se entendem 300 ) 700
700 1700

Tirando-se 7 de barato, fícão...........................1693

Eis aqui pontualmente a Era prefixa


pelo maior dos Profètas Sebasticos T h a -
mar Lamim, Mouro negro, em que o En-
coberto deverá apparecer ,, 1693.
Qra digáo todos os Leitores, não
cahia aqui frizante aquelle meu antigo:
Vinde cá Bestas muares? Sim, vinde
( 102 ) i
ti "Bestes muares, ahi tendes mais Cem
annos pará raras,,e quebras, onde está
sumido este Encoberto r Ah grandigsis-;
simos Raças, dai-me conta do Encober-
t o , ponde-me pata filli o meu Encobei»
to , vós he qaè o tendes sumida Agora £.
agora he que era preciso , (isto he se
traz gente, e dinheiro, porque se vem
s ó , então espere hum bocadinho,) Ve-
nha ajudar o Heróe Wellesley., e f a m -
bem os Heróes Portuguezes, dispensemos-1
lhe O desembarque em Belém:, seja pela
Figueira , ou peio Porto , que fica mais
perto do theajro da' guerra : agora- , agOf
r a , que aiid-a com fóíquinhas o fanfarrão
Massena , que cuida a plebe que he o
João Burro dá França ,- e que vera quebrar
as Pe^s., ejiàs muralhas com'a cabeça.
E tu, ó Madre Leocadia, que ti-
veste a pouca vergonha de, jurar 1 , que
em hu%ia dás^jtuãs visões : te'' çassèra o
Ecaoberto , que elle mesmo viérá .em
pessoa ás Linhas d' Elvas / é que déra
pela sua? mão tamanha bofetada em Di*
Luís de Haro, que'lhe fizera esmechar
o; cangue |pelai veatàs^óra e que sem
esta bofetada mestra, nap forçafia as Li-
nhas o grande D. Antonio I^íá jâç Me-
neses, dijfce por vida tua ,ao Eiftcoberto
que venha, e depressa; e senãovem,
( 103 )
olhai vós Sebastianistas, que havemos
de estar pelo que diz a Folhinha da al-
gibeira, que sempre ha Livro que dá os
Dias Santos.

D. Sebastião Morrêò em Africa a


4 de Agosto de 1578.

Requiescat in pace. Amem.

FIM

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