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Expulsão dos jesuítas

Data do documento: 9 de Setembro de 1773


Local: Palácio de Nossa Senhora da Ajuda

“Dom José[1] por Graça de Deus Rei de Portugal[2], e dos Algarves[3], daquém, e
dalém Mar, em África[4] Senhor de Guiné[5], e da Conquista, Navegação, e Comércio da
Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia, &c. aos Vassalos de todos os Estados de Meus Reinos,
e Senhorios saude. O Nosso Mui Santo Padre Clemente XIV[6], ora Presidente na
Universal Igreja de Deus: tendo observado, examinado, e combinado ... não só todos os
fatos concernentes á Fundação, ao progresso, e ao último estado da Companhia
denominada de Jesus[7]; em ordem à Igreja Universal, e às Monarquias, Soberanas, e
Povos das quatros Partes do Mundo descoberto; mas também todas as revoluções,
tumultos, e escândalos, que nelas causou a Sobredita Companhia; todos os remédios,
com que não menos de vinte e quatro dos Romanos Pontífices seus Predecessores
haviam procurado ocorrer aqueles grandes males ...sem outros efeitos, que não fossem os
de se terem manifestado de dia em dia mais freqüentes as queixas, e os clamores contra a
referida companhia; e os de se verem abortar os mesmos tempos, em diferentes Reinos, e
Estados do Mundo, sedições, motins, discórdias, e escândalos perigosíssimos, que
destruindo, e quase acabando de romper o vínculo da Caridade Cristã, inflamaram os
ânimos dos fiéis nos espíritos de divisão, de ódio, e de inimizade; até chegarem a fazer-se
tão urgentes os referidos insultos, e os perigos deles, que os Mesmos Monarcas, que mais
se tinham distinguido na piedade, e na liberalidade hereditárias, em benefício da mesma
Companhia, foram necessariamente constrangidos; não só a exterminarem todos os
Sócios dela dos seus Reinos, Províncias, e Domínios, por ser este extremo remédio, o
único, que as urgências igualmente extremas podiam já permiti-lhes para impedirem, que
os Povos Cristãos dos seus respectivos Reinos, e Domínios se provocassem,
ofendessem, e lacerassem uns aos outros dentro do seio da Santa Madre Igreja, e dentro
nas suas mesmas Pátrias ...Depois de haver concluído demonstrativamente o mesmo
Santo Padre, que a sobredita Companhia não só não podia já produzir, a benefício da
Igreja, e dos fiéis Cristãos, aqueles copiosos frutos, que haviam feito os objetos da Sua
Instituição, e dos muitos Privilégios, com que fora ornada; mas que muito pelo contrário
era impraticável, que a conservação da dita Sociedade fosse já compatível com a
restituição, e conservação da constante, e permanente Paz da Igreja Universal, e da
Sociedade Civil, e união Cristã ...Ordenou a sua Bula[8] em forma de Breve[9], ... no dia
vinte e um de Julho deste ano quinto do seu Pontificado. Por ele de seu maduro Conselho,
certa ciência, e plenitude do Poder Apostólico, extinguiu, e suprimiu inteiramente a mesma
Companhia chamada de Jesus: Abolindo, e derrogando todos, e cada um de seus Ofícios,
Ministérios, Administrações, Casas, Escolas, Colégios, Hospícios, Residências, e
quaisquer outros lugares a elas pertencentes, em qualquer Reino, Estado, ou Província,
que sejam existentes; como também todos os seus Estatutos, Constituições, Decretos,
Costumes, e Estilos; todos os seus Privilégios, e Indultos Gerais, ou especiais, por mais
exuberantes que sejam: Declarando inteiramente cassada, e perpetuamente extinta toda a
autoridade Propósito Geral, de todos os Provinciais, Visitadores, e de quaisquer outros
Superiores da dita Sociedade, assim nas cousas Espirituais como nas temporais ...E
mando ao Doutor João Pacheco Pereira do Meu Conselho, e Desembargador
do Paço[10], que serve de Chanceler Mor[11] destes Reinos, que faça publicar esta na
Chancelaria, e remeter as copias dela debaixo do Meu selo, e seu final a todos os
Tribunais, Cabeças de Comarcas, Vilas destes Reinos, e Terras de Donatários deles,
enviando-se o original dela ao meu Real Arquivo da Torre do Tombo[12]. Dada
no Palácio de Nossa Senhora da Ajuda[13] aos nove dias do mês de Setembro do Ano
do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos setenta e três. EL REY
Com Guarda."

[1]JOSÉ I, D. (1714-1777): sucessor de d. João V, foi aclamado rei em setembro de 1750,


tendo sido o único rei de Portugal a receber este título. Considerado um déspota esclarecido
– monarcas que, embora fortalecessem o poder do Estado por eles corporificado, sofriam
intensa influência dos ideais progressistas e racionalistas do iluminismo, em especial no
campo das políticas econômicas e administrativas – ficou conhecido como o Reformador
devido às reformas políticas, educacionais e econômicas propostas e/ou executadas
naquele reinado. O governo de d. José I destacou-se, sobretudo, pela atuação do seu
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, marquês de Pombal, que
liderou uma série de reestruturações em Portugal e seus domínios. Suas reformas
buscavam racionalizar a administração e otimizar a arrecadação e a exploração das
riquezas e comércio coloniais. Sob seu reinado deu-se a reconstrução da parte baixa de
Lisboa, atingida por um terremoto em 1755, a expulsão dos jesuítas do Reino e domínios
ultramarinos em 1759, a guerra guaranítica (1754-56) contra os jesuítas e os índios guaranis
dos Sete Povos das Missões, a assinatura do Tratado de Madri (1750), entre Portugal e
Espanha que substituiu o Tratado de Tordesilhas, entre outros. Em termos administrativos,
destacam-se a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, a
criação do Erário Régio e a divisão do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão em dois:
Maranhão e Piauí, e Grão-Pará e Rio Negro.
[2]PORTUGAL: país situado na Península Ibérica, localizada na Europa meridional, cuja
capital é Lisboa. Sua designação originou-se de uma unidade administrativa do reino de
Leão, o condado Portucalense, cujo nome foi herança da povoação romana que ali existiu,
chamada Portucale (atual cidade do Porto). Compreendido entre o Minho e o Tejo, o
Condado Portucalense, sob o governo de d. Afonso Henriques, deu início às lutas contra os
mouros (vindos da África no século VIII), das quais resultou a fundação do reino de Portugal
no século XIII. Tornou-se o primeiro reino a constituir-se como Estado Nacional após a
Revolução de Avis em 1385. A centralização política foi um dos fatores que levaram o reino
a ser o precursor da expansão marítima e comercial europeia, constituindo vasto império
com possessões na África, nas Américas e nas Índias ao longo dos séculos XV e XVI. Os
séculos seguintes à expansão foram interpretados na perspectiva da Ilustração e por parte
da historiografia contemporânea como uma lacuna na trajetória portuguesa, um desvio em
relação ao impulso das navegações e dos Descobrimentos e que sobretudo distanciou os
portugueses da Revolução Científica. Era o “reino cadaveroso”, dominado pelos jesuítas,
pela censura às ideias científicas, pelo ensino da Escolástica. Para outros autores tratou-se
de uma outra via alternativa, a via ibérica, sem a conotação do “atraso”. O século XVII é o
da união das coroas de Portugal e Espanha, período que iniciado ainda em 1580 se
estendeu até 1640 com a restauração e a subida ao trono de d. João IV. Do ponto de vista
da entrada de novas ideias no reino deve-se ver que independente da perspectiva adotada
há um processo, uma transição, que conta a partir da segunda metade do XVII com a
influência dos chamados “estrangeirados” sob d. João V, alterando em parte o cenário
intelectual e mesmo institucional luso. Um momento chave para a história portuguesa é
inaugurado com a subida ao trono de d. José I e o início do programa de reformas encetado
por seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal. Com
consequências reconhecidas a longo prazo, no reino e em seus domínios, como se verá na
América portuguesa, é importante admitir os limites dessa política, como adverte Francisco
Falcon para quem “por mais importantes que tenham sido, e isso ir-se-ia tornar mais claro a
médio e longo prazo, as reformas de todos os tipos que formam um conjunto dessa prática
ilustrada não queriam de fato demolir ou subverter o edifício social” (A época pombalina,
1991, p. 489). O reinado de d. Maria I a despeito de ser conhecido como “a viradeira”, pelo
recrudescimento do poder religioso e repressivo compreende a fundação da Academia Real
de Ciências de Lisboa, o empreendimento das viagens filosóficas no reino e seus domínios,
e assiste a fermentação de projetos sediciosos no Brasil, além da formação de um projeto
luso-brasileiro que seria conduzido por personagens como o conde de Linhares, d. Rodrigo
de Souza Coutinho. O impacto das ideias iluministas no mundo luso-brasileiro reverberava
ainda os acontecimentos políticos na Europa, sobretudo na França que alarmava as
monarquias do continente com as notícias da Revolução e suas etapas. Ante a ameaça de
invasão francesa, decorrente das guerras napoleônicas e face à sua posição de fragilidade
no continente, em que se reconhece sua subordinação à Grã-Bretanha, a família real
transfere-se com a Corte para o Brasil, estabelecendo a sede do império ultramarino
português na cidade do Rio de Janeiro a partir de 1808. A década de 1820 tem início com o
questionamento da monarquia absolutista em Portugal, num movimento de caráter liberal
que ficou conhecido como Revolução do Porto. A exemplo do que ocorrera a outras
monarquias europeias, as Cortes portuguesas reunidas propõem a limitação do poder real,
mediante uma constituição. Diante da ameaça ao trono, d. João VI retorna a Portugal,
jurando a Constituição em fevereiro de 1821, deixando seu filho Pedro como príncipe
regente do Brasil. Em 7 de setembro de 1822, d. Pedro proclamou a independência do Brasil,
perdendo Portugal, sua mais importante colônia.
[3]ALGARVE: província situada ao sul de Portugal. Com o fim do Império Romano, foi
invadida por diversos povos bárbaros, como vândalos e suevos, mas primordialmente pelos
visigodos. Estes disputaram a região com o Império Bizantino ao longo do século VI, mas
foi a partir do VIII que a região esteve sob domínio mouro até 1249, quando foram expulsos
por d. Afonso III (1210-1279), dando início ao processo de formação do Estado português.
O Tratado de Badajoz, de 1267, estabeleceu definitivamente o pertencimento do Algarve a
Portugal, apesar das pretensões do reino de Castela. Entre os séculos XV e XVI, constituiu
uma das seis comarcas que dividiam Portugal, até que, após o censo efetuado entre 1527
e 1532, se desse início à criação de novas comarcas por meio da subdivisão das antigas,
denominadas a partir de então províncias ou regiões. O Algarve faz parte da história dos
Descobrimentos, tendo do porto de Lagos partido as primeiras expedições portuguesas em
direção ao Marrocos e à costa oeste africana. Outro elo com a história da expansão marítima
europeia estaria no papel desempenhado pela região de Sagres, embora a historiografia
contemporânea tenha desfeito o mito da Escola de Sagres, uma aula de navegação criada
pelo infante d. Henrique (1394-1460). No final do século XVI, durante a União Ibérica, a
região foi atacada por corsários e piratas ingleses, que chegaram a saquear e afundar naus
da Carreira da Índia portuguesa. Também nesta época surgiram as ameaças de uma
invasão britânica, em decorrência do ataque e da tomada de Cádiz, que obrigaram o Reino
a proteger suas fronteiras marítimas, fazendo surgir na região do Algarve fortes e outras
construções voltadas para defesa dos portos e cidades, destacando-se Vila Nova de
Portimão, Lagos e Tavira. Apesar de referido como Reino Unido a Portugal, essa divisão
oficialmente nunca chegou a existir. Provavelmente resultou do fato de a província ter tido
uma identidade própria, diferente do restante de Portugal, desde a época da Reconquista
devido à variedade de povos que habitaram a região em diferentes momentos.
[4]ÁFRICA: os portugueses foram os primeiros navegadores a conquistar o litoral da África,
adquirindo grande experiência marítima pelo Atlântico, o que ficou conhecido como périplo
africano – circundar a costa do continente para chegar ao Oriente. Nos séculos XVI e XVII,
multiplicaram-se as feitorias europeias ao longo do litoral: portugueses em Angola e
Moçambique; ingleses, holandeses e franceses na Guiné, estando estes últimos também no
Senegal. O estabelecimento de entrepostos criaria fortes laços comerciais entre pontos da
costa africana, a América e a Europa, estimulados, sobretudo, pelo comércio da escravatura.
A presença de portugueses na África transformaria a captura de escravos – a escravidão
doméstica já existia no continente, mas em proporções menores e com características
distintas – em uma atividade corriqueira e sistemática, formando uma rede do comércio que
ligaria os portugueses na costa às rotas comerciais no interior da África e o Novo Mundo.
Ao longo de três séculos, calcula-se que cerca de 10 milhões de africanos escravizados
foram levados para as Américas. O tráfico atlântico de escravos africanos tornou-se força
motriz de uma atividade econômica extremamente vantajosa, tanto para comerciantes lusos
e luso-brasileiros, quanto para líderes africanos que passaram a controlar esse comércio.
Se cativos eram importantes para a colonização da América portuguesa, os produtos
coloniais como a mandioca, o tabaco e a cachaça, também despertavam interesse entre a
população africana, garantindo um fluxo contínuo entre as duas margens do Atlântico. Em
meados do século XIX, a África tornar-se-ia palco de disputas entre as principais nações
europeias, na busca da exploração de suas riquezas e da conquista territorial, cerne do
processo de expansão imperialista.
[5]GUINÉ-BISSAU: possessão portuguesa desde 1479, sua ocupação se efetivou com a
fundação da vila de Cacheu, em 1588, e o estabelecimento da capitania geral da Guiné
portuguesa, em 1630. Em finais do século XVII edificou-se a fortaleza de Bissau, período
em que os franceses começavam a afirmar a sua presença na região, e foi restabelecida a
capitania de Bissau (1753). A região da Guiné foi uma das principais áreas de abastecimento
de mão de obra escrava para as colônias ultramarinas. A designação Guiné acompanhou a
expansão marítima portuguesa, englobando diversos pontos da costa ocidental, como
Congo, Costa da Mina, Angola e Benguela, nomeando as primeiras conquistas da África.
[6]GANGANELLI, GIOVANNI VICENZO (1705-1774): eleito papa com o título de Clemente
XIV, em 1769, seu pontificado compreendeu o período de 1769 até o ano de 1774. Frade
da Ordem dos Menores Conventuais, professor de teologia, diretor do colégio São
Boaventura (1740) e consultor do Santo Ofício (1746), tornou-se cardeal em 1759. Como
papa, ocupou-se da questão da extinção da ordem dos jesuítas, que se estendia desde o
pontificado de seu predecessor, Clemente XIII. Diante da solicitação feita pelos Estados
católicos, Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773, por meio da bula
Dominus ac Redemptor noster.
[7]JESUÍTAS: ordem religiosa fundada em 1540 por Inácio de Loyola e marcada por severa
disciplina, profunda devoção religiosa e intensa lealdade à Igreja e à Ordem. Criada para
combater principalmente o protestantismo, sua fundação respondeu à necessidade de
renovação das ordens regulares surgida das determinações do Concílio de Trento (1545-
1563). A instalação da Companhia de Jesus em Portugal e nos seus domínios ultramarinos
deu-se ainda no século XVI. O primeiro grupo de missionários jesuítas chegou ao Brasil em
1549, na comitiva de Tomé de Souza. Seus membros eram conhecidos como ‘soldados de
Cristo’, dadas as suas características missionárias. Responsáveis pela catequese, coube
também, aos jesuítas, a transmissão da cultura portuguesa nas possessões americanas por
meio do ensino, que monopolizaram até meados do século XVIII. Fundaram, por todo
território colonial, missões religiosas e aldeamentos indígenas de caráter civilizador e
evangelizador. Em fins do século XVII, o modelo missionário já estava bem consolidado,
difundido por quase toda a América, e os jesuítas acumulando grande poder. Os primeiros
jesuítas a chegar ao Maranhão, em 1615, foram os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes,
detentores de uma posição privilegiada na região, tanto na evangelização e defesa dos
índios, quanto no monopólio do comércio e armazenamento das drogas. São de religiosos
da Companhia de Jesus relatos sobre os primeiros séculos da colonização. O padre italiano
João Antonio Andreoni (André João Antonil) publicou em 1711 Cultura e opulência no Brasil.
História da Companhia de Jesus no Brasil escrito por Serafim Leite, os dois volumes de
Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas (1722-1776) do padre João Daniel, Tratados
da terra e gentes do Brasil de Fernão Cardim e os numerosos sermões e cartas da Antonio
Vieira são testemunhos importantes e reveladores do Brasil colonial. Os jesuítas também
foram os responsáveis por espalhar a língua dos Tupinambá, chamada língua geral
(nheengatu), largamente falada no Brasil até meados do século XVIII. O grande poderio e
influência dos jesuítas na América portuguesa foram contestados durante a administração
pombalina (1750-1777), gerando um conflito de interesses entre a Companhia de Jesus e o
governo, que culminou com a expulsão dos membros dessa ordem religiosa em 1759. Cabe
ressaltar que a decisão de expulsar os jesuítas de Portugal e de seus domínios, tomada pelo
marquês de Pombal, não buscava reduzir o papel da Igreja, mas derivava da intenção de
secularizar a educação, dentro dos moldes ilustrados.
[8]BULA: documento pontifício relativo a temas de fé ou de interesse geral, concessão de
graças ou privilégios, assuntos judiciais ou administrativos, expedido pela Chancelaria
Apostólica e autorizado por selo estampado com tinta vermelha. O termo do latim "bulla"
refere-se à forma externa do documento, que antigamente era lacrado com uma pequena
"bola" (cápsula metálica redonda) utilizada para proteger o selo de cera unido por um cordão
a um documento de especial importância, com o fim de certificar sua autenticidade e,
consequentemente, sua autoridade. Dependendo da solenidade ou da importância do
assunto, tais diplomas receberiam selo de prata ou, ainda mais raro, de ouro, dando origem
às bulas argênteas e bulas áureas. Com o tempo, "bulla" passou a indicar também o selo e
depois todo o documento selado, razão pela qual hoje é empregado para todos os
documentos papais de especial importância, que possuem, ou, pelo menos,
tradicionalmente deveriam conter, o selo do pontífice.
[9]BREVES: surgiram como documentos pontifícios a partir do século XV, durante o
pontificado de Eugénio IV. Distinguem-se das bulas por serem instrumentos destinados a
comunicar resoluções com mais rapidez e menos formalismos. Um breve apostólico ou
breve pontifício é um tipo de documento circular assinado pelo Papa e referendado com a
impressão do Anel do Pescador. Refere em geral atos administrativos da Santa Sé.
Geralmente os breves não contêm nem preâmbulo nem prefácio e tratam de um único tema.
[10] MESA DO DESEMBARGO DO PAÇO (LISBOA): também chamada de Tribunal do
Desembargo do Paço, foi o mais alto órgão da administração central portuguesa até o século
XIX, que regia o Reino, e não o Ultramar. Este tribunal, estabelecido no reinado de d. João
II (1481-1495) mas somente efetivado no período de d. Manuel I (1495-1521), era o tribunal
supremo da monarquia, responsável por questões relativas à justiça e à administração civil
do reino no âmbito da Graça. Tornou-se autônomo em relação à Casa de Suplicação em
1521, recebendo novo regimento. Até o reinado de d. Sebastião I, suspenso em 1578, quem
presidia o Tribunal era o próprio rei, o que passou a não ser mais obrigatório com uma
mudança instituída durante os reinados Filipinos (1580-1640). Constituído por um corpo de
magistrados, já então denominados desembargadores do Paço, recrutados principalmente
entre os eclesiásticos, teólogos e juristas experientes, este órgão da administração central
da coroa, possuía uma grande variedade de incumbências, tendo suas funções revistas e
ampliadas por sucessivas alterações de regimento, dentre as quais compreendiam: a
concessão de cartas de perdão e cartas de privilégio; concessão de perdões reais,
suspensão de degredos; a dispensa de idade e de nobreza para servir nos cargos de
governo; comutação de pena aos criminosos; restituição de fama e outras mercês
semelhantes; a legitimação e emancipação de filhos; a concessão de licença para impressão
de livros; deliberando, ainda, sobre o recrutamento e provimento de juízes e arbitrando
conflitos entre os demais tribunais da Coroa; entre outras questões. A vinda da corte para o
Brasil em 1808 acarretou a criação da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e
Ordens no Rio de Janeiro, por meio do alvará de 22 de abril daquele ano, que incorporou
parte dos encargos da Mesa da Consciência e Ordens de Lisboa. No entanto, a Mesa do
Desembargo do Paço do Reino continuou a existir, sendo extinta apenas em 1833, no
âmbito da guerra civil entre liberais e absolutistas, suas atribuições passando para as
Secretarias de Estado do Reino e dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça.
[11]CHANCELER: guarda-selos. Funcionário do governo encarregado de chancelar
documentos ou diplomas tornando-os autênticos. Era o magistrado responsável pela guarda
do selo real.
[12]REAL ARQUIVO DA TORRE DO TOMBO: arquivo instituído na Torre do Tombo do
Castelo de Lisboa no século XIV. A Torre do Tombo, durante o Antigo Regime, foi
essencialmente composta do arquivo do rei, ou da Coroa, sendo o lugar onde se guardavam
todos os tipos de registros oficiais, tais como: tombos de registro e demarcação de bens e
direitos, documentos da Fazenda, capítulos das Cortes, livros de chancelaria, registros de
instituição de morgados e capelas, testamentos, forais, sentenças do juiz dos feitos da
Coroa, bulas papais, tratados internacionais, correspondência régia e outros documentos.
Desde 1378, o mais importante arquivo português denomina-se Torre do Tombo, uma vez
que os principais documentos que o rei mandava guardar – o Recabedo Regni, ou Livro do
Tombo, onde se registravam as suas propriedades e direitos – localizavam-se na torre
albarrã, do castelo de São Jorge, em Lisboa. Em 1755, esta torre foi destruída no terremoto
que abalou Lisboa, sendo o arquivo acomodado, provisoriamente, em parte do mosteiro de
São Bento, onde hoje está o edifício da Assembleia da República. A invasão das tropas
bonapartistas em 1807 colocou em risco os arquivos portugueses, com o embarque dos
fundos de secretarias de governo para o Brasil. Os arquivos da Torre do Tombo
permaneceram no reino, mas foram selecionados e encaixotados diante da reentrada dos
franceses em 1809 e da ameaça de tomada de Lisboa no ano seguinte, quando se discutiu
que documentos deveriam ser embarcados para o Rio de Janeiro. Afastados esses riscos
esses arquivos não foram afinal deslocados para a colônia (MARTINS, Ana Canas Delgado.
Governação e arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais,
[2007]). Na década de 1990, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo foi transferido para um
moderno edifício-sede, com amplas instalações, na cidade universitária de Lisboa.
[13]PALÁCIO REAL DA AJUDA: foi construído em Lisboa, no século XVIII, em função da
destruição do Paço da Ribeira, então sede do governo, causada pelo terremoto de 1755,
durante o reinado de d. José I. O Palácio da Ajuda foi edificado em madeira para melhor
resistir aos abalos sísmicos e serviu residência oficial da monarquia portuguesa durante
cerca de três décadas. Durante seu governo, marquês de Pombal mandou construir à volta
do palácio o primeiro jardim botânico de Portugal. Em 1794, um incêndio destruiu por
completo a habitação real e outro palácio em pedra e cal foi projetado. A construção do novo
palácio se estendeu por mais de sessenta anos, durante os quais o palácio ora serviu de
residência real (quando monarcas escolhiam alas já habitáveis do palácio como moradia),
ora assumia plano secundário. As obras na estrutura do edifício foram concluídas em 1861,
durante o reinado de d. Luís I.

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