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A remissão para os ordenamentos jurídicos complexos

Referências jurisprudenciais:
Ac. do Supremo Tribunal de Justiça de 16 de maio de 2018, proc. 2341/13.8TBFUN.L1.S1

Caso n.º 13
Mark, cidadão dos Estados Unidos da América, residente até 1999 em San Diego
(Califórnia) e a partir dessa data em Lisboa, e Teresa de nacionalidade portuguesa, pretendem
casar em Lisboa.
Determine, sabendo que:
i) nos E.U.A. não existe direito interlocal ou DIP unificado;
ii) o direito de conflitos da Califórnia considera-se competente para regular a capacidade
matrimonial de Mark.
face a que lei ou leis, deve o Conservador do Registo Civil aferir a capacidade
matrimonial dos nubentes.

Caso n.º 14
António, português, residente habitualmente em Lisboa, é proprietário de um terreno
situado no Estado do Texas, nos Estados Unidos da América. Atualmente surgiu um litígio com
Bob, cidadão dos EUA, residente habitualmente no Texas, e proprietário de um terreno
confinante com o de António. Bob alega que se constituiu uma servidão de passagem no
terreno propriedade de António em favor do seu terreno.
Determine, sabendo que nos E.U.A. não existe direito interlocal ou DIP unificado, qual
a lei competente para determinar se o terreno de António está ou não onerado com uma
servidão de passagem.
Fraude à lei

Caso n.º 15
António, português, quer privar da legítima, Bruno, seu filho, para deixar todos os seus
bens a Carla, sua segunda mulher. Com vista a obter este resultado, António obtém a
nacionalidade do Reino Unido e dispõe, ao abrigo do Direito inglês, dos bens imóveis que se
situam em Portugal e que integram toda a sua herança a favor de Carla.
Todavia, António continuou a viver em Portugal e a comportar-se como português.
Atendendo a que:
a) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
b) O Reino Unido não contém normas de Direito Internacional Privado ou de Direito
Interlocal unificadas;
c) A lei inglesa remete para a lex rei sitae;
d) Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução.

Admitindo que António faleceu em 30 de maio de 2015:


1. Determine qual a lei aplicável à situação em análise.
2. Quid juris se o António tivesse, nos termos da Lei da Nacionalidade, renunciado à
nacionalidade portuguesa?
3. Igual à questão 2, mas António, a partir do momento em que renunciou à nacionalidade
portuguesa, passou a fazer a sua vida em Londres?
4. A sua resposta seria a questão 1 seria a mesma se António tivesse falecido em 27 de
agosto de 2018 e o testamento tivesse sido redigido em dezembro de 2016, contendo uma
disposição expressa de escolha da lei inglesa?
As normas de aplicação imediata

Caso n.º 16
Em 20 de novembro de 2010, Joaquim, português com residência habitual em frança,
após ter visto um anúncio da Sociedade Painters'R'Us, com sede na Alemanha, no jornal Le
Monde, contactou-a com vista a celebrar um contrato de prestação de serviços de pintura das
suas casas de férias situadas no Algarve e na Espanha.
O contrato foi celebrado mediante recurso a cláusulas contratuais gerais fixadas pela
Sociedade Painters'R'Us. Nas cláusulas contratuais gerais dispunha-se que:
- "A lei reguladora deste contrato é a lei francesa.";
- "São competentes para dirimir litígios decorrentes deste contrato os tribunais
portugueses."; e
- "As partes desde já excluem toda e qualquer responsabilidade que pudesse ser
assacada à Sociedade Painter'R'us, nomeadamente, mas sem limitar, a que, nos termos da lei,
pudesse resultar de vícios no cumprimento da prestação a que se obrigou a Sociedade neste
contrato".
Jacques verificou que, por causa da pintura defeituosa efetuada pela Sociedade
Painters'R'Us, a sua casa de férias no Algarve tinha agora problemas graves de infiltrações.
Em ação intentada perante um tribunal português contra a sociedade Painters'R'Us,
Joaquim requer uma indemnização pelos danos sofridos e alega que, ao abrigo do Direito
Português, a cláusula de exclusão de responsabilidade constante do contrato não é válida. Na
contestação, a sociedade alega que nada deve e que a cláusula de exclusão de responsabilidade é
válida à luz da lei escolhida pelas partes.
Quid juris, admitindo que a lei francesa considera a cláusula de exclusão de
responsabilidade válida?

Caso n.º 17
Igual ao anterior, mas:

a) as casas de férias situam-se em Marrocos e na Espanha;


b) a lei escolhida pelas partes é a lei portuguesa;
c) a lei marroquina sobre cláusulas contratuais gerais, tal como a francesa, não tem normas
equivalentes aos artigos 21.º, 22.º e 23.º do Decreto-Lei que institui o Regime das
Cláusulas Contratuais Gerais.

Quid juris?

Caso n.º 18
Em 20 de novembro de 2010, Joaquim, português com residência habitual em frança,
após ter visto um anúncio da Sociedade Painters'R'Us, com sede na Alemanha, no jornal Le
Monde, contactou-a com vista a celebrar um contrato de prestação de serviços de pintura das
suas casas de férias situadas na Suíça e na Espanha.
O contrato foi celebrado mediante recurso a cláusulas contratuais gerais fixadas pela
Sociedade Painters'R'Us. Nas cláusulas contratuais gerais dispunha-se que:
- "A lei reguladora deste contrato é a lei francesa.";
- "São competentes para dirimir litígios decorrentes deste contrato os tribunais
portugueses."; e
- "As partes desde já excluem toda e qualquer responsabilidade que pudesse ser
assacada à Sociedade Painter'R'us, nomeadamente, mas sem limitar, a que, nos termos da lei,
pudesse resultar de vícios no cumprimento da prestação a que se obrigou a Sociedade neste
contrato".
Jacques verificou que, por causa da pintura defeituosa efetuada pela Sociedade
Painters'R'Us, a sua casa de férias na Suíça tinha agora problemas graves de infiltrações.
Em ação intentada perante um tribunal português contra a sociedade Painters'R'Us,
Joaquim requer uma indemnização pelos danos sofridos e alega que a cláusula de exclusão de
responsabilidade constante do contrato não é válida. Na contestação, a sociedade alega que nada
deve e que a cláusula de exclusão de responsabilidade é válida à luz da lei escolhida pelas
partes.
Quid juris, admitindo que a lei francesa considera a cláusula de exclusão de
responsabilidade válida e a lei suíça considera a mesma cláusula inválida?
Interpretação e aplicação do Direito estrangeiro

Caso n.º 19
Admita que, ao dirimir um litígio referente a uma situação privada internacional, o
tribunal português de 1.ª instância determinou que o Direito material competente era o Direito
francês e que a concreta norma de Direito material aplicável ao caso concreto era, no seu
entender, inconstitucional à face do disposto na Constituição da República Francesa.
Como deve o tribunal português de 1.ª instância atuar nesta situação?

Subhipótese: a resposta alterava-se se o Direito material estrangeiro competente fosse o


do Estado de Nova Iorque (EUA) e a concreta norma aplicável fosse, no entender do tribunal
português, inconstitucional face à Constituição dos EUA?

Caso n.º 20
Imagine que se discute em tribunal português a capacidade de Albert, súbdito britânico
com 18 anos de idade e residência habitual em Londres, para adquirir um imóvel sito em
Portugal. Considerando que:
a) o Direito inglês se considerava competente para regular a capacidade Albert;
b) Existia no Direito inglês um precedente que dispunha que a capacidade para adquirir
imóveis só se adquire aos 21 anos.

Diga como deve atuar o juiz português, sabendo que o citado precedente não foi
invocado por nenhuma das partes no processo.

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