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• a norma de conflitos (de fonte interna) alemã sujeita a sucessão à lei da nacionalidade
do de cujus no momento da morte;
Aplica-se o art. 62.º CC, que remete para a lei pessoal (31.º/1: nacionalidade).
L1 aplica o quê?
Requisitos 17.º/1:
L2 aplique Ln
Ln se aplique a si própria
L2 aplica L2, L3 aplica L3 (ambas aceitam o retorno que é operado pela lei para a qual
remetem).
Assim sendo, L1 pt aplica a L2, nos termos do art. 16.º do CC (referência material). O art. 17.º/1
não se aplica.
• as normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei
do lugar da situação do imóvel;
L4 aplica L4
L3 aplica L4
L2 aplica L4
Logo, L1 aplicará L4, porque o art. 17.º/1 se aplica. O 17.º/2 não se aplica, pois a L1
remete para a lei pessoal, mas a LRH não. Logo, há reenvio. L1 aplica L4.
Sub-hipótese
• E se o francês tivesse falecido em 2016?
Aplicação do RRIV.
Aplica-se o 34.º? À partida, aplicar-se-ia, pois o Brasil é Estado terceiro. Logo, olha-se não só
para as suas normas materiais, mas também para o seu DIP (normas de conflitos ou também
normas do sistema de devolução? Segundo LLP, também relevam as normas sobre reenvio).
Contudo, acaba por não se aplicar nenhuma das alíneas, pois a LBr aplica-se a si própria. Logo,
não há reenvio. L1 aplica L2 (referência material).
• as normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei
do lugar da situação do imóvel;
Art. 62.º + 31.º/1: L1 pt L2 nac Arg (DS) L3 RH FR (DS) L4 LRS Parag (DS) L3
RH FR L4
L4 aplica L4
L3 aplica L3
L2 aplica L4
Logo, L1 aplicará L4, de acordo com o art. 17.º/1. O n.º 2 não se aplica, pois a LRH FR aplica-
se a si própria, não à lei da nacionalidade (Arg.).
Sub-hipótese:
E se o argentino tivesse falecido em 2016?
RRIV (art. 84.º).
Caso 19
Alain e Beatrice são cidadãos franceses, casados um com o outro sem convenção antenupcial, e
residem habitualmente em Lisboa. Beatrice tinha adquirido, antes do casamento, uma casa no
Luxemburgo e vendeu-a, depois do casamento, a Charles. Determine qual a lei reguladora do
regime de bens deste casamento admitindo que:
• os órgãos aplicadores do Direito competentes são os portugueses;
Aplica-se o Regulamento 2016/1103 (regimes matrimoniais) desde 2019: art. 26.º/1/a – aplica-
se a lei da primeira RH dos cônjuges após a celebração do casamento. Suponha-se que é
Portugal. Nos termos do art. 32.º, está excluído o reenvio. Assim, Lpt aplicaria Lpt.
Porém, o 17.º/2 também está verificado, pelo que o reenvio cessaria. Todavia, o n.º 3 vem
permitir o reenvio, pois estamos perante relações patrimoniais entre os cônjuges e a Lnac aplica
a LRS e esta considera-se competente.
Caso 20
Determine a lei aplicável à sucessão de um súbdito do Reino Unido residente em Londres até
1993, data em que mudou a sua residência para Roma, cujo património, à data da morte (em
2014), era constituído por um imóvel situado na França, supondo que:
• o Reino Unido tem um ordenamento jurídico complexo e não dispõe de Direito
interlocal unificado, nem de Direito Internacional Privado unificado;
L1 aplica L3.
Aplicação do RRIV.
Art. 21: L1 pt L2 RH Itália
Não se aplica o art. 34.º, logo, não há reenvio, pois a L2 pertence a um EM.
Caso 21
Carlos, nacional suíço com última residência habitual no Estado da Luisiana (EUA), falece em
15 de setembro de 2015, deixando bens imóveis no Brasil. Determine qual a lei reguladora da
sucessão imobiliária, considerando que:
• os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
Aplica-se o RRIV (art. 84.º - desde agosto de 2015, um mês antes da morte de C).
Art. 21.º manda aplicar a lei da RH ao momento do óbito: EUA. Os EUA são OJ complexo,
pelo que aplicamos o art. 36.º/2/a do RR: releva a específica unidade territorial em que o
interessado tinha residência habitual no momento do óbito (Luisiana).
Aplica-se o reenvio (art. 34.º)? Há reenvio quando a remissão do Regulamento seja para lei
de Estado terceiro (é o caso) e esta remeta para lei que se considere competente. Vejamos:
L3 aplica L2 e L2 também aplica, portanto, L2. Logo, não há reenvio. Aplica-se a regra
geral da referência material:
Caso 22 (retorno)
Andrea e Berta são dois nacionais romenos que se casaram na França e fixaram residência
habitual comum em Portugal. Determine qual a lei reguladora dos efeitos pessoais do
casamento, considerando que:
• os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
• a norma de conflitos francesa determina que a lei aplicável aos efeitos pessoais
do casamento é a lei da nacionalidade comum dos cônjuges;
• a norma de conflitos romena determina que a lei aplicável aos efeitos pessoais
do casamento é a lei da residência habitual comum dos cônjuges;
Não se aplica a “convenção concernente aos conflitos de leis relativos aos efeitos do
casamento sobre os direitos e deveres dos cônjuges nas suas relações pessoais e sobre os
bens dos cônjuges”, pois, apesar de ter sido celebrada precisamente por Portugal, Itália e
Roménia, não foi idoneamente ratificada (art. 8.º/2 CRP) e é inconstitucional.
Logo: Art. 52.º CC remete para a lei nacional comum: L1 (pt) L2 (nac: Roménia)
• Assim: L2 aplica L2
• L1 aplica L2, por via de RM (art. 16.º CC), visto o 18.º/1 não se aplicar, pois a lei
romena aplica-se a si própria, apesar de remeter para a lei portuguesa, uma vez que
adota um sistema de DS.
Caso 23
Anthony, cidadão dos EUA residente habitualmente em Itália (tendo anteriormente vivido no
Estado de Nova Iorque), pretende casar-se em Lisboa. Diga qual a lei que o conservador do
registo civil deve aplicar à capacidade matrimonial de Anthony, considerando que:
• os EUA não têm Direito interlocal e Direito Internacional Privado unificados;
• o Direito de conflitos nova iorquino regula a questão pela lex loci celebrationis,
considerando, no caso concreto, que a sua norma de conflitos remete, única e
exclusivamente, para as normas de Direito material de ordenamentos jurídicos
estrangeiros;
• o Direito de conflitos italiano regula a capacidade matrimonial pela lei da
nacionalidade do nubente; no caso concreto, pratica o sistema de referência
material; e, na falta de Direito interlocal ou Direito Internacional Privado
unificados, entende-se a remissão para um ordenamento jurídico complexo
como sendo feita para o ordenamento jurídico local que possui a conexão mais
estreita.
cidadão dos EUA residente habitualmente em Itália (tendo anteriormente vivido no Estado de
Nova Iorque), pretende casar-se em Lisboa. qual a lei que o conservador do registo civil deve
aplicar à capacidade matrimonial de Anthony?
L1 pt L2 (nac: EUA art. 20.º/2 CC: LRH – itália ou NY? NY – conexão mais estreita) RM
L1 (LLC: PT)
Logo, 18.º/2 não está verificado, pelo que não se aceita o retorno. L1 aplica L2 (NY).
Caso 24
Discute-se perante tribunais portugueses a capacidade matrimonial de Alberto, cidadão
argentino com domicílio em Portugal. Alberto casou-se no Paraguai. Determine qual a lei
reguladora da capacidade para contrair casamento, considerando que:
• a regra de conflitos argentina estabelece que a capacidade para contrair
casamento é regulada pela lei do lugar da celebração do casamento;
Lei aplicável às sucessões: art. 62.º + 31.º. L1 pt L2 (nac: RU art. 20.º/2: Inglaterra) DD
L1 (LRS: PT)
Há retorno? A lei inglesa, por dupla devolução, aplicará a lei que a lei portuguesa aplicar, só
aplicando a lei portuguesa se ela se aplicar a si própria. Para LLP a questão acabaria aqui: não
se aceitaria o retorno, mas sim a regra geral do art. 16.º (já para BM, seria de aceitar o retorno).
Se considerássemos ser de aceitar o retorno por via do 18.º, seria ainda de o impedir por via do
art. 19.º, visto que a lei portuguesa não permitiria a validade do testamento?
- 2.º: FC, BM e DMV defendem uma interpretação restritiva do art. 19.º de modo a
limitar o seu alcance às situações já constituídas e não à sua constituição em Portugal
com a intervenção de uma autoridade pública, e desde que a situação esteja em contacto
com a OJpt ao tempo da sua constituição (só neste caso poderiam os interessados ter
confiado na válida constituição da situação segundo a lei designada pela nossa NC).
- LLP discorda: o que os outros AA defendem acaba por ser uma redução teleológica, que
teria de ser justificada à luz do fim da norma ou outros princípios ou valores do sistema
de Direito de Conflitos. Segundo LLP, o legislador quis dar primazia ao princípio do
favor negotii relativamente à harmonia internacional, para além de que a posição
daqueles AA parece pressupor que os indivíduos se podem guiar pelas normas de
conflitos mas não pelas normas sobre devolução.
- 3.º: de qualquer modo, estamos perante uma questão de reserva de OPI? Há que apreciar
a aplicabilidade do art. 22.º CC, à luz dos seus requisitos.
Sub-hipótese: E se o britânico tivesse falecido em 2016?
• A referência seria material, enquanto a Inglaterra fosse EM? Assim, a Lpt aplicaria a
Ling. LLP considera que não, que por “Estado terceiro” (art. 34.º) se deve entender
Estado terceiro ao Regulamento, e não apenas à UE. Assim, não sendo o RU parte do
RRIV (considerando 82), poder-se-ia aplicar o art. 34.º: como a Ling remete para um
EM (Pt), este nem teria de se considerar aplicável a si próprio. Logo, Lpt aplicaria Lpt.
Caso 26
André, brasileiro com residência habitual em Lisboa, pretende casar-se em Portugal.
O Direito brasileiro sujeita a capacidade matrimonial à lei do domicílio, praticando
referência material. Segundo o Direito português, André não tem capacidade para se
casar. Mas tem capacidade à luz do Direito brasileiro. Qual a lei aplicável?
• brasileiro com residência habitual em Lisboa, pretende casar-se em Portugal.
Segundo o Direito português, André não tem capacidade para se casar. Mas
tem capacidade à luz do Direito brasileiro.
• 49.º+31.º CC: L1 (PT) L2 (Nac: Br) RM L1 (RH: PT)
• Arts. 18.º/1 e 2: aplicam-se. Haveria retorno.
• E o art. 19.º/1? Depende. Se sim, não há retorno. L1 aplica L2.
• 2.º: FC, BM e DMV defendem uma interpretação restritiva do art. 19.º de modo a
limitar o seu alcance às situações já constituídas e não à sua constituição em Portugal
com a intervenção de uma autoridade pública, e desde que a situação esteja em contacto
com a OJpt ao tempo da sua constituição (só neste caso poderiam os interessados ter
confiado na válida constituição da situação segundo a lei designada pela nossa NC).
• LLP discorda: o que os outros AA defendem acaba por ser uma redução teleológica, que
teria de ser justificada à luz do fim da norma ou outros princípios ou valores do sistema
de Direito de Conflitos. Segundo LLP, o legislador quis dar primazia ao princípio do
favor negotii relativamente à harmonia internacional, para além de que a posição
daqueles AA parece pressupor que os indivíduos se podem guiar pelas normas de
conflitos mas não pelas normas sobre devolução.
Caso 27
A, britânico domiciliado no Brasil (mas tendo vivido anteriormente em Londres),
faleceu em 2014, deixando todos os seus bens (móveis), por testamento feito na
Inglaterra, a favor de instituições brasileiras. Os filhos requerem, em Portugal, a
redução por inoficiosidade do testamento, invocando a violação do seu direito à
legítima. Os Direitos inglês e brasileiro remetem para a lei do domicílio do autor da
sucessão. Os tribunais ingleses praticam, no caso, o sistema da dupla devolução e no
Brasil entende-se a remissão para leis estrangeiras como sendo de referência
material. Segundo o Direito material inglês, a deixa testamentária era válida;
segundo o Direito material brasileiro, era inválida. Quid iuris?
• britânico domiciliado no Brasil (mas tendo vivido anteriormente em
Londres), faleceu em 2014, deixando todos os seus bens (móveis), por
testamento feito na Inglaterra, a favor de instituições brasileiras. Os filhos
requerem, em Portugal, a redução por inoficiosidade do testamento. Segundo
o Direito material inglês, a deixa testamentária era válida; segundo o Direito
material brasileiro, era inválida. L1 (Pt – 62.º+31.º CC) L2 (nac: RU
20.º/2: Inglaterra) DD L3 (RH: Br) RM L3 (Br)
• Há reenvio para a L3 (brasileira)? 17.º/1: sim. 17.º/2: não se aplica. Logo,
haveria reenvio. Contudo, aplica-se o 19.º/1? Sim. Logo, aplicar-se-ia a lei
inglesa.
• A menos que se aplicasse a reserva de OPI (22.º) – quais as consequências?
Caso 28
A, britânico com residência habitual em Londres, faleceu em 2016, sendo a sua
herança composta por bens imóveis situados na França. Admitindo-se que:
• as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do lugar
da situação da coisa;
• os tribunais ingleses praticam dupla devolução;
qual a lei aplicável à sucessão?
L2 aplica a lei que L3 aplicar: Lfr aplica Lfr (se aplicar o art. 34.º do RRIV). Logo,
Lei inglesa (L2) aplicaria lei francesa (L3).
Aplica-se a lei inglesa ou o art. 34.º (e assim a francesa)?
Em 2016, o RU era ainda EM mas não era signatário do RRIV. Segundo LLP, seria
considerado Estado terceiro para os efeitos do art. 34.º do RRIV. Assim, aplicava-se
o 34.º e a lei portuguesa aplicaria a lei francesa? Segundo LLP e EDO, para a alínea
a) se verificar dever-se-á apenas aplicar as normas de conflitos (e não o sistema de
devolução) da L2, ficcionando-se que esta remete para L3 por referência material. O
mesmo não se aplica quanto à al. b).
Mesmo que não se aplicasse: artigo 30.º.
Sub-hipótese
E se todos os imóveis do património de A estivessem situados na República da
Irlanda, cujo Direito Internacional Privado sujeita a sucessão imobiliária à lei do
lugar da situação da coisa, com dupla devolução?
• Considerando 82: Irlanda não participa do RRIV.
• RRIV: L1pt L2RH (LRU Ling – 36.º) (DD) L3 LRS (LIrl) (DD)
L3 LRS (LIrl).
• Aplicando o art. 34.º RRIV, se se considerar que o RU é Estado terceiro face
ao regulamento e que isso desencadeia os efeitos da norma, então aplica-se a
LIrl, pois é Estado terceiro que se considera a si próprio competente (al. b)).
• Se não, há referência material, aplicando-se simplesmente a LIng.
Caso 29
Bernardo, nacional português residente na Inglaterra (Reino Unido), faleceu em 10
de novembro de 2016 tendo como bens sucessórios um imóvel situado em Portugal e
um imóvel situado no Quebeque (Canadá). Discute-se hoje, perante tribunais
portugueses, a sua sucessão imobiliária.
Determine qual a lei reguladora da sucessão imobiliária de Bernardo, considerando
que:
• os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
• no Reino Unido e no Canadá não existe Direito interlocal unificado
nem Direito Internacional Privado unificado;
• o Direito de conflitos inglês pratica o sistema da foreign court theory
e regula a sucessão imobiliária pela lex rei sitae;
• o Direito de conflitos do Quebeque pratica o sistema da referência
material e regula a sucessão imobiliária pela lex rei sitae.
Caso 30
António, português, quer privar da legítima Bruno, seu filho, para deixar todos os
seus bens a Carla, sua segunda mulher. Com vista a obter este resultado, António
adquire a nacionalidade do Reino Unido e dispõe a favor de Carla, ao abrigo do
Direito inglês, dos bens imóveis que se situam em Portugal e que integram toda a
sua herança.
Todavia, António continuou a viver em Portugal e a comportar-se como português.
Atendendo a que:
a) António faleceu a 30 de maio de 2015;
b) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes
c) O Reino Unido não contém normas de Direito Internacional Privado ou de
Direito Interlocal unificados;
d) A lei inglesa remete para a lex rei sitae;
e) Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução;
Sub-hipótese 1
Quid juris se António tivesse renunciado à nacionalidade portuguesa?
Aí, já não se poderia aplicar o art. 27.º LN. Aplicar-se-ia o art. 21.º CC: haveria
fraude à lei e a consequência seria a aplicação do direito português.
Sub-hipótese 2
Quid juris se António tivesse renunciado à nacionalidade portuguesa e, depois disso,
passado a fazer a sua vida em Londres?
Neste caso, a fraude à lei sanar-se-ia e aplicar-se-ia a lei inglesa. Exceto, claro, por
motivo de ROPI (22.º CC).
Sub-hipótese 3
Resolva agora a hipótese principal, supondo que António faleceu em 2018 e o
testamento tivesse sido redigido em 2016, contendo uma disposição expressa de
escolha de lei inglesa.
Aplicação RRIV.
Poderia escolher a lei inglesa nos termos do art. 22.º.
O RRIV não prevê a hipótese de fraude à lei.
Contudo, tem duas disposições chave: arts. 30.º e 35.º (ROPI). Muito importante
também é o considerando 26, que permite a aplicação do art. 21.º CC.
Aplica-se o RRI (âmbito temporal: arts. 28.º e 29.º; espacial: 1.º/1 in fine; territorial:
foro em Pt – 1.º/4 “os EM aos quais se aplica o Regulamento”; material: 1.º/1 e 2).
Para verificar se a escolha de lei é válida, devemos atentar sobre o art. 3.º -
nomeadamente, o n.º 5, que remete para os arts. 10.º, 11.º e 13.º, determinando o art.
10.º que se aplica a essa questão a lei que se aplicaria se a escolha fosse válida, ou
seja, a lei brasileira.
Quanto à lei aplicável ao contrato, a escolha foi expressa (embora nos termos do art.
3.º/1 pudesse também “resultar de forma clara das disposições do contrato ou das
circunstâncias do caso”. Não se aplicam os n.ºs 3 e 4 do art. 3.º (nem o art. 3.º/2,
claro). Assim, a escolha é em princípio de aceitar. L1 pt aplica L2 br.
O art. 2.º demonstra que nada obsta à aplicação da lei de um Estado terceiro.
Ver ainda arts. 12.º, 9.º e 21.º.
Nota: no caso, não sabemos qual o litígio.
Sub-hipóteses (as sub-hipóteses são totalmente independentes entre si, exceto se
expressamente disserem o contrário)
1. Imagine que as partes não tinham escolhido a lei aplicável. Qual é a lei
reguladora do contrato? Não se aplicando os arts. 3.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º, aplica-
se o art. 4.º. Nos termos do n.º 1, al. a), sendo o contrato de compra e venda
de mercadorias, seria aplicável a lei do país em que o vendedor tem a sua RH
[RH da ABM é onde? Ver arts. 19.º/1 (administração central) +22.º/1
(designação direta) + 20.º (referência material)]: lei texana. Contudo, como
os demais elementos (celebração do contrato, RH do comprador, execução do
contrato) se situam em Portugal, é defensável a aplicação do art. 4.º/3 do
RRI, aplicando-se a lei portuguesa. Ainda que assim não seja: arts. 9.º/2 e 3 +
21.º.
2. Imagine que, nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a
entregar à BoaBase, para gozo temporário desta, 10 computadores, bem como
a prestar serviços de manutenção in site dos referidos computadores,
mediante o pagamento de uma renda mensal pela BoaBase . Os computadores
e os serviços de manutenção deviam ser entregues e prestados em Portugal.
As partes não escolheram a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
O contrato é misto, na medida em que corresponde cumulativamente a uma
prestação de serviços e a um aluguer de coisa móvel. Assim, não se
aplicando o art. 3.º, nem o 5.º, 6.º ou 7.º ou 8.º, ter-se-á que aplicar o art. 4.º.
A prestação de serviços insere-se na al. b) do n.º 1, mas o aluguer não consta
do número 1. Assim, aplica-se o art. 4.º/4? Não necessariamente, parece que
a ratio do artigo parece admitir que se aplique o 4.º/2 (apesar de não se inserir
literalmente no âmbito desta norma). O 4.º/4 apenas se aplica se o contrato
for totalmente atípico, ou seja, nEstão preencha nenhuma das alíneas em
causa. Assim, aplicamos o 4.º/2, que remete para a lei da RH do prestador da
prestação característica (ver considerando 19). O art. 4.º/1/b já nos diz qual a
prestação característica da parcela relativa à prestação de serviços: é esta
mesma, sendo portanto relevante a RH do prestador. Quando ao aluguer,
também assim será. Logo, aplica-se a lei da RH da ABM, ou seja, a lei texana
(arts. 19.º+22.º+20.º). Contudo, considerando que os demais elementos
apontam para Portugal, é defensável a aplicação do art. 4.º/3 (considerandos
16 e 20): conexão mais estreita (aplicação da lei portuguesa).
3. Imagine que, nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a
entregar os 10 computadores à BoaBase e a BoaBase se obrigava a entregar à
ABM 20 smartphones. Os computadores e os smartphones foram entregues
na Espanha. As partes não escolheram a lei aplicável. Qual é a lei reguladora
do contrato? Neste caso, temos um contrato de permuta. Não cabe em
nenhuma alínea do n.º 1 do art. 4.º e também não se aplica o n.º 2, pois não é
possível concretizar o elemento de conexão (não há prestação característica –
considerando 19 não resolve). Logo, aplica-se o 4.º/4: cláusula de exceção de
conexão mais estreita (considerando 21). Aplica-se a lei espanhola (execução
do contrato) ou a portuguesa (celebração do contrato). Em princípio, será
aplicável a lei espanhola.
Regulamento de Roma I
Em 3 abril de 2021, a sociedade comercial Caixas & Caixas, Lda., com sede em Lisboa,
decidiu divulgar a sua atividade – que consiste na venda de caixas decorativas em madeira – na
Internet e lançou um site, em língua portuguesa, com informações acerca da localização da sua
sede e contactos (todos em Lisboa), dos seus produtos e respetivos preços, bem como dos custos
de envio para Portugal e para Espanha, tudo fixado em euros.
Blanche, francesa, a residir habitualmente em França, acedeu ao site da Caixas &
Caixas, Lda. e encomendou uma caixa para colocar no seu quarto. Não tendo recebido a caixa
nem o reembolso do preço pago no prazo de 60 dias, Blanche alega a aplicação da lei material
portuguesa ao caso, com vista a receber o valor pago em dobro. Já a Caixas & Caixas, Lda.
alega ser aplicável a lei material francesa.
Admitindo que:
a) Os tribunais estaduais portugueses são internacionalmente competentes;
b) Blanche e a Caixas & Caixas não escolheram a lei que rege o contrato;
determine, fundamentadamente, qual a lei que deve reger este contrato.
Admitindo que:
a) o tribunal português é internacionalmente competente, nos termos do art. 25.º/1 do
Regulamento 1215/2012;
b) no Direito português (art. 498.º do Código Civil), as obrigações extracontratuais
prescrevem no prazo de três anos;
c) no Direito inglês (art. 2.º do Limitation Act de 1980), uma ação judicial fundada em
responsabilidade extracontratual por danos patrimoniais não pode ser instaurada após
decorridos seis ou mais anos da data da ocorrência do facto danoso;
d) no Direito inglês (art. 264.º do Highway Code), os automóveis devem seguir pela faixa da
esquerda;
e) no Direito português (art. 13.º, n.º 1, do Código da Estada), os veículos devem mover-se
pela faixa da direita;
Álvaro, cidadão holandês com residência habitual em Lisboa, encontra-se em Londres. No dia
21 de maio de 2016, quando visitou a leiloeira Christie’s, conheceu Bruno, cidadão francês,
com residência habitual em Londres.
No dia seguinte, Bruno convidou Álvaro para sua casa e, enquanto lá estiveram, Álvaro gostou
muito do quadro que Bruno tinha pendurado na sala. Bruno apercebeu-se de que Álvaro
acreditou que o quadro tinha sido pintado por Rembrandt e, apesar de saber que tal não
correspondia à verdade, uma vez que o quadro tinha sido pintado pelo seu afilhado, não
divulgou esta informação e aceitou iniciar negociações com Álvaro para a venda do quadro.
Por força de compromissos vários de ambos, agendaram uma nova reunião para a semana
seguinte. Nessa altura, Álvaro fez-se acompanhar de Carlos, um seu amigo que trabalha no
Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, tendo para o efeito custeado a viagem e o
alojamento deste em Londres.
Após uma breve análise do quadro, Carlos informa Álvaro de que este não é um original de
Rembrandt e que não havia qualquer hipótese de Bruno desconhecer tal facto. Álvaro decide
intentar ação em Lisboa contra Bruno, pedindo que este seja condenado a pagar-lhe 10.000
euros, o total das despesas que suportou com a deslocação e o alojamento de Carlos.
Determine a lei aplicável.
Sub-hipótese: Imagine que Álvaro tinha indicado que pretendia escolher a lei holandesa como
lei reguladora do contrato, mas esta questão ainda estava a ser ponderada por Bruno, sendo certo
que este também não pretendia a aplicação da lei inglesa.
Nesse caso, não se entende que há escolha de lei relativa à CIC, mas sim quanto ao contrato
possivelmente. Logo, não aplicamos o art. 14.º RRII, mas sim o art. 3.º do RRI. Nos termos do
n.º 5 deste artigo, a existência de acordo quanto à escolha de lei é regulada pela própria lei
escolhida caso esta existisse, ou seja, pela lei holandesa. Caberá à lei substantiva holandesa
determinar se há escolha de lei ou não; caso a resposta seja positiva, será esta a lei aplicável ao
potencial contrato e, assim, à responsabilidade pré-contratual.