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VI.

Reenvio
Caso 16

Determine a lei aplicável à sucessão mobiliária de Jacques, francês, que morreu, em 2014, com
último domicílio na Alemanha, admitindo que:
(1) A norma de conflitos (de fonte interna) francesa sujeita a sucessão mobiliária à lei do
último domicílio do de cujus;
(2) A norma de conflitos (de fonte interna) alemã sujeita a sucessão à lei da nacionalidade
do de cujus no momento da morte;
(3) E que na França e na Alemanha se pratica, de acordo com as normas de devolução de
fonte interna, o sistema de devolução simples.

OJs potencialmente aplicáveis: França (nac), Alemanha (RH) à matéria de sucessões.


RRIV não se aplica: art. 84.º (âmbito temporal – 17 de agosto de 2015).
Aplica-se a NC do art. 62.º do CC: lei pessoal do autor ao tempo do falecimento (+31.º:
nacionalidade à interpretação lege fori; concretização lege causae: francês).

L1 (pt) à L2 (nac: fr) DS à L3 (RH: ale) DS à L2 (fr) à L3 (ale)


L2 aplica L2 (aceita o retorno que a L3 lhe faz)
L3 aplica L3 (aceita o retorno que a L3 lhe faz)
Aplica-se o art. 17.º/1? [L2àLn; Lnà Ln] Não. Aplica-se a L2 nos termos do art. 16.º (ref.
material).

Não há dépeçage: L2 aplica-se ao total da sucessão (mobiliária e imobiliária).

Sub-hipótese:
E se Jacques tivesse falecido em 2017?

OJs potencialmente aplicáveis: França (nac), Alemanha (RH) à matéria de sucessões.


RRIV aplica-se. Artigo 21.º/1: L1 pt à L2 (RH: Alem) – em princípio, não se aplica o n.º 2.
Há reenvio nos termos do art. 34.º? Não, pois a L2 não é a lei de um Estado terceiro (à EU).
A Alemanha é OJ complexo, pelo que se aplica o art. 36.º.
Caso 17

Determine a lei aplicável à sucessão de Joaquim, francês, que morreu em 2014 com último
domicílio no Brasil e deixando bem imóveis na Dinamarca, admitindo que:
(1) As normas de conflitos brasileiras e dinamarquesas submetem a sucessão mobiliária e
imobiliária à lei do último domicílio do de cujus;
(2) As normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à
lei do lugar da situação do imóvel;
(3) Os tribunais franceses praticam, de acordo com as normas de devolução de fonte
interna, devolução simples;
(4) Na Dinamarca e no Brasil, a referência a uma lei estrangeira é geralmente entendida
como uma remissão para o seu Direito material.

OJs potencialmente aplicáveis: França (nac.), Brasil (RH), lugar da situação de bens imóveis
(Dinamarca).
Não se aplica o RRIV (falha o âmbito temporal).
Aplica-se a NC do art. 62.º CC (+31.º): L1 pt à L2 (nac: fr).
L1 pt à L2 (nac: Fr) DS à L3 (lrs: Din) RM à L4 (rh: Br) RM à L4 (Br).
L2 aplica L4.
L3 aplica L4.
L4 aplica L4.
L1 aplica qual? Aplica-se o art. 17.º/1, havendo reenvio? Sim, aplica-se o n.º 1 (transmissão
em cadeia): L1 aplica L4.
Aplica-se o 17.º/2, que impede o reenvio? Tem dois requisitos: a L2 ser a Lnac (é o caso) e a
pessoa residir em Pt ou noutro Estado que considere a Lnac competente (não é o caso, o de
cujus reside no Brasil, que se considera a si própria competente).
Assim, não se aplica o n.º 2, pelo que não temos de verificar o n.º 3. Aplica-se o n.º 1 e há
reenvio.
L1 pt aplica L4 (Br). O Brasil é OJ complexo, pelo que se terá que aplicar o art. 20.º.

Sub-hipótese:
E se Joaquim tivesse falecido em 2018?

Aplica-se o RRIV.
Nos termos do art. 21.º, L1 remete para L2 (RH: Br).
Há reenvio nos termos do art. 34.º? Poderia haver, pois a L2 é pertencente a um Estado terceiro,
mas no caso não há, pois a L2 aplica-se a si própria. Há, portanto, mera referência material.
Não há qualquer problema em aplicar a Lbr, pois o regulamento tem âmbito de aplicação
universal (art. 20.º).
Há ainda que verificar o art. 23.º, para perceber quais as matérias a que a L2 se vai aplicar.
Há ainda que aplicar o art. 36.º (OJ complexo).
Caso 18:

Determine a lei aplicável à sucessão de um argentino que morreu, em 2014, com último
domicílio na França, deixando bens imóveis situados no Paraguai, admitindo que:
(1) As normas de conflitos argentinas e paraguaias submetem a sucessão mobiliária e
imobiliária à lei do último domicílio do de cujus;
(2) As normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à
lei do lugar da situação do imóvel;
(3) Todos os ordenamentos jurídicos envolvidos praticam, no caso, devolução simples.

OJs potencialmente aplicáveis: Argentina (nac.), França (RH), Paraguai (imóveis).


Não se aplica o RRIV (falha o âmbito temporal).
Aplica-se o art. 62.º CC (+31.º): L1 pt à L2 (nac: Arg.) DS à L3 (RH: Fr) DSà L4 (LRS:
Par) DS à L3 (RH: Fr) à L4
L2 aplica L4
L3 aplica L3 (aceita o retorno que L4 lhe faz)
L4 aplica L4 (aceita o retorno que L3 lhe faz)
L1 aplica qual? Nos termos do art. 17.º/1 CC, deverá aplicar a L4.
Aplica-se o 17.º/2? Não, pois a lei da RH aplica-se a si própria.
Logo, aplica-se o 17.º/1 e há reenvio para a L4. Aplicar-se-á a lei paraguaia à sucessão
imobiliária.
E à mobiliária? Não, pois nesse caso a L3 (Fr), aparentemente, não aplica a LRS. Não se sabe
qual aplica, ter-se-ia que saber tal dado para determinar a lei competente. De qualquer modo,
haverá aqui um dépeçage. Tal é permitido, independentemente de o nosso art. 62.º não o prever.

Sub-hipótese:
E se o argentino tivesse falecido em 2016?

Aplica-se o RRIV.
Nos termos do art. 21.º, ir-se-á aplicar a Lrh (Fr). L1 pt à L2 (rh:Fr).
Não há reenvio, pois França não é um Estado terceiro.
Caso 19

Catherine e Roman, cidadãos franceses casados sem convenção antenupcial, residem


habitualmente em Lisboa. Catherine tinha adquirido, antes do casamento, uma casa no
Luxemburgo e vendeu-a, depois do casamento, em 2019, a Charles.
Determine qual a lei reguladora do regime de bens deste casamento, admitindo que:
(1) Os órgãos aplicadores do Direito competentes são os portugueses;
(2) Quer no OJ francês, quer no luxemburguês, vigora a Convenção de Haia de 1978 sobre
a lei aplicável ao regime de bens do casal;
(3) De acordo com as normas de conflitos previstas nesta Convenção, a lei aplicável para
regular o regime de bens do casal será a do país onde os imóveis do casal se
encontrarem, desde que os cônjuges assim acordem. Roman e Catherine celebraram,
aquando do casamento, um tal acordo, determinando que, no que respeitasse às questões
suscitadas pelos imóveis próprios ou comuns sitos no Luxemburgo, seria aplicável ao
regime de bens a lei luxemburguesa;
(4) No âmbito da referida Convenção de Haia de 1978, é excluído o reenvio.

OJs potencialmente aplicáveis: França (nac), Portugal (RH), Luxemburgo (LRS).


Aplica-se o Regulamento 2016/1103 relativo a regime de bens (âmbito territorial: foro num
EM; espacial: conflito de leis no espaço; temporal: 2019; material: regimes matrimoniais de
bens).
Nos termos do art. 26.º/1/a, aplica-se a lei da primeira RH comum dos cônjuges após a
celebração do casamento. Suponha-se que é Portugal. L1 pt à L1 pt. Nos termos do art. 32.º,
o reenvio está excluído.

Sub-hipótese:
A sua resposta seria alterada se a questão se pusesse antes de 2019?
OJs potencialmente aplicáveis: França (nac), Portugal (RH), Luxemburgo (LRS).
Aplicar-se-ia o art. 53.º CC (+31.º): L1 pt à L2 (nac: fr)
L1 à L2 (nac: fr) RM à L3 (lrs: Lux) RM à L3 (lrs: Lux).
Ou seja: L2 aplica L3, L3 aplica L3.
Assim, L1 aplica L3, nos termos do art. 17.º/1 CC.
Contudo, o art. 17.º/2 faz cessar o reenvio e no caso está verificado: a lei designada pela NC
portuguesa corresponde à do Estado da nacionalidade e os sujeitos residem em Portugal.
Assim, há que verificar se o art. 17.º/3 também se aplica e volta a permitir o reenvio. No que
respeita à matéria, sim (relações patrimoniais entre cônjuges), no que respeita à exigência de a
Lnac aplicar a LRS, também se verifica. Assim, aplicando o n.º 3, regressamos ao n.º 1.
Aplica-se, portanto, o 17.º/1 e há reenvio para a L3.
Não há dados para barrar o reenvio nos termos do art. 19.º. Se decorrer da aplicação do 17.º/1
a invalidade da venda do imóvel, quid iuris? A priori, nada impede aqui o reenvio, pois a
questão da validade do negócio prende-se com uma questão jurídica diversa, não decorre
necessariamente da lei aplicável às relações patrimoniais entre os cônjuges.

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