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Caso 20

Determine qual a lei aplicável à sucessão de um súbdito do Reino Unido residente em


Londres até 1993, data em que mudou a sua residência para Roma, cujo património, à
data da morte (2014), era constituído por um imóvel situado na França, supondo que:
(1) O RU tem um OJ complexo e não dispõe de Direito interlocal unificado, nem de
DIPrivado unificado;
(2) As normas de conflitos (de fonte interna) francesas e inglesas sujeitam a sucessão
imobiliária à lei do lugar da situação da coisa;
(3) As normas de conflitos (de fonte interna) italianas sujeitam a sucessão à lei da
nacionalidade do de cujus no momento da sua morte;
(4) Os tribunais franceses praticam devolução simples;
(5) Os tribunais ingleses praticam dupla devolução;
(6) Os tribunais italianos praticam referência material.

OJs potencialmente aplicáveis: RU (nacionalidade), Itália (RH), França (lex rei sitae).
Não se aplica o RRIV.
Aplica-se o art. 62.º do CC (+31.º):
L1 pt à L2 (nac: RU à art. 20.º/2: Italiana OU Inglesa????) DD à L3 LRS (fr) DS à
L3 LRS (fr)
L3 aplica L3.
L2 aplica L3.
Aplica-se, então, o 17.º/1: L1 deve aplicar L3 (Fr) e que esta se aplique a si próprio.
Assim, há que verificar se o 17.º/2 impede o reenvio. É necessário que L1 remeta para a
Lnac (o que sucede); é necessário que a RH seja num Estado que aplica a Lnac. No caso,
L(RH: itália) RM à L(nac: Ing). Assim, o 17.º/2 aplica-se e impede o reenvio.
Há que verificar se se aplica o 17.º/3: materialmente, aplica-se (sucessão); a Lnac aplica
a LRS e esta considera-se competente? Sim. Assim, aplica-se o n.º 3, o que significa que
o art. 17.º/1 volta a ter aplicação e a L1 pt deve aplicar a L3 (Fr), aceitando-se o reenvio.

Sub-hipótese:
E se o britânico tivesse falecido em 2020?

Aplica-se o RRIV.
Art. 21.º/1: L1 pt à L2 (RH: Itália). Não há reenvio nos termos do art. 34.º, pois a It não
é Estado terceiro.
Caso 21 (Retorno)
Andrea e Berta, dois nacionais romenos, casaram-se em França e fixaram residência
habitual comum em Portugal. Determine qual a lei reguladora dos efeitos pessoais do
casamento, considerando que:
(1) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
(2) A norma de conflitos francesa determina que a lei aplicável aos efeitos pessoais
do casamento é a lei da nacionalidade comum dos cônjuges;
(3) A norma de conflitos romena determina que a lei aplicável aos efeitos pessoais do
casamento é a lei da residência habitual comum dos cônjuges;
(4) Os Direitos de conflitos francês e romeno adotam o sistema de devolução simples.

OJs potencialmente aplicáveis: Roménia (nac), França (lex loci celebrationis), Portugal
(RH).
Não se aplica a convenção concernente aos conflitos de leis relativos aos efeitos do
casamento sobre os direitos e deveres dos cônjuges nas suas relações pessoais e sobre
os bens dos cônjuges, pois, apesar de ter sido celebrada precisamente por Portugal,
Itália e Roménia, não foi idoneamente ratificada nos termos do art. 8.º/2 CRP e é
inconstitucional.
Assim, aplica-se o art. 52.º CC (efeitos pessoais do casamento = relações entre os
cônjuges), que remete para a lei nacional comum (art. 31.º nem é necessário aqui). Assim,
L1 pt à L2 (nac: rom) DS à L1 (RH: pt) à L2 (nac: rom).
Assim, a L2 aplica L2.
Será que há retorno para a Lpt?
Não, pois a L2 acaba por se aplicar a si própria, pelo que o art. 18.º/1 não se aplica (a L2
não devolve para a Lpt). Assim, L1pt aplica L2 por via do art. 16.º (RM).

Retorno indireto:
L1 pt à L2 DS à L3 XX (RM/DS/DD)à L1
L1 pt à L2 DD à L3 RM à L1
Retorno direto:
L1 à L2 RM à L1
Caso 22

Anthony, cidadão dos EUA residente habitualmente em Itália (anteriormente, no Estado


de Nova Iorque), pretende casar-se em Lisboa. Diga qual a lei que o conservador do
registo civil deve aplicar à capacidade matrimonial de Anthony, considerando que:
(1) Os EUA não têm Direito interlocal e Direito Internacional Privado unificados;
(2) O Direito de conflitos nova iorquino regula a questão pela lex loci celebrationis,
considerando, no caso concreto, que a sua norma de conflitos remete, única e
exclusivamente, para as normas de Direito material de ordenamentos jurídicos
estrangeiros;
(3) O Direito de conflitos italiano regula a capacidade matrimonial pela lei da
nacionalidade do nubente; no caso concreto, pratica o sistema de referência
material; e, na falta de Direito interlocal ou Direito Internacional Privado
unificados, entende-se a remissão para um ordenamento jurídico complexo como
sendo feita para o ordenamento jurídico local que possui a conexão mais estreita.

OJs potencialmente aplicáveis: EUA (nac), Itália (rh), Portugal (lex loci celebrationis).
Quaestio: lei aplicável à capacidade matrimonial à aplica-se o art. 49.º do CC (+31.º).
L1 pt à L2 (nac: EUA: art. 20.º/2, pt. final: NY) RM à L1 (llc: Pt)
Aplica-se o 18.º/1, o que significa que em princípio L1 aplica L1, aceitando o retorno.
Assim, tem que se verificar se o 18.º/2 impede o retorno: estamos perante uma matéria de
estatuto pessoal (sim), o indivíduo não reside em Pt, pelo que temos de verificar se a Lrh
(no caso, Itália) considera igualmente competente o direito interno português.
L1 (RH: Itália) RM à L2 (nac: NY).
Logo, o 18.º/2 implica a rejeição do retorno no caso concreto.
L1 irá aplicar L2 (nac: NY), por RM, nos termos do art. 16.º.
Caso 23

Discute-se perante tribunais portugueses a capacidade matrimonial de Alberto, cidadão


argentino com domicílio em Portugal. Alberto casou-se no Paraguai. Determine qual a lei
reguladora da capacidade para contrair casamento, considerando que:
(1) A regra de conflitos argentina estabelece que a capacidade para contrair
casamento é regulada pela lei do lugar da celebração do casamento;
(2) A regra de conflitos paraguaia regula a questão pela lei do domicílio do nubente
e considera Alberto domiciliado em Portugal;
(3) Os Direitos de conflitos argentino e paraguaio praticam, no caso, o sistema de
devolução simples;
(4) Segundo o Direito material argentino, Alberto não teria capacidade para se casar;
(5) Segundo o Direito material português, não existiriam quaisquer impedimentos ao
casamento.

OJs potencialmente aplicáveis: Portugal (RH), Argentina (nac), Paraguai (llc).


Quaestio: capacidade matrimonial. Aplica-se o art. 49.º CC (+31.º).

L1 pt à L2 (nac: arg – é um OJ complexo, mas no caso não temos dados).


L1 pt à L2 (nac: arg) DS à L3 (llc: parag) DS à L1 (rh: pt) à L2 (nac: arg)
Logo:
L2 aplica L1;
L3 aplica L2;
L1 aplica qual?
Aplica-se o art. 18.º/1: em princípio, há retorno, pois a L2 aplica L1.
Aplica-se o 18.º/2? A matéria insere-se no estatuto pessoal e a pessoa reside em Portugal.
Assim, o ar.t 18.º/2 não faz cessar o retorno.
L1 pt aplica L1 pt.
No caso, claro, ter-se-ia que verificar a aplicação do art. 19.º. No caso, este não faz cessar
o retorno, pois o Dto Material português considera o sujeito capaz e, portanto, não
determina a invalidade do casamento.
Caso 24

Em 1998, A, súbdito do Reino Unido residente em Londres, fez, em Londres, um


testamento no qual deixou à sua amiga B uma casa situada em Sintra. Em 2009, data da
sua morte, o património de A era somente constituído por este bem. C, único filho de A,
vem requerer, perante os tribunais portugueses, a redução por inoficiosidade do
testamento por ofender a sua legítima. Aprecie a procedência do pedido de C, admitindo
que:
(1) no Reino Unido vigora um ordenamento jurídico complexo e não existe Direito
interlocal unificado nem Direito Internacional Privado unificado;
(2) as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do lugar da
situação do imóvel;
(3) o Direito Internacional Privado inglês consagra a teoria da dupla devolução1.

Não se aplica o RRIV.


Aplica-se o art. 62.º CC.
L1 pt à L2 nac (RU: art. 20.º/2, pt.final do CC à Inglaterra) DD à L1 LRS (pt)
Aplica-se o art. 18.º/1? A L2 aplica a L1? Não, aplica a lei que a L1 aplicar. É um
loop, pelo que LLP entende que se deverá neste caso aplicar o art. 16.º do CC:
L1 aplica L2 (Ing).
OU SEJA, NÃO HÁ DIREITO À LEGÍTIMA – nos termos do Direito inglês.
Será que aplicando a L2 (INg), há ofensa da OPI (22.º CC)?

Caso se aplicasse a lei portuguesa e o testamento fosse inválido, será que o art. 19.º se
aplicar e impediria o retorno?

Se fosse de entender haver retorno nos termos do art. 18.º/1, será que este cessaria
por via da aplicação do art. 19.º (visto que o Direito material português não
permitiria a validade do testamento)? Duvidoso, pois permitiria o estado de
sucessível de C.

Além do mais, FC, BM, DMV defendem uma interpretação restritiva do art. 19.º, de modo
a limitar o seu alcance às situações já constituídas e não à sua constituição em Portugal
com a intervenção de uma autoridade pública e desde que a situação esteja em contacto
com a OJpt ao tempo da sua constituição (só neste caso poderiam os interessados ter
confiado na válida constituição da situação segundo a lei designada pela nossa norma de
conflitos).
Já LLP discorda: é uma redução teleológica (interpretação abrogativa) que teria de ser
justificada à luz do fim da norma ou outros princípios ou valores do sistema de Direito de
Conflitos. Segundo LLP, o legislador quis dar primazia ao princípio favor negotii
relativamente à harmonia internacional. LLP faz ainda notar que aquele entendimento

1
Diz-se no sumário do ac. da Relação de Évora de 28 de Outubro de 1993, CJ, tomo V,
1993, p. 276: “I - Remetendo a lei portuguesa, em caso de sucessão de inglês falecido em
Portugal, para a lei nacional deste, esta remissão é para o respectivo direito material e não
para as suas normas de conflitos. II - O direito dos filhos à legítima não é um princípio
de ordem pública internacional do direito português.”
parece partir do pressuposto de que os indivíduos se podem guiar pelas normas de
conflitos mas não pelas normas sobre devolução.

Por último, será que estamos perante um caso de aplicação do instituto da reserva de
ordem pública internacional?

Sub-hipótese:
E se o britânico tivesse falecido em 2016?

Aplicar-se-ia o RRIV.
Art. 21.º/1:
L1 pt à L2 RH (RU: art. 36.º/2/a: Ing à designação direta) DD à L1 pt
Art. 34.º/1/a: ficciona-se que a L2 opera uma remissão por RM. Aceita-se o retorno.
Nessa altura (2016), o RU ainda era Estado-membro, mas não era signatário do RRIV
(considerando 82). Era considerado Estado terceiro, para efeitos do art. 34.º (reenvio)?
LLP considera que seria considerado Estado terceiro (entendimento amplo). Se assim
fosse, então aplicar-se-ia o art. 34.º.
Como a LIng remete para a lei de um Estado-membro (Portugal), este não teria de se
considerar competente (al. a)) e deverá ler-se a alínea a) como ficcionando que a L2
opera o reenvio por referência material (apesar de no caso a LIng operar com sistema de
dupla devolução).
[mesma resposta agora que a Inglaterra não é Estado-membro da UE].
Caso 25

Jonathan, brasileiro com residência habitual em Lisboa, pretende casar-se em Portugal. O


Direito brasileiro sujeita a capacidade matrimonial à lei do domicílio, praticando
referência material. Segundo o Direito português, Jonathan não tem capacidade para se
casar. Mas tem à luz do Direito brasileiro. Qual a lei aplicável?

OJs potencialmente aplicáveis: Portugal (RH, LLC), Brasil (nac.)


Quaestio jurídica: capacidade matrimonial

Art. 49.º CC (+31.º):


L1 pt à L2 nac (Br) RM à L1 RH (Pt)
Aplica-se art. 18.º/1: L1 aplica L1 (visto que a L2 aplica L1).
O art. 18.º/2 não o impede (o sujeito reside em Portugal).
E o art. 19.º/1? Depende da tese (situação ainda não constituída).
Caso 26

Anthony, britânico com residência habitual em Londres, faleceu em 2016, sendo a sua
herança composta por bens imóveis situados na França. Admitindo-se que:
(1) as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do lugar da
situação da coisa;
(2) os tribunais ingleses praticam dupla devolução;

Qual a lei aplicável?

SPI – conexões com Inglaterra (nac+RH), França (LRS).


RRIV aplica-se os âmbitos temporal (83.º e 84.º), espacial (conflito de leis no espaço),
territorial (foro – não necessariamente um tribunal - em Portugal) e material
(interpretação autónoma do conceito de sucessão por morte) verificam-se.
Não se aplica o art. 22.º.
Art. 21.º/1:
L1 pt à L2 RH (RU: 36.º/2/a – Ing) DD RM à L3 LRS (Fr) RRIV à L2 RH (LIng)
(34.º: L3 aceita retorno) à L3
Em princípio, não se aplica o 21.º/2.
L2 aplica a lei que a L3 aplicar, pois opera um sistema de DD (foreign court theory). A
L3 remete para a L2, nos termos do 21.º/1 do RRIV, mas aplica-se a si própria (pois aceita
o retorno, nos termos do art. 34.º/a do RRIV). A Inglaterra é E3.º, portanto o 34.º aplica-
se, e como a LIng remete para a Lfr, que é um EM, então o 34.º/a aplica-se.
Contudo, não importa saber que lei a L3 ou mesmo a L2 aplicam.
Nos termos do art. 34.º/a, ir-se-á aplicar a lei para a qual a L2 remeta, ou seja, a L3, já
que esta pertence a um Estado membro.
Aplica-se o art. 34.º/a RRIV: L1 aplica L3 (fr).
Ver ainda art. 30.º: LRS- Fr.

Sub-hipótese:
E se todos os imóveis do património de A estivessem situados na República da Irlanda,
cujo Direito Internacional Privado sujeita a sucessão imobiliária à lei do lugar da situação
da coisa, com dupla devolução?

Considerando 82 do RRIV: Irlanda não participa do RRIV.


RRIV, art. 21.º/1:
L1 pt à L2 RH (LRU: LIng – 36.º/2/a) DD à L3 LRS (Irlanda) DD à L3 LRS
(Irlanda)
Artigo 20.º - âmbito universal.
Há reenvio nos termos do art. 34.º? Aplica-se a primeira parte do art. 34.º/1 e, se
considerar a Irlanda como Estado terceiro, aplicar-se-á a alínea b). Neste caso, todavia,
já não se ficciona a referência material. De qualquer modo, no caso nada obsta à
aplicação desta alínea e, assim, à aceitação do reenvio, uma vez que a lei irlandesa (L3)
se aplica a si própria e que a L2 aplica a L3.
RU: Irlanda do Norte, Escócia, País de Gales, Inglaterra.
Caso 27

Bernardo, nacional português residente na Inglaterra (Reino Unido), faleceu em 10 de


novembro de 2016 tendo como bens sucessórios um imóvel situado em Portugal e um
imóvel situado no Quebeque (Canadá). Discute-se hoje, perante tribunais portugueses, a
sua sucessão imobiliária.
Determine qual a lei reguladora da sucessão imobiliária de Bernardo, considerando que:
(1) os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
(2) no Reino Unido e no Canadá não existe Direito interlocal unificado nem
Direito Internacional Privado unificado;
(3) o Direito de conflitos inglês pratica o sistema da foreign court theory e regula
a sucessão imobiliária pela lex rei sitae;
(4) o Direito de conflitos do Quebeque pratica o sistema da referência material e
regula a sucessão imobiliária pela lex rei sitae.

Na dupla devolução, a lei de referência(LA) aplica a lei que a lei para a qual a lei de
referência remete (LB) aplica (LD).
La à Lb DS à Lc à Ld
Aplica-se o RRIV.
Art. 21.º/1:
Esquema relativo ao imóvel sito em PT:
L1 pt à L2 RH (RU: art. 36.º/2/a – Ing) DD RMà L1 LRS (Portugal) à L2 Ing.
Ling DD à Lpt (RRIV: 21.º) à Ling à Lpt (34.º/1/a)
L2 aplica L3 e L3 seja EM
Esquema relativo ao imóvel sito no Canadá:
L1 pt à L2 RH (RU: art. 36.º/2/a – Ing) DD à L3 LRS (Canadá: 36.º/2/c – Quebeque)
RM à L3 LRS (Quebeque)

Aplica-se o art. 34.º, que permite o reenvio (quer para a Lpt, quer para a LQuebeque) ou
aplica-se a L2?
Nos termos dos artigos 21.º, 23.º, Considerando 37 e o próprio art. 34.º (“ou”) apontam
no sentido de vigorar no RRIV o princípio da regulação unitária da sucessão. Assim,
poder-se-ia defender que o reenvio fica excluído quando o Estado terceiro da L2 (no
caso, Inglaterra) remetesse para mais de uma lei. Contudo, doutrina internacional e
nacional (LLP) entendem que é de aceitar o dépeçage (fragmentação da regulação da
situação jurídica) e aplicar a lei portuguesa aos imóveis situados em Portugal, por
via da alínea a) (ficcionando-se que a referência por parte da L2 é material, não
relevando saber se a lei portuguesa se aplica a si própria – benefício da aplicação de leis
de Estados-membros, mas também facilitação do problema, visto que os EM aplicam o
Regulamento e, antes de aplicar o art. 34.º, não se sabe ao certo qual a lei que a lei do
foro aplica), e a lei do Quebeque aos imóveis aí situados, por via da alínea b) (a
LQuebeque aplica-se a si própria, pelo que os pressupostos da alínea estão
verificados).

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