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dos tribunais franceses, mas sim o artigo 4º do Regulamento, que é a regra geral. Logo,
é este último artigo que se aplica.
A leitura de normas gerais e especiais deste Regulamento é diferente da estudada
em Introdução ao Direito, onde norma especial revoga a norma geral. Neste caso, é um
direito de opção, onde as soluções têm de ser diferentes para se poder aplicar a norma
especial.
O facto de o lugar de cumprimento ser em Portugal não tornaria competentes os
tribunais portugueses, porque a regra que fundamentava a competência dos tribunais
franceses era o artigo 4º do Regulamento, que segundo este o lugar era o domicílio do
réu.
Aplica-se o Regulamento, porque face ao caso estavam verificados os 3 âmbitos.
No entanto, caso falha-se um dos âmbitos (não era o caso), teríamos de analisar o nosso
sistema autónomo de competência internacional. Neste sentido, são relevantes os artigos
94º, 62º e 63º do CPC.
O artigo 94º respeita ao pacto privativo de jurisdição, que é um acordo onde as
partes atribuem jurisdição a tribunais de um determinado Estado-Membro. Este artigo
não se aplicava neste caso. O artigo 63º tem prioridade em relação ao artigo 62º, pois
prevê matérias de competência exclusivas dos tribunais portugueses, como, por
exemplo, em matérias de direitos reais, insolvência, sociedades, etc. Ora, não estávamos
perante nenhuma dessas matérias. Por outro lado, o artigo 62º alínea a) contem o
princípio da coincidência, que diz que os tribunais portugueses serão internacionalmente
competentes quando também o sejam por aplicação das regras internas de competência
em razão de território – artigos 70º e ss. do CPC.
Aqui, nesta concreta ação, o artigo aplicado de competência internacional seria o
artigo 71º do CPC, que prevê a competência em razão do território quanto a ações em
que se exija o cumprimento da obrigação. O domicílio do réu era em França, logo,
também ao abrigo do nosso sistema autónomo de competência internacional, se teria de
reconhecer competência aos tribunais franceses e não aos tribunais portugueses.
A 2ª parte do artigo 71º nº1 do CPC confere, em algumas situações, o direito de
opção ao autor, mas para que este exista é preciso uma de duas coisas: que o réu seja
pessoa coletiva ou que o autor e réu tenham domicílio na mesma área metropolitana –
Lisboa ou Porto. Neste caso não se aplica, porque o réu era pessoa singular e também o
réu tinha domicílio em França, logo autor e réu não viviam na mesma área.
Concluindo, também o nosso sistema autónomo impunha a competência
internacional aos tribunais franceses.
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relevante como elemento de conexão o lugar de desenvolvimento da atividade do réu. A
verdade é que a redação deste artigo é outra, sendo o lugar conjunto da prestação de
serviços.
Neste sentido, a solução continua a ser dada pelo artigo 4º do Regulamento.
Logo, os tribunais competentes seriam os franceses, não pelo facto de a atividade do réu
ser em França, mas pelo seu domicílio ser nesse país.
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artigo 7º do Regulamento não se aponta para um “outro Estado-Membro” diferente
daquele ao qual o artigo 4º reconhecia jurisdição.
Se a ação tivesses sido interposta em Tribunal português, este poderia apreciar
da sua (in) competência (princípio da kompetenz-kompetenz). Tendo a ação sido
interposta em tribunais portugueses estaríamos perante uma incompetência absoluta, por
violação das regras de competência internacional – artigo 96º alínea a) in fine, 576º nº2
e 577º alínea a), todos do CPC. Esta exceção dilatória era de conhecimento oficioso
(artigo 578º 1ª parte do CPC) e sendo julgada procedente o réu seria absolvido da
instância – artigo 278º nº1 alínea a) do CPC – e formar-se-ia um caso julgado formal
(artigo 620º e 579º nº1, ambos do CPC).
Recordando:
Existem duas formas de processo: comum e especial – artigo 546º nº1 CPC. A
maior parte dos processos especiais constam do CPC – artigos 878º e ss. No entanto,
existem processos especiais fora do CPC, como a ação especial para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de contrato com valor não superior a 15 mil euros –
DL 269/98.
Um artigo relevante é o artigo 547º do CPC, que prevê o poder de adequação
formal do juiz. Este artigo relaciona-se com o dever de gestão processual previsto no
artigo 6º nº1 do CPC. Já o artigo 548º é um artigo que se limita a dizer que o processo
comum de declaração segue forma única – remissão para os artigos 511º nº1 parte final,
468º nº4 e 597º. Por fim, o artigo 549º nº1 limita-se a dizer que na falta de disposições
particulares no processo especial aplicam-se subsidiariamente as normas do processo
comum.
Parte A – As formas do processo
Pergunta 1 - António propõe uma ação declarativa para cumprimento de
obrigação pecuniária de € 35 000, emergente de contrato de fornecimento de bens,
celebrado com Pedro. Qual a forma de processo aplicável?
Estamos perante uma ação declarativa de condenação – artigo 10º nº3 alínea b)
do CPC – em que se pede o valor de 35 mil euros correspondente a uma obrigação
pecuniária de um contrato de fornecimento de bens.
Esta ação não se aplica à ação especial de cumprimento de obrigações
pecuniárias emergentes de contrato, pois o valor do caso prático era superior a 15 mil
euros. Ora, a ação tem o valor de 35 mil euros e os artigos que fundamentam o valor da
ação são os artigos 296º nº1 e 297º nº1 do CPC. Assim sendo, aplica-se o processo
comum, visto que segundo o artigo 546º nº1 e 2 do CPC, “o processo comum é
aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial”.
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Deste modo, seria aplicável o processo comum da declaração, que segue forma
única, nos termos do artigo 548º do CPC.