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Direito das Obrigações Turmas 1 e 2 2021/2022

Casos práticos

Caso prático n.º 1:


Considerando as seguintes situações, qualifique e classifique o contrato em questão
em cada uma das alíneas e as prestações debitórias que constituem o objeto das obrigações
principais que dele emergem para cada uma das partes contratuais:
a) A 11 de outubro de 2018, Carlos vende a Nuno o seu automóvel por 12.000€. O
carro é entregue de imediato. Convencionam que o preço será pago em 10 prestações de
1200 € cada.
b) Daniel obriga-se a proporcionar a Gonçalo, professor, o gozo de uma fração
autónoma propriedade do primeiro, situada em Vila Real, durante três anos – período em
que o segundo se encontra colocado numa escola da região. Gonçalo obriga-se a pagar 400
€ por mês.
c) Alberta e Luís celebram um contrato pelo qual a primeira se obriga a realizar
atividades de secretariado, no escritório do segundo e sob a autoridade do mesmo. Este
compromete-se a pagar àquela 700 € por mês.
d) Eduardo obriga-se a vender a Renata um terreno, de que o primeiro é proprietário
em Vila do Conde. A segunda obriga-se a comprá-lo. Convencionam que a escritura pública
de compra e venda será celebrada 3 meses depois.
e) A 1 de maio de 2018, Zeferino empresta a Orlando 15.000 €, pelo prazo de 3 anos,
à taxa de 5%. Os juros devem ser pagos anualmente, e o capital deve ser restituído em três
prestações anuais de €5.000,00 cada.

Caso prático n.º 2:


Em novembro de 2016, António, dono de uma galeria de arte, prometeu vender a
Bárbara, negociante de arte, e esta prometeu comprar, um quadro da pintora Vieira da
Silva, tendo ficado acordado que o contrato definitivo se celebraria no dia 10 de janeiro de
2017. O preço foi fixado em €75.000,00, tendo Bárbara entregado logo €15.000,00 na data
da celebração do contrato.
Confortada com a celebração do contrato com António, Bárbara começou de
imediato a procurar comprador para o referido quadro, tendo procedido à sua venda em
dezembro de 2016 a Carlos, reputado colecionador de arte, pelo preço de €100.000,00
(€50.000,00 entregues de imediato e os restantes €50.000,00 a entregar no momento da
entrega do quadro), com a expressa ressalva de o quadro ser ainda propriedade de António.

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Sucede que, no dia 5 de janeiro de 2017, António recebeu uma proposta de compra
do referido quadro por €125.000,00 da parte de um colecionador alemão, tendo de
imediato procedido à referida venda.
Analise a posição jurídica de Carlos perante Bárbara.

Caso prático n.º 3:


No dia 1 de janeiro de 2018, Alexandre comprou um automóvel a Bernardo, por
€20.000,00, com estipulação de uma cláusula de reserva de propriedade até integral
pagamento do preço. O carro foi entregue de imediato ao comprador, acordando-se que o
preço seria pago em 20 prestações mensais de €1.000,00 cada.
No mesmo dia, Alexandre celebrou com Carlos um contrato de arrendamento de
uma fração autónoma, por um período de um ano, tendo sido estipulado o pagamento de
uma renda mensal de €1.000,00.
Devido a dificuldades económicas, Alexandre não pagou a 7ª e a 8ª prestações do
preço do automóvel, nem a renda dos meses de junho, julho e agosto.
a) Quais os direitos de Bernardo e de Carlos?
b) Suponha agora que Alexandre e Bernardo haviam acordado que o automóvel deveria
ser entregue a Alexandre no início de março – altura em que Bernardo receberia o seu
novo veículo – e que o preço deveria ser pago no início do mês de julho. Considerando
que Bernardo descobre, em finais de fevereiro, que a situação económica de Alexandre
se deteriorou consideravelmente em virtude de um endividamento excessivo, pode
aquele recusar-se a entregar-lhe o automóvel?

Caso prático n.º 4:


No dia 7 de outubro de 2013, a Sociedade Comercial Alberto Silva, Lda. (A) adquiriu
à Sociedade Comercial Bragança & Caldas – Máquinas Industriais, S.A. (B) uma máquina de
alta velocidade para corte de moldes da marca CC, de que B era a única representante em
Portugal.
Sucede que em outubro de 2015 a referida máquina bloqueou, sendo que tal
problema apenas podia ser resolvido com a colocação de um código de desbloqueio de que
somente B era portadora.
Tendo sido contactada para fornecer o código, B recusou-se a fazê-lo, informando A
que apenas lhe daria o código em causa se esta entregasse o montante de €3.000,00,
relativo ao pagamento de assistências técnicas realizadas a outras máquinas anteriormente
adquiridas, ainda não liquidado.
Analise a situação descrita, pronunciando-se sobre a natureza jurídica do dever de
fornecer o código de desbloqueio e o fundamento invocado para o seu não cumprimento.

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Caso prático n.º 5:


Bernardo e Cláudio, irmãos, compraram bilhetes para assistir a um importante jogo
de futebol da equipa de que são apoiantes. No dia do jogo, ambos se deslocaram ao estádio,
tendo presenciado uma vitória da sua equipa conseguida nos minutos de desconto. No meio
do júbilo de uma multidão de adeptos, ocorreu o desmoronamento de uma plataforma de
betão do estádio, tendo Bernardo sofrido, em consequência, múltiplas lesões.
Bernardo pretende propor uma ação contra o clube, pedindo uma indemnização
pelos danos que lhe foram causados no trágico acidente à saída do estádio.
a) Quid iuris?
b) Suponha que não foi Bernardo que se lesionou, mas sim o seu filho Daniel, de 3 anos,
que havia ido ao estádio ao abrigo da política de livre entrada de menores com menos
de 4 anos, desde que acompanhados por adulto responsável com bilhete.

Caso prático n.º 6:


Emanuel acordou com Filipe, dono de uma oficina de automóveis, a mudança de
óleo do seu automóvel, por 70 euros. Ficou acordado que o carro ficaria na oficina de um
dia para o outro, indo Emanuel buscá-lo logo pela manhã.
Porém, quando Emanuel foi buscar o automóvel à oficina, apesar de o óleo ter sido
mudado conforme o acordado, o carro apresentava os vidros laterais partidos.
Tendo confrontado Filipe com a situação, o mesmo exige receber os 70 euros do
serviço efetuado e entende que nada lhe pode ser exigido, dado que os estragos no carro
foram provocados por terceiros que assaltaram a sua garagem durante a noite.
Quid iuris?

Caso prático n.º 7:


E comprou a F a água de uma mina para fazer face aos efeitos da seca que costuma
assolar a sua aldeia durante o verão. Apesar de a lei exigir a celebração do negócio por
escritura pública (cfr. artigos 204º, nº1, al. b) e 875º CC), as partes celebraram o negócio
verbalmente, por entenderem que entre pessoas honradas a palavra basta e não vale
menos do que uma escritura.
O preço foi pago e E canalizou a água da mina para sua casa.
Três anos mais tarde, F morreu e os seus herdeiros vieram invocar a nulidade do
negócio, exigindo de E a restituição da água vendida, assim como o levantamento da
canalização.
E não se conforma com aquilo que considera ser uma “enorme injustiça”. Quid iuris?

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Caso prático n.º 8:


G celebrou com H, em 23/10/1989, por escritura pública, um contrato de cessão de
exploração de uma pedreira sita em Santo Tirso. A escritura pública foi outorgada, em nome
de G, pelos seus representantes com poderes para tal e, em nome de H, por um funcionário
sem poderes para o ato, tendo intervindo na qualidade de gestor de negócios.
Ficou exarado na escritura que o notário advertiu as partes da necessidade de o
contrato ser ratificado por H para se tornar eficaz em relação a ela, porém, tal nunca veio a
acontecer.
Não obstante, o contrato foi executado durante um longo período de tempo,
durante o qual H extraiu brita da referida pedreira. Sucede, porém, que, a certa altura, H
suspendeu inopinadamente os pagamentos da brita que ia retirando, tendo G exigido a
condenação desta no pagamento da brita retirada, com fundamento na ratificação tácita
do contrato de cessão de exploração.
Quid Juris?

Caso prático n.º 9:


Luís celebra com Mário um contrato pelo qual o primeiro se obriga a dar preferência
ao segundo na venda de 100 ações da Sociedade de Transportes “Sempre a Horas, S.A”.
Estipulam uma cláusula penal no valor de 25.000 €.
Decorridos 4 meses e meio, Nuno apresenta a Luís uma proposta muito vantajosa
para a compra das referidas 100 ações. Luís informa-o, de imediato, do compromisso que
assumira com Mário. Nuno, pretendendo concluir com a maior brevidade o negócio,
persuade Luís a não comunicar a Mário a intenção de venda das ações e os termos do
projetado negócio. Compromete-se, ainda, a pagar os 25.000€, no caso de Mário vir a
acionar a cláusula penal acordada.
Mário pretende obter de Nuno uma indemnização pelos danos que sofreu. Terá
razão?

Caso prático n.º 10:


Robertinho é um talentoso jogador de futebol, que joga no Clube “O Esférico
dourado”. O seu contrato abrange as próximas duas épocas. É o principal marcador da
equipa, tendo decidido muitos jogos com remates certeiros. Num dia de folga, enquanto dá
um passeio, é atropelado por Alberto que circulava em excesso de velocidade.
a) A sociedade titular do referido clube pretende responsabilizar o autor do
atropelamento pelos danos que para ela resultaram da morte de Robertinho, já que se viu
obrigada a encontrar no mercado um avançado que o substituísse, nas várias competições
disputadas pelo clube. Quid iuris?

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b) E Gervásio, filho de Robertinho, poderá demandar Alberto pela perda de 350 €


mensais que o pai lhe prestava em cumprimento da obrigação de alimentos que sobre ele
impendia em conformidade com a decisão judicial relativa à regulação do exercício das
responsabilidades parentais?

Caso prático n.º 11:


António, proprietário de um apartamento T0 sito na Rua da Torrinha coloca um aviso
publicitário nas Faculdades de Direito e de Letras da UP manifestando a sua intenção de
arrendar o apartamento no ano letivo 2019/2020 a um estudante.
No dia 9 de setembro, imediatamente após ter tomado conhecimento da sua
colocação na FDUP, Bárbara reúne com António e, tendo chegado a acordo quanto a todos
os aspetos da disciplina contratual, ambos celebram o contrato de arrendamento do dito
apartamento, tendo sido fixado que Bárbara se instalaria no dia 15 de setembro.
Sucede que no dia 12 de setembro Carlos, também estudante da FDUP,
desconhecendo que o apartamento se encontrava já arrendado a Bárbara, ofereceu a
António um valor superior de renda, o que este aceitou, tendo celebrado com Carlos novo
contrato de arrendamento sobre a mesma fração para o mesmo período temporal.
Quando Bárbara chegou ao Porto, pronta para se instalar no apartamento, o mesmo
encontrava-se já ocupado por Carlos, que havia chegado umas horas antes.
a) Quid Juris?
b) Quid iuris quanto à relação locatícia se António, entretanto, alienar o imóvel?
c) E se Bárbara ocupasse o apartamento gratuitamente à data da venda, em respeito pela
relação de amizade que unia António ao pai desta?

Caso prático n.º 12:


No dia 1 de novembro de 2018, Daniel, reputado pianista do Porto, obrigou-se a dar
um concerto no dia de ano novo num hotel sito na Avenida da Boavista pertencente à
Sociedade Comercial X.
Duas semanas depois, e porque o pianista inicialmente contratado ficou doente,
Daniel foi convidado para dar um concerto na principal sala de espetáculos de Tóquio no
dia 1 de janeiro de 2019.
Pronuncie-se sobre a situação em causa, tendo presente a impossibilidade de Daniel
assegurar os dois concertos.

Caso prático n.º 13:


No dia 1 de setembro, Eva prometeu vender e Fernanda prometeu comprar um
apartamento pertencente à primeira, sito na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto, tendo

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Fernanda pago a título de sinal o montante de €20.000,00. As partes acordaram que a


escritura pública de compra e venda do apartamento seria celebrada no dia 1 de dezembro,
tendo Fernanda ocupado o apartamento logo no dia 5 de setembro, com os efeitos
consagrados no art. 755.º, n.º 1, f) CC.
No dia 20 de novembro, porém, Eva vendeu a Guilherme o referido apartamento,
que exige agora a saída de Fernanda.
a) Quid Juris?
b) E se Eva e Fernanda tivessem atribuído ao contrato-promessa eficácia real?

Caso prático n.º 14:


A promete vender a B e B promete comprar um terreno de cultivo perto de Braga
por 100 mil euros, tendo o imóvel sido de imediato entregue a este último, que o começa a
cultivar. Ficou acordado que a escritura pública se realizaria daqui a 2 anos. Nesse período
de tempo, o prédio passa a valer 150 mil euros e, na data marcada, A não comparece no
notário.
a) Pode B, de imediato, exigir a A uma indemnização ao abrigo do disposto no art. 442º,
nº2 in fine e recusar-se a abandonar o terreno enquanto A não pagar? Que outros
direitos tem B?
b) Pode A defender-se com a nulidade do contrato na eventualidade de este ter sido
celebrado por documento assinado só pelo promitente-comprador?

Caso prático n.º 15:


Em novembro de 2016, António, dono de uma galeria de arte, prometeu vender a
Bárbara, negociante de arte, e esta prometeu comprar, um quadro da pintora Vieira da
Silva, tendo ficado acordado que o contrato definitivo se celebraria no dia 10 de janeiro de
2017, data em que terminaria a exposição sobre a pintora patente na galeria de António. O
preço foi fixado em €75.000,00, tendo Bárbara entregado logo €15.000,00 na data da
celebração do contrato-promessa.
Sucede que, no dia 5 de janeiro de 2017, António recebeu uma proposta de compra
do referido quadro por €125.000,00 da parte de um colecionador alemão, tendo de
imediato procedido à referida venda.
Indique quais os direitos de Bárbara perante António.

Caso prático n.º 16:


C celebrou com D, em 20 de outubro de 2017, um contrato-promessa pelo qual
ambas as partes se obrigavam respetivamente a vender e a comprar um apartamento T3

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situado em Vila Nova de Gaia. Foram observados os requisitos de forma exigidos para tal
contrato.
D mudou-se logo para o referido apartamento, onde passou a habitar.
O mesmo entregou, de imediato, a C €10.000, a título de sinal. Três meses mais
tarde, em continuação do pagamento do preço convencionado, D entregou mais €15.000.
Ficou acordado que a celebração do contrato definitivo deveria ocorrer dentro do
ano subsequente ao dia da celebração do contrato-promessa, devendo C indicar a D o dia,
a hora e o cartório notarial em que tal ocorreria.
a) Quid iuris, sabendo que até hoje C não informou D da data e local para a
celebração do contrato definitivo, apesar das várias interpelações deste àquele?
b) Considere, agora, que D interpelava C para cumprir, sob pena de considerar o
contrato definitivamente não cumprido. Poderia ainda recorrer à execução específica?
c) Suponha, por fim, que, no contrato-promessa referido em texto, havia sido
inserida uma cláusula pela qual D poderia nomear um terceiro para ocupar a sua posição
contratual. C, no início de setembro, informa D de que a celebração da escritura pública
está marcada para o dia 6 de outubro de 2018. D, a 15 de setembro, envia a C uma carta,
em que procede à nomeação de E. No dia 6 de outubro, aparece no cartório notarial, E e
não D. C recusa-se a celebrar a compra e venda com E. Quid iuris?

Caso prático n.º 17:


António vive numa moradia de dois andares, propriedade de Bernardo e que este
havia arrendado àquele no início da década de 1990.
Em finais de fevereiro do ano corrente, Bernardo envia a António um mail com o
seguinte conteúdo:
“Venho, por este meio, expor os termos em que estou disposto a efetuar a venda
do prédio que lhe está arrendado:
1. Valor da Venda: 250.000 €;
2. Pagamento: 5 pagamentos de igual valor;
3. Despesas por conta do comprador.”
António, também por correio eletrónico, dá-lhe a seguinte resposta: “Venho
informar que, em princípio, não estou interessado na compra do prédio. De facto, não
estou, neste momento, preparado para dispor da verba mencionada.”
A 6 de junho, Carlos, interessado na compra do referido imóvel, encontrando
António no supermercado das redondezas, comunica-lhe o seu interesse na aquisição e
informa-o de que já está a negociá-la com o Bernardo. António, invocando novamente
dificuldades económicas, revela-lhe que não está interessado.
A 10 de novembro, Bernardo vende o prédio a Carlos.

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a) António, que, entretanto, recebera um dos primeiros prémios do Euromilhões, sabendo


da venda, pretende reagir. Pode fazê-lo?
b) A resposta seria a mesma se António não fosse inquilino de Bernardo e o direito de
preferência do primeiro derivasse de um pacto de preferência? Qual a forma que o
mesmo deveria observar?
c) Suponha, agora, que António propõe uma ação de preferência, nos termos do art.º
1410.º do Código Civil, demandando Bernardo e Carlos, como réus. A primeira e a
segunda instâncias julgam Bernardo parte ilegítima e absolvem-no da instância. Quid
iuris?

Caso prático n.º 18:


Aproximando-se a data da celebração do casamento de Fernando, o seu pai, Gonçalo
decide oferecer-lhe uma quantia em dinheiro que o ajude no início da vida de casado.
Assim, Gonçalo, dono de um stand de automóveis, tendo convencionado a venda, por
€25.000, de um automóvel de uma determinada marca e modelo, a Bernardo, acorda com
este que o direito ao preço caberá ao seu filho, Fernando.

a) Três semanas depois da celebração do negócio, Fernando exige a Bernardo a entrega dos
€25.000. Bernardo não efetua o pagamento e recusa o automóvel que Gonçalo lhe
pretende entregar por apresentar um grave defeito no sistema elétrico que impede a sua
utilização. Quid iuris?
b) Devendo Gonçalo a Bernardo metade do preço relativo à venda de um terreno por
€80.000, pode Bernardo declarar a compensação, considerar extinta a sua dívida e exigir de
Gonçalo os €15.000 remanescentes?
c) Se o casamento não se chegar a celebrar, pode Bernardo recusar-se a entregar os
€25.000 a Fernando?
d) Considerando que o carro é entregue a Bernardo nas condições estipuladas, mas que
ele não paga o preço, existindo convenção a permitir a resolução do contrato por falta
de pagamento do preço nos termos do art. 886.º CC, quem pode resolver o contrato?

Caso prático n.º 19 (adaptado do Acórdão de 22 de abril de 1986, publicado na Revista de


Legislação e Jurisprudência, Ano 121, pp. 59 e ss, anotado por Baptista Machado):
Augusta, numa manhã de Inverno, quando se dirigia de automóvel para o emprego,
não se apercebendo de um lençol de água que se estendia numa zona desnivelada da
estrada, perde a direção do seu veículo que cai por uma ravina. Augusta é projetada para o
exterior, sofrendo várias e profundas lesões.
Em virtude do despiste, o veículo de Augusta sofreu alguns danos.

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Após o acidente, e tendo Augusta sido imediatamente conduzida a um serviço de


urgência hospitalar, Bernardo, que se dedica às atividades de reparação de veículos
automóveis e de pronto-socorro, toma a iniciativa de, com o seu pessoal, rebocar o veículo
para a sua oficina onde o teve durante vários meses.
Contudo, quando o pessoal de Bernardo retirava o veículo da ravina, rebentou um
elo da corrente do guindaste do pronto-socorro tendo o veículo caído do alto até ao fundo
da ravina. Deste novo acidente resultou a maior parte dos danos sofridos pelo veículo. O
pronto-socorro utilizado era um veículo com largos anos de serviço cujo cabo de reboque
era submetido a esforços diários.
Perante a recusa de Augusta em pagar qualquer valor pelos serviços de Bernardo,
este recoloca o veículo no local do acidente.
Augusta interpõe, então, uma ação contra Bernardo a pedir-lhe uma indemnização
pelos danos sofridos no carro em consequência do rebentamento do cabo. Bernardo
contesta e em reconvenção pede que Augusta seja condenada a pagar-lhe os serviços
prestados.
Quid iuris?

Caso prático n.º 20:


A, residente na Holanda, é proprietário de uma casa de férias numa região pacata
do Norte de Portugal, onde costuma passar as férias de verão. Sem que nada o fizesse
prever, uma violenta onda de assaltos assola a região, na época de Natal. Não tendo forma
de contactar A, B, seu vizinho, contrata com a empresa de segurança X, em nome de A, um
sistema de deteção de intrusos mediante alarme à distância, contra o pagamento de um
montante inicial e de prestações mensais. B procedeu ao pagamento das duas primeiras
mensalidades; contudo, e apesar de a onda de assaltos se ter, entretanto, intensificado,
deixou de o fazer, o que fez com que a empresa X interrompesse a prestação dos serviços
contratados. Desprotegida, a casa de A é assaltada, sendo furtados diversos objetos, e
danificado o seu interior.
a) Pode a empresa X exigir a A o pagamento das mensalidades em falta?
b) Pode B exigir a A o reembolso dos valores pagos durante o período de execução do
contrato?
c) E A, terá alguma forma de responsabilizar B pelos prejuízos sofridos na sua casa?

Caso prático n.º 21 [baseado no acórdão do STJ de 29-jan-2015 (processo n.º


162/09.1TVPRT.C1.S1)]):
A companhia de seguros A celebrou com a transportadora B um contrato de seguro
contra o risco de perda e deterioração do veículo automóvel com a matrícula 89-XU-12,
bem como dos danos por este provocados. Constava expressamente da apólice de seguro
que o referido automóvel havia sido disponibilizado a B em regime de locação financeira

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(leasing), sendo o seu proprietário o locador financeiro C, terceiro beneficiário do seguro.


Constava ainda que o seguro não cobria os danos no caso de o condutor não se encontrar
legalmente habilitado, ou se o mesmo estivesse, no momento do acidente, sob a influência
de álcool, estupefacientes ou outras drogas.
Durante a vigência do contrato, no dia 16 de maio de 2010, um funcionário de B (D)
teve um acidente de viação, do qual resultou a sua morte, bem como a destruição integral
do veículo segurado. Feita a respetiva participação, A pagou a C a quantia de €30.000,00 a
título de indemnização.
Sucede que veio a comprovar-se que, na data do acidente, D circulava com uma taxa
de alcoolemia de 1,82 gr/l, o que a seguradora desconhecia no momento em que efetuou
o pagamento a C.
Perante esta revelação, a companhia de seguros A pretende obter a repetição da
importância prestada a C. Deverá a sua pretensão ser atendida?

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