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Direito Processual Civil II

2023/2024

Casos práticos

Para cada uma destas situações indique qual deve ser:

a. O pedido
b. O tipo de ação
c. O valor da causa
d. A forma de processo (art. 546.º e DL 269/98)
e. A causa de pedir

1. A descobre que o seu cônjuge, B, teve relações sexuais com C. A instaura contra B
uma ação de divórcio, alegando a violação do dever conjugal de fidelidade.

2. A celebra um contrato de compra e venda de uma casa de férias com B, no valor de


€150.000, procedendo ao seu registo. Nesse Verão, ao chegar à casa, percebe que esta
está ocupada por C, que se recusa a sair. Assim, A instaura contra C uma ação de
reivindicação do imóvel.

3. A celebrou um contrato pelo qual se obrigava a pintar um quadro e B pagaria o valor


de €9.000. Entregue o quadro, B recusa-se agora a pagar. A instaura uma ação de
cumprimento.

4. A celebrou com B um contrato-promessa de compra e venda de um imóvel no valor de


50.000 euros, o qual foi incumprido por este último. A, promitente-comprador, requer a
execução específica do referido negócio jurídico.

5. B chocou contra o carro de A por estar a guiar distraído ao telefone, partindo o braço
de A e danificando o seu carro. A propõe contra B uma ação judicial na qual pede uma
indemnização pelos danos sofridos, no valor que se vier a apurar.

6. A, construtor civil, celebrou com B um contrato de empreitada. Tendo A incumprido


os prazos acordados, B não pôde começar a viver na sua casa, pelo que teve de viver num
hotel durante um mês. B instaurou uma ação judicial pedindo uma indemnização pelos
prejuízos sofridos no valor de 3.740.98 euros, correspondentes ao valor que pagou ao
hotel.

7. A instaura uma ação de investigação de paternidade contra B.

8. A celebra com B um contrato de compra e venda de uma casa, pois este mostrou-lhe
documentos e brochuras que demonstravam que o local onde o imóvel se situava era
despoluído e seguro. Vindo a perceber, uma semana depois, que tinha sido enganado, A
propõe uma ação contra B, pedindo ao tribunal a anulação do contrato com base em dolo.

9. A resposta à questão anterior mudaria se o vício invocado fosse a nulidade do contrato?

II

1. A e B celebraram um contrato de compra e venda de um terreno. Porém, A comprou


convencido que o terreno dava para construir uma moradia, sendo que, na verdade, o
mesmo pertencia à reserva ecológica. Assim, A propõe uma ação contra B pedindo a
anulação do contrato de compra e venda, com base em erro, e pedindo ainda o pagamento
de uma indemnização pelos danos sofridos.

a. Analise o objeto processual apresentado.

b. Imagine agora que B contesta, invocando que o prazo para arguir a


anulabilidade do negócio já tinha decorrido. Como qualifica a defesa apresentada?

c. Perante a defesa apresentada por B, pode A replicar/responder?

2. C celebra um contrato com D para que este lhe forneça 30 maçãs. D não o fez, pelo
que C propõe contra ele uma ação em que pede o cumprimento do contrato e a declaração
da sua nulidade por ter feito a sua declaração negocial sob coação moral.

a. Analise o objeto processual apresentado.

b. Imagine agora que D contesta, invocando que a consequência da coação moral


não é a nulidade, mas sim a anulabilidade do contrato. Como qualifica a defesa
apresentada?

c. Perante a defesa apresentada por D, pode C replicar/responder?

3. E e F celebraram um contrato em que aquele se obriga a vender a este um carro de


coleção dos anos 20 ou um carro de coleção dos anos 50 pelo mesmo preço de 15.000
euros, ficando a escolha do carro de coleção a vender ao critério de F. Acordaram ainda
que a entrega do carro de coleção ocorreria no prazo de uma semana na casa de F, no
Porto. Apesar de já ter recebido o preço, E recusa-se a entregar qualquer dos carros. F
propõe uma ação contra E em que pede a entrega de um deles. Analise o objeto processual
apresentado.
III

1. M e O celebraram um contrato de prestação de serviços, pelo qual M se obrigou a pintar


um vitral na casa de O. Como, na data acordada, M nem sequer tinha iniciado a sua
pintura, O propôs uma ação contra M, pedindo que este fosse condenado a cumprir o
contrato de prestação de serviços e, no caso deste pedido improceder, fosse condenado
no pagamento de uma indemnização no valor de 5.000 euros pelo facto de o seu
incumprimento ter impedido a casa de ser capa de uma famosa revista de decoração, o
que daria a O a oportunidade de obter patrocínios.

a. Na contestação, M afirma que estes pedidos não podem ser formulados na


mesma ação.
a. Tem razão?
b. Qualifique esta defesa e indique as suas consequências processuais.
b. M alega ainda que não pintou o vitral porque O não lhe pagou o preço acordado.
Qualifique o tipo de defesa apresentado e as consequências processuais.
c. Imagine que, já durante o decurso da ação, O descobre que quando M andou a
fazer estudos para a instalação do vitral, partiu um vaso muito valioso.
a. Pode ainda pedir uma indemnização por este dano?
b. Pode trocar o pedido de indemnização que já havia formulado por este?

2. E propôs ação de reivindicação contra F, pedindo a restituição de um apartamento que


diz ser seu, no valor de 150.000,00 euros. E invoca que é proprietário do apartamento por
tê-lo comprado a Z.

a. Analise o objeto da ação.


b. F, na contestação, diz não saber se tal contrato de compra e venda foi ou não
celebrado, mas que tem direito a ocupar o apartamento por ser seu usufrutuário,
visto que celebrou um contrato com Z pelo qual adquiriu esse direito.
a. Qualifique a defesa apresentada e as suas consequências processuais.
b. Que temas de prova deveria o juiz fixar caso não F não tivesse
respondido?
c. F, ainda na contestação, pede que o tribunal declare a existência do usufruto, ou,
caso o usufruto não fique demonstrado, que condene E no pagamento de 3.000
euros, valor que gastou na remodelação da cozinha. Pede ainda que E seja
condenado a devolver-lhe 10.000 euros que F lhe emprestara. Pode fazê-lo?

3. A “crise mundial” levou a que P e Q, para manter as aparências, pedissem a um vizinho


comum, R, alguns empréstimos. Assim, P, desejando oferecer ao seu filho de 19 anos um
bom automóvel, pediu a R um empréstimo de 35.000 euros. P não pagou o empréstimo
na data convencionada, pelo que R propôs uma ação declarativa no Tribunal Judicial de
Comarca de Santarém. Do mesmo modo, Q, querendo oferecer um cavalo à sua filha,
pediu a R um empréstimo de 15.000 euros. Este empréstimo também não foi pago.
a. Poderia R, numa só ação, pedir a condenação de P e Q no pagamento de ambos
os empréstimos?
b. Imagine que a ação é proposta apenas contra P e que este, na contestação, invoca
ainda que no passado emprestara 45.000 euros ao autor, pelo que não deve ser
condenado a pagar-lhe nada. Qualifique esta afirmação do réu.

IV

1. O que significa dizer que a revelia operante tem efeito cominatório semi-pleno?
2. Encontrando-se o réu em revelia totalmente operante, o que deve o tribunal fazer, se se
aperceber de que é incompetente em razão da nacionalidade para conhecer do mérito da
causa?
3. Encontrando-se o réu em revelia totalmente operante numa ação de cumprimento de
um contrato, o que deve o tribunal fazer se se aperceber de que o contrato é nulo por
contrariedade à lei?
4. Encontrando-se o réu em revelia totalmente operante numa ação indemnizatória, o que
deve o tribunal fazer se resultar evidentemente dos factos invocados na petição inicial a
falta de nexo de causalidade entre o facto ilício e os danos invocados?
5. A propõe ação contra B e C, na qual formula um pedido de indemnização, no valor de
20.000,00€, contra B, por este o ter agredido intencionalmente com pontapés na cabeça,
causando um grave traumatismo, e um pedido de anulação de contrato contra B e C, por
o ter celebrado sob coação, exercida por B através da referida agressão.

a. B e C nada fazem. Quais as consequências processuais do seu comportamento?


b. B e C não apresentam contestação, mas juntam aos autos procuração forense.
Quais as consequências processuais do seu comportamento?
c. C contesta, afirmando que esteve presente no momento da celebração do contrato
e que não houve qualquer agressão. Afirma ainda que, ainda que essa agressão
tivesse existido, o prazo para pedir a anulação do contrato já havia decorrido e que
o direito à indemnização já havia prescrito, por estes factos terem ocorrido em
2010. Por sua vez, B não apresenta contestação. Qualifique o comportamento de
B e C e indique as suas consequências processuais.

1. A e B celebram um contrato de mútuo de €50.000. B propõe uma ação contra A, em


que descreve a celebração do referido contrato e pede o seu cumprimento.

a. Na contestação, A só invoca exceções dilatórias. Quais as consequências


processuais?
a. E se fosse um contrato de compra e venda de um relógio?
b. Como deveria o juiz proceder quando procurasse o contrato de mútuo nos anexos
da petição inicial e não a encontrasse?
c. B pode entregar um documento, assinado por A e B naquele jantar, que contenha
os termos em que acordaram o mútuo?
d. E se fosse um contrato de compra e venda de um relógio?
e. B pode chamar os amigos de A e B, que estavam no mesmo jantar em que o
contrato se celebrou, para testemunharem no sentido de ter sido celebrado o
contrato de mútuo?
f. Na contestação, B alega que já pagou, mas A afirma que é mentira. B pode chamar
os mesmos amigos para testemunharem no sentido de o terem visto entregar um
mês depois, em notas, o montante devido?
a. O que aconteceria se existisse apenas um único exemplar do contrato, na
posse de A, e este o tivesse queimado? O tribunal poderia utilizar este facto
para fundamentar a decisão de condenar o réu no pedido?

2. H propõe uma ação de reivindicação de um imóvel contra I, invocando é o proprietário,


porque comprou a casa a J. I contesta, invocando que celebrou antes um contrato de
arrendamento com J, pelo que tem direito a ficar na casa. H responde, alegando que o
arrendamento foi celebrado pela duração da vida da sua irmã J e que esta já morreu. I
alega que J ainda está viva e que tal cláusula é nula por contrariedade à lei.
a. Fixe os temas de prova, justificando.
b. Quem tem o ónus de prova relativamente a cada um dos temas de prova?
c. Se, em cada tema de prova, o juiz ficar na dúvida sobre o que aconteceu
realmente, em que sentido deve decidir?

3. C propõe ação contra D, alegando que a casa que este lhe vendeu tem determinados
defeitos e pedindo a sua reparação. D afirma que a casa não tem quaisquer defeitos.
a. Para provar a existência dos defeitos, C fotografa a casa e junta, na audiência
prévia, as fotografias aos autos. D não se pronuncia quanto às fotografias.
Poderá o juiz decidir que os defeitos que vê nas fotografias não existem?
b. D verifica que as fotografias foram alteradas em Photoshop para parecer que
existem defeitos que na verdade não estão lá. O que pode fazer?
c. C junta ao processo uma carta, escrita e assinada por si, que enviou a D, dando
conta dos defeitos que encontrou na casa, um mês antes da propositura da
ação, e pedindo a reparação. Em face desta carta, pode o juiz considerar
provada a inexistência de defeitos?
d. C pretende apresentar a sua mãe como testemunha. No entanto, a fase dos
articulados já passou. Quid iuris?
e. C pretende, ele próprio, testemunhar. Quid iuris?
f. Pode o advogado de C requerer o depoimento de parte de D para provar os
factos alegados na petição inicial? Em que momentos poderia fazê-lo?
g. C apresenta uma outra testemunha, mas esta não se quer deslocar ao tribunal,
e prefere escrever o seu depoimento. Quid iuris?
h. O juiz pretende realizar uma inspeção judicial e uma perícia, para averiguar
da existência dos defeitos, mas nenhuma das partes o requereu. Quid iuris?
i. Imagine que M, testemunha arrolada por D, afirma que existem defeitos e os
descreve tal como constam na petição inicial. Pode D pedir ao juiz que não
valore o depoimento que M prestou? Pode o juiz dar como provados os factos
alegados na petição inicial, com base no depoimento de M?
j. Imagine agora que existe uma cláusula do contrato, nos termos da qual, numa
futura ação, caberia ao autor o ónus da prova de todos os factos. Quid iuris?

VI

1. Joana encontra-se grávida de 30 semanas, com uma gravidez de risco e ordem médica
de repouso. O seu vizinho de cima comprou um cão que ladra dia e noite, impedindo
Joana de dormir. Correndo o risco de pôr em risco a vida e saúde do bebé por falta de
descanso, Joana requer uma providência cautelar. Se fosse juiz:

a. Citaria o requerido?
b. Decretaria alguma providência?

2. Afonso propõe uma ação através da qual pretende invalidar a compra da Quinta da
Cepa pelo seu irmão Camilo a Berta, mãe de ambos, por não o ter autorizado. Na
pendência desta ação, Afonso apercebe-se que de Camilo pretende proceder à alienação
daquele bem, por este o andar a publicitar em jornais de muita divulgação. Requer, por
isso, o arresto da Quinta com inversão do contencioso. Se fosse juiz, como agiria?
(responder às questões a. e b. do caso VI.1 e indicar se decretaria a inversão do
contencioso)

3. António, proprietário do imóvel X, situado em Aveiro, intenta uma ação judicial contra
Bento, na qual pretende o reconhecimento do seu direito de propriedade sobre o referido
imóvel, porquanto Bento aclama em público que tal imóvel sempre pertenceu a sua
família.

a. Se for proferida sentença condenatória, poderá o réu confessar o pedido?


b. Imagine agora que o réu tinha deduzido um pedido reconvencional admissível.
Ficando A com medo de que este pedido procedesse, dirige-se a si, seu advogado,
pedindo conselhos acerca de uma eventual desistência da ação. O que lhe diria?
c. António e Bento estão dispostos a chegar a um acordo nos seguintes moldes:
Bento reconhece a propriedade de António sobre uma parcela do imóvel X, e este
último aceita a propriedade de Bento sobre o restante. Analise a admissibilidade
do acordo feito nestes moldes.
d. Na questão anterior, imagine que o mandatário judicial do autor agiu ao abrigo de
uma procuração forense que lhe concedia poderes gerais. Quando o autor é
notificado da sentença homologatória de tal acordo, fica bastante indignado, pois
não pretendia desistir da ação.
e. Admita que António e Bento haviam posto termo à instância conforme referido
na alínea d., mas que A só o fez porque B o ameaçou de que, se não chegasse a
acordo, contaria à sua mulher o que este andava a fazer às sextas-feiras à noite.
Tendo, entretanto, a sua mulher descoberto pelos seus próprios meios, A quer
invalidar a transação. Pode fazê-lo? De que forma?
f. Imagine agora que o autor desistia da instância e depois se arrependia. Poderia
propor uma nova ação com o mesmo objeto?

4. A propõe ação de impugnação da paternidade presumida contra a sua ex-mulher e


contra a sua presumida filha. Depois da contestação apresentada pela filha, A decide
desistir da instância. Pode fazê-lo?

VII

1. Em janeiro de 2022, António vendeu a Bento um terreno rústico lá para os lados das
beiras. O contrato foi celebrado perante notário, por escritura pública. Como o terreno é
pequeno, o preço da compra e venda foi de 15.000 €, pago no momento da celebração do
contrato. Mal adquiriu o imóvel, Bento construiu um muro em todo o seu perímetro para
evitar arrufos com os vizinhos.
Bento comprou o terreno porque estava convencidíssimo que no seu subsolo existia uma
considerável reserva de lítio, o que não era verdade. Por outro lado, Carlos, vizinho desse
terreno, resolveu destruir parte do muro construído por Bento, argumentando que o
terreno estava mal demarcado.
Em junho de 2022, Bento propõe uma ação judicial pedindo a anulação da compra e venda
perante António e a consequente restituição dos 15.000 €, alegando a celebração do
contrato em erro sobre o objeto do negócio (artigos 251.º, 247.º e 289.º, n.º 1, todos do
Código Civil (CC)). Pediu na mesma ação, agora perante Carlos, uma indemnização no
valor de 200 €, pelos danos causados com destruição do muro (artigo 483.º do CC).
Proferida sentença, o Tribunal considerou a alegação (B) de António procedente. Deste
modo, anulou o contrato e condenou in futurum António a restituir o montante entregue
a título de preço quando lhe fosse disponibilizado o terreno. Passados dois anos, António
propõe contra Bento uma ação em que pede a entrega do terreno vendido em 2022.

A sentença tem força de caso julgado na segunda ação? Se sim, como exceção ou
autoridade de caso julgado?

2. A comprou a B um relógio de coleção muito especial e único em junho de 2022. No


contrato, celebrado por documento escrito assinado por ambas as partes, estabeleceu-se o
preço de 15.000 € e apontou-se um dia de julho de 2022 para a entrega do relógio.
Também no contrato ficou acordado que caso o relógio não fosse entregue na data
acertada, A podia resolver judicialmente o contrato. Na data da assinatura, A pagou o
preço a B. No entanto, no dia combinado, B não entregou o relógio. Porque A queria
muito o relógio, propôs logo de seguida uma ação judicial, juntando na sua petição inicial
o documento escrito do qual constava o contrato. Na petição inicial, A pedia o
cumprimento do contrato (entrega do relógio) e, caso o Tribunal assim não considerasse,
a resolução judicial do contrato.
Tendo sido citado pessoalmente, B contestou, alegando que (1) nunca celebrou com A o
contrato de compra e venda constante do documento escrito junto na petição inicial; (2)
que do texto contratual não resultava que A podia resolver o contrato por motivo de atraso
na entrega do relógio; e que (3) exigia a A o pagamento de 10.000 € por dívida já vencida
que resultava de um contrato de mútuo celebrado entre A e B anos antes.
O Tribunal declarou improcedente os dois pedidos propostos por A, justificando que a
celebração do contrato não tinha sido provada.
Assim, passado 1 ano, A propôs contra B uma nova ação, em que pede que B reconheça
A como proprietário do relógio com fundamento na compra e venda. A sentença proferida
na primeira ação vale como autoridade ou exceção de caso julgado nesta segunda ação?

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