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DPC II. MGSR - Plenárias 2021

Direito Processual Civil II (Universidade de Lisboa)

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Mariana Rodrigues
Subturma 7 – Turma A
2020.2021

Aulas Plenárias de Direito Processual Civil II


Regência da Senhora Professora Paula Costa e Silva

Aula 25.02.2022

Já há material no moodle: acórdãos do STJ sobre o objeto do processo; intervenção do


Presidente do Supremo Tribunal da Irlanda para vermos a concisão e qualidade do
discurso; conferências sobre o que está a suceder na Ucrânia

O objeto do processo:
Todos os processos possuem um objeto, sendo este que determina o âmbito do caso
julgado (Artigo 619.º, CPC). Assim sendo, torna-se relevante analisar o Direito
Substantivo, visto que é este que é a base de análise para compreender o objeto do
processo.
Se o objeto do processo de desviar da matriz, encontramos pressuposto processuais
relativos ao objeto do processo para verificar a sua admissibilidade. A lei pretende
defender a admissibilidade dos objetos.
Os objetos processuais têm complexidades diferentes de caso para caso, sendo que quanto
maior for a complexidade do objeto que o Tribunal tem de julgar, mais tempo isso
demorará: há mais prova a produzir, há mais atos processuais a praticar, uma maior
complexidade dos atos, etc.
As relações entre objetos processuais serão de tal modo fortes que a sua complexidade não
é refutável: os objetos não são totalmente dispares, existe antes uma ligação entre objetos.
Caso exemplificativo: o credor A instaura uma ação contra B, devedor. Na petição inicial
A alega que B criou, voluntariamente, uma impossibilidade de cumprir com a obrigação a
que se tinha vinculado.
O Direito material, perante este alegado incumprimento, que é provocado pelo devedor,
nos termos dos artigos 801.º e ss, CCivil, diz-nos que: tem o credor o direito de resolver o
contrato, para além do direito de ser indemnizados pelos prejuízos causados pelo
incumprimento do contrato.

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Perante isto, o credor pode juntar as duas pretensões (= resolução do contrato e


responsabilidade civil) numa só ação, sendo que uma não prejudica a outra. Isto, no plano
processual, não é completamente disparatado porque, no julgamento, os factos centrais são
os mesmos para ambas as pretensões (=a base de factualidade é a mesma).
O que é mais difícil de apurar (e por isso também de provar) é se o devedor provocou, ou
não, uma situação de impossibilidade de cumprimento da obrigação, e esses factos são
comuns a ambas as pretensões supra identificados.
O que há de diferente nas duas pretensões é que, no caso do pedido de indemnização
(=pretensão referente à responsabilidade civil), há que identificar os danos provocados e o
nexo de causalidade entre os mesmos e o incumprimento contratual; conclui-se, por isso,
que há mais factos a provar do que para a resolução do contrato. Mas o que é central na
pretensão fica acertado quando assento na impossibilidade invocada pelo devedor nos
termos do artigo 801.º, CCivil. O Direito material oferece-nos duas pretensões e, em
termos processuais, não há uma maior complexidade significativa porque os factos
essenciais (=causa de pedir, art. 5.º, CPC) não são tão diferentes quanto isso, embora as
causas de pedir sejam distintas.
Perguntamo-nos agora se, nessas situações em que há factos essenciais em comum, se
não pode o autor propor cada uma das pretensões (materiais) em ações distintas:
Pode sim, a lei não impõe que o autor junte numa só ação várias pretensões, podendo
deduzi-las separadamente, até por razões de estratégia processual, por vezes.
Quando o autor propõe as ações separadamente corre o risco de obter decisões que sejam
contraditórias, porque no caso exemplificativo dado, se já tivesse sido proferida decisão
sobre o pedido de resolução, o Tribunal que julgasse o pedido de indemnização do credor
não estaria vinculado a essa decisão proferida, porque os objetos processuais não são
iguais. Esse risco depende, no entanto, da concreta ação e, por isso, tem de ser direcionado
pelo mandatário (=advogado).
Usualmente, quando estamos perante uma ação algo arriscada, muitas vezes a estratégia
processual mais adequada e segura é distribuir o risco deduzindo os pedidos
separadamente, indo por diferentes canais.
O objeto processual é composto pela causa de pedir (=Artigo 5.º, CPC) + pedido (=Artigo
581.º, CPC).

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Pedido = tutela que o autor pede ao Tribunal, em específico, isto é, aquilo que se requer ao
Tribunal que decrete.
A cumulação processual - Que tipo de relações se podem estabelecer entre objetos
processuais?
Ver: pedidos subsidiários (Artigo 554.º, CPC: regula a cumulação subsidiária própria) +
Cumulação de Pedidos (Artigo 555.º, CPC: regula todos os tipos de cumulação).
O autor pode dizer: <eu quero isto, e se me derem isto, também quero aquilo=, ou seja, se o
Tribunal declarar, no caso exemplificativo do incumprimento contratual imputável a B
(=devedor), o autor diria: <Se o Tribunal declarar que há uma impossibilidade imputável
ao devedor, satisfazendo o meu pedido de condenação por incumprimento contratual, para
além da resolução também quero ver apreciado um pedido de indemnização pelos danos
decorrentes do incumprimento contratual declarado.=
Quando o faz, o autor faz depender da apreciação do Tribunal o pedido secundário, só
sendo apreciado caso o primeiro proceda.
Há, por estratégia processual, um pedido de retaguarda.
Esquematizando os exemplos e explicações acima dados – há três tipos de cumulação
processual (=junção de vários objetos processuais):
I. Cumulação simples
A cumulação simples possui um regime próprio visto que o autor pede a procedência
de todas as pretensões, sendo ambas independentes entre si, inexistindo uma
hierarquia.
Caso exemplificativo: o autor crê que há uma impossibilidade no cumprimento da
obrigação imputável ao devedor e, como tal, quer que ele seja condenado no
pagamento de uma indemnização, e quer também a resolução do contrato, juntando as
duas pretensões numa só ação.
Neste caso, se o Tribunal não considerar que há uma impossibilidade imputável ao
devedor, mas só a mora do devedor, atendendo a que ainda há possibilidade do devedor
cumprir, não tem o autor direito à resolução, mas tem ainda direito a ser indemnizado
pela situação da mora.

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II. Cumulação subsidiária imprópria:


Sucede nos casos em que há um pedido (secundário) que depende da procedência de
outro (=o pedido principal). Também há cumulação, mas esta já não é simples porque
existe uma relação de dependência de um pedido face o outro.
Não tem regulação própria e, por isso, tem sido construída pela doutrina e
jurisprudência com base num paralelo entre o Artigo 554.º e 555..º, CPC.
III. Cumulação subsidiária própria:
O autor formula um pedido e, caso este não proceda, tem um pedido de
retaguarda/alternativo. Diz-se: <se não me der isto, pelo menos dê-me aquilo.=
Não tem como pressuposto processual a compatibilidade objetiva, porque o primeiro
pedido é improcedente (=não procede), tendo por isso como único pressuposto
processual (=Requisito de Admissibilidade) a competência absoluta do Tribunal para
todos os objetos.
Regulada pelo Artigo 554.º, CPC.
Pressupostos processuais da cumulação:
1. Compatibilidade Substantiva = compatibilidade das formas do processo.
Isto justifica-se porque não pode haver uma posterior incompatibilidade entre os efeitos
materiais produzidos, o que aconteceria, p.e, se o Tribunal declarasse que havia um
incumprimento contratual e posteriormente o mesmo contrato fosse declarado nulo.
Este requisito só se impõe nos casos de cumulação simples (I) e cumulação subsidiária
imprópria (II), excluindo-se a cumulação subsidiária própria (III).
2. Competência Absoluta do Tribunal para julgar todos os objetos.
Não podia o legislador permitir que o Tribunal ordenasse o cumprimento de um
contrato que depois fosse declarado nulo, p.e.
A lei estende à competência relativa quando há cumulações objetivas (?), caso
exemplificativo: se uma obrigação tem de ser cumprida em Lisboa, e outra no Porto,
não pode ser o Tribunal de Coimbra o competente para ambas as ações só porque fica a
meio caminho. Posso, no entanto, juntar as duas ações porque a lei pode determinar
que x Tribunal se torna competente para julgar o objeto da ação.

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E quando falha o preenchimento de um pressuposto processual referente às


ligações do objeto? (=Quais as consequências processuais da ausência de
pressupostos?):
Quando não se preenche um pressuposto processual estamos perante uma exceção
dilatória (Artigo 577.º, CPC).
Se o pressuposto for o relativo à competência absoluta do Tribunal (2) para julgar
todos os objetos do processo, e se o Tribunal for competente para um dos objetos, mas
não for para os restantes há uma exceção dilatória (Artigo 577.º, CPC) que é de
conhecimento oficioso (Artigo 578.º, CPC) e o réu é absolvido da instância (Artigo
278.º, CPC).
É necessário, na prática, avaliar cada um dos pressupostos para cada um dos objetos, e
depois verificar a ligação entre objetos.
O Tribunal só pode decidir (=julgar, proferir decisão de mérito) quando for
absolutamente competente em relação a cada um dos objetos, caso contrário estamos
perante uma exceção dilatória de conhecimento oficioso que culmina na absolvição do
réu da instância por incompetência absoluta do Tribunal. m
Nos casos de cumulação subsidiária própria (III): como o autor disse que só se o
primeiro objeto for improcedente quer um segundo objeto, se o Tribunal se considerar
incompetente para julgar o primeiro, não há improcedência e, por isso, não se <vai= ao
segundo objeto, porque não se preenche o requisito de improcedência. A ligação entre
objetos (=dependência) leva a que o segundo pedido não possa ser julgado, aliás, o
Tribunal não chega sequer a conhecer o segundo objeto.
Quando existe um problema de inadmissibilidade (=falta de preenchimento de,
pelo menos, um dos pressupostos processuais) referente ao primeiro pedido (=pedido
principal), o Tribunal não pode conhecer do segundo pedido, porque o autor não quer
ser satisfeito por esse pedido subsidiário (manifestação do princípio do dispositivo),
mas sim pelo primeiro, porque é esse que melhor satisfaz os seus interesses
substantivos, daí ter formulado uma hierarquia entre os pedidos.
A inadmissibilidade devido à falta de preenchimento do pressuposto de
compatibilidade das formas processuais requeridas pelos objetos é muito mitigada,
porque a forma do processo que analisamos nesta cadeira universitária é só uma: o

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processo comum (Artigo 548.º, CPC). No entanto, podem haver pedidos que sejam
tramitados através de processos especiais (Artigo 878.º e ss, CPC).
Solução:
Quando se verifica este tipo de inadmissibilidade ou o Tribunal consegue construir
uma tramitação que lhe permita julgar conjuntamente todos os pedidos estando
limitado às tramitações de todos os objetos, ou o Tribunal não consegue construir essa
fórmula que permite eliminar as indissiocracias e o Tribunal pergunta ao autor da ação
que escolha qual dos pedidos quer que o Tribunal conheça (=julgue).
Com isto falamos de duas coisas muito importantes:
a) Damos corpo ao princípio da adequação processual: visto que o Tribunal ou
constrói uma tramitação que lhe permita julgar aquela causa, ou não podendo fazê-
lo, pede ao autor que escolha, para saber que tramitação deve seguir.
Contrariamente ao que acontece com a falta do pressuposto de competência
absoluta, devido ao princípio do dispositivo, em que se absolve o réu da instância,
aqui opta por se aproveitar o negócio jurídico processual ao máximo, tentando
salvá-lo.
b) A incompatibilidade substantiva diz-nos que não podemos permitir coisas que o
processo não admite que sucedam ao mesmo tempo.
A lei tratou o problema da incompatibilidade substantiva como uma nulidade da
petição inicial (=nulidade de todo o processo, visto que a nulidade da petição inicial
gera a inexistência de uma ação), nos casos de cumulação simples (I) e cumulação
subsidiária própria (III).
É uma exceção dilatória de conhecimento oficioso, nos termos do Artigo 578.º, CPC.
Análise de preceitos legais relevantes:
Artigo 555.º, CPC – <Cumulação de pedidos=:
<1 - Pode o autor deduzir cumulativamente contra o mesmo réu, num só processo,
vários pedidos que sejam compatíveis, se não se verificarem as circunstâncias que
impedem a coligação.=
A compatibilidade de que se fala no artigo 555.º, n.º 1, CPC, é que resulta da ausência de
incompatibilidade entre pedidos e causas de pedir (=objetos processuais) e pode encontrar-
se, apesar da sua localização sistemática ser, de acordo com PAULA COSTA E SILVA,

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meio esdrúxula, no artigo 186.º, CPC (=ineptidão da petição inicial) que determina a
nulidade de todo o processo por via de uma exceção dilatória.
Art. 577.º, al. b) + Art. 555.º + Art. 37.º + Art. 186.º, CPC: CABULAR.
!! Atenção !!: A lei não diz que, para que haja compatibilidade, se têm de verificar as
circunstâncias que impedem a coligação (Art. 36.º, CPC), diz sim: desde que se verifiquem
os requisitos de admissibilidade da coligação (Art.37.º)! (Este é um erro muito comum nas
provas escritas).
O artigo 36.º, CPC já fala da coligação, e fala ainda de requisitos que lhe são próprios
devido à sua elevada complexidade, porque verificamos que na coligação existe uma
pluralidade de partes (vários autores contra vários réus, vários réus contra um autor, um
autor contra vários réus). Há, na coligação, uma complexidade objetiva à qual se acresce
uma complexidade subjetiva.
Não se aplica, neste caso, o artigo 36.º, CPC, porque este tem requisitos próprios para a
realização!!! O Artigo 555.º, CPC não diz que há, como obstáculo à cumulação subsidiária
própria (III), que pede vários efeitos em simultâneo, a existência entre conexão de objetos
processuais, mas se olharmos para o artigo 36.º, que mais uma vez: não se aplica!!, este
vem permitir a coligação quando há certas relações entre os objetos processuais: é
permitida de autores contra vários réus, por pedidos diferentes (=há litisconsórcio, e não
coligação), quando a causa de pedir seja a mesma (=causa de pedir única), porque os factos
essenciais – artigo 5.º, CPC – são basicamente os mesmos; ou quando os pedidos, entre si,
numa relação de reciprocidade ou dependência. O Artigo 555.º, CPC, não fala disto, por
isso ter cuidado com a aplicação dos artigos, e não confundir a ligação com o Artigo 37.º,
CPC, com o Artigo 36.º
Pode o autor juntar tudo isto? – A doutrina diverge:
1. PCS: Pode, porque os requisitos de admissibilidade vedam o exercício do direito de
ação, são aqueles que permitem que existam; o artigo 20.º, CRP obriga a passar
pelo crivo do artigo 18.º Ainda que assegurados os pressupostos processuais, se o
Tribunal entender que há um enorme retardamento (=inconveniência no julgamento
conjunto da ação), pode mandar o autor escolher que pedido quer ver julgado, mas
isto é uma exceção, e numa uma regra! Portanto, é o regime do artigo 37.º que dita
os seus limites, porque é necessário que o Tribunal fundamente a impossibilidade
de decidir, ao abrigo do princípio do dispositivo.

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O artigo 555.º, CPC não impõe a conexão entre objetos processuais, mais isto não
significa congelar as outras regras do sistema!
2. MTS: Tem de haver uma conexão de sentido que se constrói, tendo uma posição
distinta para cada. A lei determina, ao abrigo do princípio do dispositivo, que é o
autor que diz ao Tribunal que interesse quer ver tutelado, e de que forma quer essa
tutela.
A incompatibilidade substantiva (=entre pedidos) não impede que os pedidos sejam
deduzidos porque o autor não quer tudo ao mesmo tempo: o autor faz um pedido e,
caso este improceda, tem um pedido de retaguarda. Por isso, nos casos de
cumulação subsidiária própria não são aplicáveis os artigos 586.º e 587.º, CPC.
<2 - Nos processos de divórcio ou de separação sem consentimento do outro cônjuge
é admissível a dedução de pedido tendente à fixação do direito a alimentos.=
Aula 04.03.2022
Perguntas iniciais:
1. Quando há uma coligação com vários autores, e não existe conexão entre os
objetos, e se pede aos autores que escolham há necessidade de haver consenso
sobre o objeto escolhido?
Sim! A escolha tem de ser feita por consenso, sob pena de violação do princípio do
dispositivo em relação a um, ou vários, autores.
Nova forma de cumulação objetiva:

Esta forma de cumulação é agora provocada pelo réu, e não pelo autor o que significa que
há subjacente uma cumulação objetiva sucessiva com pressupostos processuais
específicos.
O primeiro problema que esta cumulação suscita é, de acordo com o que vimos no 1.º
semestre, com o princípio da estabilidade da instância:
Este aspeto é crucial porque marca o tipo de sistema que o Direito Processual Civil
português tem quanto à rigidez ou flexibilidade objetiva.
O princípio da estabilidade da instância diz-nos que, depois da citação do réu (Artigo
563.º, CPC), qualquer alteração que o autor faça provoca uma obrigação de contraditório,
devendo a instância deve manter-se a mesma, quer quanto às partes, quer quanto ao objeto.

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Existem dois (2) tipos de alterações subjetivas admitidas por lei como exceções ao
princípio da estabilidade da instância:
a) Habilitação ou transmissão da coisa ou direito em litígio - era possível que o
transmissário de habilitasse, o que provoca uma alteração das partes na ação.
b) Sanação da ilegitimidade por litisconsórcio necessário.
Se conseguir suprir a falta de um pressuposto, não tenho imediatamente uma
solução formal (=absolvição da instância), permitindo que ainda que não
verificados os pressupostos, se possível, sejam possíveis decisões de mérito,
admitindo a sanação. Podemos concluir que está aqui uma concretização do
princípio da prevalência da substância em detrimento da forma, assim como do
aproveitamento dos atos jurídicos.
Na habilitação, aquele que surge na ação depois do início da mesma admite tudo o
que o outro litisconsorte (que já estava na ação) praticou, não permitindo que o que
se juntou destrua os efeitos já produzidos.
Estas modificações subjetivas supra eram admissíveis porquanto não implicavam uma
inutilização de atos processuais: A parte que se habilitava tinha de continuar o processo no
ponto em que se encontrava, não se inutiliza tudo o que foi praticada até então no processo
até por aplicação do princípio do aproveitamento máximo dos negócios/atos
processuais/jurídicos: se consigo suprir o problema sem perturbar o processo, vou fazê-lo,
porque assim também evito a inutilização do mesmo, e o proferimento de uma decisão
meramente formal.
Reconvenção (=Pedido Reconvencional):
Traduz um pedido autónomo, desta vez formulado pelo réu, e contra o autor (da PI) - o
réu não se limita a dizer que quer ser absolvido (instância ou pedido), diz mais, p.e, diz que
se for condenado a entregar a casa, quer que o autor seja condenado a pagar todas as
benfeitorias realizadas na casa que deve entregar. Além da eventual defesa do pedido que
tenha quanto à entrega da casa, então pede a condenação do autor em x se o réu for
condenado.
Deduz um pedido autónomo, o que resulta obviamente um objeto autónomo, porque os
pedidos do reu não se confundem com os do autor. Tipicamente, mas não
obrigatoriamente, tenho também novos factos para instruir, e é racional que assim seja
porque se o reu deduz um pedido contra o autor, que é diferente do que o autor deduziu,

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então as causas de pedir deverão ser logicamente distinta, os factos essenciais que tem de
ser demonstrados são diferentes.
Tipicamente a complexidade é muito grande porque para alem de um novo pedido, existe
uma nova causa de pedir.
Quando vimos a matéria das exceções, e a professora explicou porque é que a exceção não
é tratada, pelo sistema, como objeto autónomo, que requeira condições de admissibilidade
(=pressupostos). A exceção também tem causa de pedir (Art. 5/1, CPC), então porque é
que a lei não trata a exceção como objeto de autónomo? Porque o reu tinha de o fazer na
contestação, se não o fizesse precludia.
Se impuser requisitos de admissibilidade à exceção violarei o direito de defesa do reu
porque não pode deduzir a exceção por falta de pressupostos, mas se a situação material
resulta daquela exceção nunca poderá ser invocada.
Não é porque a exceção seja mais ou menos complexa que a reconvenção, não tem a ver,
mas é o princípio da preclusão que justifica a possibilidade de interpor requisitos de
admissibilidade à exceção, o que não acontece com a reconvenção.
o PEDIDO autónomo que o reu deduz contra o autor não fica prejudicado se não for
formulado naquela concreta ação. A situação de Direito material, que é sempre o nosso
ponto de referência, de que o reu se pode prevalecer contra o autor, não caduca e, por isso,
já posso impor requisitos de admissibilidade à reconvenção.
Há casos de reconvenção obrigatória, MAS SAO ABSOLUTAMENTE EXCECIONAIS.
Quais serão os requisitos de admissibilidade da reconvenção? Aqueles que encontramos
nas diferentes modalidades da cumulação (enquanto cumulação objetiva; mas, para além
disso, tem de cumprir os requisitos de admissibilidade que se impõe ao autor (tem de ser
determinado e não pode recair sobre obrigações inexigíveis)
Porque o réu junta um objeto ao configurado previamente pelo autor, há
pressupostos processuais específicos para a cumulação objetiva sucessiva:
1. Conexão entre os objetos;
2. Competência interna e absoluta do Tribunal;
3. Compatibilidade subjetiva (das formas do processo);
Dentro da competência interna não são tangíveis nem a competência em razão da matéria,
nem a hierárquica, nem tão pouco a competência internacional. O pressuposto da
competência é intuitivo, como sucede na cumulação originária: o tribunal tem de ser

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absolutamente competente para todos os pedidos, porque havia extensão de competência


para o pedido deduzido na ação para um tribunal que não era o competente.
E terá de haver compatibilidade subjetiva? Quando a procedência de ambos os pedidos
(cumulação subsidiária imprópria), querendo a condenação simultânea do autor (se o réu
for condenado, então isto).
Cumulação subsidiária própria (só se provoca um, porque o outro não se provoca): Se o
réu disser que quer ser absolvido do pedido, mas quer que o autor seja condenado.
Caso da casa arrendada e das benfeitorias: os factos que justificam a procedência
Morosidade e necessidade (?)
Procedibilidade e caso julgado são sempre os eixos do DPC: o que o réu quer é uma
decisão condenatória do autor.
O juiz que julga o pedido do autor, e que julga em cima o pedido de benfeitorias, esta
melhor colocado que um juiz que nunca teve contacto com a ação. Este juiz conhece uma,
e outra, posição. Não submeto apenas um pedido de condenação junto a ele e, uma vez
mais, isto é estratégia.
Conexão Objetiva
A reconvenção é tipicamente facultativa, são raríssimos os casos em que é obrigatória.
Sendo tipicamente facultativa, não exigindo um juízo substantivo que incida sobre o reu
sobre a não dedução, em que casos é que a lei há de admitir o julgamento conjunto dos
dois objetos? Quando em causa esteja o princípio de estabilidade da instância, e não um
princípio da necessidade, porque não há preclusão.
Qual era sempre o pressuposto de base? Se a causa de pedir de ambos se basear nos
mesmos factos essenciais justifica-se, porque a causa de pedir é fundamentalmente a
mesma. A lei não antepõe uma razão de admissibilidade porque não a podia antepor pois
não passava no crivo do Artigo 18.º, CRP. Mas porque é que se podia admitir até certo
limite? Se o juiz entendesse que havia retardamento no julgamento e instrução da causa,
mandava seguir em separado devido ao Artigo 20/4, CRP, que impõe que o processo veja
uma decisão em tempo razoável.
Porque é a mesma causa de pedir será uma razão de conexão objetiva? A circunstância dos
factos essenciais serem essencialmente os mesmos, ou té os mesmos, implica que a
reconvenção não vai provocar uma enorme perturbação na instrução e julgamento da
causa.

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São factos quer da causa de pedir do réu, quer do autor, e são factos constitutivos. Quem
tem então de os provar? Lá chegaremos. Caso: se for condenado a entregar, quero que o
autor seja condenado a pagar as benfeitorias.
Distribuição de risco e caso julgado para garantir que não há contaminações porque o juiz
é um só; se tiver as pretensões dispersas por vários processos posso diminuir o impacto das
decisões uniformemente contra mim. E qual é o risco contrário? Incongruência entre casos
julgado que não consigo superar!
Caso de pensão de alimentos, em que posteriormente alguém recusa a paternidade. Estas
duas decisões podem ser incongruentes, mas na primeira não é decidido por força do caso
julgado que não é pai, mas é um pressuposto da obrigação imposta de prestar alimentos.
Esse pressuposto que depois não é alcançado por força do caso julgado acaba por ser
destruído posteriormente (há uma tese de agregação de um prof italiano sobre isto).
Que incongruências é que depois não quero ultrapassar? Isto também de ser avaliado
quando se escolhe juntar, ou separar, as ações por diversos processos.
Há uma regra relativamente às decisões como esta dos alimentos, que diz que as decisões
são sempre instáveis, nomeadamente do ponto de vista económico-financeiro. Mas a causa
de instabilidade não tem a ver com ser ou não ser parente/progenitor, é por causa das
condições económicas que, flutuando, implicam que tenha de prestar, ou que não tenha que
prestar.
Ele não tinha a obrigação de o alegar no primeiro processo? Não estará a litigar contra os
parâmetros da boa-fé? Tese de Passo Cabral que fala de círculos de estabilidade que são
estabelecidos não só dentro de um processo, mas de forma irradiante entre formas de
processo. Nesse caso, quando o pai ao alega e vem depois alegar, viola o princípio da boa-
fé processual que está nos Códigos, e este regime é diferente no Direito brasileiro. Para as
situações jurídicas processuais da parte podemos aplicar todas as situações de má-fé,
incluindo a suppressio.
PCS: é uma solução que nos leva longe de mais, o nosso sistema não permite tal
ponderação. Considerando a saída possível não a boa-fé, que é a defendida por Marco
Ogrario (?), sendo que não era impedida a decisão do segundo processo, porque no
primeiro processo poderia ter discutido esse problema, e podia tê-lo discutido conseguindo
que o tribunal proferisse uma decisão com força de caso julgado sobre essa matéria, mas
não o fez; a primeira decisão não prejudica o conhecimento dessa matéria.

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A maior dificuldade é dizermos que vamos destruir a primeira decisão: analogia entre as
razoes que permite ma revogação por ausência dos pressupostos de necessidade de prestar
os alimentos e dizer que o pressuposto base é ser pai, e agora temos uma decisão com força
de caso julgado, que ditam que não está preenchido.
Art. 266.º, CPC: pressuposto processual da conexão objetiva
<PEDIDOS= = o pedido formulado pelo réu contra o autor não tem de ser um, pode fazer
até cumulação, nesses casos temos ainda de ver os requisitos de admissibilidade da
cumulação feita pelo próprio réu.
Quando é que há conexão? Quando há um mesmo facto jurídico que sirva de fundamento
(eficácia máxima no sentido de não perturbação do julgamento da causa); os factos a
instruir são os mesmos. E quem tem o ónus da prova desses factos?
"Compensação" (Art. 236.º, CC) = há uma causa de extinção para alem do cumprimento,
posso aplicar que regras do cumprimento? Admite-se uma pluralidade de deveres de
prestação.
Ver: Regime da Compensação.
Aula 07.03.2022
Homenagem ao professor Oliveira Ascensão, por ocasião do seu falecimento.
Duas obras de Direitos reais - prof Oliveira Ascensão (são muito bons: algo do género
Situações jurídicas reais e ...)
Bioética, inteligência artificial e direito dos valores mobiliários.
Aula 11.03.02202
A compensação:
Nos termos do CCivil a compensação é uma forma de extinção das obrigações para além
do cumprimento, o que significa que é um efeito distintivo do direito material, por isso
apresenta-se como extinção perentória extintiva porque ele resulta o direito de que o autor
se arroga contra o réu.
A compensação tem uma particularidade: o direito substantivo não impede que o crédito
que se visa compensar seja superior ao crédito que foi primariamente exercido, o que
significa que possa acontecer que haja um excesso do pedido condenatório face o réu.
Deve a compensação ser distinguida quanto à eficácia processual sendo numas vezes (?)
extintiva, e noutras reconvencional (quanto ao excesso) - questão muito debatida na
doutrina portuguesa

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A exceção não tem requisitos de admissibilidade devido ao princípio da preclusão; a


reconvenção tem requisitos de admissibilidade.
A posição mais adequada diz que não tem sentido espartir este direito de crédito, tendo
numas situações requisitos de admissibilidade e noutros não; havendo uma condenação
autónoma invocada contra o reu, então só esse pedaço teria requisitos de admissibilidade;
Para todo o crédito do reu têm de se verificar os requisitos de admissibilidade
Polemica mais recente: o reu não invoca o contra crédito, se não o fizer, se entender que
estamos a falar de uma dedução de exceção perentória, há a extinção desse crédito porque
o reu não deduziu o pedido e como tal ocorreria a destruição da situação jurídica material e
o reu não poderia invocar o contra redito contra o autor.
Se deveria ter deduzido num primeiro processo, não é possível, há preclusão. O nosso
direito não permite a preclusão do crédito que o reu podia ter invocado contra o autor.
Em que situações temos de pensar numa linha mitigada de solução deste problema?
Relação umbilical entre crédito e contra crédito, como o caso de entrega (Art. 1311.º, CC)
e benfeitorias (Artigo 218.º, CC).
Caso exemplificativo: O reu não pede a compensação por benfeitorias no processo em que
é condenado à entrega.
Pode invocar num outro processo? PCS: Sim, mas o réu deveria ter pedido no primeiro
processo para evitar contrariedades entre o primeiro e segundo processo.
A compensação gera muita polémica doutrinária.
Uma querela doutrinária especialmente intensa levou a uma alteração do CPC que
abortou com a dissolução da AR:
A proposta revertia a solução que por último encontramos consagrada que é a da
compensação operar sempre por reconvenção e nunca por exceção, ainda que o crédito do
reu seja inferior ao do autor. Não se olha tanto para o efeito extintivo, para alem do
comprimento, mas de assegurar os requisitos de admissibilidade do próprio pedido
deduzido pelo reu.
Outra circunstância em que a lei determina que é admissível por conexão objetiva: o
reu pretende obter, para seu benefício, o mesmo efeito que o autor pretendia ao intentar na
ação. O mesmo efeito da ordem jurídica, só que em seu benefício. Há conexão objetiva
entre o pedido que formula o autor e o pedido que formula o reu. Requisito da conexão
objetiva exigido para a reconvenção, falhando este requisito da conexão surge uma

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exceção dilatória, que determina a absolvição do reu da instância porque se há nova ou


conta instancia entre autor e reu, o reu passa a ser designado de reconvinte, e o autor contra
o qual o reu deduziu a reconvenção é o reconvindo (NOVA INSTÂNCIA CRUZADA SE
FALTAR A CONEXAO OBJETIVA COMO REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE). O
reconvindo é absolvido. O processo seguirá com o seu objeto inicial, para instrução e
julgamento com a ação que o autor deduziu contra o reu.
Havendo um objeto complexo é possível que a reconvenção seja deduzida relativamente a
qualquer um dos objetos estabelecidos, as relações entre o objeto formulado pelo reu e o
inicialmente formulado pelo autor, depende das relações de conexão entre objetos.
Caso exemplificativo: se o autor pedir pedidos em regime de cumulação, o reu não tem de
o fazer. Desde que assegurada a conexão, o autor pode ir sempre deduzindo pedidos
reconvencionais
A lei vem esclarecer, recentemente, como se resolvam alguns casos que levavam a
disparidades jurisprudenciais: pode acontecer que o pedido deduzido pelo reu contra o
autor, implique a constituição de um litisconsórcio relativamente ao pedido que o reu
deduz contra o autor, seja a legitimidade passiva litisconsorcial, o que implica das duas
uma: ou não admitimos a constituição do litisconsórcio e assim impedimos a reconvenção;
ou admitimos a constituição superveniente do litisconsórcio para assegurar a legitimidade
da reconvenção. A lei facilitou a reconvenção se estiverem assegurados os demais
pressupostos, por razoes de eficácia, deve facilitar-se, admitindo que o reu demande mais
compartes do que a parte ou compartes originarias. O reu pode provocar uma ampliação
subjetiva da instância relativamente aquela que for a configuração subjetiva da instância
ano momento da propositura da ação.
Nestes casos a reconvenção tem dupla eficácia: alteração subjetiva da instância e
alteração objetiva, porque as partes não são as mesmas sendo o litisconsórcio constituído
só para o pedido que o reu deduziu contra o autor, isto é, os compartes no pedido
reconvencional podem não coincidir com as partes do pedido originário, é uma segunda
instância que decorre em paralelo, e em simultâneo, com a 1.ª instância. O réu pode
provocar alterações à instância.

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O que acontece com a reconvenção se o pedido do autor for julgado inadmissível?

Tudo depende das relações entre objetos processuais; a conexão objetiva não significa
procedência simultânea necessária do pedido do autor e do reu, o que significa que a
reconvenção só é atingida na sua procedibilidade se, porventura, não for autónoma, porque
se for relativamente ao pedido do autor, então a circunstância desse não pode ser julgado,
porque não coincide que com a que o réu quer que seja conhecida e julgada.
Impõe-se uma interpretação casuística destas questões: há que avaliar, no caso concreto, a
relação de sentidos entre os pedidos; e, com isso, ditar a sorte da reconvenção.
Relativamente à Reconvenção há que ter em conta:
1. Não há requisitos de admissibilidade para a dedução de exceções pelo reu, mas
aos pedidos reconvencionais sim.
i) E entre esses requisitos de admissibilidade chegamos à competência absoluta.
Artigo 93.º, CPC - (n. º1) os três fatores de competência são fatores de
competência absoluta, desde que o tribunal o tenha passamos à frente da
relativa; passamos ao tribunal competente para conhecer do pedido
reconvencional.
Há um pequeno detalhe relativamente à matéria das exceções - art. 91.º, CPC -
que abre a extensão de competência, o que significa que estas regras,
nomeadamente do ar. 93, CPC, são regras de extensão de competência do
tribunal da ação para conhecer de outras coisas para alem daquelas que
originariamente estavam configuradas como sendo absorvidas na sua
competência.
Na reconvenção o Tribunal da ação estende a sua competência no que respeita
aos fatores de competência relativa.
Nas exceções, e por causa do princípio da preclusão, o Tribunal da ação estende
a competência a toda a matéria da exceção quer fosse ou não originariamente
competente para conhecer da exceção deduzida pelo reu (princípio da
preclusão), mas o Artigo 91.º, CPC tem aqui uma barreira muito relevante,
Quando dissermos, aqui, na penúltima e ultima aulas, que a reconvenção
implicava a dedução de um pedido autónomo do reu contra o autor, significa
que o reu não se limita a requerer a absolvição da instancia ou do pedido, mas

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pede que contra ao autor seja proferida uma decisão com um comando
qualquer, o que pode depois significar absolvição do pedido, mas isso não
significa que se limite a pedir isso, tem de pedir mais que isso.
Quando pede a sua absolvição do pedido, com fundamento numa exceção
perentória, a única coisa sobre a qual se forma caso julgado relativamente à
decisão proferida pelo tribunal é aquilo sobre o qual o autor pediu; o efeito de
caso julgado só se projeta sobre um pedaço da decisão, sobre o dispositivo da
decisão.
O que significa que se o reu tiver deduzido uma reconvenção contra o autor, o
tribunal terá de o conhecer e proferir uma decisão, deduzindo uma exceção
perentória limita-se a pedir que o Tribunal o absolva do pedido, mas
suponhamos que ele diz: quero que o tribunal me absolva do pedido porque o
contrato é inválido; o tribunal vai ter de conhecer da exceção, por isso vai ter de
julgar se o contrato e ou não valido. mas como a exceção não constitui um
objeto autónomo, a decisão que o Tribunal profira, ou conhecimento que faça
da validade e/ou invalidade do contrato, não fica coberta pelo caso julgado,
podendo ser reapreciada noutro processo qualquer, podendo de novo ser
submetida ao tribunal porque este último só fica impedido quando sobre essa
foi proferida decisão com força de caso julgado.
Como a exceção que o reu configura não é objeto autónomo, a contrapartida de
não ter razões de admissibilidade (conexão objetiva, competência absoluta para
julgar do pedido ...) tem como contrapartida a inexistência de força de caso
julgado.
2. O autor com base nos factos que deduziu é que não pode pedir outra coisa, houve
uma eficácia radiante porque determinou a absolvição ou condenação no pedido, e
com base nos factos e pedido que o autor deduziu não podem ser reapreciados
(devido ao caso julgado).
MARCO OGRARIO (Impugnação da paternidade e alimentos): como é que o Direito
português permitia que não houvesse a colisão entre decisões na ordem jurídica, permita
através da dedução, pelo réu, de um pedido de conhecimento da matéria de exceção, com
força de caso julgado.

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3. O reu pede ao tribunal que não se limite a apreciar a exceção, pede mais que isso!
diz: quero ser absolvido do pedido com fundamento na invalidade do contrato, mas
quero mais, quero que o tribunal declare o contrato como inválido, na sua decisão.
A decisão terá dois trechos do dispositivos: 1) o reu vai ser absolvido; 2) o contrato
é invalido.
A questão da validade do contrato atingiria um estatuto de imutabilidade.
Qual é a contrapartida? Artigo 91.º, CPC, se estendo a competência do Tribunal
para o conhecimento das exceções tanto absolutas como relativas, não posso
estendê-la para o proferimento de uma decisão para o qual é absolutamente
incompetente, logo o reu só tem sucesso no seu pedido de declaração incidental, ao
abrigo do Artigo 91.º, CPC, se Tribunal for competente para proferir aquela
decisão, em termos absolutos.
Muitas das inconsistências que se podem criar entre decisões, resolvem-se no nosso
sistema jurídico através do regime previsto no artigo 91.º, CPC: declaração
incidental sobre a matéria do reu sobre a sua própria defesa. Neste caso, a decisão é
imutável!!!!! Foi configurado num objeto autónomo da decisão.
O objeto de apreciação do Tribunal é o mesmo, mas a posição da contraparte não é
a mesma; se o autor sabe que eventualmente pode rediscutir a validade do contrato
não intensifica o contraditório como intensificará se souber que nunca mais poderá
discutir tal matéria, porque ela transitará em julgado.
O Artigo 91.º, CPC traz uma tutela do autor no que respeita à eficácia preclusiva do
caso julgado: sabe que não pode defenderes palidamente da exceção invocada pelo
reu, a matéria fica petreamente indiscutível a partir do momento em que se fundou
o caso julgado.
O caso julgado é feito de decisões, não é a exceção que é atingida pelo caso
julgado, é a decisão que se pronuncia sobre a exceção!!!!!!
São raríssimos os casos em que há declaração incidental sobre o artigo 91.º, CPC!:
1. Tem de pelo menos perguntar-se, se tendo em conta os factos articulados, se
devia ou não ter pedido a decisão incidental.
Pode haver incongruência por não requerimento da declaração incidental.

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Não é função do procedimento cautelar assegurar a absoluta coordenação entre a vida e as


situações jurídicas como se apresentam em decisões judiciais (=tutela definitiva), antes dá
os instrumentos para que seja possível.
Os que melhor sabem manejá-los evitam contradições na vida das pessoas, incluindo para
os seus próprios clientes.
Requerer a declaraçao incidental = o tribunal profira uma decisão sobre a matéria da
exceção
E se, porque desconhecem o artigo 91.º, CPC (possibilidade de apresentação de
pedido reconvencional) julgam passado vários anos uma coisa que se devia ter
julgado na primeira ação, isso vai contra a economia processual e o aproveitamento
máximo dos atos jurídicos.
Caso julgado e autoridade de caso julgado; Reconvenção - procurar jurisprudência
Ver LEBRE FREITAS: "O polvo do caso julgado"
Caso Julgado = Efeitos das decisões; para que o Tribunal profira a decisão com força de
caso julgado tem de ser absolutamente competente para o objeto; o que significa que se for
uma questão que resulte do conhecimento de uma exceção, o Tribunal tem de ser
absolutamente competente para conhecer da exceção, assim como para a reconvenção.
Art. 847.º, CC – Ver em casa! (Compensação)
Exceção perentória = Causas que atacam as situações jurídicas invocadas contra o
réu na petição inicial. Estas exceções podem ser (quanto aos seus efeitos):
1. Modificativas.
2. Extintivas.
3. Impeditiva.
O pedido de absolvição do pedido não determina a dedução de nenhum objeto autónomo
ao atacar a causa de pedir para que tenha força de caso julgado, faz com que tenha uma
matriz diferente. E nada disto sucede na reconvenção porque o reu não se limita a invocar
uma causa extintiva, modificativa ou impeditiva do direito invocado pelo autor porque não
se limita a pedir a absolvição do pedido, pede antes outra coia, e se pede uma coisa
diferente não pode mobilizar apenas uma causa que leve à absolvição do pedido, tem de
invocar uma coisa para além.

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Tanto para o conhecimento de uma exceção, como para o conhecimento da reconvenção é


exigida a competência absoluta do tribunal porque a própria matéria da exceção passa a ser
objeto autónomo da decisão, não se confundido.
Aula 14.03.2022

Modificações ao objeto processual:


O nosso sistema, acima de tudo, é de um objeto processual rígido ou com estável; o autor
configurou o pedido com uma causa de pedir e as possibilidade de intervenção subsequente
do réu para alterar este objeto estão limitadas ou confinadas.
Essa rigidez implica que o autor, quando configura inicialmente o objeto, tenha depois
muitos obstáculos. O autor quando delineia a sua ação, estrutura-se em argumentos, razões
de facto e de Direito, e ainda que se aperceba de novas linhas de argumentação, de factos
que poderia ter mobilizado e não mobilizou, encontra um sistema que não lhe permite
fazer, livremente, alterações ao objeto.
Isto é muito afirmado no sistema do "uso" (?)
É absolutamente excecional a admissibilidade de uma alteração objetiva.
Exemplo radicalmente oposto ao português: o caso do sistema alemão que dita a não
rigidez, podendo o objeto ser alterado nomeadamente me instância de recurso, podendo o
autor trazer novas linhas de ataque.
Como é que percebemos, logo na primeira instância, que o nosso objeto processual fica
rígido a partir da petição e contestação? – Por via do Artigo 264.º, CPC: permite todas as
alterações, mas o réu tem de admiti-las, tem de haver acordo das partes.
Visa a estabilização do objeto para garantir que o réu se pode defender
Exceção à necessidade de acordo das partes - Artigo 265.º, CPC: houve alteração sem
acordo das partes, o que implica várias limitações ao nível do pedido, e da causa de pedir.
Há uma alteração que é sempre admissível, a conversão, se o autor reduzir ou retirar
argumentos à sua fundamentação tem total liberdade para interagir com o objeto do
processo porque não está a prejudicar o contraditório do réu, e não estou a prejudicar os
atos processados nem a requerer a nova prática. Aproveito tudo o que foi até aí praticado.
Para o nosso sistema também é fundamental que os atos não sejam inutilizados, mas sim
aproveitados (= princípio do aproveitamento máximo dos atos jurídicos).

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Também são sempre admissíveis as alterações provocadas pelo autor sobre o objeto
do processo se resultarem do que o réu disse ou do que tinha originalmente dito.
Era algo que podia já estar configurado antes e que não provoca disrupção com o que foi
configurado. Exemplo: sansão pecuniária compulsória, o autor não provoca disrupção no
objeto configurado, mas sim tira uma consequência do que pediu inicialmente e do que foi
a atitude ou intervenção do próprio reu, provocando um desenvolvimento face o seu
pedido originário.
O que faz é uma ampliação daquilo que fora a sua posição originária ou constrói um
novo objeto processual?
Desempata-se esta questão interpretando a PI e requalificando tudo aquilo que lá estava e
que agora está através de uma apreciação casuística (caso a caso, norma a norma).
O autor tem o ónus de alegação e de prova de que aquilo que é um desenvolvimento dos
factos que alegou na petição inicial.
Agora a pergunta é: este objeto, tenha ele a configuração que tiver, como é que vai
ser conhecido?
Aqui a professora regressou ao artigo 91.º, CPC, analisado na aula anterior: já vimos que
os efeitos de uma decisão estão umbilicalmente implicados na dimensão do contraditório,
logo numa das primeiras aulas no primeiro semestre foi-nos dito que aceitamos que uma
decisão nunca mais se discuta, quando chegamos à conclusão de que há uma melhor
solução, mudamos a lei, e porque aceitamos a estabilidade absoluta das decisões? há uma
válvula de escape na estabilidade absoluta, mas a maioria dos casos constituem a "injustiça
intolerável"
Nos casos em que se admite, é porque o Tribunal exerce uma função secundaria, não
queria o caso, mas ele foi-lhe imposto e isso implica o enunciar de uma situação para
factos pretéritos, todos os elementos relevantes para a solução do caso já ocorreram
quando o Tribunal se pronuncia;

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Quando, por outro lado, falamos do pedido de condenação in futurum:


Deparamo-nos com requisitos de admissibilidade muito peculiares porque o Tribunal
proferia uma decisão que acabava por projetar os efeitos para o futuro não se sabendo os
factos no momento do seu efeito. Parte-se do princípio que os factos decorreram como
previstos no momento da decisão.
A decisão de condenação in futurum tem de sofrer alguma instabilidade porque só vai
poder provocar esse efeito fatal se no momento em que for exigível se continuar a ser
necessária a tutela judicial, mas se já não existir o reu não pode ser obrigado a cumprir
porque a razão que justificava a decisão deixou de existir.
Como se projeta a factos futuros é uma decisão necessariamente instável, mas estes não
são os casos típicos.
Os factos pressupostos manter-se-ão?
Nas situações típicas, quando o juiz julga, em 2022, julga factos que decorreram para trás,
a base factual já ocorreu, as partes fazem prova do que já aconteceu.
E, por isso, aceitamos a estabilidade tipicamente absoluta das decisões porque todos os
elementos relevantes que deviam ser trazidos para o processo foram-no porque já se
tinham passado, e o reu pôde exercer o seu contraditório. (Estabilidade máxima)
O juiz não dispõe para diante, decide para trás, tem uma função até secundária: o juiz não
queria o caso: foi lhe imposto que o julgasse.
Se se recordarem, no artigo 91.º, CPC ainda tínhamos uma outra particularidade na ligação
entre os efeitos da decisão e o contraditório.
Ou o reu deduziu a exceção e nada pediu, ou deduzia a exceção e ainda uma decisão com
força de caso julgado (indiscutibilidade subsequente) e, na altura a professora perguntou o
porquê de termos o mecanismo do artigo 91.º, CPC? Porque o autor sabe que tem de
exercer um contraditório reforçado, é alertado para isto porque nunca mais poderá voltar a
discutir a matéria daquela exceção.
Isto permite-nos dizer que há uma ligação umbilical entre a dimensão do contraditório e os
efeitos que uma decisão pode provocar. E isto traduz-se/simboliza, a necessidade de
assegurar ao ré, e também ao autor, contraditório exauriente (palavra-chave para entender
o caso julgado) o que significa a possibilidade de tudo dizer, com prazos relativamente
longos, e de produzir todas as provas que permitam dissuadir o decisor de que uma ou
outra das partes tem razão.

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Para que assim se faça, é necessário tempo. Há uma política muito comum que diz
que a justiça é muito lenta. Sempre que acontece alguma coisa, o tempo seria hoje,
mas isto não é possível porque o processo é um ato complexo, em que é necessário
dar o contraditório, dar direito à prova, etc. o processo é sempre tempo, e nunca um
ato que se esgota num momento só.
Contraditório exauriente e a estabilidade que deste decorre.
Como conheço os objetos em situação de urgência?
Só há uma forma: comprimir o tempo do procedimento. O que só se consegue de
uma maneira comprimindo o contraditório, quer na possibilidade de praticar atos de
postulação, quer na possibilidade de produzir provas.
Caso exemplificativo: Nos casos muito céleres, as fotografias vão ser divulgadas
amanhã no jornal, se tiver de percorrer todas as etapas típicas do processo, as
fotografias estariam publicadas até chegarmos a uma eventual decisão, o que
significa que tenho de encontrar modelos de resposta que não se compadecem com
os tempos normas de um processo demorado para que haja salvaguarda, na mesma,
do contraditório.
Há algumas variações, mas, no nosso sistema, a tutela da urgência é qualificada de
"tutela cautelar" as in procedimentos cautelares.
O Procedimento Cautelar – Providências Cautelares e a tutela urgente:
O que faço través da tutela cautelar? Antecipo resultados da decisão final? O que vou
discutir com a revista no processo? Se é ilícita ou licita a publicação das imagens.
A tutela cautelar visa antecipar os efeitos da decisão que deverá ser proferida no
processo com o contraditório exauriente. A tutela cautelar ainda tem uma outra
finalidade:
Quando o devedor não cumpre, e ainda dentro da matéria de cumprimento, o credor
tem uma tutela máxima que é a ação de reivindicação; mas o devedor pode não se
conformar à decisão de cumprimento, o réu pode não se conformar.
O que é que o autor potencial, credor, quererá fazer? A garantia geral das obrigações
é o património do devedor (Art. 601.º, CC), se destratar sobre todo o seu património,
bem podem condenar, mas não há garantia patrimonial que satisfaça o interesse do
credor. O credor pode requerer uma providência que torne inoponíveis, no seu

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confronto, atos de alienação que o devedor pratique sobre o seu património. Caso
BERARDO, p.e.
A tutela cautelar serve para segregar bens dentro do património do devedor que
permitam a ulterior satisfação dos créditos do credor.
Nestes casos, a tutela cautelar tem uma função de garantia, é evidente que se discutiu
alguma coisa relativamente ao crédito do processo cautelar, mas a sua finalidade é
apreender coisas garantindo a eficácia de uma futura sentença e de um futura
decisão.
A tutela cautelar é atípica, para dizer desde já, o direito de ação é um polvo, não há
tipicidade das configurações, as pessoas pedem o que quiserem. A tutela cautelar é
polimórfica, tendo de se adaptar.
A suspensão de eficácia de atos é também muito importante na tutela cautelar: há
um órgão colegial que delibera num determinado sentido, e há um membro do
colégio que entende que a decisão é absolutamente ilegal, vai pretender que a
deliberação não possa ser executada, perdendo a suspensão de eficácia desta decisão.
Depois há uma figura/um poder que apenas o Estado tem, na tutela do interesse
público, só podendo atuar para promoção total do mesmo, e pode impedir a
suspensão de eficácia demonstrando que o interesse publico não e compatibilidade
com a suspensão de eficácia dos atos. E depois ainda há uma outra função muito
importante: determinação do estado dos lugares (?) imaginem que no contencioso de
uma farmácia aparece, de quem são as quotas de quem explora uma farmácia, e em
que proporção? Se parar a farmácia à espera que se resolva, quando terminarmos a
farmácia já faliu, mas é preciso estabilizar a situação no momento do intentar da ação
e por isso faço um levantamento de todos os bens que integram a farmácia, isto é,
através de uma providencia estabilizo e apuro o estado naquele mesmo momento.
Exemplo: uma conta bancária com dois titulares, um deles morre, até ser comunicado
o outro titular tem legitimidade para usar a conta, a partir da certidão do óbito pode
pedir-se a fatura da conta, e por isso se o outro titular fez destrato da conta pode até
ser criminalmente responsável.
Posso pedir apreensão dos documentos, etc. Depende da concreta situação de
urgência.

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A tutela cautelar tem assento constitucional no artigo 20.º, n.º 5, CRP: Tem que
haver formas de reagir em situação de violação iminente, ou que pode ainda retirar-
se, impeditivas dessa mesma violação.
Tipicamente a tutela cautelar precede o próprio ilícito.
Esta tutela cautelar, para poder ser útil, não permite o contraditório exauriente, não
há tempo para ele, e se não há tempo, há imediatamente uma consequência: o erro da
decisão é um fator que temos de integrar como mais provável do que consideramos
em decisões com contraditório exauriente.
Isto traduz-se na possibilidade de revogação da providencia cautelar através do juízo
feito com o contraditório exauriente porque o juiz que julga este contraditório tem
muito mais elementos do que o que julga com urgência. mas isto não quer dizer que
a decisão cautelar é ilegal, mas sim que no momento havia menos elementos do que
desejável, e por isso tem inerente o erro.
Tudo isto se compensa através de duas grandes clausulas gerais:
1. Uma que respeita ao decretamento (?) - as providencias cautelares requerem-se
para que o juiz decrete a providencia cautelar, tem de haver probabilidade séria
quanto ao Direito em que o requerente a providencia funda a procedibilidade da
própria providência, tem de haver periculum in mora e funus bónus iuris.
Como é que estão se distingue do juízo da tutela cautelar, e o juízo feito nas
decisões principais (=judiciais)?
1. A probabilidade séria é contraposta à certeza, não há um barómetro na cabeça do
juiz, por isso este conceito tem de ser concretizado e aqui sim, quando
analisamos a providencia decretada, antes disso o juiz pergunta-se: a história que
me contar, e a que fizeram prova, é muito mais provável do que qualquer outra?
(probabilidade séria)
Nas ações principais: perante os factos que tenho, esta é a única história possível.
(Juízo de certeza)
Isto na prática é, às vezes, caótico, mas não podemos aligeirar esta distinção entre
probabilidade séria e certeza.
O juiz só decreta uma providência cautelar quando da sua ponderação resultar
uma probabilidade séria.

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Ainda que todos os pressupostos da providencia estejam verificados, se o prejuízo do


requerido for substancialmente superior às vantagens que vai obter o requerente, o
juiz não vai decretar a providência.
2. E há ainda uma outra cláusula: quando vimos a matéria da litigância de má-fé,
aquele que nela incorria teria de indemnizar a parte contrária pelos prejuízos
causados (processuais e quaisquer outras destinações devidamente legíveis) mas o
elemento subjetivo do tipo pressupunha o dolo ou negligência grave para lhe ser
imputada a responsabilidade. na providencia cautelar como o juiz não terá factos
para arguir, ele passa responder por um parâmetro de culpa ao do dever de
indemnizar, que é a negligencia aferida por aquilo que se espera do bon pater
familias (bom pai de família).
Os objetos conhecidos através dos procedimentos cautelares são conhecidos sem
contraditório exauriente, o que tem uma imediata consequência: a decisão que se
forma sobre os objetos conhecidos é uma decisão destituída de estabilidade, é uma
decisão, em regra, provisória.
Mas é assim sempre? Não! Porque a decisão só é destituição de estabilidade se o
juiz não conseguir alcançar um juízo de certeza quanto às decisões que acerta, mas
se conseguir alcançar um juízo de certeza nesses casos, a decisão proferida sobre a
providencia cautelar, sobre o objeto cautelar, é uma decisão que também tem
estabilidade.
Isto significa que se o juiz pode e deve decretar a providencia quando tem, ou
alcança, um juízo de probabilidade cega, quanto ao Direito acautelado, proferir
uma decisão que não tem estabilidade, nada o impede neste procedimento de
alcançarmos a certeza, caso em que obviamente também decreta a medida
requerida, mas como já atingiu o grau de certeza a decisão entra outra vez no
círculo de certeza, porque é isso que permite que a decisão entre no círculo de
estabilidade.
Para que assim seja, apesar do procedimento cautelar se bastar com contraditório
não exauriente, para que assim seja é necessário que naquela concreta providência
tenha sido exercido o contraditório, o que quer dizer que o min que tem de estar
verificado quando aos pressupostos processuais e a admissibilidade não estabelece
o máximo, no mínimo a decisão não é estável/definitiva, se no procedimento se se

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chegar mais longe, o juiz profere uma decisão que ai sim atinge o patamar da
estabilidade.
A matéria da inversão do contencioso está relacionada com as providências
cautelares e a sua possibilidade de (inst)estabibilidade.
Aula 18.03.2022

Providências Cautelares e possibilidade de caráter estável – A inversão do


contencioso:

A audiência já com o contraditório exauriente dependia do contraditório das partes


ou do juiz.
Afirmação prévia: em princípio, a decisão proferida na providencia cautelar é uma
decisão provisória porque não sendo o contraditório exauriente em princípio se
verifica que o juiz não atinge, na sua decisão, um grau de certeza relativamente aos
factos em que vai assentar a sua decisão.
A circunstância da lei permitir ou impor o decretamento da providencia assim que
haja probabilidade seria da existência do direito, diz a lei que o juiz tem de decretar a
providencia. Só não nos casos em que o prejuízo para o requerido fosse muito
superior ao benefício retirado pelo decretar da providência cautelar.
Verificados todos os pressupostos e não havendo desequilíbrio entre benefício e
prejuízo o juiz poderia decretar a providencia, o que não excluía que o juiz apesar da
solidariedade do meio não atingisse um grau de certeza quanto à existência do direito
substantivo ao abrigo do qual se requer a providencia, caso em que, o juiz profere
uma decisão que é uma decisão tendencialmente estável.
Que figura jurídica está por trás desta decisão? Esta decisão vai adquirir estabilidade
e não precisa de ulterior procedimento para continuar a produzir efeitos na ordem
jurídica.

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Art. 369.º, CPC – Inversão do Contencioso:

Pensem que se a lei fala, a propósito destes casos, numa inversão do contencioso o
que significa que há casos em que esta inversão não acontece, os casos gerais são
aqueles em que a inversão Não acontece.
Que configuração têm então esses casos gerais? A configuração normal no que
respeita à interação entre a providencia cautelar e uma ação principal em que na ação
principal se vai conhecer do tal direito acautelado em termos exaurientes.
Esta ligação típica entre providencia  resultado provisório e uma ulterior ação
principal é o que e conhecido como instrumentalidade da providência cautelar.
A providencia cautelar é instrumental, tendo sido essa relação de instrumentalidade
sido estabelecida com a ação principal; visa o proferimento da decisão que é
proferida num contexto de urgência, num procedimento o que é, por natureza,
sumário, mas porque o é e porque tipicamente esse procedimento leva a q o juiz
decrete a medida mal haja probabilidade seria da existência do direito, a providencia
é provisoria e só manterá os seus efeitos quando na ação principal se discutir essa
probabilidade em termos exaurientes.
Nesta estrutura de instrumentalidade o requerimento da providencia coincide com
toda a ação principal. Foi aquele que requereu a providência que tem de instaurar a
subsequente ação principal sob pena de a providencia não produzir os seus efeitos.
O que é que ocorre nos casos de inversão do contencioso?
O requerente da providencia requere-a como providencia cautelar, sempre num
contexto de urgência.
O juiz profere uma decisão que não é provisório, mas antes uma decisão estável
Uma decisão cautelar passa a ser estável porque vai ter de reagir sobre a decisão
d3cretada sobre a providencia cautelar, requerendo-se uma providencia cautelar. a
ação subsequente não vai servir para confirmar a providência, mas antes destruir a
decisão proferida na providencia cautelar.

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Quem tem legitimidade para a destruir?


A parte prejudicada pela providência cautelar (=requerido da providencia). Alterei,
por isso, a posição dos sujeitos cautelares, aquele que foi o requerido passa a ser
autor de uma ação que vai tentar destruir a providencia cautelar e por isso se chama a
esta figura a inversão do contencioso.
Como é que se faz? Quem é que pede?
Contraditório = persuasão.
Então, se uma parte que é requerida numa providencia cautelar desconhece o
resultado possível da decisão é um resultado estável tenderá a defender-se de forma
mais pálida do que se soubesse que a decisão tornaria estável a relação entre
requerido e requerente.
A decisão proferida na providência cautelar vai ser uma decisão tendencialmente
estável.
Isto joga com o artigo 91.º, CPC: é preciso que se saiba que sobre a matéria da
exceção se produz uma decisão que forma caso julgado. E, por isso, no artigo 369.º,
n.º 1, CPC, a lei diz-nos que será, mediamente requerimento, que o juiz que decrete a
providência, pode dispensar o requerente do ónus de propositura da ação principal.
Há uma finalização dada ao requerido, de que aquilo que se pretende é que a decisão
passe a ser estável.
Pode dispensar o requerente da providencia cautelar do ónus de propor a ação
principal; esta providencia deixará de ser instrumental, e passará a ser o único meio,
Não havendo anterior decisão que impugne a tomada, através do qual se conhece do
direito acautelando.
Mas a lei diz mais: a lei diz-nos que, também só é possível provocar esta inversão do
contencioso se a natureza da providencia decretada for adequada a realizar a
composição definitiva do litigo. Este trecho do art. 369.º, n.º 1, CPC tem levantado
alguma polémica: recordem-se da última aula, as providencias têm duas finalidades
prioritárias, antecipar a tutela, e conservar o património sobre o qual se vai depois
executar uma ulterior decisão.
Como é que vem ser lido o trecho do art. 369.º, n.º 1, CPC quando a natureza da
providencia decretada for adequada (...), tem de ser entendido que só podem estar em

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causa as providências antecipatórias, isto é, aquelas em que o requerente pede, na


providencia, exatamente o mesmo que pedirá na ação principal.
Qual é a palavra-chave que apoia esta solução? A natureza da providência!
Só uma providencia que por natureza é antecipatória pode dispensar uma ação cujos
efeitos acabou por antecipar.
Quais ficam de fora? Providencias conservatórias
O que quererá dizer que sendo por exemplo pedido o decretamento de um arresto não
pode, no âmbito desse procedimento cautelar, provocar-se a inversão do contencioso.
Porquê? Porque congelar património, assegurar esse património, não permite compor
o que se vai compor através da ação principal (que é a execução) mas o congelar não
permite saber nada acerca da relação relativa as pessoas, p.e, em relação a relação de
crédito.
A natureza destas providencias não permite efetivamente a composição definitiva do
litígio, só nas antecipatórias é que isso é possível. Mas esta solução fica muito aquém
das potencialidades de inversão do contencioso, e esta solução acabou por significar
o retrocesso daquela que tinha sido a função procedente (a primeira que houve na
ordem jurídica portuguesa) em que se admite a inversão do contencioso. Art. 16.º do
regime do processo experimental permitia a inversão do contencioso e, portanto, a
dispensa do requerente da providencia da propositura da ação principal fosse qual
fosse a natureza da providencia cautela em que se proferia/decretava uma decisão.
Esta solicitação do regime processual experimental era uma solução e pode explicar
se porque era ma solução a solução do artigo 369.º, CPC? PCS: creio que não, a
solução do regime experimental tinha mais potencialidades, sem produção de riscos,
do que o que vamos encontrar no artigo 369.º, n.º 1, CPC.
É evidente que o conjunto de casos em que sendo requerida uma providência (?) é
possível acautelar o direito invocado são mais escassos do que aqueles em que
ocorrem a antecipação do contencioso onde a providencia é antecipatória porque ai
os factos relevantes serão coincidentes (há coincidência na causa de pedir) o que não
acontece necessariamente nas providencias conservatórias, mas ninguém pode
excluir que o juiz, ao decretar o arresto, tenha, à sua disposição, tanta prova
relativamente ao direito de crédito, que é o direito acautelando, no fundo, que não
possa também nessa providencia compor definitivamente a posição jurídica entre as

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partes dizendo: é credor, é devedor, decreto o arreto e agora se não cumprir


voluntariamente há lugar a execução. Não é consequentemente a natureza da
providencia que deveria ter bloqueado a inversão do contencioso, a inversão do
contencioso só deve parar quando o juiz não consegue ter segurança/certeza
relativamente aos factos constitutivos do direito acautelando.
Porque é que o juiz retrocede quando integra esta solução no código? uma certa
jurisprudencia das cautelas. o artigo 16.º do regime experimental nunca teve uma
aplicação pratica porque os tribunais não se habituaram e o legislador entendeu q era
melhor consagrar no CPC consagrar uma solução facilmente aplicável e
descodificável pelos Tribunais.
Mas, com isto, acabou por induzir ou traduzir dentro da solução, o empobrecimento
das potencialidades desta figura (inversão do contencioso) e teria sido melhor
reproduzir o artigo 16.º e permitir que a jurisprudencia esbatesse o seu caminho e,
com o tempo, talvez compreendessem as possibilidades que essa solução criaria.
É possível superar a regra tal como ela está? Nomeadamente lançando mão do
princípio da adequação processual? É muito difícil porque quando a lei utiliza a
palavra natureza da providencia ser apta a compor o litígio exclui evidentemente as
providencias conservatórias e havendo previsão expressa não podemos romper as
barreiras que o legislador deu.
A regra do artigo 369.º, CPC é uma regra excecional, a inversão do contencioso
inverte a regra geral, o desenho a estrutura entre a relação da providencia e ação
principal, altera a solução, não a adapta!!! É muito difícil conseguir entender a
solução aos casos q o legislador quer afastar expressamente da mesma.
Outra fundamentação do legislador para não adotar o 16.º: não previa que tivesse de
haver requerimento para que fosse possível a inversão. Esta solução viola o princípio
do dispositivo porque a parte requereu x e o juiz decidiu y.
Ora bem, esta é uma visão extremamente formal do dispositivo, o requerente quando
requer o máximo possível, é para isso que serve o processo o que significa que se
tivéssemos de encontrar uma regra interpretativa das partes a propósito da
possibilidade de inversão do contencioso a regra não seria a exclusão da vontade das
partes, antes a inclusão ao abrigo do dispositivo da vontade das partes.

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Para alem de que o argumento esquece um outro problema: a inversão não visa
apenas ir ao encontro de interesses do requerente da providencia, é um meio potente
para aliviar a pressão sobre o sistema de justiça porque o tribunal não se vê
confrontado com um procedimento e um processo para o caso das antecipatórias
chegar ao mm resultado, sendo um instável e outro definitivo.
Há interesses na própria administração da Justiça que fundam a racionalidade desta
decisão: o que nos permite tomar posição critica relativamente ao trecho inicial da
regra (="mediante requerimento"). Esta visão alem de forma é deste mesmo instituto
que ignora um vetor muito importante: a administração da justiça e racional
aplicação dos meios de justiça.
O que deveria ter feito? PCS: permitido que houvesse requerimento da parte, mas
não excluir que o juiz oficiosamente princípio do contraditório o permitisse. será o
juiz, neste caso, q vai identificar a possibilidade de criar uma decisão que é instável.
Deve haver impulso do Tribunal para que haja uma decisão estável!
As providencias cautelares são instrumentais de uma ação principal, o que significa
que, não sendo instaurada a ação principal, as providencias decretadas caducam!
Nos termos do art. 371.º, CPC há um prazo que tem de ser respeitado para que seja
proposta a ação principal, exceto nos casos de inversão do contencioso em que não
há ação principal.
Princípio da instrumentalidade é outra consequência se ação principal demonstrar
que o direito acautelado afinal não foi julgado da forma correta, sendo proferida uma
decisão definitiva distinta.
Dois efeitos: caducidade se não proposta ação final; caducidade se o direito não for
exercido.
A instrumentalidade da providência ainda se traduz numa outra coisa: nós falamos, e
vamos depois ver isto aprofundadamente quando ao valor extraprocessual da prova,
mas este é um problema geral: a instrumentalidade da providencia, já viram que
determina que ela seja julgada através de um procedimento sumário.
Qual é a pergunta que se pode colocar: que resultados provisório obtidos na
providência e o julgamento da própria providência podem ter influência no
julgamento da ação principal? a resposta é negativa, não posso retirar efeitos de uma
para as decisões proferidas na ação principal, ainda que, objetivamente, do ponto de

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vista do objeto que se discute se discutam as mesmas coisas não posso retirar
consequências de umas ações para outras. Não posso retirar efeitos de decisões
obtidos num procedimento c menos garantias para um que tem mais, mas posso faze
lo ao contrário.
A instrumentalidade da providencia também se traduz neste não retirar de
consequências do julgamento da providencia para o julgamento da ação principal.
Art. 364.º, CPC
Há um aspeto muito importante relacionado com o contraditório do requerido

Por vezes faz-se uma leitura apressada do artigo 3.º, n.º 1, CPC e faz decorrer que
nas providências cautelares pode não haver contraditório.
Como é evidente isto NUNCA poderia ser porque a providência cautelar está
prevista no artigo 20.º, n.º 5, CRP e logo o 20.º, n.º 4 fala sobre os princípios do
processo equitativo onde se enquadra o contraditório.
A providencia não pode ser ma estrutura autónoma que não acautela as garantias
processuais.
Porque é que se diz então que pode não haver contraditório? Porque há casos que são
a exceção e não a regra em que a providencia pode e deve ser decretada antes de
ouvido o requerido, o que quer dizer que não há contraditório prévio, sendo que
ponto fixo para o prévio é o decretamento da providencia.
Estão situações são a exceção; a regra no âmbito da tutela cautelar é que o
contraditório seja possível depois de decretada a providência.
E que casos são esses? Duas grandes categorias:
1. Aqueles em que a urgência da providência é tao extrema que não haja tempo para
ouvir o requerido antes do seu decretamento; e
2. Aqueles em que a audição do requerido antes do proferimento da decisão a
colocaria em causa.
Exemplo da revista e da publicação das fotografias, a decisão não sairia a tempo se
fossem cumpridas todas as garantias.
Se já tenho um procedimento urgente, integro um risco maior de erro na decisão,
nestes casos de dispensa de contraditório prévio, porque o juiz só ouviu uma das

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partes o que significa que procedibilidade da decisão é maior do que nos casos de
providencia cautelar em referência à ação principal.
Aceitamos que seja tipicamente estável devido ao contraditório exauriente,
chegando a providencia cautelar, os prazos são mais curtos, por isso a possibilidade
de errar ainda e maior porque não houve lugar ao contraditório exercido pelo
tribunal.
Abaixo a bitola de culpa do requerimento da providencia caso esta venha a ser
revogada ou venha a caducar.
Negligencia comum e responsabilidade civil extracontratual + litigância de má-fé
(??)
O contrapeso do requerido aumenta correlativamente do parte do requerente que
não pode desconhecer que o meio que usa é um meio particularmente perigoso, cria
um risco incrementado para as esferas jurídicas alheias.
Que deveres pré processuais e como foram eles cumpridos por parte do requerente
da providência de modo a evitar uma situação de prejuízo para a sua contraparte no
que respeita ao contraditório?
A nossa lei, como é comum, tem providencias típicas, tem um conjunto de
providências que, no fundo, foram aquelas que foram sendo consolidadas com o
passar dos séculos, e por isso são típicas; e que, devem ser percorridas no sentido
procedimental sempre que a situação concreta se lhe reconduza a responsabilidade
do requerente (Artigo 364.º, CPC) e a bitola da culpa tem de ser confrontada com a
regra da litigância de má-fé com dolo ou negligência grave.
O catálogo de providências cautelares típicas consta no Artigo 377.º e ss, CPC.
Uma regra importantíssima neste âmbito, que agora vamos fazer a ligação com a
inversão do contencioso, é a do Artigo 376.º, n.º 3, CPC.
E o que norteia esta situação de inversão do contencioso? A absoluta urgência
em que se encontra o requerente da providencia: o tribunal identificando essa
urgência e a existência provável de um direito, não vai indeferir a providencia e
nada fazer porque isso significaria a ruína do direito acautelado. o tribunal decreta a
providencia que perante o caso concreto melhor se adeque à tutela dos interesses do
requerente e esta regra é absolutamente excecional no nosso sistema.

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Artigo 376.º, n.º 3, CPCA: poder essencial/forte do tribunal que vai ao ponto de
suprir a incapacidade técnica da parte de requerer a melhor providencia para tutelar a
situação da parte.
Como é que surge o objeto do processo quando o reu não comparece? Quando o reu
nada faz?
Aula 17.03.2022
Revelia do réu:
Artigo 817.º, CC.
Melhor forma de projeção no dia a dia do que o direito está a tutelar.
Se não vai de encontro com a estrutura de interesses primários, não há aqui nenhum
dever (?) a ação seria completamente deslocada das finalidades e do interesse da
contraparte, assim como da justiça.
Para o Tribunal não é importante que o reu seja obrigado a contestar, que haja uma
ação de cumprimento para chegar a uma decisão. Nada justificaria que a situação
jurídica em que o réu se encontra fosse colocada como dever.
O que acontece quando o réu não contesta?
O ordenamento jurídico português diz que o réu não contesta se considera
confessados os factos alegados pelo autor (=consequência negativa para a conduta
omissiva do reu). Não tem o dever, mas tem o ónus do réu de contestar.
No recurso, p.e, a estrutura já não é esta; mas a situação jurídica do recorrido ("réu")
não é de modos, aí a ausência de contestação é inconsequente, tem direito a contra-
alegar, mas não tem o ónus de contra-alegar. Depois terá outras consequências, como
veremos.
O que caracteriza a situação de revelia? Não basta que o reu não tenha contestado,
para que esteja verificada a situação de revelia é preciso que não conteste, não tendo
sido citado; o reu tem de tomar conhecimento da propositura da ação contra ele para
que a sua conduta omissiva possa desencadear consequências.
1. Revelia Absoluta = Se o réu nada faz, nem contesta, nem p.e, constitui
mandatário, eu não tenho a certeza de que o réu tenha sido regularmente citado.
Agora vejam: falamos de alguma coisa que, não estando verificada, ataca uma
decisão mesmo depois do transito em julgado dessa decisão: A ausência de citação
atinge a decisão mesmo depois desse momento, o que significa que se o réu nada faz,

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se não há nenhum sinal de que tomou sequer conhecimento da propositura da ação, o


Tribunal tem de verificar se a citação do réu foi ou não feita, e em que termos,
porque há um dever do próprio Tribunal para tal.
Das duas uma:
a) ou a citação foi bem feita e nada há para repetir, o réu continua sem nada fazer,
está numa situação de REVELIA ABSOLUTA;
b) ou a citação foi mal feita e tem de ser repetida.
2. Revelia relativa = Se o reu citado não contesta, mas pratica ao lado do processo
que dá a entender que sabe a proposta da ação não volto a citar o réu.
O grande critério de distinção é ter-se dados ou elementos que permitem ao Tribunal
e à contraparte saber se o réu tomou conhecimento da ação.
A partir do momento em que a lei diz: esta caracterização está no artigo 566.º, CPC a
partir do momento em que no artigo 567.º, CPC diz que estando o reu em revelia se
consideram confessados (não é uma confissão, antes um admitir por acordo
implícito) os factos, a consequência é imediata, eu não preciso de os analisar
futuramente.
Distinção entre confissão e admissão por acordo que ocorre na revelia:
Esta distinção é importante porque atribuo um valor sem que, ontologicamente, a
realidade seja a mesma; a relevância por isso reside no facto de "se considerarem
confessados" não digo que o reu confessou, consequentemente não posso aplicar,
pelo menos de forma direta, o regime da confissão, a confissão é um meio de prova
típico, mas confessar é aceitar factos que são desfavoráveis para o confitente e
necessariamente favoráveis para a contraparte. Aqui não tenho declaração, mas sim
uma omissão de uma conduta, o que significa que, quando tiver de ponderar (=juízo
ponderativo) o porquê de o réu não contestar não posso aplicar diretamente as regras
da confissão que acarretam a invalidade por vícios, mas tenho antes de adaptar as
regras da confissão. o meio de prova que alivia a instrução não é a confissão, mas a
revelia do réu que justifica essa consequência probatória e eu ficciono como sendo
uma confissão.
Agora podem imaginar/cogitar: se olvida a revelia do réu, isso significa que o autor
ganha o autor porque todos os factos articulados pelo autor se consideram provados,
então o autor ganha? Não é assim, a revelia pode ser uma conduta estrategicamente

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muito inteligente, basta que aquilo que o autor alegou seja insuficiente para aquilo
que o autor pede. O réu nada precisa de fazer porque é o tribunal que tem de
controlar a (in)consistência daquilo que é alegado; também pode acontecer que os
factos articulados pelo autor permitam uma qualquer consequência, mas não a que o
autor extraiu, e o réu não é necessariamente condenado porque há insuficiência na
causa para justificar.
Por essa razão, no nosso sistema, a confissão tem efeito cominatório porque faz
corresponder à revelia a aquisição probatória dos factos acautelados pelo autor, o
efeito cominatório, é semipleno, ou pleno (=ausência de contestação leva à
condenação do pedido).
Quais são as consequências da revelia?
Para além da confissão dos factos, há uma que é imediatamente apreensiva: se todos
os factos se consideram provados, não tenho mais instrução que é a fase processual
que se destina a levar ao processo, e produzir, as provas para as quais o tribunal
ainda Não tem devidas certezas. O que significa que comprimo essa fase processual.
Antes da própria decisão, uma intervenção que deve ser conferida às partes que é a
possibilidade de demonstrar, uma e outra, que as respetivas posições têm ou não têm
sentido. Portanto, eu abrevio aquilo que são as fases instrução e produção de prova,
mas não abrevio o resto. Tenho direito a produzir as alegações (=último momento em
que os advogados se dirigem ao júri/tribunal, fazendo uma síntese da matéria de
facto e de direito).
Depois passa-se à fase da sentença.
Mas, nem sempre é assim: o que vimos até agora é o curso normal/mais simples dos
acontecimentos; a prof acabou de dizer que tem uma tarefa aliviada porque Não tem
de avaliar individualmente cada prova; o juiz não está demitido de fazer qualquer
juízo e há factos que não podem ser confessados pelo réu, ou seja, a prova que pode
recair não é a confissão.
O réu só pode confessar atos pessoais e não de terceiros. Sempre que assim é, o
efeito não pode ser a revelia, porque os factos não são deste. O que ocorre nestes
casos? Suponham que o nosso réu não contestou, o autor noa produziu mais
nenhuma prova sobre os fatos que tinha articulado na PI, o que é que o juiz tem de
dizer? Estes factos não se podem considerar confessados.

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Havia dois modelos possíveis:


- Não se podem considerar confessados porque o autor não produziu mais prova
(=formais)
- O reu não podia confessar, o autor não produz mais provas, mas as provas ainda são
necessárias e, portanto, ainda devem ser produzidas e abre-se essa possibilidade para
o autor. Não abrevio a instrução, o ator ainda tem de produzir as provas necessárias
para demonstrar a realidade.
E se o marido contestar, e a mulher nada disser, sendo os factos comuns? Seria um
cúmulo do desacerto imaginarmos que para um dos litisconsortes os factos se
consideram confessados, e para o outro não quando os factos são os mesmos, há uma
contradição.
Se houver factos comuns aos vários (réus) coligados, não posso considerar os factos
dados como provados para uns e para os outros não, isso geraria desigualdades nas
sentenças.
Tendo um que contestam, e outros não, não posso ter aqui um efeito cominatório
semipleno, a revelia não pode integrar esse efeito nos termos do artigo 577.º, CPC, o
processo tem de continuar.
Todos estes casos se compreendem pela consistência da decisão de matéria de facto
como os meios de produção de prova e o aproveitamento processual desses mesmos
factos.
Outro caso em que a revelia não tem efeito cominatório semipleno: a incapacidade
judiciaria verificava que a revelia não tinha efeito na proposição da ação(?), aqui não
há inconsistência possivel entre a versão que o autor dá e a omissão de intervenção
do reu; há uma tutela do incapaz quando se diz que os factos não se consideram
confessados.
A mesma coisa se verifica em situações em que o direito entende que há um
desequilíbrio muito grande entre posições contratuais. Há uma hipertutela de uma
parte que se considera mais frágil, o que significa que o autor tem de provar os factos
constitutivos onde se baseia o seu direito.
A ausência de efeito cominatório só significa que o autor tem de produzir provas
para ver o seu interesse ser satisfeito. Portanto, não abreviam a instrução.

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Onde está tudo isto (Revelia, efeitos cominatórios, ...: Artigo 566.º, 567.º; 568.º, CPC
(exceções).
O abreviado processual surge também no Artigo 567.º, CPC (consequências da
revelia sobre o procedimento) mas há depois, nos casos em que é necessário fazer
prova, há ainda apesar da revelia consequências sobre o procedimento. Essas
consequências vamos poder encontrar no artigo 592.º, CPC.
Depois dos articulados o juiz vai, numa fase, ver o que interessa e o que não
interessa, oque falta, etc. E há uma fase relevantíssima nesta fase intercalar onde o
Tribunal dá indicação às partes sobre o que já considera provado, e aquilo que ainda
o tem de ser. Esta fase intermedia não existe em todas as formas do procedimento,
mas é essencial para que concentrem os seus esforços no que respeita ao
contraditório nos factos ainda por provar. Não vale a pena haver esforço probatório
para aquilo que o Tribunal não soube, mas sim dirigi-los para o que o tribunal ainda
quer saber, e sobre o qual o tribunal pergunta às partes determinando temas de prova:
Houve, ou não, incumprimento do contrato? O incumprimento foi, ou não, culposo?
O juiz pede-me a resposta a problemas jurídicos.
Esta distinção depois é muito relevante para a produção da prova que não recai sobre
temas, mas sim sobre factos; ao longo da instrução é preciso compreender uma tarefa
complexa, compreendendo que factos têm de ser provados, e através de que meios?
Outra coisa muito importante que o juiz faz é dizer os objetos em que pode já
decidir, e os que ainda não pode decidir (=que ainda estão em discussão). Todas as
decisões que poderão proferir, então o tribunal decidirá nesta fase.
Exemplo de escola: A instaura uma ação de indemnização contra B. B diz que não
está em causa que tenha tido a conduta, mas está em causa a existência de danos. Na
fase intermedia do processo o tribunal vai dizer que já não tem dúvidas, que há um
conjunto de pressupostos da responsabilidade civil que estão demonstrados, e que a
instrução irá recair na existência do dano. O juiz profere decisões intercalares, cada
vez mais comuns nos tribunais judiciários e arbitrais. Concentração do contraditório:
porque é que se vai discutir quando o Código diz que é essa e que a conduta é
contrária ao direito? A discussão já não é decisória.
Os efeitos da revelia são uma discussão das mais acesas no direito constitucional, e
tem-se considerado que os efeitos cominatórios plenos são inconstitucionais porque

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permite condenar o réu por mera ausência, inclusivamente quando há irracionalidade


das coisas possíveis à luz do efeito cominatório pleno.
Isto é altamente perverso e, por isso, violador dos princípios constitucionais.
O Tribunal tem de averiguar os pressupostos processuais, ou seja, a ausência do réu
não pode suprimir a decisão do tribunal, por isso o efeito cominatório não pode ser
pleno, quando muito semipleno.
Os Estados podem reconhecer quando os preceitos constitucionais o vedam? E os
tribunais judiciais e internacionais?
A estrutura, ou efeito processual, atribuído a certas formas, é ou não conforme à
ordem pública de diversos estados nas suas dimensões constitucionais?
Revelia (Artigo 592.º, CPC):
O processo tem de seguir para a produção de provas, mas m que há revelia, e se
verificarem nos termos do Artigo 592.º, n.º 1, CPC, a audiência previa não se realiza
nas ações não contestadas que tenham obediência ao art. 562.º, al. b) e d), CPC; falta
aqui a al. a) que fala de uma contestação. A visão agora não é atomística, mas sobre
as ações em si (não contestadas).
Não havendo audiência previa, significa que para todas as funções da fase intercalar,
não acontecem num ato em que partes e tribunal estao conjuntamente a discutir um
conjunto de questões e a proferir decisões sobre as mesmas, o que significa que em
caso de revelia, todas as funções intercalares não ocorrem neste contexto, mas
através de despachos escritos de decisões. A revelia inflete uma alteração.
Esta solução foi republicada porque há uma função central da audiência
previa/preliminar sendo que uma das primeiras é a tentativa de conciliação entre as
partes por parte do juiz; a partir do momento em que dispenso necessariamente a
audiência previa (593.º = não realização), que significa que nessas situações essa
importantíssima função de conciliação não pode ocorrer.
Com grande pressão da magistratura neste sentido, os juízes não gostam de levar c as
partes e terem de discutir coisas com elas, estão habituados a exercer uma posição de
autoridade e preferem não ter de discutir todos os acontecimentos, tudo tem uma
razão de ser. Os juízes de primeira instância são tipicamente jovens e por isso mais
inseguros; por outro lado, há outra razão, a da sobrecarga dos juízes; as audiências
para terem algum efeito útil, têm de ter um grande investimento de tempo prévio.

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Prefere-se que haja sentenças e não acordos (em audiência previa) entre as partes,
porque o que importa são as estatísticas, e é mais fácil emitir sentenças do que fazer
audiências justas e completas que levam muito tempo.
AULA 25.03.2022

A INSTRUÇÃO E A PROVA
Impacto nas teorias do conhecimento.
A discussão vai travar-se, a partir de uma certa altura, nomeadamente na fase de
instrução e julgamento em torno da prova.
Esta matéria tem a sua relevância porque de nada importa a afirmação da existência
de um direito se não conseguirmos demonstrar os factos do qual resulta o seu direito.
Qual é a maior das enormes contingências que toda a matéria da prova comporta? O
processo desenrola-se em torno de uma história, mas a história não está dentro do
processo, é relatada a um juiz; os factos não estao no processo, são relatados e
consequentemente tudo se desenvolve em cima de uma história e o juiz tem de
decidir se a história contada é ou não boa. Mas é evidente que o juiz não vai poder
decidir com base nas suas convicções pessoais, antes consoante as provas que são
apresentadas no processo.
As provas apresentadas não são apenas aquelas que as partes submetem ao tribunal,
mas aquelas que o próprio tribunal manda que sejam produzidas.
A prova visa persuadir o decisor, mas o decisor não pode fundar a sua decisão nas
suas meras compreensões pessoais, vai ter de justificar racionalmente a razão pela
qual entende que um facto está, ou não, provado, consoante as provas que lhe foram
apresentadas.
No final diz por que razão entende que depois da prova x facto está provado, e y
facto não. Isto é uma tarefa de enorme complexidade porque o processo se justifica
pela existência e um conflito e se uma ação não é patológica encontramos
necessariamente versões e visões diferenciadas para uma mesma realidade, o que
significa que o decisor tem de verificar a prova, analisando-a, sendo alheio a se foi o
autor ou o réu a demonstrá-la é uma análise de conteúdo, e não pessoal.
O réu desmonta a prova produzida pelo autor, e por isso o juiz faz o exercício de,
perante a pluralidade de provas que lhe são submetidas, terá de justificar porque é

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que umas são melhores que outras, p.e, porque é que uma testemunha é melhor que
outra quando ambas disseram coisas antitéticas.
O problema subjacente é o facto de o juiz não se poder abstrair de decidir. Não pode
chegar ao fim alegando que tem uma dúvida inultrapassável. O juiz tem de proferir
uma decisão.
Tipicamente, e por muito racional que seja o juízo probatório que nos é dado por um
juiz, que nos diz qual foi a sua livre convicção, que é o que se lhe exige, aquilo que
se lhe pede é que responda quando tem a certeza. Era o tal patamar de prova que PCS
contrapunha às providencias cautelares, o facto de o juiz ter de atingir um grau de
certeza relativamente à verificação daquele facto.
O juiz não vivenciou a realidade, a realidade apresenta-se de acordo com a descrição
e não de acordo com aquilo que é ontologicamente. E depois temos toda a
falibilidade epistémica com que todos nós nos confrontamos. Pensem numa coisa:
qual foi o castigo dado a Adão e Eva porque comeram da arvore o paraíso? A
finitude: deixaram de ser imortais. Vejam como independentemente de qualquer
crença, o relato tem uma coisa muito interessante; a violação do comando leva à
finitude e a finitude traz-nos a incapacidade ontológica de lermos todos os livros da
biblioteca da faculdade de direito, p.e, e estes são uma pequena parte de todo o
conhecimento.
Os nossos limites de adquirir os conhecimentos são inerentes à nossa circunstância
humana e, consequentemente, quando profere estas decisões, temos de ter uma nossa
que é uma certeza SEMPRE condicionada pelos nossos limites porque não temos
uma infinitude que nos permita saber tudo sem qualquer limite.
Isto atrai-nos para o problema do processo e da verdade não serem compatíveis, não
têm nada a ver um com o outro; o processo não é uma instância da verdade. Quanto
muito podemos dizer que os relatos feitos no processo são relatos verdadeiros, as
historias contadas são historias que tal como contadas são verdadeiras, e aqui entra a
prova: porque se aceitarmos a teoria da verdade correspondência será verdadeiro o
relato sempre a prova demonstrar ma coincidência entre o relato e realidade
demonstrada, mas este juízo é um juízo condicionado, e condicionado desde logo à
discussão travada entre as partes e as provas que foram produzidas.

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Provavelmente, e temos sempre de admitir esta hipótese, que num outro processo
onde se discutam os mesmos factos, com outras provas produzidas, o mesmo juiz
teria chegado a um resultado diferente; e com as mesmas provas e factos, outro juiz
teria chegado provavelmente a um resultado diferente.
A apreensão da realidade é estruturante, porque como não estamos presentes só
existe essa ligação com a realidade.
Relevância de se ter uma noção muito musculada do que são as regras sobre a prova,
sobre a sua produção e sobre a sua valoração: esta parte do programa é
absolutamente fundamental/determinante!!!!
Nunca pode acontecer na emissão de um juízo probatório: o arbítrio, a ausência de
fundamentação. Sendo a sentença nula se não houver fundamentação da matéria de
facto; a lei não a deixa valer ou deixa-a valer de forma precária e por isso exige que
haja uma apreciação critica por parte do juiz quando emite juízos sobre a matéria de
facto, no nosso sistema jurídico, mas nem todos os sistemas funcionam assim.
Há casos em que a possibilidade do arbítrio em matéria de facto é absolutamente
determinante. É um sistema com fragilidades na construção do sistema probatório,
que é proferido por um júri.
VER 12 ANGRY MEN (1957): reflexão da matéria da prova.
O julgamento por júri implica que o juízo de culpado ou inocente se adquire por
métodos pouco racionais para uma sociedade democrática e evoluída como a que
vivemos. É um juízo irracional de tal forma ostensivo que e chega a um resultado
sem qualquer racionalidade possível.
Mas, em benefício do júri, e para que também não partam do pré-conceito na analise
do filme supra, tem um júri de 12 homens, e não é por acaso, são 12 as tribos (?) de
Israel (relacionado com o antigo testamento). São 12 pessoas devido a um astro
histórico na cultura ocidental que fundamenta isto.
Não teriam de fundamentar, estes 12 homens, a sua decisão. Poderiam chegar a uma
decisão unanime, mas não o fizeram.
Em benefício destes sistemas, apesar da critica de DAMASCA (????), temos de
pensar que, se 12 pessoas, que entre si não falam, chegam ao mesmo resultado,
provavelmente este será um bom resultado. É o único argumento positivo associado
a este sistema.

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Qual é o perigo da irracionalidade total do método de produção e apreciação da


prova?

Há que distinguir os factos da ficção (que se destina à mera persuasão) do


patamar/grau de prova exigível ao decisor: não pode haver dúvida razoável, havendo
não pode considerar-se o arguido culpado, o juízo terá de ser de inocência.
Outra contingência na produção de prova: se pedir a uma testemunha para depor
duas vezes sobre o mesmo facto, se ela relatar da mesma forma (em termos exatos)
esta a mentir porque nenhum de nos consegue reproduzir o que disse antes
exatamente da mesma forma a não ser que o tenha "treinado."
O método mais poderoso contra a certeza é sempre a dúvida: se conseguir vencer a
pergunta respondendo de forma racional continuarei a atingir um patamar de certeza
o que é a verdade? nem cristo respondeu
Não podemos determinar a culpa de ninguém sem, pelo menos, discutirmos a prova
onde fundamos o nosso juízo!!!
A imparcialidade do decisor, e o seu distanciamento, enquanto garantia processual,
para que a decisão seja alheia a juízos e preconceitos. daí também a necessidade de
fundamentar que é "a garantia da garantia" se tiver de fundamentar a minha decisão é
muito mais difícil fundá-la em preconceito.
No depoimento da testemunha: a testemunha nem sempre mente (=pressupõe que a
pessoa queira mentir, contar uma versão diferente, há intenção de falsificar a
realidade), mas preenche lacunas (=não se sabe, mas presume-se, especula-se de
acordo com a nossa realidade) e cria falsas memórias. Este meio de prova é muito
falível.
Nunca se decidirá provavelmente com uma certeza absoluta, mas devemos pelo
menos discutir o que foi provado e não dar a decisão como adquirida.
O contraditório potenciado advogado perante o júri é muito importante para a
formação da decisão final! - a importância do patrocínio judiciário, e tb parte do
fundamento da sua obrigatoriedade em alguns casos/processos.
O contraditório só pode ser efetivo se me puder preparar para esse mesmo
contraditório.
A prova não é um meio de acertamento da verdade!!!

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Aula 28.03.2022

Instrução e prova:

Necessidade de fundamentação do juízo probatório.


A professora vai colocar no moodle o programa de um curso só sobre prova e o
Direito da prova + excerto de uma conferência onde se levanta um problema
fundamental para Jordi Ferrer sobre o resultado possivel quando chegamos ao fim de
avaliação da prova.
Reprodução dos conceitos de verdade e distinção entre verdade processual e verdade
material; o prof vai demonstrar que a distinção é errada e como os resultados a que
podemos chegar em matéria de prova nunca nos (?)
O diagnóstico médico como parte crucial da preparação dos meios de prova: o
médico vê um paciente, que se queixa de uma dor na perna; perante a prova
produzida, o medico faz um diagnostico, não o faz por inspiração do espírito santo,
mas porque lhe foram apresentadas provas e delas tem de retirar uma conclusão. O
diagnostico do medico pode estar errado: o medico diz que tem um tumor e diz que
tem de ser operado, mas o cirurgião nega esta conclusão do primeiro decisor,
considerando a sua conclusão mal avaliada.
Distinção entre verdade processual e material: de acordo com as provas
produzidas, a prova é uma; de acordo com a realidade, o resultado pode ser outra.
De que serva adaptarem-se a este conceito quando o que interessa é descobrir a
verdadeira causa da dor.
O que acontece no caso do médico, é o que também pode acontecer com o juiz: a
verdade processual e material manipulam a decisão.
FERRER considera que a distinção conceptual não faz sentido porque o problema,
no essencial, é o mesmo
Ao Direito tem de, necessariamente, interessar a verdade material.
Chegamos ao pronto crucial. entrada do conceito da verdade processual visa tirar a
atenção do erro que sucedeu por má apreciação da realidade.
A circunstância de haver um erro, tendo esse erro suscetível correção, não significa
que aquilo que acertou corresponda à realidade, não podemos confundir o juízo

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probatório que ainda que errado, seja definitivo, que é o que acontece quando não
posso recorrer no assento probatório, como continua a ser no juízo probatório.
Quando convocamos o problema na instância corrente resolvemo-lo através dos
instrumentos que temos ao nosso dispor. Há uma coisa diferente a dizer do que dizer
que não consta na decisão a realidade processual
Porque utilizamos este conceito uma vez que é metodologicamente está mal
utilizado (verdade processual)?
Porque o ser humano precisa de segurança, mas é difícil aceitar que uma coisa sendo
errada sendo definitiva, mas a vida é isso, aceitarmos o que acontece de bem e mal.
Mas a segurança e certeza antropológica leva-nos a querer alcançar soluções que nos
tranquilizem.
Caso do filme: se não estivesse alguém entre os 12 que dissesse que era inocente,
percebemos que o juízo probatório seria absolutamente errado, e sendo-o, não
obstante de ser um juízo probatório onde as provas foram refutadas, era evidente que
não se justificava a aplicação de pena de morte, mas ela teria sido aplicada porque
era "mandatory", não haveria outra hipótese no plano alternativo.
Quando fazemos algo errado a primeira tentativa é justificar a conduta ("mas, mas,
mas"). Estes fatores nunca se podem desintegrar de um sistema de justiça, da
necessidade de nos sentirmos seguros e confortáveis aos resultados que chegamos
leva-nos muitas vezes a manipular os conceitos; o que se pede a um jurista é que por
muto angustiante que seja a realidade, tenho de viver com a angústia e não com uma
falta certeza, e não devo permitir a manipulação dos conceitos.
O resultado a que chegamos é sempre precário, e temos de ter a humildade de aceitar
que o fizemos pode ser precário, não é possível fazer uma justiça eterna. As pessoas
têm de se reorganizar acima do conflito, e depois dele.
A contrapartida é a impossibilidade de vivermos com a angústia existencial, mas a
necessidade de continuarmos a viver sem nos agarrarmos a uma situação
problemática.
Uma coisa essencial: ouvir, ouvir, ouvir. Deixar fazer a catástase empaticamente,
mas antes de aconselhar a partida para o conflito, aconselhar a saída para a paz. É
mais fácil ver adiante quando há pacificação, do que com um conflito anterior.

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Há que acomodar o mal, sair com uma solução negociada, e não partir para a guerra,
pois isso é um péssimo princípio: nunca aconselhar a guerra, ouvir 20x e só depois
então tomar ponderadamente uma decisão
Por baixo de um litígio há sempre um conflito, e o tribunal só resolve o litígio, mas o
importante é pacificar o conflito. E o advogado tem de ponderar isto, porque o poder
do tribunal é muito limitado.
Se olharmos para o sistema jurídico encontramos a matéria da prova dispersa entre o
CC e o CPC: vamos encontrar um conjunto de regras estruturantes dentro do CC, e
depois um conjunto de regra relativas à produção da prova (=modos de produção) no
CPC. O que é que esta distinção é tão relevante?
Temos falado várias vezes da necessidade de distinguir dois planos (vimos isso
quando estudamos a competência internacional) uma coisa é eu perguntar:
1. Quais são as regras, qual o direito aplicável, à determinação da competência de um
Tribunal;
2. Completamente diferente é perguntar qual é o direito pelo qual um tribunal vai
resolver a causa?
Distinção entre:
1. Regras de conflito que regulam a competência.
2. Regras de materiais que regulam o litígio
Enquanto as regras que estão no CPC são regras às quais se aplica a lei do Tribunal,
o Tribunal aplica no julgamento da causa as suas próprias regras, as suas próprias
leis.
E outra pergunta é saber quais as regras materiais de direito probatório que são
relevantes na causa: são as do CC.
O que significa que o juiz pode, num processo que decorre em Portugal, aplicar
simultaneamente direito processual do seu CPC no que respeita à produção de
provas, mas direito material no que respeita às provas materialmente admissíveis
num concreto processo. Esta distinção formal é altamente consequente. As regras de
conflito que vou mobilizar para determinar que regras processuais e materiais se
aplicam, são completamente distintas.
GRANDE ALERTA: PRIMEIRO PROBLEMA DA MATÉRIA DA PROVA É A
SENSIBILIDADE, PRINCIPALMENTE QUANDO HÁ VÁRIAS ORDENS

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JURIDICAS EM CONFLITO, VÁRIAS REGRAS DE DIREITO MATERIAL EM


CONFLITO.
Que regras de direito material probatório vou aplicar ao processo?

Partimos do princípio que não temos um conflito plurilocalizado, ou que tendo,


temos a aplicação estrita do Direito português, tanto porque o processo do direito
probatório (processual ou formal) como do direito material ocorrem em Portugal.
Quais são as grandes coordenadas de DPC probatório?
O que são provas = Artigo 341.º, CC: As provas têm por fim a demonstração da
realidade dos factos.
PCS: o CC não fala em verdade, mas em realidade dos factos; e a prova vai recair,
consequentemente, sobre factos, porque falamos de prova, a prova não recai sobre
temas de prova, mas sobre factos relevantes que possam estar a coberto de qualquer
um dos temas de prova enunciados pelo tribunal. Não posso, ou Não devo, perguntar
a uma testemunha: o contrato fui cumprido? não posso perguntar isto, isto não é um
facto, isto é uma valoração. Os factos que devia questionar era: foi a casa do credor?
entregou no lugar pedido? a que horas foi? em que dia estava combinado?
O tema de prova é: houve ou não cumprimento do contrato?
Este juízo compõe uma cisão entre facto e direito nem sempre é simples e realizar
porque como sabem o prof CASTANHEIRIA NEVES nega possibilidade de fazer
este juízo, esta síntese; PCS: a pergunta é dirigida ao facto da realidade, e não as
consequências.
Em matéria de prova e dentro do direito material temos uma regra essencial: um
sistema de distribuição do ónus da prova que assenta na Teoria da Norma, o que quer
dizer que factos constitutivos, extintivos, modificativos, impeditivos.
Modificam/Extinguem ou impedem: ausência da prova desses factos não é quem não
os alega, mas a outra parte (tipicamente o réu).
Constitutivos: o facto sendo dado como não provado leva a que quem sofra é quem
alegou (tipicamente o autor)
No início do processo as partes não sabem exatamente como se distribui o ónus
Aplicamos o ónus subjetivo da prova quando o facto é dado como não provado.

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A Teoria da norma aplica-se na mesma sobre o facto não provado, até porque o juiz
não se pode abster de decidir, mas a prova produzida pode ser tao equivoca que o
juízo tem duvida quanto a chegar a um juízo de prova, ou de não prova. os casos de
ónus subjetivo, não tem dúvida e proferem uma decisão de não provado; mas pode
existir duvida sobre considerar provado ou não provado, oque significa que há de
haver uma regra que intervém nestes casos em que o juiz tem dúvida: regra do ónus
objetivo da prova.
O juiz assistiu a produção de toda a prova e emitiu um juízo de não provado o que
significa q é no momento da sentença que intervém as regras sobre o ónus da prova.
Elas não têm nenhuma relevância anterior? Têm porque as partes vão organizar-se de
acordo com o juízo final caso não consigam provar, mas o momento em que
intervém a regra do ónus subjetivo é o momento da sentença. Porque quando o juiz
faz a analise critica de toda a prova, o juiz tem de considerar que toda a prova que foi
produzida, independentemente de quem produziu a prova, e independentemente de
quem é beneficiado pela produção dessa prova. O autor pode ter apresentado
testemunhas cujo depoimento é absolutamente favorável à posição do reu, e isto é
mais recorrente do que podemos imaginar.
Quando o juiz qualifica como provado ou não provado não pode distinguir por partes
as provas. A mesma coisa quando há uma exceção deduzida pelo reu, não observa a
prova produzida por factos constitutivos, extintivos, impeditivos ou modificados
alegados pelo reu, como também pelo autor.
O ónus da prova subjetiva é uma espécie de concito que se aplica em todo o
processo, dizem alguns. PCS: não é verdade, se o juiz ao abrigo da regra pode
considerar provados factos que o deviam ser pelo autor, e são pelo réu, pode fazê-lo
na mesma, porque considerou provados pela parte que não aproveita do facto
relevante.
Art. 342.º, CPC: é muito comum dizer-se que quem alega um facto tem de o provar;
mas é mentira, quem alega o direito tem de provar os factos constitutivos, mas vamos
imaginar que está em causa o artigo 483.º, CC, o que significa que se invocar o
direito à indemnização, recorro ao art. 483.º, n.º 1, CPC + 562.º e ss. O que implica
que tenha de demonstrar todos os pressupostos da constituição desse direito, se falhar
a prova de outros factos a ação é julgada como procedente.

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Mas o Artigo 342.º, CPC aplica-se quando o juízo é dado como não provado!!! Mas
esse artigo não funciona sozinho no sistema, porque o artigo 413.º, CPC, que fala da
intervenção do direito processual, que diz que o juiz tem de anteriormente à resposta
da matéria de facto, tem de atender a TODAS as provas produzidas,
independentemente de quem as produziu, o que quer dizer que pode ter sido o réu a
trazer uma prova determinante para o processo, da qual resulta, p.e, o ilícito da sua
atuação. Quem fez a demonstração de um dos pressupostos do artigo 483.º não foi o
autor, mas o reu, mas o artigo 342.º, CC só intervém quando o juízo é um juízo de
não provado. Como o juiz tem de atender a todas as provas, se o reu trouxe uma
prova relevante, o juízo não é não provado, e se o juízo é um juízo de provado o
artigo 362.º já não intervém, só se o resultado probatório for não provado é que
pergunto à norma quem tinha de provar aquele facto.
O ónus de prova é muito mitigado no artigo 342.º, CC.
A segunda mitigação tem a ver com o dever do tribunal de provar a produção de
todas as provas que permitam chegar a um juízo de "verdade" (=necessidade de
conforto antropológico) que nos diz que cabe ao juiz realizar ou ordenar todas as
diligencias necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio.
Isto significa que a parte pode não ter produzido as provas, mas o juiz tem de
provocar a produção oficiosa destas mesmas provas: art. 413.º + 411.º (CPC) como
regras que mitigam o 403.º (???)
Recordar o artigo 5.º, CPC: às partes compete alegar os fundamentos essenciais. Se a
parte não alegou factos essenciais, se apesar se o exortado não tiver alegado o
fundamento do processo, o juiz não pode mandar produzir prova sobre factos
essenciais não alegados.
PCS: Há aqui uma batalha. Isto também tem uma certa ideia de segurança e de
justiça, evitando até práticas corruptas (utilizando-se de normas que mandam
reorganizar e produzir prova, esta é vedada aos factos essenciais, é uma limitação ao
inquisitório).
Ónus subjetivo = momento da sentença = juízo de não provado.
Outra disposição fundamental: art. 417.º, CPC.
O que é que determina este preceito? O artigo determina duas coisas fundamentais:
1. Todos estamos submetidos ao dever de colaborar com a justiça.

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p.e, se presenciar um acidente, não posso dizer que não sou testemunha, sou-o
porque vi o acidente, e não posso recusar-me a ir a tribunal falar sobre o que vi, sofro
consequências se o fizer, inclusive ser transportada por forças policiais para a levar
ao tribunal para depor. Nenhum de nós se pode recusar a colaborar com a justiça,
AINDA QUE SEJA PARTE.
Quando é que o dever de colaborar tem sentido?
Quando o seu destinatário não é a parte que é beneficiada pela própria parte, porque
essa espontaneamente produz a prova, não tem que lhe ser imposta uma colaboração
para que provoque a colaboração da prova, o que significa que peço a parte contraria
que produza a prova que, em princípio, a prejudica, e que beneficia a prova que teria
(E tem) o ónus da prova.
Isto revela-nos um traço muito importante do nosso sistema: significa que o correto
acertamento da verdade é um valor protegido pelo DPC português; quando vimos o
artigo 7.º (justa composição do litígio), bimos que o juiz tinha de concorrer para a
justa composição do litígio, e um dos deveres que integram essa posição do juiz é o
dever de provocar a produção de provas, ainda que estejam do lado que não é
beneficiado pela sua produção.
E se a parte nada fizer? Exortada, aglomerada. Primeira consequência imposta à
parte (nunca aos terceiros que cooperam com o tribunal): a sua conduta omissiva
(=novo grau de prova: o indício probatórios)
Indício = princípio de prova que por si só insuficiente para demonstrar um facto, mas
que conjugado com outros indícios permite construir uma história coerente e dar o
facto como provado. É o que tipicamente faz a polícia judiciaria: não há prova direta,
procura-se uma prova indiciaria (onde esteve, comprou uma arma, tem uma arma
sem numeração). Só um indício não é suficiente, mas a conjugação de uma serie de
indícios permitem obter uma história suficiente para considerarmos factos como
provados.
Posso chegar a um resultado muito critico: porque é o da inversão do ónus da prova.
A inversão do ónus da prova não está explicitamente no CPC (apesar do 417/2,
CPC), as a regra que procuramos é o artigo 344.º, CC.
Voltamos a ter de distinguir formalmente: quando inverto o ónus da prova não onero
uma prova do concreto facto diferente da parte que estava onerada com essa prova,

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onero a parte contraria com a destruição da prova do facto que devia ser provado.
P.e: responsabilidade médica tem um desvio face o art. 483.º, CC, que impõe que a
ação seja ilícita, típica, culposa, e que haja um nexo de causalidade suficiente. No
entanto, na responsabilidade médica, o paciente demonstra o dano, a causalidade
(antes e após) e depois é o médico que tem de afastar a presunção de que não agiu de
acordo com as legis artis (=leis da arte). É o médico que a tem de derrotar porque é
quem detém conhecimentos científico-técnicos suficientes para demonstrar o
(in)cumprimento destas leis ônticas a que está submetido. Atribui-se à parte o ónus
de destruir, dispensando-se alguém de provar uns dos pressupostos do art. 483.º, CC.
O artigo 417.º, CPC leva-nos a inversão do ónus da prova (344.º, CPC) inversão que
não significa provar o facto por outra pessoa, mas sim provar o facto contrário do
que se presume.
Aula

Artigo 342.º, CPC: aquele q alega um direito (que é distintos de alegar factos).
Ponto de referência para a distribuição do ónus da prova é o direito alegado no processo.
Um autor quer a condenação do reu nas consequências do incumprimento do contrato.
Quem vai ter de alegar é o reu para paralisar o efeito do incumprimento, mas o autor e tem
de provar a existência do incumprimento
Tem de alegar os factos constitutivos do direito alegado - art 5.º, CPC.
Q natureza tem o facto? Constitutivo, modificativo, extintivo.
Art 343.º, n.º 3, CPC: parece uma exceção, mas é uma situação atípica.
É possível celebrar convecções probatórias nos termos do art 345, CC redistribuindo o
ónus da prova em termos diversos do que a regra supletiva do Artigo 342.º, CC. Mas há
um limite à sua validade, não podem tornar excessivamente difícil ou impossível para a
parte que não tinha o ónus da prova, mas agora tem.
Casos da prova diabólica = a prova é praticamente impossível
Quando numa ação concreta se verifica que o ónus destituído de acordo com o Artigo
342.º, CC faz impender a prova do facto sob uma parte q se confrontada c uma extrema
dificuldade da produção dessa prova, pode o juiz provocar a inversão? Não, o caso de
alteração só tem dois fundamentos a lei ou o contrato. O juiz não tem qualquer poder na
alegação de factos constitutivos, impeditivos ou extintivos,

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Prova diabólica (problema):

Vimos na última aula a propósito da posse um exemplo que nos diz que a posse é uma
forma de dar possibilidade a uma situação jurídica real que só pode ser provada quanto a
sua existência da titularidade se conseguir chegar em termos límpidos a uma situação de
aquisição originaria.
O que se faz para provar uma situação jurídica real é recorrer ao registo que é uma
representação da realidade, o que significa que pode estar incorreto ou inadequado. A lei
determina que posso substituir a apresentação de prova por uma certidão do registo predial
que demonstre o trato sucessivo.
Este tipo de intervenção sobre a realidade só me faz presumir com força probatória plena
que a dimensão é boa, substitui uma prova praticamente diabólica porque teria de
demonstrar a vontade de todas as aquisições p demonstrar z minha titularidade do direito
real. O próprio direito criou um regime de simplificação.
Prova diabólica = é tao difícil de realizar que é quase impossível z sua realização. como e
q nos casso identificados como prova diabólica de pode reagir? Se o for só puma das
pessoas, posso pedir q seja só uma das partes,
Técnica do desnivelamento da convicção para a partir de indícios probatórios ter como
verificado o fato relevante.
Casos de prova da causalidade na responsabilidade civil. Impor ao lesado implicava
impedir o direito a indemnização porque a causalidade escapa, e difícil de estabelecer.

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AULA 08.04.202
MEIOS DE PROVA:

1. Por presunção:
Normalmente a presunção está ligada com os factos instrumentais - art. 5/2, al. a), CPC-
são as presunções que, em princípio, concretizam os factos instrumentais.
Presunções = art. 349.º, CC
Caso típico = presunção de culpa na responsabilidade contratual (art. 799.º, CC) basta
demonstrar o incumprimento do contrato para desencadear a presunção legal
Presunção = estado de culpa ilidível; o reu pode afastá-lo através de prova em contrário
nos termos do art. 347.º, CC
São muito difíceis de provar ou demonstrar em Tribunal por isso o legislador decidiu
incorporar presunções legais.
Presunção judicial = ocorrem no momento do julgamento, ou seja, o juiz por via das
regras da experiência, e demonstração e prova dos factos, pode conseguir tirar ilações
através das regras da experiências. Imaginem um juiz formatado para um determinado tipo
de litígios porque já está habituado a essas matérias, encontrando padrões que permitem
inferir determinados factos.
Só conseguimos avaliá-las casuisticamente.
As provas por presunção podem ser legais (CC, CSC, CIRE) ou judiciais (identificadas
casuisticamente ou por via da jurisprudencia).
É muito mais fácil destruir o nexo logico das presunções legais, do que as judiciais.
BIBLIOGRFIA: Tese de Paula Trindade (prova dos (...) no DPC português), tese de
doutoramento de João marques Martins (presunções na responsabilidade civil aquiliana)

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2) Por confissão: art. 352.º e ss, CC.

A confissão é o reconhecimento que a parte faz de um facto que lhe é desfavorável e


favorável à parte contrária.
Caso exemplificativo: numa ação por responsabilidade civil quem alega os factos
constitutivos do art. 483.º é o autor nos termos do art. 342.º, por isso tem de demonstrar q
ocorreu um facto ilícito, culposo, os danos, e o nexo de causalidade; imaginem q o reu, na
sua contestação, confessa que o facto ilícito que ocorreu (=é-lhe desfavorável) mas depois
adita que não ocorreram danos. o facto é, à partida desfavorável, e fica assente, mas depois
adita outro que exclui a sua responsabilidade (CONFISSÃO COMPLEXA - defesa por
exceção perentória impeditiva)
Dentro da prova por confissão- 3 modalidades:
1. Prova por confissão simples
2. Prova por confissão qualificada
3. Prova por confissão complexa = ocorre, normalmente, quando se alegam exceções
perentórias.
Imaginem que o autor alega a celebração com o reu de um contrato de CV e o autor quer
que o reu seja obrigado a cumprir com a obrigação do pagamento; na contestação o reu diz
que é verdade, mas que a obrigação já prescreveu ou já foi cumprida. Ou seja, o reu
confessa que celebrou o contrato de CV, que em princípio lhe é desfavorável, contudo
adita um facto novo, alega um facto extintivo apesar de admitir o facto constitutivo do
autor.
MTS diz que a confissão do pedido (negócio jurídico-processual em que o reu confessa e
dá razão ao autor, e por isso no fim o conflito extingue-se por via da confissão do pedido)
com a confissão por factos (alegação de factos, meio de prova típico) - PERGUNTA
TÍPICA DE AGREGAÇÃO PARA A ORDEM, E DE ORAIS.
Dentro da confissão, temos modalidades no art. 365.º, CC (?)
1. Judicial - Pode ser ainda:
1.1. Confissão Judicial Espontânea: exemplo de à pouco, onde nos articulados
(=contestação) o reu confessa que celebraram o contrato de CV (=facto constitutivo é
verdadeiro) e depois alega um facto extintivo.

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Todas as confissões de factos nos articulados cabem na modalidade de confissão judicial


espontânea.
1.2. Confissão judicial provocada = não ocorre nos articulados, mas sim em sede de
julgamento (=audiência final) e, portanto, denomina-se como "depoimento de parte" (Art.
462.º e ss, CPC) (o juiz prepara uma série de perguntas que dirige diretamente ao réu q está
afastado dos mandatários) o objetivo é q o tribunal consiga obter oralmente a confissão de
factos na própria audiência final.
Só pode ocorrer em sede de tribunal, a pedido do próprio juiz, que depois lhe dirige
perguntas. Os advogados não interferem. As perguntas dirigem-se a factos em concreto.
Através destas perguntas o tribunal vai tentar que parte confesse determinados factos, e
isto pode ser favorável ou desfavorável para as partes.
O depoimento de parte tem deve ser distinguido de outro meio de prova muito recente
(2013) que é prova por declarações de parte; este último meio de prova é o único que não
está previsto no CC, tendo só regulação no art. 466.º, CPC, o que foi uma opção do
legislador, JCL disse que não foi uma escolha racional, simplesmente não se quis alterar
novamente o CC. Este meio de prova, por experiência pratica, é sempre utilizado nos
julgamentos porque é uma forma da parte dar a sua versão os factos ao tribunal sem
intermédio do mandatário; é a oportunidade que a parte tem de contar a sua narrativa. Em
matéria de despedimento sem justa causa, p.e, é muito importante que se recolham
declarações de parte do trabalhador.
Antes de 2013 não havia essa possibilidade e maior parte dos juízes não admitiam que a
parte contasse a sua visão dos acontecimentos ao tribunal de forma independente dos seus
mandatários.
No caso dos despedimentos é muito difícil que alguém assista.
Diferença entre:
a) Prova por depoimento = modalidade de prova por confissão, o objetivo do tribunal é
extrair uma confissão
b) Prova por declarações de parte = o objetivo é ouvir a parte em relação aos factos que
a própria viveu diretamente. Exemplos paradigmáticos dos despedimentos ou de acidentes
rodoviários. pode acontecer que o autor ou réu confessem factos, no entanto, e se o
fizerem, isso aí depois segue os trâmites da prova por confissão, mas na maior parte dos

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casos isto não acontece. Quando o autor ou réu estão a contar a sua narrativa normalmente
não confessam factos.
Os objetivos e meios de prova são distintos - esta distinção também é típica na ordem e no
CEJ.

3. Extrajudicial:

Normalmente antecede a prova documental.


Caso: se eu celebro um contrato de CV por escritura publica de um imóvel as minhas
declarações de vontade estão expressas naquele documento e basta juntar esse documento
para se extrair a confissão de factos daquelas declarações, seguindo-se o regime da prova
documental.
Considera-se provada nos termos destes documentos.
Força probatória da confissão: Art. 358.º, CC; tem força obrigatória plena contra o
confitente (=corresponde à confissão judicial espontânea e, em relação a esta, faz-se prova
plena em relação aos factos q lá estão, só pode ser ilidido através de prova em contrário
nos termos do artigo 347.º, CC).
Há livre apreciação pelo tribunal, não há força probatória taxativa, vale a força da regra
livre (art. 607.º, CPC).
Art. 466.º, n.º 3, CC: depoimento de parte é de livre apreciação por parte do juiz.

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4. Prova Documental:

Se as provas documentais forem emanadas por entidades públicas, são documentos


autênticos.
Art. 362.º e ss, CC
A prova documental divide-se em duas categorias principais:
3.1. Documentos autênticos = são os mais intuitivos de perceber porque são aqueles que
decorrem de uma autoridade pública oficial, ou notariado.
P.e, a escritura pública, onde as declarações de vontade são dirigidas perante o notário.
3.2. Documentos particulares - dividem-se em três:
3.2.1. Documentos particulares autenticados = não nascem no notário ou por uma
autoridade pública oficial, mas as partes podem levá-lo a ser autenticado. Não surge
autenticado, mas fica autenticado. Há prova plena das declarações que lá estão. Se no
contrato de CV de um imóvel A declara que já pagou um montante, e B declara que já
entregou o imóvel, então a prova plena são as declarações de vontade, mas se houve
entrega e pagamento, o documento particular autenticado não faz prova plena destes factos
a não ser que à frente do notário paguem o montante, se o fizermos esse momento também
tem força probatória plena, assim como a entrega simbólica do imóvel (=chaves).
As partes decidem ir ao notário p autenticar o contrato, nomeadamente com os contratos ad
substantium.
3.2.2. Documentos particulares com reconhecimento notarial das assinaturas e da
letra = Aquilo que faz prova plena é a autoria daquele documento; aquilo que o notário faz
é reconhecer que a letra e a assinatura correspondem ao autor do documento. As
declarações que lá estão não constituem prova plena.
O reconhecimento notarial pode ser feito presencialmente (=as partes mostram o
documento de identificação e assinam, havendo correspondência entre ambas); ou por
semelhança (=basta levar uma cópia do CC e aí, por semelhança, o notário reconhece que a
assinatura tem aquela autoria). Por semelhança é a forma mais fraca se anteciparmos um
litígio em termos probatórios, então é livremente apreciado pelo Tribunal. Isto na prática
traz muitos problemas.

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3.2.3. Documentos particulares simples = Aqueles em que não há qualquer intervenção


notarial ou entidade pública na elaboração ou reconhecimento destes documentos.
Se juntarmos uma fotografia, um vídeo, etc.
Podem ou não ser assinados.
A força probatória distingue-se.
Regime do CPC:

O momento de junção da prova documental é, em princípio, nos articulados (regime geral):


1. Regime da petição inicial o que pode ser extraído do art. 552.º, n. º2, CPC.
2. Quanto à contestação também deve ser assim: Artigo 572/2, CPC.
3. E nos articulados supervenientes - artigo 588/5, CPC.
Possibilidade excecional (art. 423/3, CPC): Pode ocorrer que a parte não tenha logo o
documento, então 20 dias antes a parte pode pedir a junção de documentos ao processo:
art. 423/2, CPC.
O art. 423/3, CPC cria uma exceção da exceção.
Os juízes normalmente tendem a ser flexíveis desde que seja garantido o contraditório da
parte contra a qual o documento foi junto.

4. PROVA PERICIAL - Art. 388.º e 389.º, CPC:


A prova pericial é utilizada ou junto dos articulados ou em sede de julgamento. Perante
litígios muito técnicos, nomeadamente quando falo de responsabilidade civil
extracontratual enxertada no Direito Penal porque há um homicídio; ou no decretamento
de um maior acompanhado, tenho de conseguir demonstrar ao tribunal q a pessoa noa esta
nas suas capacidades para administrar o seu património, nomeadamente recorre-se a prova
pericial, nomeadamente ao médicos para conseguir colmatar a falta de conhecimentos
técnicos dos juízes (noutras áreas).
Força probatória = livremente apreciado pelo tribunal porque normalmente nao é pedida
pelo próprio Tribunal, é junta pelas partes e, por isso, há normalmente uma desconfiança
prévia sob pena de "admitirmos" que os técnicos fora do tribunal consigam controlar a sua
convicção (=do Tribunal)
Nao pode haver uma força probatória mais elevada pois estaríamos a retirar os poderes aos
juízes, que podiam ficar reféns dos próprios peritos.

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Na arbitragem o regime da prova pericial é diferente porque normalmente são conflitos


muito técnicos e de montantes muito elevados. Mas nos tribunais judiciais os juízes
tendem a ter mais cuidado, a nao ser com os relatórios médicos, em casos de
inimputabilidade do arguido, etc, aí os juízes assumem, sem questionar, o relatório médico
porque normalmente provém de entidades públicas.
5. PROVA POR INSPEÇÃO - ART. 390.º + 391.º
O juiz pode deslocar-se ao local, percecionando ele próprio, com os seus sentidos as
circunstâncias do acontecimento, do litígio. Isto acontece muito em sede de acidentes de
viação ou de matéria de construções que caem, ou em sede de infiltrações em prédios para
se auferir a dimensão dos danos, o que é relevante para a sua quantificação.
Também é livremente apreciável pelo tribunal.

6. Prova testemunhal - art. 392.º a 396.º, CC


Meio de prova mais utilizado.
Não confundir com a prova por confissão porque nesses casos quem fala c o tribunal é a
própria parte, na prova testemunhal A PARTE NUNCA PODE SER TESTEMUNHA.
Se a testemunha for familiar do autor, podem recusar o depoimento testemunhal por uma
questão de conflitos de interesses, ou se entenderem que nao se sentem preparadas para
testemunhar sobre determinados factos.
A recusa para depor como testemunha é muito excecional, só se aplicando aos familiares
diretos da parte.
Tem uma série de especificidades:
Artigo 392.º
Artigo 393.º e 394. º - quando é que a prova testemunhal nao é admissível para afastar a
força probatória plena demonstrada em provas enxertadas num documento particular
autenticados ou autênticos. Esses factos são dados.
SEMPRE QUE SAI NOS EXAMES PROVA TESTEMUNHAL SAÍ SEMPRE 393.º A
305.º
Importa distinguir quando é (in)admissível
O requerimento testemunhal também é feita nos articulados. E temos de explicar porque é
que vamos utilizar aquela testemunha (=em relação a que factos).

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Força probatória: art. 500.º e ss, CPC. É feito nos articulados tal como a junção de prova
documental. (Art. 552.º, n.º 2)
O máximo de testemunhas que posso arrolar são 10, normalmente.

AULA 11.04.2022

PROVA E O CONTEXTO DA AUDIÊNCIA

Convidada: Professora Elizabete (Universidade do Minho)


Como é que tudo se prepara para a audiência ser eficiente e chegarmos a uma boa
decisão?
Três aspetos/temas/questões relativamente à prova que perturbam a professora no exercício
da advocacia - estas questões perturbam-na
As duas primeiras têm resolução na jurisprudencia e na doutrina, mas a professora nao
concorda comum estas formas de resolução.
A última questão é uma questão que nao encontra resolução, mas a professora vai fazer
requerimento de um processo e antecipa que a decisão nao vai ser favorável no ponto
relativo à prova. A professora hospícia porque conhece a law in books, mas também a law
in action.

Questões relativamente à prova:


1. A ainda falta de assimilação por parte dos tribunais (=nao apenas os juízes, mas também
os advogados que integram o sistema judicial) daquilo que nós consagrámos na reforma de
1995/96. A reforma já foi há muitos anos. Esta forma mudou o modelo de adjudicação da
decisão, se assim quisermos chamar. Investimos em várias tónicas: "verdade material"
(expressão não é boa para PCS e a professora que deu aula; acertamento dos atos da
realidade), o processo como meio enão como fim (=evitar decisões de forma em
detrimento das de mérito), procura da verdade no inquisitório em vez do dispositivo.
O primeiro problema como advogada: tenho de gerir muitas vezes várias posturas judiciais
sobre este tema; o doutor LEMO JORGE estudou depois o DPC.

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Mas há quem se deixe contaminar, ainda assim, a uma postura anterior ao do CPC de
1995/1996, até LEMO JORGE, que tem palavras descontextualizadas na sua doutrina e
utilizadas pela jurisprudencia de forma diversa (no ponto do dispositivo e inquisitório).
Todos nós sabemos que na petição inicial, com os articulados, tem a parte representativa o
ónus de indicar os meios de prova (a palavra ónus, aqui, é algo problemática; a lei diz
deve, mas não é uma obrigação jurídica, mas constitui uma posição processual que noa é
de mera faculdade, depois com limites como o do nr das testemunhas). Parece que esta
desenhado um sistema instrutório baseado no dispositivo (sistema anterior de 1995) mas
depois temos o art. 411.º, CPC que diz, no fundo, q incumbe ao juiz ordenar, mesmo
oficiosamente, todas as diligencias necessárias ao apuramento da verdade e a justa
composição do litígio, quanto aos factos que lhe é lícito conhecer.
O problema aqui é: vamos imaginar q falamos de instrutório face factos alegados pelas
partes (=conhecimento lícito), ou facto oficiosos, ou factos instrumentais, e ainda
complementares e concretizadores se alegados pela parte e exercido o contraditório.
Imagine que as partes cumpriram o ónus de indicação dos meios de prova nos seus
articulados, cumprindo formalmente, colocando um nr de testemunhas e dos seus dados.
Mas, começando elas a prestar depoimento em julgamento as pares começam a verificar
que o que elas têm para dizer não é muito relevante. Mas, elas próprias referem-se a
alguém que nao foi arrolado nem pelo autor nem pelo reu e essa é a pessoa que afinal sabe
algo sobre isto. Ou até, ninguém invoca outra pessoa, mas demonstram que pouco sabem,
mas a parte descobre que afinal havia uma pessoa com conhecimento e se soubesse disso
na altura tê-lo-ia arrolado. Isto pode ser por falta de interesse ou procura da parte, há falta
de diligencia. o advogado da parte, verificando isto, e para contornar o problema, vem
sugerir ao juiz que ouça essa outra pessoa, fazendo um requerimento (=a sugestão é um
requerimento) para o juiz não vir dizer que os poderes instrutórios do tribunal nao servem
para suprir as deficiências dos trabalhos probatórios, decidindo pela não-audição das
pessoas.
Pode acontecer que, afinal, a testemunha ó se torna necessária em virtude de algo que
sucedeu no julgamento. Há aqui uma falta de assimilação completa da reforma de 1995/96,
na opinião da prof ELIZABETE, e nao se pode situar isto nos juízes novos e nos juízes
velhos, é algo transversal.

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Há pessoas que interpretam bem o princípio do inquisitório, e há outros agarrados ao


modelo anterior de 1995, é uma questão ideológica (=o que é que o processo entre
privados deve ser?).
- As partes são livres e também por isso são responsáveis? ou deve-se proteger as partes e,
alem disso, o interesse público (=dirimir o litígio de forma justa). O legislador disse
expressamente que quer que a resolução seja justa e por isso nao pode depender só das
partes, é preciso ir mais longe.
Quer gostemos quer nao o CPC postergou muito o dispositivo e a matéria de prova: é
muito difícil articular, q é o q a jurisprudencia tenta fazer, mas o objetivo nao é esse,
articular o dispositivo com o inquisitório.
Jurisprudencia tem vindo a dizer que, quando nao se cumpre o ónus, existem preclusões
(=precludia a possibilidade de aditar testemunhas, ou substitui-las, p.e, mas c isto falamos
de outros meios de prova também, como peritagens, documentos, etc) mas, basicamente
tem se vindo a entender que o juiz nao está impedido de ouvir alguém mesmo que tenha
sido arrolado e a parte tenha prescindido de ouvir a testemunha (dizem isto alguns
acórdãos, e bem); mas também ha acórdãos que dizem q o juiz nao pode ouvir uma
testemunha só porque lhe foi sugerido pela parte, porque a testemunha nao tinha sido
arrolada no devido tempo e, de repente passou a ser importante, porque a parte alega que
tem relevância para a prova de um facto.
Tanto que se diz que o juiz não está lá para suprir a falha, e é por isso que existe o ónus;
mas logo a seguir diz se que pode ouvir uma testemunha mesmo que nao tenha decorrido
de uma necessidade que ocorreu na audiência.
Mas isso quer dizer que, em boom rigor, foi imputada à parte. Pode haver vários graus de
imputabilidade, mas é sempre imputável à parte essa falha de diligencia ou de investigação
superficial.
A própria jurisprudencia luta internamente entre o juiz do dispositivo e o juiz do
inquisitório porque se teima em querer articular algo que não é articulável, na opinião da
professora ELIZABETE, porque o princípio do inquisitório, desde que o facto sobre o qual
eu quero, ou é necessário, fazer prova, e o juiz entende que ainda nao está convencido e
precisa de mais prova, ou quer testar o convencimento que tem sobre a ponto de vista que
tem; quando esse fato é relevante e a pessoa é alegadamente apta para conhecer dos factos
(a posição profissional em q estava, etc) é pessoa que permite o acertamento da verdade

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daquele facto ,o juiz deve MANDAR ouvi-lo por requerimento ou outra qualquer forma., e
não deve estar preocupado com a circunstancia de a testemunha nao ter sido arrolada pela
parte, aliás, é precisamente por nao ter sido arrolada, independentemente da diligencia, o
que interessa é que o juiz quer resolver o litigio de forma justa.
Se o juiz nao ouvir a testemunha, pode ficar na dúvida, e se ficar na dúvida decide contra
aquilo e cria o ónus da prova objetivo cuja função é criar um critério de decisão.
O que é que é mais justo para compor o litígio? Aplicar um critério formal relativamente a
uma controvérsia de decisão (=porque magicamente tinhas o ónus de provar e nao provou);
ou uma decisão baseada no convencimento do juiz?
O juiz pode exercer o inquisitório e continuar na dúvida, mas isso obriga a que vamos ao
ónus da prova e ver quem devia ter provado e não provou - ÚLTIMA RATIO!!
Os acórdãos são um pouco paradoxais, parecem ser feitas por várias pessoas e várias
posições, dão uma no cravo, e outra na ferradura
É uma questão ideológica e transversal a todas as idades tendo a ver com a rapidez da
decisão quando não se tem de ouvir a testemunha que não foi arrolada, em aplicação do
critério objetivo (=devias ter provado, e não provaste).
O principal problema que vai na cabeça dos juízes é que se possa pôr em causa a sua
imparcialidade: se aceita a sugestão da parte A, o B vai dizer que estou a ajudar A que não
cumpriu o seu ónus. Não estou a ser equidistante, estou a pender para um dos lados. Os
tribunais vivem muito do que parece (nao basta sermos neutros, temos de parecer neutros).
Um juiz quando toma a decisão de ouvir alguém, nestas condições, não sabe qual é o
resultado probatório que vai sair da inquirição do Joaquim. nao sabe para que parte vai ser
favorável, ou se será sequer favorável. Logo, não se pode dizer, só porque ouve uma
testemunha que nao foi arrolada, que está a falhar na sua imparcialidade.
Porque o juiz tem de mudar o chip, estamos num processo de partes onde se discutem fins
privados, mas nao tem só fins privados, por isso é que se impõe uma justa composição do
litígio. O legislador quis uma decisão que fosse o melhor possivel porque deriva de tudo o
que podia ser feito no processo para haver aproximação à materialidade do facto, embora
se possa gastar mais tempo, será uma decisão melhor fundamentada e, consequentemente,
mais justa.

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Nao podemos dizer que temos duas interceções e dizer que o inquisitório para quado
alguém nao cumpriu o dispositivo de forma diligente. É isto que a maior parte da doutrina
diz e assim aniquilamos o princípio do inquisitório.
Mas então, quando é que o inquisitório funciona?
Inquirição oficiosa das testemunhas (Art. 526.º, CPC): quando, no decurso da ação,
portanto nao diz se é início, meio ou fim do julgamento; haja razoes para presumir, nao diz
quem presume; que determinada pessoa tem conhecimentos de facto determinantes para a
boa resolução da causa.
Comentário ao artigo supra: Não se diz aqui que para que esta testemunha seja aceite é
necessário que a sua necessidade tenha surgido naquele preciso momento, pode já ser
importante no momento em que surgiu a petição inicial! Falamos de alguém que não
cumpriu o seu ónus, mas o juiz tb convida ao aperfeiçoamento dos factos, que tb é uma
falta de diligência da parte. Mais, há um conjunto de factos q nao foram alegados e entram
pela prova, o momento de adjudicação mudou porque se depender tudo das partes a
decisão pode ser acidentalmente justa, mas o legislador nao deseja que seja uma
arbitrariedade, antes visa que a decisão seja sempre o mais justa possível. A justiça não é
um jogo, e o juiz tem de ter sempre uma posição de algum controlo.
O CPC de 2013 nao tem nada de novo!!!!!! - só se muda a numeração.
PCS questiona: se o juiz tem dever de mandar produzir uma prova, e nao manda, e depois
diz que o facto nao foi provado, mas há indícios no processo que a prova deva ser
ordenada e não foi, há invalidade do processo. os juízes não querem admitir
ostensivamente q tem o dever de instruir, porque submetem o «s processos a invalidades
processuais. A doutrina ainda nao foi assertiva o suficiente para dizer que os juízes estao
na toca porque nao têm medo das invalidades processuais e, por isso nao resolve isto. A
imparcialidade nao é isto, é tratar de forma igual aqueles que se encontrem na mesma
circunstância.
Outro aspeto: o princípio da cooperação vincula o juiz (art. 6.º, CPC)!! O artigo impõe ao
tribunal que concorra com as partes e mandatário para a justa composição do litígio, o que
significa que nao são so as partes que têm de chegar a um resultado justo ou criar
condições para tal, o tribunal também tem aqui um papel predominante.
A doutrina tem dado cobertura a esta postura dos tribunais, que é completamente contra
cíclica (PCS), este paradigma ainda não foi alterado apesar do CPC 1995/96)!

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Enquanto assim for, nao podemos ler as regras de acordo com ideologias já superadas.
PROF ELIZABETE: é uma forma diruptiva de ver o sistema, é querer
2. Falta de entendimento do que a lei pretende: a reforma de 2013 criou formalmente (=em
bom rigor ja existiam) o meio de prova do art. 466.º, CPC que diz que as partes podem
auto-propôr-se a declarar num processo sobre factos pessoas que tiveram conhecimento
direto (independentemente se foram favoráveis ou desfavoráveis) para esclarecer o que
aconteceu.
O que aconteceu com este meio de prova? Tem sido muito utilizado e, muitas vezes, onde
nao havia prova, apareceu prova. NO fundo temos aqui uma parte que é testemunha (mas a
parte não pode ser testemunha). É depoimento de parte, não é testemunhal (JCL)!
O problema é que a jurisprudencia, sobretudo os tribunais da primeira instância,
É o único meio de prova que se pode requerer até as alegações sob a logica e que se a
pessoa fizer um depoimento desfavorável, pode haver confissão; e depois tomar a decisão
se há no juízo uma dúvida passível de ser esclarecida, ou nao, não queremos estragar a
convicção que o juiz tem. O momento é para a parte esta é que decide em que momento
decide fazer depoimento de parte.
Temos advogados que requerem isto logo no articulado ou na audiência do julgamento,
mas isto estrategicamente é mau porque fazendo isto no início, e uma vez que pode haver
uma confissão, pode formular logo um juízo desfavorável.
Este é um problema estratégico do exercício da advocacia.
Discutem-se, agora, duas questões:
2.1. Só se pode requer decisões de parte se o cliente estiver presente no tribunal (orientação
jurisprudencial), à semelhança das testemunhas aditadas, por isso não se vai ouvir,
2.2. A pessoa esteve no julgamento, porque é um direito da parte, e requer na última
sessão, querendo cumprir com a exigência de ter de estar presente.
Resposta do Tribunal: não pode, porque ouviu toda a prova testemunhal não podendo
requerer as declarações de parte porque naquele momento não é possível.
Isto é não saber qual é o sistema de prova que temos (que é livre). Cabe ao juiz sabe
quanto vale uma testemunha, à qual equivale a parte neste caso.
A parte sabe tudo sobre aquilo porque testemunhou os factos; mesmo que não estando lá,
sabe de tudo porque o mandatário lhe contou porque é uma obrigação do patrocínio; e
também pode saber tudo porque ouviu as gravações.

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Pedem-se as gravações para perceber se ficaram boas e para informar da melhor forma a
parte do que sucedeu.
A jurisprudência vem dizer que, como a parte esteve sempre presente,
Já desde a revolução francesa, em que a prova deixou de estar tarifada, e passou a ser livre,
os juízes têm o papel de ler a prova e tirar a sua convicção, e percebemos isto pela sua
fundamentação.
Há um juiz que escreve muito sobre processo q tem uma solução espetacular sobre isto: se
a pessoa la esteve e o advogado requer que a pessoa quer ser ouvida, o juiz deve advertir o
advogado e a parte q a sua credibilidade será apreciada "por baixo" porque esteva na sala.
A credibilidade está tarifada casuisticamente (há um pré-conceito sobre a prova). A ideia é
de que a parte só diz a verdade quando confessa um facto desfavorável, quando diz algo q
lhe é favorável, à partida mente.
A psicologia forense procurou explicar, já desde o séc. XIX, que isto não é assim, não é tão
linear quanto isso.
Muito importante do ponto de vista do justo processo, até porque pode haver situações que
não há outra prova que não esta. Nomeadamente a decisao sobre a verdade do facto ou
não.
Uns entendem que a prova é autossuficiente, outros entendem que é complementa. Desde
que o juiz a fundamente racionalmente, a PROF ELIZABETE considera que é
autossuficiente.
Não há no nosso ordenamento, uma regra como existia nas ordenações afonsinas que
exigia que o facto fosse repetido para x pessoas para ser credível. Um juiz tem de saber
fazer as perguntas e saber psicologia forense.
Forma de preenchimento de lacunas do conhecimento: exemplo dos ténis da prof PCS.
3. PCS propôs uma ação em que o reu fez um contrato de CV da empresa, e o devedor não
acabou de pagar o preço. O reu admite que não pagou o preço (art. 1.º a 3.º estao certos),
mas explicou q a contraparte lhe devia dinheiro, que a coisa não tinha todas as coisas que
estavam prometidas, q se violou as leis da concorrência. E deduz-se uma reconvenção: é
verdade q te devo 15, mas tu deves-me 115.
Na audiência previa, temas de prova: nenhum tema de prova dá ação. Todos os factos que
se alegaram estavam assentes, não vão ser submetidos a prova. Temas de prova, tudo na
reconvenção: cada parte leva várias testemunhas (núcleo bastante grande porque a ré levou

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20, e a professora leva 15) mas todas elas vão falar sobre os aspetos da reconvenção, a
professora antecipou essa defesa.
O não pagamento é visível.
Foram notificadas todas as pessoas, para o mesmo dia e hora, mas a professora não sabe
dizer ao juiz que isto não se faz.
Qual é a ordem de produção da prova? O que é que não é ilidível?
Aqui faz sentido? Faz se o autor for reconvinte porque na reconvenção não é reconvinte.
Isto faz sentido, mas não é o que vai suceder no caso da professora e antecipa um
indeferimento.
A professora sabe que as contrapartes vão opor-se, e fica por aí.
Deve ser feita contraprova antes da prova?

--------------------------------------------------------------------------------------------------
Aula 22.04.2022

Sentença = ato terminal da cadeia de atos que compõe o processo e que esgota a jurisdição
na 1a instância
Esgota a jurisdição na 1a instância = proferida uma sentença o juiz nao a pode alterar;
esgota-se o poder jurisdicional. Ainda que o juiz se arrependa do conteúdo da decisao
proferida, ele nada pode fazer. Isto significa que fatalmente a sentença não pode ser
modificada?
Pode, através de duas vias:
1) reabertura do poder jurisdicional e o poder jurisdicional reabre-se com a interposição de
um recurso;
2) situações muito particulares e previstas na lei em que o próprio decisor pode intervir
sobre a sentença que proferiu.
Teremos de ver casuisticamente quais são as intervenções
Aproximação da admissibilidade de intervenção do próprio decisor na decisao, aos erros de
escrita e calculo (=erro na declaração).
Aquilo que o juiz sentenciou relativamente ao mérito não pode ser alterado.
Qual era a estrutura mínima do processo? PI - Citação - Sentença

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O conteúdo da sentença aparece rigorosamente escrito no artigo 607.º, CPC: encontramos


uma regra programática quanto à estrutura da decisão.
O que é importante quando se dá o comando ao juiz quanto ao que tem de integrar na
sentença de decisao está a definição das partes e do objeto e isto é tão relevante porque
vamos determinar os limites do caso julgado quer pelo objeto da decisao, quer pelas partes
que exerceram ou poderiam exercer o contraditório; há uma projeção deste conteúdo da
decisao. Depois, na própria sentença, como vimos na matéria da prova, se repararem, até
este momento processual, o juiz não disse às partes quais eram os factos que considerava
provados e não provados, as regras de prova que analisamos são regras que o juiz vai
aplicar no momento da ponderação critica de toda a prova quando elabora a sentença e
obedece ao comando do art. 607.º, n.º 4, CPC. Aqui, Não se esqueçam do aspeto
fundamental de que o juiz tem de fundamentar as suas respostas à matéria de facto
desencadeando-se um vicio da decisao se essa fundamentação Não constar da sentença!
Esta fundamentação vai ter um duplo efeito:
1. Visa diminuir a necessidade de fundamentar, o eventual arbítrio da perceção da prova. É
uma garantia a propósito do decisor e de demonstrar, através da fundamentação, que
decidiu com imparcialidade e de acordo com os parâmetros jurídicos.
2 Por outro lado, a sua fundamentação que apresenta quando nos diz porque é que
considera um conjunto de factos como provados e outro conjunto de factos como não
provados vai ser essencial para a parte saber se valerá futuramente interpor um recurso
sobre a mesma matéria de facto.
A fundamentação serve como garantia da imparcialidade do decisor, visando diminuir o
arbítrio da decisão.
A fundamentação do juiz é aquilo que permite à parte que é notificada de a decisão saber
se uma impugnação é (in)viável; ela aquilata o risco do recurso vendo a densidade e
consistência da fundamentação, por isso tb é uma garantia que se vai acoplar ao recurso
sobre a decisão proferida sobre a matéria de facto, mas também pode ser sobre a dimensão
de direito.
O nosso sistema há duas décadas que admite a impugnação especifica sobre a decisao
tomada sobre a matéria de facto, ao contrário de outros sistemas jurídicas.

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Valoração critica, por parte do juiz, de toda a prova - princípio da aquisição (?) processual:
valora tudo o que é produzido independentemente de quem produziu, e só depois de dar
como não provado é que pergunta a natureza do facto de acordo com o art. 342., CCivil.
Vejam depois: art. 607/5, CPC
O juiz aprecia a prova de acordo com a sua livre convicção que não equivale ao arbítrio,
mas sim uma convicção motivada que transparece na fundamentação.

Duas regras muito importantes:


1. Art. 608.º, CPC: impõe uma apreciação exauriente de todas as questões suscitadas no
processo; as únicas questões a que o juiz não tem de dar resposta direta são as que ficam
prejudicadas pelo conhecimento de outras. o juiz não pode omitir pura e simplesmente, tem
de dizer que não está apreciado por outra questão que já apreciou.
Relativamente à ordem de conhecimento (Art. 608.º, n.º 1, CPC): sem prejuízo da regra
que impõe que o juiz profira uma decisao de mérito ainda que não estejam preenchidos
todos os pressupostos processuais (art. 278/3, CPC). O juiz já tem todos os elementos que
precisa quer para proferir uma decisao formal, como de mérito/material.
Aqui dá-se uma ordem de trabalhos ao juiz: questões que levam à absolvição da instância -
mérito da causa - consequências típicas da falta de pressupostos
2. Art. 609.º
A questão das providencias cautelares é questionável na medida em que o juiz não estava
vinculado à concreta providencia que lhe foi requerida, sendo um alívio do princípio do
dispositivo porque a parte pede uma coisa e o juiz pode decretar coisa diferente.
PCS: alívio do princípio do dispositivo devido às razoes de urgência da tutela cautelar. Se
tudo demorar mais porque diz que esta não dá, peça antes outra, a parte que está c
urgência, começávamos tudo do princípio. É a necessidade da tutela concreta do art. 20.º,
n.º 5, CRP que determina que o juiz possa aliviar o dispositivo, mas isso já não acontece na
ação principal!!!
Na ação principal o juiz está vinculado pelo pedido, não pode decidir um aliud. O nosso
CPC apesar da sua modernidade, aqui falhou segundo PCS: o juiz é aquele que nos
atribuiu ou não porque pedimos, e o juiz pode, ao longo do processo, ganhar a convecção
de que não pode atribuir o que lhe pediram, mas que, perante tudo, pode atribuir coisa
diferente. há sistemas, como o alemão, em que o juiz pode exortar a parte: o que pediu não

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dá, mas há coisa alternativa. o nosso sistema apesar da sua grande modernidade não foi tao
longe, remodelou de algum modo o que respeitava ao acervo de factos em que o juiz podia
fundamentar a decisão (art. 5.º, CPC) do que aqueles que tinham sido alegados, mas não
foi ao ponto de exortar a parte para modificar o alegado, por isso impede que o juiz faça
um aliud ainda que com contraditório prévio (art. 609.º), e proíbe ainda que não decida
sobre questões que não foram submetidas pelas partes à sua jurisdição.
Ainda que o juiz entenda que há outras questões ou que podia atribuir mais, este está
limitado pelo objeto configurado pelas partes estruturantes da decisão.
A refração da violação dos limites do art. 608.º e 609.º, está no art. 615/1, al. d) e e), CPC:
nulidade da sentença.
Nulidade da sentença = ao invés do que acontece com as nulidades de direito substantivo,
quando o ato processual é nulo não podemos dizer que não pode desencadear os seus
efeitos típicos (=característica da nulidade substantiva). Apesar da nulidade produzem mos
atos processuais, passado um tempo, os seus efeitos típicos, o que significa que a sentença
provoca os seus efeitos típicos. Quando olhamos para esta nulidade temos de nos
desconectar as consequências típicas da nulidade civil.

O QUE É QUE A SENTENÇA FAZ?


(bom tema de oral de melhoria)
A sentença inova se for errada? Ou seja, a sentença tem um efeito constitutivo material ou
a sentença tem um efeito meramente denunciativo ou declarativo? - há muitos textos
escritos sobre isto.
A novação é algo parecido com esta situação, assim como a transação na qual há um efeito
constitutivo, e apaga-se com a borracha tudo o que estava para trás, ou continua a existir e
ser como é independentemente do que é enunciado pela decisão?!
Nos termos do artigo 619.º, CPC (regra central) a sentença transitada em julgado, que
decida do mérito da causa, "fica a ter força obrigatória dentro e fora do processo nos
limites fixados pelos artigos 580.º e 581.º"
Para que a decisao tenha esta força dentro e fora do processo tem de recair sobre a relação
material controvertida, isto é, nos casos referidos no art. 619.º, n.º 1, CPC a decisão forma
caso julgado material.

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Quando a professora disse que a sentença nula produz os efeitos típicos significa que a
sentença nula que não mais pode ser impugnada conduz caso julgado material.
As decisões sobre os pressupostos não se projetam para outras instâncias: se a parte foi
absolvida por incompetência absoluta do tribunal o autor pode instaurar nova ação junto do
tribunal competente porque nestes caos não há risco de contradição. Isto visa impedir que
os tribunais sejam colocados na situação de se poderem contradizer. Há também
evidentemente uma justificação com base na adequação de recursos.
Art. 978.º, CPC: "estrangeiro" =o regime do art. 607 e ss, CPC aplicável à sentença e
depois mais adiante no código encontramos um outro regime aplicável às sentenças
proferidas por tribunais estrangeiros.
Uma decisão proferida no estrangeiro não vale em território nacional até ser confirmada
por um tribunal nacional.
A sentença é uma manifestação/afirmação de soberania e por isso há que haver cautela
para não criar competências esdruxulas.
O Estado português só reconhece como sentença um ato de decisão praticado por um
tribunal estrangeiro depois de revisto e confirmado pelos tribunais portugueses. Este é um
exercício de soberania.
A professora relacionou esta matéria com o BREXIT: enquanto estavam na UE aplicava-se
o Regulamento 1215/2012 aplica-se este, mas agora estando fora há um complexo
procedimento que é o aplicável a um tribunal estrageiro. Perderam uma competitividade
enorme dos tribunais.
Para vermos a diversidade de tratamento da sentença que decide o conflito entre privados,
chamar à atenção para o facto do artigo 619.º, CPC dizer "transitada em julgado"
antigamente, agora já não diz nada, mas também não poderia dizer porque quem vai definir
se a sentença é definitiva ou não é a ordem jurídica ao abrigo da qual ela é proferida.
Não por acaso a pendencia simultânea de processos perante tribunais de diferentes
jurisdições não leva à suspensão de nenhum deles, resolvendo-se pelo caso julgado =
ganha a mais célere q atribui maior pactos de jurisdição que lhe atribuem competência do
ponto de vista dos economistas e dos investidores. As decisões dos tribunais ingleses agora
levam dois anos a serem confirmadas

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Trânsito em Julgado = Definitividade da decisão que é alcançada quando o sistema de


justiça que a proferiu diz que ela é definitiva
Requisito de reconhecimento da decisão pela própria ordem jurídica portuguesa: art.
980.º, b), CPC.
BOM TEMA P/ ORAL DE MELHORIA: qual é o estatuto de decisão estrangeira não
reconhecida em Portugal? vale como prova documental? ou não tem qualquer valor? Ou
tendo valor probatório não tem o valor probatório dos documentos? falta um princípio de
prova, que há uma sentença há, mas qual o seu valor/relevância na ordem jurídica
portuguesa antes do reconhecimento?

O que é que agora quer dizer a sentença ter o efeito de caso julgado material dentro e
fora do processo?
A decisao recai sobre a relação material controvertida, o que significa que se instaurar uma
ação entre as mesmas partes, com o mesmo pedido e causa de pedir nos termos dos artigo
580.º e 581.º, CPC, se verifica a EXCEÇÃO DE CASO JULGADO (Art. 577.º, al. i),
CPC: exceção dilatória de conhecimento oficioso).
O que justifica o conhecimento oficioso é a existência de um interesse que transcende as
partes, neste caso é a preservação e manutenção do sistema de justiça. As exceções de caso
julgado são de conhecimento oficioso, o que significa que a segunda ação tem um fim
necessário = absolvição do reu da instância, não cabendo o artigo 278.º, n.º 3, CP porque
está em causa mais do que o interesse das partes. Com este efeito decorrente de caso
julgado material, exceção dilatória, não pode ser concluído o efeito da autoridade de caso
julgado!
Autoridade de caso julgado = sempre que um processo subsequente a decisao
preteritamente proferida e sobre a qual se formou caso julgado, funciona como pressuposto
da segunda decisão. O que significa que há uma relação entre os objetos das ações: o
objeto da segunda ação instaurada entre as mesmas partes depende da apreciação que foi
feita sobre o objeto configurado na primeira ação, mas o objeto da segunda ação não é
igual! pressupõe-no, mas não é o mesmo!!!

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Caso exemplificativo: um determinado contrato submetido a visto do tribunal de contas


não obtém o visto do tribunal de contas, porque este ultimo considera que não há dinheiro
para pagar aquela ordem; num segundo processo em que se vão verificar as consequências
da impossibilidade de execução do contrato de não obter visto a primeira decisão é
pressuposto (=decisão do tribunal de contas), sendo um pressuposto necessário porque o
segundo tribunal não pode reapreciar a decisao do tribunal de contas. A primeira decisão
tem de ser respeitada e preservada na segunda decisao proferida.
Lamentavelmente os tribunais confundem autoridade com efeito de caso julgado porque
acham que o resultado é injusto e então manipulam os conceitos para corrigir decisões
anteriores, instrumentalizando o processo.
O problema é que a autoridade do caso julgado é uma construção doutrinaria sem previsão
legal.
LEBRE FREITAS: O polvo chamado de caso julgado. (analisa jurisprudência)
Em que limites é que a exceção e a autoridade do caso julgado valem? Quais os seus
limites?
Aquilo que dizemos ser formado caso julgado torna-se indiscutível; certo ou errado nada
importa, não posso discutir e dai entrarmos com cautela nos limites subjetivos e objetivos
do caso julgado.
Saber sobre o que se forma o caso julgado depende de convicções de política legislativa,
ideológicas. Os sistemas não são todos iguais aqui, há sistemas com um conceito muito
complexo e outros muito restritivos, tudo depende das regras em vigor.
No nosso sistema temos algumas regras sobre que objeto se forma o caso julgado: há uma
parte que ninguém discute que é ser sobre a decisão (e não sobre a sentença) que se
costuma designar pelo dispositivo da sentença, é a conclusão: condeno ou absolvo, paga ou
não paga.
A discórdia começa nos fundamentos da decisao: o efeito de indiscutibilidade atinge os
motivos ou fundamentos da decisão, ou não? O sistema dá-nos uma resposta ambígua, e
daí a grande dificuldade na doutrina portuguesa de se dizer que há uma formulação correta
e outra errada.
Nos termos do art. 619.º, n.º 1, CPC fala-se de força obrigatória dentro e fora nos limites
do art. 580 e 581, o artigo 581.º, CPC não se limita a falar do pedido ou decisao, alias, nem
sequer fala da decisao; o que encontramos neste artigo é as partes, o pedido e a causa de

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pedir o que nos permite pelo menos dizer que a decisão em si, seguramente, forma caso
julgado material (=pedido do Artigo 619.º, n. º1, CPC).
Nos limites = segundo PCS + Castro Mendes: relativamente aos fundamentos, ainda que
não haja caso julgado autónomo sobre esses fundamentos, há uma indiscutibilidade
relativa desses fundamentos que se traduz em não poder voltar a discutir aqueles
fundamentos em relação aquele pedido e aquela decisão.
Há aqui uma relatividade: Artigo 619.º, n. º1 + Artigo 581.º, CPC.
O reforço desta disposição encontra-se no artigo 91.º, CPC: se eu quiser que um dos
fundamentos, ou a decisão sobre um dos fundamentos, forme caso julgado autonomamente
tenho de requerer a declaração incidental. Vou buscar o fundamento e autonomizo-o: sobre
este fundamento quero que recaia uma decisão especifica que forma caso julgado.
Esta é a limitação objetiva do caso julgado.
O que não temos no nosso sistema (Artigo 619.º + 581.º + 91.º) não temos casos julgados
implícitos com efeitos preclusivos, temos preclusão dos fundamentos deduzidos pelo réu,
mas isso é um efeito da preclusão que ocorre sobre a defesa e não do caso julgado outro
efeito típico é formado quando a sentença condenatória (???) agressão do património do
devedor para cumprimento coercivo da decisão
Forma-se caso julgado quando já não é possível recurso!
A sentença é proferida na audiência final.
Contradicta (Artigo 421.º, CPC) = o advogado que não arrolou a testemunha pode
descredibilizá-la (=momento muito tenso em tribunal).
Artigo 607.º, CPC: o juiz encerra definitivamente a audiência, ficando o processo concluso
ao juiz, e tudo o que forem meios de prova e conclusões vão ser repetidas pelo juiz. Tudo o
que foi dito, vai ser revisto pelo juiz para que este possa apreciar da melhor forma possível
a ação. Tudo o que se passar no lapso temporal que deviam ser 30 dias, mas na prática são
mais, são irrelevantes; se as partes quiserem que sejam apreciados, têm de intentar nova
ação.
A partir do momento em que é proferida a sentença – duas opções:
1. Nada fazem e a sentença ganha caráter de imutabilidade passados 30 dias (=forma-
se trânsito em julgado).
2. Recorre-se a um tribunal superior (=recurso) da decisão, não ganhando esta caráter
de imutabilidade.

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Recurso ordinário = recurso de apelação que vai da 1ª instância ao tribunal da relação; e


do tribunal de revista até ao STJ.
Depois do caso julgado e depois de a sentença ganhar caráter de imutabilidade, só posso
recorrer ao recurso de uniformização da jurisprudencia onde encontro uma decisão do STJ
que é desconforme com a sentença que foi proferida.
Recurso de revisão extraordinário = sendo a citação nula, o réu nunca teve oportunidade
de praticar o processo, havendo culpa e imputação ao tribunal de primeira instância; o réu,
que estava revel pode impedir o caso julgado.
Saiu um Acórdão sobre o Alojamento Local, limitando esta prática.

Aula 29.04.2022
Reconhecimento de sentenças estrangeiras – Caso Julgado:
Processo especial previsto no artigo 978.º, CPC.
O proferimento de sentenças judiciais é um ato de soberania, decorrente dos ius imperia de
cada Estado.
O proferimento de sentenças é o momento mais solene do Processo Civil, porque passados
30 dias, se não houver impugnação ou recurso, ganha força de caso julgado (=ganha
caráter de imutabilidade), e tudo isto é manifestação dos ius imperia. Só os tribunais
judicias têm capacidade/competência para executar as sentenças judiciais.
Valor probatória da sentença estrangeira que não é reconhecida porque não passa no crivo
do artigo 980.º, CPC: Não pode produzir efeitos, não podendo ser executada. Ou seja, a
pessoa ganha a ação e quer condenar ou executar a sentença em Portugal, mas se esta não
for reconhecida, não pode a parte a que esta beneficiaria aproveitar dela.
PCS: Há algum valor probatório se juntar esta sentença num processo em Portugal? Isto é a
tese de MARIA CAMPELO: Autoridade do Caso Julgado e a Prova.
A sentença pode funcionar como prova documental em processos seguintes?
PCS disse que o facto de o proferimento da sentença ocorrer, no tribunal português, e
depois o transito em julgado da decisão passados 30 dias do proferimento da sentença, é
claramente um ato de soberania.
O problema em relação a sentenças estrangeiras é que, se estivermos a falar de um conflito
plurilocalizado dentro da EU não aplicamos o procedimento especial porque nos termos do

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artigo 8.º, n.º 4, CRP (=primado do DUE) temos o regulamento europeu n.º 1215/2012 que
regula também o proferimento de sentenças.
Há um espaço de livre circulação de decisões judiciais, nos termos do artigo 36.º, R.
1215/2012: as decisões proferidas num Estado-membro são reconhecidas nos restantes sem
qualquer formalidade, não havendo qualquer tipo de processo especial para este
procedimento. Há, por isso, uma liberdade no reconhecimento e viagem destas decisões
nos países da União Europeia.
Antes do Reino Unido sair da EU, há uma Convenção Internacional que regula as relações
judiciais entre os países da EU, a Suíça, a Noruega e a Islândia.
Com o facto de o Reino Unido sair da EU vão ter de utilizar a Convenção de Lugano para
utilizar em matéria civil e comercial o reconhecimento de decisões.
Há toda uma panóplia de outros regulamentos que regulam matérias como divórcios, etc.
O Reino Unido fez um acordo de saída com a EU que previa um período transitório que
correspondeu com o período de COVID-19 (31.12.2020).
Se as ações que forem propostas (=PI) até ao fim do prazo, o regulamento ainda se aplica
havendo livre circulação das decisões judiciais
As ações propostas depois de 01.01.2021, se tivermos de reconhecer uma sentença em
matéria de família ou sucessões que provenha de Tribunais britânicos temos de aplicar o
procedimento especial do artigo 978.º e ss, CPC, o que é um pouco burocrático: ação de
reconhecimento no Tribunal da Relação (tribunal de 2ª instância); discussão e julgamento.
Só o reconhecimento de sentença estrangeira, por aplicação do procedimento especial,
pode levar de 6 meses a 1 ano.
Passamos de um cenário em que o pacto de jurisdição era favorável, para ser pouco
atrativo para as partes no que diz respeito à jurisdição britânica. O Reino Unido juntou-se
ao clube de jurisdições que se pretende evitar no que diz respeito aos litígios em tribunais
judiciais.
Como isto é um processo especial, quer aqui, quer no regime italiano ou espanhol, todos os
regimes têm um procedimento especial de reconhecimento de sentença estrangeiras, não se
aplicam as regras gerais do CPC, mas aplica-se exclusivamente o regime específico do
artigo 978.º e ss, CPC.

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A Convenção de Lugano é muito limitativa porque só opera no âmbito de matéria civil e


comercial, tudo o que tem a ver com procedimentos executivos, família, sucessões, etc,
está excluído do seu âmbito material de aplicação.
Apesar de haver este mecanismo de acesso a outras convenções internacionais dificulta-se
bastante o <passaporte <das decisões entre o Reino Unido e os Estados-membros da União
Europeia.

Aula 02.05.2022
Ver o que está no moodle por isso são elementos de avaliação.
O juiz esteve 1 hora a emitir instruções ao júri por isso o júri quando entre na sala não vai
ser saber o que te considerado como provado ou não provado para os tipos penais serem
considerados.
A parte das instruções do juiz ao júri é uma das partes mais relevantes desses sistemas;
estas indicações são muito intensas no sistema norte americano, e menos intensas nos
tribunais britânicos.
O tribunal controla se o júri seguiu as instruções, e os advogados pode questionar isso. E
isto pode levar à anulação do julgamento.
Das promessas ou negócios unilaterais.
Caso Julgado
Primeiro ponto de referência = artigo 615.º, CPC: tem um princípio fundamental em
matéria de jurisdição ao qual já se fez referência. Este artigo é aplicável às sentenças e,
também aos despachos, na medida do possível. Diz que proferida a sentença fica esgotado
o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa. O juiz decide e a decisão sai da
esfera de controle, não podendo este intervir mais sobre a matéria que proferiu, mesmo que
se aperceba que decidiu mal.
O juiz é uma pessoa o que coloca na pessoa a angústia da decisão, e por isso a sua decisão
é fatal se não houver recurso.
Outro princípio – artigo 627.º, CPC: diz-nos o preceito quais são as formas de reabertura
do poder jurisdicional:
1. Através da interposição de recurso (ordinário)
No nosso sistema prevê-se a interposição de recursos ordinários.

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Recurso = impugnação dirigida ao órgão ao qual está hierarquicamente submetido


o autor do ato.
Competência em razão da hierarquia – só interessa para efeitos de recurso.
Caso exemplificativo: recorro a uma decisão de um tribunal situado em lisboa; qual
é o tribunal de relação a que está submetido? TRL. O órgão a que hierarquicamente
responde o autor do ato é o tribunal da relação de lisboa, também definido como
tribunal ad quem (=tribunal ao qual o autor está hierarquicamente submetido) que
se opõe ao tribunal ad quo (=A que se recorre).
O recurso começa por ser um meio de impugnação que é decidido/julgado pelo
autor do ato.
Recurso ordinário = é interposto antes do trânsito em julgado.
Os requisitos são a adequação e a revista.
É difícil que o STJ atualmente aceite exercer jurisdição.
Os recursos, no nosso sistema, são meios de impugnação que controlam a
legalidade da decisão. O que o Tribunal superior vai perguntar e verificar é se
perante os elementos de que dispunha o tribunal ad quo a decisão foi bem ou mal
proferida. Quando dizemos que o objeto é a decisão excluímos a possibilidade de
as partes trazerem novos argumentos pelo recurso; o que as partes discutem no
recurso é se a decisão, em face do que havia, é boa ou má, não se acrescentam
novas fundamentações, novas linhas de defesa, …
O objeto é APENAS a decisão!!!
Isto é importante porque, se repararmos, tudo congela no momento da contestação;
no fundo o objeto que pode vir a chegar no STJ ficou estabilizado, de acordo com o
p. da estabilidade de instância do réu, e com os fundamentos que o réu trazia. A
partir desse objeto temos a decisão, que é o que vai ser discutido até ao transito em
julgado, sendo configurado pelo autor e pelo reu. Daí a enorme responsabilidade
dos advogados com a apresentação dos articulados – PI e Contestação – porque o
nosso sistema é de rigidez do objeto do processo, este não pode ser alterado.
A decisão e todas as subsequentes vão recair sobre coisas que já aconteceram, não
se trazem coisas novas, o que nos abre um enorme problema.

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O que é que acontece quando o Tribunal decidir pressupondo facto, ou


circunstâncias, que deverão verificar-se num momento futuro? – O problema
dos graus de prova e convicção e o seu impacto na decisão
Podemos, dentro da nossa convicção terrena, e perante coisas que já aconteceram,
assumir uma versão dos factos de acordo com a prova produzida, mas
relativamente ao futuro predomina a incerteza, nunca sabemos o que vai
efetivamente acontecer.
A partir do momento em que o objeto do recurso é a decisão, com aquilo que ela
acertou, como é que conseguimos atribuir, se é que devemos atribuir, ductilidade
(=capacidade de se moldar às circunstâncias efetivamente encontradas no momento
em que a decisão efetivamente produz o seu efeito útil). Temos caso julgado.
Efetivamente temos trânsito em julgado.
O desafio é que o nosso sistema, como a maioria dos sistemas, não tem resposta
para este problema!
Caso: (pedido de condenação in futurum) quero que daqui a 1 ano o arrendatário
deixe de morar na casa porque quero morar lá porque fui colocado pelo Ministério
da Educação naquela área; afinal depois o professor é alterado, pode despejar o
arrendatário?
Resposta formal: sim, as regras do caso julgado apontam nesse sentido; havendo
decisão, não posso mexer nesta.
Jurista: como posso compreender a justiça da decisão quando o fundamento da
decisão afinal não se vem a verificar?
Este é um dos problemas mais desafiantes do caso julgado.
Podia ser uma primeira tentação dizer que ocorreu o transito em julgado porque a
decisão foi proferida com necessidade de existência de um título executivo, o que
significa que, em princípio, verificando-se a circunstância contraria aquela em que
é pressuposta, a decisão já transitou em julgado, não podendo interpor recurso
ordinário.
Aliás, não poderia interpor recurso ordinário, que tem como objeto a decisão: a
decisão, quando proferida, era uma boa decisão no momento relevante (=momento
do proferimento da decisão) para apurar a sua qualidade.
A saída seria a interposição de um recurso extraordinário

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Recurso extraordinário = artigo 727/2, CPC; ocorre depois do trânsito em


julgado.
- Caso do parque Meyer devoluto, e os terrenos da feira popular que
atualmente estão a ser urbanizados. Condenação in futurum dos lucros.
O tribunal decidiu que o dano era de verificação provável (=era previsível o dano) e
por via do artigo 553.º, n. º1, CPC, a parte deve imediatamente ser condenada a
indemnizar a contraparte a quem deve os lucros, e a quem foram vedados.
No caso concreto a permuta era ilegal e, consequentemente, a troca dos terrenos era
desfeita e por isso a parte nunca poderia ter urbanizado e objeto do contrato era
impossível (artigo 280.º, CCivil) e, se assim o é, o lucro nunca poderia ter-se
verificado porque aquela urbanização feita pelas duas sociedades comerciais nunca
poderia ter acontecido, mas o Tribunal condenou a parte.
PCS + NUNO TRIGO DOS REIS: e a justeza da decisão? Se não houve permuta
do terreno, nunca poderia ter sido urbanizado o terreno. Se o lucro é previsível, mas
não vem a verificar-se a pergunta é: não se verificando, não desfaço a atribuição
patrimonial? Não, por causa do caso julgado? Qual é o efeito do caso julgado?
Meramente enunciativo/declarativo, não constitutivo.
Temos de encontrar a solução a partir do padrão dos efeitos: o padrão é a
declaratividade. A decisão tem efeito enunciativo ou declarativo. A exceção é ter
efeito constitutivo.
A decisão foi proferida antes de proferida a decisão de invalidade do contrato que
funda estas obrigações.

Qual é o problema do recurso extraordinário?


1. Os sistemas são muito hostis aos recursos extraordinários porque derrotam o
caso julgado que é uma manifestação da soberania, e dá estabilidade e
segurança à vida das pessoas (Artigo 15.º, CPC).
2. O caso julgado sobrevem de um processo onde é proferida uma decisão
respeitando-se todas as garantias e faculdades processuais. Portanto a injustiça
do caso julgado também é pouco comum, é marginal.
3. Têm sempre tipicidades muito fechadas quanto aos fundamentos destes
recursos extraordinários que permitem destruir o caso julgado e se formos

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vendo o recurso extraordinário que no nosso sistema poderia caber falamos do


recurso de revisão (não de incompatibilidade ou de decisões internacional).
Julgamento típicos do recurso de revisão: este conjunto de casos não está na
tipicidade do artigo 696.º, CPC, aquilo que está nesse preceito são sempre
razões de fundamentos dos quais o tribunal decidiu, vão ser derrotados por
prova que só será de possível constituição em momento posterior do
julgamento. Só que, nós aqui não temos uma situação destas: a decisão com a
prova que foi produzida foi uma boa decisão, o problema da decisão é um
problema dos factos que vão acontecer, o que olhando para um recurso de
tipicidade fechada vota a pretensão ao insucesso.
Consegue retirar-se do artigo 696.º, CPC uma instabilidade de certos casos,
sendo esta instabilidade muito diferente.
Há outros casos que o nosso sistema conhece, aqueles em que, alimentando
o alimentado, havendo uma relação de coordenação ou contradição entre
decisões em relação ao pedido de atribuição de alimentos:
A necessidade de alimentos é auferida de acordo com as circunstâncias do
próprio alimentado; o alimentante que ganhe o totoloto deixa de ter necessidade
de ser alimentado, assim como aquele que está obrigado a prestar alimentos só
é obrigado a fazê-lo se tiver condições para o fazer, e se não tiver capacidade, o
Estado supre a prestação de alimentos por aqueles que não têm capacidade para
tal.
A lei ,em relação a estas decisões, diz que são dúcteis na medida em que
depende das circunstancias em que foi ditada – possibilidade de alimentos e
necessidade de os prestas – mas se houver uma alteração ao nível dos
pressupostos a decisão é modificada, ou seja, o nosso CPC compreende que há
decisões que são dúcteis porque os pressupostos da conclusão que é a decisão
podem depender de diferentes configurações da realidade; a realidade
pressuposta pode alterar-se e como falamos de uma obrigação periódica e
continuada o direito estatui que só o é se se mantiverem os pressupostos,
podendo se estes se alterarem atacar o caso julgado que tinha de ter
pressupostos que se deixarem de estar verificados são passíveis de alterar a
decisão.

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Pode criar-se um grau de certeza no momento em eu o juiz profere a decisão, e


se não conseguir atingir este patamar nos casos em que a decisão pressupõe
circunstâncias futuras: essa decisão forma, efetivamente, caso julgado?
Uma outra pista: o que é que víamos que acontecia nas providências cautelares?
A decisão proferida na providência cautelar não formava caso julgado,
eventualmente adquiria estabilidade desde que o juiz tivesse certeza em relação
ao direito acautelado.
A palavra-chave é certeza: sem ela, não há efeito de caso julgado!
Se não conseguimos ter certeza quanto ao futuro PCS diria que a decisão, tal
como proferida, transitou em julgado, mas a decisão tal como proferida não
pode formar caso julgado. Isto é demasiado radical para os tribunais aceitarem,
segundo a professora.
Só aceitamos que uma decisão seja indestrutível porque o contraditório é forte,
e o contraditório, consideramo-lo forte quando dele possa resultar um juízo de
certeza do juiz relativamente aos factos sobre os quais se pronuncia. É relação
entre os princípios fundamentais, o grau de prova, e o proferimento da decisão e
seu efeito. As decisões com segurança e certeza devem ser preservadas, devem
estar acima de quase tudo.
Porque os casos em que há aparente caso julgado, mas não pode surgir, porque
o juiz não tem grau de certeza, não se podem provar dentro do caso julgado.
Em relação ao MEYER: a ausência do efeito fatal permite a re-discussão dos
pressupostos da decisão e, com isso, fazer a atribuição patrimonial restaurando-
se a justiça material das atribuições que não podem manter-se quando não têm
causa.
STJ reconheceu a posição de PCS e NUNO TRIGO DE REIS, assim como a
maior parte da doutrina.
O problema reside na aplicação do artigo 619.º, n.º 2, CPC: mas se o reu tiver
sido condenado a prestar alimentos ou outras situações dependentes das
circunstâncias, pode a sentença ser alterada se esses fundamentos forem
alterados. Isto é muito semelhante à alteração das circunstâncias (Artigo 437.º,
CCivil) porque houve algo que se modificou. Pressupõe-se, por isso, que há
alteração das circunstâncias em que se fundou a decisão apesar de estar ligada

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com o caso julgado, tendo de se justificar que o artigo 619.º, n.º 2, CPC só pode
ser aplicado quando ainda não haja transitado em julgado.
As circunstâncias não se alteraram com base no momento em que foi celebrado
o contrato, ou proferida a decisão, mas posteriormente, neste caso.
Reclamação = impugnação dirigida e conhecida pelo autor do ato o que
significa, desde logo, que o autor do ato tende a não se retratar no ato que
praticou.
Princípio fundamental: só há reclamação, quando não há recurso. Sendo
possível apresentar recurso, deve sê-lo por essa via.
Só deve haver reclamação quando está em causa a retificação de erros
materiais: o juiz enganou-se a identificar as partes, o lugar do cumprimento do
contrato, ….
Há dois casos que têm de ser particularmente explicados:
1. Artigo 615.º, n.º 1, CPC: proferida a sentença esgota-se o poder
jurisdicional quanto ao mérito da causa. É que há casos em que o autor do
ato pode voltar a pronunciar-se sobre o mérito da causa.
Há essa dupla via quando estou a impugnar/contestar o mérito, mas a dupla
via é um concurso aparente porque se houver recurso, não há reclamação.
A reclamação não cabe sempre para rever o mérito, não é sempre
admissível sob pena de esvaziamento de substância (?)
2. A evolução histórica do nosso Código impõe que as (?) seja atualmente
deduzida em recurso
Se o recurso é o meio de controlo da legalidade da decisão proferida como
posso ir por causas de invalidade dentro de um meio que só verifica a
validade? Porque curiosamente, e apesar de haver um só ato processual,
pode haver vários decisores dessa decisão (decisor e o tribunal superior).
Do sentido exato do artigo 613.º, CPC depende a separação física de um
hotel da baixa pombalina. São dois edifícios, ou um edifício só? Tem um ou
dois proprietários?

Aula 06.05.2022
Recurso

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Há casos em que é possível reabrir o poder jurisdicional sobre o mérito da causa


independentemente de recurso = são os casos previstos numa regra com uma previsão
muito estranha de acordo com PCS, que o artigo 616.º, CPC. Especial relevância do n.º 2:
este regime só se aplica quando não cabe recurso da decisão porque a decisão não é
suscetível de recurso. -
O caso de custas e multas não é propriamente um caso de reabertura do poder jurisdicional.
A responsabilidade processual simples ou agravada implica que o juiz deve determinar
quanto é que cada uma das partes deve à máquina judiciária; dada a conta a parte pode
pedir a reforma (?)
Recurso = meio através do qual o órgão ao qual está submetido o poder do ato vai pedir
uma impugnação. É uma impugnação dirigida a um órgão superior.
O que significa que há de haver qualquer coisa, para além da impugnação, um qualquer
meio de impugnação que é conhecido pelo próprio autor do ato = reclamação.
A reclamação vai ter um conteúdo estranho porque vamos verificar que quando a parte
pede a reforma da decisão não pode pedir ao órgão superior, mas ao próprio autor do ato.
<não cabendo recurso da decisão, é ainda lícito= =cautela com as palavras utilizadas pelo
legislador processual civil; a prática do ato ilícito desencadeia um conjunto de incidência; a
ilicitude quando utilizada nas regras processuais civis vai determinar a inadmissibilidade
do ato praticado, consequência distinta do regime civil regular.
<Quando por manifesto lapso do juiz= = o juiz, de algum modo, comete um lapso; esta é a
parcela da regra que vamos ver completamente deslocada, a regra não pode ser lida como o
legislador a enunciou; nos dois casos (alíneas) previstas de reforma, há caso em que há
lapso do juiz, e há caso em que há lapso da parte.
A lei tem esta construção porque quando se fez a reforma do regime dos recursos quis se
simplificar as regras, e como a lapso manifesto estava tanto na al. a) como na b) passou
para o corpo da regra; mas no caso anterior do código um dos casos era imputado ao juiz, e
outro às partes.
Há um lapso do juiz porque o juiz erro no modo como determinou os factos, ou no modo
como determinou a solução jurídica da causa e oque a parte pede é que o tribunal perante a
verificação da prova e o lapso manifesto, mude a decisão.
<quando por lapso do juiz constem do processo, documentos ou outro modo de prova
plena= = não é por lapso manifesto do juiz que os meios de prova vão provocar, por si só,

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uma outra decisão, o lapso do juiz está no modo como verificou ou deixou de verificar os
meios de prova e decidiu.
O que temos aqui é outra vez um pedido de reponderação da decisão, pede-se ao juiz que
reforme a decisão proferida sobre o mérito da causa por que os meios de prova que foram
produzidos no processo determinavam, por si só uma decisão diferente da proferida. Não
assistimos ao esgotamento do poder jurisdicional pelo proferimento da decisão, mas por
uma circunstância em que o próprio autor do ato pode alterar a decisão. No fundo são
situações de erro ostensivo de julgamento e por isso se permite, na ausência de recurso,
que a parte peça ao autor do ato que proceda à reforma da decisão.
Não é possível fazer mais instrução, é a que já está feita!!!!
Para além dos casos em que a reclamação servia para o pedido de reforma, e que só cabe
quando não há recurso, há outras situações em que a parte pode pedir ao juiz uma
intervenção sobre a decisão proferida. Os menos críticos talvez sejam os do artigo 614.º,
CPC.
PCS: O que está em causa no artigo 614.º são casos similares aos que vimos e estudamos
como os erros de escrita ou manifestos na própria declaração, são os que resultam do
próprio contexto, não precisaríamos, no fundo, de uma nova decisão para chegar ao sentido
juridicamente relevante, mas para chegar mais fácil e claramente a decisão pedimos que a
parte antecipe os problemas e que provoque a retificação da decisão.
Outros casos: nulidade da sentença (artigo 615.º) – são nulidades DO ATO
PROCESSUAL EM CONCRETO, e não das nulidades secundarias que advém da prática
de um ato que a lei proíbe, ou diversamente impõe; são invalidades de cadeia ou influencia
que tendo influência decisiva sobre o mérito da causa que impõe a reconstituição de toda a
cadeia a partir daí (são problemas procedimentais).
Falamos de problemas específicos da sentença.
Problema no artigo 615.º, al. c) = faz lembrar a ininteligibilidade do pedido que não
permitia ao reu contestar o pedido. Se for a sentença ininteligível não vou perceber o
conteúdo da decisão, o que aconteceu no processo, o que me impede de executar e
impugnar. Se não compreendo, como exerço contraditório relativo à legalidade da sentença
se nem a sentença consigo compreender.
Subterrâneo está um grande problema relacionado com este artigo que vimos a propósito
do ato das partes mas não do juiz: quais são as regras que aplico à determinação do sentido

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juridicamente relevante da sentença para poder arguir a sua (init)ilegibilidade e vamos


identificar através do modo como a lei construiu o modo de impugnação que ou há uma
interpretação autentica do autor do ato que desfaz a ininteligibilidade, casos em que a
nulidade não pode ser introduzida por meio de recurso (Se se mantiver por decisão do
autor do ato, é por tribunal superior).
Há uma contradição entre a conclusão e as premissas da conclusão = ininteligibilidade. Isto
é péssimo na administração da justiça porque as partes não se conformam com a decisão,
não se compreende nada.
Estamos a trabalhar os limites da sentença e o que a lei impõe ao juiz que conheça nas
alíneas deste artigo. O juiz não pode condenar em mais, nem em coisa diferente.
Estas situações são muito precárias porque se até entendesse que havia fundamento
contrário aquilo que o autor pediu, vai decidir a favor da absolvição do reu, mas ai o autor
pode intentar outra ação.
Quando se consagrou o suprimento da matéria de facto, se se tivesse permitido ou imposto
ao tribunal que se enunciasse aqueles que pudessem ser os resultados possíveis para o
resultado. Iuria novit curia. O juiz diz <com estes factos outra coisa era possível=, ora bem
o conhecimento exauriente não devia perigar o princípio da legalidade, indiciando o
tribunal que por ali não valia a pena, mas que por outro caminho poderia eventualmente ser
possível.
Artigo 615/4, CPC: Recurso ordinário = interposto antes de transitada em julgado a
decisão
A reclamação é um meio subsidiário que só cabe, quando não cabe recurso por uma razão
de maior rapidez na tramitação da própria impugnação.
A sentença determina nula produz os seus efeitos tipos não havendo impugnação no prazo
determinado por lei, a sentença consolida-se na ordem jurídica, ao contrário da nulidade do
regime civil. PCS: crê que não há hipótese nenhuma de repristinar o vicio para, em outra
circunstância, o virmos a alegar; a possibilidade de impugnação preclude com o
esgotamento do prazo.
Articulação entre a impugnação e o recurso:
A reclamação é julgada, conhecida pelo autor do ato (tribunal A = tribunal de primeira
instância, que tem jurisdição plena quando a lei não estatui diferentemente).

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O recurso vai para um tribunal de 2.º instância (tribunal a que está hierarquicamente sujeito
o tribunal A).
O juiz do tribunal a quo dizia se estava verificada ou não a nulidade e corrigia ou não
corrigia, consolidada a decisão, vendo se havia contradição nos fundamentos e decisão;
depois superada a contradição, podemos recorrer (=recurso) da decisão. Mas a lei reverteu
isto, caindo a reclamação e começo a ter um meio híbrido no qual vou deduzir diferentes
fundamentos de impugnação: as invalidades e as ilegalidades. Em princípio o recurso é
julgado pelo tribunal para onde eu vou, o que pareceria significar que o autor do ato tinha
perdido o poder para intervir sobre o próprio ato.
PCS: É muito mais fácil, apesar de raro, que seja o autor do ato a verificar a bondade da
decisão, o que aconteceria na reclamação, do que um tribunal superior, que é o que
acontece no recurso. É mais fácil ao juiz da causa identificar os problemas, do que alguém
que nunca viu a causa. Para além de que o tribunal ad quer não vai julgar a causa, vai sim
verificar a legalidade da decisão.
O ponto de referência do recurso é a decisão, não é a causa! Pelo menos no nosso sistema!
A lei reconheceu a bondade e a maior operatividade desta distribuição de competências: O
recurso não é interposto no Tribunal adquire, mas sim no tribunal a quo. Apesar de dirigir
o pedido de controlo da decisão ao tribunal superior, interponho recurso no tribunal
inferior. A razão não é ser difícil saber a decisão superior, mas sim a difícil ponderação
dos poderes do ato (reforma da sentença) e de supressão das invalidades antes da subida do
recurso.
O tribunal hierarquicamente inferior está sujeito ao superior. Se interpusermos recurso da
decisão do tribunal inferior, o primeiro tribunal a tomar conhecimento é esse mesmo
tribunal que, antes de o remessar para o tribunal superior verifica se as causas de
invalidade ou ilegalidade se verificam ou não, possibilitando uma maior consagração do
julgamento em primeira instância, com menor sobrecarga dos tribunais superiores.
A interposição do recurso no tribunal a quo tem esta finalidade. Mas para o tribunal a quo
possa saber quais as razoes invocadas pela parte quando alega uma causa de invalidade ou
ilegalidade, para que possa verificar e confrontar a decisão com tudo isto, é necessário que
o contraditório seja exercido no tribunal a quo, caso contrário só sabe este tribunal que
impugnaram o ato, mas não com que fundamentos!

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Não se pode só ouvir, assim, uma das partes, a parte que perdeu que é quem tem interesse e
legitimidade de recorrer da decisão, tem também de ouvir a contraparte, o que significa
que também o contraditório sobre o recurso vai ter de ser também ouvido pelo tribunal a
quo (=1ª instância).
Na instância de recurso vão ter o nome de recorrente e recorrido, ou exequente e
executado, dependendo do trecho da decisão ou ato processual que está em causa.

Das duas uma:


a) Ou o tribunal a quo mantém a decisão e o recurso reposto pelo recorrente continua
a ter o seu objeto incólume e <sobe= ao tribunal superior (ad quere) para
julgamento; ou
b) O tribunal a quo altera a decisão. E daqui das duas uma:
a. Se altera favoralmente ao recorrente = o recorrente ganhou e o recorrido
perdeu, embora tenha ganho antes. Pergunta-se ao anterior recorrido se
alguma vez alterada a decisão, se quer ou não interpor recurso porque passa
agora a ser o recorrente, porque a decisão última do juiz a quo contrariou a
decisão pretérita e com isso alterou a posição das partes. O recorrente quer
que transite a decisão tal como alterada pelo juiz a quo.
b. Se altera desfavoravelmente ao recorrido
Máxima concentração do juízo em primeira instância, evitando a sobrecarga dos tribunais
superiores porque o anterior recorrente pode conformar-se com a decisão.
Todo este esquema era muito melhor explicado antes da Reforma dos recursos onde havia
distinção muitíssimo clara entre os recursos que se interpunham sobre decisões incidentes
no mérito da causa, distinguindo-as das decisões estritamente formais em que o poder de
reparação era pleno (??), como os juristas devem ser concebidos como pessoas limitadas
não sabiam se devia ser um recurso de 1ª instancia, o recurso que se interpunha das
decisões de mérito era a interpolação; mas como não sabiam distinguir, agora só há
apelação independentemente de serem decisões de mérito e forma (=sistema unitário pós-
reforma: artigo 617.º, CPC).
<suscitada no âmbito do recurso= = A decisão admite recurso

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<compete ao juiz apreciá-la= = tem de ser o juiz a apreciar a admissibilidade do recurso


porque tem de dizer que as partes têm legitimidade, a decisão é recorrível, foram
cumpridos os prazos, …
Tive uma alteração da sentença e o recurso interposto no âmbito da decisão passa a ter
como objeto a sentença pretérita + decisão complementar do juiz (artigo 617.º, n.º 2, CPC).
Artigo 617.º, n. º3, CPC: interação entre recorrente e recorrido depende da decisão do juiz
quando intervém sobre a sua própria decisão.
Artigo 617.º, n.º 4, CPC: se o anterior recorrente (Agora recorrido) desistir do recurso; se o
juiz altera posso impugnar a partir da decisão, não tenho trecho que fique indiscusso
(=indiscutível) entre as partes, como sucede se o juiz disser que o recorrente (do recurso
ordinário) não tem razão.
Artigo 617.º, n.º 6, CPC: nos casos mais limite ainda pode ser interposto recurso da
decisão do tribunal ad quere para o STJ. Podemos intuir que se se ganhar duas vezes, a
decisão não pode chegar ao STJ, se o tribunal a quo e a quere se pronunciarem no mesmo
sentido, não se pode recorrer ao STJ. Mas se entre o tribunal a quo e a quere houver
divergência entre o sentido da decisão pode perguntar-se ao STJ qual a decisão adequada
àquele caso. Este é mais um indício da tentativa de impedir que as impugnações cheguem
sempre em cadeia até à cúpula dos nossos tribunais. Isto far-nos-ia presumir uma coisa que
não é verdadeira, mas é o ponto de partida: se o tribunal a quo e a quere proferem a mesma
decisão ela está certa, mas para que assim seja é preciso uma estatística muito afinada dos
pedidos de revisão dos pedidos ao STJ de recurso do tribunal a quo e a quere, e se
chegássemos à conclusão que eram n.ºs muito reduzidos, não valeria a pena; mas se fossem
significativos os casos em que se alterassem as suas decisões, já se justificava o recurso
porque, no fundo, falamos da legalidade da decisão. Ou seja, a tentativa de restringir o
acesso a tribunais superiores pressupunha dados estatísticos quanto ao acervo do recurso
dos tribunais inferiores.

Aula 09.05.2022

Recurso:

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Artigo 617.º, CPC - se tivessem sido invocadas as invalidades estas eram deduzidas em
recurso e o recurso era todo ele instruído no tribunal ad quo e só subiria ao tribunal ad
quere quando o outro tribunal já tivesse avaliado a invalidade.
Vamos agora ver brevemente que tribunal ad quere é este e que recursos cabem?
1. O recurso que cabe ao tribunal da 1ª instância ao tribunal a que está
hierarquicamente sujeito – recurso de apelação: artigo 644.º e ss, CPC.
Temos de ter em consideração os pressupostos específicos da recorribilidade da
decisão: a primeira coisa é se a decisão, em si, admite recurso; a regra central é o
artigo 629.º, CPC, onde nos diz que a causa tenha de ter valor superior à alçada do
tribunal onde ocorre (…)
Quando vimos o conceito de alçada, logo no primeiro semestre, dissemos que era o
valor até ao qual o tribunal conhece sem que seja possível a interposição de recurso
das suas decisões, o que resulta do artigo 619/1, CPC. Se a decisão ainda continuar
na alçada do tribunal a que estamos a decorrer é, em princípio, irrecorrível; mas há
exceções, como quando a parte entende que o tribunal é incompetente, havendo
sempre recurso tendo-se recusado o tribunal a decidir por incompetência.
2. Não basta a proporção entre o valor da decisão (=valor submetido à apreciação do
tribunal) e a alçada do tribunal; mas é também necessário um valor de
sucumbência, em valor que excede, como diz o artigo 629.º, n. º2, CPC: tem de se
desfavorável ao recorrente em valor superior a metade do tribunal.
Superada a alçada – pergunta-se o valor da sucumbência: se for de metade, não é
recorrível; só é recorrível se for superior a metade da alçada do tribunal de que se
recorre.
3. Legitimidade da parte para decorrer (Artigo 631.º, CPC – regra geral): quem, sendo
principal da causa, tenha ficado vencida; o recurso é interposto por aquele que
sucumbiu em certo valor, e sucumbiu porque perdeu.
Há depois uma exceção, não há uma grande exceção, que está no artigo 631.º, n.º 2,
CPC que nos diz que também as pessoas direta e efetivamente prejudicadas pela
decisão podem ainda recorrer dela, ainda que sejam partes acessórias: é necessário
verificar se a ação, em concreto, colide com um interesse de terceiro para que a
essa parte se possa atribuir legitimidade para o recurso.

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Falhando um dos elementos o recurso não é admissível por falta de um pressuposto


específico.
4. Possibilidade de se recorrer dentro do prazo.
Deixamos de ponderar a qualificação que as partes tinham na primeira instância e
passamos a falar de recorrente (=aquele que perdeu a primeira ação) e recorrido (=aquele
que venceu a primeira ação).
Distinção fundamental – artigo 633.º, CPC:
1. Recursos independentes = reúnem-se todos os pressupostos processuais específicos,
pela parte vencida na causa
2. Recursos subordinados = interposto para o caso de haver procedência do recurso
principal, ou para ser apreciado um novo caso de procedência do recurso principal.
Relação de subsidiariedade - como vimos nas cumulações – o que sucede quando a
parte sucumbiu numa linha de ataque ou defesa, e vê a possibilidade do tribunal de
recurso alterar a decisão produzida pelo tribunal ad quo, tendo a parte o direito de
ver alterada a decisão. Manifestação do princípio do dispositivo da parte: a decisão
da primeira instância que vem alterar a resposta dada, já não vem prejudicar esta
nova linha de ataque ou de defesa.
Uma vez que todo o recurso já está instruído – as alegações eram, ainda,
submetidas ao tribunal ad quo – e havendo despacho de admissibilidade que
verifica se os pressupostos processuais estão preenchidos, o recurso deve subir ao
STJ para ser aí apreciado.
Efeito do efeito do recurso sobre o processo? Sobre a exequibilidade da decisão?
A matéria encontrasse relativamente amalgamada no artigo 644.º que depois tem
combinação no artigo 645.º, CPC.
Antes da alteração do sistema de recursos tínhamos dois tipos de recurso
interpostos de decisões de 1ª instância que punham termo ao processo ou incidiam
no mérito da causa, que eram os recursos de apelação; e as decisões que não tinham
esse objeto, que eram os recursos de agravo.
Todos eles são agora recursos de apelação. PCS: A lei não pode alterar a natureza
das coisas, haverá sempre decisões que poem termo ao processo e que não têm, que
têm como objeto o mérito da causa, e que não têm. Esta solução influencia a nossa
lei logo no que respeita a dois aspetos:

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Quais são as decisões de que posso decorrer autonomamente. E de que decisões


posso interpor recurso autónomo?
Interposto esse recurso – autónomo – que efeito tem esse recurso sobre o processo?
Pára a tramitação, ou a tramitação continua independentemente da pendência desse
recurso?
Quando é que esse recurso é julgado? Imediatamente ou só, afinal? E como vai
subir esse recurso? Dentro do processo principal, ou com autonomia relativamente
a esse processo principal?
São opções na construção do nosso recurso, várias técnicas possíveis para o
construirmos. As regras centrais dizem-nos quais são as decisões de que se pode
recorrer autonomamente, e as que só se podem recorrer a final, quais são os efeitos
das decisões sobre o próprio processo (=suspende-se até ao fim do recurso, ou
continua-se independentemente do recursos?) – Resolvido no artigo 644.º e 645.º,
CPC.

Vetores centrais de que dependem todas estas respostas:


i) <De que decisões posso recorrer autonomamente? E recorrendo
autonomamente, que decisões são uma vez recorridas, são imediatamente
apreciadas no recurso?= – Artigo 644.º, n.º 2, al. h), CPC: o vetor central é
de que posso impugnar autonomamente e sobe imediatamente o recurso
quando a retenção e não apreciação autónoma e imediata do recurso
tornasse a própria impugnação absolutamente inútil. A lei tipifica um
conjunto de casos, mas temos uma grande clausula geral que nos permite
julgar a maior parte dos casos aqui. Se a decisão coloca termo ao processo
de primeira instância, então poe termo sendo interponível imediatamente e
subindo da mesma forma.
Art. 645.º, CPC: Este recurso sobe com os próprios autos.
A conclusão que se retira quanto à não interposição do recurso autónomo:
se a retenção da apreciação não torna o processo um ato inútil, então o
recurso não é autónomo e não sobe imediatamente, não há recurso

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autónomo; o que quer dizer que só no momento de interposição do próximo


recurso (=Decisão que poe termo ao processo) é que vai subir o recurso que
ficou retido, e é possível dar a conhecer ao tribunal as decisões intercalares
de que se quis recorrer e não se pode recorrer autonomamente.
PCS: Tudo isto era muito mais claro, porque tínhamos regras segregadas
que faziam depender o tipo de recurso que interpunham; mas essa junção
não consegue mitigar ou apagar estas diferenças, consequentemente temos
sempre de perguntar o modo de interposição e de subida para sabermos que
lei aplicar a esse processo.
Exequibilidade da decisão: posso executar independentemente do recurso,
ou tenho de esperar sobre a pronúncia do tribunal superior sobre o recurso
para poder executar a decisão? Os recursos interpostos da 2ª instância para
o STJ não têm efeito suspensivo o que significa que posso imediatamente
executar a decisão que é confirmada ou prolatada pelo tribunal; nas decisões
de 1ª instância e sua relação com a 2ª instância o legislador pondera
diversos fatores, nomeadamente de política social e legislativa, sendo que a
regra que se pode retirar é que: não posso executar imediatamente as
decisões de primeira instância que sejam recorridas. Isto não quer dizer que
a lei não preveja vasos em que a execução imediata é possível. Hoje em dia
não é possível recorrer de uma decisão pendente de recurso, tem de se
esperar pela consolidação no tribunal de 2ª instância para se executar.
É possível alterar o efeito do recurso, e a parte que se vê perante o efeito
suspensivo e quer efetivar a decisão, pode fazê-lo prestando caução para
operar o efeito resolutivo. Isto está tudo submetido a contraditório, antes de
se permitir o efeito típico que o recurso tem.
Normalmente as decisões estabilizam-se com o acórdão do Tribunal da
Relação.
Introdução da dupla conforme do recurso que se interpõe do tribunal da
relação para o STJ.
O constrangimento do pressuposto processual de admissibilidade
determinou que, normalmente, as decisões se consolidem no tribunal da
relação; isto acompanha o efeito devolutivo-suspensivo de que PCS nos

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falou, porque na 1ª instância não se consolida imediatamente a decisão não


pode ser executada, mas a decisão da relação sim, ainda que dela seja
interposto recurso, que esta seja imediatamente exequível!

Rercurso do tribunal da relação para o STJ - RECURSO DE


REVISTA:

Recurso de revista tem uma técnica similar ao recurso de apelação, sendo


que tem um pressuposto de admissibilidade específica: tenho de perguntar
qual é a relação entre conformidade e desconformidade das duas decisões
pretéritas para depois perguntar se posso recorrer ao STJ?
Se não estiver verificado o pressuposto de admissibilidade é irrecorrível, o
que quer dizer que o seu mérito não pode ser apreciado pelo STJ.
Há, no entanto, e para além da válvula da dupla conforme, casos em que
este recurso para o STJ é SEMPRE admissível:
Temos de pensar que o Direito é uma realidade cultural e por isso a
evolução do Direito não deve ser feita em sobressalto, mas sim em
continuidade.
Até à Reforma o recurso ao STJ era sempre admissível por isso a exigência
de dupla conforme foi já uma realidade abrupta. A válvula de segurança
criada foi o artigo 627.º, CPC: determina os casos em que pode haver
sempre recursos de revista (=STJ) apesar de poder não haver dupla
conforme.
São aqueles em que a sua análise jurídica são essenciais para uma melhor
apreciação de Direito; a função do STJ não é a reapreciação da matéria de
facto na qual se basearam a 1ª e a 2ª instância! O STJ não tem alçada, por
isso não é uma instância!!!
Quando a apreciação do recurso colida com interesse de particular
relevância social = o acórdão do STJ vai determinar o fundo daqui para
diante, o modo como se configura o dever ser, se esse dever ser (=interesse
social relevante) tiver o efeito irradiante (não é só no caso que interessa,
mas em vários casos), então o recurso para o STJ também é admissível.

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O que interessa para ligar a um recurso que já não é ordinário, mas sim
extraordinário – Revista (Artigo 672/1, al. c) + recurso de uniformização de
jurisprudencia: Artigo 688.º e ss, CPC):

Também há recurso de revista quando o acórdão da relação esteja em


contradição por outro transitado ou julgado ou do STJ sobre a mesma
questão ou interpretação fundamental do Direito (=mesma matéria de
direito), salvo se já tiver sido produzido acórdão de uniformização de
jurisprudência conforme.
Quem diz o Direito, quem tem a última palavra, não é o legislador, mas sim
o juiz, porque aquele que determina a regra na sua concreta conformação e
definição não é o legislador, mas sim o juiz que tem a bitola de
conformação da lei. Mas a lei também não é uma coisa sobre cuja criação é
feita de imediato: o juiz interpreta a lei, determinando o modo como aquele
concreto comando se deve concretizar, o que significa a enorme relevância
da jurisprudencia porque é esta que acaba por orientar a conduta das
próprias pessoas; a lei só orienta a nossa conduta em situações muito
simples do dia a dia, quando começam a surgir problemas não é a lei que
diz como deve ser.
E que tribunais nos podem dar orientações relativamente vinculantes quanto
ao dever ser?
Fatores estruturais e institucionais dos sistemas de justiça.
A visão do nosso sistema é que o tribunal de cúpula – STJ – é que pode
determinar de modo relativamente vinculante qual o sentido de uma regra,
imputando-lhe o sentido juridicamente relevante através da sua decisão.
É isto que, no fundo, faz o STJ quando uniformiza jurisprudência: perante a
verificação de contradições de decisões do tribunal de cúpula, faz um
acórdão uniformizador onde determina o sentido da regra.
Porque é que não é absolutamente vinculante? Porque qualquer juiz se pode
afastar da doutrina daquele acórdão; o juiz na decisão está vinculado à lei e
à sua consciência.

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O juiz de primeira instância pode ter bons fundamentos e razões para


discordar do STJ, não tem de seguir o acórdão do STJ, mas sabe que
corre um risco:
I) Quando profere uma decisão destas cria alguma estabilidade, porque
é alterado pelo tribunal do juiz a quo, por isso sabe eu cria um risco
de estabilidade.
II) Sabe que a sua decisao pode acabar por determinar ulterior decisão
do STJ quando a Relação confirmar este entendimento do juiz de
primeira instância criando-se uma contradição entre o tribunal da
relação e o acórdão do STJ: a lei abre a possibilidade da revista
excecional, tal como prevista no artigo 672/1, al. c), CPC.

Artigo 672/1, al. c), CPC: estabilização da jurisprudencia a partir de um


acórdão do STJ que determina a forma de decidir from now on. Determina
o sentido juridicamente determinante ou relevante de um conjunto de
normas jurídicas que as partes e os tribunais vão invocado ao longo do
processo e das suas decisões.

Na revista excecional é relevante para o modo do seu julgamento:


Naquele que se equipare a um julgamento ampliado de revista, a partir do
momento em que, no proferimento de uma decisão no contexto de um
recurso de apelação, que depois dará lugar ao recurso da revista, o relator do
recurso no STJ que a decisão que profere vai colidir com a jurisprudência
do supremo, outro mecanismo de uniformização: altero o colégio de
decisões que se pronuncia sobre esse recurso de revista, por isso, se houver
recurso de revista por via do artigo 672.º, n.º 1, al. c) está em causa a
anulação da contradição entre a decisao recorrida e dos tribunais superiores;
na revista ampliada o relator do recurso verifica que a decisão por si tida
como correta colide contra a de tribunal superior, o que implica que o
colégio que conhece deste recurso, por ser de potencial contradição, é o que

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vai conhecer do recurso de revista ampliada. Pede-se a intervenção imediata


do colégio de decisores que terá competência para a uniformização.
Isto não implica que não possa esta decisão colidir com um anterior acórdão
do STJ: não obstante ter tido um recurso de revista ampliado, que vai ser
julgado pelo mesmo colégio que conheceria a uniformização, se contrariar o
âmbito da revista ampliada ainda tenho possibilidade de uniformização.
Recurso de 2ª instância ao STJ é uma complexidade meramente aparente:
pode haver contradição, mas há também mecanismos de superação dessa
mesma contradição; o que nos dá a real importância e relevância do sistema
jurídico, porque é a jurisprudencia que orienta o comportamento das
pessoas, muito mais do que a própria lei.

O recurso extraordinário de revisão – artigo 696.º e ss, CPC:

O que nos interessa no recurso de revisão é também o efeito do caso


julgado, e os meios processuais áureos.
Não é um recurso difuso quanto aos seus fundamentos, é um recurso
fechado porque os seus fundamentos são típicos.
O recurso, como já dito, é um meio de impugnação da legalidade da
decisão, qualquer fundamento era bom para suscitar a apreciação dessa
mesma legalidade; o recurso de revisão porque também não tem esta
função, é um recurso típico quanto aos seus fundamentos porque é um
recurso que se interpõe depois do transito em julgado e por aí defendem-se
conjuntos muitos relevantes de valorações (Artigo 12.º, CC) a possibilidade
de reapreciação é relativamente restrita, para além de se pautar pela
tipicidade.
Artigo 636.º, CPC: Prevê casos muito dispares. Se poderem recorrer não
abrigo da regra de legitimidade, mas ao abrigo deste preceito, na sua al. g)
porque o processo assenta num pacto simulado das partes para prejudicar
terceiro, o que se pretende superar é uma justiça insuperável da própria
decisão.

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E, por outro lado, quando se fala de uma justiça intolerável há um


desfasamento entre a decisao de mérito que deveria ter sido, e que não foi.
Isto pressupõe que eu demonstre que a decisao devia ter tido um desfecho
(=decisão) diferente.
Artigo 696.º, al. a), CPC: Permite que a decisão seja caçada e substituída
por outra sempre que se venha a dar como comprovado que a decisao
resulta de crime praticado pelo juiz no exercício das suas funções. PCS: esta
alínea não estabelece relação entre o conteúdo da decisão e a decisão que
deveria ter sido proferida; este fundamento é tao grave no que atinge as
garantias do decisor, e por isso ligamos ao artigo 20.º, n.º 4, CRP quando
falávamos do justo processo equitativo, não era por acaso, mas para
chegarmos aqui: a lei determina que há aqui recurso de revisão.
O que tipicamente se segue é a necessidade de a parte recorrer à execução
da decisão, mas isso é em DPC executivo.

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