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Estudo de caso: direito civil

Publicado por Filipe Costa


há 3 anos

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SINOPSE: Saneamento do processo entre Neymar Jr. e Construtora


Ostentação.[1]

Filipe Bezerra D’Oliveira Costa[2]

Hugo Passos[3]

1 DESCRIÇÃO DO CASO

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O caso em análise
advogado aborda uma lide entre Neymar Júnior e a Constru-
online
tora Ostentação, na qual Neymar Jr. se sente lesionado ao comprar
um apartamento junto à Construtora, o qual não teria sido entregue
dentro do prazo divulgado na publicidade e disposto no contrato.

Porém, a Construtora Ostentação alega que no contrato acordado en-


tre as partes, ela teria direito a carência de 180 dias, o que tornaria o
dia 10/07/2015 o prazo de entrega final, dia em que o apartamento
foi entregue aos novos proprietários.
:
Assim, o jogador de futebol aciona a justiça e, por meio de seus advo-
gados, apresenta uma petição inicial, demandando nulidade da cláu-
sula de prorrogação da entrega por 180 dias; danos morais no valor
de R$ 10.000,00 pelos transtornos e danos materiais no valor de R$
180.000,00 pelos 6 meses de atraso da entrega com base no prazo
inicial.

Por sua vez, a construtora apresentou contestação com juntada de do-


cumentos, em que arguiu preliminar de falta de interesse de agir,
posto que não houve qualquer descumprimento contratual, bem
como no mérito, impugnou todos os fatos alegados na petição inicial

Dadas as circunstâncias, o juiz julgou improcedente todos os pedidos


do autor, após analisar o caso e intimar as partes para apresentar
possíveis provas, onde a parte autora não desejava mais produzir pro-
vas e a parte ré permaneceu silente. O autor entra com recurso de
embargos de declaração, alegando que a sentença não estava devida-
mente fundamentada, pois não enfrentou a tese utilizada pelo autor
acerca do dever de cumprir

com a oferta, conforme atr. 30 e 37 do CDC, inobservando assim o


art. 489, § 1º, IV do CPC. Diante disso, o recurso deve ser provido?
Há vício na sentença?

2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO CASO

2.1 Decisões possíveis

a) Acolhimento dos embargos por vício na sentença.


:
b) Não acolhimento dos embargos por vício no pedido.

2.2 Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

2.2.1 Acolhimento dos embargos por vício na sentença.

Analisando-se o caso relatado, é necessário observar como o sanea-


mento do processo se desenvolve. Assim, com base na interpretação
do art. 357 do novo CPC e nos arts. 30 e 37, § 1º do CDC, considera-se
o recurso de embargos procedente, por vício na sentença ao desconsi-
derar fato relevante para a decisão, que é a publicidade feita pela em-
presa ré.

O art. 357 do CPC/15, no inciso II, diz que o juiz deve “delimitar as
questões sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando
os meios de prova admitidos.” Portanto, a partir do momento em que
a Construtora Ostentação promove uma publicidade, na qual declara
que o prazo de entrega seria 10/01/2015 para todos os apartamentos,
é dever do juiz levá-la em consideração para a observância do cum-
primento do prazo, mesmo que haja um contrato assinado em con-
senso das partes com cláusula de prorrogação do prazo.

Além disso, a sentença desconsidera direitos do consumidor, neste


caso, os direitos garantidos pelos arts. 30 e 37, § 1º do CDC. A senten-
ça deve ser nula ao desconsiderar o fato de que a informação utilizada
na publicidade deve ser integrada no contrato, segundo o art. 30 do
CDC ao dizer que “toda publicidade, suficientemente precisa, [...] in-
tegra o contrato que vier a ser celebrado.”
:
Soma-se ainda, a inobservância do art. 37, § 1º do CDC, que proíbe
“toda publicidade enganosa ou abusiva”, caso da publicidade do apar-
tamento em questão, pois a partir do momento em que na publicida-
de veiculado informa a data 10/01/2015, essa data deve ser o prazo
de entrega presente no contrato de compra e venda entre as partes,
sob pena de caracterizar publicidade enganosa. A empresa não pode
estabelecer outro prazo que não seja aquele presente na publicidade.

Desta forma, considera-se a sentença instável por apresentar vícios,


consequentemente não fundamentada devidamente, motivando o
acolhimento de recurso de embargos da sentença. O juiz não deve
desconsiderar um fato de tamanha relevância para a resolução de
uma lide como a publicidade do caso em questão.

“Motivar e fundamentar significam exteriorizar as razões do decidir,


e nessa tarefa obviamente as opiniões pessoais do juiz são irrelevan-
tes, devendo o magistrado aplicar ao caso concreto o Direito, e não
concretizar suas aspirações pessoais.” (NEVES, 2016).

2.2.2 Não acolhimento dos embargos por vício no pedido.

O recurso de embargos não é procedente, tendo em vista que ocorre


preclusão temporal durante o processo do direito do autor de deman-
dar seu direito garantido pelo CDC contra a publicidade enganosa ou
abusiva, com base no art. 507 do novo CPC, o qual dispõe: “é vedado
à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo
respeito se operou a preclusão.”

Além disso, Neymar Jr. havia assinado um contrato com cláusula de


:
prorrogação do prazo por 180 dias. Sendo um contrato válido com o
consenso de ambas as partes, esse contrato passa a ser lei para o caso
em questão, passando a prorrogação do prazo a ser uma cláusula
legal.

É necessário destacar também que o juiz não pode julgar sobre causa
não proposta no pedido inicial do autor, ou seja, o juiz não poderia
levar em consideração algo não presente no processo, já que a parte
autora não relata a publicidade enganosa no seu devido tempo, sob
pena de caracterizar um vício na sentença ao infringir o princípio da
inércia da jurisdição, ou seja, extra petita, presente no art. 492 do
novo CPC: “é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da
pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em
objeto diverso do que lhe foi demandado.”

Soma-se ainda o art. 278 do CPC, no qual está disposto que “a nulida-
de dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber
à parte falar nos autos, sob pena de preclusão.” Ou seja, a parte auto-
ra, Neymar Júnior, teve seu direito precluído ao não se manisfetar
após as partes serem intimidadas ainda no despacho saneador para
produzirem provas.

“A preclusão consiste – fazendo-se um paralelo com figuras do direito


material, como a prescrição e a decadência – na perda de “direitos
processuais”, que pode decorrer de várias causas. Assim como acon-
tece com o direito material, também no processo a relação jurídica
estabelecida entre os sujeitos processuais pode levar à extinção de di-
reitos processuais, o que acontece, diga-se, tão freqüentemente quan-
to em relações jurídicas de direito material. A preclusão é o resultado
dessa extinção, e é precisamente o elemento (aliado à ordem legal dos
:
atos, estabelecida na lei) responsável pelo avanço da tramitação pro-
cessual.” (MARINONI, ARENHART, 2007).

2.3 Critérios e valores

a) Preclusão temporal: perda do direito por esgotamento de prazo.

b) Inércia da jurisdição: princípio de julgar o que for provocado.

c) Nulidade de decisão: vícios que tornam a sentença inválida.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei Nº 8.078, de 11 de


Setembro de 1990.

BRASIL. Novo Código de Processo Civil. Lei Nº 13.105, de 16 de


Março de 2015.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do


Processo de Conhecimento. São Paulo: Revistas dos Tribunais,
2007.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito proces-


sual civil. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.

1. Título do case. ↑

2. Aluno do 4º período, do curso de Direito, da UNDB – Unidade


:
de Ensino Superior Dom Bosco. ↑

3. Professor, orientador. ↑

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