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AO JUÍZO DA 5ª VARA FEDERAL DE PORTO ALEGRE - RS

Processo nº 5006833-34.2023.4.04.7100
Autora: VERA TEREZINHA CARVALHO DA SILVA
Réu: Conselho Federal da OAB

CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO


BRASIL - CFOAB, entidade de serviço público dotada de personalidade jurídica e
regulada pela Lei nº 8.906/94, inscrita no CNPJ sob o nº 33.205.451/0001-14, com sede
no Setor de Autarquias Sul, Quadra 5, Brasília – DF, neste ato representada por seu
Presidente, José Alberto Ribeiro Simonetti Cabral, na qualidade de representante
máximo da entidade (art. 55, § 1º, da Lei nº 8.096/94), conforme ata de posse anexa, por
intermédio de seus advogados infra assinado, os quais recebem intimações na SAUS,
Quadra 5 – Lote 1 – Bloco M – Brasília/DF, CEP 70070-939, tel: (61) 2193-9600, vem,
respeitosamente perante Vossa Excelência, com base no art. 335 e seguintes do CPC,
apresentar

CONTESTAÇÃO

pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

1 – SÍNTESE DA DEMANDA:

A parte autora pretende, em breve síntese, obter provimento


jurisdicional liminar, a ser confirmado em sentença, que determine a atribuição de pontos
a itens de sua prova prático profissional do XXXV Exame de Ordem Unificado sob o
argumento de supostos erros e nulidades.

Não obstante as razões autorais, não há irregularidade passível de


intervenção por parte do Poder Judiciário, razão pela qual o pleito em questão não merece
prosperar, conforme se passa a expor.

2 – PRELIMINARMENTE:

2.1 - DA INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL DESTE MM. JUÍZO PARA


JULGAR O PRESENTE FEITO:

Necessário registrar a incompetência territorial deste Foro para julgar o


feito, posto não ser o foro onde está localizada a sede do ora réu, nos termos dos artigos
46 e 53, inciso III, “a”, do NCPC, vejamos:

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre


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bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.

Art. 53. É competente o foro:


.........
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;

In casu, é fato notório e público que este Conselho Federal da OAB tem
sede em Brasília, Distrito Federal, com personalidade jurídica própria, distinta dos
Conselhos Seccionais, nos termos do art. 45, §§ 1º e 2º da Lei nº 8.906/1994, verbis:

Art. 45. São órgãos da OAB:


(...)
§ 1º O Conselho Federal, dotado de personalidade jurídica própria,
com sede na capital da República, é o órgão supremo da OAB.
§ 2º Os Conselhos Seccionais, dotados de personalidade jurídica
própria, têm jurisdição sobre os respectivos territórios dos Estados-
membros, do Distrito Federal e dos Territórios.

A presente ação foi ajuizada em local onde o Conselho Federal da OAB


não possui representantes, razão pela qual é flagrante a incompetência territorial deste M.
Juízo, conforme a iterativa e notória jurisprudência do STJ, verbis:

PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AÇÃO


AJUIZADA CONTRA AUTARQUIA FEDERAL. COMPETÊNCIA
TERRITORIAL. ART. 100, IV, “A” E “B”, DO CPC.
1. Em ações propostas contra autarquias federais, é facultado à parte
autora eleger o foro da demanda, desde que a eleição seja entre o foro
da sede da pessoa jurídica ou aquele da agência ou sucursal onde
ocorreram os fatos que geraram a lide, conforme estabelece o art. 100,
IV, “a” e “b” do CPC. Precedentes. Se a irresignação é dirigida
contra posicionamento central da autarquia (ANS) e não
especificamente em relação a obrigações contraídas junto à
subsidiária, a competência para o julgamento da ação é a do foro do
local da sede da pessoa jurídica.
2. Recurso especial a que se dá provimento.
(REsp 835700/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/08/2006, DJ 31/08/2006, p. 263)

Apenas nas ações aforadas contra a União é que o autor poderá


escolher a seção judiciária em que for domiciliado ou na qual houver ocorrido o ato
que deu origem à demanda.

Tratando-se de autarquia federal ou entidade de representação nacional,


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como é o caso na presente demanda, a competência territorial é regida pelas disposições
do art. 53, do CPC/2015, sendo competente o juízo federal onde está localizada a sede da
entidade, conforme ampla jurisprudência a respeito, inclusive do Superior Tribunal de
Justiça, verbis:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL


NO RECURSO ESPECIAL. AUTARQUIA FEDERAL. SEDE NO
DISTRITO FEDERAL. AUSÊNCIA DE FILIAL E DE AGÊNCIA
REGIONAL. COMPETÊNCIA. SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO
FEDERAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do artigo 100,
inciso IV, alíneas a e c, do CPC, as autarquias federais podem ser
demandadas no foro da sua sede ou naquele da agência ou sucursal,
em cujo âmbito de competência ocorreram os fatos da causa, desde
que a lide não envolva obrigação contratual. 2. O Conselho
Administrativo de Defesa Econômica - CADE não possui filiais nem
agências regionais, mas tão somente sua sede no Distrito Federal;
logo, a demanda deverá ser processada e julgada em uma das vara
federais da Seção Judiciária do Distrito Federal. 3. Agravo regimental
não provido. (Grifo nosso)
(STJ - AgRg no REsp: 1321642 RS 2012/0090405-1, Relator: Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 07/08/2012, T1 -
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/08/2012)

PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA.


AUTARQUIA FEDERAL. ANP - AGÊNCIA NACIONAL DO
PETRÓLEO. ARTIGO 100, A E B DO CPC. I. Esta Corte vem adotando
o entendimento no sentido de que as ações ajuizadas contra autarquia
federal, deverá ser apreciada pelo Juízo Federal de qualquer Vara do
Distrito Federal, onde está localizada a sede do referido órgão (ANP),
nos termos do artigo 100, inciso IV, alíneas a e b do CPC. Precedente
II. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO.
(TRF-5 - AGTR: 86715 PB 2008.05.00.013875-8, Relator:
Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, Data de Julgamento:
13/05/2008, Quarta Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da
Justiça - Data: 16/06/2008 - Página: 332 - Nº: 113 - Ano: 2008) (Grifo
nosso)

Tendo em vista que a personalidade jurídica do Conselho Federal da


OAB não se confunde com a dos Conselhos Seccionais e que o réu não possui agência,
sucursal ou filial neste Estado, mas tão somente sua sede no Distrito Federal, tem-se que o
presente Justiça Federal não é competente para julgar a presente ação.

Requer-se, portanto, o reconhecimento da incompetência deste MM.


Juízo, com a consequente remessa do feito a uma das Varas Federais da Seção Judiciária
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do Distrito Federal, nos termos do art. 64, §3º, do CPC/2015.

2.2 - DA PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO QUANTO À ALEGAÇÃO DE


VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA:

No tocante ao argumento de violação ao princípio da isonomia,


apontando como ato a correção do item 8 da peça prático-profissional candidata Madalena
Galdino dos Santos e do candidato Erimar de Souza, informe-se que a Coordenação
Nacional do Exame de Ordem analisou o caso em questão e reconheceu a existência de
erro na correção das provas dos referidos candidatos.

Com efeito, a resposta apresentada pelos candidatos não atendeu aos


quesitos do gabarito, e a pontuação foi indevidamente atribuída.

Tendo em vista o poder de autotutela da Administração Pública,


podendo anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais
(Súmula 473/STF), o Conselho Federal da OAB determinou à Fundação Getúlio Vargas
a revisão da prova prático-profissional realizada pela candidata Madalena Galdino dos
Santos e pelo candidato Erimar de Souza no 35º Exame de Ordem, para suprimir a
pontuação do item 8 da peça processual, conforme se depreende do espelho de correção
individual dos candidatos (docs. anexo).

De tal ato não surtiram efeitos concretos na esfera dos candidatos, vez
que eles não tinham logrado aprovação no certame. A medida apenas teve o condão de
zelar pelo princípio da isonomia na correção da prova dos candidatos que realizaram a
prova de Direito do Trabalho no 35º Exame de Ordem.

Considerando que dos atos ilegais não se originam direitos (Súmula


473/STF), e que a OAB revisou a prova dos candidatos paradigmas e suprimiu a
pontuação indevidamente atribuída, a questão suscitada nos autos perdeu o objeto, pelo
que se requer a extinção do processo sem resolução do mérito nesse tópico.

A título de precedente, traz-se aos autos a sentença proferida no MS nº


5007659-84.2022.4.03.6110, com idêntico pedido baseado na violação ao princípio da
isonomia, no qual foi julgada extinto o processo sem resolução do mérito, pela perda
superveniente do objeto.

2.3 - DA IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAR A AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO – JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE:

Não sendo acolhida a preliminar acima, requer que não seja designada
audiência de conciliação.

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Nos termos do art. 334, § 4º, II, do CPC/2015, tem-se que a lide em
questão, por sua natureza, insere-se nas hipóteses de dispensa da audiência prévia de
conciliação pela inadmissão de autocomposição da matéria em questão.

Esclareça-se que pela personalidade jurídica do réu -- autarquia federal


especial --, seria imprescindível expressa autorização normativa para que os procuradores
pudessem transigir e, na hipótese, inexiste tal autorização.

Ademais, tomando por base a aplicação analógica do art. 35, da Lei nº


13.140/2015, as controvérsias jurídicas que envolvam autarquias e fundações poderão ser
objeto de transação apenas por adesão e observando-se procedimento específico
(autorização) fundado na jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal ou de
tribunais superiores.

Tratando-se de certame público, a jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal é pacífica no sentido de que “os critérios adotados por banca examinadora de
concurso não podem ser revistos pelo Poder Judiciário” (RE 632.853), o que, por si só,
afasta qualquer possibilidade de transação.

Portanto, a realização de eventual audiência não teria qualquer


utilidade, eis que os procuradores do réu não têm autorização para fazer qualquer proposta
de acordo ou transação quanto ao objeto litigioso. Acarretaria apenas em um
prolongamento na duração do processo, sendo contraditório ao princípio da
duração razoável do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da CF/88 e no art. 6º,
CPC/2015.

Dessa forma, requer-se que não seja designada audiência de


conciliação, vez que se trata de demanda em que não se admite autocomposição, nos
termos do art. 334, § 4º, II, do CPC/2015.

Ademais, a presente demanda restringe-se a produção de provas


meramente documentais, já devidamente apresentadas, razão pela qual requer-se o seu
julgamento antecipado, nos termos do art. 355, I, do CPC.

2.4 – DA IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

Na inicial, a autora declara não possuir condições para arcar com as


despesas processuais e, sem juntar um único documento nos autos que comprove a sua
situação de hipossuficiência econômica, requer a concessão dos benefícios da gratuidade
de justiça.

Todavia, mister que seja aferida concretamente se a parte faz jus à


gratuidade de justiça, devendo ser devidamente demonstrado nos autos mediante os
documentos necessários.
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Esse tem sido o mais recente posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça no qual, sob a égide do Novo CPC, a afirmação de pobreza para fins de obtenção
de gratuidade de justiça tem presunção relativa de veracidade, devendo a parte
demonstrar a sua incapacidade econômico-financeira de fazer frente às custas e/ou
despesas processuais. Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. NECESSIDADE


DE RECOLHIMENTO PRÉVIO DO PREPARO OU DE RENOVAÇÃO
DO PEDIDO PARA MANEJO DE RECURSO EM QUE SE DISCUTE
O DIREITO AO BENEFÍCIO.
DESNECESSIDADE. AFERIR CONCRETAMENTE, SE O
REQUERENTE FAZ JUS À GRATUIDADE DE JUSTIÇA. DEVER
DA MAGISTRATURA NACIONAL. INDÍCIO DE CAPACIDADE
ECONÔMICO-FINANCEIRA DO REQUERENTE.
INDEFERIMENTO, DE OFÍCIO, COM PRÉVIA OPORTUNIDADE
DE DEMONSTRAÇÃO DO DIREITO À BENESSE. POSSIBILIDADE.
REEXAME DO INDEFERIMENTO DO PEDIDO. ÓBICE IMPOSTO
PELA SÚMULA 7/STJ.
1. Por ocasião do julgamento do AgRg nos EREsp 1.222.355/MG,
relator Ministro Raul Araújo, a Corte Especial pacificou, no âmbito do
STJ, o entendimento de que "[é] desnecessário o preparo do recurso
cujo mérito discute o próprio direito ao benefício da assistência
judiciária gratuita".
2. Consoante a firme jurisprudência do STJ, a afirmação de pobreza,
para fins de obtenção da gratuidade de justiça, goza de presunção
relativa de veracidade. Por isso, por ocasião da análise do pedido, o
magistrado deverá investigar a real condição econômico-financeira
do requerente, devendo, em caso de indício de haver suficiência de
recursos para fazer frente às despesas, determinar seja demonstrada
a hipossuficiência.
3. Nos recentes julgamentos de leading cases pelo Plenário do STF –
RE 249003 ED/RS, RE 249277 ED/RS E RE 284729 AgR/MG -,
relatados pelo Ministro Edson Fachin, aquele Órgão intérprete Maior
da Constituição Federal definiu o alcance e conteúdo do direito
fundamental à assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo
Estado, previsto no art. 5º, LXXIV, da CF, conferindo interpretação
extensiva ao dispositivo, para considerar que abrange a gratuidade de
justiça.
4. Por um lado, à luz da norma fundamental a reger a gratuidade de
justiça e do art. 5º, caput , da Lei n. 1.060/1950 - não revogado pelo
CPC/2015 -, tem o juiz o poder-dever de indeferir, de ofício, o pedido,
caso tenha fundada razão e propicie previamente à parte demonstrar
sua incapacidade econômico-financeira de fazer frente às custas e/ou
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despesas processuais. Por outro lado, é dever do magistrado, na
direção do processo, prevenir o abuso de direito e garantir às partes
igualdade de tratamento.
5. É incontroverso que o recorrente tem renda significativa e também
aposentadoria oriunda de duas fontes diversas (previdências oficial e
privada). Tal fato já configuraria, com base em regra de experiência
(arts. 335 do CPC/1973 e 375 do novo CPC), indício de capacidade
financeira para fazer frente às despesas do processo, a justificar a
determinação de demonstrar-se a incapacidade financeira. Como não
há também apuração de nenhuma circunstância excepcional a
justificar o deferimento da benesse, é descabido, em sede de recurso
especial, o reexame do indeferimento do pedido.
6. Recurso especial não provido.
(STJ. RESP nº 1.584.130/RS. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão.
Julgamento:

No entendimento do Ministro Relator, o magistrado tem o poder-


dever de requerer ao postulante do benefício da assistência judiciária gratuita que
COMPROVE que não possui meios de arcar com as custas e despesas processuais:

3. A principal questão controvertida está em saber se, à luz do Novo


Código de Processo Civil, o juiz pode determinar que o requerente da
gratuidade de justiça comprove insuficiência de recursos, para o
deferimento do pedido.
(...)
Em suma, à luz do novel diploma processual, e da norma
constitucional/processual que deve orientar a interpretação das
normas infraconstitucionais acerca da gratuidade de justiça,
permanece plenamente possível que o magistrado, tendo dúvida
acerca da incapacidade econômica do requerente de fazer frente às
custas e/ou despesa(s) processuais, determine a demonstração da
alegada hipossuficiência.
A doutrina processual anota:
Há uma ampliação do rol dos sujeitos de podem ser beneficiados pela
concessão da assistência judiciária pelo caput do art. 98 do Novo CPC,
quando comparado com o art. 2º, caput , da Lei 1.060/50.
[...]
A concessão dos benefícios da gratuidade da justiça depende da
insuficiência de recursos da parte para o pagamento das custas,
despesas processuais e honorários advocatícios no caso concreto.
[...]
A concessão de assistência judiciária pode ser parcial. No art. 98, § 5º,
do Novo CPC está prevista a possibilidade da concessão de gratuidade
para ato específico ou ainda a redução do percentual de despesas
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processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do
procedimento, enquanto no § 6º está previsto que o juiz poderá
conceder o direito ao parcelamento das despesas processuais que o
beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento. E será sempre
pessoal, inclusive não se estendendo ao litisconsorte ou a sucessor do
beneficiário, salvo requerimento e deferimento expressos (art. 99, § 6º).
[...]
A presunção de veracidade da alegação de insuficiência, apesar de
limitada à pessoa natural, continua a ser a regra para a concessão do
benefício da gratuidade da justiça. O juiz, entretanto, não está
vinculado de forma obrigatória a essa presunção e nem depende de
manifestação da parte contrária para afastá-la no caso concreto,
desde que existam nos autos ao menos indícios do abuso no pedido de
concessão da assistência judiciária. (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Novo código de processo civil comentado . Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 155-159)

Ressalte-se que a gratuidade da justiça se presta a possibilitar um


efetivo e pleno acesso à justiça aos menos favorecidos. Sua concessão indistinta, sem
verificar de fato a situação de hipossuficiência econômica da parte, gera a
banalização do instituto e onera as instituições judiciárias, repassando à sociedade
os custos da movimentação da máquina judiciária.

O pleito está estritamente ligado à lealdade processual e deve ser


cuidadosamente analisado pelo magistrado, devendo ser indeferido quando houver
elementos que evidenciam a falta de pressupostos para a sua concessão.

Requer-se, portanto, que seja determinada a intimação da parte para


comprovar que não possui recursos financeiros para arcar com as custas e despesas
processuais, sob pena do indeferimento do pedido de assistência judiciária gratuita, nos
termos do art. 99, §2º, do CPC/2015.

3 – MÉRITO:

3.1 - IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO EXAMINAR CRITÉRIOS


DE CORREÇÃO DE SELEÇÕES PÚBLICAS – INCURSÃO NO MÉRITO
ADMINISTRATIVO:

Cumpre ressaltar que a irresignação da parte autora afronta


jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça,
uma vez que a matéria de fundo traz à tona questão referente à impossibilidade de o Poder
Judiciário realizar o controle sobre o ato administrativo que profere avaliação de questões
de certames públicos, por afronta aos artigos 2º e 5º, caput, da Constituição Federal.

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Nesse sentido, é pacífico o entendimento jurisprudencial quanto à
proibição do controle judicial das decisões tomadas pelas Comissões Julgadoras de
concursos públicos/ Exame da OAB, cabendo, excepcionalmente, o controle de
legalidade das normas instituídas no Edital e dos atos administrativos, sem adentrar no
mérito.

Registre-se que no julgamento do RE 632.853 o Plenário do Supremo


Tribunal Federal, em sede de Repercussão Geral, fixou tese no sentido de que “os
critérios adotados por banca examinadora de concurso não podem ser revistos pelo
Poder Judiciário”, reafirmando jurisprudência da Corte, verbis:

Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Concurso público.


Correção de prova. Não compete ao Poder Judiciário, no controle de
legalidade, substituir banca examinadora para avaliar respostas
dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes. 3.
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade
do conteúdo das questões do concurso com o previsto no edital do
certame. Precedentes. 4. Recurso extraordinário provido.
(RE 632853, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 23/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG
26-06-2015 PUBLIC 29-06-2015)

A rigor, a verificação dos requisitos para elaboração e correção das


provas de certames públicos é descabida na esfera judicial, sob pena de substituição
indevida da Banca Examinadora pelo Poder Judiciário e violação ao princípio da
separação dos poderes pela evidente usurpação da função administrativa.

Promover em caráter privativo a disciplina e seleção dos advogados


constitui dever da Ordem dos Advogados (Art. 44, II da Lei n° 8.906/94), a qual, embora
não esteja submetida a tipo algum de hierarquia ou vinculação quanto à Administração
direta, exerce função pública, possuindo o status de serviço público independente e,
enquanto tal, vale-se dos poderes próprios do Estado (ADI 3026, rel. Min. Eros Grau;
RE 603.583, rel. Min. Marco Aurélio).

Desta feita, julgar procedente a ação significa direta afronta ao


princípio da separação dos poderes pela indevida incursão no mérito administrativo e
na independência que a entidade tem para regular o Exame que atesta a aptidão dos
bacharéis em direito para exercer a advocacia.

Por fim, visto que todos os examinandos foram submetidos à prova sob
as mesmas condições, ou seja, obedecendo aos critérios determinados em edital, bem
como às orientações constantes do caderno de provas, o pleito autoral implica em direta
ofensa ao princípio constitucional da vinculação ao edital, bem como ao princípio da

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isonomia, tendo em vista que a parte autora receberia tratamento privilegiado em
detrimentos dos demais candidatos.

A excepcionalíssima intervenção do Poder Judiciário na elaboração ou


correção de provas de certames públicos somente se justifica diante de manifesta
ilegalidade cometida pela Banca Examinadora consistente em expressa contrariedade de
questão a dispositivo legal, existência de mais de uma resposta correta ou adoção de
critérios de correção diferenciados entre candidatos, o que, definitivamente, não ocorreu
no caso em tela.

3.2 – DA AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADE NA CORREÇÃO DA PROV DA


AUTORA:

Descabe, nesse contexto, invadir os critérios de correção adotados pela


Banca Examinadora, não havendo que se falar em anulação de quesitos de correção ou de
majoração da nota da parte autora. Mesmo que fosse possível ao Judiciário reformular os
critérios de correção, ainda assim não seria o caso de se atribuir diretamente nota, como
pretende a parte autora.

É que, na hipótese de eventual diferenciação quanto aos critérios de


correção, cabe ao Poder Judiciário determinar nova correção das provas, em estrita
observância ao padrão de resposta, dos quesitos de avaliação, ou, ainda, de eventual
critério de correção utilizado em prova paradigma.

Com efeito, somente se admite tal prática quando haja demonstração


inequívoca de que a correção da prova do candidato foi realizada em descompasso com
o padrão de resposta ou quesitos de avaliação, bem como eventual critério utilizado na
correção de prova de outro examinando, o que, em tese, poderia ensejar a determinação
de atribuição de pontuação pela Banca Examinadora. Contudo, essa definitivamente não
é a situação dos presentes autos.

PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL:

Enunciado

Em sentença prolatada pela 89ª Vara do Trabalho de Floriano/PI, nos


autos da reclamação trabalhista número 0101010-50.2021.5.22.0089,
movida por Benício Pérolas contra a Transportadora Rapidinha Ltda.,
o pedido foi julgado procedente em parte nos seguintes termos:

(i) não foi conhecida a prejudicial de prescrição parcial porque


suscitada pela sociedade empresária em razões finais, e não na
contestação, ocorrendo, na ótica do magistrado, preclusão;

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(ii) foi indeferida a anulação do pedido de demissão feito pelo ex-
empregado, em 10/02/2021, após 10 anos de trabalho, porque o autor
não provou qualquer vício na sua manifestação de vontade;

(iii) foi deferido o pagamento de 1 hora extra diária, com adicional de


50% (cinquenta por cento), pelo intervalo interjornada desrespeitado,
pois o juiz se convenceu que o autor trabalhava de segunda a sexta-
feira, das 8 às 20 h, com intervalo de 1 hora para refeição;

(iv) foi indeferido o pagamento do 13º salário de 2019, porque a


empresa comprovou documentalmente nos autos, a quitação regular
deste direito;

(v) foi deferida a reintegração do autor ao emprego, porque ele


comprovou ser, à época, dirigente, com mandato em vigor, de uma
associação desportiva criada pelos empregados da Transportadora
Rapidinha Ltda.;

(vi) foi deferido o depósito do FGTS na conta vinculada para o período


de 5 meses no qual o autor ficou afastado pelo INSS em auxílio por
incapacidade temporária previdenciária (antigo auxílio-doença
comum, código B-31), período em que a empresa não recolheu o FGTS;

(vii) foi indeferido o pedido de férias 2018/2019, em razão da grande


quantidade de faltas injustificadas que o trabalhador teve no período
aquisitivo, comprovada documentalmente nos autos;

(viii) foi deferida a integração da ajuda de custo à remuneração do


autor, porque ela era paga mensalmente pela empresa, conforme se
verificou dos contracheques que foram juntados aos autos;

(ix) foi deferida, de julho de 2020 a fevereiro de 2021, a equiparação


salarial do autor com o empregado Raul Flores Raras, que exercia a
mesma função do reclamante e atuava na filial da empresa localizada
em Goiás;

(x) foi deferido o pagamento de insalubridade desde a sua supressão,


porque, em que pese ter havido comprovadamente a reclassificação da
atividade pelo órgão competente durante o contrato de trabalho, o juiz
entendeu que havia direito adquirido porque o trabalhador já contava
com essa verba no seu orçamento, além de ofensa ao princípio da
irredutibilidade salarial; e

(xi) foram deferidos honorários advocatícios em favor do advogado do


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reclamante, na ordem de 30% (trinta por cento) sobre o valor da
liquidação e de 15% (quinze por cento) em favor do advogado da
empresa sobre os pedidos julgados improcedentes.

Diante disso, como advogado(a) da ré, redija a peça prático-


profissional para a defesa dos interesses do seu cliente em juízo,
ciente de que a ação foi ajuizada em 28/06/2021 e que, na sentença,
não havia vício ou falha estrutural que comprometesse a sua
integridade. (Valor: 5,00)

Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que


possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples menção
ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.

Nos casos em que a lei exigir liquidação de valores, o examinando


deverá representá-los somente pela expressão “R$”, admitindo-se que
o escritório possui setor próprio ou contratado especificamente para
tal fim.

Gabarito Comentado

O(A) examinando(a) deverá apresentar um recurso ordinário,


elaborando a petição de interposição à 89ª Vara do Trabalho de
Floriano/PI e as razões recursais ao TRT. Deverá indicar recorrente e
recorrido, citar o Art. 895, inciso I, da CLT, e indicar o recolhimento
das custas e do depósito recursal.

Em relação à prescrição parcial, deve ser sustentado que o instituto


pode ser alegado, com sucesso, em razões finais, já que o processo
ainda se encontra em instância ordinária, conforme preconiza a
Súmula 153 do TST e o Art. 193 do CCB.

Em relação à hora extra pelo intervalo interjornada, deve ser


sustentado que a pausa legal de 11 horas, prevista no Art. 66 da CLT,
foi respeitada.

Em relação à reintegração, deve ser sustentado que somente o dirigente


sindical tem estabilidade, na forma do Art. 543, § 3º, da CLT e do Art.
8º, inciso VIII, da CRFB/88, não se aplicando ao dirigente de
associação, pois não há norma legal que ampare a estabilidade dele,
devendo ser observado o Art. 5º, inciso II, da CRFB/88.

Em relação ao FGTS, deve ser sustentado que é indevido o depósito,


porque o contrato estava suspenso, conforme o Art. 476 da CLT;
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alternativamente, a banca aceitará a tese de que somente seria devido
o depósito se o afastamento tivesse sido por acidente de trabalho, na
forma do Art. 15, § 5º, da Lei nº 8.036/90 e ou art. 28, III, Decreto
99.684/90 Art. 28, inciso III, do Decreto nº 99.684/90.

Em relação à integração da ajuda de custo, deve ser sustentado ser


indevida a integração à remuneração, ainda que habitual, por expressa
vedação legal, conforme o Art. 457, § 2º, da CLT.

Em relação à equiparação salarial, deve ser sustentado que é indevida


porque autor e modelo não atuavam no mesmo estabelecimento,
desatendendo, assim, a um dos requisitos previsto no Art. 461 da CLT,
mesmo porque o período refere-se a um momento posterior à reforma
trabalhista (Lei nº 13.467/17).

Em relação à insalubridade, deve ser sustentado que a reclassificação


gera a perda do adicional de insalubridade, sem que se possa alegar
direito adquirido, na forma da Súmula 248 do TST ou Art. 194 da CLT,
já que esse adicional é pago em caráter precário.

Em relação aos honorários, deve ser sustentado que eles, se devidos


porque se pugnará pela improcedência dos pedidos, são limitados, pela
lei trabalhista, a 15%, conforme o Art. 791-A da CLT.

Fechamento com pedido de admissão do recurso, acolhimento da


prescrição parcial e, no mérito em si, o provimento do recurso.

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Distribuição dos pontos

A parte autora impugna a correção de sua prova no tocante aos itens 8


e 7, pelas respostas apresentadas nas linhas 83-90 e 74-82, respectivamente. Todavia, as
insurgências não merecem prosperar.
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Quanto ao item 8, vejamos a resposta apresentada:

A candidata se limitou a dizer que a ajuda de custo não integra a


remuneração, porém, apenas essa afirmação é insuficiente para justificar a ausência de
integração determinada judicialmente, conforme decidido pela Banca Revisora.

Assim, conforme gabarito divulgado, a Banca Examinadora esperava


uma densa argumentação do candidato no sentido de que a ajuda de custo era indevida
por não ter a ajuda de custo natureza salarial, conforme previsto na norma de
regência, sendo ainda admitida a fundamentação de que a ajuda de custo tem
natureza indenizatória.

No entanto, nenhuma delas foi esgotada pela candidata, mas tão


somente foi apresentada uma argumentação rasa com mera menção do texto legal.

Como elucidado pela Banca Revisora:

8- A integração da ajuda de custo é indevida porque a parcela tem


natureza indenizatória ou, sob outro prisma, por não ter natureza
salarial. Logo, a resposta que compreende mera transcrição literal do
artigo de Lei não pode ser acolhida porque indica apenas a
consequência da natureza indenizatória da ajuda de custo, que é coibir
a incorporação da parcela. Assim, a resposta omitiu a natureza
indenizatória da parcela que justificaria a afirmação de ser indevida a
integração deferida em sentença. Nota mantida.

Quanto à mera citação de dispositivo legal sem a correta argumentação


jurídica, tem-se que não credencia pontuação, conforme bem pontuado no caderno de
provas nas observações que seguem o enunciado da questão:

Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação


do dispositivo legal não confere pontuação.

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Tal exigência está de acordo com expressa disposição editalícia,
conforme item 3.5.11, verbis:

3.5.11. O texto da peça profissional e as respostas às questões


discursivas serão avaliados quanto à adequação ao problema
apresentado, ao domínio do raciocínio jurídico, à fundamentação e sua
consistência, à capacidade de interpretação e exposição e à técnica
profissional demonstrada, sendo que a mera transcrição de
dispositivos legais, desprovida do raciocínio jurídico, não ensejará
pontuação.

Ou seja, embora a candidata tenha apontado corretamente os


dispositivos legais, essa citação apenas eleva a nota dos candidatos se corretamente
respondida a questão como um todo, e não lhes confere isoladamente 0,10 pontos, porque
houve erro na resposta ao instituto indicado.

Veja-se que a faixa de pontuação do item é de "0,00, 0,40 ou 0,50", e


não de "0,00, 0,10, 0,40 ou 0,50”. Portanto, não há previsão de atribuição parcial de 0,10
pontos.

Logo, a ausência de pontuação dos itens se deu pela mera


desconformidade da resposta com o gabarito, inexistindo no caso irregularidade na
correção da prova da parte autora que justifique a excepcional do Poder Judiciário.

Sobre o item 7, vejamos a resposta apresentada:

Para fazer jus aos pontos do item 7, mister que a candidata tivesse
arguido que o depósito do FGTS é indevido, pois o contrato estava suspenso. Ou,
alternativamente, somente seria devido o depósito se o afastamento tivesse sido por

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acidente de trabalho, na forma do Art. 15, § 5º, da Lei nº 8.036/90 e ou art. 28, III, Decreto
99.684/90 Art. 28, inciso III, do Decreto nº 99.684/90.

Verifica-se que a candidata meramente reproduziu as informações


trazidas no enunciado (linhas 73-76) e, nas linhas 77-81 menciona que o período de gozo
de auxílio doença não se encontra previso nas situações elencadas no art. 15, §5º, da Lei
nº 8.036/90 que prevê os casos em que deve ser pago o FGTS, mesmo no afastamento.

Em que pese a menção ao dispositivo legal constante no gabarito, a


candidata tangenciou o tema, não demonstrando conhecimento específico da matéria
constante no gabarito.

E, como informado acima, a mera citação do dispositivo legal, sem a


devida fundamentação jurídica, não credencia pontuação.

Inexiste, portanto, irregularidade na correção da Banca no item.

QUESTÃO 4:

Enunciado

Ênio, metalúrgico na sociedade empresária Metal Pesado Ltda.,


candidatou-se e foi eleito diretor do sindicato dos metalúrgicos de sua
categoria em 2021. Ênio foi empossado no mesmo ano para cumprir
mandato de 2 anos e participava de reuniões no sindicato quando
chamado.
Por descuido, o sindicato não avisou ao empregador de Ênio acerca da
sua eleição como dirigente sindical, somente vindo a fazê-lo 1 ano
após, em 2022. Na semana seguinte a essa comunicação do sindicato,
o contrato de Ênio foi rompido sem maiores explicações.
Ênio, então, ajuizou reclamação trabalhista postulando sua
reintegração. Em defesa, a sociedade empresária sustentou ser
indevido o retorno porque a comunicação acerca da eleição acontecera
fora do prazo legal (Art. 543, § 5º, da CLT) e pelo fato de a sociedade
empresária ignorar o fato da eleição até então. Ademais, sustentou que
a dispensa se deu por justa causa, porque o empregado utilizava
grande parte do seu tempo na empresa para vender roupas, perfumes
e outros acessórios, sem autorização do empregador, incidindo nos
termos do Art. 482, alínea c, da CLT.

Considerando os fatos narrados, a previsão legal e o entendimento


consolidado do TST, como advogado(a) de Ênio, responda aos itens a
seguir.

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A) Que argumento jurídico você apresentaria em réplica acerca da
alegação da empresa de comunicação intempestiva da eleição?
Justifique. (Valor: 0,65)

B) Acerca da alegada dispensa por justa causa, que argumento


jurídico de natureza processual você apresentaria em réplica?
Justifique. (Valor: 0,60)

Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera


citação do dispositivo legal não confere pontuação.

Gabarito Comentado

A) Na defesa de Ênio, a alegação será a de que, mesmo fora do prazo,


a ciência ao empregador ocorreu na vigência do contrato de trabalho,
garantindo, assim, a estabilidade do dirigente, na forma da Súmula
369, inciso I, do TST.

Distribuição dos pontos

A parte autora impugna a correção de sua prova no tocante ao item A.


Todavia, as insurgências não merecem prosperar. Vejamos a resposta apresentada:

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Para fazer jus aos pontos do quesito, mister que a candidata tivesse
respondido que mesmo fora do prazo, a ciência ao empregador ocorreu na vigência
do contrato de trabalho, garantindo, assim, a estabilidade do dirigente, na forma da
Súmula 369, inciso I, do TST.

A resposta apresentada pela candidata meramente defende a


estabilidade sindical, mesmo com a comunicação fora do prazo, mas não demonstra
possuir conhecimento do ponto nodal da questão, a saber, de que a estabilidade está
garantida porque a ciência do empregador se deu na vigência do contrato.

Logo, a ausência de pontuação dos itens se deu pela mera


desconformidade da resposta com o gabarito, inexistindo no caso irregularidade na
correção da prova da parte autora que justifique a excepcional do Poder Judiciário.

Demonstrada, por conseguinte, a total legalidade da correção da prova


da parte autora, requer seja julgada improcedente a ação.

3.3 – DA REVISÃO DE OFÍCIO DA PROVA DOS CANDIDATOS


PARADIGMAS:

No tocante ao argumento de violação ao princípio da isonomia,


apontando como ato a correção do item 8 da peça prático-profissional candidata Madalena
Galdino dos Santos e do candidato Erimar de Souza, caso não seja acolhida a preliminar
de extinção do processo sem resolução do mérito nesse tópico, requer-se seja julgada
improcedente a ação.

Como já informado, a Coordenação Nacional do Exame de Ordem


analisou o caso em questão e reconheceu a existência de erro na correção da prova dos
referidos candidatos, vez que, com efeito, a resposta apresentada pelos candidatos não
atendeu aos quesitos do gabarito, e a pontuação foi indevidamente atribuída.

Tendo em vista o poder de autotutela da Administração Pública,


podendo anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais
(Súmula 473/STF), o Conselho Federal da OAB determinou à Fundação Getúlio Vargas
a revisão da prova prático-profissional realizada pela candidata Madalena Galdino dos
Santos e pelo candidato Erimar de Souza no 35º Exame de Ordem, para suprimir a
pontuação do item 8 da peça processual, conforme se depreende do espelho de correção
individual dos candidatos (doc. anexo).

De tal ato não surtiram efeitos concretos na esfera dos candidatos, vez
que eles não tinham logrado aprovação no certame. A medida apenas teve o condão de
zelar pelo princípio da isonomia na correção da prova dos candidatos que realizaram a
prova de Direito do Trabalho no 35º Exame de Ordem.
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Considerando que dos atos ilegais não se originam direitos (Súmula
473/STF), e que o réu revisou a prova dos candidatos paradigmas e suprimiu a pontuação
indevidamente atribuída, inexiste violação ao princípio da isonomia, razão pela qual se
requer seja julgada improcedente a ação.

4 - DOS REQUERIMENTOS:

Diante das razões acima apresentadas, o Conselho Federal da Ordem


dos Advogados do Brasil requer preliminarmente:

i) o reconhecimento da incompetência deste MM. Juízo, com a


consequente remessa do feito a uma das Varas Federais da
Seção Judiciária do Distrito Federal, nos termos do art. 64, §3º,
do CPC/2015;

ii) a extinção do processo sem resolução do mérito quanto ao


argumento de violação ao princípio da isonomia, pela perda
superveniente do objeto;

iii) não seja designada audiência de conciliação, vez que se trata


de demanda em que não se admite autocomposição, nos termos
do art. 334, § 4º, II, do CPC/2015;

iv) a intimação da parte para comprovar que não possui


recursos financeiros para arcar com as custas e despesas
processuais, sob pena do indeferimento do pedido de
assistência judiciária gratuita, nos termos do art. 99, §2º, do
CPC/2015.

No mérito, requer seja julgada improcedente a ação, com a condenação


da autora nas custas e honorários de sucumbência.

Termos em que pede e aguarda deferimento.

Brasília, 16 de março de 2023.

Priscilla Lisboa Pereira Franciele de Simas Estrela Borges


OAB/DF 39.915 OAB/MG 141.668

Rafael Barbosa de Castilho


OAB/DF 19.979

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