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AO JUÍZO DA 5ª VARA FEDERAL DE PORTO ALEGRE/RS

Processo n.º 5006833-34.2023.4.04.7100

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, pessoa jurídica de direito privado, devidamente


qualificada nos autos da ação em que contende com VERA TEREZINHA CARVALHO DA SILVA
também qualificada nos autos em epígrafe, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar
CONTESTAÇÃO, consubstanciada nos argumentos de fato e direito que passa a expor.

1- SÍNTESE DOS FATOS

Em sua exordial, a Autora alega que se candidatou para participar do XXXV Exame de
Ordem dos Advogados do Brasil. Com a divulgação do resultado da segunda etapa do exame,
não atingiu a pontuação mínima exigida pelo edital. No entanto, acredita que não foi concedida
a pontuação adequada na correção da peça prático-profissional, fato esse que supostamente
a desclassificou injustamente.

Em razão do exposto, pleiteou que às autoridades coatoras atribuam e contabilizem na


nota final da candidata/Autora o acréscimo dos itens 7 e 8 da peça profissional, além da questão
4-A, considerando-a aprovada no XXXV Exame de Ordem, viabilizando a respectiva inscrição no
quadro de advogados.

Contudo, razão não assiste ao Impetrante conforme será demonstrado a seguir.

2- DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Antes mesmo de cuidar dos itens que compõem a presente demanda, é importante
trazer aos autos dados e informações relevantes sobre a FGV.

Criada em 1944, a Fundação Getúlio Vargas é, estatutariamente, instituição de caráter


técnico-científico e educativo, de direito privado, sem objetivo de lucro.

Desde 1947, a FGV é responsável pela elaboração dos principais índices econômicos
utilizados no País, atividade fundamental para a economia brasileira.

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A competência, a confiabilidade, a postura ética e o espírito de vanguarda que sempre
caracterizaram a FGV e fazem com que a instituição seja, hoje, referência nas áreas em que
atua.

Desde o nascedouro, a FGV dedica-se (e para tal fim foi gestada, inclusive) a promover
o desenvolvimento social e econômico do Brasil, por iniciativas próprias e por meio de parcerias
com órgãos, entidades, instituições, empresas, sejam de Direito Público, sejam de Direito
Privado, parcerias estas formalizadas em contratos, convênios, acordos, etc., conforme a
natureza das partes envolvidas e o objetivo a ser atingido.

Em todas as parcerias estabelecidas ao longo de sua história, a FGV sempre se pautou


pela estrita observância da legislação vigente.

Importante consignar que a reputação ético-profissional da FGV não deflui de


disposição estatutária, obviamente.

Esta reputação decorre do fato, notório, de ser a Fundação Getúlio Vargas ser
referência nacional nas áreas em que atua: atividades acadêmicas – tanto graduação como pós-
graduação stricto e lato sensu, publicações nas mais diversas áreas, desenvolvimento de
projetos, concursos públicos e certames variados, aperfeiçoamento de gestores nos setores
público e privado, promoção de pesquisas e estudos históricos e sociais, dentre outras.

Se não fosse a FGV detentora de reputação ético-profissional indiscutível, diversos


órgãos e entidades, não a teriam contratado para projetos variados.

A Fundação Getúlio Vargas sempre prestou serviços de excelência, contando com o


concurso de professores, pesquisadores e técnicos extremamente capacitados, o que a permite
se responsabilizar, sem temor, pela qualidade positiva do que entrega a seus clientes e
parceiros.

A Fundação Getúlio Vargas repudia, assim e veementemente, as afirmações constantes


da exordial, no sentido da existência de qualquer irregularidade nos critérios de correção
adotados pela banca examinadora e, nesse sentido, pede licença para demonstrar o que se
afirma.

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3- DA IMPOSSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO SUBSTITUIR BANCA EXAMINADORA NA
CORREÇÃO DE PROVAS – PRECEDENTES DE TRIBUNAIS SUPERIORES

A questão de mérito é absolutamente pacífica nos Tribunais pátrios. Poderia a FGV


apresentar, aqui, centenas de decisões relacionadas ao tema, demonstrando a impossibilidade do
Poder Judiciário substituir a Banca Examinadora, o que não se fará aqui em prestígio à brevidade.

O Eg. Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de que o Edital é a “lei do Concurso
Público”. Portanto, a competência do Poder Judiciário se limita ao exame da legalidade das normas
do edital e dos atos praticados na realização do concurso, conforme se observa:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 83/STJ. RECURSO


ESPECIAL FUNDADO NA ALÍNEA "A". INCIDÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO.
CRITÉRIO DE APROVAÇÃO. PROVA DE DIGITAÇÃO. QUESTÃO AFETA À BANCA
EXAMINADORA. ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO PACIFICADO.
AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O enunciado 83 da Súmula
desta Corte aplica-se ao recurso especial fundado na alínea "a" do permissivo
constitucional, quando o acórdão recorrido harmonizar-se com a jurisprudência
desta Corte. Precedentes. 2. Este Superior Tribunal de Justiça possui
entendimento firmado no sentido de que a competência do Poder Judiciário se
limita ao exame da legalidade das normas instituídas no edital e dos atos
praticados na realização do concurso, sendo vedada a apreciação dos critérios
utilizados pela banca examinadora para formulação de questões e atribuição
das notas aos candidatos. 3. Agravo interno a que se nega provimento (AgRg no
Ag 1067556/ RJ. Ministra JANE SILVA (Desembargadora Convocada do TJ/MG)
(8145) Órgão Julgador SEXTA TURMA. DJe 10.11.2008) . (destaque nosso)

Tal entendimento é recorrente na jurisprudência pátria:

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. QUESTÕES


OBJETIVAS. VIOLAÇÃO DA CF. INCOMPETÊNCIA AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. SÚMULA 83/STJ. RECURSO ESPECIAL FUNDADO NA ALÍNEA
"A". INCIDÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO. CRITÉRIO DE APROVAÇÃO. PROVA DE
DIGITAÇÃO. QUESTÃO AFETA À BANCA EXAMINADORA. ANÁLISE.
IMPOSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO PACIFICADO. AGRAVO INTERNO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO. 1. O enunciado 83 da Súmula desta Corte aplica-se ao
recurso especial fundado na alínea "a" do permissivo constitucional, quando o
acórdão recorrido harmonizar-se com a jurisprudência desta Corte. Precedentes.
2. Este Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de
que a competência do Poder Judiciário se limita ao exame da legalidade das
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normas instituídas no edital e dos atos praticados na realização do concurso,
sendo vedada a apreciação dos critérios utilizados pela banca examinadora
para formulação de questões e atribuição das notas aos candidatos. 3. Agravo
interno a que se nega provimento (AgRg no Ag 1067556/ RJ. Ministra JANE SILVA
(Desembargadora Convocada do TJ/MG) (8145) Órgão Julgador SEXTA TURMA.
DJe 10.11.2008) . (destaque nosso)

No mesmo sentido:

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. QUESTÕES


OBJETIVAS. VIOLAÇÃO DA CF. INCOMPETÊNCIA DO STJ. ANULAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SUBSTITUIÇÃO À BANCA EXAMINADORA. LIMITE DE
ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. Esta Corte não tem competência para apreciar
a alegação de ofensa à Carta Magna, consoante o disposto no artigo 105, inciso
III, alínea "a". Não compete ao Poder Judiciário, atuando em verdadeira
substituição à banca examinadora, apreciar critérios na formulação de
questões; correção de provas e outros, muito menos a pretexto de anular
questões. Limite de atuação. Recurso provido.” (Processo: REsp 721067 DF
2005/00144487. Relator(a): Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA. Julgamento:
18/05/2005. Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA. Publicação: DJ 27.06.2005 p.
444.) (destaque nosso).

Fica claro, na presente demanda, que o objetivo da Requerente é a inadmissível, data


maxima venia, revisão dos critérios de correção da sua prova, o que discrepa da decisão do Plenário
do Supremo Tribunal Federal, que apreciando o Tema nº 485 em Repercussão Geral, deu
provimento ao RE 632.853/CE (DJe de 29/06/2015), para fixar a tese de que “não compete ao
Poder Judiciário, no controle da legalidade, substituir banca examinadora para avaliar respostas
dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas”.

Diante do exposto, a pretensão da Autora já estaria fadada ao insucesso na gênese, mas,


em respeito ao Juízo e ao princípio da eventualidade, os argumentos articulados na exordial serão
repelidos amiúde, como adiante se verá.

4- DA REALIDADE DOS FATOS

Conforme exposição fática, a Requerente requer que às autoridades coatoras atribuam


e contabilizem na nota final da candidata à nota integral dos itens 7 e 8 da peça profissional,
além da questão 4-A, considerando-a aprovada no Exame de Ordem. Todavia, não merece razão.
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O edital é explicito quanto a aprovação de candidatos que obtenham nota igual ou
superior à 6,00 (seis) pontos na prova prático-processual, o que evidentemente não é o caso da
Autora.

Caso discorde de qualquer norma estabelecida no comando editalício pode o candidato


impugnar a tempo e modo. Significa dizer que, uma vez estabelecidas as regras do
procedimento e anuídas pelo candidato no momento da inscrição, estas devem ser seguidas à
risca por todos os envolvidos, não podendo delas se afastar, sob pena de ofensa direta aos
princípios da legalidade, isonomia e da vinculação ao instrumento convocatório.

Dispõe o Edital, em seu subitem 4.2.5:

Disto resulta, que no momento de sua inscrição, a Requerente conhecia, ou ao menos


deveria conhecer de plano, as regras exaradas pelo comando editalício. Não é razoável a
relativização dos critérios de avaliação e correção das questões prático-processuais do concurso
para todos os candidatos que não obtenham a nota necessária para aprovação no exame de
ordem estabelecida pelo edital.

Portanto, não havendo demonstração de qualquer ilegalidade que justificasse a


intervenção do Judiciário no caso em exame, deverá o pedido da Autora ser indeferido, por ser
medida de justiça que se impõe.

5- DAS QUESTÕES IMPUGNADAS

Quesito 7 (FGTS)
A resposta encontra-se nas linhas 74 a 82 e está errada.

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O motivo de não ser devido o FGTS é porque o contrato está suspenso, sendo também
admissível a resposta de que somente se o evento fosse acidente do trabalho o FGTS
continuaria devido - e não porque seja indevido, como alardeou a candidata na linha 80 de sua
prova.

Melhor sorte o destino não reserva à alegação de falta de isonomia, pois o modelo
respondeu de forma diversa.

Logo, a resposta não atende ao gabarito. A nota deve ser mantida.

Quesito 8 (Integração ajuda de custo)


A resposta encontra-se nas linhas 84 a 90 e não satisfaz.
Deveras, a autora limitou-se a dizer que a ajuda de custo não integra a
remuneração, linha 89.
Isso é insuficiente para justificar a ausência de integração determinada
judicialmente.
Conforme gabarito divulgado, a banca examinadora esperava a resposta de ser
indevida por não ter a ajuda de custo natureza salarial, conforme previsto na norma de
regência, sendo ainda admitida a fundamentação de que a ajuda de custo tem natureza
indenizatória. Nenhuma delas foi atendida pela autora.
Não se cogita de falta de isonomia neste item, e nos demais porque o contexto
é diferente e as respostas foram diversas. A nota deve ser mantida.

Questão 4-A
A resposta encontra-se nas linhas 1 a 9 e está errada.
Diversamente daquilo defendido pela Autora em sua prova, a garantia no
emprego não se consolida indiscriminadamente e fora do prazo em qualquer situação. Não
mesmo.

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O que o TST fez foi relativizar o prazo legal e admitir que a garantia no emprego
do dirigente sindical se consolide mesmo que a comunicação ao empregador seja feita fora do
prazo legal mas ainda na vigência do contrato de trabalho.

É nisso que falhou gravemente a candidata em sua resposta, pois não impôs
limites a essa comunicação. Especulando, se o dirigente sindical comunicasse acerca da sua
eleição – e respectiva garantia no emprego – após o término do contrato, a garantia no emprego
não seria reconhecida, nem mesmo pelo entendimento consolidado do TST. A nota deve ser
mantida.

6- CONCLUSÃO

Diante do exposto, pede seja a segurança denegada.

Com fulcro no art. 272, § 5º, do CPC, requer, para todos os fins legais e processuais,
sob pena de nulidade, que TODAS as intimações e publicações relativas ao presente processo
sejam feitas exclusivamente em nome do advogado DÉCIO FREIRE, inscrito na OAB/RS 97.892-
A, por meio do Diário de Justiça Eletrônico, em obediência ao art. 205, § 3º, do CPC e art. 14,
da Resolução nº 234/2016 do Conselho Nacional de Justiça – CNJ.

Pede-se deferimento.
Belo Horizonte, 30 de março de 2023.

Décio Freire Leonardo José Melo Brandão


OAB/RS 97.892-A OAB/MG 53.684

Geraldo Afonso Sant’Anna Júnior Ana Clara Soares Chaves


OAB/MG 55.662 OAB/MG 181.110

Eduardo Kossoski
OAB/MG 213.889

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