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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.

557/2015-8

GRUPO II – CLASSE I – Primeira Câmara


TC 028.557/2015-8
Natureza(s): Recurso de reconsideração em prestação de
contas – exercício de 2014
Órgão/Entidade: Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de Alagoas – Sebrae/AL
Responsáveis: Jose Roberval Cabral da Silva Gomes
(381.834.804-97); Marcos Antônio da Rocha Vieira
(034.472.944-34); Ronaldo de Moraes e Silva (729.763.497-
20)
Recorrente: Serviço de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas
de Alagoas (12.517.413/0001-27)
Representação legal:
Henrique José Cardoso Tenório (10157/OAB-AL) e Vagner
Paes Cavalvanti Filho (OAB/AL 7.163), representando Serviço
de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas
Manuella Frazão Lopes Cavalcanti (4224/OAB-AL),
representando Jose Roberval Cabral da Silva Gomes e Marcos
Antônio da Rocha Vieira

SUMÁRIO: CONTAS ANUAIS. EXERCÍCIO DE 2014.


DESCUMPRIMENTO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.
INTEMPESTIVIDADE NA ADOÇÃO DE PROVIDÊNCIAS
JUNTO À EMPRESA CONTRATADA. FRAGILIDADES
NA GESTÃO DOCUMENTAL DOS PROCESSOS
RELATIVOS ÀS AQUISIÇÕES DE PASSAGENS AÉREAS.
CONTRATAÇÃO DE ENTIDADE, MESMO SEM FINS
LUCRATIVOS, CUJO DIRIGENTE OCUPE TAMBÉM
CARGO NO CONSELHO DELIBERATIVO ESTADUAL
OU NO CONSELHO FISCAL. CIÊNCIA DA ENTIDADE.
RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO. CONHECIMENTO.
PROVIMENTO PARCIAL.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de reconsideração interposto pelo Serviço de Apoio às Micro e


Pequenas Empresas de Alagoas contra o Acórdão 5.112/2017-1ª Câmara, proferido em processo
de contas anuais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de
Alagoas – Sebrae/AL, referente ao exercício de 2014.
2. Mediante o referido acórdão, no que interessa no presente momento processual, foi dada
ciência ao Sebrae/AL acerca das seguintes impropriedades:

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“1.7.1.1. intempestividade na adoção de providências junto à empresa contratada em


virtude de descumprimento de cláusulas contratuais, como evidenciado em relação ao Contrato
26/2014;
1.7.1.2. fragilidades na gestão documental dos processos relativos às aquisições de
passagens aéreas, como identificado no Contrato 26/2014, celebrado com a empresa Aeroturismo
Agência de Viagens Ltda.; e
1.7.1.3. contratação de entidade, mesmo sem fins lucrativos, cujo dirigente ocupe também
cargo no Conselho Deliberativo Estadual ou no Conselho Fiscal, conforme verificou-se no
Contrato 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em desacordo com o disposto no
art. 39, inciso I, do Regulamento de Licitações e Contratos do Sebrae.”
3. Ao propor o conhecimento do recurso, proferi o seguinte despacho:
“Argumenta a unidade instrutiva que não há interesse da entidade em recorrer em razão
de:
‘a expedição de ciência não gera sucumbência aos seus jurisdicionados, ante seu caráter
não impositivo. Não têm o caráter de julgamento propriamente dito, suscetível a atingir
interesses jurídicos. Não se pode dizer, pois, que quanto a elas tenha havido a sucumbência
do interessado, viabilizadora da interposição de recurso. ...
Em um exercício de comparação, é por essa mesma razão que o STF não conhece de
mandado de segurança impetrado contra recomendações do TCU ...
A decisão do Tribunal que visa “dar ciência” ao jurisdicionado acerca de dada
impropriedade é utilizada no caso de serem constatadas falhas formais ou descumprimento
de leis, normas ou jurisprudência que não ensejem proposta de aplicação de multa aos
responsáveis, na dicção do art. 4º da Portaria Segecex 13/2011:
Art. 4º. As falhas formais ou descumprimento de leis, normas ou jurisprudência que não
tenham ensejado proposta de aplicação de multa nem de determinação constarão de item
específico da proposta de encaminhamento e devem ser objeto de CIÊNCIA aos
responsáveis pelo órgão/entidade.’
3. Acontece que o objeto das mencionadas ciências é a constatação pelo Tribunal de que
houve falhas em procedimentos adotados pela entidade. Ou seja, houve sim a elaboração de um
juízo de valor acerca de atos praticados pelos dirigentes do Sebrae/AL.
4. Ora, ao tomar ciência de um determinado apontamento feito pelo TCU, se espera que o
jurisdicionado abstenha-se de proceder de tal maneira. Não se pode negar, pois, que foi
estabelecido uma condicionante para futuras ações desses jurisdicionados. Caso contrário, em
não se esperando nenhuma ação corretiva por parte do gestor, o instituto da ciência seria
desnecessário e desprovido de utilidade.
5. É certo que não se trata de uma determinação, de forma que os dirigentes da entidade não
poderiam ser apenados, por si só, pelo descumprimento do preconizado pela “ciência”.
Entretanto, também é fato que, caso procedam em desacordo com o então preconizado, o
Tribunal poderá não só poderá afastar a incidência de boa-fé como considerar esse
comportamento quando da dosimetria de eventual sanção.
6. Em suma, como apontado, o que se espera de um gestor diligente é que ele haja de acordo
com os entendimentos do TCU, quer externados mediante o instituto da determinação quer
mediante o instituto da ciência. Assim, vislumbra-se ser difícil a situação do gestor que é
notificado de uma “ciência” e não pode questioná-la apesar de entendê-la inadequada.

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7. Há, pois, a meu sentir, o devido interesse da entidade em justificar os seus procedimentos,
de forma a afastar as “ciências” em questão e dar a necessária segurança jurídica para os
futuros atos a serem praticados, no sentido de não considerá-los contrários ao entendimento
manifestado pelo TCU.
8. Finalmente, observo que o instituto da ciência pouca relação tem com o da recomendação,
pois, ao se utilizar desse último instituto, não se questiona a licitude de determinado ato
administrativo, mas tão somente oferece-se ponderações para auxiliar o exercício pelos gestores
de seu poder discricionário em determinada situação.
9. Em sendo assim, ao contrário da proposta da unidade técnica, entendo presente o
pressuposto do interesse, de forma que conheço do presente recurso de reconsideração para que
seu exame de mérito possa ser realizado.”
4. Quanto ao mérito do recurso, o analista assim se manifestou, com o respaldo do diretor:
2. “Delimitação
3. Discute o recorrente: a) ausência de fundamentação da decisão em contrariedade ao art. 68,
II do Regimento Interno, não tendo sido analisado os argumentos da defesa, com violação dos
princípios da ampla defesa e do contraditório; b) ausência de violação dos princípios
constitucionais da legalidade, moralidade e impessoalidade.
4. Da fundamentação da decisão segundo o procedimento previsto no Regimento Interno
5. Afirma o recorrente que a decisão não fora fundamentada, em contrariedade com o art. 69, II
do Regimento Interno, violando os princípios do contraditório e da ampla defesa, sem a
análise de argumentos de defesa da entidade.
Análise
6. O artigo 5º, LV, da Constituição da República, assegura aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, o direito ao contraditório e à ampla defesa, com os meios e recursos
inerentes. Tem-se, assim, que o direito à ampla defesa não é absoluto, sendo firme a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o seu exercício pelos
jurisdicionados deve se dar de acordo com as normas processuais que regem a matéria (cf.
AGRAI nº 152.676/PR, Ministro-Relator Maurício Corrêa, in DJ 3/11/95); é dizer, o direito à
ampla defesa será exercido em conformidade com o procedimento estabelecido em lei, no
caso concreto, a Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União – Lei n. 8.443/92 –, o
Regimento Interno e os demais normativos pertinentes.
7. De acordo com o rito estabelecido na Lei n.º 8.443/92 e no Regimento Interno, no processo de
TCE perante o TCU, o julgamento por relação é admissível quando a proposta de deliberação
acolhe os pareceres convergentes, nos termos do art. 143, I, “a”, verbis:
Art. 143. A critério do relator poderão ser submetidos, mediante Relação, ao Plenário e às
câmaras, observadas as respectivas competências, os processos:
I – de prestação ou tomada de contas, inclusive especial, cuja proposta de deliberação:
a) acolher os pareceres convergentes do titular da unidade técnica e do representante do
Ministério Público, desde que se tenham pronunciado pela regularidade, pela regularidade
com ressalva, pela quitação ao responsável ou pelo trancamento;

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8. Todavia, razão assiste ao recorrente quanto a violação das garantias do contraditório e da


ampla defesa: embora o tema da “Contratação de empresas que apresentam membros do
Conselho Deliberativo Estadual e Conselho Fiscal do Sebrae como dirigentes, contrariando a
vedação prevista no art. 39, I, do Regulamento de Licitações e Contratos do Sebrae (Item
3.1.1.2 do Relatório de Auditoria, peça 5, p. 37-45)” (peça 10, p. 8, itens 53-57) tenha sido
indicado no relatório preliminar contido na peça 10, não foi objeto da proposta de
encaminhamento (peça 10, item 108), nem dos ofícios de audiência (peça 13-14), razão pela
qual há uma violação do contraditório no julgamento que alcança pontos para os quais os
responsáveis não foram previamente ouvidos.
9. Com mais razão no caso presente em que a defesa dos responsáveis (peças 141-142) não
tratou do tema da contratação do Instituto Euvaldo Lodi, tema que serviu como fundamento
para o julgamento recorrido, razão pela qual a nulidade apontada é insanável, não sendo
possível o aproveitamento indicado no art. 171 do Regimento Interno.
10. Note-se que a única situação de aproveitamento seria na hipótese do Tribunal decidir o
mérito do julgamento em favor da parte (art. 171, parágrafo único, do RI/TCU), não sendo o
entendimento particular a ser encaminhado no presente parecer, razão pela qual se
encaminha, como questão formal preliminar, a declaração de nulidade do julgamento e nova
oitiva dos responsáveis para os pontos omissos.
11. Da violação dos princípios constitucionais da legalidade, moralidade e impessoalidade
12. Alega o recorrente a ausência de violação dos princípios constitucionais da legalidade,
moralidade e impessoalidade, uma vez que o Instituto Euvaldo Lodi não seria uma entidade
privada, mas entidade integrante do Sistema S, com afinidades finalísticas com as atividades
desempenhadas pelo Sebrae.
13. Entende que o Regulamento prevê a contratação direta de Serviços Sociais Autônomos e de
entidades de ensino, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico, validando a
contratação realizada.
14. Alega que não existe confluência de interesses, uma vez que as entidades possuem natureza
pública, não tendo finalidade de lucro. Assevera que o representante da entidade é mero
mandatário do ente coletivo, não contribuindo com recursos próprios. Entende que as
contratações realizadas sob os mandamentos das normas de licitação com a contratação por
preço de mercado não geram prejuízo pelo mero assento no Conselho Deliberativo.
15. Afirma a aplicação analógica da Lei 9.637/98 (Lei das Organizações Sociais), entendendo
que a presença de membros no conselho de administração seria uma forma de controle
finalístico das entidades. Afirma a incidência da Lei 13.019/2014 (regime jurídico das
parcerias) que permite a celebração mesmo quando o dirigente seja agente político de poder
(art. 39, III).
16. Por fim, assevera a ausência de favorecimento dos dirigentes em termos financeiros ou
administrativos, bem como a ausência de prejuízo ao erário, invocando o julgamento do RE
789.874/STF ao entender que as entidades não se submeteriam aos princípios do art. 37,
caput da CF/88.
Análise

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17. Excluída a questão preliminar de nulidade debatida no tópico anterior, a questão de mérito
em debate é a contratação de entidade (Instituto Euvaldo Lodi) cujo gestor detém assento no
Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae/AL, questão que foi assentada no julgamento dos
Acórdãos 3.852/2009-TCU-1a Câmara (Rel. Min. Augusto Sherman) e 2.506/2006-TCU-2a
Câmara (Rel. Min. Augusto Sherman):
Acórdão 3.852/2009-TCU-1a Câmara
5.3.3. Em que pese os argumentos apresentados, não é razoável admitir-se que as mesmas
pessoas ocupem posições-chave tanto na entidade concedente quanto na convenente, em
especial nas situações, respectivas, de Conselheiros (Deliberativo e Fiscal) e responsáveis
pela celebração e execução de convênio, pois se tornam, na prática, fiscais de si mesmos.
Acórdão 2.506/2006-TCU-2a Câmara
Segundo o Controle Interno, a vedação da participação de empregados ou dirigentes do
Sistema Sebrae nos processos licitatórios instaurados, inclusive a respectiva contratação, tem
por objetivo não apenas impedir a contratação de pessoas jurídicas com fins lucrativos mas
também impedir a participação em licitações realizadas pelo Sebrae de empregados e
dirigentes que, em razão do exercício de suas atribuições, detêm informações privilegiadas
sobre a entidade.

18. Verifica-se, portanto, que a conduta adotada no órgão importou a fragilização do princípio
da segregação de funções, decorrente da concomitância no exercício da função de
conselheiro deliberativo do Sebrae/AL e da gestão do Instituto Euvaldo Lodi, cuja existência
está assentada no art. 39 do Regulamento de Licitações do Sebrae:
Art. 39. Não poderão participar de licitações nem contratar com o Sistema SEBRAE:
I – empregado ou dirigente de quaisquer das entidades ao mesmo operacionalmente
vinculadas;
II – ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo, ex-empregado ou ex-dirigente de
quaisquer das entidades ao mesmo operacionalmente vinculadas, estes até 180 (cento e
oitenta) dias da data da respectiva demissão.

19. A interpretação restrita dada pelo recorrente, no sentido de que o Regulamento do Sebrae
estaria apenas impedindo a contratação de entes privados (situação em que existe um nítido
interesse econômico do contratado), não é a mais correta, pois a contratação de entes com
natureza pública também estariam alcançados pela norma, protegendo a atividade
fiscalizatória imposta aos agentes, bem como o dever de zelo com as informações
privilegiadas obtidas pelo exercício das funções.
20. Destaque-se que a questão não se resolve pela demonstração de possibilidade de contratação
direta dos serviços sociais autônomos ou de entidades de ensino e pesquisa, uma vez que o
caso particular encerra uma proibição subjetiva especial, qual seja, o fato específico da
mesma pessoa ter assento simultâneo no cargo deliberativo do Sebrae e de cargo executivo no
ente contratado.
21. No caso, não há se discutir a questão de dano ao erário (prejuízo econômico) ou
favorecimento pessoal, pois a tutela não é de eventual dano efetivo observado, mas de lesão
aos princípio inerentes a contratação das entidades públicas, cuja observância é obrigatória
nos termos do próprio Regulamento a que se submete o Sebrae.

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22. No que tange a invocação do RE 789.874/DF, afirmando a dispensa dos princípios


constitucionais previsto no art. 37, caput, da CF/88, o fato das entidades arrecadarem
recursos públicos (contribuições parafiscais: art. 8º, § 3o da Lei 8.029/90, no caso particular
do SEBRAE) impõe o dever de fiscalização estatal e exigem o controle sobre a manutenção
do padrão mínimo de legitimidade, conforme destacado no julgamento paradigmático do RE
789.874/DF, pelo Supremo Tribunal Federal:
Sem embargo de sua natureza jurídica e da sua autonomia administrativa, todas essas
entidades se submetem à fiscalização do Tribunal de Contas da União, sujeição que decorre
do art. 183 do Decreto-lei 200/67 e do art. 70 da Constituição Federal de 1988.
Dispõe, com efeito, o artigo 183 do Decreto-lei 200/67:
art . 183. As entidades e organizações em geral, dotadas de personalidade jurídica de direito
privado, que recebem contribuições parafiscais e prestam serviços de interesse público ou
social, estão sujeitas à fiscalização do Estado nos termos e condições estabelecidas na
legislação pertinente a cada uma.
Dispõe, por sua vez, o artigo 70 da Constituição:
art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União
e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada
Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos
quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.
(....)
9. Cumpre enfatizar, finalmente, que a não obrigatoriedade de submissão das entidades do
Sistema “S” aos ditames do art. 37, notadamente ao seu inciso II, da Constituição, não exime
essas entidades de manter um padrão de objetividade e eficiência na contratação e nos gastos
com seu pessoal. Essa exigência constitui requisito de legitimidade da aplicação dos recursos
que arrecadam para a manutenção de sua finalidade social. Justamente em virtude disso,
cumpre ao Tribunal de Contas da União, no exercício da sua atividade fiscalizatória,
exercer controle sobre a manutenção desse padrão de legitimidade, determinando, se for o
caso, as providências necessárias para coibir eventuais distorções ou irregularidades.

23. Resta evidenciado que a situação discutida, estando alcançada pelos próprios normativos
internos, está dentro do âmbito de fiscalização da Corte de Contas para a manutenção do
padrão de legitimidade, obstando eventuais distorções ou irregularidades, não sendo possível
alegar de forma genérica a ausência de subsunção a totalidade dos princípios explicitados no
art. 37 da Constituição Federal.
24. Por fim, a invocação das Lei 9.637/98 (Lei das Organizações Sociais) e 13.019/2014 (regime
jurídico das parcerias) não resolvem a questão, por debaterem a questão do ponto de vista da
assunção dos cargos na entidades, não tratando especificamente do regime de contratação e
de eventuais limitações decorrentes dos princípios e dos regulamentos aplicáveis.
conclusões

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25. O contraditório e a ampla defesa se concretizam no processo em curso no Tribunal de Contas


da União segundo as normas processuais que regem a matéria. Embora o procedimento de
julgamento por relação tenha assento regimental (art. 143, I, “a”, RI/TCU), o recorrente
apontou de forma correta que o fundamento de julgamento de mérito discutido no presente
recurso não foi objeto dos ofícios de audiência, circunstância que justifica a declaração de
nulidade do julgamento, não sendo possível o aproveitamento dos atos até então praticados.
26. Eventualmente, caso superada a preliminar, a questão de mérito relativamente a contratação
do Instituto Euvaldo Lodi na hipótese de concomitância do exercício da função de conselheiro
do Sebrae e dirigente do contratado esbarra nas limitações regulamentares do Sebrae,
conforme a jurisprudência da Corte, corroborando o entendimento contido na decisão
recorrida.
27. A proibição não se relaciona apenas ao interesse econômico subjacente, mas a violação de
princípios de fiscalização e guarda de informações privilegiadas, razão pela qual a proibição
subsiste ainda que dentro da relação de entes de natureza pública. Na mesma linha, a
proibição observada no caso independe da aferição de dano ao erário ou favorecimento
pessoal, por se tratar de princípios de observância obrigatória.
28. A entidades arrecada recursos públicos, recaindo o dever de fiscalização estatal e exigindo o
controle sobre a manutenção do padrão mínimo de legitimidade (RE 789.874/DF), sendo que
a observância do próprio regramento do Sebrae está inserido no âmbito do controle da
legitimidade.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Deste modo, submete-se à consideração superior a presente análise do recurso de
reconsideração interposto pelo Serviço de apoio às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas
contra o Acórdão 5.112/2017-TCU-1a Câmara, para propor, com base nos artigos 32 e 33, da
Lei 8.443/92, c/c o artigo 285 do RI/TCU, a decretação de nulidade da decisão por violação do
contraditório e, eventualmente, caso superada a preliminar suscitada, na questão de mérito,
negar provimento ao recurso, dando ciência aos órgão indicados no item 9.8 da decisão
originária.”
5. O titular da unidade técnica divergiu desse entendimento:
3. Em proposta de mérito, o auditor, com a concordância do titular da subunidade (em
exercício), acolhe preliminar de nulidade da decisão recorrida levantada pelo recorrente
arguindo, fundamentalmente, prejuízo insanável à ampla defesa. Segundo a análise, macularia
irremediavelmente o acórdão recorrido a circunstância de não terem sido submetidos ao
contraditório os fatos/fundamentos que resultaram na ordem para “dar ciência” ao Sebrae/AL
acerca de irregularidade verificada no Contrato 24/2010. A irregularidade apontada na decisão
(item 1.7.1.3 do acórdão) consiste no exercício da função de Conselheiro do Sebrae/AL por
dirigente da entidade contratada (desobediência ao art. 39, I, do Regulamento de Licitações e
Contratos do Sebrae).
4. Quanto à referida preliminar, divirjo da proposta formulada no âmbito da subunidade,
embora, de fato, a ciência da irregularidade tenha sido dirigida ao Sebrae/AL, ora recorrente,
que não foi chamado a exercer contraditório. Foram formalizadas apenas audiências aos
gestores responsáveis. Mesmo os ofícios que materializaram tais audiências (peças 13 e 14) não
contemplaram questionamento acerca do referenciado Contrato 24/2010 ou, ainda que
genericamente, sobre a irregularidade apontada no dispositivo combatido.
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5. Conforme bem ponderado por sua Excelência, em juízo inicial de admissibilidade, o


dispositivo em questão (“dar ciência”) reveste-se de certo caráter sucumbencial, bastante para
reconhecer o interesse recursal e autorizar o conhecimento do recurso. Entretanto, para avançar
à declaração de nulidade do acórdão recorrido, conforme propõe agora a subunidade, seria
preciso demonstrar prejuízo efetivo à entidade recorrente, o que não se vê no caso concreto. Esta
conclusão encontra respaldo em precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF) em que se
discutiu o alcance da Súmula Vinculante 3, cujo exato teor merece transcrição:
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e
a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do
ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão. [Grifou-se].
6. Em circunstâncias variadas, a linha adotada pelo STF tem sido exatamente a de refutar
a obrigatoriedade do contraditório prévio quando a decisão do TCU não implicar
anulação/revogação de ato administrativo. Veja-se, a título de ilustração, o julgamento da Rcl
6396 AgR/DF, quando a Suprema Corte enfatizou, no particular, a natureza do processo de
contas ordinárias:
RECLAMAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 3.
PROCEDIMENTO DE TOMADA DE CONTAS. TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO. INADEQUAÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO. [...]. Sustenta [o agravante] que
o contraditório e a ampla defesa devem ser assegurados em qualquer processo
perante o Tribunal de Contas da União. Contudo, a Súmula Vinculante nº 3 se dirige,
exclusivamente, às decisões do Tribunal de Contas da União que anulem ou revoguem
atos administrativos que beneficiem algum interessado. Os precedentes que
subsidiaram a elaboração da Súmula Vinculante nº 3 tratam tão-somente de decisões
da Corte de Contas que cancelaram aposentadorias ou pensões. Em nenhum deles há
referência a procedimentos de tomadas de contas. O procedimento de tomadas de
contas se destina à verificação, pelo Tribunal de Contas, da regularidade da
utilização das verbas públicas pelos responsáveis. Ou seja, este procedimento não
envolve a anulação ou a revogação de um ato administrativo que beneficia o
administrador público. Inadequação da hipótese descrita nos autos à Súmula
Vinculante nº 3, razão por que incabível a reclamação. Agravo regimental
desprovido. (Rcl 6396 AgR, Relator Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, DJe
12/11/2009). [Grifou-se].
7. Posteriormente, no julgamento do MS 33983 AgR/MG, embora em contexto fático
diverso do precedente anterior, o STF novamente sublinhou a ausência de anulação/revogação de
ato administrativo pelo TCU como causa apta a afastar tese de violação ao contraditório. Merece
realce o fato de o referido julgamento ter apreciado situação muito mais gravosa do que a
versada nos presentes autos, pois ali o TCU expedira determinação expressa para que o
jurisdicionado não prorrogasse certo contrato administrativo (obrigação de não fazer para o
futuro). A ementa foi lavrada nos seguintes termos:
DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM
MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO TCU. CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA. NÃO PRORROGAÇÃO DE CONTRATO ADMINISTRATIVO.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. Não violação à Sumula
Vinculante 03/STF: o pronunciamento do Tribunal de Contas limitou-se a determinar
que a autoridade administrativa se abstivesse de prorrogar o contrato administrativo,
firmado com a empresa ora agravante. Não houve anulação ou revogação de nenhum
ato administrativo. 2. Não há direito líquido e certo à prorrogação de contrato
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celebrado com o Poder Público, mas mera expectativa de direito, subordinada à


discricionariedade da Administração Pública. Deste modo, não cabe falar em
violação ao contraditório e à ampla defesa. Precedente do Plenário. 3. [...]. (MS
33983 AgR, Relator Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe 9/5/2016).
[Grifou-se].
8. Em decisão monocrática posterior do Ministro Roberto Barroso, proferida em
23/8/2017 no âmbito do MS 31517/DF, que versou situação similar ao citado MS 33983, a
posição foi reiterada nos seguintes termos: “[...]. 9. Anoto, ademais, que a aplicação da súmula
vinculante 3/STF pressupõe a anulação ou a revogação de ato administrativo, situação que não
se verifica no presente writ. [...]”.
9. A mesma lógica permeia precedentes do TCU (p. ex. acórdãos 1.214/2014 e 1.094/2015,
ambos do Plenário). A partir deste último foi lavrado o seguinte enunciado:
No exercício de jurisdição objetiva pelo TCU, consubstanciada na emissão de
determinações abstratas aos jurisdicionados para o cumprimento de normas cogentes
de aplicação geral, não há nulidade de determinação em razão da ausência de
contraditório. (Acórdão 1.094/2015-Plenário; Relator Ministro JOSÉ MUCIO
MONTEIRO, enunciado da Diretoria de Jurisprudência/TCU).
10. Portanto, como regra, o contraditório é incontornável apenas nos casos em que a
decisão do TCU puder resultar em ônus específico à parte, o que se verifica em casos como o de
anular/revogar ato administrativo, impor penas, suprimir vantagens, condenar ao ressarcimento
de valores, restringir direitos, entre outros. O mesmo condicionamento procedimental não se
imporia se a decisão simplesmente veiculasse determinação ao jurisdicionado, no sentido de
adotar providências para o cumprimento de seus deveres legais, de suas atribuições institucionais
específicas, sem que daí resultassem obrigações a que o destinatário já não estivesse sujeito.
11. Conforme se infere dos precedentes citados, tal entendimento cabe nos casos em que o
TCU expede determinação, obrigação de fazer ou de não fazer, cujo eventual descumprimento o
ordenamento jurídico visa inibir, anunciando de antemão ao responsável gravosas consequências
(p. ex., Lei 8.443/1992, art. 16, § 1º; art. 18; art. 58, VII e § 1º). Ora, com maior tranquilidade, a
mesma lógica pode ser invocada nos casos, como o presente, em que o Tribunal singelamente “dá
ciência” de alguma irregularidade ao jurisdicionado, pois nenhuma obrigação, passível de
sanção, penderá sobre o responsável para o futuro, haja vista que: (i) a ciência refere-se a caso
concreto já apreciado pelo Tribunal (Contrato 24/2010), onde a Corte não vislumbrou gravidade
e/ou risco administrativo suficientes para sancionar responsáveis ou mesmo exarar determinação
à entidade; e (ii) o jurisdicionado sempre estaria obrigado a cumprir a norma aplicável e apenas
circunstancialmente referenciada pelo TCU, independentemente da ciência dada pelo Tribunal no
específico caso. Ou seja, não houve imposição de deveres ao Sebrae/AL que já não estivessem
inseridos em sua esfera de responsabilidade. A decisão de dar ciência ao recorrente de
irregularidade pontual verificada em dado procedimento de contratação decorre do entendimento
da Corte acerca das obrigações já impostas ao ente pelo ordenamento (Regulamento de
Licitações e Contratos do Sebrae), razão porque não se vislumbra prejuízo acarretado à dita
entidade em razão da decisão recorrida. Em situações do tipo, não custa referenciar o princípio
expresso em normas variadas de que, sem prejuízo, não há razão para reconhecer nulidade
processual (p. ex., RI/TCU, art. 171, caput; CPC, art. 282, §1º; CPP, art. 563).
12. Assim, ainda que se permita questionar o mérito da deliberação (conhecer e processar
eventual recurso), o “dar ciência” exarado pela Corte não necessitaria de contraditório prévio,
tendo em vista se originar de obrigação legítima do Sebrae/AL ante a conjuntura descrita nos
autos, como bem demonstra a própria instrução da subunidade quanto à questão de fundo
(irregularidade apontada no contrato 24/2010). Não havendo necessidade de franquear
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.557/2015-8

contraditório prévio em situações como a versada nestes autos, obviamente não há que se falar
em hipotética ausência de fundamentação da decisão recorrida por não ter considerado eventuais
argumentos de defesa que poderiam ser apresentados.
13. Portanto, a partir do que consta nestes autos, não encontro fundamento para sustentar
a preliminar de nulidade do Acórdão 5112/2017-TCU-1ª Câmara (item 1.7.1.3) formulada pela
subunidade.
14. Quanto ao mérito propriamente dito do recurso (irregularidade consignada quanto ao
Contrato 24/2010), ponho-me de acordo com a análise e as conclusões lançadas no âmbito da
subunidade (itens 14 a 27 e itens 29 a 31, da instrução precedente), no sentido de negar-lhe
provimento.”
6. O Ministério Público junto ao TCU assim se manifestou:
“Uma das falhas identificadas que fora fundamento de ciência ao Sebrae/AL e objeto
deste recurso foi a constatação de que o Contrato n.º 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo
Lodi (IEL), entidade sem fins lucrativos, encontrava-se em desacordo com o disposto no inciso I
do art. 39 do Regulamento de Licitações e Contratos do Sebrae, por tratar-se do exercício da
função de Conselheiro do Sebrae/AL por dirigente da entidade contratada (peça 182, p. 1).
2. Ao analisar este recurso, a instrução técnica concluiu, com a anuência da chefia imediata
(peça 181), pela procedência das alegações em sede de preliminares, e pela consequente nulidade
da decisão, em razão da violação da garantia do contraditório, uma vez que o ato impugnado não
fora objeto nem dos ofícios de audiência (peças 13-14), nem das propostas de encaminhamento
da instrução inicial (peça 10, item 108), e por isso, a questão dessa contratação também não foi
tratada na defesa dos responsáveis (peças 141 e 142).
3. Se superada a preliminar, no mérito, a instrução propõe o desprovimento deste recurso
(peça 180, p. 6).
4. Não obstante, o titular da Serur, em percuciente parecer, concluiu que não haveria
prejuízos à parte e, portanto, não há razão para reconhecer a nulidade processual, pois a
necessidade do contraditório seria “incontornável apenas nos casos em que a decisão do TCU
puder resultar em ônus específico à parte” (peça 182, p. 3).
5. O argumento do Secretário baseia-se no fato de que a “ciência” dada pelo Acórdão
recorrido se refere a caso no qual a Corte de Contas não vislumbrou gravidade ou risco
administrativo suficiente para sancionar os responsáveis nem mesmo para exarar
“determinação” à entidade. Além disso o jurisdicionado sempre esteve obrigado a cumprir a
norma aplicada, ou seja, “não houve imposição de deveres ao Sebrae/Al que já não estivessem
inseridos em sua esfera de responsabilidade” (peça 182, p. 3).
6. Em tese, esses argumentos são irretocáveis. Entretanto, verifica-se que, no caso em
concreto, talvez haja potencial de efetivo prejuízo ao Conselheiro que é dirigente da contratada
ou ao próprio Sebrae que talvez tenha que deixar de contratar inúmeras entidades parceiras
atuais, tais como Universidades, Federações das Indústrias, Comércio e Agricultura, entre
outros, conforme alega na peça recursal: “não se trata de conflitos de interesse e sim de
Instituições em fins lucrativos, cujos objetivos sociais são confluentes e trabalham em prol do
desenvolvimento do Estado de Alagoas” (peça 164, p. 3).
7. Desse modo, recebida a “ciência” do TCU, ainda que esse comando tenha caráter
abstrato, a consequência direta e cogente para o Sebrae seria o afastamento do dirigente ou a
anulação do contrato com tal entidade parceira, com efetivos prejuízos ou obrigações decorrentes
da decisão do TCU, pelo menos momentâneos, para a gestão da entidade, nos moldes
semelhantes a uma “determinação” do TCU.
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8. Neste sentido, é possível imaginar as dificuldades dos dirigentes do Sebrae/AL em


justificar eventual manutenção da situação identificada em relação ao Contrato n.º 24/2010, após
a “ciência” da Corte de Contas, em uma eventual fiscalização ou prestação de contas posterior
da entidade.
9. Em outras palavras, ainda que não seja um comando direto para anulação do Contrato n.º
24/2010 ou para afastamento do respectivo dirigente conselheiro, um desses efeitos seria
consequência direta da decisão atacada, afetando o direito subjetivo do conselheiro em manter-se
no cargo ou do Sebrae/AL em manter o contrato de seu interesse, sem prévia manifestação deles,
o que ofende o princípio ao contraditório e ampla defesa tão respeitados na jurisprudência da
Corte (p.ex. Acórdão n.º 1413/2007-Primeira Câmara, relator Augusto Nardes), até em situações
menos gravosas, como na omissão do nome do advogado constituído na publicação da pauta da
sessão de julgamento (p.ex. Acórdão n.º 3004/2016-Plenário, Relator Augusto Sherman; e
Acórdão n.º 2429/2017-Primeira Câmara, Relator Walton Alencar Rodrigues).
10. Ainda relativamente ao mérito, não foi possível encontrar na peça recorrente (peça 171) a
alegação de que o Instituto Euvaldo Lodi seria entidade integrante do Sistema S, conforme
registrado na peça instrutiva (peça 180, item 15).
11. Também não foi possível encontrar na peça recursal registro da ausência de confluência
de interesses entre o Sebrae/AL e o IEL, conforme registrado no item 17 da peça instrutiva (peça
180). Ao contrário, na peça recursal há pelo menos seis menções da confluência de interesses
entre os parceiros (peça 171, p. 3, 4, 5 e 9).
12. Assim, revendo sua posição exarada na peça 151, por considerar que o caso concreto
demandaria a oitiva prévia do Sebrae/AL, esta representante do Ministério Público de Contas
manifesta-se de acordo com a proposta da instrução, em sede de preliminar, pela nulidade da
decisão recorrida, por violação ao princípio do contraditório, nos termos dos arts. 32 e 33 da Lei
n.º 8.443/92 c/c art. 171 do RI/TCU.
13. Se superada a preliminar, propõe-se o provimento parcial do recurso, para alterar o item
1.7.1.3. do Acórdão recorrido, retirando da sua redação a menção “conforme verificou-se no
contrato 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL)”, deixando apenas a menção
genérica de “contratação de entidade, mesmo sem fins lucrativos, cujo dirigente ocupe também
cargo no conselho deliberativo estadual ou no conselho fiscal”.
É o relatório.

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VOTO
Trata-se de recurso de reconsideração interposto pelo Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas de Alagoas contra o Acórdão 5.112/2017-1ª Câmara, proferido em
processo de contas anuais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do
Estado de Alagoas – Sebrae/AL, referente ao exercício de 2014.
2. Mediante o referido acórdão, no que interessa no presente momento processual, foi dada
ciência ao Sebrae/AL acerca das seguintes impropriedades:
“1.7.1.1. intempestividade na adoção de providências junto à empresa contratada em
virtude de descumprimento de cláusulas contratuais, como evidenciado em relação ao
Contrato 26/2014;
1.7.1.2. fragilidades na gestão documental dos processos relativos às aquisições de
passagens aéreas, como identificado no Contrato 26/2014, celebrado com a empresa
Aeroturismo Agência de Viagens Ltda.; e
1.7.1.3. contratação de entidade, mesmo sem fins lucrativos, cujo dirigente ocupe
também cargo no Conselho Deliberativo Estadual ou no Conselho Fiscal, conforme verificou-
se no Contrato 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em desacordo com o
disposto no art. 39, inciso I, do Regulamento de Licitações e Contratos do Sebrae.”
3. A unidade instrutiva propôs, de início, o não conhecimento do recurso em razão da
ausência de interesse da entidade em recorrer, pois “a expedição de ciência não gera
sucumbência aos seus jurisdicionados, ante seu caráter não impositivo”.
4. Divergi desse entendimento ao proferir despacho com o seguinte teor:
“[houve] a constatação pelo Tribunal de que houve falhas em procedimentos adotados
pela entidade. Ou seja, houve sim a elaboração de um juízo de valor acerca de atos praticados
pelos dirigentes do Sebrae/AL.
4. Ora, ao tomar ciência de um determinado apontamento feito pelo TCU, se espera que o
jurisdicionado abstenha-se de proceder de tal maneira. Não se pode negar, pois, que foi
estabelecido uma condicionante para futuras ações desses jurisdicionados. Caso contrário, em
não se esperando nenhuma ação corretiva por parte do gestor, o instituto da ciência seria
desnecessário e desprovido de utilidade.
5. É certo que não se trata de uma determinação, de forma que os dirigentes da entidade
não poderiam ser apenados, por si só, pelo descumprimento do preconizado pela “ciência”.
Entretanto, também é fato que, caso procedam em desacordo com o então preconizado, o
Tribunal poderá não só poderá afastar a incidência de boa-fé como considerar esse
comportamento quando da dosimetria de eventual sanção.
6. Em suma, como apontado, o que se espera de um gestor diligente é que ele haja de
acordo com os entendimentos do TCU, quer externados mediante o instituto da determinação
quer mediante o instituto da ciência. Assim, vislumbra-se ser difícil a situação do gestor que é
notificado de uma “ciência” e não pode questioná-la apesar de entendê-la inadequada.
7. Há, pois, a meu sentir, o devido interesse da entidade em justificar os seus
procedimentos, de forma a afastar as “ciências” em questão e dar a necessária segurança
jurídica para os futuros atos a serem praticados, no sentido de não considerá-los contrários ao
entendimento manifestado pelo TCU.
8. Finalmente, observo que o instituto da ciência pouca relação tem com o da
recomendação, pois, ao se utilizar desse último instituto, não se questiona a licitude de
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.557/2015-8

determinado ato administrativo, mas tão somente oferece-se ponderações para auxiliar o
exercício pelos gestores de seu poder discricionário em determinada situação.
9. Em sendo assim, ao contrário da proposta da unidade técnica, entendo presente o
pressuposto do interesse, de forma que conheço do presente recurso de reconsideração para
que seu exame de mérito possa ser realizado.”
5. Assim, por estarem presentes os demais requisitos de admissibilidade previstos nos arts.
32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992, cabe conhecer do recurso e adentrar-lhe o mérito.
II
6. Argumenta o recorrente, em síntese, que (peça 171):
– não constou do acórdão recorrido a fundamentação das ciências dirigidas ao
Sebrae/AL; e
– na contratação de entidade cujo dirigente ocupe também cargo no Conselho
Deliberativo Estadual ou no Conselho Fiscal do Sebrae, não se pode cogitar em afronta aos
princípios constitucionais da legalidade, moralidade e impessoalidade, na medida em que o
Instituto Euvaldo Lodi (IEL) é um instituto criado por entidades integrantes do próprio Sistema
“S”.
7. O auditor da unidade técnica, com a anuência da chefia imediata e do Ministério
Público junto ao TCU, manifestou-se pela nulidade da decisão combatida, em razão da violação
da garantia do contraditório, pois a entidade não havia sido instada a se manifestar previamente
sobre os fatos objeto da ciência efetuada por esta Corte de Contas.
8. O titular da Serur concluiu que não haveria prejuízos à parte e, portanto, não há razão
para reconhecer a nulidade processual, pois a necessidade do contraditório seria “incontornável
apenas nos casos em que a decisão do TCU puder resultar em ônus específico à parte”.
9. Quanto ao mérito, os pareceres da unidade técnica foram unânimes em propor a
negativa de provimento ao recurso. Já o Ministério Público junto ao TCU propôs retirar a
menção ao Instituto Euvaldo Lodi (IEL) da parte dispositiva da decisão combatida, por
entender que esse instituto possui confluência de interesses com o Sebrae/AL.
III
10. Em relação à alegada ausência de fundamentação para a expedição das ciências,
rememoro que essa questão foi especificamente tratada nos embargos de declaração opostos
contra a decisão ora impugnada (Acórdão 1.026/2018-1ª Câmara). No voto condutor desse
acórdão assim constou:
“não assiste razão à entidade embargante em alegar omissão na fundamentação do
Acórdão 5112/2017-1ª Câmara. A deliberação foi proferida em relação por ajustar-se
perfeitamente à previsão do art. 143, inciso I, alínea “a”, do RI/TCU, tendo constado
expressamente da decisão que seu fundamento advinha dos “pareceres emitidos nos autos pela
Secex/AL e pelo MP/TCU (peças 148/151)”.
11. Ou seja, como sói acontecer em processos julgados por relação (art. 1443 do Regimento
Interno do TCU), a fundamentação das deliberações é extraída da instrução da unidade técnica
e do parecer do Ministério Público junto ao TCU.
III.1.
12. A ciência referente à “intempestividade na adoção de providências junto à empresa
contratada em virtude de descumprimento de cláusulas contratuais, como evidenciado em
relação ao Contrato 26/2014” foi assim fundamentada (peça 148, p. 5-6):
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“o Sebrae/AL deixava por conta da empresa a recuperação dos créditos dos


bilhetes aéreos não voados, realizando apenas “a guarda e o controle dos bilhetes em uma
pasta colecionadora” (peça 141, p. 9), enquanto esperava o crédito ser feito, ou seja, caso a
empresa contratada não adotasse providências de recuperação dos créditos, tal procedimento
não seria executado.
30. Esta omissão quanto à necessidade de adoção de medidas para recuperação dos
créditos dos bilhetes aéreos não voados e as respectivas taxas de embarque, além de revelar
fragilidades no controle e na fiscalização contratual, encontra-se em desacordo com a
Cláusula Terceira, Subcláusula Primeira, item “i”, do Contrato 26/2014 (peça 88, p. 23).
...
33. A ausência de um controle organizado e contínuo, por parte do gestor, dos valores
informados pelas agências nos bilhetes de viagem, propicia a ocorrência de fraudes e de
prejuízo ao erário, como já assentado em jurisprudência do TCU (Acórdãos 1.314/2014 e
554/2015, ambos do Plenário).”
III.2.
13. Já a ciência referente a “fragilidades na gestão documental dos processos relativos às
aquisições de passagens aéreas, como identificado no Contrato 26/2014, celebrado com a
empresa Aeroturismo Agência de Viagens Ltda.” foi assim fundamentada (peça 148, p. 9-10):
“Como destacam os responsáveis, o Núcleo de Viagens do Sebrae/AL não deixava no
processo a evidência de que a compra da passagem aérea havia sido adquirida pelo menor
preço (peça 141, p. 16), ou seja, não havia a guarda da comprovação dos preços das
passagens, consultados nos sites das empresas aéreas, como forma de cotejar com os preços
praticados pela agência de viagens contratada, quando do envio da fatura.
...
63.1. Não constavam nos processos de aquisição, nem nos processos de pagamento, a
comprovação de que a passagem adquirida era a mais vantajosa ao Sebrae/AL, dentre as
opções que atendiam à solicitação de viagem.
63.2. Não eram realizadas consultas fora do sistema fornecido pela agência contratada (por
exemplo, em sites de agências Web e nas próprias companhias aéreas), para confirmar a
veracidade das informações repassadas pelas agências.
63.3. Os comprovantes de embarque não eram inseridos no processo nem no sistema que
gerenciava a concessão das viagens e diárias, ou seja, eram guardados em pastas, por ordem
alfabética dos passageiros, dentro do exercício financeiro, depois guardados no setor de
contabilidade. Além disso, por ser impresso em papel térmico, muitas vezes, os comprovantes
de embarque apagam com o tempo, tornando inviável a confirmação de sua autenticidade.
Nem todos os comprovantes de embarque eram disponibilizados pelos passageiros,
principalmente quando se tratava beneficiários externos ao quadro funcional do Sebrae/AL.
63.4 Não constavam nos processos os comprovantes de que os beneficiários das passagens
emitidas participaram das atividades que motivaram a viagem, quando cabível (feiras, cursos
etc.).”(grifou-se).
III.3.
14. Em relação à terceira ciência, “contratação de entidade, mesmo sem fins lucrativos,
cujo dirigente ocupe também cargo no Conselho Deliberativo Estadual ou no Conselho Fiscal,
conforme verificou-se no Contrato 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em
desacordo com o disposto no art. 39, inciso I, do Regulamento de Licitações e Contratos do
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Sebrae”, assim constou do voto do Acórdão 1.026/2018-1ª Câmara que integrou a decisão ora
recorrida:
“Em todas as instruções lavradas no processo, foi expressamente indicado o
fundamento para a ressalva e a ciência expedida, a saber:

[item 106.c da peça 148]:


“a Contratação de entidade, mesmo sem fim lucrativo, cujo dirigente ocupe também
cargo no Conselho Deliberativo Estadual ou no Conselho Fiscal, conforme verificou-se
no Contrato 24/2010, celebrado com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), constitui infração
ao disposto no art. 39, inciso I, do Regulamento de Licitações e Contratos do Sebrae e
aos posicionamentos deste Tribunal nos Acórdãos 2.506/2006-TCU-2ª Câmara e
3.852/2009-TCU-1ª Câmara.” [Grifei.]” (grifou-se).
IV
15. Quanto ao argumento de que, previamente à expedição da ciência, deveria ter sido
efetuada a oitiva da entidade, acompanho o parecer do titular da Secretaria de Recursos no
sentido de que a tese não merece prosperar.
16. Isso porque a jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido de que no “exercício de
jurisdição objetiva pelo TCU, consubstanciada na emissão de determinações abstratas aos
jurisdicionados para o cumprimento de normas cogentes de aplicação geral, não há nulidade
de determinação em razão da ausência de contraditório” (v.g. Acórdãos 1.809/2020-1ª Câmara
e 1.094/2015-Plenário).
17. No que diz respeito à Súmula Vinculante 3 do STF, a própria Corte Suprema já
esclareceu que se dirige, “única e exclusivamente, às decisões do Tribunal de Contas da União
que anulem ou revoguem atos administrativos que beneficiem algum interessado” (Rcl 6.396
AgR, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgamento em 21.10.2009, DJe de
13.11.2009) , o que não é o caso das ciências aqui tratadas.
18. Veja-se que o fato de ter sido mencionado determinado ato administrativo na parte
dispositiva da deliberação do TCU ocorreu apenas para ilustrar o entendimento desta Corte de
Contas, pois não se exigiu qualquer medida adicional do gestor em referência ao mencionado
ato. Pelo contrário, está expresso na parte dispositiva que se buscou apenas evitar a reincidência
das práticas apontadas.
19. Ou seja, a expedição da ciência ocorreu tendo em vista atos futuros dos gestores para
que sejam cumpridas as normas aplicáveis, não cabendo, portanto, a existência de contraditório
prévio para a elaboração de decisão com tal conteúdo.
V
20. Superadas as questões preliminares, passo a tratar do mérito da matéria, registrando que
o recorrente somente apresentou alegações pertinentes à contratação do Instituto Euvaldo Lodi
(IEL).
21. O regulamento de licitações e contratos do Sistema Sebrae assim dispõe:
“Art. 39. Não poderão participar de licitações nem contratar com o Sistema Sebrae:
I – empregado ou dirigente de quaisquer das entidades ao mesmo operacionalmente
vinculadas;
II – ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo, ex-empregado ou ex-
dirigente de quaisquer das entidades ao mesmo operacionalmente vinculadas, estes até 180
(cento e oitenta) dias da data da respectiva demissão.
4

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.557/2015-8

Parágrafo único. Para fins de admissão de ex-dirigente e ex-empregado do Sistema


Sebrae no Sistema de Gestão de Credenciados – SGC será observado prazo mínimo de
carência de 60 (sessenta) dias, contado da data de demissão do interessado.” (grifou-se).
22. Com efeito, a norma busca evitar conflitos de interesse que ocorreriam caso empregado
ou dirigente do Sebrae participasse de licitações promovidas pela própria entidade.
23. Cabe, entretanto, trazer à baila as considerações que fiz recentemente ao tratar de caso
semelhante envolvendo o Sebrae/CE (Acórdão 1.809/2020-1ª Câmara).
24. Consoante o art. 3º do Decreto 99.570/1990, as seguintes entidades integram os
conselhos e A diretoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –
Sebrae:
“Art. 3º O Sebrae terá um Conselho Deliberativo composto por treze membros, um
Conselho Fiscal composto por cinco membros e uma Diretoria Executiva, cujas competências
e atribuições serão estabelecidas nos seus estatutos e regimento interno.
§ 1º O Conselho Deliberativo será composto de representantes:
a) da Associação Brasileira dos Centros de Apoio às Pequenas e Médias Empresas
(Abace) ;
b) da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Industriais
(Anpei) ;
c) da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos de
Tecnologias Avançadas (Anprotec) ;
d) da Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB) ;
e) da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) ;
f) da Confederação Nacional do Comércio (CNC) ;
g) da Confederação Nacional da Indústria (CNI) ;
h) da Secretaria Nacional da Economia do Ministério da Economia, Fazenda e
Planejamento;
i) da Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE) ;
j) do Banco do Brasil S.A.;
l) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ;
m) da Caixa Econômica Federal (CEF) ; e
n) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)”
25. Dada a natureza dessas entidades que participam dos conselhos e da diretoria do
Sistema Sebrae, parece-me imperioso identificar em que medida haveria, de fato, conflito de
interesse na celebração por parte do Sistema Sebrae de contratos com essas entidades.
26. Ora, os serviços sociais autônomos são entidades que desenvolvem atividades de
interesse público. Igualmente o fazem os órgãos/entidades integrantes da administração pública
cujos representantes participam da direção dos serviços sociais autônomos. Assim, no contexto
das relações entre essas entidades, mesmo em âmbito contratual, não vislumbro conflito de
interesse a ser afastado.
27. A prevalecer o entendimento ora combatido, o Sebrae, por exemplo, não poderia mais
contratar o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai (vinculado à Confederação

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Nacional da Indústria), que é um dos cinco maiores complexos de educação profissional do


mundo e o maior da América Latina.
28. No bojo do voto condutor do Acórdão 1.809/2020-1ª Câmara, foram dados, em relação
a outras unidades do Sebrae, outros exemplos de contratações que estariam prejudicadas:
“contratos celebrados nos últimos cinco anos com o Instituto de Pesquisa Agropecuária
de Rondônia, Certi, Senai, Senar, UFMA, dentre outras entidades que participam dos
conselhos do Sistema Sebrae.”
29. Sendo assim, não identifico, pelo menos em tese, situação de confronto entre interesses
públicos e privados nas contratações pelo Sebrae de integrantes de seus conselhos que façam
parte da administração pública. Pelo contrário, o fato de essas entidades participarem dos
conselhos do Sebrae demonstram uma confluência de interesses a justificar atuações em
conjunto.
30. Por certo, esse entendimento não desincumbe as entidades do Sistema Sebrae da
observância dos princípios e normativos que regem suas contratações, devendo, portanto, a eles
se submeterem, mesmo diante de uma eventual contratação daquelas entidades.
31. Nessa linha, mediante o Acórdão 1.809/2020-1ª Câmara, foi efetuada a seguinte
determinação ao Sebrae Nacional:
“adote as medidas necessárias para impossibilitar a participação, em licitações e
contratações com o Sistema Sebrae, de empregado ou dirigente de quaisquer das entidades ao
mesmo operacionalmente vinculado, dos membros dos respectivos Conselho Deliberativo e
Fiscal, bem como das pessoas jurídicas que tenham em seus quadros as pessoas físicas já
qualificadas, e, ainda, quando elas próprias, pessoas jurídicas, tenham assento nos conselhos
deliberativos ou fiscal das entidades que compõem o Sistema Sebrae, ressalvados, neste último
caso, os demais serviços sociais autônomos ou outras pessoas jurídicas integrantes da
administração pública;” (grifou-se).
32. Retornando ao caso concreto, verifico que o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), cuja
contratação fundamentou a expedição da ciência ora em análise, está diretamente ligado à
Diretoria de Educação e Tecnologia (DIRET) da Confederação Nacional da Indústria. Ou seja,
por se tratar da exceção prevista na deliberação antes mencionada, não há motivos para se
supor conflito de interesses ante a confluência do objetivo institucional entre as duas partes
contratantes.
33. Em sendo assim, por ter sido descaracterizada a ocorrência que deu motivo à expedição
da ciência, entendo que esta deve ser tornada insubsistente.
VI
34. Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 1 de


dezembro de 2020.

BENJAMIN ZYMLER
Relator

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.557/2015-8

ACÓRDÃO Nº 13929/2020 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo nº TC 028.557/2015-8.
2. Grupo II – Classe de Assunto: I – Recurso de reconsideração em prestação de contas – exercício de
2014
3. Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Jose Roberval Cabral da Silva Gomes (381.834.804-97); Marcos Antônio da Rocha
Vieira (034.472.944-34); Ronaldo de Moraes e Silva (729.763.497-20)
3.2. Recorrente: Serviço de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas (12.517.413/0001-27).
4. Órgão/Entidade: Serviço de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR); Secretaria de Controle Externo do Trabalho e
Entidades Paraestatais (SecexTrab).
8. Representação legal:
8.1. Henrique José Cardoso Tenório (10157/OAB-AL) e Vagner Paes Cavalvanti Filho (OAB/AL
7.163), representando Serviço de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas
8.2. Manuella Frazão Lopes Cavalcanti (4224/OAB-AL), representando Jose Roberval Cabral da Silva
Gomes e Marcos Antônio da Rocha Vieira.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recurso de reconsideração interposto contra o
Acórdão 5.112/2017-1ª Câmara, proferido em prestação de contas,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. nos termos dos arts. 32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992, conhecer do presente recurso de
reconsideração para, no mérito, dar-lhe provimento parcial de forma a tornar insubsistente o subitem
1.7.1.3. do Acórdão 5.112/2017-1ª Câmara; e
9.2. dar ciência deste acórdão ao recorrente.

10. Ata n° 43/2020 – 1ª Câmara.


11. Data da Sessão: 1/12/2020 – Telepresencial.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-13929-43/20-1.
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Bruno
Dantas e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


WALTON ALENCAR RODRIGUES BENJAMIN ZYMLER
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
RODRIGO MEDEIROS DE LIMA
Procurador
1

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