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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2017.0000262049

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2119648-81.2016.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante
FORMED BR MATERIAIS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA - EPP, é
agravado AUTARQUIA HOSPITALAR MUNICIPAL.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente) e JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE
ALMEIDA.

São Paulo, 18 de abril de 2017.

CAMARGO PEREIRA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Agravo de Instrumento nº 2119648-81.2016.8.26.0000


Agravante: FORMED BR MATERIAIS MÉDICOS E HOSPITALARES
LTDA - EPP
Agravado: AUTARQUIA HOSPITALAR MUNICIPAL
Comarca: São Paulo
Voto nº 14402

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREGÃO


ELETRÔNICO. SUSPENSÃO TEMPORÁRIA. A
suspensão de participação de licitação não pode restringir-
se a um órgão ou apenas a uma esfera administrativa,
pois os efeitos da penalidade inabilitam o sujeito para
contratação com a Administração como um todo.
Ausência dos requisitos legais autorizadores da concessão
da liminar. Inexistência de ilegalidade da decisão, desvio
de finalidade ou abuso de poder. Decisão que merece
subsistir.
Agravo de instrumento não provido.

Vistos.

Cuida-se de agravo de instrumento


interposto contra decisão que, nos autos da ação ordinária,
indeferiu o pedido de antecipação da tutela pleiteado pela
agravante.

Aduz a agravante que ao participar do


certame licitatório aberto pela agravada, Pregão Eletrônico nº
131/2015, processo nº 2015-0.118.627-9, foi inabilitada por
haver eventual apontamento negativo, impedimento de licitar
por um mês, aplicado unicamente no âmbito do Senado Federal.
Entende a agravante que a punição está restrita ao âmbito do
Senado Federal, portanto, não deveria ter reflexo para que
participasse do certame licitatório da Autarquia do Município de

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São Paulo.

Alega que recorreu administrativamente,


porém a agravada manteve a decisão de inabilitação no
certame e acrescentou aplicação de multa de 2% do valor
estimado do fornecimento e impedimento de licitar e contratar
com a Administração Pública pelo prazo de seis meses. Alega
ainda, que não houve dolo, má-fé ou falsidade na apresentação
da declaração de idoneidade, somente entendimento que não
haveria esta restrição. Pugna pela concessão da antecipação
de tutela para suspender os efeitos do ato administrativo.

Processado o recurso sem a tutela


pretendida (fls. 120/123), decorreu “in albis” o prazo para
apresentação de resposta (fl. 128).

É o relatório.

Inicialmente, vale lembrar que na sede


deste recurso, não é possível adentrar no efetivo mérito da
ação proposta, cabendo, unicamente, averiguar se estão
presentes os requisitos ensejadores da tutela pretendida.

A juíza “a quo” indeferiu o pedido de


antecipação dos efeitos da tutela, nos seguintes termos:

“ V is t os .
A dec is ã o a dmi nis tr a tiv a é do tad a d e p r es unç ão jur is
tan tum de r e tid ão. Pr ema tur a é a ant ec i paç ão da tut ela ,
n ão s e olv ida ndo de qu e a s u s pe ns ã o d o d ir e ito de li c it ar
não é r es tr i ta a u m ó r gã o. Ati nge a adm ini s tr aç ã o c omo um
to do. In def ir o , p ois da tu tel a.”

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Com efeito, trata-se de ação ordinária


objetivando suspender os efeitos do despacho punitivo que
aplicou as punições de multa e impedimento de licitar e
contratar com a Administração Pública.

A antecipação de tutela, como o nome


indica, importa no provimento do pedido ou parte dele de
forma excepcional, que só ocorreria de ordinário, depois de
exaurida a apreciação de toda a controvérsia, com a prolação
de sentença de mérito.

Para que seja deferido o pedido de tutela


de natureza antecipada, o novo Código de Processo Civil impõe
o preenchimento dos seguintes requisitos: a probabilidade do
direito, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo e a reversibilidade dos efeitos da decisão (art. 300,
caput e § 3º).

Na hipótese dos autos, requer a


agravante a suspensão dos efeitos do Ato Administrativo que
aplicou à agravante as punições de multa e impedimento de
licitar e contratar com a Administração Pública.

No entanto, em uma análise de cognição


sumária, adequada na fase vestibular do processo, não se
vislumbram a presença dos requisitos autorizadores da
concessão da liminar. Como bem salientado pela douta
magistrada na r. decisão que indeferiu o pedido da tutela
antecipada, “prematura é a antecipação da tutela, não se
olvidando de que a suspensão do direito de licitar não é restrita

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a um órgão” (fl. 58).

A agravante admite que teve contra si


penalidade exarada pelo Senado Federal e, em que pese a
alegação de que a penalidade não deveria ter reflexos aos
demais entes federativos, este Relator entende que a
suspensão temporária aplicada à empresa não fica limitada ao
âmbito do órgão, entidade ou unidade que aplicou a cominação.

O C. Superior Tribunal de Justiça firmou


entendimento no sentido de que a suspensão impede a empresa
de contratar com todos os entes da administração.

Neste sentido:

“ A DMI NIS TRA TIV O . LIC ITA ÇÃO . M AND ADO DE


SE G UR ANÇ A P REV ENT IVO . D ECL ARA ÇÃO DE
IN IDO NEI DAD E E XAR ADA PE LO EST ADO DO RI O D E
J ANE IRO . I MPO SSI BIL IDA DE DE CO N TRA TAÇ ÃO CO M A
ADM INI STR AÇÃ O P ÚBL ICA . 1 . A qu es t ão jur ídi c a pos ta a
j ulg ame nto c i nge - s e à APL ICA ÇÃO A TO D O S O S ENT ES
FED ERA DO S .
1. A que s tã o j ur í dic a p os t a a ju lga men to c in ge- s e à
r epe r c u s s ã o, nas di fer ent es es f er a s d e g ov e r no , d a
e mis s ão da de c la r aç ão de ini don eid ade pa r a c on tr a tar c o m
a Ad min is t r aç ão Púb lic a, pr e v is ta na Lei de Li c it aç õ es
c om o s anç ão pel o d es c ump r im ent o de c ont r at o
a dmi nis tr a tiv o.
2. In s ta ob s er v ar qu e n ão s e tr a ta de s an ç ão po r a to de
imp r ob ida de de age nte pú bli c o pr e v is ta no ar t . 1 2 d a L ei
8.4 29/ 199 2, tem a e m q ue o S upe r io r T r ib una l d e J us t iç a
po s s u i j ur i s pr udê nc i a l imi tan do a p r oi biç ão de c on tr a tar
c o m a Ad min is t r aç ão na es f er a mu nic ipa l, de ac o r do c o m a
ex ten s ão do da no pr o v oc ado . N es s e s ent ido : E Dc l no RE s p
102 185 1/S P, 2ª Tur ma, Re lat or a Mi nis tr a El ian a C alm on,
ju lga do em 23. 6.2 009 , D J e 6.8 .20 09.
3. 'P ela in ex e c uç ão tot al ou par c ia l d o c ont r at o a
Ad min is t r aç ão pod er á , g ar a nti da a p r év ia def es a , a pli c ar ao
c o ntr ata do as s eg uin tes s a nç õ es : ( . ..) IV - dec lar aç ã o d e
i nid one ida de par a l ic i tar ou c o ntr ata r c om a A dmi nis tr a ç ão
Pú bli c a' ( a r t. 87 da Le i 8 .66 6/1 993 ) .

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4. A def ini ç ão do te r mo Ad min is t r aç ão Púb lic a p ode s e r


e nc o ntr ada no pr ópr io tex to da c it ada Le i, que di s põ e, em
s eu ar t. 6º, X, qu e e la c or r es pon de à " Adm ini s tr aç ã o D ir e ta
e I ndi r et a d a U niã o, dos Es tad os , do Di s tr ito Fe der al e d os
Mun ic í pio s , abr ang end o i nc l us i v e as ent ida des c o m
p er s ona lid ade ju r íd ic a de di r ei to pr i v ad o s ob c on tr o le do
pod er púb lic o e da s f und aç õ es por el e i ns t itu ída s o u
m ant ida s '.
5. In fer e- s e d a l eit ur a do s d is p os i tiv os que o leg is l ado r
c onf er i u m aio r a br a ngê nc i a à de c la r aç ão de ini don eid ade
ao ut ili z ar a ex p r es s ão Ad min is t r aç ão Púb lic a, def ini da no
ar t . 6 º d a L ei 8.6 66/ 199 3. Des s a man eir a, c on s eq üên c ia
ló gic a d a a mpl itu de do ter mo uti liz ado é que o c on tr a tad o é
in idô neo pe r an te qua lqu er ór g ão púb lic o d o P aís . C om
efe ito , u ma emp r es a q ue for neç a r emé dio s a dul ter ado s a
um mu nic ípi o c ar e c er á d e i don eid ade pa r a for nec er
med ic a men tos à Uni ão.
6. A nor ma ger al da Lei 8. 666 /19 93, ao s e r e fer ir à
i nid one ida de par a l ic i tar ou c o ntr ata r c om a A dmi nis tr a ç ão
Pú bli c a, ap ont a p ar a o c ar áte r g ené r ic o d a r efe r id a s anç ão,
c u jos ef eit os ir r adi am por to das as es fer as de gov er n o.
7. A s an ç ão de de c la r aç ão de ini don eid ade é apl ic a da em
r az ão de fat os gr a v es de mon s tr ado r es da fa lta de
id one ida de da emp r es a p ar a li c it ar ou c on tr a tar c o m o
Po der Pú bli c o em ger al, em r a z ão do s p r in c íp ios da
mo r al ida de e d a r az o abi lid ade .
8. O Sup er i or Tr i bun al de J us tiç a t em ent end ime nto de qu e
o te r mo ut ili z ad o p elo le gis lad or - A dmi nis tr a ç ão Pú bli c a - ,
no dis pos iti v o c on c er nen te à a pli c aç ão de s an ç õe s p elo
en te c on tr a tan te, de v e s e es t end er a t oda s a s e s fe r as da
Ad min is t r aç ão, e não fi c ar r e s tr ito àq uel a q ue efe tuo u a
pu niç ão.
9. Re c ur s o Es p ec i al pr o v id o.” ( A c ór dão pr ofe r id o n o R Es p
52 055 3/R J , r el ata do pel o M ini s tr o H ERM AN BEN J AM IN,
pu bli c ad o e m 1 0.2 .11 )

Diante do exposto, pelo meu voto, nego


provimento ao recurso.

Ademais, está incluído no poder


discricionário do Juiz conceder, ou não, a tutela pleiteada,
desde que a decisão não seja teratológica, o que, aí sim,
permitirá ou até exigirá revisão pela instância superior.

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Quando do indeferimento da pretendida


antecipação da tutela recursal, levaram-se em consideração
esses mesmos fundamentos, não sobrevindo aos autos nenhum
elemento que pudesse influir em resolução divergente.

CAMARGO PEREIRA
Relator

Agravo de Instrumento nº 2119648-81.2016.8.26.0000 -Voto nº 14402 7

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