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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

23/09/2021

Número: 1051007-96.2021.4.01.3400
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador: 6ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 20/07/2021
Valor da causa: R$ 10.732,75
Assuntos: Processo Administrativo Disciplinar ou Sindicância, Responsabilidade Civil do Servidor
Público / Indenização ao Erário, Descontos Indevidos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO REGO JOAO PAULO GONCALVES DA SILVA (ADVOGADO)
(IMPETRANTE) ANTONIO LAZARO MARTINS NETO (ADVOGADO)
COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO E ATENDIMENTO
DE PESSOAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (IMPETRADO)
UNIÃO FEDERAL (IMPETRADO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
74507 23/09/2021 16:41 Sentença Tipo A Sentença Tipo A
6977
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
6ª Vara Federal Cível da SJDF

SENTENÇA TIPO "A"


PROCESSO: 1051007-96.2021.4.01.3400
CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)
POLO ATIVO: EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO REGO
REPRESENTANTES POLO ATIVO: ANTONIO LAZARO MARTINS NETO - DF25354 e JOAO PAULO
GONCALVES DA SILVA - DF19442
POLO PASSIVO:COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO E ATENDIMENTO DE PESSOAS DO MINISTÉRIO
DA SAÚDE e outros

Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrado por EDUARDO SEARA
MACHADO POJO DO REGO em face do COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO E ATENDIMENTO DE
PESSOAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, com o objetivo de determinar à autoridade impetrada que se
abstenha de descontar de sua remuneração o valor de R$ 10.732,75 (dez mil setecentos e trinta e dois reais e
setenta e cinco centavos), decorrente do afastamento das funções do cargo público em razão do cumprimento
de prisão preventiva, com a devolução dos valores eventualmente descontados de sua remuneração.

Narra que é servidor público federal e que ficou preso preventivamente no período de
25.08.2020 a 16.11.2020, por força de decisão judicial proferida pela 5ª Vara Criminal de Brasília.

Informa que no âmbito do processo administrativo nº 25000.066913/2021-52 foi cientificado


sobre a reposição ao erário da quantia acima indicada em razão do afastamento das funções do cargo público
por ele ocupado.

Sustenta a nulidade desse ato ao argumento de que fere os princípios da presunção de


inocência e da irredutibilidade dos vencimentos.

Inicial instruída com documentos.

O Impetrante pediu a concessão da justiça gratuita.

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A análise do pedido liminar foi diferida para permitir a prévia formação do contraditório.

A União interveio no feito, na qualidade de pessoa jurídica interessada, requerendo o


indeferimento do pedido liminar.

Notificada, a autoridade impetrada ficou inerte.

O Impetrante reiterou o pedido liminar.

O Ministério Público Federal não se manifestou sobre o mérito da causa.

É o relatório.

Decido.

Consolidou-se o entendimento jurisprudencial de que a suspensão dos vencimentos do servidor


público em decorrência de sua prisão preventiva viola os arts. 5º, inciso LVII, e 37, inciso XV, da Constituição,
que preveem, respectivamente, os princípios da presunção de inocência e da irredutibilidade de vencimentos.

Nesse sentido, destaco os seguintes julgados:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. POLICIAL CIVIL. PRISÃO PREVENTIVA.
SUSPENSÃO DE VENCIMENTOS. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA E DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. DESPROVIMENTO.

1. A decisão proferida pelo Tribunal de origem contraria a jurisprudência desta Corte, uma
vez que a suspensão de vencimentos em virtude das faltas ao serviço decorrentes de prisão
preventiva atenta contra os princípios da presunção de inocência e da irredutibilidade dos
vencimentos do servidor público. Precedentes.

2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, 2ª Turma, RE 1104426 AgR, Rel.
Ministro EDSON FACHIN, DJ 07.05.2019).

EMENTA DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR


PÚBLICO ESTADUAL. PRISÃO PREVENTIVA. SUSPENSÃO DO PAGAMENTO DOS
VENCIMENTOS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
PRECEDENTES. CONSONÂNCIA DA DECISÃO AGRAVADA COM A JURISPRUDÊNCIA
CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E
AGRAVO MANEJADOS SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015.

1. O entendimento assinalado na decisão agravada não diverge da jurisprudência firmada no


Supremo Tribunal Federal, no sentido da impossibilidade de redução dos vencimentos de
servidor público preso preventivamente. Precedentes.

2. As razões do agravo interno não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que


lastrearam a decisão agravada.

3. Em se tratando de mandado de segurança, inaplicável o artigo 85, § 11, do CPC/2015.

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4. Agravo interno conhecido e não provido, com aplicação da penalidade prevista no art.
1.021, § 4º, do CPC/2015, calculada à razão de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado
da causa, se unânime a votação. (STF, 1ª Turma, ARE 1059669 AgR, Rel. Ministra ROSA
WEBER, DJ 03.04.2019).

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL. PRISÃO


PREVENTIVA. SUSPENSÃO DO PAGAMENTO ANTES DA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DA
IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE DANO
MORAL INDENIZÁVEL.

1. Visa o autor à anulação do ato administrativo que determinou a suspensão do pagamento


de seu subsídio em decorrência de estar preso preventivamente, a liberação dos
vencimentos bloqueados a partir de 27.02.2013 e à condenação da União ao pagamento de
danos morais.

2. O controle judicial dos atos administrativos cinge-se à constatação da existência de vícios


capazes de ensejar sua nulidade, sendo possível adentrar ao mérito administrativo naquelas
hipóteses em que, ainda que se cuide de espaço de atuação política reservado ao
administrador, as decisões se revelem arbitrárias e dissonantes da finalidade pública. A
possibilidade de análise do ato administrativo decorre do princípio da razoabilidade, pois,
dentre as diversas escolhas postas ao administrador, algumas são, aos olhos do senso
comum, inteiramente inadequadas. Nesses casos é evidente que o Poder Judiciário poderá
analisar o mérito.

3. Com efeito, dispõem os artigos 40 e 44, I, da Lei 8.112/1990 que o vencimento é a


retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, sendo possível a perda da
remuneração do dia em que o servidor faltar ao serviço, sem motivo justificado. Todavia,
consoante já se manifestou o Supremo Tribunal Federal, a suspensão dos vencimentos do
servidor público em decorrência de sua prisão preventiva representa afronta aos artigos 5º,
LVII e 37, XV, da Constituição da República, que preveem, respectivamente, a presunção de
inocência e a irredutibilidade de vencimentos. Dessa forma, não merece reparos a sentença
no ponto em que determinou o desbloqueio dos subsídios do autor, enquanto não houver
sentença penal condenatória transitada em julgado ou decisão administrativa irrecorrível,
bem assim ao pagamento dos vencimentos de forma retroativa, de 27.02.2013 até o efetivo
restabelecimento.

4. Não há nos autos comprovação de um dano moral indenizável, pois não houve violação a
direito de personalidade do autor, consistente em humilhação, constrangimento ou abalo de
tal modo grave que pudesse ensejar a reparação pretendida.

5. Apelação desprovida. Remessa oficial, tida por interposta, parcialmente provida, nos
termos do item 4. (TRF 1ª Região, 2ª Turma, AC 0005500-13.2014.4.01.4100, Rel. Des.
Federal JOÃO LUIZ DE SOUSA, DJ 03.08.2020).

No caso em comento, o Autor foi compelido a devolver ao erário a quantia acima indicada por
ter ficado afastado do cargo público por ele ocupado, no período de 14.09.2020 a 16.11.2020, por força de
prisão preventiva (ID 640951476).

Cuida-se de ato indevido, por contrariar o entendimento jurisprudencial acima colacionado.

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Portanto, impõe-se o acolhimento da pretensão autoral.

Por fim, examino o pedido liminar.

O deferimento desse pedido pressupõe os seguintes requisitos previstos no art. 7º, inciso III, da
Lei nº 12.016/2009: fundamento relevante e risco de ineficácia da medida.

O primeiro requisito decorre da fundamentação acima desenvolvida. O segundo requisito


também está presente, uma vez que os descontos na remuneração do Impetrante já se iniciaram.

Ante o exposto, concedo a segurança para determinar à autoridade impetrada que se


abstenha de descontar da remuneração do Impetrante o valor de R$ 10.732,75 (dez mil setecentos e trinta e
dois reais e setenta e cinco centavos), decorrente do afastamento das funções do cargo público em razão do
cumprimento de prisão preventiva, e para assegurar o direito do Impetrante à devolução dos valores
comprovadamente descontados de sua remuneração a esse respeito.

Sobre tais valores deverão incidir correção monetária, desde quando apurados, e juros de mora,
desde a citação, conforme o Manual de Cálculos da Justiça Federal.

Declaro a extinção do processo, com resolução do mérito, na forma do art. 487, inciso I, do
CPC.

Defiro o pedido liminar para determinar à autoridade impetrada que se abstenha de descontar
da remuneração do Impetrante o valor de R$ 10.732,75 (dez mil setecentos e trinta e dois reais e setenta e
cinco centavos), decorrente do afastamento das funções do cargo público em razão do cumprimento de prisão
preventiva.

Defiro o pedido de justiça gratuita, tendo em vista a remuneração líquida auferida pela parte
impetrante (ID 701746456).

Sem condenação em custas e honorários advocatícios, a teor do art. 25 da Lei nº 12.016/2009.

Sentença sujeita ao reexame necessário, por força do art. 14, § 1º, da Lei nº 12.016/2009.

Intimem-se.

(datado e assinado digitalmente)

IVANI SILVA DA LUZ

Juíza Federal Titular da 6ª Vara/DF

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