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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA DA

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE JEQUIÉ BA

Processo nº 8000270-95.2024.8.05.0141

Rodrigo Santos da Silva, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe de


AÇÃO ANULATÓRIA, neste ato representado por seu advogado que ao final subscreve,
vem, perante Vossa Excelência com fundamentos nos artigos 350 e 351 do código de
processo civil, apresentar a presente MANIFESTAÇÃO À CONTESTAÇÃO oferecendo
réplica, pelos fatos novos alegados o que doravante passa a expor.

I - DA TEMPESTIVIDADE

Salienta-se que a presente réplica é devidamente tempestiva, haja vista que o prazo para sua
apresentação é de 15 (quinze) dias úteis, contados da intimação do autor, nos moldes dos arts.
219, 224 e 350, CPC/15.

II - RESUMO DAS ALEGAÇÕES

Em sede de contestação, o estado da Bahia defende que a demanda implicará em prejuízo


diretamente no patrimônio jurídico dos demais candidatos alegando que suscitará em
reclassificação dos candidatos e que terão suas posições alteradas, se deferir a ação devendo
assim o autor ser intimado sobre a citação dos demais que devam ser litisconsortes.
Ocorre que os argumentos utilizados pela parte ré, não merecem acolhimento pelos motivos,
que serão impugnados a seguir.

III - DAS PRELIMINARES

Em sua defesa, o réu aduziu que a parte autora pretende que este douto juízo adentre o mérito
de litisconsórcio necessário, alegando que os demais candidatos serão afetados e deverão
participar da ação.
Trata-se da individualidade de cada litisconsorte

(...)

Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como
litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um
não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar.
Nesse sentido, Excelencia, as alegações não se aplicam a esta situação, visto que o art 117
código de processo civil trata-se que cada litisconsorte deve ser considerado como litigante
individual no processo e com seus direitos e obrigações próprias perante a parte adversa o
que cabe o requerente ter excepcionalmente a garantia da legalidade incluindo a anulação das
questões já apresentadas.

Uma questão que contém um erro não é capaz de aferir, de forma correta e eficaz, o
conhecimento por parte dos candidatos acerca do tema. O erro na questão, quando prejudica
sua compreensão por parte do candidato que a lê e resolve, impede que o candidato de fato
seja avaliado quanto ao conteúdo por ela abordado. Ora, se a questão está errada, o candidato
não poderá acertá-la de fato, a não ser que por uma coincidência e sorte marque a alternativa
que a banca tenha definido como a que “deveria” ser a correta.

Todavia, Excelência, em uma breve


aná lise da exordial é possível depreender que as
teses jurídicas em apreço nã o se aplicam a
situaçã o fá tica em debate, haja vista que no caso
em comento o Judiciá rio deve apreciar tã o
somente a
presença de erros grosseiros e cobranças arbitrárias nas questões 13, 18 e 36
da prova tipo 1 de Soldado da Polícia Militar do Estado da Bahia.
Desta forma, ressalte-se que o autor tem conhecimento dos
limitesda atuação do Poder Judiciário e, sendo assim, realmente não pretende
que este Poder substitua o requerido recorrigindo questões ou reavaliando
notas.
Existe apenas o interesse real de haja o controle de legalidade pelo
Poder Judiciário sobre as questões objetos e se utilize do próprio
entendimento consolidado na jurisprudência nacional.
Sobre o tema, os precedentes asseguram que é possível anulação de
questões objetivas com erros grosseiros, flagrantes ilegalidades e cobranças
arbitrárias de conteúdos inexistentes nas regras do edital pelo poder
judiciário, em observância aos princípios da legalidade e de vinculação ao
edital, como explicitado na parte final da súmula 473 do STF, já que esta é a
realidade do caso em apreço.
A despeito do que o réu afirma, é perfeitamente cabível que haja
controle de legalidade das questões de concurso público pelo Poder
Judiciário, isto é, não se questionará o mérito do ato administrativo que
envolva a questão, mas apenas a averiguação se a elaboração do enunciado
contenha erro grosseiro ou evidente ilegalidade.
A ilegalidade que se nota nas duas questões que o autor verifica
serem passíveis de anulação envolvem violação ao próprio edital do
concurso, uma vez que ele previa que cada questão teria apenas 1 (uma)
resposta correta, o que não ocorreu e se demonstrará a seguir.
Nesse ínterim, é sabido que são restritos os casos em que haverá
intervenção do Judiciário para anular questão baseada no mérito, salvo o erro
grosseiro:

“(...) A interferê ncia do Judiciá rio na avaliaçã o/correçã o de provas de


concurso pú blico é admitida somente quando evidenciada a ilegalidade do
edital, o seu descumprimento ou a existê ncia de erro grosseiro, sendo-lhe
vedado substituir os crité rios de correçã o de provas e atribuiçã o de notas
pela Comissã o competente”. (STF: MS21176, Plená rio, e RE 140.242, 2ª.
Turma). (Grifamos).”

Fato que é corroborado pela jurisprudência já juntada aos autos:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚ BLICO. CARGO DEAGENTE


PENITENCIÁ RIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CORREÇÃ ODE QUESTÕ ES.
PARTICIPAÇÃ O NAS DEMAIS FASES DO CERTAME.ATOS DE FORMAÇÃ O,
FORMATURA, NOMEAÇÃ O, POSSE,INCLUSÃ O E EXERCÍCIO DO CARGO.
DECISÃ O ULTRA PETITA. A parte agravada impetrou mandado de
segurança contra ato praticado pelo Superintendente dos Serviços
Penitenciá rios do Estado do Rio Grande do Sul - SUSEPE, postulando, em
sede deliminar, fosse assegurado o direito de prosseguir no certame
pú blico para o cargo de Agente Penitenciá rio, tendo em vista a apontada
nulidade das questõ es de nº 31, 32 e 33 da prova objetivado concurso
aberto pelo Edital nº 01/14-SUSEPE. O controle jurisdicional sobre as
provas de concurso realizado pela Administraçã o Pú blica deve ser exercido
com restriçã o, primando pelo exame de questõ es relacionadas à legalidade
e, em circunstâ ncias excepcionais, para proteger o candidato de erros
grosseiros de bancas examinadoras. Precedentes do STF e desta Corte.
Hipó tese em que há diversos precedentes das Câ maras integrantes do
Segundo Cível reconhecendo, dentro dos limites sindicá veis pelo Poder
Judiciá rio, a ausê ncia de ilegalidade no procedimento ou de erro grosseiro
na formulaçã o das questõ es de nº 31, 32 e 33 da prova objetiva do concurso
aberto pelo Edital nº01/14-SUSEPE. Liminar concedida que extrapolou os
limites da lide, pois nã o houve pedido da agravada para participar dos atos
deformaçã o, formatura, nomeaçã o, posse, inclusã o e exercício do cargo,
configurando decisã o ultra petita. Agravo de instrumento provido para
reformar a decisã o agravada no que tange à realizaçã o, pela autoridade
coatora, de todos os atos previstos para a sua formaçã o, formatura,
nomeaçã o, posse, inclusã o e exercício do cargo. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO (ART. 557, § 1º-A,DO CPC. (Agravo
de Instrumento Nº 70066903188, Terceira Câ mara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em 17/03/2016)”

A súmula 473 do STF confirma este poder de autotutela da


administração:

“Sú mula 473 STF A administraçã o pode anular seus pró prios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles nã o se originam
direitos; ou revogá -los, por motivo de conveniê ncia ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.” (Grifamos).

Além disso, no MS 13.237/DF, o STJ anulou questão de prova


por erro grosseiro/teratológico e dubiedade. E em caso bastante similar, o
Superior Tribunal de Justiça, no RMS 49.896 anulou uma questão da prova
dissertativa do concurso para o cargo de assessor da área jurídica do
Ministério Público do Rio Grande do Sul, entendendo que haveria grave
erro jurídico no enunciado da questão.
Nesse mesmo sentido, o relator, ministro Og Fernandes afirmou
que é dever das bancas examinadoras “zelar pela correta formulação das
Questões, sob pena de agir em desconformidade com a lei e o edital,
comprometendo, sem sombra de dúvidas, o empenho realizado pelos
candidatos durante Quase toda umavida”.
A turma declarou a questão nula e entendeu que tal nulidade iria ao
encontro da tese firmada pelo STF no recurso extraordinário, “pois estamos
diantede evidente ilegalidade, a permitir a atuação do Poder Judiciário”.
De mesma forma, segue a jurisprudência:

“(...) A interferência do Judiciário na avaliação/correção de provas de


concurso público é admitida somente quando evidenciada a
ilegalidade do edital, o seu descumprimento ou a existência de erro
grosseiro, sendo-lhe vedado substituir os crité rios de correçã o de provas
e atribuiçã o de notas pela Comissã o competente”. (STF: MS 21176,
Plená rio, e RE 140.242, 2ª. Turma). (Grifamos).

Este é o entendimento consolidado na jurisprudência, como se verifica


no colendo Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO. AGRAVOS REGIMENTAIS NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. CONCURSO DA POLÍCIA RODOVIÁ RIA FEDERAL. EVIDENTE
ERRO MATERIAL NA FORMULAÇÃ O DA QUESTÃ O IMPUGNADA.
POSSIBILIDADE DE ANULAÇÃ O PELO PODER JUDICIÁ RIO DE QUESTÃ O
OBJETIVA MACULADA COM VÍCIO DE ILEGALIDADE. PRECEDENTES
DESTA CORTE SUPERIOR DE JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁ LISE DO
PEDIDO DE NOMEAÇÃ O E POSSE NO CARGO POR AUSÊ NCIA DE PEDIDO
NA PETIÇÃ O INICIAL E DE ELEMENTOS SUFICIENTES A AFERIR A
CLASSIFICAÇÃ O DO AGRAVANTE NO CERTAME. AGRAVOS REGIMENTAIS
DA UNIÃ O E LUCIANO DE ALBUQUERQUE LEAL DESPROVIDOS.
1. Firmou-se no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que, em
regra, nã o compete ao Poder Judiciá rio apreciar crité rios na formulaçã o e
correçã o das provas, tendo em vista que, em respeito ao princípio da
separaçã o de poderes consagrado na Constituiçã o Federal, é da banca
examinadora desses certames a responsabilidade pelo seu exame (EREsp.
338.055/DF, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU 15.12.2003).
2. Excepcionalmente, contudo, havendo flagrante ilegalidade de
questão objetiva de prova de concurso público, bem como ausência de
observância às regras previstas no edital, tem-se admitido sua
anulação pelo Judiciário por ofensa ao princípio da legalidade e da
vinculação ao edital.
3. No caso em apreço, a questã o 2 da Prova de Língua Portuguesa, Caderno
36, do Concurso da Polícia Rodoviá ria Federal, regulado pelo Edital 1/2009,
está contaminada pelo vício de ilegalidade, que a macula de forma
insofismá vel, tornando-se, assim, suscetível de invalidaçã o na via judicial. É
importante ressaltar que aqui nã o se cuida de controle de mé rito, nem de
substituiçã o da valoraçã o reservada ao administrador; cuida-se, isto sim, de
controle de legalidade, sendo, pois, permitido ao Judiciá rio exercê - lo em
toda a sua plenitude.
4. O Recurso Especial do candidato foi provido para acolher integralmente
os pedidos formulados na petiçã o inicial do Mandado de Segurança, quais
sejam, anulaçã o da questã o n. 2 da prova de Língua Portuguesa e a
reclassificaçã o do agravante na lista de aprovados, sendo incabível a aná lise
do pedido de nomeaçã o e posse no cargo, sob pena de se incorrer em
julgamento ultra petita.
5. Nã o há nos autos elementos suficientes a aferir se o proveito obtido com
a anulaçã o da questã o seria suficiente a garantir a participaçã o do
agravante nas demais etapas do concurso e, tampouco, sua imediata
nomeaçã o no cargo.
6. Agravos Regimentais da UNIÃ O E LUCIANO DE ALBUQUERQUE LEAL
desprovidos.
(AgRg nos EDcl no AREsp 244.839/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃ O NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2014, DJe
11/11/2014)
Como se pode ver, os casos trazidos à baila demonstram o firme
propósito dos Tribunais, em evitar ao máximo a incursão do Poder Judiciário
no chamado “Mérito do Ato Administrativo”, o qual deve ter seus vícios
dirimidos pela Banca Examinadora do Concurso Público em questão.
Assim, por uma excepcionalidade, é admitida a interferência do
Poder Judiciário para tentar sanar talnulidade. Veja-se:

“ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚ BLICO. POLÍCIA RODOVIÁ RIA


FEDERAL. PROVA OBJETIVA. RECONHECIMENTO DE ERRO
MATERIAL NA ELABORAÇÃ O DE QUESTÕ ES. MATÉ RIA ESTRANHA
AO EDITAL. ERRO FLAGRANTE. ADMISSIBILIDADE DA
INTERVENÇÃ O DO JUDICIÁ RIO. 1. Consoante jurisprudê ncia do
Supremo Tribunal Federal, a rigor, “nã o compete ao Poder
Judiciá rio, no controle da legalidade, substituir a banca
examinadora para avaliar as respostas dadas pelos candidatos e as
notas a elas atribuídas” (MS 30.173 AgR/DF, Rel. Ministro Gilmar
Mendes, Segunda Turma, DJe de 01/08/2011).2. É admissível,
excepcionalmente, a revisão dos critérios adotados pela banca
examinadora nas situações em que configurado erro crasso na
elaboração de questão (STJ, RMS 33.725/SC, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 12/04/2011, DJe
de 26/04/2011; REsp 731.257/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe de 05/11/2008).”

Resta claro, Excelência, que em nenhum momento o recorrente


deseja que o Poder Judiciário aja como se fosse a Banca Examinadora, mas
sim, deseja a mais suma justiça, indo de encontro ao que argumenta e é
decidido pelo STF, em julgamento supracitado e que a interferência do
Judiciário na avaliação/correção de provas de concurso público é admitida
quando evidenciada a ilegalidade do edital, o seu descumprimento ou a
existência de erro grosseiro. O que exatamente ocorre no presente caso, como
amplamente demonstrado.
Portanto, é certo que os argumentos trazidos pela parte ré não merecem
prosperar, pois estamos diante de graves erros tanto nos enunciados
quanto nas alternativas, inclusive não condizendo com as regras
editalícias.
Resta demostrado inequivocamente que o presente caso demonstra
que houve violação ao chamado “princípio da proteção da confiança” que
vinculando-se à boa-fé objetiva e à segurança jurídica, visa à tutela das
expectativas formadas pela presunção de legitimidade que reveste os atos
administrativos emanados do Poder Público.
Logo, latente os erros anunciados das questões apresentas, há de
ser declarada a nulidade de ambas pelo Poder Judiciário, haja vista a
negatória do poder administrativo em corrigir as ilegalidade de ofício.

3.1 Das questões que merecem anulação: Objetivas necessidade de perícia


Ambos os réus alegam que o autor pretende que Poder Judiciário
proceda ao reexame de questões de prova, supostamente substituindo a banca
na correção das questões e causando violação ao princípio das separações dos
poderes.
Excelência, é válido ressaltar que o autor tem conhecimento dos
limites da atuação do Poder Judiciário e, resta claro diante do explanado que
não se pretende que este Poder corrija questões ou reavalie notas.
No que concerne à questão 13 da prova tipo 1, há notório erro
grosseiro consistente na elaboração da questão, uma vez que o enunciado não
indica com precisão e causa dubiedade aos candidatos ao não trazer clareza
quanto ao início da sequência a partir da figura 01 ou figura 04.
No mais, segundo jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
ocorrerá erro grosseiro nas respostas formuladas pela Banca Organizadora,
quando existirem duas respostas corretas, e consequente isso implicará
violação, já que esse (em regra) prevê somente uma alternativa correta para
cada questão.
E como já exposto exaustivamente, o edital exigia que cada
questão tivesse 1 alternativa correta, resta cristalina mais uma violação à lei
que vincula as partes no trâmite do concurso público.
Quanto à questão 18 da prova tipo 1, o tema sobre o qual a
assertiva disserta, não estã previsto no conteúdo programático do edital do
certame e não há qualquer menção ao conteúdo de razão entre duas
grandezas, qual seja o volume do cubo e da pirâmide volume do cubo e da
pirâmide, razão pela qual cabe a intervenção do poder judiciário com a
anulação da referida questão.
Por fim, no que tange à questão 36 da prova tipo 1 a banca exigiu
do candidato o conhecimento de um fato que ocorreu após a publicação do
edital. O edital foi publicado no dia 27 de setembro de 2022 e a premiação do
Grammy Latino citado na questão ocorreu em 17 de novembro de 2022.
Por óbvio, a banca não poderia cobrar o conteúdo de um fato que
ocorreu após a publicação do edital, a não ser que existisse no edital previsão
expressa autorizando tal cobrança, nesse sentido, o edital de abertura não
trouxe qualquer cobrança de conteúdo após à publicação do edital, assim é
nula uma vez que exigiu conteúdo não previsto no conteúdo programático no
edital do concurso público.
Além disso, por estar fora do âmbito de análise de Vossa
Excelência e existindo controvérsia entre as alegações das partes, fica
constatada a necessidade da prova pericial, assim, o juízo a quo não pode
realizar o julgamento antecipadamente.
Neste sentido, o CPC, no artigo 355, dispõe que o juiz julgará
antecipadamente o mérito quando não houver produção de provas, todavia,
no caso dos autos, há necessidade de provas, inclusive fora solicitado em
réplica.
Frise-se que o Poder Judiciário deve facultar à parte a produção de provas
necessárias à elucidação da lide, possibilitando mais completa
investigação dos fatos e, ao final, uma melhor tutela jurisdicional.
Excelência, para que não restam dúvidas, junta-se nessa
oportunidade dois julgados paradigmas, inclusive do Superior Tribunal de
Justiça em que se debateu justamente a prova pericial e a anulação de
questões em concurso púbico e os limites da atuação do poder judiciário,
vejamos:

“PROCESSUAL CIVIL E DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚ BLICO. CARGO DE
SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
ALEGAÇÃ O DE QUESTÕ ES COM MAIS DE UMA ALTERNATIVA CORRETA E
EM DESACORDO COM O CONTEÚ DO DO EDITAL DO CERTAME.
REQUERIMENTO DE PROVA PERICIAL OU UTILIZAÇÃ O DE PROVA
EMPRESTADA. INDEFERIMENTO. PODER JUDICIÁ RIO NÃ O PODE
SUBSTITUIR A BANCA EXAMINADORA. SALVO FLAGRANTE ILEGALIDADE.
PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL DETERMINANDO A PRODUÇÃ O DE
PROVA PERICIAL OU UTILIZAÇÃ O DE PROVA EMPRESTADA. PROVA
PERICIAL IMPRESCINDÍVEL PARA COMPROVAR
OU NÃ O AS TESES DA PARTE AUTORA. 1. Na origem, a presente
demanda versa sobre a anulação de três questões da prova de História
do Concurso Público de Admissão ao Curso de Formação de Soldados
da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tanto, a autora
alega que as questões foram formuladas em desacordo com o
conteúdo programático do edital do concurso, além de possuírem
mais de uma alternativa correta. 2. (...). 3. (...). 4. (...). 5. (...). 6. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de
que não poderá o Poder Judiciário substituir a banca examinadora na
avaliação e correção dos certames. Contudo, havendo flagrante
ilegalidade no contexto do procedimento administrativo ou verificada
a inobservância das regras previstas em edital, admite-se a
possibilidade de controle de legalidade. 7. Acrescenta-se que a
jurisprudê ncia dominante nesta Corte Superior é no sentido de que as
regras editalícias, consideradas em conjunto como verdadeira lei interna do
certame, vinculam tanto a administraçã o como os candidatos participantes.
Desse modo, o concurso pú blico deverá respeitar o princípio da vinculaçã o
ao edital. 8. Neste esteira, apenas se verificada patente ilegalidade
caberia a intervenção do Poder Judiciário. No caso, tanto o magistrado
sentenciante quanto o Tribunal de origem concluíram que a agravada
não conseguiu comprovar a ilegalidade no certame, que o Poder
Judiciário não poderia analisar o mérito administrativo e que não
poderia ser utilizado exame pericial de outro processo no caso, sob
pena de inobservância dos limites subjetivos da coisa julgada. 9. (...).
10. (...). 11. Nos EREsp n. 617.428, julgado pela Corte Especial, firmou-se o
entendimento de que a prova emprestada nã o pode se restringir a
processos em que figurem partes idê nticas, sob pena de se reduzir
excessivamente sua aplicabilidade, sem justificativa razoá vel para tanto
(EREsp n. 617.428/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial,
DJe de 17/6/2014). 12. No caso em apreço, somente a prova pericial
poderá comprovar a alegação da
recorrida, uma vez que, se efetivamente comprovado que havia
questões com mais de uma resposta correta e matérias que não
estavam previstas no edital, estaremos diante de caso de ilegalidade,
o que permitiria a análise pelo Poder Judiciário. 13. Ressalta-se, mais
uma vez, que a jurisprudê ncia nesta Corte Superior é no sentido de que as
regras editalícias, consideradas em conjunto como verdadeira lei interna do
certame, vinculam tanto a administraçã o como os candidatos participantes.
Desse modo, o concurso pú blico deverá respeitar o princípio da vinculaçã o
ao edital. Tal orientação tem como objetivo garantir que haja
segurança jurídica nas relações e respeito a boa-fé objetiva. 14. Desse
modo, imprescindível a realização da prova pericial para comprovar
ou não as teses apresentadas pela parte agravada. 15. Agravo interno a
que se nega provimento. (STJ - AgInt no AREsp: 1827101 RJ
2021/0020280-8, Relator: Ministro OG FERNANDES,
Data de Julgamento: 29/11/2021, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de
Publicaçã o: DJe 13/12/2021)”

Para melhor elucidação, transcreve alguns de trechos do voto do


Relator Og Fernandes, vejamos:

“Com efeito, nã o há reparo algum a ser realizado na decisã o recorrida,


porquanto, no caso em apreço, somente a prova pericial poderá comprovar
a alegaçã o da recorrida, uma vez que, se efetivamente comprovado que
havia questõ es com mais de uma resposta correta e maté rias que nã o
estavam previstas no edital, estaremos diante de caso de ilegalidade, o que
permitiria a aná lise pelo Poder Judiciá rio e nã o seria caso de interferê ncia
no mé rito administrativo.
Ressalta-se, mais uma vez, que a jurisprudê ncia nesta Corte Superior
é pacífica no sentido de que as regras editalícias, consideradas em conjunto
como verdadeira lei interna do certame, vinculam tanto a administraçã o
como os candidatos participantes. Desse modo, o concurso público
deverá respeitar o princípio da vinculação ao edital. Tal orientação
tem como objetivo garantir que haja segurança jurídica nas relações e
respeito a boa-fé objetiva.
Desse modo, entendo que a prova pericial seria imprescindível para
comprovar ou não as teses apresentadas pela parte agravada.”

Deste modo, requer-se a produção de prova pericial das questões


OBJETIVAS. Portanto, o não julgamento antecipado do mérito

4. Da perda da oportunidade de aplicação do princípio da eventualidade pela primeira ré.

Da preclusão costumativa.
Excelência como é sabido o princípio da eventualidade assegura que surgindo
oportunidade para a prática de um ato, o desprezo pela parte dessa
oportunidade impede que depois ela venha a renascer.
Pode ser demonstrada de forma nítida o princípio no art. 341 do
CPC, que obsta que o réu, superado o prazo da contestação, traga argumentos
defensivos que deveriam vir logo após a citação.
Associada à eventualidade está a preclusão, que indica justamente
a perda de um direito pela falta de exercício oportuno.
Nos termos do art. 341 do Estatuto Adjetivo " Incumbe também ao
réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da
petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas".
Assim, o momento processual oportuno para apresentação de TODA
matéria de defesa, circunscreve-se ao prazo de apresentação da contestação.
Assim, o Princípio da Eventualidade deve ser observado pelo réu,
quando da apresentação de sua contestação, pois, caso não alegue toda
matéria de defesa em tal ocasião, deverá ocorrer a denominada preclusão
consumativa, ou
seja, nã o lhe será lícito, apó s o prazo de apresentaçã o de contestaçã o, alegar

Por tal princípio, caberá ao réu impugnar TODOS (um a um) os fatos
aduzidos pelo Autor, sendo certo que, sobre os fatos nã o impugnados, devem
matéria que deveria ter alegado na contestação.
incidir os efeitos da revelia.
Desta forma, devido ao fato de o réu não ter contestado em
momento oportuno as alegações de nulidade da correção das questões da
parte autora no certame público deve ocorrer a presunção de veracidade dos
fatos alegados na inicial.
Além disso, a requerida Fundaçã o Getú lio Vargas nada aduziu acerca da
questã o nª 25 da prova tipo 1 (branca ou mesmo sobre a questã o discursiva, cujas

Portanto, todos os fatos nã o impugnados devem ser tratados desde já


legalidades se questionam.
como incontroversos, uma vez não impugnados.

5. Da tutela provisória de urgência pendente de apreciação


Da avaliação dos autos é possível verificar que o pedido de liminar
formulado pelo autor ainda não foi objeto de apreciação por Vossa
Excelência.
Além disso, diversas convocações foram realizadas em relação
a candidatos sub judice, configurando fatos supervenientes, razão pela qual
é imprescindível que o pleito liminar do autor seja devidamente apreciado
com a máxima vênia.
Nesse contexto, conforme termos da peça inaugural, foram
demonstrados os requisitos para a concessão da tutela de urgência pleiteada
foram devidamente preenchidos.
Observa-se que a probabilidade do direito advém das diversas
irregularidades contidas no edital, qual seja, a) erros grosseiros e por isso
evidentes, presentes nas questões 13, 18 e 36 da prova tipo 01 para o cargo de
aluno soldado da polícia militar da Bahia; b) desrespeito às regras editalícias
que garantia a existência de 1 (uma) alternativa certa para cada questão
formulada; c) Desrespeito a Jurisprudência atual do STJ; e, não menos
importante, d) Exigência de conteúdo programático não previsto
especificamente no edital.
A urgência é justificada pelo fato de o concurso abriu inscrições
para candidatos que foram prejudicados nessa etapa, logo haverão mais
candidatos a concorrer no certame, motivo pelo qual caso se esperar para
analisar o pedido tão somente ao final do processo poderá haver a
homologação do concurso e, consequentemente, o perecimento de seu direito.

Registra-se novamente que o objeto da tutela não gerará prejuízo,


uma vez que é possível até o final do processo, ser revista e modificada
(reversibilidade do provimento antecipatório) sem prejuízo para a
demandada, conforme disposto do art. 300 do CPC.
Logo, a medida deve ser deferida em caráter de urgência, liminar, “INAUDITA ALTERA PARS” (art.
294 e ss do NCPC), visto que a demandada ofendeu os princípios norteadores da administração pública.
Portanto, requer-se a apreciação imediata e a concessão da liminar ora pleiteada.

6. Dos pedidos

Diante do acima exposto, Requer:


a) O recebimento da presente réplica, a fim de dar TOTAL
PROCEDÊNCIA à ação, com a condenação dos Réus, em todos os pedidos
contidos na exordial;
b) A análise e consequente CONCESSÃO da tutela antecipada
de urgência, em decisão liminar, inaudita altera pars, para que seja
atribuída de maneira provisória ao candidato requerente a pontuação
decorrente da anulação das questões nº 13, 18 e 36 da prova tipo 1, fim de
permitir a correção da prova discursiva e demais etapas do concurso
público, no prazo de 72h, sob pena de multa diária;
c) Subsidiariamente, a concessão da antecipação de tutela, em
decisão liminar, inaudita altera pars, para que os réus sejam obrigados a
corrigir a prova discursiva do autor até que decidir sobre a anulação de
questões objetivas em discussão dos autos, bem como demais etapas do
concurso público, no prazo de 72h, sob pena de multa diária;
d) Defira a realização de prova pericial no que concerne às questões
objetivas nº 13, 18 e 36 da prova tipo 1 do concurso da PMBA, nos termos
do art. 464 do CPC;
e) Nos termos do art. 341 do CPC, seja determinada a preclusão
consumativa em relação, por ambos os requeridos terem deixado de
impugnar todas os parte das alegações da exordial, não tendo se valido do
princípio da eventualidade em momento oportuno, tendo precluído do
direito de contestar as alegações de nulidade das questões da parte autora no
certame público em debate, devendo assim ser presumida de veracidade dos
fatos alegados na inicial;
f) Que sejam julgados improcedentes todos os pedidos
formulados na contestação, posto que além de genéricos, buscam camuflar
os erros grosseiros nas questões que são manifestamente contra as
disposições editalícias e, consequentemente, ilegais, merecendo serem
anuladas.

Nestes termos,

Pede deferimento

Cidade/UF

Advogado / OAB

Jequié Ba 07 de Abril de 2024


(Neste ponto podera ser levantados alguns tópicos, tais como: IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO,
AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR, ALEGAÇÃO DE COISA JULGADA, LITISPENDÊNCIA, rebatendo
todos os tópicos que foram elencados em contestação)

IV - DO MÉRITO

(Reitera os termos utilizados na inicial, acrescendo apenas o que foi tido como novo em sede contestatória)

V - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer que sejam rechaçadas todas as preliminares aventadas na contestação, bem como a existência
de outro relacionamento, com o consequente acolhimento de todos os pedidos elencados na exordial.

Nestes termos,

Pede deferimento

Cidade/UF

Advogado / OAB

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