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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPIII C 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sessão: 05 - Dia 06/03/2023 - 18:00 às 19:50
Professor: ELISA RAMOS PITTARO NEVES

05 Tema: Procedimento sumaríssimo (continuação): Suspensão condicional do processo: natureza


jurídica. A suspensão como poder discricionário (extensão do direito de ação) ou direito subjetivo
do acusado. Iniciativa e momento da proposta. Aceitação e não aceitação da proposta.
Pressupostos. Condições obrigatórias e facultativas. Extinção da punibilidade.

1ª QUESTÃO:
Proferida sentença condenatória sem que tenha o Ministério Público ofertado a proposta de suspensão
condicional no curso da ação penal, ainda que presentes todos os seus requisitos, pode o Defensor,
posteriormente, em qualquer tempo e grau de jurisdição, requerer tal concessão? Fundamente a sua
resposta em, no máximo, 15 (quinze) linhas.

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RESPOSTA:
"É importante sublinhar que, presentes os pressupostos legais, não poderá o Ministério Público deixar
de oferecer a suspensão condicional do processo, que poderá ser aceita ou não pelo réu. Não se pode
esquecer que a medida insere-se na lógica do consenso, não apenas no sentido de que o réu é obrigado
a aceitar a proposta, mas também na perspectiva de que poderá negociar a duração e demais
condições.
Ainda que o dispositivo legal mencione que o Ministério Público "poderá propor", isso não significa
que seja uma faculdade do acusador. (...) Não é, assim, disponível para o Ministério Público e
tampouco pode transformar-se em instrumento de arbítrio.
E se, mesmo presentes os pressupostos legais, o Ministério Público não o fizer?
Voltamos ao mesmo ponto explicado anteriormente, quando analisados a transação penal, ou seja:
predomina o entendimento de que deverá o juiz aplicar o art. 28 do CPP, por analogia. Nesse sentido,
novamente citamos a Súmula n. 696 do STF, cujo verbete é: Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-
la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28
do Código de Processo Penal.
...
Em que pese ser esse o entendimento prevalente, insistimos em nossa posição de que essa é uma
solução excessivamente burocrática e fora da realidade diuturna dos foros brasileiros. Ademais,
atribui a última palavra ao próprio Ministério Público, retirando a eficácia do direito subjetivo do
acusado. Dessarte, presentes os pressupostos legais e insistindo o Ministério Público na recusa em
oferecer a suspensão condicional, pensamos que a melhor solução é permitir que o juiz o faça,
acolhendo o pedido do imputado, concedendo o direito postulado. Novamente, afirmamos que o fato
de atribuir-se ao juiz esse poder em nada viola o modelo constitucional-acusatório por nós defendido.
A sistemática é outra. O imputado postula o reconhecimento de um direito (suspensão condicional do
processo) que lhe está sendo negado pelo Ministério Público, e o juiz decide, mediante invocação. O
papel do juiz aqui é o de garantidor da máxima eficácia do sistema de direitos do réu, ou seja, sua
verdadeira missão constitucional."
(LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. pág. 973-974).

"13.4.3.4 Suspensão condicional do processo


(...)
Semelhante ao que ocorre com a transação penal, há divergência quanto à natureza jurídica da
suspensão condicional do processo. Parte da doutrina entende que se trata de direito público subjetivo
do acusado, pelo que, satisfeitos os requisitos legais, o Ministério Público não poderia deixar de
formular a proposta. Outra corrente entende que se trata de ato consensual, não sendo possível impor
ao Ministério Público

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aformulação da proposta. Quem entende tratar-se de direito público subjetivo do acusado, ante a recusa
do Ministério Público em propor a suspensão, admite que o juiz, de ofício, formule a proposta. Por sua
vez, quem considera tratar-se de um ato de consenso, se não houver proposta do Promotor de Justiça, o
juiz deverá, aplicando por analogia o art. 28 do CPP, remeter o processo ao Procurador-Geral de Justiça,
para que este: (1) formule a proposta; (2) designe outro promotor para formular a proposta; (3) insista na
não formulação da proposta. Esta segunda posição foi referendada recentemente, pela Súmula n. 696 do
STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-
Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal".
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015, pág. 634-635).

"Caso a proposta não seja formulada pelo titular da ação penal por ocasião do oferecimento da peça
acusatória, deve a defesa técnica protestar por sua apresentação, sob pena de preclusão. Na visão dos
Tribunais Superiores, a nulidade decorrente do silêncio, na denúncia, quanto à suspensão condicional do
processo é relativa, ficando preclusa se não versada pela defesa no momento próprio."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Volume único. Rio de Janeiro: Impetus,
2013, pág. 1.484).

"APELAÇÃO CRIMINAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CTB. Apelante condenado pela prática do


crime previsto no artigo 306 da Lei nº 9.503/97 às penas de 06 (seis) meses de detenção, em regime
aberto, pagamento de 60 (sessenta) dias-multa, à razão unitária mínima, e suspensão do direito da
habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo de 06 (seis) meses, com substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Pretensão de declaração de nulidade da sentença, para
fins de oferecimento da suspensão condicional do processo. Impossibilidade. A concessão do citado
benefício não é cabível depois de encerrada a instrução, uma vez que o

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escopodessa suspensão é evitar a instrução do feito e o desperdício da atividade judicante, sendo


admitida sua aplicação, contudo, em momento posterior, caso a infração penal inicialmente imputada seja
desclassificada, na fase de sentença, e o órgão de acusação seja ouvido. Não é a hipótese dos autos. A
defesa somente suscitou a matéria em sede de apelação, nada requerendo em suas alegações finais.
Ocorrência da preclusão. RECURSO DEFENSIVO DESPROVIDO. Mantida integralmente a
sentença."
grifei
(TJRJ. Quarta Câmara Criminal. Apelação Criminal n. 0081304-81.2021.8.19.0001. Relatora Des.
Márcia Perrini Bodart. Julgamento em 10/05/2022).

"Embargos infringentes. Condenação do Réu como incurso nas sanções do art. 155 do CP. Divergência
proveniente da Egrégia 5ª Câmara Criminal desta Corte que, por maioria, rejeitou preliminar de nulidade
suscitada pela Douta Procuradoria de Justiça, decorrente da ausência de apresentação da proposta de
sursis processual (art. 89 da Lei n. 9.099/95). Thema decidendum restrito à análise da apontada nulidade.
Recurso defensivo que persegue a prevalência do voto vencido, a fim de que seja determinada a
baixa dos autos com vista ao Ministério Público, para que promova a análise sobre o oferecimento
da suspensão condicional do processo. Mérito que se resolve em desfavor da Defesa. Ausência de
oferta da proposta de sursis processual, nos termos do artigo 89 da Lei nº 9.099 /95, que deve ser
arguida até a prolação da sentença. Firme orientação do STJ enfatizando que, "na linha de
precedentes desta Corte, por se tratar de nulidade relativa, é alcançada pela preclusão

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aalegação formulada após a prolação de sentença condenatória, em que se aponta a falta de oferta
de suspensão condicional do processo". Concessão do sursis processual que, de qualquer sorte, se
mostra incabível na espécie, eis que não estão preenchidos os requisitos previstos no art. 89 da Lei n.
9.099/95, considerando que o Acusado responde a outra ação penal, já tendo, inclusive, sofrido
condenação em primeira instância. Recurso a que se nega provimento, prestigiando-se integralmente os
termos do v. voto vencedor."
grifei
(TJRJ. Terceira Câmara Criminal. Embargos Infringentes e de Nulidade n. 0002099-
10.2018.8.19.0065. Relator Des. Carlos Eduardo Freire Roboredo. Julgamento em 30/11/2021).

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXPLORAÇÃO DE


RECURSOS MINERAIS. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. TRÂNSITO EM
JULGADO DA CONDENAÇÃO. PRECLUSÃO. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RÉU SOLTO. INTIMAÇÃO DO ADVOGADO. POSSIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Se a preclusão alcança aqueles casos em que a suspensão condicional do processo não foi
ventilada até a sentença, com muito mais razão também alcança as hipóteses em que, com a
prolação da sentença, o acusado passa a fazer jus a proposta de suspensão do processo, mas a
defesa e o Ministério Público se mantêm inertes, permitindo o trânsito em julgado da condenação.
2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, em se tratando de réu solto, é suficiente a intimação de
seu advogado acerca da sentença condenatória, procedimento que garante a observância dos princípios da
ampla defesa e do contraditório.
3. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Sexta Turma. AgRg no AResp 1.273.432/RJ.

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RelatorMinistro Rogério Schietti Cruz. Julgamento em 19/05/2020).

"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO LIMINAR. WRIT IMPETRADO


EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. FURTO QUALIFICADO.
PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. NÃO OFERECIMENTO.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO OPORTUNA DA DEFESA. PRECLUSÃO. NÃO
PREENCHIMENTO DO REQUISITO OBJETIVO PREVISTO NO ARTIGO 89 DA LEI 9.099/1995.
COAÇÃO ILEGAL INEXISTENTE. DESPROVIMENTO DO RECLAMO.
1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência contra o ato apontado como coator, pois o
ordenamento jurídico prevê recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu formal
conhecimento. Precedentes.
2. Eventual omissão do órgão acusatório ou ilegalidade na negativa do benefício da suspensão
condicional do processo deve ser arguida no momento oportuno pela defesa, sob pena de preclusão.
Precedentes.
3. Na espécie, embora a defesa alegue que requereu a designação de audiência para a proposta de
suspensão condicional do processo por ocasião da resposta à acusação, não se insurgiu contra a
ausência de propositura da benesse antes da prolação da sentença condenatória, arguindo a aludida
mácula apenas por ocasião da interposição do recurso de apelação, o que revela a preclusão do
exame do tema.
4. Conquanto sustente no presente agravo regimental que arguiu a mácula em questão na audiência de
instrução e julgamento, a Defensoria Pública não anexou ao presente mandamus qualquer documento que
comprove tal afirmação.
5. O rito do habeas corpus e do recurso ordinário em habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do
direito alegado, devendo a parte demonstrar, de maneira inequívoca e tempestiva, por meio de
documentação que evidencie a pretensão aduzida, a existência do aventado constrangimento ilegal, ônus
do qual não se desincumbiu a defesa, exercida pela Defensoria Pública Estadual.
6. A pena mínima cominada ao crime pelo qual o paciente foi denunciado é de 2 (dois) anos de reclusão,
quantum que inviabiliza a concessão do sursis processual, nos termos do caput do artigo 89 da Lei
9.099/1995. Inteligência do verbete 243 da

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Súmula desteSuperior Tribunal de Justiça.


7. Não é possível considerar no cálculo da pena mínima cominada ao crime imputado ao paciente a
causa de diminuição reconhecida apenas quando do julgamento do recurso de apelação. Precedente.
8. Agravo regimental desprovido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 496.414/SP. Relator Ministro Jorge Mussi. Julgamento em
26/03/2019).

2ª QUESTÃO:
O Ministério Público formulou proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela sido aceita
pela acusada TERESA CRISTINA.
Durante o período de prova, TERESA CRISTINA foi denunciada pela prática do crime previsto no
art. 28 da Lei 11.343/2006, motivo pelo qual o ilustre membro do parquet requereu ao magistrado a
revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, com fundamento no disposto no art. 89,
§3º, da Lei 9.099/95.
Com base na situação hipotética acima narrada, esclareça, a partir do entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, se o magistrado deve acolher o pleito ministerial.

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RESPOSTA:
"A suspensão será revogada (revogação obrigatória) se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano (art. 89, §3º,
Lei n. 9.099/95).
A suspensão poderá ser revogada (revogação facultativa) se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta (art. 89, §4º, Lei n.
9.099/95).
Sobre o tema, convém destacar que, embora o STJ entenda que a condenação pela conduta tipificada
no art. 28 da Lei 11.343/06 (porte de droga para consumo próprio) não constitui causa geradora de
reincidência, este tribunal já decidiu que o processamento do réu pela prática desta conduta no curso
do período de prova deve ser considerado como causa de revogação facultativa da suspensão
condicional do processo. Nesse sentido, asseverou-se ser desproporcional que o mero processamento
do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006 torne obrigatória a revogação
da suspensão condicional do processo (art. 89, §3º, Lei n. 9.099/95), enquanto o processamento por
contravenção penal (que tem efeitos primários mais deletérios) ocasione a revogação facultativa (art.
89, §4º, Lei n. 9.099/1995). Assim, consignou-se que é mais razoável que o fato da prática do crime
previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006 seja analisado como causa facultativa de revogação do
benefício da suspensão condicional do processo, cabendo ao magistrado proceder nos termos do §4º
do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995 ou extinguir a punibilidade (art. 89, §5º, Lei n. 9.099/1995), a partir
da análise do cumprimento das obrigações impostas (STJ, Informativo n. 668)."
(ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal. 2 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora JusPodivm, 2022, pág. 1.333).

"RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - Art. 163, parágrafo único, III do CP. Suspensão condicional
do processo. Sentença que extinguiu a punibilidade do recorrido. COM RAZÃO O MP: Busca a
cassação do decisum, a fim de que seja revogada a suspensão condicional do processo e para que o
feito de origem tenha prosseguimento. Da análise dos autos, verifica-se que não há prova acerca do
pagamento do ressarcimento, sendo evidente hipótese de descumprimento das condições assumidas
pelo recorrido. O fato de o autor do fato não efetuar a reparação do dano é causa de revogação
obrigatória da suspensão condicional do processo, a teor do § 3º do art. 89 da lei nº 9099/95. Além
disso, o recorrido, em 28/03/2020, foi abordado por policiais militares, estando na posse de
material entorpecente, motivo pelo qual foi encaminhado à Delegaciade

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Polícia, lavrando-se termo circunstanciado, que deu origem ao processo 0017294-59.2020.8.19.0002,


em trâmite perante o I Juizado Especial Criminal da Comarca de Niterói. A conduta prevista no artigo
28 da Lei n. 11.343/2006 não foi descriminalizada, mas apenas despenalizada pela nova Lei de
Drogas. Assim, não tendo havido a abolitio criminis e, diante de entendimento adotado pelo STJ, a
prática do crime descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 torna-se causa de revogação facultativa
do benefício da suspensão condicional do processo, como previsto no artigo 89, § 4º, da Lei n.
9.099/1995. Revogação do benefício se impõe, ainda que após o término do período de prova.
Insofismável, portanto, que o término do período de prova não constitui óbice à revogação do sursis
processual, desde que o motivo tenha ocorrido dentro daquele espaço probatório. PROVIMENTO DO
RECURSO."
grifei
(TJRJ. Quarta Câmara Criminal. RSE 0019704-64.2018.8.19.0001. Relatora Des. Gizelda Leitão
Teixeira. Julgamento em 10/08/2021).

"PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART.


89, § 4º, DA LEI N. 9.099/95. PROCESSAMENTO DO RÉU PELA PRÁTICA DA CONDUTA
DESCRITA NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/06 NO CURSO DO PERÍODO DE PROVA DE
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. CAUSA OBRIGATÓRIA DE REVOGAÇÃO
DO BENEFÍCIO. DESPROPORCIONALIDADE. ANALOGIA COM A PRÁTICA DE
CONTRAVENÇÃO PENAL. ANÁLISE COMO CAUSA FACULTATIVA DE REVOGAÇÃO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A conduta prevista no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 não foi descriminalizada, mas apenas
despenalizada pela nova Lei de Drogas. Assim, em princípio, não tendo havido a abolitio criminis,
aprática

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do crime descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 tem aptidão de gerar os mesmos efeitos
secundários que uma condenação por qualquer outro crime gera, como a reincidência e a
revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, como previsto no artigo 89, § 3º,
da Lei n. 9.099/1995. Todavia, importantes ponderações no âmbito desta Corte Superior têm sido
feitas no que diz respeito aos efeitos que uma condenação por tal delito pode gerar.
2. Em recente julgado deste Tribunal entendeu-se que "em face dos questionamentos acerca da
proporcionalidade do direito penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de outras
medidas de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de danos, eventualmente até
mais severas para a contenção do consumo do que aquelas previstas atualmente, o prévio apenamento
por porte de droga para consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de Drogas, não deve
constituir causa geradora de reincidência" (REsp 1.672.654/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe 30/08/2018). Outrossim, vem-se
entendendo que a prévia condenação pela prática da conduta descrita no art. 28 dda Lei n.
11.343/2006, justamente por não configurar a reincidência, não pode obstar, por si só, a concessão de
benefícios como a incidência da causa de redução de pena prevista no § 4º do art. 33 da mesma lei ou
a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.
3. O principal fundamento para este entendimento toma por base uma comparação entre o delito do
artigo 28 da Lei de Drogas e a contravenção penal, concluindo-se que, uma vez que a contravenção
penal (punível com pena de prisão simples) não configura a reincidência, revela-se desproporcional
considerar, para fins de reincidência, o prévio apenamento por posse de droga para consumo próprio
(que, embora seja crime, é punido apenas com advertência sobre os efeitos das drogas,prestação <

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u>de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo,


ou seja, medidas mais amenas).
4. Adotando-se tal premissa por fundamento, igualmente, mostra-se desproporcional que o
mero processamento do réu pela prática do crime previsto no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006
torne obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo (art. 89, § 3º, da Lei n.
9.099/1995), enquanto que o processamento por contravenção penal (que tem efeitos primários
mais deletérios) ocasione a revogação facultativa (art. 89, § 4º, da Lei n. 9.099/1995). Assim, é
mais razoável que o fato de o recorrente estar sendo processado pela prática do crime previsto
no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 seja analisado como causa facultativa de revogaçãodo
benefício da suspensão condicional do processo, cabendo ao magistrado proceder nos termos do
§ 4º do artigo 89 da Lei n. 9.099/2006 ou extinguir a punibilidade do recorrente (art. 89, § 5º, da
Lei n. 9.099/1995), a partir da análise do cumprimento das obrigações impostas.
4. Recurso especial parcialmente provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. Resp 1.795.962/SP. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgado em
10/03/2020).

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Turma: CPIII C 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sessão: 06 - Dia 06/03/2023 - 20:10 às 22:00
Professor: ELISA RAMOS PITTARO NEVES

06 Tema: Aspectos processuais relativos aos crimes contra a propriedade imaterial. Condições de
procedibilidade. Prazo para o exercício do direito de queixa. Particularidades no procedimento
relativo aos crimes ambientais (Lei 9.605/98). Transação penal e sursis processual: regência
especial (artigos 27 e 28). Aspectos processuais referentes aos crimes de trânsito (Lei 9.503/97):
conciliação civil, transação penal e representação: artigo 291, CTB. Suspensão da habilitação ou
proibição de obtê-la como medida cautelar: artigo 294 do CTB. A multa reparatória e o princípio
do contraditório: artigo 297 do CTB. Aspectos processuais nos crimes contra o consumidor e a
economia popular.

1ª QUESTÃO:
ALEXANDRE LOVATELLI foi denunciado como incurso no artigo 306 do Código de Trânsito
Brasileiro. Segundo o Ministério Público, o denunciado, no dia 06/05/2018, foi encontrado por
policiais rodoviários caído no solo ao lado de sua motocicleta. Ao realizar o teste de alcoolemia,
constatou-se que ALEXANDRE LOVATELLI estava embriagado com concentração de álcool em
0,89 mg/l, sendo preso em flagrante.
A autoridade policial arbitrou fiança e, após o recolhimento do valor de R$ 730,00 (setecentos e trinta
Reais), ALEXANDRE LOVATELLI foi posto em liberdade.
Na exordial, o parquet, com fundamento no art. 294 do CTB e com a necessidade de garantir a ordem
pública, pleiteou medida cautelar que determinasse a suspensão da habilitação para ALEXANDRE
LOVATELLI dirigir veículos automotores, tendo em vista a elevada concentração de teor alcoólico
constatada no exame do denunciado.
O magistrado singular indeferiu o pedido de aplicação da medida cautelar disposta no art. 294 do
CTB, ao fundamento de que não restaram demonstrados, de pronto e de maneira concreta, os supostos
efeitos lesivos que a permanência da habilitação ao denunciado poderá ensejar.
Com base no exposto, esclareça, fundamentadamente, se foi correto o proceder do magistrado.

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RESPOSTA:
"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
NÃO CABIMENTO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. MEDIDA CAUTELAR ALTERNATIVA
À PRISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. MEDIDA IMPOSTA DE OFÍCIO. NÃO CONFIGURAÇÃO
DIANTE DA AUSÊNCIA DE MODIFICAÇÃO DO TEXTO DO CTB, QUE AINDA
POSSIBILITA A APLICAÇÃO DA MEDIDA PELO JUIZ. EXCESSO DE PRAZO.
RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS A DESCONSTITUIR
A DECISÃO IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col.
Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus em
substituição ao recurso adequado, situação que implica o não-conhecimento da impetração,
ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar
constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício.
II - A Lei n. 12.403/2011 estabeleceu a possibilidade de imposição de medidas alternativas à prisão
cautelar, no intuito de permitir ao magistrado, diante das peculiaridades de cada caso concreto, e
dentro dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, estabelecer a medida mais adequada.
III - Nesse sentido, cumpre consignar, que o direito processual penal pátrio prevê ao magistrado a
faculdade da imposição de medidas cautelares que objetivam prevenir, em momento anterior ao da
prolação da sentença, novos ataques ao bem jurídico protegido. Essas medidas, que, repita-se, não
têm características de imposição antecipada de pena, existem para que o Magistrado, diante da
situação fática apresentada, e antes da condenação definitiva, possa delas se utilizar, como forma
proteger determinados bens e direitos que o legislador elegeu como merecedores de especial proteção
jurídica.
IV - Da análise dos autos, tem-se, pois, que a medida cautelar se mostra absolutamente de acordo com
os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e adequação, pois, ao meu ver, se amolda
perfeitamente à hipótese, notadamente em razão gravidade concretada da conduta atribuída ao
Agravante.
V - In casu, entendo que a medida cautelar, em apreço, encontra-se devidamente justificada, em
dados concretos extraídos do autos, ante a gravidade concreta da conduta, em tese, perpetrada,
consistente em embriaguez ao volante; no ponto, consignou o eg. Tribunal a quo que
"apresenta-se adequada a imposição da medida cautelar de suspensão da habilitação

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para dirigir veículo automotor, pois o perigo de dano, assim como o desrespeito às normas de
trânsito vigentes, quase vitimou os agentes policiais e quase danificou viatura policial pertencente
ao patrimônio público", circunstâncias que evidenciam um maior desvalor da conduta, a revelar a
necessidade da medida alternativa pautada nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
justificando a manutenção da cautelar de proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor ou suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo
automotor.
VI - No que concerne à asserção da Defesa acerca de que a medida não poderia ser imposta de ofício pelo
magistrado primevo; na hipótese, não verifico qualquer flagrante ilegalidade a ser sanada, tendo em vista
que; a despeito das alterações promovidas no Código de Processo Penal, pela Lei nº 13.964, de 24 de
dezembro de 2019, que passaram a exigir a prévia manifestação do Ministério Público para que o
magistrado decida acerca da imposição, ou, não, de medidas cautelares; não houve alteração no art. 294,
do CTB, que, ainda, possibilita a imposição da medida cautelar, em exame, de ofício pelo Juiz; não se
olvidando, outrossim, a conclusão da eg. Corte de origem de que "a suspensão da habilitação para dirigir
encontra amparo no comando normativo disposto no artigo 294 do Código de Trânsito Brasileiro, cuja
aplicação decorre do princípio da especialidade, em relação ao Código de Processo Penal"; não se
configurando o constrangimento ilegal suscitado.
VII - Quanto ao aventado excesso de prazo, da análise dos autos, levando em consideração que a medida
cautelar diversa da prisão encontra-se mantida desde 31/07/2021, verifica-se, na hipótese, que a
tramitação processual transcorre dentro da razoabilidade de tempo esperada, todavia marcada por suas
particularidades, haja vista a gravidade concreta da conduta supostamente perpetrada pelo Agravante,
havendo que se considerar, ainda, a situação atípica de estado de pandemia de COVID- 19, que tem
interferido nos os trâmites processuais, não havendo qualquer elemento que evidencie a desídia dos
órgãos estatais na condução feito, razão pela qual não se vislumbra, por ora, o alegado constrangimento
ilegal suscetível

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deser sanado na presente via.


VIII - É assente nesta Corte Superior que o agravo regimental deve trazer novos argumentos capazes de
alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão vergastada pelos
próprios fundamentos. Precedentes. Agravo regimental desprovido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 711.713/PR. Relator Ministro Jesuíno Rissato. Julgamento em
22/02/2022).

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.


PRISÃO PREVENTIVA. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. NÃO PREENCHIMENTO DO
REQUISITO OBJETIVO DA PRISÃO PREVENTIVA. PENA MÁXIMA INFERIOR A QUATRO
ANOS. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. SUFICIÊNCIA. RECURSO PROVIDO.
1. A prisão preventiva, para ser legítima à luz da sistemática constitucional, exige que o Magistrado,
sempre mediante fundamentos concretos extraídos de elementos constantes dos autos (arts. 5.º, LXI, LXV
e LXVI, e 93, inciso IX, da Constituição da República), demonstre a existência de prova da materialidade
do crime e de indícios suficientes de autoria delitiva (fumus comissi delicti), bem como o preenchimento
de ao menos um dos requisitos autorizativos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, no
sentido de que o réu, solto, irá perturbar ou colocar em perigo (periculum libertatis) a ordem pública, a
ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal.
2. Além disso, de acordo com a microrreforma processual procedida pela Lei n.º 12.403/2011 e com os
princípios da excepcionalidade (art. 282, § 4.º, parte final, e § 6.º, do CPP), provisionalidade (art. 316 do
CPP) e proporcionalidade (arts. 282, incisos I e II, e 310, inciso II, parte final, do CPP), a prisão
preventiva há de ser medida necessária e adequada aos propósitos cautelares a que serve, não devendo ser
decretada ou mantida caso intervenções estatais menos invasivas à liberdade individual, enumeradas no
art. 319 do CPP, mostrem-se, por si sós, suficientes ao acautelamento do processo e/ou da sociedade.
3. O crime previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, além de ser punido com detenção -
a impossibilitar estabelecimento de regime inicial fechado -, não preenche o requisito objetivo para
a decretação de prisão preventiva (art. 313, inciso I, do CPP), pois prevê pena privativa de
liberdade máxima inferior a 4 anos.
4. Hipótese em que a prevençãode

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novos delitos de trânsito pode ser efetivada com a imposição de medida cautelar menos gravosa,
a saber, a suspensão da CNH do Recorrente, nos termos do art. 294 do CTB.
5. Recurso provido, para substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa."
grifei
(STJ. Sexta Turma. RHC 105.042/SC. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em
12/02/2019).

"RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO. DOLO EVENTUAL. ART. 294, CTB.


SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. A medida cautelar de suspensão da habilitação para
dirigir veículo automotor, regulada pelo artigo 294 da Lei 9.503/97, dada sua natureza cautelar,
é medida excepcional, que apenas tem lugar quando concretamente demonstrada a necessidade
de garantir a ordem pública, compreendida, no caso da Lei 9.503/97, como a segurança do
trânsito. Assim, sua aplicação, em cada caso concreto, depende, além da observância do disposto no
artigo 312 do Código de Processo Penal, da prévia e inequívoca demonstração da necessidade de
acautelamento da segurança do trânsito, a indicar, além do fumus comissi delicti, também do
periculum libertatis. Não há elementos suficientes a indicar a necessidade da medida cautelar de
suspensão do direito de dirigir, ou seja, não há nada indicando que caso permaneça autorizado a
conduzir seu veículo automotor, o réu venha a colocar em risco a segurança do trânsito. Dessa forma,
entendo impositiva a reforma da decisão a quo, especificamente na parte em que suspende
cautelarmente a permissão do réu para dirigir veículo automotor, pois não comprovada a necessidade
de acautelamento da segurança do trânsito. RECURSO PROVIDO."
grifei
(TJRS. Terceira Câmara Criminal. Recurso em Sentido Estrito n. 70082706078. Relator Rinez
da Trindade. Julgado em 21/11/2019).

2ª QUESTÃO:
THEODORO FRANCISCO foi denunciado nas sanções do art. 7º, IX, da Lei 8.137/90 c/c art. 18,
§6º, II, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, tendo em vista que teria exposto à venda
mercadorias impróprias para consumo, as quais se encontravam com prazo de validade vencido.
Sobreveio sentença que condenou o réu à pena de 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção, sendo
a pena privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos.
Inconformado, THEODORO FRANCISCO interpôs recurso de apelação, no qual afirmou que seria
alvo de evidente constrangimento ilegal, pois o delito tipificado no artigo 7º, IX, da Lei 8.137/90 só se
configuraria com a existência de laudo pericial atestando a impropriedade dos produtos para
consumo.
Afirmou, para tanto, que o laudo pericial teria se limitado a descrever a data de validade dos produtos
apreendidos, não tendo atestado se seriam próprios ou impróprios para consumo.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso e absolveu THEODORO FRANCISCO, nos termos do art.
386, VI, do CPP.
Irresignado, o Ministério Público interpôs recurso especial, no qual sustentou a negativa de vigência
ao art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, diante da defeituosa valoração dos elementos de convicção carreados
aos autos, sob a alegação de que restou devidamente demonstrada a prática do crime de exposição ou
depósito para a venda de produtos em condições impróprias para o consumo.
Posto isso, esclareça se o recurso ministerial merece ser provido.

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RESPOSTA:
Para o conceito de produto impróprio podemos citar os ensinamentos de Antônio Herman V.
Benjamin, a saber:

"Impróprios, na perspectiva do consumidor, são, por exemplo, os produtos ou serviços que se


encaixem, respectivamente, em quaisquer das figuras dos arts. 18, §6º e 20, §2º do CDC."
(MARQUES, Claudia Lima, BENJAMIN, Antônio Herman V., MIRAGEM, Bruno.
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006, pág. 902).

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou:

"PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME


CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7, INCISO IX, DA LEI N. 8.137/90.
PERÍCIA TÉCNICA. AUSÊNCIA. IMPRESCINDIBILIDADE. MATERIALIDADE
DELITIVA NÃO COMPROVAÇÃO. ABSOLVIÇÃO. OFENSA A PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. INADEQUAÇÃO DA ANÁLISE EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL.
USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO COL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. OTribunal de Justiça concluiu pela dispensabilidade da realização de perícia para comprovação da
materialidade do crime do art. 7, inciso IX, da Lei n. 8.137/90, mesmo havendo apreensão, no caso,
dos produtos ditos impróprios para consumo pelo órgão da vigilância sanitária do ato de vistoria no
estabelecimento comercial do ora recorrente. Entretanto, em casos inteiramente semelhantes,
ambas as Turmas de Direito Criminal deste Superior Tribunal de Justiça, reiteradas vezes,
entendem ser indispensável a realização de perícia técnica, para comprovar a materialidade
delitiva do crime disposto no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990. De rigor, portanto, a absolvição do
acusado por ausência de materialidade delitiva. Precedentes.
2. O recurso especial é via inadequada para apreciação de ofensa a artigos e princípios
constitucionais, sob pena de haver a usurpação de competência do col. Supremo Tribunal Federal, por
se tratar de matéria afeta à competência da Suprema Corte.
3. Agravo regimental desprovido."
grifei
(STJ. QuintaTurma.

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AgRg no Resp 1.953.598/SC. Relator Ministro Joel Ilan Paciornik. Julgamento em 09/08/2022).
"PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES
DE CONSUMO. ART. 7º, IX, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI N. 8.137/90. MERCADORIA COM
PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. AUSÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. MATERIALIDADE
DELITIVA NÃO DEMONSTRADA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que conduta tipificada no art. 7º,
parágrafo único, inciso IX, da Lei 8.137/90 - expor à venda produtos impróprios para o consumo -
deixa vestígios, razão pela qual a perícia é indispensável para a demonstração da materialidade
delitiva, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal, inclusive nas hipóteses de produto
com prazo de validade vencido.
2. Com efeito, "[a] existência de mero ‘auto de exibição e apreensão‘, noticiando o vencimento do prazo
de validade não é suficiente para atestar que o produto seja efetivamente impróprio para o consumo,
afigurando-se imprescindível a realização de perícia técnica que ateste o fato" (RHC 105.272/SP, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe 1º/2/2019).
3. Agravo regimental a que se nega provimento. "
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no Resp 1.902.045/SC. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgamento
em 03/08/2021).

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.


CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO (ART. 7º, INCISO IX, DA LEI N. 8.137/1990).
TIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL. IMPRESCINDIBILIDADE.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Supremo TribunalFederal, por sua Primeira Turma, e

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a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas
corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela
via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade.
2. O crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990 (vender, ter em depósito para vender
ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria,emcondições
impróprias ao consumo) é não transeunte, sendo indispensável a realização de perícia para a sua
comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, sob pena de se admitir
responsabilização objetiva.
3. Neste caso, não foi realizada perícia para comprovar que a mercadoria apreendida era imprópria para o
consumo, havendo apenas o relato de uma agente de fiscalização afirmando ter encontrado alguns
produtos expostos na calçada, sob o sol, e que tais mercadorias dependiam de refrigeração. Diante desse
quadro, a servidora parou para fiscalizar oestabelecimento, encontrando outros produtos armazenados em
temperatura inadequada, além de outros, cujos prazos de validade estavam expirados.
4. Tais elementos não se mostram suficientes para autorizar a condenação, que, diante da falta de
elementos mais sólidos que sustentem a materialidade delitiva, deve resultar na absolvição do acusado,
nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para absolver o paciente Ricardo Luiz De Sá
Juliari do crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990, objeto da Ação Penal n. 0000652-
84.2016.8.26.0348.
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 551.700/SP. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Julgamento
em 04/02/2020).

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul já apreciou a questão:

"HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7º, INCISO II, DA
LEI Nº 8.137/90.VENDER E EXPOR

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À VENDA MERCADORIA COM EMBALAGEM, TIPO, ESPECIFICAÇÃO, PESO E


COMPOSIÇÃO EM DESACORDO COM AS PRESCRIÇÕES LEGAIS. NORMA PENAL EM
BRANCO, DEPENDENDO DE COMPLEMENTAÇÃO. LEGISLAÇÃO ALTERADA NA DATA
DO FATO. AUSÊNCIA DE PERÍCIA. MATERIALIDADE NÃO DEMONSTRADA. FALTA
DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. UNÂNIME."
grifei
(TJRS. Quarta Câmara Criminal. HC 70084629849. Relator Des. Aristides Pedroso de
Albuquerque Neto. Julgado em 27/10/2021).

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