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1ª QUESTÃO:
Proferida sentença condenatória sem que tenha o Ministério Público ofertado a proposta de suspensão
condicional no curso da ação penal, ainda que presentes todos os seus requisitos, pode o Defensor,
posteriormente, em qualquer tempo e grau de jurisdição, requerer tal concessão? Fundamente a sua
resposta em, no máximo, 15 (quinze) linhas.
RESPOSTA:
"É importante sublinhar que, presentes os pressupostos legais, não poderá o Ministério Público deixar
de oferecer a suspensão condicional do processo, que poderá ser aceita ou não pelo réu. Não se pode
esquecer que a medida insere-se na lógica do consenso, não apenas no sentido de que o réu é obrigado
a aceitar a proposta, mas também na perspectiva de que poderá negociar a duração e demais
condições.
Ainda que o dispositivo legal mencione que o Ministério Público "poderá propor", isso não significa
que seja uma faculdade do acusador. (...) Não é, assim, disponível para o Ministério Público e
tampouco pode transformar-se em instrumento de arbítrio.
E se, mesmo presentes os pressupostos legais, o Ministério Público não o fizer?
Voltamos ao mesmo ponto explicado anteriormente, quando analisados a transação penal, ou seja:
predomina o entendimento de que deverá o juiz aplicar o art. 28 do CPP, por analogia. Nesse sentido,
novamente citamos a Súmula n. 696 do STF, cujo verbete é: Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-
la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28
do Código de Processo Penal.
...
Em que pese ser esse o entendimento prevalente, insistimos em nossa posição de que essa é uma
solução excessivamente burocrática e fora da realidade diuturna dos foros brasileiros. Ademais,
atribui a última palavra ao próprio Ministério Público, retirando a eficácia do direito subjetivo do
acusado. Dessarte, presentes os pressupostos legais e insistindo o Ministério Público na recusa em
oferecer a suspensão condicional, pensamos que a melhor solução é permitir que o juiz o faça,
acolhendo o pedido do imputado, concedendo o direito postulado. Novamente, afirmamos que o fato
de atribuir-se ao juiz esse poder em nada viola o modelo constitucional-acusatório por nós defendido.
A sistemática é outra. O imputado postula o reconhecimento de um direito (suspensão condicional do
processo) que lhe está sendo negado pelo Ministério Público, e o juiz decide, mediante invocação. O
papel do juiz aqui é o de garantidor da máxima eficácia do sistema de direitos do réu, ou seja, sua
verdadeira missão constitucional."
(LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. pág. 973-974).
aformulação da proposta. Quem entende tratar-se de direito público subjetivo do acusado, ante a recusa
do Ministério Público em propor a suspensão, admite que o juiz, de ofício, formule a proposta. Por sua
vez, quem considera tratar-se de um ato de consenso, se não houver proposta do Promotor de Justiça, o
juiz deverá, aplicando por analogia o art. 28 do CPP, remeter o processo ao Procurador-Geral de Justiça,
para que este: (1) formule a proposta; (2) designe outro promotor para formular a proposta; (3) insista na
não formulação da proposta. Esta segunda posição foi referendada recentemente, pela Súmula n. 696 do
STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-
Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal".
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015, pág. 634-635).
"Caso a proposta não seja formulada pelo titular da ação penal por ocasião do oferecimento da peça
acusatória, deve a defesa técnica protestar por sua apresentação, sob pena de preclusão. Na visão dos
Tribunais Superiores, a nulidade decorrente do silêncio, na denúncia, quanto à suspensão condicional do
processo é relativa, ficando preclusa se não versada pela defesa no momento próprio."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Volume único. Rio de Janeiro: Impetus,
2013, pág. 1.484).
"Embargos infringentes. Condenação do Réu como incurso nas sanções do art. 155 do CP. Divergência
proveniente da Egrégia 5ª Câmara Criminal desta Corte que, por maioria, rejeitou preliminar de nulidade
suscitada pela Douta Procuradoria de Justiça, decorrente da ausência de apresentação da proposta de
sursis processual (art. 89 da Lei n. 9.099/95). Thema decidendum restrito à análise da apontada nulidade.
Recurso defensivo que persegue a prevalência do voto vencido, a fim de que seja determinada a
baixa dos autos com vista ao Ministério Público, para que promova a análise sobre o oferecimento
da suspensão condicional do processo. Mérito que se resolve em desfavor da Defesa. Ausência de
oferta da proposta de sursis processual, nos termos do artigo 89 da Lei nº 9.099 /95, que deve ser
arguida até a prolação da sentença. Firme orientação do STJ enfatizando que, "na linha de
precedentes desta Corte, por se tratar de nulidade relativa, é alcançada pela preclusão
aalegação formulada após a prolação de sentença condenatória, em que se aponta a falta de oferta
de suspensão condicional do processo". Concessão do sursis processual que, de qualquer sorte, se
mostra incabível na espécie, eis que não estão preenchidos os requisitos previstos no art. 89 da Lei n.
9.099/95, considerando que o Acusado responde a outra ação penal, já tendo, inclusive, sofrido
condenação em primeira instância. Recurso a que se nega provimento, prestigiando-se integralmente os
termos do v. voto vencedor."
grifei
(TJRJ. Terceira Câmara Criminal. Embargos Infringentes e de Nulidade n. 0002099-
10.2018.8.19.0065. Relator Des. Carlos Eduardo Freire Roboredo. Julgamento em 30/11/2021).
2ª QUESTÃO:
O Ministério Público formulou proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela sido aceita
pela acusada TERESA CRISTINA.
Durante o período de prova, TERESA CRISTINA foi denunciada pela prática do crime previsto no
art. 28 da Lei 11.343/2006, motivo pelo qual o ilustre membro do parquet requereu ao magistrado a
revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, com fundamento no disposto no art. 89,
§3º, da Lei 9.099/95.
Com base na situação hipotética acima narrada, esclareça, a partir do entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, se o magistrado deve acolher o pleito ministerial.
RESPOSTA:
"A suspensão será revogada (revogação obrigatória) se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano (art. 89, §3º,
Lei n. 9.099/95).
A suspensão poderá ser revogada (revogação facultativa) se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta (art. 89, §4º, Lei n.
9.099/95).
Sobre o tema, convém destacar que, embora o STJ entenda que a condenação pela conduta tipificada
no art. 28 da Lei 11.343/06 (porte de droga para consumo próprio) não constitui causa geradora de
reincidência, este tribunal já decidiu que o processamento do réu pela prática desta conduta no curso
do período de prova deve ser considerado como causa de revogação facultativa da suspensão
condicional do processo. Nesse sentido, asseverou-se ser desproporcional que o mero processamento
do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006 torne obrigatória a revogação
da suspensão condicional do processo (art. 89, §3º, Lei n. 9.099/95), enquanto o processamento por
contravenção penal (que tem efeitos primários mais deletérios) ocasione a revogação facultativa (art.
89, §4º, Lei n. 9.099/1995). Assim, consignou-se que é mais razoável que o fato da prática do crime
previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006 seja analisado como causa facultativa de revogação do
benefício da suspensão condicional do processo, cabendo ao magistrado proceder nos termos do §4º
do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995 ou extinguir a punibilidade (art. 89, §5º, Lei n. 9.099/1995), a partir
da análise do cumprimento das obrigações impostas (STJ, Informativo n. 668)."
(ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal. 2 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora JusPodivm, 2022, pág. 1.333).
"RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - Art. 163, parágrafo único, III do CP. Suspensão condicional
do processo. Sentença que extinguiu a punibilidade do recorrido. COM RAZÃO O MP: Busca a
cassação do decisum, a fim de que seja revogada a suspensão condicional do processo e para que o
feito de origem tenha prosseguimento. Da análise dos autos, verifica-se que não há prova acerca do
pagamento do ressarcimento, sendo evidente hipótese de descumprimento das condições assumidas
pelo recorrido. O fato de o autor do fato não efetuar a reparação do dano é causa de revogação
obrigatória da suspensão condicional do processo, a teor do § 3º do art. 89 da lei nº 9099/95. Além
disso, o recorrido, em 28/03/2020, foi abordado por policiais militares, estando na posse de
material entorpecente, motivo pelo qual foi encaminhado à Delegaciade
do crime descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 tem aptidão de gerar os mesmos efeitos
secundários que uma condenação por qualquer outro crime gera, como a reincidência e a
revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, como previsto no artigo 89, § 3º,
da Lei n. 9.099/1995. Todavia, importantes ponderações no âmbito desta Corte Superior têm sido
feitas no que diz respeito aos efeitos que uma condenação por tal delito pode gerar.
2. Em recente julgado deste Tribunal entendeu-se que "em face dos questionamentos acerca da
proporcionalidade do direito penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de outras
medidas de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de danos, eventualmente até
mais severas para a contenção do consumo do que aquelas previstas atualmente, o prévio apenamento
por porte de droga para consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de Drogas, não deve
constituir causa geradora de reincidência" (REsp 1.672.654/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe 30/08/2018). Outrossim, vem-se
entendendo que a prévia condenação pela prática da conduta descrita no art. 28 dda Lei n.
11.343/2006, justamente por não configurar a reincidência, não pode obstar, por si só, a concessão de
benefícios como a incidência da causa de redução de pena prevista no § 4º do art. 33 da mesma lei ou
a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.
3. O principal fundamento para este entendimento toma por base uma comparação entre o delito do
artigo 28 da Lei de Drogas e a contravenção penal, concluindo-se que, uma vez que a contravenção
penal (punível com pena de prisão simples) não configura a reincidência, revela-se desproporcional
considerar, para fins de reincidência, o prévio apenamento por posse de droga para consumo próprio
(que, embora seja crime, é punido apenas com advertência sobre os efeitos das drogas,prestação <
06 Tema: Aspectos processuais relativos aos crimes contra a propriedade imaterial. Condições de
procedibilidade. Prazo para o exercício do direito de queixa. Particularidades no procedimento
relativo aos crimes ambientais (Lei 9.605/98). Transação penal e sursis processual: regência
especial (artigos 27 e 28). Aspectos processuais referentes aos crimes de trânsito (Lei 9.503/97):
conciliação civil, transação penal e representação: artigo 291, CTB. Suspensão da habilitação ou
proibição de obtê-la como medida cautelar: artigo 294 do CTB. A multa reparatória e o princípio
do contraditório: artigo 297 do CTB. Aspectos processuais nos crimes contra o consumidor e a
economia popular.
1ª QUESTÃO:
ALEXANDRE LOVATELLI foi denunciado como incurso no artigo 306 do Código de Trânsito
Brasileiro. Segundo o Ministério Público, o denunciado, no dia 06/05/2018, foi encontrado por
policiais rodoviários caído no solo ao lado de sua motocicleta. Ao realizar o teste de alcoolemia,
constatou-se que ALEXANDRE LOVATELLI estava embriagado com concentração de álcool em
0,89 mg/l, sendo preso em flagrante.
A autoridade policial arbitrou fiança e, após o recolhimento do valor de R$ 730,00 (setecentos e trinta
Reais), ALEXANDRE LOVATELLI foi posto em liberdade.
Na exordial, o parquet, com fundamento no art. 294 do CTB e com a necessidade de garantir a ordem
pública, pleiteou medida cautelar que determinasse a suspensão da habilitação para ALEXANDRE
LOVATELLI dirigir veículos automotores, tendo em vista a elevada concentração de teor alcoólico
constatada no exame do denunciado.
O magistrado singular indeferiu o pedido de aplicação da medida cautelar disposta no art. 294 do
CTB, ao fundamento de que não restaram demonstrados, de pronto e de maneira concreta, os supostos
efeitos lesivos que a permanência da habilitação ao denunciado poderá ensejar.
Com base no exposto, esclareça, fundamentadamente, se foi correto o proceder do magistrado.
RESPOSTA:
"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
NÃO CABIMENTO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. MEDIDA CAUTELAR ALTERNATIVA
À PRISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. MEDIDA IMPOSTA DE OFÍCIO. NÃO CONFIGURAÇÃO
DIANTE DA AUSÊNCIA DE MODIFICAÇÃO DO TEXTO DO CTB, QUE AINDA
POSSIBILITA A APLICAÇÃO DA MEDIDA PELO JUIZ. EXCESSO DE PRAZO.
RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS A DESCONSTITUIR
A DECISÃO IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col.
Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus em
substituição ao recurso adequado, situação que implica o não-conhecimento da impetração,
ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar
constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício.
II - A Lei n. 12.403/2011 estabeleceu a possibilidade de imposição de medidas alternativas à prisão
cautelar, no intuito de permitir ao magistrado, diante das peculiaridades de cada caso concreto, e
dentro dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, estabelecer a medida mais adequada.
III - Nesse sentido, cumpre consignar, que o direito processual penal pátrio prevê ao magistrado a
faculdade da imposição de medidas cautelares que objetivam prevenir, em momento anterior ao da
prolação da sentença, novos ataques ao bem jurídico protegido. Essas medidas, que, repita-se, não
têm características de imposição antecipada de pena, existem para que o Magistrado, diante da
situação fática apresentada, e antes da condenação definitiva, possa delas se utilizar, como forma
proteger determinados bens e direitos que o legislador elegeu como merecedores de especial proteção
jurídica.
IV - Da análise dos autos, tem-se, pois, que a medida cautelar se mostra absolutamente de acordo com
os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e adequação, pois, ao meu ver, se amolda
perfeitamente à hipótese, notadamente em razão gravidade concretada da conduta atribuída ao
Agravante.
V - In casu, entendo que a medida cautelar, em apreço, encontra-se devidamente justificada, em
dados concretos extraídos do autos, ante a gravidade concreta da conduta, em tese, perpetrada,
consistente em embriaguez ao volante; no ponto, consignou o eg. Tribunal a quo que
"apresenta-se adequada a imposição da medida cautelar de suspensão da habilitação
para dirigir veículo automotor, pois o perigo de dano, assim como o desrespeito às normas de
trânsito vigentes, quase vitimou os agentes policiais e quase danificou viatura policial pertencente
ao patrimônio público", circunstâncias que evidenciam um maior desvalor da conduta, a revelar a
necessidade da medida alternativa pautada nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
justificando a manutenção da cautelar de proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor ou suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo
automotor.
VI - No que concerne à asserção da Defesa acerca de que a medida não poderia ser imposta de ofício pelo
magistrado primevo; na hipótese, não verifico qualquer flagrante ilegalidade a ser sanada, tendo em vista
que; a despeito das alterações promovidas no Código de Processo Penal, pela Lei nº 13.964, de 24 de
dezembro de 2019, que passaram a exigir a prévia manifestação do Ministério Público para que o
magistrado decida acerca da imposição, ou, não, de medidas cautelares; não houve alteração no art. 294,
do CTB, que, ainda, possibilita a imposição da medida cautelar, em exame, de ofício pelo Juiz; não se
olvidando, outrossim, a conclusão da eg. Corte de origem de que "a suspensão da habilitação para dirigir
encontra amparo no comando normativo disposto no artigo 294 do Código de Trânsito Brasileiro, cuja
aplicação decorre do princípio da especialidade, em relação ao Código de Processo Penal"; não se
configurando o constrangimento ilegal suscitado.
VII - Quanto ao aventado excesso de prazo, da análise dos autos, levando em consideração que a medida
cautelar diversa da prisão encontra-se mantida desde 31/07/2021, verifica-se, na hipótese, que a
tramitação processual transcorre dentro da razoabilidade de tempo esperada, todavia marcada por suas
particularidades, haja vista a gravidade concreta da conduta supostamente perpetrada pelo Agravante,
havendo que se considerar, ainda, a situação atípica de estado de pandemia de COVID- 19, que tem
interferido nos os trâmites processuais, não havendo qualquer elemento que evidencie a desídia dos
órgãos estatais na condução feito, razão pela qual não se vislumbra, por ora, o alegado constrangimento
ilegal suscetível
novos delitos de trânsito pode ser efetivada com a imposição de medida cautelar menos gravosa,
a saber, a suspensão da CNH do Recorrente, nos termos do art. 294 do CTB.
5. Recurso provido, para substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa."
grifei
(STJ. Sexta Turma. RHC 105.042/SC. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em
12/02/2019).
2ª QUESTÃO:
THEODORO FRANCISCO foi denunciado nas sanções do art. 7º, IX, da Lei 8.137/90 c/c art. 18,
§6º, II, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, tendo em vista que teria exposto à venda
mercadorias impróprias para consumo, as quais se encontravam com prazo de validade vencido.
Sobreveio sentença que condenou o réu à pena de 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção, sendo
a pena privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos.
Inconformado, THEODORO FRANCISCO interpôs recurso de apelação, no qual afirmou que seria
alvo de evidente constrangimento ilegal, pois o delito tipificado no artigo 7º, IX, da Lei 8.137/90 só se
configuraria com a existência de laudo pericial atestando a impropriedade dos produtos para
consumo.
Afirmou, para tanto, que o laudo pericial teria se limitado a descrever a data de validade dos produtos
apreendidos, não tendo atestado se seriam próprios ou impróprios para consumo.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso e absolveu THEODORO FRANCISCO, nos termos do art.
386, VI, do CPP.
Irresignado, o Ministério Público interpôs recurso especial, no qual sustentou a negativa de vigência
ao art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, diante da defeituosa valoração dos elementos de convicção carreados
aos autos, sob a alegação de que restou devidamente demonstrada a prática do crime de exposição ou
depósito para a venda de produtos em condições impróprias para o consumo.
Posto isso, esclareça se o recurso ministerial merece ser provido.
RESPOSTA:
Para o conceito de produto impróprio podemos citar os ensinamentos de Antônio Herman V.
Benjamin, a saber:
AgRg no Resp 1.953.598/SC. Relator Ministro Joel Ilan Paciornik. Julgamento em 09/08/2022).
"PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES
DE CONSUMO. ART. 7º, IX, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI N. 8.137/90. MERCADORIA COM
PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. AUSÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. MATERIALIDADE
DELITIVA NÃO DEMONSTRADA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que conduta tipificada no art. 7º,
parágrafo único, inciso IX, da Lei 8.137/90 - expor à venda produtos impróprios para o consumo -
deixa vestígios, razão pela qual a perícia é indispensável para a demonstração da materialidade
delitiva, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal, inclusive nas hipóteses de produto
com prazo de validade vencido.
2. Com efeito, "[a] existência de mero ‘auto de exibição e apreensão‘, noticiando o vencimento do prazo
de validade não é suficiente para atestar que o produto seja efetivamente impróprio para o consumo,
afigurando-se imprescindível a realização de perícia técnica que ateste o fato" (RHC 105.272/SP, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe 1º/2/2019).
3. Agravo regimental a que se nega provimento. "
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no Resp 1.902.045/SC. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgamento
em 03/08/2021).
a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas
corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela
via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade.
2. O crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990 (vender, ter em depósito para vender
ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria,emcondições
impróprias ao consumo) é não transeunte, sendo indispensável a realização de perícia para a sua
comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, sob pena de se admitir
responsabilização objetiva.
3. Neste caso, não foi realizada perícia para comprovar que a mercadoria apreendida era imprópria para o
consumo, havendo apenas o relato de uma agente de fiscalização afirmando ter encontrado alguns
produtos expostos na calçada, sob o sol, e que tais mercadorias dependiam de refrigeração. Diante desse
quadro, a servidora parou para fiscalizar oestabelecimento, encontrando outros produtos armazenados em
temperatura inadequada, além de outros, cujos prazos de validade estavam expirados.
4. Tais elementos não se mostram suficientes para autorizar a condenação, que, diante da falta de
elementos mais sólidos que sustentem a materialidade delitiva, deve resultar na absolvição do acusado,
nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para absolver o paciente Ricardo Luiz De Sá
Juliari do crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990, objeto da Ação Penal n. 0000652-
84.2016.8.26.0348.
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 551.700/SP. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Julgamento
em 04/02/2020).
"HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7º, INCISO II, DA
LEI Nº 8.137/90.VENDER E EXPOR