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AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE GOIÂNIA -

GO

VIVIAN DE ANDRADE ZOEHLER SANTA HELENA,


brasileira, solteira, advogada, inscrita na Ordem dos
Advogados do Brasil - Seção Distrito Federal sob nº 67.067,
RG nº 2.459.818 SSP/DF, inscrita sob o CPF/MF n°
008.402.001-61, domiciliada a SHIS QI 23, conj. 14, casa
15, Brasília-DF, CEP n° 71660-140, por seu advogado
legalmente constituído, com fulcro no artigo 5º LXIX da
Constituição da República Federativa de Brasil de 1988 e na
lei 12.016/2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA

COM PEDIDO DE LIMINAR

em face do SR. DIRETOR-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO


VUNESP (Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho VUNESP), pessoa jurídica
de direito privado inscrita no CNPJ sob nº 51.962.678/0001-
96 - Dr. Antonio Nivaldo Hespanhol – domiciliado na Rua
Dona Germaine Burchard, 515, Água Branca, São Paulo-SP, CEP
05002-062, email: vunesp@vunesp.com.br, e o ESTADO DE
GOIÁS, com endereço no Palácio Pedro Ludovico Teixeira -
Rua 82, n° 400, 6° Andar, Setor Sul - Goiânia - GO - CEP:
74.015-908., pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos.
I – DOS FATOS

A parte impetrante, submeteu-se ao concurso


para outorga de delegações de notas e de registro do Estado
de Goiás, para ingresso por provimento.

Conforme consta do resultado final da primeira


etapa, a parte impetrante fora devidamente aprovada e,
consequentemente, convocada para realizar a segunda etapa,
que ocorreu em 13/03/2022.

Após a divulgação do resultado final da segunda


etapa, a parte impetrante obteve 5,00 pontos obtendo a
pontuação mínima estabelecida em 5,0 pontos.

Ocorre que, conforme será adiante demonstrado


de forma pormenorizada, tanto a prova quanto a correção,
bem como o julgamento dos recursos, apresentaram diversas
nulidades que, sendo reconhecidas por este juízo, poderão
majorar a nota da parte impetrante e corrigir a injustiça
que se perpetua.

É sabido que, em concursos de outorga de


delegações, a nota final é extremamente importante, pois
influencia diretamente na classificação e,
consequentemente, na escolha da serventia, ou seja, ainda
que a candidata tenha obtido a nota para a aprovação, a não
atribuição da pontuação relacionada às nulidades lhe é
extremamente prejudicial e, portanto, a ilegalidade deve
ser sanada.

Assim, não tendo sido sanadas as


irregularidades na esfera administrativa, não restou à
parte impetrante o exercício do seu direito fundamental,
estampado no artigo 5º XXXV da CRFB/88, de buscar amparo
judicial para reparar a lesão ao seu direito.
II – DOS FUNDAMENTOS

1. NULIDADE DA QUESTÃO DISCURSIVA 02 EM RAZÃO DA VIOLAÇÃO


DO PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO EDITAL.

Ab initio cumpre ressaltar que o que se


pretende neste mandamus não é que este juízo substitua a
banca examinadora quanto à discricionariedade que lhe é
inerente, mas sim que SE RECONHEÇA ILEGALIDADES E QUE SE
RESTABELEÇA A ORDEM JURÍDICA.

Pois bem, a questão discursiva 02 da prova da


segunda etapa fora apresentada na avaliação com inúmeras
irregularidades em seu enunciado e, não bastasse, os
critérios adotados pela parte impetrada se mostraram
absolutamente ilegais e arbitrários, em nítida violação ao
edital e à legalidade.

Conforme se expõe abaixo de forma detalhada a


questão 02 é absolutamente nula e assim deve ser
considerada por este juízo.

A) NULIDADE FORMAL. ILEGALIDADE EM RAZÃO DE ENUNCIADO


DISFORME AO QUE DETERMINA O EDITAL.

A questão 02 do caderno de questões discursivas


traz em seu enunciado um caso problema relacionado ao
serviço de Registro de Imóveis e, ao final, pede ao
candidato que “pratique os atos de registro e/ou averbação
necessários ou redija a nota de devolução”. Vejamos:
É evidente que o próprio enunciado da questão
apresenta um grave erro que é pedir a lavratura de atos, ou
seja, pedir para redigir uma peça prática, enquanto a
referida questão consta do caderno de questões discursivas
e não do caderno de peça prática.

Cumpre salientar que, em razão da


impossibilidade de se adotar uma forma de resposta que
possa gerar a identificação do candidato, evidente se
mostra que caso o candidato respondesse, em forma de peça-
prática, uma questão contida no caderno de questões
discursivas, este seria fatalmente punido em razão de ter
respondido de forma a se identificar.

A ilegalidade consiste, essencialmente, em


trazer um enunciado de uma questão discursiva – presente no
caderno de questões discursivas - que pede, explicitamente,
a redação de ume peça prática.

Tal situação, obviamente, impossibilitou que a


parte impetrante pudesse ter total compreensão do que
realmente estava sendo cobrado, pois pedir que se elabore
uma peça prática em uma questão contida no caderno de
questões discursivas é absolutamente contraditório e viola
frontalmente os princípios da legalidade, da boa-fé e,
principalmente, da vinculação ao instrumento convocatório.

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça


tem entendimento cristalino em caso idêntico ao que aqui se
trata dizendo que erro no enunciado – como o que aqui se
mostra evidente – é grave e gera a nulidade da questão.
Vejamos:

ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PROVA
DISSERTATIVA. QUESTÃO COM ERRO NO
ENUNCIADO. FATO CONSTATADO PELA BANCA
EXAMINADORA E PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
ILEGALIDADE. EXISTÊNCIA. ATUAÇÃO
EXCEPCIONAL DO PODER JUDICIÁRIO NO
CONTROLE DE LEGALIDADE. SINTONIA COM A
TESE FIRMADA PELO STF NO RE 632.853/CE.
ESPELHO DE PROVA. DOCUMENTO QUE DEVE
VEICULAR A MOTIVAÇÃO DO ATO DE APROVAÇÃO
OU REPROVAÇÃO DO CANDIDATO. NECESSIDADE DE
EXISTÊNCIA PRETÉRITA OU CONCOMITANTE À
PRATICA DO ATO. IMPOSSIBILIDADE DE
APRESENTAÇÃO EM MOMENTO POSTERIOR.
HIPÓTESE EM QUE HOUVE APRESENTAÇÃO A TEMPO
E MODO. INEXISTÊNCIA DE IRREGULARIDADE.
RMS 49.896/RS

No julgado acima citado, o relator destacou que


o erro no enunciado “teve, sim, o condão de influir na
resposta do candidato”, sendo dever das bancas examinadoras
“zelar pela correta formulação das questões, sob pena de
agir em desconformidade com a lei e o edital,
comprometendo, sem sombra de dúvidas, o empenho realizado
pelos candidatos durante quase toda uma vida”.

Desta forma, constatado que houve um grave erro


no enunciado, prejudicando absolutamente o desempenho da
parte impetrante, mister que este juízo reconheça a
ilegalidade e declare a nulidade da questão e atribua à
parte impetrante a totalidade da nota.

B) NULIDADE MATERIAL. ILEGALIDADE EM RAZÃO DE PADRÃO DE


RESPOSTA EM ABSOLUTA CONTRADIÇÃO ÀS LEIS, NORMAS E
JURISPRUDÊNCIA.

Conforme consta do Padrão de Respostas, a parte


impetrada trouxe como resposta correta para pontuação a
necessidade de se emitir uma nota devolutiva, sob
fundamento principal de que havia uma restrição urbanística
convencional que impediria o ato de registro.

Ocorre, Excelência, que o entendimento da banca


não se coaduna com as normas, nem com a doutrina nem
tampouco com a pacífica jurisprudência.

O artigo 1.096 do Código de Normas e


Procedimentos do Foro Extrajudicial de Goiás reza
expressamente que “As restrições presentes no loteamento,
impostas pelo loteador ou pelo Poder Público, inclusive o
acesso controlado, deverão ser obrigatoriamente mencionadas
na matrícula primitiva e nas matrículas dos imóveis
afetados, não cabendo ao oficial de registro, porém,
fiscalizar a observância daquelas restrições”.

Nesse mesmo sentido a doutrina. Vejamos:


“...as restrições convencionais constituem
imposições urbanísticas de ordem pública
prevalentes sobre as restrições
convencionais, podendo derrogá-las em prol
do interesse público e, assim, alterar as
condições iniciais do loteamento, tanto
para aumentar as limitações originárias,
como para liberalizar as construções e
usos vedados anteriormente. (Tratado
Notarial e Registral, vol. 5, 1ª ed., São
Paulo, YK editora, 2020, p. 2342-2343)

“Com efeito, a jurisprudência registral


HOJE TENDE A NEGAR COMPETÊNCIA DO REGISTRO
DE IMÓVEIS PARA CONTROLAR AS RESTRIÇÕES
CONVENCIONAIS, sob o argumento de que não
cabe ao registrador a TUTELA DOS
INTERESSES PRIVADOS, a despeito do
entendimento da doutrina registral mais
tradicional” (KÜMPEL, Vitor Frederico et.
al. Tratado Notarial e Registral vol. 5.
Tomo II. 1a ed. São Paulo : YK Editora,
2020, página 2345).

Nesse mesmo sentido, segue a jurisprudência do


Superior Tribunal de Justiça. Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA


CUMULADA COM DEMOLIÇÃO. PREQUESTIONAMENTO.
AUSÊNCIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. RESTRIÇÕES
URBANÍSTICAS CONVENCIONAIS DO LOTEADOR.
PREVALÊNCIA SOBRE LEGISLAÇÃO MUNICIPAL QUE
DISPÕE SOBRE USO E ORDENAÇÃO DO SOLO.
AUSÊNCIA. 4. Na jurisprudência deste
Tribunal Superior, não há fundamento para
a pretensão da recorrente de fazer
prevalecer uma restrição convencional
originária, imposta unilateralmente pelo
loteador, frente à legislação municipal
que, de forma fundamentada, abranda essas
restrições. 5. Não há como opor uma
restrição urbanística convencional, com
fundamento na Lei 6.766/79, à legislação
municipal que dispõe sobre o uso permitido
dos imóveis de determinada região. De
fato, já em conformidade com a nova ordem
constitucional, a Lei 9.785/99 alterou a
Lei de Parcelamento do Solo Urbano, em seu
art. 4º, § 1º, para reconhecer
expressamente que essa competência é do
município. (Resp 1.774.818/SP. Rel. Min.
Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em
19/05/2020, DJe 25/05/2020) (ver também o
Resp n. 289.093/SP)

STJ: “RECURSO ESPECIAL. (…) RESTRIÇÕES


URBANÍSTICAS CONVENCIONAIS DO LOTEADOR.
PREVALÊNCIA SOBRE LEGISLAÇÃO MUNICIPAL QUE
DISPÕE SOBRE USO E ORDENAÇÃO DO SOLO.
AUSÊNCIA. 1. O propósito recursal consiste
em discutir a validade de restrições
convencionais fixadas pelo loteador, como
fundamento para ação de nunciação de obra
nova e de ação de demolição, frente às
leis municipais posteriores que alteraram
parcialmente a destinação dos imóveis
localizados em determinada via pública.
(…) 4. NA JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL
SUPERIOR, NÃO HÁ FUNDAMENTO PARA a
pretensão da recorrente de FAZER
PREVALECER UMA RESTRIÇÃO CONVENCIONAL
ORIGINÁRIA, IMPOSTA UNILATERALMENTE PELO
LOTEADOR, FRENTE À LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
que, de forma fundamentada, abranda essas
restrições. 5. Não há como opor uma
restrição urbanística convencional, com
fundamento na Lei 6.766/79, à legislação
municipal que dispõe sobre o uso permitido
dos imóveis de determinada região. De
fato, já em conformidade com a nova ordem
constitucional, a Lei 9.785/99 alterou a
Lei de Parcelamento do Solo Urbano, em seu
art. 4º, § 1º, para reconhecer
expressamente que essa competência é do
município. 6. Recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido. (REsp n. 1.774.818/SP, relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 19/5/2020, DJe de 25/5/2020.)”

Assim também decidiu a Corregedoria-Geral da


Justiça de São Paulo, que é um órgão jurisdicional de onde
se origina grande parte da jurisprudência notarial e
registral no Brasil. Vejamos:

“Ao Oficial de Registro de Imóveis,


todavia, não incumbe zelar, com essa
amplitude, pelos interesses dos próprios
beneficiários das restrições de
vizinhança. Somente a estes próprios é que
compete evitar o desvirtuamento da
estipulação obrigada no plano de
loteamento. Tanto assim que o art 24 da
Lei 6.766 coloca à disposição dos
interessados, independentemente de custas,
o exame do processo de loteamento,
disposição análoga à do par. 6º do art 1º
do Dec. 3.079/38. Transferir-se ao
serventuário a tutela dos interesses
privados, ainda que de alcance genérico, e
resultantes das restrições de vizinhança,
não se coaduna com os princípios gerais do
Direito, com os quais o sistema
registrário não pode conflitar”. PROCESSO
Nº 2012/65264. São Paulo, 01 de outubro de
2012. (a) JOSÉ RENATO NALINI, Corregedor
Geral da Justiça. (D.J.E. de 25.10.2012).
Fonte: https://registrodeimoveis.wordpress.com/2012/10/25/a-

existencia-de-restricao-convencional-ou-urbanistica-nao-impede-o-
desdobro-nao-compete-ao-registrador-fiscalizar-alteracao-de-

entendimento/ acesso em 18/10/2022 às 14h


10min.

É absolutamente ILEGAL e avesso à


razoabilidade, bem como uma afronta à isonomia entre os
candidatos, a banca examinadora exigir como resposta
correta a emissão de uma nota devolutiva, tendo o enunciado
disposto que o decreto de unificação estava “de acordo com
o ordenamento jurídico”, e, portanto, apto a ser
registrado.

Noutra senda, verifica-se ainda um vício na


citação de um julgado do S.T.J. pela banca, como fundamento
da resposta esperada, que não guarda relação de pertinência
com o caso problema.

O julgado referido no espelho (RMS 55425/SP)


trata, em verdade, de tema diverso, qual seja: “não admitir
que os eventuais efeitos da sentença penal, em demanda
criminal em trâmite contra ex-sócios da empresa loteadora,
possam impedir o registro do loteamento, a teor do art. 18
da Lei 6.766/1979, porquanto a pessoa jurídica possui
personalidade e patrimônio próprios”.

C) ILEGALIDADE POR EXIGIR CONTEÚDO NÃO PREVISTO NO


EDITAL. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO
INSTRUMENTRO CONVOCATÓRIO.

Na remota hipótese de ser superada por este


juízo as nulidades supracitadas, ainda assim há
ilegalidades em critérios específicos de correção em que há
ilegalidades estampadas.

No critério de avaliação N3, a resposta


esperada pela banca examinadora da VUNESP é baseada no art.
11 da Instrução Normativa nº 1.565/2015 da Secretaria da
Receita Federal. Vejamos:
Conforme se depreende da análise do edital de
abertura do concurso, não consta qualquer previsão no de
instrução normativa, e, muito menos, muito menos, da
Receita Federal do Brasil.

Ademais, o conteúdo abordado na questão diz


respeito ao que consta nos artigos 64 e 64-A da Lei nº
9.532/971 e, evidentemente, estes artigos em nenhum momento
mencionam a necessidade de se fazer qualquer comunicação à
Receita Federal.

A exigência da referida comunicação, além de


questionável a sua legalidade, está contida em norma
absolutamente estranha ao conteúdo do edital e,
consequentemente, não poderia ser exigida.

No critério de avaliação N6, a banca exigiu o


que o candidato indicasse na Nota Devolutiva (que sequer
caberia) a necessidade de apresentação de requerimentos
autônomos para solicitar o cancelamento do usufruto e da
hipoteca por perempção, apartados do requerimento de
unificação de lotes, indicando como fundamento o artigo 843
das Normas – CNPFE/GO.

Nesse critério é patente a ilegalidade quanto à


exigência de requerimento individualizado e distintos para
a prática das averbações, que é absolutamente infundada,
vez que, conforme reza o artigo 150 da lei 6.015/73, em um
mesmo requerimento pode ser formulado os dois pedidos,
cabendo ao oficial registrador a simples e corriqueira
tarefa de gerar dois protocolos para o mesmo documento.
Vejamos:

Art. 150. O apontamento do título,


documento ou papel no protocolo será
feito, seguida e imediatamente um depois
do outro. Sem prejuízo da numeração
individual de cada documento, se a mesma
pessoa apresentar simultaneamente diversos
documentos de idêntica natureza, para
lançamentos da mesma espécie, serão eles
lançados no protocolo englobadamente.

Ademais, conforme o teor do artigo 843 das


Normas Estaduais, não se impõe tal obrigação de
requerimentos apartados, pois a obrigatoriedade é que se
gere mais de um protocolo, ainda que os pedidos estejam
contidos em requerimento único.

A imposição de se abrir um protocolo para cada


título não impõe a necessidade de um requerimento para cada
protocolo. Evidentemente, podem ser abertos vários
protocolos diante de apenas um requerimento com pedidos
diversos. Vejamos o dispositivo:

Art. 843. Para cada título será feito um


protocolo, ainda que apresentado em várias
vias.

A pontuação de critério fundamentado de forma


absolutamente contrária à lei e as normas, impõe a
necessidade de reconhecimento da nulidade do presente
quesito e, consequentemente, a atribuição da referida nota
à parte impetrante

Portanto, por todos os argumentos aqui


apresentados, não resta qualquer dúvida de que a questão 2
não se sustenta, seja no aspecto formal, seja no aspecto
material, e que, a medida mais justa e razoável é a sua
anulação e, consequentemente, a atribuição da integralidade
da nota ao candidato, ou que, subsidiariamente, que sejam
atribuídos os pontos ao candidato dos critérios ilegais (N3
e N6).

2. NULIDADE DE CRITÉRIO DE CORREÇÃO DA DISSERTAÇÃO.


VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO EDITAL.

Quanto ao quesito N3 da DISSERTAÇÃO, a banca


trouxe como critério para pontuação a necessidade de o
candidato apontasse a impossibilidade de ATRIBUIR-SE À
ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA A DENOMINAÇÃO DE ORGANISMO
INTERNACIONAL (“SANTA SÉ”). Vejamos:

Trata-se, Excelência, de expressa cobrança de


conteúdo NÃO PREVISTO NO EDITAL, qual seja, o conhecimento
do decreto Decreto nº 7.107, de 11/02/2010, que promulga o
acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e
a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica
no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13/11/2008,
pelo qual, de fato e de direito, se tem o conhecimento
material quanto à denominação da igreja católica.
Mostra-se evidente que a referida exigência
possui grave e insanável vício de legalidade, uma vez que o
referido conteúdo não tinha qualquer previsão editalícia,
pois, a conclusão de que o nome “Santa Sé” é um nome de
organismo internacional, exigia que o candidato,
alternativamente, tivesse profundos conhecimentos a
respeito de:

a) Direito Internacional Público, que é onde se


encontra disciplinado as normas relacionadas aos organismos
internacionais ou;

b) Direito Canônico (conforme consta no próprio


padrão de respostas) ou que fosse adepto à religião
Católica Apostólica Romana Praticante. Vejamos:

Por óbvio que, tanto o Direito Internacional


Público quanto o Direito Canônico, são disciplinas
totalmente estranhas ao edital e, consequentemente, a
exigência de assuntos relacionados a tais disciplinas
violam frontalmente os princípios da legalidade e da
vinculação ao instrumento convocatório.

Ademais, além da nítida violação ao princípio


da vinculação ao edital, é nítida a violação do princípio
da Isonomia, vez que a necessidade de se ter conhecimento
da natureza jurídica da Santa Sé acabou por privilegiar,
diretamente, os candidatos que professam a religião
Católica Apostólica Romana Praticante.

Portanto, estando devidamente comprovada a


ilegalidade dos assuntos apontados no critério N3, mister
que seja reconhecida a nulidade e seja atribuída à parte
impetrante a integralidade da nota neste item (2,0 pontos –
equivalente a 0,6 pontos na nota final).

3. DA MEDIDA LIMINAR

A MEDIDA LIMINAR se faz necessária no caso em


voga para garantia da ordem jurídica e preservação dos
direitos da parte impetrante.

Nos termos do que dispõe o inciso III, do


artigo 7º, da Lei 12.016/09, a liminar será concedida,
quando for relevante o fundamento do pedido e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida.

In casu, estão presentes os requisitos para a


concessão da medida liminar, inaudita altera pars, para que
a parte imperante possa restabelecer seus direitos e
prosseguir no certame com a pontuação que lhe é justa.

A probabilidade do direito – fumus boni iuris -


restou devidamente comprovada nos termos do exposto no bojo
deste petitório com o apontamento das ilegalidades
praticadas pela autoridade coatora.

Quanto ao risco de dano ou prejuízo ao


resultado útil do processo – periculum in mora - mostra-se
evidente que a não concessão, apesar de a impetrante já
estar classificada, acarretará em uma grave prejuízo na sua
colocação e, consequentemente, estará em uma posição muito
abaixo da que lhe é devida e, principalmente, correndo o
risco de ficar aprovada fora do número de vagas (o que
seria a mesma coisa que reprovada).

Por fim, cumpre ressaltar que a concessão da


medida liminar não acarretará qualquer prejuízo a quem quer
que seja, uma vez que, a reversibilidade da concessão da
medida liminar é plenamente possível acarretando apenas a
recolocação da parte impetrante conforme sua pontuação
atual.

4. PEDIDOS

Por todo exposto, requer à Vossa Excelência:

a) A concessão da medida liminar para ATRIBUIR


PROVISORIAMENTE À PARTE IMPETRANTE A PONTUAÇÃO
INTEGRAL – 1,0 PONTO - REFERENTE À QUESTÃO 02, em
razão da nulidade formal apresentada no item 1, “A”,
dos fundamentos desta exordial;

b) Que, não sendo acatado o pedido anterior, se conceda,


subsidiariamente, medida liminar para ATRIBUIR
PROVISORIAMENTE À PARTE IMPETRANTE A PONTUAÇÃO
INTEGRAL – 1,0 PONTO - REFERENTE À QUESTÃO 02, em
razão da nulidade material apresentada no item 1, “B”,
dos fundamentos desta exordial;

c) Que, não sendo acatado os pedidos anteriores, se


conceda, subsidiariamente, medida liminar para
ATRIBUIR PROVISORIAMENTE À PARTE IMPETRANTE A
PONTUAÇÃO REFERENTE AOS CRITÉRIOS DE CORREÇÃO “N3” E
“N6” DA QUESTÃO 02 – 0,3 PONTOS - em razão das
nulidades apresentadas no item 1, “C” dos fundamentos
desta exordial;

d) Que, CUMULATIVAMENTE com os pedidos anteriores, se


conceda, medida liminar para ATRIBUIR PROVISORIAMENTE
À PARTE IMPETRANTE A PONTUAÇÃO REFERENTE AO CRITÉRIO
DE CORREÇÃO “N3” DA DISSERTAÇÃO – 0,6 PONTOS;

e) Que, concedidos os pedidos retros, que se determine à


banca examinadora, a retificação da nota parte
impetrante e a sua inserção na lista dos candidatos
considerando a nota retificada

f) A intimação da autoridade coatora para cumprimento da


medida liminar;

g) A notificação da autoridade coatora para que, no prazo


de dez dias, prestes as informações necessárias, nos
termos do artigo 7º, I da lei 12.016/09;
h) A intimação do Ilustre representante do Ministério
Público para se manifestar, nos termos da lei
12.016/2009;

i) Que, ao final, seja concedida a segurança para:

1 Reconhecer a nulidade da questão 02 – seja pela


ilegalidade formal seja pela ilegalidade material,
atribuindo à parte impetrante a totalidade da
nota;

2 Subsidiariamente, que se reconheça a nulidade dos


critérios de correção N3 e N6 da questão 02,
atribuindo à parte impetrante a totalidade da
nota destes itens;
3 Em cumulação com os pedidos anteriores, que se
reconheça a nulidade do critério de correção N3
da DISSERTAÇÃO, atribuindo à parte impetrante a
totalidade da nota deste item;

Dá-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais)

Nestes termos pede e aguarda deferimento

Goiânia, 05 de dezembro de 2022.

DR. SILMAR DE OLIVEIRA LOPES

OAB – GO 30.164

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