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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0000932-13.2021.5.10.0013
Relator: BRASILINO SANTOS RAMOS

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 11/04/2022


Valor da causa: R$ 61.262,91

Partes:
RECORRENTE: NAIARA LACERDA SILVA
ADVOGADO: GUALTER HENRIQUE DIAS MARTINS
ADVOGADO: ERICK SANTOS BARROS
RECORRIDO: SACOLAO SERVE BEM HORTIFRUTI EIRELI
ADVOGADO: ROMANO RODRIGUES
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10A REGIAO
13ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA - DF
ATOrd 0000932-13.2021.5.10.0013
RECLAMANTE: NAIARA LACERDA SILVA
RECLAMADO: SACOLAO SERVE BEM HORTIFRUTI EIRELI

13ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA

Processo nº: 0000932-13.2021.5.10.0013

Parte reclamante/embargante: NAIARA LACERDA SILVA

Parte reclamada/embargada: SACOLÃO SERVE BEM HORTIFRUTI


EIRELI

DECISÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

RELATÓRIO

NAIARA LACERDA SILVA opõe embargos de declaração alegando


“omissão” do julgado embargado. Intimada na forma do art. 346 do CPC, a parte ré não
se manifestou.

É o relatório.

Decido.

FUNDAMENTOS

ADMISSIBILIDADE E PETIÇÃO DUPLA

Os embargos são tempestivos. A representação, por sua vez, é


adequada, conforme instrumento de mandato nos autos.

Sendo assim, conheço dos embargos de fls. 166 a 167 dos autos.

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Não conheço, entretanto, da petição de fls. 169 a 171 dos autos,


pois a parte reclamante já tinha apresentado petição de embargos nas fls. 166 a 167,
operando-se a preclusão consumativa do art. 507 do CPC e incidindo o princípio da
unirrecorribilidade recursal. Desta forma, não conheço da petição de fls. 169 a 171 dos
autos.

MÉRITO

A parte embargante, em seus termos, alega que a sentença


esteve em “omissão”. Aduz questões meritórias no tópico de horas extras.

Quanto às alegações de supostos vícios do julgado, os


embargos, com a devida vênia, padecem pela falta de técnica processual. Omissão só
ocorre quando a questão litigiosa não foi analisada, o que não é o caso. A manifestação
da parte reclamante/embargante só demonstra seu inconformismo com parte da
resolução do julgado, o que não empolga provimento de declaratórios. O julgado foi
cristalino nos motivos de suas razões de decidir, conforme se vê dos seguintes trechos,
especialmente os destacados:

“A parte autora também requer horas extras. Ocorre que a


petição inicial é contraditória no que tange aos intervalos intrajornada. Na fl. 06 dos
autos, na petição inicial, a parte autora alega que fazia um intervalo de almoço de 20
minutos. Na fl. 10 dos autos, na mesma petição inicial, a parte autora,
contraditoriamente, alega que fazia um intervalo de, no máximo, 15 minutos. Já na fl.
11 dos autos, a parte autora volta a dizer que fazia 20 minutos de intervalo diário. Ou
seja, a inicial é completamente contraditória no aspecto, pois há dois dados
confrontantes na mesma peça vestibular. E no que toca às potenciais horas extras, a
contradição prejudica a análise de todo o capítulo de horas extras e consectários, na
medida em que o art. 71, §2o, da CLT, é claro ao dizer que os intervalos não são
computados na jornada, bem como o §4o, do mesmo art. 71 da CLT, descreve que, em
caso de supressão parcial do intervalo, só será devido o período suprimido. Ou seja,
não se sabendo, ao certo, se a reclamante gozava de 15 ou 20 minutos de intervalo,
prejudica-se eventual condenação em horas intervalares, bem como prejudica-se a
eventual condenação nas demais horas extras pleiteadas, pois se maior, ou menor, o
intervalo, isto influenciará na quantidade de horas intervalares ou extras efetivamente
devidas, em caso de condenação. Não cabe ao juízo fazer exercício de “adivinhações”
ou “suposições” do que pretendia a parte autora em sua petição, pois o Estado-Juiz está

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adstrito aos limites da causa de pedir e do pedido, nos termos dos arts. 141 e 492 do
CPC, que preconizam o princípio da congruência/adstrição. Por mais simples que seja o
processo do trabalho, o art. 840, §1o, da CLT demandam uma narração minimamente
lógica dos fatos ao juízo, com pedidos certos e determinados, e não conflitantes.(…)
Desta forma, extingo, de ofício, sem julgamento do mérito, os pedidos de horas extras,
horas intervalares e todos os consectários reflexos, nos termos do art. 330, I, §1o, III e
IV do CPC.” (grifei)

Como se vê, a sentença não padece de qualquer omissão. A


partir daí, a parte embargante começa a aduzir ilações, sob a errônea alegação de que
os intervalos seriam “variáveis”, alegação inovatória e que resvala a má-fé processual. O
que se verifica é inconformismo da parte com parte da resolução do julgado, o que não
se resolve por esta via.

Como se vê, não há qualquer contradição, obscuridade, erro


material ou omissão sobre a matéria litigiosa, mesmo porque a matéria litigiosa foi
resolvida claramente e a fundamentação e o dispositivo do julgado estão em harmonia.
Contradição só existe quando fundamentação e dispositivo estão em choque, o que
não é o caso dos autos. Omissão ocorre quando o tópico litigioso não é abordado, o
que não é o caso dos autos. Obscuridade só se dá quando não se sabe o que se
decidiu, o que não é o caso dos autos, haja vista a clareza do julgado. Erro material
ocorre quando há equívoco de digitação ou cálculo, o que também não é o caso dos
autos. Discordâncias meritórias com as teses decididas e provas utilizadas são matérias
afetas a recurso próprio que não é o embargos de declaração. O que a parte
embargante alega como “omissão” é, em verdade, seu inconformismo meritório com
parte da interpretação do caso dada pela sentença embargada, o quê não se resolve
por esta via de declaratórios.

Lembro o acórdão do processo Nº 0001064-12.2017.5.10.0013


(ED-RORSUM), da lavra autorizada do Exmo. Desembargador Ricardo Alencar Machado:

“Os embargos de declaração não se prestam para submeter o


que foi decidido a um novo exame, como se se tratasse de recurso capaz de modificar
a prestação jurisdicional. Visam escoimar a sentença ou o acórdão de defeitos técnicos,
tornando-os claros para o exato cumprimento do comando decisório. A parte não
pode, a pretexto de obter uma declaração do exato sentido do julgado, valer-se dos
embargos para novo pronunciamento jurisdicional, reformando o anterior, nem para

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prequestionar matéria não discutida, com vistas a recurso a instância superior. A via
declaratória e impropria para impugnar a justiça da decisão. Se houve erro no
julgamento, a questão desafia recurso próprio.” (grifei)

Os embargos de declaração da parte reclamante só mostram o


inconformismo da parte embargante com parte do julgado, sem qualquer ocorrência
de contradição, omissão, obscuridade, erro material ou qualquer outro vício que
macule a sentença.

Omissão só existe quando uma matéria litigiosa não é


abordada, situação que inocorre nos autos. As matérias litigiosas foram sobejamente
abordadas na sentença, inclusive com menção à legislação, à jurisprudência e às
provas. Ademais, não cabe prequestionamento em sentença, haja vista o efeito
devolutivo em profundidade, em hipotético Recurso Ordinário, nos termos da Súmula
393 do TST.

A decisão foi fundamentada, lastreada na legislação e nas


provas, o que levou à extinção sem julgamento do mérito de parte das pretensões
elencadas, conforme fundamentos supra. A sentença está perfeita e harmonicamente
fundamentada, enfrentando as questões do julgado, conforme se verificou das
transcrições acima. Em suma, a matéria litigiosa foi resolvida e abordada.

Registro que os vícios cogitados em lei para os embargos de


declaração restam evidenciados naquelas hipóteses onde o órgão jurisdicional,
olvidando os parâmetros traçados pelo art. 141, do CPC, deixa de emitir
pronunciamento sobre questão litigiosa do conflito de interesses, o que
definitivamente inocorreu. Já o inconformismo meritório da parte com a apreciação
dos fatos, provas, ou, ainda, as teses jurídicas consagradas pelo juízo não se resolvem
por esta via. Em outras palavras, omissão só existe quando a questão do conflito não é
decidida, o que não ocorreu no caso; contradição só existe quando dispositivo e
fundamentos estão em conflito, o que não existe no caso, haja vista a harmonia da
fundamentação e conclusão da sentença; obscuridade só existe quando não fica claro
o que se decidiu, o que também não ocorre no caso em concreto. Erro material é
somente referente a digitação, troca de palavras, nomes ou equívocos de cálculos, o
que não ocorre no caso em concreto.

Veja-se que a sentença apreciou todas as questões meritórias e


processuais atinentes à lide, cabendo esclarecer que o juízo, nos termos do art. 93, IX,
da CRFB-88 deve fundamentar a sentença, o que foi amplamente feito, inclusive com
menção à doutrina pátria, sendo completamente entregue a prestação jurisdicional.

A rigor, a parte embargante está inconformada é com parte da


resolução da lide, no que tange ao mérito das questões trazidas, como se deflui do

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próprio conteúdo dos embargos. Os embargos fogem completamente da boa técnica


processual. Logo, procura, pela via estreita dos embargos de declaração, a modificação
de sentença de mérito, com reapreciação das provas, teses e da matéria controvertida,
o que é incabível, pois a sentença está amplamente fundamentada, nos termos do art.
93, IX, da CRFB-88, do art. 836 da CLT e 505 do CPC.

Na verdade, pelos próprios termos da petição de declaratórios,


percebe-se que a parte embargante deseja rediscutir o mérito das questões
levantadas, rediscutindo provas, entendimentos e a questão controvertida em si, o que
já foi considerado pela sentença. A rediscussão desejada pela parte embargante é
inviável pela via dos declaratórios, nos termos dos arts. 836 da CLT e 505 do CPC. A
sentença está fundamentada, na forma do art. 93, IX, da CRFB-88. Claramente, se assim
desejar, a parte poderá direcionar a sua insurgência ao juízo revisor adequado que,
certamente, não é mais a primeira instância. Ou seja, a parte poderá exercer a sua
faculdade de recurso ao TRT.

Como se vê, o juízo analisou as matérias atinentes à lide,


cabendo esclarecer que o juízo, nos termos do art. 93, IX, da CRFB-88, deve
fundamentar a sentença, o que foi amplamente feito, sendo completamente entregue
a prestação jurisdicional. Caso a parte entenda que a interpretação jurídica dada aos
fatos e provas não é a acertada, é claro que poderá direcionar sua insurgência para o
órgão revisor adequado, o que é seu direito.

A rigor, a parte embargante está inconformada é com parte da


resolução da lide, no que tange ao mérito das questões trazidas, como se deflui do
próprio conteúdo dos embargos. Logo, procura a parte, pela via estreita dos embargos
de declaração, a modificação de sentença de mérito, com reapreciação das provas,
teses e da matéria controvertida, o que é incabível, pois a sentença está amplamente
fundamentada, nos termos do art. 93, IX, da CRFB-88, do art. 836 da CLT e 505 do CPC.
Mero inconformismo não impulsiona provimento de declaratórios.

Friso que não cabe prequestionamento de sentença, em razão


do efeito devolutivo amplo do recurso ordinário (Súmula 393 do TST), em que
hipotético RO devolve ao TRT todos os fundamentos da inicial e da defesa. Veja-se a
redação da Súmula, após a vigência do NCPC:

Súmula nº 393 do TST


RECURSO ORDINÁRIO. EFEITO DEVOLUTIVO EM
PROFUNDIDADE. ART. 1.013, § 1º, DO CPC DE 2015. ART. 515, § 1º, DO CPC DE 1973.

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(nova redação em decorrência do CPC de 2015) – Res. 208/2016, DEJT divulgado em 22,
25 e 26.04.2016

I - O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário,


que se extrai do § 1º do art. 1.013 do CPC de 2015 (art. 515, §1º, do CPC de 1973),
transfere ao Tribunal a apreciação dos fundamentos da inicial ou da defesa, não
examinados pela sentença, ainda que não renovados em contrarrazões, desde que
relativos ao capítulo impugnado.

II - Se o processo estiver em condições, o tribunal, ao julgar o


recurso ordinário, deverá decidir desde logo o mérito da causa, nos termos do § 3º do
art. 1.013 do CPC de 2015, inclusive quando constatar a omissão da sentença no exame
de um dos pedidos.

Ou seja, a Súmula, revista pelo TST após o novo CPC, confirma


que a sentença de primeiro grau não está obrigada a esgrimir todo fundamento
meritório da tese da parte, mesmo porque os fundamentos meritórios da parte
embargante já foram propriamente esgrimidos quando o juízo entendeu pela extinção
dos pleitos nos pontos levantados e fundamentou o posicionamento adotado,
afastando-se, assim, toda a argumentação em contrário, que é subordinante ao
decidido. Neste sentido, o Enunciado 12 da ENFAM – Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados:

“Não ofende a norma extraível do inciso IV do § 1º do art. 489 do


CPC/2015 a decisão que deixar de apreciar questões cujo exame tenha ficado
prejudicado em razão da análise anterior de questão subordinante.”

Neste sentido, o E. TRT da 3ª Região, na lavra autorizada do i.


Desembargador Júlio Bernardo do Carmo:

0001022-21.2013.5.03.0102 RO(01022-2013-102-03-00-4 RO)

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Órgão Julgador: Quarta Turma

Relator: Julio Bernardo do Carmo

Revisor: Maria Lucia Cardoso Magalhaes

Vara de Origem: 2a. Vara do Trab.de Joao Monlevade

Publicação: 19/05/2014

(...)

“As partes devem atentar para o disposto nos artigos 17, 18 e


538, § único do CPC, c/c o art. 769, da CLT, eis que não cabem embargos de declaração
para reexame de fatos e provas (Súmulas 126 e 410/TST c/c as Súmulas 07/STJ e 279
/STF), sob pena de manifestarem inconformismos incompatíveis com a técnica
processual, em franca indiferença aos argumentos da autoridade judiciária. Foi dada
interpretação razoável de lei para o caso concreto (matéria de direito), sem violar direta
e literalmente quaisquer normas do ordenamento jurídico nacional (Súmula 221, II/TST
c/c o art. 131/CPC e Súmula 400/STF). Adotou-se tese explícita sobre as matérias, de
modo que a referência a dispositivos legais e constitucionais é desnecessária.
Inteligência da OJ118/SBDI-1/TST. Caso entendam que a violação nasceu na própria
decisão proferida, inexigível se torna o prequestionamento. Inteligência da OJ 119/SBDI-
1/TST.O juiz não está obrigado a rebater especificamente as alegações da parte: a
dialética do ato decisório não consiste apenas no revide dos argumentos da parte pelo
juiz, mas no caminho próprio e independente que este pode tomar, que se restringe
naturalmente aos limites da lide, mas nunca apenas à alegação da parte.Se a parte não
aceita o conteúdo normativo da decisão, deve interpor o recurso próprio.” (grifei)

O julgado embargado, inclusive, foi claríssimo ao rogar às partes


para evitar embargos fora das hipóteses legais. Disse a sentença embargada:

“Advirto às partes para que evitem o uso de declaratórios fora


das hipóteses legais, sob pena de atrair as cominações sancionatórias dos parágrafos
do art. 1026 do CPC e da CLT, que incidem sobre o valor original da causa..” (sem grifos
no original)

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A parte, em verdade, deseja tentar modificar parte do desfecho


do julgado, calcada nas errôneas alusões de alegação de “omissão”, o que é incabível
na via estreita deste tipo de apelo. Uma vez fundamentada a sentença, eventual
insurgência meritória ou processual deve ser direcionada à instância própria, frisando-
se que não há prequestionamento em sede sentencial.

Na verdade, a parte embargante deseja uma fundamentação


extravagante ou favorável a seu entendimento, que vai contra os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, vai contra o princípio da independência do juízo,
bem como vai contra o princípio da simplicidade que vigora dentro do processo do
trabalho com o fim único que o juízo modifique a sua visão meritória dos fatos em um
sentido que favoreça a parte embargante. Tal posicionamento afronta a independência
e o livre convencimento do Judiciário, o que é incabível. A tentativa de modificação da
sentença, sob a errônea alegação que a decisão estaria eivada de “omissão” é uma
requisição de extravagância à fundamentação, o que já foi rechaçado pela coletividade
dos magistrados da 10a Região, em Enunciados próprios. Como se viu, a sentença está
fundamentada e o que pede a parte embargante é a modificação meritória do feito
pelo seu ponto de vista o que é contra o próprio Enunciado 31 dos magistrados do TRT
da 10a Região, enunciado este elaborado e aprovado pelos magistrados da 10a Região,
no ano de 2016:

“Enunciado 31

REQUISITOS EXTRAVAGANTES DE FUNDAMENTAÇÃO .


OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM A
SIMPLICIDADE DO PROCESSO DO TRABALHO.

Não se aplica ao processo do trabalho o disposto nos


incisos I, IV, V e VI do § 1º do art. 489 do CPC, por afronta ao princípio da
proporcionalidade (exigência desnecessária e inadequada), pela
incompatibilidade com a simplicidade do processo do trabalho (CLT, art. 769) e,
no caso do inciso VI, ainda por afrontar o princípio da independência do juiz.“

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Não havendo qualquer vício passível de ser sanado em


declaratórios, improcedem os embargos.

Por fim, por considerar protelatórios os embargos e atentatórios


ao espírito do inc. LXXVIII do artigo 5º da CRFB-88, comino à embargante a pena de
multa de 2% sobre o valor original da causa (montante total da multa em R$1.225,26),
em favor da parte embargada, uma vez que tal cominação é consequência natural da
utilização indevida dos embargos de declaração, valor este que deverá ser decotado da
condenação, sendo que, antes da liberação de valores à parte reclamante, deverá
haver o decote do valor em favor da reclamada, ora embargada. Em hipótese idêntica,
já decidiu no mesmo sentido a SbDI-I do TST, na lavra autorizada do Ministro Augusto
César Leite de Carvalho:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EMBARGOS EM


RECURSO DE REVISTA. VÍCIOS INEXISTENTES. NATUREZA PROTELATÓRIA. Não
merecem provimento os embargos de declaração opostos sem a
demonstração da existência de omissão, contradição, obscuridade ou erro
material no acórdão embargado, na forma prevista nos arts. 897-A da CLT e
535 do CPC. Assim, considerando a natureza protelatória do recurso,
imperiosa a imposição da multa de 1% do valor da causa, nos termos do
artigo 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil. (ED-E-RR - 177440-
04.2003.5.15.0044 , Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Data
de Julgamento: 30/09/2010, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Data de Publicação: DEJT 08/10/2010)

No mesmo sentido, acórdãos das lavras do Exmo. Ministro João


Oreste Dalazen e da Exma. Ministra Kátia Magalhães Arruda, em processos já na
vigência do NCPC:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. INTUITO PROCRASTINATÓRIO.
MULTA 1. A mera insurgência da parte embargante contra a tese adotada no
acórdão embargado, sem a necessária demonstração de omissão,
contradição ou equívoco manifesto no exame dos pressupostos extrínsecos

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do recurso principal, não enseja o acolhimento de embargos de declaração,


que visam a obter um juízo integrativo-retificador da decisão. 2. Ausente na
decisão impugnada quaisquer dos vícios elencados no art. 897-A da CLT e,
ainda, caracterizado o intuito meramente protelatório dos embargos de
declaração, impõe-se a condenação da Embargante à multa de que trata o
art. 1.026, § 2º, do CPC de 2015. ( ED-ED-RR - 1117-53.2012.5.05.0030 ,
Relator Ministro: João Oreste Dalazen, Data de Julgamento: 13/04/2016, 4ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 22/04/2016)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. RECURSO DE REVISTA. LEI Nº 13.015/2014. RECLAMADO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO
PÚBLICO. OMISSÃO, OBSCURIDADE E CONTRADIÇÃO NÃO EXISTENTES. Não
se constatando no acórdão embargado omissão, obscuridade, contradição,
ou manifesto equívoco na análise dos pressupostos extrínsecos do recurso,
tem-se que a parte utilizou os embargos de declaração como meio de
modificar a decisão, o que não se admite. Evidencia-se, pois, o caráter
manifestamente procrastinatório do recurso utilizado, e é cabível a aplicação
da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC/73 (art. 1.026, § 2º, do
CPC de 2015). Embargos de declaração que se rejeitam, com aplicação de
multa. (ED-ED-RR - 48700-27.2013.5.16.0019 , Relatora Ministra: Kátia
Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 04/05/2016, 6ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 06/05/2016)

No mesmo sentido, este Egrégio TRT, confirmando sentença


deste magistrado:

Acórdão do(a) Exmo(a) Desembargador(a) Federal do


Trabalho MÁRIO MACEDO FERNANDES CARON

Processo: 01315-2015-006-10-00-2-RO

Ementa

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REDISCUSSÃO DE FATOS E PROVAS


. INCIDÊNCIA DAMULTA DO§2º DO ART. 1026 DO NOVO CPC. Constatada a interposição
de embargos declaratórios para rediscutir fatose provas, resta caracterizada a natureza
protelatória, impondo-se a aplicação da multa prevista no §2º do art. 1026 do Novo CPC
porque configurado o intuito protelatório.
Recurso do reclamante conhecido e desprovido. (grifei)

CONCLUSÃO

Pelo exposto, conheço e julgo improcedentes os embargos de


declaração opostos pela parte reclamante, tudo conforme fundamentos supra, os
quais integram este dispositivo para todos os efeitos legais.

Por fim, por considerar protelatórios os embargos e atentatórios


ao espírito do inc. LXXVIII do artigo 5º da CRFB-88, comino à embargante a pena de
multa de 2% sobre o valor original da causa (valor total da multa em R$1.225,26), em
favor da parte embargada reclamada, uma vez que tal cominação é consequência
natural da utilização indevida dos embargos de declaração, com atualização a ser
aferida em fase de liquidação. Em execução, a multa deverá ser atualizada, com juros e
correção (conforme os índices utilizados na sentença), no momento processual
adequado. Tendo em vista a multa aplicada, diminuo o valor arbitrado para a
condenação para R$4.774,74, com novo valor de custas de R$95,49.

Intimem-se as partes, sendo a parte autora por meio de seus


advogados cadastrados. Dispensada a intimação da parte ré, que fica ciente pelo
disposto no art. 346 do CPC.

Nada mais.

BRASILIA/DF, 25 de março de 2022.

MARCOS ULHOA DANI


Juiz do Trabalho Substituto

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https://pje.trt10.jus.br/pjekz/validacao/22032508494994300000029909845?instancia=1
Número do processo: 0000932-13.2021.5.10.0013
Número do documento: 22032508494994300000029909845

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