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0000/SC
RELATÓRIO
1.1) Do recurso
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Após, ascenderam os autos a este Colegiado.
VOTO
A parcela não conhecida diz respeito a tese sobre a ausência de decisão sobre a impugnação
ao pedido de justiça gratuita, pois o benefício sequer foi deferido as partes que pleitearam
na origem (art. 100, CPC), caracterizando a ausência de interesse recursal no ponto.
Em que pese a alegação, verifica-se que os próprios elementos carreados aos autos são
suficientes para a solução da controvérsia instaurada. Permanecem unicamente questões
de direito que, com a juntada dos documentos, torna-se dispensável a produção de outras
provas.
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do Sul, rel. Des. Jaime Ramos, 25/06/2012).
Inclusive, restou devidamente justificado pelo magistrado singular na sentença (evento 93):
2.4) Do mérito
A parte agravante asseverou que o agravado ROMILDO FREIRE DA SILVA perdeu o prazo
para apresentar manifestação ao incidente na origem, devendo esta (evento 82 - origem)
ser reconhecida como intempestiva.
Ocorre que, em razão da citação/intimação de ROMILDO FREIRE DA SILVA ter ocorrido por
carta precatória, este respeitou os ditames dos artigos 231, VI e 232, do Código de Processo
Civil, motivo pelo qual não há falar em intempestividade da manifestação.
Por fim, a parte agravante defende que o agravado está agindo em abuso de direito,
estando inserido no artigo 50 do Código Civil. Também destacou que o agravado não
cumpriu a regra do artigo 1.033, do Código Civil.
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Isso porque o feito está despido de provas, ônus este que era da parte agravante, então
exequente.
Deste Tribunal:
Ocorre, todavia, que, com a entrada em vigor da Lei n. 13.874/2019, modificando o art.
1.052 do Código Civil para admitir a existência de sociedade limitada unipessoal, a regra de
reconstituição da pluralidade de sócios depois de vencido o prazo legal para tanto,
conforme disciplinava o art. 1.033, inc. IV, do Código Civil, restou revogada.
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§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
Não fosse isso, não há razão para penalizar alguém por suposta penalidade se a nova lei visa
justamente a normalizar a atividade empresarial do sócio único remanescente, antes dita
como irregular - uma das premissas do legislador para sua aprovação -, sem levar em conta,
ainda, que antes não existia no ordenamento jurídico nada dizendo que a ausência de
pluralidade da sociedade limitada depois de escoado o prazo de 180 (cento e oitenta) dias
acarretaria na responsabilização do sócio unitário de forma pessoal e ilimitada, pois o art.
1.033, inc. IV, do Código Civil prescrevia unicamente que tal circunstância levaria à
dissolução da sociedade.
Aliás, dada a intenção do devedor, ao proceder a criação de uma sociedade limitada com
outra pessoa, é evidente que, com a manutenção da empresa de forma unipessoal, esta, à
época, passou a desempenhar suas funções como se fosse empresa individual de
responsabilidade limitada, em interpretação ao, então vigente, parágrafo único do art.
1.033 do aludido diploma, caindo, assim, por terra a alegação de que houve a ocorrência ato
jurídico perfeito acerca da transformação da sociedade em firma individual ilimitada.
De minha relatoria:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade
ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério
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Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o
caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
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patrimonial, em razão de abuso da personalidade jurídica, o órgão judicante, a
requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo,
esteja autorizado a desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, para coibir
fraudes de sócios que dela se valeram como escudo sem importar essa medida numa
dissolução da pessoa jurídica. Com isso subsiste o princípio da autonomia subjetiva da
pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios; tal distinção, no entanto, é afastada,
provisoriamente, para um dado caso concreto, estendendo a responsabilidade negocial aos
bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica (Código Civil comentado.
Coordenadora Regina Beatriz Tavares da Silva. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 57-58).
A capacidade imaginativa do ser humano, muitas vezes utilizada para praticar o bem, de
outras é gasta na operação de todo tipo de fraude e enganação.
Com a criação da ficção da pessoa jurídica separaram-se rigidamente as pessoas dos sócios
da personalidade jurídica da pessoa jurídica. O direito formal, como devia sê-lo no caso,
sempre deixou patente a hirta separação existente, inclusive no que respeitava à assunção
de responsabilidades, a formação do patrimônio etc.
Acontece que o indivíduo, que não é inocente, passou a usar sua capacidade de criação para
acobertar sob o manto formal da pessoa jurídica toda sorte de práticas abusivas e ilícitas.
O direito não podia ficar à margem desse processo, observando a clara manipulação
praticada pelos detentores do poder nas pessoas jurídicas, que as estavam utilizando de
maneira desviada.
Por isso, aos poucos passou a aceitar que, em casos especiais, a figura da pessoa jurídica
fosse desconsiderada para que se pudesse alcançar a pessoa do sócio e seu patrimônio
(Comentários ao código de defesa do consumidor. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 377).
No caso, porém, não restou demonstrado qualquer abuso da personalidade jurídica, que se
caracterizaria pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
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FIM, AUSÊNCIA DE PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A DESCONSIDERAÇÃO
DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
DE CONFUSÃO PATRIMONIAL OU DESVIO DE FINALIDADE. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 5042940-80.2022.8.24.0000, do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, rel. Guilherme Nunes Born, Primeira Câmara de Direito Comercial,
j. 20-10-2022).
3.0) Conclusão
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Agravo de Instrumento Nº 5059755-55.2022.8.24.0000/SC
EMENTA
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.
PRELIMINAR.
MÉRITO.
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PRETENSÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO ÚNICO SÓCIO DA SOCIEDADE LIMITADA EM RAZÃO
DO DESCUMPRIMENTO DA REGRA DO ART. 1.033, IV, DO CPC. NÃO ACOLHIMENTO. LEI N.
13.874/2019 QUE ALTEROU A NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DE DOIS OU MAIS SÓCIOS.
VIABILIDADE DE SOCIEDADE LIMITADA UNIPESSOAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO
SOLIDÁRIA DA DÍVIDA AO SÓCIO UNITÁRIO.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 1ª Câmara de
Direito Comercial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina decidiu, por
unanimidade, conhecer em parte do recurso para negar-lhe provimento, nos termos do
relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente
julgado.
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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 02/02/2023
Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual do dia 02/02/2023, na
sequência 332, disponibilizada no DJe de 16/01/2023.
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Votante: Desembargador GUILHERME NUNES BORNVotante: Desembargador JOSÉ
MAURÍCIO LISBOAVotante: Desembargador MARIANO DO NASCIMENTO
PRISCILA DA ROCHASecretária
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