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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/07/2023

Número: 1067697-35.2023.4.01.3400
Classe: PETIÇÃO CRIMINAL
Órgão julgador: 10ª Vara Federal Criminal da SJDF
Última distribuição : 13/07/2023
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Responsabilidade Criminal por Danos Nucleares
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CPMI dos Atos de 8 de Janeiro (REQUERENTE) EDVALDO FERNANDES DA SILVA (ADVOGADO)
MAURO CESAR BARBOSA CID (REQUERIDO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
17096 13/07/2023 05:24 Petição inicial Petição inicial
42448
17096 13/07/2023 05:24 Representação_CPMI-8-de-Janeiro_x_Mauro-Cesar- Outras peças
42449 Barbosa-Cid
17096 13/07/2023 05:24 doc1_Ofício-300-2023-CPMI8 Documento Comprobatório
42450
17096 13/07/2023 05:24 doc2_Habeas-Corpus-229.323_STF_decisão-liminar Documento Comprobatório
42451
17096 13/07/2023 05:24 doc3_OF130 Comunica ADVOSF _registro de BO Documento Comprobatório
42452
Petição e documentos em pdf anexos.

Assinado eletronicamente por: EDVALDO FERNANDES DA SILVA - 13/07/2023 05:09:05 Num. 1709642448 - Pág. 1
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URGENTE

SENADO FEDERAL
Advocacia

EXMO. JUÍZO DA ____ VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL,

A COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO


DO CONGRESSO NACIONAL DOS ATOS DE 8 DE JANEIRO “CPMI
– 8 DE JANEIRO”, por meio da Advocacia do Senado Federal, ex vi dos artigos
31, 80 e 2051 do Regulamento Administrativo do Senado Federal, instituído pela
Resolução do Senado Federal nº 58, de 10 de novembro de 1972, com última
consolidação nos termos do Ato da Comissão Diretora nº 14, de 8 de novembro de
2022, c/c Ofício nº 215/2023 - CPMI8 (doc1), com amparo no artigo 32 da Lei
8.038, de 28 de maio de 1990 e nos artigos 1º, 2º e 4º, II, haja vista as razões de fato
e de direito a seguir aduzidas, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência
apresentar face de MAURO CESAR BARBOSA CID, brasileiro, casado, Tenente-
coronel do Exército Brasileiro, CPF nº 927.781.860-34, RG n.º 031940934-8,
residente e domiciliado em Brasília, na QRO, Conjunto 9, casa 714, Setor Militar
Urbano, CEP nº 70630226, Distrito Federal,

REPRESENTAÇÃO.

1À Advocacia do Senado Federal, órgão de assessoramento superior do Senado Federal, compete prestar consultoria
e assessoramento jurídicos à Mesa, à Comissão Diretora, à Procuradoria Parlamentar, à Corregedoria Parlamentar, à
Secretaria-Geral da Mesa; à Diretoria-Geral e demais órgãos da estrutura administrativa da Casa; opinar sobre minutas
de atos e contratos administrativos a serem firmados pelo Senado Federal ou suas unidades; aprovar minutas-padrão;
propor à Comissão Diretora a criação, alteração ou revogação de enunciados normativos; atuar em juízo na defesa das
prerrogativas do Senado Federal e do Congresso Nacional, neste caso mediante autorização específica, asseguradas as
garantias profissionais conferidas aos advogados públicos pela Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, e legislação correlata
aplicável ao serviço público federal; elaborar as peças processuais e informações a serem encaminhadas à Advocacia-
Geral da União, ou, nos casos previstos em lei, diretamente ao Judiciário, com os elementos técnicos de fato e de
direito necessários à defesa judicial e extrajudicial dos interesses da União e do Senado Federal. (...).

Praça dos Três Poderes – Senado Federal – Bloco 02 – Ed. Senador Ronaldo Cunha Lima – 1º andar – Av. N2 – CEP
70165-900 - Brasília – DF – Telefone: 55 (61) 3303-4750 – Fax: 55 (61) 3303-2787 – advocacia@senado.leg.br

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URGENTE

SENADO FEDERAL
Advocacia

I. DOS FATOS

1. Aos 11 de julho de 2023, o Sr. MAURO CESAR BARBOSA CID


compareceu à 8ª Reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso
Nacional denominada “CPMI – 8 DE JANEIRO”.

2. Na ocasião, o Presidente da CPMI, o Deputado Federal Arthur Maia,


destacou que a oitiva observaria a decisão proferida pela Exma. Ministra Carmén
Lúcia em 26 de junho de 2023, no âmbito do Habeas Corpus nº 229.323/DF.

3. Conforme a referida decisão, a Exma. Ministra Carmén Lúcia concedeu


parcialmente a ordem (doc2) para determinar o comparecimento do paciente à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e assegurar ao depoente: a) o direito de
ser assistido por seu advogado e com ele se comunicar pessoal e reservadamente,
garantidas as prerrogativas da Lei nº 8.906, de 1994; b) o direito de não ser obrigado
a produzir prova contra si, podendo manter-se em silêncio e não ser obrigado a
responder a perguntas que possam incriminá-lo, sendo-lhe vedado faltar com a
verdade quanto aos demais questionamentos não inseridos nem contidos
nesta cláusula2 (grifos nossos).

4. Destaca-se o dispositivo da decisão:

(...)
Pelo exposto, concedo parcialmente a ordem, apenas para assegurar
ao paciente, que tem o dever de comparecimento perante a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para a qual convocado,
que, ao ser inquirido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
“CPMI – 8 de janeiro”, seja respeitado a) o direito de ser assistido
por seu advogado e com ele se comunicar pessoal e reservadamente,
garantidas as prerrogativas da Lei n. 8.906/1994; b) o direito de não
ser obrigado a produzir prova contra si, podendo manter-se em
silêncio e não ser obrigado a responder a perguntas que possam

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URGENTE

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incriminá-lo, sendo-lhe vedado faltar com a verdade quanto aos


demais questionamentos não inseridos nem contidos nesta
cláusula. (...)
(Destaques contidos nos originais).

5. Nesse diapasão, em consonância com a determinação judicial, o depoente


prestou o compromisso de dizer a verdade quantos aos fatos que não tivessem o
condão de incriminá-lo, nos termos do art. 203, do Código de Processo Penal.
Destacam-se trechos das notas taquigráficas:

(...)

O SR. PRESIDENTE (Arthur Oliveira Maia. UNIÃO - BA) –


(...)
Esclarecimentos
Decisão da Ministra Cármen Lúcia, em medida cautelar de Habeas
Corpus nº 229.323, do Distrito Federal, de 26 de junho, concedeu
parcialmente a ordem, apenas para assegurar ao paciente: a) o
direito de ser assistido por seu advogado e com ele se comunicar
pessoal e reservadamente, garantidas as prerrogativas da Lei nº
8.906, de 1994; b) o direito de não ser obrigado a produzir prova
contra si, podendo manter-se em silêncio e não ser obrigado a
responder a perguntas que possam incriminá-lo, sendo-lhe vedado
faltar com a verdade quanto aos demais questionamentos não
inseridos nem contidos nesta cláusula.
Decisão do Ministro Alexandre de Moraes, na PET nº 10.405, do Distrito
Federal, de 29 de junho de 2023, determinou que o depoente
comparecesse a esta Comissão: a) na condição de testemunha, tendo o
dever legal de manifestar-se sobre os fatos e acontecimentos relacionados
ao objeto da investigação, estando, entretanto, assegurado o direito ao
silêncio e a garantia de não autoincriminação, se instado a responder
perguntas cujas respostas possam resultar em seu prejuízo ou em sua
incriminação; e b) seja assistido por seus advogados durante a sua oitiva,
podendo comunicar-se com eles, observados os termos regimentais e a
condução dos trabalhos pelo Presidente da CPMI.
Considerando que as decisões, Tenente-Coronel Mauro Cid, não escusam
de firmar termo de compromisso, eu vou ler o termo de compromisso
para que V. Sa. responda.

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URGENTE

SENADO FEDERAL
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V. Sa. promete, quanto aos fatos de que tenha conhecimento na


qualidade de testemunha, sob palavra de honra, nos termos do art.
203 do Código de Processo Penal, dizer a verdade no que souber e
lhe for perguntado?
Por favor, no microfone.
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID – Sim”.
O SR. PRESIDENTE (Arthur Oliveira Maia. UNIÃO - BA) - A partir
deste momento, V. Sa. está sujeito ao compromisso de dizer a verdade
quanto aos fatos de que tenha conhecimento na qualidade de testemunha,
nos termos do art. 203 do Código de Processo Penal.
Nesta oportunidade, esclareço que o art. 4º, inciso II, da Lei nº 1.579, de
1952, estabelece que fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, perante a Comissão
Parlamentar de Inquérito, constitui crime punível com pena de reclusão
de dois a quatro anos e multa.
Fica claro, portanto, Coronel, que, pelas duas decisões do Supremo
Tribunal Federal, V. Exa. não precisa falar absolutamente nada que o
autoincrimine. Entretanto, V. Exa. está aqui na condição de testemunha.
Portanto, aquilo que não o incriminar, aquilo que não for contra a sua
defesa, o senhor tem a obrigação, pela lei, de responder. Então, V. Exa.
pode se calar naquilo que, eventualmente, o incrimine; mas não pode se
calar naquelas outras questões que não o incriminem, porque, na condição
de testemunha, V. Exa. é obrigado a dizer a verdade e não se calar”3.
(Grifos acrescidos). (...).

6. No entanto, o que se observou após o compromisso do depoente foi o


desrespeito à decisão proferida pela Exma. Ministra Carmén Lúcia proferida
no HC nº 229.323 no que ostensivamente abusou dos direitos inerentes à
garantia de não autoincriminação em detrimento do adequado
funcionamento do inquérito parlamentar e das prerrogativas de investigações
legislativas conferidas pela Constituição a República e pela soberania popular
ao Congresso Nacional e às respectivas Câmaras.

3
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/r/11621, minuto 10:36, acesso em
12/07/2023.

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URGENTE

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7. A conduta do representado substanciou o delito previsto no artigo 4º,


II, da Lei nº 1.579, de 18 de março de 19524, uma vez que o depoente na
condição de testemunha “calou a verdade”.

8. Conforme amplamente divulgado pelos meios de comunicação6, o


depoente furtou-se a responder todos os questionamentos formulados por
parlamentares durante o seu depoimento em 11 de julho de 2023, extrapolando
flagrante os termos da ordem concedida no Habeas Corpus nº 229.323, que lhe
assegurou o direito ao silêncio estritamente quanto a fatos que implicassem
autoincriminação, com a ressalva expressa de que lhe era “vedado faltar com a
verdade quanto aos demais questionamentos não inseridos nem contidos
nesta cláusula”.

9. O depoente fez uso da palavra nos 15 (quinze) minutos no início da sessão,


conforme pode ser observado nas notas taquigráficas e divulgação na imprensa7, e
na oportunidade deixou claro que não responderia a qualquer pergunta, em
vergastamento à r. decisão proferida pela Ministra Cármen Lúcia no Habeas Corpus
nº 229.323,

10. Já no início da oitiva8, diante de questionamento da Relatora o inquérito


parlamentar, o representado reiterou que nada deporia à Comissão:

4 Art. 4º. Constitui crime:


(...)
II - fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, perante a
Comissão Parlamentar de Inquérito:
Pena - A do art. 342 do Código Penal.
6 https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2023/07/mauro-cid-respondeu-42-vezes-que-ficaria-em-
silencio-na-cpi-dos-atos-golpistas.ghtml, acesso em 12/07/2023.
7 https://www.estadao.com.br/politica/mauro-cid-se-negou-a-falar-ate-sobre-idade-e-numero-de-filhos-veja-as-
perguntas-sem-respostas/, acesso em 12/07/2023.
8
A íntegra do depoimento está disponível em: https://www.youtube.com/live/jPWEcRIH2cM?feature=share e
em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/r/11621. Acesso em: 13 jul. 2023.

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URGENTE

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(...)
(11:44) A SRA. ELIZIANE GAMA (PSD - MA)
(...)
Eu quero finalizar, deixando pro senhor um apelo, até em nome da sua
família e em nome da sua história: que o senhor, na verdade, se dispusesse,
ou se pelo menos pensa em se dispor, a contribuir com os trabalhos desta
Comissão, trazendo as informações que são fundamentais para um objeto
fundamental que nós temos e o objeto claro desta Comissão, que é a
investigação dos atos do dia 8 de janeiro. O senhor tem interesse de
colaborar com esta Comissão?
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID - Senadora, eu compreendo e
respeito todo o posicionamento de V. Exa., mas, dentro de todo o
espectro que eu estou sendo investigado, vou continuar seguindo a
orientação dos meus advogados e, baseado em habeas corpus, me
manterei em silêncio. (...).

11. Exemplifica o abuso perpetrado pelo depoente o seguinte excerto da


oitiva:
(...)
(14:28) A SRA. JANDIRA FEGHALI (PCdoB - RJ. Para interpelar.) -
Obrigada, Presidente.
Sr. Mauro Cid, qual é a sua idade? (Pausa.)
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID (Para depor.) - Deputada, com
todo respeito a V. Exa., mas, para manter a coerência do que eu venho
falando e seguindo a orientação da minha equipe técnica, eu permanecerei
em silêncio.
(...)
(12:48) O SR. DUARTE JR. (PSB - MA) - É uma pergunta simples,
Cid - é uma pergunta simples. Qual é o primeiro preceito da ética
militar?
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID - Em respeito ao senhor, reitero
minhas considerações iniciais, que, intimamente, por tudo o que eu tenho
sido investigado, vou seguir a orientação dos meus advogados e do habeas
corpus do STF e vou permanecer em silêncio.
(...)
O Sr. Sargento Dos Reis era da sua equipe de ajudante de ordens?

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O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID - Permanecerei em silêncio,


Deputada.
(15:16) A SRA. SORAYA THRONICKE (PODEMOS - MS. Para
interpelar.) - Sr. Presidente, Sra. Relatora, todos os demais, Sr. Depoente
e Srs. Causídicos, boa tarde!
Eu gostaria de iniciar perguntando ao depoente: Coronel-Tenente
Mauro Cid, o senhor se declara inocente?
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID (Para depor.) - Excelência, com
todo o respeito, entendo a pergunta da senhora, de V. Exa., mas, para
manter a coerência, não utilizarei esse espaço de fala para me defender.
Em razão do escopo do que estou sendo investigado, seguindo orientação
dos meus advogados e baseado em habeas corpus, vou fazer uso do meu
silêncio.
(16:28) O SR. SERGIO MORO (UNIÃO - PR. Para interpelar.) -
Obrigado, Sr. Presidente.
Em relação ao Tenente-Coronel Cid... Tenente, só para esclarecer,
isso já ficou evidente, mas até para poupar tempo, V. Sa. não
pretende responder nenhuma pergunta, por orientação dos seus
advogados? E eu não o estou censurando.
O SR. MAURO CESAR BARBOSA CID (Para depor.) - Não. Não
senhor, Senador. (...).

II. CONTEXTUALIZAÇÃO

III.I. Do regime constitucional das CPIs


1. As comissões parlamentares de inquérito surgem e se desenvolvem pari
passu com a democracia e demais instituições de índole republicana que efetivam a
cláusula da accountability universal, inerente ao princípio da cidadania, que tem alcance
reforçada em relação aos que se investem de poderes públicos, como é o caso do
representado.

2. Dispõe o artigo 58, § 3º9, da Constituição da República de 1988 que:

9 A Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952, regulamenta as Comissões Parlamentares de Inquérito.

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(...)

As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de


investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores. (...).

3. O inquérito parlamentar é consectário da soberania popular, que não


apenas determina prospectivamente a atuação de agentes investidos em poderes
públicos, como tem a prorrogativa de investigar e responsabilizar retrospectivamente
atos ilícitos atribuíveis a esses agentes.

4. Conforme muito bem descrito pela Suprema Corte em Watkins vs. Estados
Unidos, o poder investigativo do Parlamento

(...) engloba inquéritos relativos à administração de leis existentes, bem


como estatutos propostos ou possivelmente necessários. Inclui
pesquisas de defeitos em nosso sistema social, econômico ou
político com o objetivo de permitir que o Congresso os remedie.
Compreende investigações em órgãos do Governo Federal para expor
corrupção, ineficiência ou desperdício.10 (Grifos próprios).

5. A investigação parlamentar que incide sobre a atuação de agentes públicos


não pode ser obstruída por uma hermenêutica equivocada dos direitos fundamentais,
uma vez que não diz respeito precipuamente ao cidadão oprimido por abuso de

10
Disponível em: https://www.oyez.org/cases/1956/261. Acesso em 24/10/2021.

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poder, mas ao agente público que possa ter testemunhado ou incorrido em abuso de
poder em detrimento da cidadania.

6. Por isso, a rigor, não se trata de investigar indivíduos, mas, à luz do § 3º


do artigo 3º da Carta Política, o que está em questão é, por imperativo de interesse
público, o escrutínio de fato(s) determinado(s) para fins de aperfeiçoamento da
estruturação e do funcionamento da ordem constitucional republicana.

7. Daí porque, com absoluta precisão, asseverou o Ministro Edson Fachin,


ao julgar o Mandado de Segurança (MS) n° 33.751/DF:

(...) além da função contra majoritária fiscalizatória do Poder Executivo,


reiteradamente assentada por esta Corte, as CPIs figuram como
instrumento essencial das atividades parlamentares como um todo,
na medida em que objetivam "reunir dados e informações para o
exercício das funções constitucionais conferidas ao Parlamento"
(FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Conflito entre poderes. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1994. p. 174), de forma que viabilizam a atividade
parlamentar em sua plenitude. Em outras palavras, incumbe às Comissões
em apreço não apenas as atividades de fiscalização. As CPIs também têm
como horizonte instrumentalizar a atividade legiferante do
Parlamento, a avaliação da conveniência de alocação de recursos e
de financiamento de políticas públicas etc. Nesse cenário, é natural
que se confira às CPIs ampla autonomia para o exercício do relevante
múnus. (...) Há, portanto, espaço para que o Parlamento se
movimente com certa discricionariedade nos quadrantes das
diversas possíveis linhas investigativas a serem traçadas. (...) o
âmbito de atuação da CPI deve ser compreendido não apenas a
partir do destinatário subjetivo da apuração, mas, sobretudo, do
âmbito material de investigação à luz das funções essenciais
conferidas pela CF ao Congresso Nacional. (...) Como se nota, atos
praticados na esfera privada não são imunes à investigação parlamentar,
desde que evidenciada a presença de interesse público potencial em tal
proceder. Sendo assim, mais que sustentáculo da responsabilização civil
ou criminal, a apuração empreendida no contexto das CPIs deve guardar
relação instrumental com o conjunto das atividades parlamentares. Ou
seja, o que deve ser perquirido, portanto, é a existência potencial de
interesse público no objeto de investigação, sob a perspectiva das
competências, no caso concreto, do Senado Federal.

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URGENTE

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(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Segurança nº


33.751 (voto do rel. p/ o ac. min. Edson Fachin). Primeira Turma, j. 15
dez. 2015, 1ª T, p. DJE de 31 mar. 2016) (Grifos próprios).

8. E, no caso das comissões mistas, como a instalada para investigar os


episódios que culminaram com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes
da República, o escopo de atuação e amplo e corresponde ao espectro de
competências do Congresso Nacional, como se depreende do seguinte excerto de
voto do saudoso Ministro Paulo Brossard:

(...) A possibilidade de criação de CPI se não duvida, nem discute; é


tranqüila; sobre todo e qualquer assunto? Evidentemente, não; mas sobre
todos os assuntos de competência da Assembléia; assim, Câmara e Senado
podem investigar questões relacionadas com a esfera federal de governo;
tudo quanto o Congresso pode regular, cabe-lhe investigar; segundo
Bernard Schwartz, o poder investigatório do Congresso se estende
a toda a gama dos interesses nacionais a respeito dos quais ele pode
legislar, ― it may be employed over the Whole range of the national
interests concerning which the Congress may legislate or decide, A
Commentary on the Constitution of the United Station, 1963, I, n.
42, p. 126. O mesmo vale dizer em relação às CPI‘s estaduais; seu raio de
ação é circunscrito aos interesses do estado; da mesma forma quanto às
comissões municipais, que hão de limitar-se às questões de competência
do município.
(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus nº 71.039 (voto
do relator). Rel. Min. PAULO BROSSARD, Plenário, j. 7 abr. 1994,
Plenário, p. DJ de 6 dez. 1996) (Grifos próprios).

12. Portanto, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos


de 8 de janeiro de 2023, que redundaram na invasão e na depredação das sedes dos
Três Poderes da República, criada ex vi do Requerimento do Congresso Nacional
(CN) n° 1, de 2023, não tem como objetivo final a incriminação de pessoas, mas visa
ao fortalecimento da democracia e das demais instituições republicanas, que
asseguram a todos os cidadãos a vida, liberdade e a propriedade, condicionada pelos
direitos sociais, na forma da Carta Política de 1988.

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13. Assim, se de um lado, como cidadão tem o direito de se valer das garantias
inerentes à não incriminação, por outro lado, tem o dever reforçado de, como
testemunha, depor à Comissão Parlamentar de Inquérito fatos alheios a essa cláusula
e de que eventualmente tenha conhecimento em razão de sua investidura em elevadas
funções públicas que exerceu concomitantemente aos fatos sob investigação.

14. Por outro lado, nos termos do § 3º do artigo 58 da Constituição da


República e do artigo 1º da Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952, “As comissões
parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais (...).

15. Ademais, ex vi do artigo 2º do sobredito diploma legal, “No exercício de


suas atribuições, poderão as Comissões Parlamentares de Inquérito determinar
diligências que reputarem necessárias (...)” à consecução de sua missão
constitucional.

16. Na espécie, entende-se que a imediata adoção de medidas cabíveis sob a


jurisdição criminal competente é imprescindível para a garantia da ordem pública
imbrincada com o adequado funcionamento do inquérito parlamentar.

II.II. DIREITO AO SILÊNCIO. ABUSO. TIPIFICAÇÃO DOS DELITOS


PREVISTOS NO ART. 4º, II, DA LEI 1.579/52 E ART. 68 DO DECRETO-
LEI Nº 3.688/41.

17. O direito ao silêncio do investigado é uma das vertentes do princípio nemo


tenetur se detegere, o qual preceitua que ninguém é obrigado a produzir provas contra si
mesmo.

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18. Encontra previsão no art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, artigo
14.3, “g”, do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e artigo 8º, §2º, “g”,
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado.
ARTIGO 14 - do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.
Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas
garantias por um tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal
formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de
caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da
totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem
pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer
quando o interesse da vida privada das Partes o exija, que na medida em
que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em
circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os
interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria
penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de
menores exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito à
controvérsias matrimoniais ou à tutela de menores.
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a,
pelo menos, as seguintes garantias:
(...)
g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-
se culpada.
ARTIGO 8
Garantias Judiciais
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro
de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente
e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus
direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza.

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2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua


inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
(...)
g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a
declarar-se culpada; (...).

19. Consoante as lições da doutrina processualista, a origem do direito ao


silêncio remonta ao julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966, em que a
Suprema Corte americana firmou o entendimento de que nenhuma validade pode
ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes ela tenha
sido claramente informada de: 1) que tem o direito de não responder; 2) que tudo o
que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 3) que tem o direito à assistência de
defensor escolhido ou nomeado11.

20. Nesse contexto, conforme assentou a Exma. Ministra Carmén Lúcia no


âmbito do HC 229.323, a jurisprudência do Supremo Tribunal sedimentou-se no
sentido de serem oponíveis às Comissões Parlamentares de Inquérito o direito ao
silêncio diante de perguntas que possam conduzir à autoincriminação do depoente.

21. Ainda de acordo com a referida decisão, no tocante ao direito ao silêncio,


devem ser observados os limites específicos do referido direito fundamental. Diante
disso, não estão albergados quaisquer questionamentos, mas sim aqueles que
poderiam levar à autoincriminação. Destaca-se:

(...) devem ser obedecidos, portanto, os limites específicos desse direito


constitucional, referentes a dados e informações que poderiam levar à
autoincriminação. Não se há de ter por incluídos nessa definição todo e
qualquer questionamento e respectiva resposta sobre matéria que não
indique, nem possibilite autoincriminação, sob pena de cercear-se a

11
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 8ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020,
pág. 73.

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legítima e necessária atuação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Não


há fundamento constitucional válido para esse proceder. O convocado
não pode se eximir de responder questões sobre sua identificação, por
exemplo, ou qualquer outra sem relação com o que possa incriminá-lo,
negando respeito às atividades legítimas e necessárias da Comissão
Parlamentar de Inquérito, que presta serviço necessário ao esclarecimento
de questões de interesse público. (...).

22. No contexto da CPI da Pandemia, o Supremo Tribunal Federal assentou


de forma mais precisa critérios para o sopesamento entre as garantias de não
incriminação assegurado aos depoentes em CPIs e o interesse público na produção
da prova.

23. Nota-se que na espécie, o depoente in statu assertionis não é incriminável


em todos os quadrantes do inquérito parlamentar, nem poderia produzir prova
contra si ao responder aritmeticamente à pergunta da Deputado Federal Jandira
Feghali sobre sua idade e outros questionamentos de igual singeleza que lhe foram
endereçados pelos parlamentares na oitiva.

24. Em vez disso, resta claro que incorreu em abuso de direito à luz da
jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal amostrada nos seguintes
precedentes:
(...)
O artigo 5º, LXIII, da Constituição Federal garante ao paciente o direito
de permanecer em silêncio exclusivamente quanto aos fatos que possam
incriminá-lo.
(...) O postulado da separação de poderes e a legitimidade constitucional
do controle, pelo Judiciário, das funções investigatórias das CPIs, se e
quando exercidas de modo abusivo. Doutrina. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal.
(...).

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Por outro lado, o art. 58, § 2º, V, da Constituição Federal assevera que às
comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe “solicitar
depoimento de qualquer autoridade ou cidadão”.
Por sua vez, o art. 206 do CPP dispõe que “A testemunha não poderá
eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o
ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o
irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias”.
Consectariamente, na qualidade de testemunha de fatos em tese
criminosos, a depoente tem o dever de comparecer e de dizer a
verdade, não lhe assistindo, quanto a tais fatos, quer o direito ao silêncio,
quer o não comparecimento perante Comissão Parlamentar de Inquérito.
Nesse sentido, e referindo-se à mesma CPI da Pandemia, cito o HC
203.800/DF, Rel. Min. Rosa Weber, do qual destaco o seguinte trecho:
“Ao contrário das pessoas investigadas, às quais se reconhecem as prerrogativas de ficar
em silêncio e até mesmo de deixar de comparecer ao interrogatório (ADPF 395/DF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, Pleno, DJe 22.5.2019), as testemunhas, via de regra, estão
sujeitas à obrigação de comparecer perante o órgão de investigação parlamentar, quando
regularmente intimadas, sob pena de serem submetidas à condução coercitiva, podendo
o comportamento faltoso resultar na aplicação de multa e na condenação por crime de
desobediência (Lei 1.579/52, art. 3º, § 1º, c/c CPP, arts. 218 e 219), além de
caracterizar delito de falso testemunho o silêncio injustificado manifestado pela
testemunha inquirida sobre os fatos indagados pelos membros das CPI’s”.
Desse modo, satisfeitos apenas em parte os requisitos do fumus boni iuris e
do periculum in mora, a concessão parcial da ordem é medida que se impõe.
Ex positis, e firme nos precedentes desta Corte, concedo, em parte, a
liminar pretendida, a fim de que, no seu depoimento perante a CPI da
Pandemia, e exclusivamente em relação aos fatos que o incriminem,
a paciente tenha o direito de: i) permanecer em silêncio sobre o conteúdo
das perguntas formuladas; ii) não ser obrigada a assinar termo de
compromisso de dizer a verdade, uma vez que os fatos indicam que será
ouvida na condição de investigada; iii) de ser assistida por advogado e iv)
de se comunicar, livremente e em particular, com este, garantindo-se o
direito contra a autoincriminação (art. 5º, inciso LXIII, da CRFB), excluída
possibilidade de ser submetida a qualquer medida privativa de liberdade
ou restritiva de direitos em razão do exercício dessas prerrogativas
constitucionais.

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Por outro lado, à luz dos fundamentos anteriormente lançados, indefiro


o pedido de não comparecimento, impondo-se, quanto aos fatos,
em tese, criminosos de que a paciente seja meramente testemunha,
o dever de depor e de dizer a verdade, nos termos da legislação
processual penal.
Comunique-se, com urgência, à autoridade coatora (Presidente da CPI da
Pandemia) o inteiro teor da presente decisão.
Requisitem-se informações.
Em seguida, abra-se vista à Procuradoria-Geral da República.
Publique-se. Cumpra-se.
Brasília, 12 de julho de 2021.
CPI da Pandemia) o inteiro teor da presente decisão.
Requisitem-se informações.
Em seguida, abra-se vista à Procuradoria-Geral da República.
Publique-se. Cumpra-se.
Brasília, 12 de julho de 2021.
Ministro LUIZ FUX
Presidente

(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus nº 204422/DF


(decisão monocrática do Presidente Luiz Fux. Rel. Min. Roberto
Barroso, p. DJ nº 139, 13 jul. 2021) (Grifos originais).

(...)
Com efeito, a não autoincriminação tem assento constitucional,
instaurando direito subjetivo, a ser exercido por qualquer cidadão, de não
produzir prova contra si mesmo. Por óbvio, o primeiro juízo sobre o
conteúdo desse direito compete ao seu próprio titular, a quem cabe a
avaliação inicial sobre os impactos da produção de determinada
informação sobre a sua própria esfera jurídica. Nesse sentido, é o titular
do direito quem exterioriza a primeira manifestação de vontade em relação
ao exercício da não autoincriminação.
Por outro lado, nenhum direito fundamental é absoluto, muito
menos pode ser exercido para além de suas finalidades
constitucionais. Nesse ponto, às Comissões de Parlamentares de
Inquérito, como autoridades investidas de poderes judiciais, recai o poder-

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dever de analisar, à luz de cada caso concreto, a ocorrência de alegado


abuso do exercício do direito de não incriminação. Se assim entender
configurada a hipótese, dispõe a CPI de autoridade para a adoção
fundamentada das providências legais cabíveis.
Nos estreitos limites da matéria posta no presente habeas corpus, ação
constitucional que não comporta revolvimento de matéria fático-
probatória, não compete ao Supremo Tribunal Federal se imiscuir no
conteúdo do depoimento da Paciente, muito menos supervisionar
previamente o exercício das atribuições jurisdicionais exclusivas da
Comissão Parlamentar de Inquérito. Outrossim, compete à CPI fazer
cumprir os regramentos legais e regimentais, estabelecendo, para tanto, as
balizas necessárias para que investigados, vítimas e testemunhas possam
exercer, nos limites próprios, seus direitos fundamentais, inclusive o
direito da não autoincriminação.
Ex positis, reafirmando os termos da decisão monocrática proferida em
12.07.2021, ACOLHO PARCIALMENTE os embargos de declaração
para os esclarecimentos acima expostos.

Publique-se. Int.

Brasília, 13 de julho de 2021.

Ministro LUIZ FUX


Presidente

(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Embargos de Declaração no


Habeas Corpus nº 204422/DF (decisão monocrática do Presidente
Luiz Fux). Rel. Min. Roberto Barroso, p. DJe nº 140, 14 jul. 2021) (Grifos
originais).

25. No âmbito das discussões envolvendo os depoimentos da “CPMI – 8


DE JANEIRO”, o STF já decidiu que “a testemunha tem o dever de se manifestar
sobre os fatos e acontecimentos relacionados ao objeto da CPMI ligados ao exercício
de sua função pública que então exercia, devendo, contudo, ser assegurada a garantia
de não autoincriminação, se instado a responder a perguntas cujas respostas possam
resultar em prejuízo ou em sua incriminação.” (SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. Medida Cautelar no Habeas Corpus nº 229.668/DF. Rel. Min.
Alexandre de Moraes, p. DJe, 27 jun. 2023).

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26. No caso em comento, configurou-se clara e inequivocamente abuso do


direito ao silêncio por parte do representado, mediante condutas tipificadas como
infrações penais.

27. De acordo com o artigo 4º, II, da Lei 1.579/52, constitui crime fazer
afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor
ou intérprete, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito.

28. Imperiosa a persecução penal para a responsabilização do depoente.

III. PEDIDOS

29. Ante ao exposto, requerem-se:

a) o recebimento e processamento desta representação, em desfavor do


Senhor MAURO CESAR BARBOSA CID, em relação ao delito de
“calar a verdade como testemunha” perante inquérito parlamentar,
previsto no artigo 4º, II, da Lei 1.579/52;

b) a promoção de demais diligências que se entenderem necessárias para


A persecução penal;

c) a intimação dos advogados infra-assinados para todos os atos;

30. Nesses termos, pede-se deferimento.

Brasília, 13 de julho de 2023.

[ v i d e a s si n a tu ra el et r ô n i c a ]
EDVALDO FERNANDES DA SILVA
Advogado do Senado Federal
OAB/DF nº 19.233 | OAB MG nº 94.500
Coordenador do Núcleo de Processos Judiciais

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[ v i d e a s si n a tu ra el et r ô n i c a ]
PEDRO GUALTIERI
Advogado do Senado Federal
OAB/DF nº 75.524

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IV. RELAÇÃO DE DOCUMENTOS ANEXOS

▪ doc1_Ofício-300-2023-CPMI8;

▪ doc2_Habeas-Corpus-229.323_STF_decisão-liminar;

▪ doc3_OF130 Comunica ADVOSF _registro de BO.

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00100.119487/2023-70

Secretaria-Geral da Mesa
Secretaria de Comissões
Coordenação de Comissões Especiais, Temporárias e Parlamentares de Inquérito
Ofício nº 300/2023 - CPMI8

Brasília, 12 de julho de 2023


A Sua Senhoria o Senhor
Thomaz Henrique Gomma De Azevedo
Advogado-Geral do Senado Federal

Assunto: Apuração depoimento Sr. Mauro Cid

Senhor Advogado-Geral,

Cumprimentando-o cordialmente, informo que solicitei à SPOL a


apuração de eventuais violações cometidas pelo Sr. MAURO CID em seu depoimento
prestado perante a CPMI8 ontem, em especial, tendo em vista as decisões judiciais
aplicáveis - da Ministra Cármen Lúcia em medida cautelar de Habeas Corpus nº
229.323/DF, de 26/06-2023, e do Ministro Alexandre de Moraes, na PET nº
10.405/DF, de 27/06/2023.
Nesse sentido, solicito que, de acordo com o resultado das apurações da
SPOL, esta Advocacia do Senado Federal elabore representação desta Presidência em
desfavor do depoente perante o Supremo Tribunal Federal, com vistas a resguardar as
prerrogativas da CPMI8.

Atenciosamente,

Deputado ARTHUR OLIVEIRA MAIA


Presidente da CPMI dos Atos de 8 de Janeiro (RQN 1/2023)

Senado Federal | Secretaria-Geral da Mesa | Secretaria de Comissões


Coordenação de Comissões Especiais, Temporárias e Parlamentares de Inquérito
Ala Senador Alexandre Costa, Subsolo, Sala 19 | CEP 70165-900 | Brasília DF
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CONSULTE EM http://www.senado.gov.br/sigadweb/v.aspx.

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HABEAS CORPUS 229.323 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


PACTE.(S) : MAURO CESAR BARBOSA CID
IMPTE.(S) : BERNARDO LOBO MUNIZ FENELON E
OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : PRESIDENTE DA COMISSÃO PARLAMENTAR
MISTA DE INQUÉRITO DOS ATOS DO DIA 8 DE
JANEIRO - CPMI 8 DE JANEIRO

DECISÃO

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL.


COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE
INQUÉRITO “CPMI – 8 DE JANEIRO”.
CONVOCAÇÃO PARA PRESTAR
DEPOIMENTO. DEVER DE
COMPARECIMENTO. DIREITO
CONSTITUCIONAL DE ASSISTÊNCIA DE
ADVOGADO E DE NÃO PRODUZIR
PROVA CONTRA SI. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA.
PROVIDÊNCIAS PROCESSUAIS.

Relatório
1. Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado
em 15.6.2023 por Bernardo Fenelon e outros, advogados, em benefício de
Mauro Cesar Barbosa Cid contra ato do Presidente da Comissão
Parlamentar de Inquérito, Deputado Federal Arthur Oliveira Maia, pelo
qual aprovados requerimentos para convocação do paciente para prestar
depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso
Nacional em relação aos fatos atentatórios aos Poderes da República em 8
de janeiro de 2023 (fls. 6-8, e-doc. 1).
O caso
2. Os impetrantes afirmam que, “[d]e acordo com o Requerimento (CN)
n.º 1, de 2023, liderado pelo Deputado Federal André Fernandes, foi solicitada ‘a

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HC 229323 / DF
criação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, (...) para, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias, investigar os atos de ação e omissão ocorridos no dia 08 de
janeiro de 2023 nas Sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, nos termos
dos arts. 58 da Constituição Federal e 21 do Regimento Comum do Congresso
Nacional’” (fl. 2, e-doc. 1).

Alegam que, “em 13.6.2023, na terceira reunião da CPMI, o Paciente foi


alvo de diversos requerimentos de convocação para prestar depoimento sobre os
atos de 8 de janeiro (Doc. n.º 1) – ora apontado como ato coator” (fl. 3, e-doc. 1).

Asseveram que, “[a]inda que parte desses requerimentos mencione que o


Paciente deverá ser ouvido na condição de testemunha, o conteúdo das
justificativas de convocação não deixa nenhuma dúvida sobre sua condição de
investigado” (fl. 3, e-doc. 1).

Ressaltam que, “por ser objeto de inúmeros requerimentos de convocação,


o Paciente possui receio plausível e justo da prática iminente de atos ilegais e
constrangedores que poderiam ocorrer durante seu depoimento perante a CPMI,
motivo pelo qual pleiteia a concessão de salvo conduto preventivo em seu favor”
(fl. 3, e-doc. 1).

Assinalam que o “objeto da presente impetração se limita única e


exclusivamente ao asseguramento do direito a não autoincriminação, tendo em
vista que o Paciente é formalmente investigado por esses supostos fatos nos autos
da PET 10.405/DF, que tramita perante este e. Supremo Tribunal Federal, sob a
relatoria do Excelentíssimo Ministro Alexandre de Moraes” (fl. 3, e-doc. 1).

Argumentam que, “[d]e acordo com os artigos 66 e seguintes do


Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, por se tratar de pedido novo,
com objeto próprio e independente – um ato coator advindo de uma decisão do
poder legislativo –, não existe qualquer vinculação direta a requerimentos
formulados nos autos da PET 10.405/DF ou em qualquer outro inquérito sob

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HC 229323 / DF
relatoria do Ministro Alexandre de Moraes” (fls. 3-4, e-doc. 1).

Enfatizam que, “[n]o âmbito das Comissões Parlamentares de Inquérito,


este e. Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento jurisprudencial de
que, uma vez constatada a condição de investigado do convocado, a aplicação da
garantia constitucional a não autoincriminação alcança não apenas a
prerrogativa ao silêncio, como também o direito ao não comparecimento” (fls. 4-
5, e-doc. 1).

Realçam que “a condição de investigado do Paciente no conjunto fático de


apuração pela CPMI é incontroversa por dois motivos: a) a própria
fundamentação dos requerimentos mostra que os parlamentares claramente fazem
uma presunção de autoria delitiva do Paciente nos supostos fatos que serão
investigados; e b) a Polícia Federal, na PET 10.405/DF, encaminhou o ofício nº
2272311/2023 – CCINT/CGCINT/DIP/PF, requerendo a intimação do Paciente
para que este esclarecesse exatamente esse objeto: ‘foram identificados
documentos relacionados a uma possível tentativa de execução de um Golpe de
Estado envolvendo os investigados’” (fl. 8, e-doc. 1).

Apontam “justo receio de constrangimento ilegal vindouro a ser imposto


ao Paciente na CPMI, na condição de investigado – risco de comparecimento
compulsório e ofensa ao exercício do direito constitucional ao silêncio –, deve ser
concedida a prerrogativa constitucional de não produzir prova contra si mesmo”
(fl. 9, e-doc. 1).

Reiteram que “o Paciente estaria obrigado a depor em uma Comissão


Parlamentar Mista de Inquérito sobre elementos de prova que sua Defesa Técnica
desconhece em absoluto; bem como, antes mesmo do depoimento formal nos autos
da investigação existente perante este e. Supremo Tribunal Federal – dentro de
um conhecido contexto no qual o Paciente, desde sua prisão preventiva, tem feito
uso de seu Direito Constitucional ao Silêncio” (fl. 11, e-doc. 1).

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Número do documento: 23071305082546300001692142634
HC 229323 / DF
São os requerimentos e o pedido:
“Por todo exposto, respeitosamente, requer-se:
(i) Seja afastada, em sede liminar, a compulsoriedade do
comparecimento do paciente na ‘CPMI – 8 de janeiro’,
transmudando-a para uma facultatividade do Paciente;
(i.1) Se optar pelo comparecimento ao ato, seja
assegurado, ainda em sede liminar:
a) o direito ao silêncio, ou seja, de não
responder as perguntas que lhe forem direcionadas;
b) o direito à assistência de seus advogados
durante o ato;
c) o direito de não ser submetido ao
compromisso de dizer a verdade ou de subscrever
quaisquer termos com esse conteúdo, e;
d) o direito de não sofrer constrangimentos
físicos, morais e psicológicos decorrentes do exercício
dos direitos anteriores.
(i.2) Se optar pelo não comparecimento, seja
assegurada a garantia de não ser conduzido
coercitivamente.
(ii) No mérito, seja a ordem concedida para confirmar a
liminar requerida, tornando seus efeitos definitivos” (fls. 11-12,
e-doc. 1).

3. Em 19.6.2023, foi determinada a remessa dos autos à Presidência


deste Supremo Tribunal, para deliberação sobre eventual prevenção do
presente habeas corpus (e-doc. 20). Em 20.6.2023, a Presidente, Ministra
Rosa Weber, manteve inalterada a distribuição comum do presente habeas
corpus, determinando a devolução dos autos a esta relatoria (e-doc. 21).

4. Em 22.6.2023, requisitou-se ao Presidente daquela Comissão


Parlamentar Mista de Inquérito, Deputado Federal Arthur Oliveira Maia,
“no prazo de vinte e quatro horas, prestar informações pormenorizadas sobre o
alegado na presente impetração, esclarecendo em que condição será convocado o

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HC 229323 / DF
paciente, se testemunha ou investigado” (e-doc. 22). Em 24.6.2023, as
informações foram prestadas (e-doc. 24).

Examinada a matéria posta à apreciação, DECIDO.

5. De se realçar que os impetrantes marca, até mesmo com ênfase, na


peça inicial deste habeas, que “o objeto da presente impetração se limita
única e exclusivamente ao asseguramento do direito a não
autoincriminação, tendo em vista que o Paciente é formalmente investigado por
esses supsotos fatos nos autos da PET 10.405/DF, que tramite perante este
Supremo Tribunal Federal sob a relatoria do Excelentíssimo Ministro Alexandre
de Moraes”. (fls. 1)

6. As circunstâncias postas na inicial e os elementos trazidos aos


autos conduzem à parcial concessão da ordem, para que o paciente
compareça à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito “CPMI – 8 de
janeiro”, como aprovado pelos seus integrantes no exercício regular de
suas funções constitucionais, com o resguardo das garantias
constitucionais que lhe são asseguradas.

A Comissão Parlamentar de Inquérito dota-se de poderes


investigatórios conferidos, constitucionalmente, a esse órgão com o
objetivo de atender o interesse público especificado, valendo-se ela dos
instrumentos legalmente assegurados para o atingimento de seu objetivo
específico e eficiente, em equilíbrio com os direitos constitucionais
daqueles que a ela comparecem por requisição de seus integrantes.

7. A jurisprudência deste Supremo Tribunal sedimentou-se no


sentido de serem oponíveis às Comissões Parlamentares de Inquérito a
garantia constitucional contra a autoincriminação e, consequentemente, o
direito ao silêncio quanto a perguntas cujas respostas possam resultar em
autoincriminação do depoente.

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HC 229323 / DF

Ao decidir sobre liminar requerida no Habeas Corpus n. 134.260, o


Ministro Celso de Mello expôs o entendimento consolidado na
jurisprudência deste Supremo Tribunal sobre a questão:
“Trata-se de ‘habeas corpus’ preventivo, com pedido de medida
liminar, impetrado em razão de o ora paciente haver sido convocado
pela CPI do CARF, para, em reunião a ser realizada em 05/05/2016, às
9h30, “prestar depoimento sobre fatos relacionados ao objeto de
investigação” da referida Comissão ‘na qualidade de testemunha, nos
termos dos artigos 202 a 225 do Código de Processo Penal’.
Busca-se, em sede cautelar, a concessão, em favor do ora
paciente, das seguintes garantias:
‘a) seja concedido ao paciente o direito de ser assistido por
seu advogado e de comunicar-se livremente com este durante a
sua inquirição;
b) considerando a qualidade inequívoca de investigado, que
o paciente seja dispensado da assinatura de eventual termo de
compromisso legal de testemunha;
c) seja concedido salvo-conduto ao paciente para que,
quando de seu depoimento perante a Comissão Parlamentar de
Inquérito do CARF, possa valer-se da garantia constitucional do
silêncio em toda a sua plenitude, excluída a possibilidade de ser
submetido a qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva
de direitos em razão do exercício de tais prerrogativas
processuais.’ (...)
...observo, desde logo, que, embora o ofício de convocação indique
que o ora paciente participará da reunião da CPI na condição de
testemunha, a simples leitura das justificativas apresentadas nos
requerimentos de convocação revela que o paciente em questão ostenta,
inequivocamente, a posição de investigado. Vale destacar, no ponto, a
justificação apresentada no Requerimento nº 121, cujos fundamentos
põem em destaque esse aspecto que venho de mencionar:
‘No final de 2015, o Brasil foi surpreendido com a
divulgação de informações relativas à Operação Zelotes que

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Número do documento: 23071305082546300001692142634
HC 229323 / DF
investiga denúncia de manipulação de julgamento no âmbito do
CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
As suspeitas são de que, por meio de intermediários,
conselheiros cobravam propina para anular autuações fiscais ou
reduzir substancialmente os tributos devidos à União.
Segundo reportagem da Revista Época de maio de 2015 o
ex-conselheiro admitiu à Policia Federal que negociou R$ 500
mil reais em propinas e afirmou que parte desse valor seria
repartido com integrantes da Receita Federal. Ele foi conselheiro
do CARF entre 2011 e 2014, por indicação da Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
Em depoimento a Policia Federal em Brasília no dia 26 de
março de 2015, ele confessou ter operado em favor do Banco
Santander. O banco é alvo de cobranças de mais de R$ 1 bilhão
no Carf.’ (...)
Essa particular situação afasta a possibilidade de obrigar-se o ora
paciente, como pessoa sob investigação, a assinar o termo de
compromisso, unicamente exigível a quem se qualifique como
testemunha (CPP, art. 203).
Por tal motivo, não há como obrigar o ora paciente a cumprir
esse dever jurídico que a legislação impõe, como regra geral (CPP, art.
203), apenas às testemunhas.
Desse modo, o paciente em causa deverá comparecer perante a
CPI do CARF na data para a qual foi intimado, sem que se lhe possa
impor, no entanto, em face das razões que venho de expor, a obrigação
de assinar o respectivo termo de compromisso, e sem que se possa
adotar, como consequência do regular exercício de tal prerrogativa
jurídica, qualquer medida restritiva de seus direitos ou privativa de
liberdade.
Postula-se, ainda, seja liminarmente garantido ao ora paciente o
exercício do direito ao silêncio, com todos os consectários que decorrem
do reconhecimento dessa inafastável prerrogativa de ordem jurídica.
Acolho, também nesse ponto, o pleito em questão, eis que o
Supremo Tribunal Federal, em inúmeros precedentes (HC 128.390-
MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 128.837-MC/DF, Rel.

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Número do documento: 23071305082546300001692142634
HC 229323 / DF
Min. CÁRMEN LÚCIA – HC 129.000-MC/DF, Rel. Min. LUIZ
FUX – HC 129.009/DF, Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.), tem
reconhecido esse direito em favor de quem é convocado a comparecer
perante Comissões Parlamentares de Inquérito, seja na condição de
investigado, seja na de testemunha:
(…) (HC 79.812/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não constitui demasia assinalar, na linha da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, que o exercício do direito ao silêncio por
parte do ora paciente, por traduzir legítima prerrogativa
constitucional, não autorizará que se lhe imponha qualquer medida
privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
O direito ao silêncio – e o de não produzir provas contra si
próprio (HC 96.219-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO) –
constitui prerrogativa individual que não pode ser desconsiderada por
qualquer dos Poderes da República, independentemente – insista-se –
da condição formal (seja a de indiciado, seja a de investigado, seja a de
testemunha) ostentada por quem é intimado a comparecer perante
órgãos investigatórios do Estado, inclusive perante Comissões
Parlamentares de Inquérito.
Assiste, por igual, a qualquer pessoa que compareça perante
Comissão Parlamentar de Inquérito o direito de ser acompanhada por
Advogado e de com este comunicar-se pessoal e reservadamente, não
importando a condição formal por ela ostentada (inclusive a de
investigado ou a de testemunha), tal como expressamente assegurado
pela jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal (HC
95.037- -MC/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – HC 100.200/DF,
Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – HC 113.646-MC/DF, Rel. Min.
DIAS TOFFOLI – MS 23.452/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO –
MS 30.906-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Daí o explícito reconhecimento, em sede legal, do direito de o
depoente, quer como indiciado, quer como testemunha, ‘fazer-se
acompanhar de advogado, ainda que em reunião secreta’ (Lei nº
1.579/52, art. 3º, § 2º, acrescentado pela Lei nº 10.679/2003).
Nesse contexto, é assegurada ao Advogado a prerrogativa – que
lhe é dada por força e autoridade da lei – de velar pela intangibilidade

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HC 229323 / DF
dos direitos daquele que o constituiu como patrono de sua defesa
técnica, competindo-lhe, por isso mesmo, para o fiel desempenho do
‘munus’ de que se acha incumbido, o exercício dos meios legais
vocacionados à plena realização de seu legítimo mandato profissional.
Por esse motivo, nada pode justificar o desrespeito às
prerrogativas que a própria Constituição e as leis da República
atribuem ao Advogado, pois o gesto de afronta ao estatuto jurídico da
Advocacia representa, na perspectiva de nosso sistema normativo, um
ato de inaceitável ofensa ao próprio texto constitucional e ao regime
das liberdades públicas nele consagrado.
Ao apreciar pedido de reconsideração formulado no MS
23.576/DF (‘CPI do Narcotráfico’), de que fui Relator (DJU de
03/02/2000), tive o ensejo de destacar a alta significação de que se
reveste a presença do Advogado ao lado de seu constituinte, quando
intimado este a comparecer perante qualquer Comissão Parlamentar
de Inquérito, havendo reconhecido, na decisão que então proferi, o que
se segue: (...)
Cabe assinalar, finalmente, examinada a pretensão dos
impetrantes na perspectiva da espécie ora em análise, que as
Comissões Parlamentares de Inquérito, à semelhança do que ocorre
com qualquer outro órgão do Estado ou com qualquer dos demais
Poderes da República, submetem-se, no exercício de suas prerrogativas
institucionais, às limitações impostas pela autoridade suprema da
Constituição.
Isso significa, portanto, que a atuação do Poder Judiciário,
quando se registrar alegação de ofensa, atual ou potencial, a direitos e
a garantias assegurados pela Constituição da República, longe de
configurar situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder
do Estado, traduzirá válido exercício de controle jurisdicional
destinado a amparar qualquer pessoa nas hipóteses de lesão, ainda que
iminente, a direitos subjetivos reconhecidos pelo ordenamento
positivo.
Em uma palavra: uma decisão judicial que restaura a
integridade da ordem jurídica e que torna efetivos os direitos
assegurados pelas leis e pela Constituição da República não pode ser

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HC 229323 / DF
considerada ato de indevida interferência na esfera do Poder
Legislativo, consoante já o proclamou o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, em unânime julgamento:
(…) (RTJ 173/805-810, 806, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Esse entendimento tem sido por mim observado em diversos
julgamentos que proferi nesta Suprema Corte:
‘(…) O postulado da separação de poderes e a legitimidade
constitucional do controle, pelo Judiciário, das funções
investigatórias das CPIs, se e quando exercidas de modo abusivo.
Doutrina. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. (…).’
(HC 88.015-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, ‘in’
Informativo/STF nº 416/2006)
Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, e sem
dispensar o ora paciente de comparecer perante a CPI do CARF, defiro
o pedido de medida liminar nos precisos termos expostos nesta decisão,
em ordem a assegurar, cautelarmente, ao paciente, em face de referida
CPI: (a) o direito de exercer a prerrogativa constitucional contra a
autoincriminação, sem que se possa adotar contra ele, em razão do
regular exercício de tal prerrogativa jurídica, qualquer medida
restritiva de direitos ou privativa de liberdade; (b) o direito de ser
dispensado de assinar termo de compromisso legal na condição de
testemunha, por tratar-se de pessoa sob investigação, garantindo-lhe,
por isso mesmo, o direito de não sofrer qualquer medida sancionatória
por parte de mencionada Comissão Parlamentar de Inquérito; e (c) o
direito de ser assistido por seus Advogados e de com estes comunicar-
se, pessoal e reservadamente, sem qualquer restrição, durante o curso
de seu depoimento.
Caso a CPI ora apontada como coatora descumpra a presente
liminar, e assim desrespeite as prerrogativas profissionais dos
Advogados impetrantes deste ‘writ’ (e, por consequência, os direitos e
garantias do ora paciente), fica-lhes assegurado o direito de fazerem
cessar, imediatamente, a participação de seu constituinte no
procedimento de inquirição, sem que se possa adotar contra eles –
Advogados e respectivo cliente, o ora paciente – qualquer medida
restritiva de direitos ou privativa de liberdade.

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HC 229323 / DF
2. Comunique-se, com urgência, o teor desta decisão ao eminente
Senhor Presidente da CPI do CARF.
O ofício de comunicação deverá ser encaminhado, mediante ‘fax’
ou qualquer outro meio ágil de comunicação, ao Presidente da CPI do
CARF, em ordem a permitir a sua imediata cientificação quanto ao
teor da presente decisão.
Permito que os impetrantes comuniquem o teor desta decisão,
mediante exibição da respectiva cópia, para efeito de cumprimento da
liminar nela referida, ao Senhor Presidente da CPI do CARF ou a
quem estiver no exercício da Presidência de mencionado órgão de
investigação parlamentar.
3. Requisitem-se informações ao órgão ora apontado como
coator”.

Essa orientação tem sido reiterada, como se observa, por exemplo,


em processo da relatoria do Ministro Menezes Direito:
“MC em HC 98.441 - … Decido. Inicialmente, ressalto que as
comissões parlamentares de inquérito, conforme ressaltado pelos
impetrantes, possuem poderes instrutórios próprios das autoridades
judiciais, nos termos do § 3º do artigo 58 da Constituição Federal e,
por isso, as pessoas convocadas a depor não podem escusar-se dessa
obrigação. Porém, tais poderes devem ser exercidos com respeito aos
direitos constitucionalmente garantidos, tais como: privilégio contra a
autoincriminação, direito ao silêncio e a comunicar-se com o seu
advogado. No mais, a jurisprudência desta Suprema Corte firmou o
entendimento de que o privilégio contra a autoincriminação se aplica a
qualquer pessoa, independentemente de ser ouvida na condição de
testemunha ou de investigada (HC nº 79.812/SP, Plenário, Relator o
Ministro Celso de Mello, DJ de 16/12/01 e HC nº 92.371-MC/DF,
decisão monocrática, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 3/9/07).
Assim, o indiciado ou testemunha tem o direito ao silêncio e de não
produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere), embora
esteja obrigado a comparecer à sessão na qual será ouvido, onde
poderá, ou não, deixar de responder às perguntas que lhe forem feitas.

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HC 229323 / DF
Nesse sentido: HC nº 98.298-MC/DF, decisão monocrática, de minha
relatoria, DJ de 30/3/09; HC nº 94.082-MC/RS, decisão monocrática,
Relator o Ministro Celso de Mello, DJE de 24/3/08; HC nº 92.371-
MC/DF, decisão monocrática, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de
3/9/07; HC nº 92.225-MC/DF, Relator o Ministro Marco Aurélio,
decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes, em substituição, DJ
de 14/8/07; HC nº 83.775-MC/DF, decisão monocrática, Relator o
Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 1º/12/03, entre outros. Aliás, é o que
se extrai do disposto no artigo 186 do Código de Processo Penal, in
verbis: 'Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro
teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas' . Ante o exposto, defiro o pedido
de liminar para assegurar ao paciente o direito de exercer o seu direito
ao silêncio, incluído o privilégio contra a autoincriminação (art. 5º,
inc. LXIII, da CF), excluída a possibilidade de ser submetido a
qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva de direitos em
razão do exercício de tais prerrogativas processuais, e o direito de ser
assistido por seu advogado e de comunicar-se com ele durante a sua
inquirição, garantido a este todas as prerrogativas previstas na Lei nº
8.906/94. ... Expeçam-se os salvo-condutos. Comunique-se com
urgência ao eminente Deputado Federal Marcelo Itagiba, Presidente
da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga Escutas
Telefônicas Clandestinas/Ilegais, solicitando-se informações”.

Na mesma linha é o precedente:


“HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO – TRÁFICO DE PESSOAS
NO BRASIL. REQUERIMENTO DE OITIVA DOS PACIENTES.
DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO
(NEMO TENETUR SE DETEGERE) E DE ASSISTÊNCIA DE
ADVOGADO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. A
jurisprudência deste Supremo Tribunal firmou-se no sentido de ser
oponível às Comissões Parlamentares de Inquérito a garantia

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HC 229323 / DF
constitucional contra a autoincriminação e, consequentemente, do
direito ao silêncio quanto a perguntas cujas respostas possam resultar
em prejuízo dos depoentes, além do direito à assistência do advogado.
Precedentes. 2. Ordem parcialmente concedida” (HC n. 119.941, de
minha relatoria, Segunda Turma, DJe 29.4.2014)

Confiram-se também os julgados: Habeas Corpus n. 79.812, Relator o


Ministro Celso de Mello, DJ 16.2.2001; Habeas Corpus n. 80.584, Relator o
Ministro Néri da Silveira, DJ 6.4.2001; Habeas Corpus n. 83.357, Relator o
Ministro Nelson Jobim, DJ 26.3.2004; Habeas Corpus n. 79.589, Relator o
Ministro Octavio Gallotti, DJ 6.10.2000; Habeas Corpus n. 79.244, Relator o
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 24.3.2000; Habeas Corpus n. 88.553-MC,
Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ 25.5.2006; Habeas Corpus n. 88.703-
MC, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ 12.9.2006; Habeas Corpus n.
93.371-MC, Relator o Ministro Eros Grau, DJ 10.9.2007; Habeas Corpus n.
88.015, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ 21.2.2006; Habeas Corpus n.
87.971-MC, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ 21.2.2006; e Habeas
Corpus n. 86.837-MC, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ 10.10.2005.

Na espécie em exame, como inicialmente mencionado, os


impetrantes ressaltam que “[o] objeto da presente impetração se limita única e
exclusivamente ao asseguramento do direito a não autoincriminação, tendo em
vista que o Paciente é formalmente investigado por esses supostos fatos nos autos
da PET 10.405/DF, que tramita perante este e. Supremo Tribunal Federal, sob a
relatoria do Excelentíssimo Ministro Alexandre de Moraes” (fl. 3, e-doc. 1 –
grifos nossos).

9. O direito ao silêncio, consolidado na jurisprudência deste


Supremo Tribunal, refere-se ao direito de calar-se para não se
autoincriminar, nos termos assegurados pelo inc. LXIII do art. 5º da
Constituição da República.

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HC 229323 / DF
Devem ser obedecidos, portanto, os limites específicos desse direito
constitucional, referentes a dados e informações que poderiam levar à
autoincriminação. Não se há de ter por incluídos nessa definição todo e
qualquer questionamento e respectiva resposta sobre matéria que não
indique, nem possibilite autoincriminação, sob pena de cercear-se a
legítima e necessária atuação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Não
há fundamento constitucional válido para esse proceder. O convocado
não pode se eximir de responder questões sobre sua identificação, por
exemplo, ou qualquer outra sem relação com o que possa incriminá-lo,
negando respeito às atividades legítimas e necessárias da Comissão
Parlamentar de Inquérito, que presta serviço necessário ao esclarecimento
de questões de interesse público.

Ademais, o direito de manter-se em silêncio tem o objetivo específico


de não se autoincriminar, de resguardar-se de revelar fatos que podem
conduzir a confissão não espontânea, produzindo provas contra si.

10. Na ação em análise, o Presidente da Comissão Parlamentar Mista


de Inquérito “CPMI – 8 de janeiro”, Deputado Federal Arthur Oliveira
Maia, informou:
“(...) [o] paciente será convocado para depor na condição de
testemunha nos termos de 3 (três) requerimentos e na condição de
investigado nos termos de 3 (três) requerimentos (doc3). A sua
convocação atende ainda a outros 6 (seis) requerimentos, em que não
se declara a que título será ouvido. (...)
De todo o modo, a Presidência da CMPI dos Atos do Dia 8 de
Janeiro já determinou que, em nenhuma hipótese, o depoente será
instado a assinar termo de compromisso quanto a fatos ou a responder
a inquirições que possam incriminá-lo. (...)
Note-se que, na maioria dos requerimentos de convocação do
paciente, a finalidade da oitiva é a sua colaboração em relação a fatos
de que porventura tenha conhecimento e que possam inclusive
inocentar pessoas sob as quais recaiam suspeitas. (...)

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HC 229323 / DF
Vale ressaltar que o fato de o paciente ser investigado pela
Polícia Federal não implica que terá que ser ouvido na mesma
condição pela CPMI – 8 DE JANEIRO. Tratam-se de esferas distintas
e independentes, com objetivos também distintos, já que a CPI
instaura um procedimento de caráter político, que não assume
natureza preparatória de ações judiciais. (...)
Assim, haja vista a higidez dos requerimentos, a jurisprudência
deste E. Supremo Tribunal Federal e o dever legal de colaboração como
testemunha a que se sujeitam todos os cidadãos, a obrigatoriedade de
comparecimento do paciente perante a Comissão Parlamentar de
Inquérito se e quando for convocado é inquestionável. (...)
Assim, mais uma vez mostra-se evidente a necessidade de
denegação da ordem, reconhecendo-se a obrigatoriedade de
comparecimento do depoente, bem como a necessidade de dizer a
verdade quanto aos fatos que testemunhou. (...)
Ademais, claro está que a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito que investiga os atos de 8 de janeiro tem cumprido o seu
múnus constitucional com rigorosa observância dos direitos e
garantias fundamentais dos depoentes (...)
É que, dado o seu poder de agenda, a CPMI pode, inclusive,
deliberar pela realização de mais de um depoimento do paciente, por
exemplo, destacando para reunião específica a sua oitiva como
testemunha.
Ora, se houver convocação do paciente apenas na qualidade de
testemunha, como previsto no Plano de Trabalho do colegiado, o
pedido de não comparecimento restará prejudicado” (fls. 16-20, 22,
24-25, e-doc. 24 - grifos nossos).

11. O quadro apresentado nos autos revela estar o paciente


convocado para prestar esclarecimentos à Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito “CPMI – 8 de janeiro” quanto aos fatos em apuração.

Das informações prestadas pelo Presidente dessa Comissão se tem a


certeza de que, na espécie, “na maioria dos requerimentos de convocação do

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HC 229323 / DF
paciente, a finalidade da oitiva é a sua colaboração em relação a fatos de que
porventura tenha conhecimento e que possam inclusive inocentar pessoas sob as
quais recaiam suspeitas” (fl. 18, e-doc. 24).

A situação esclarecida pelo Presidente da Comissão Parlamentar de


Inquérito, Deputado Federal Arthur Oliveira Maia, tornaria mesmo
despicienda a presente decisão judicial, pois demonstra, com clareza,
sobriedade e prudência, próprias da conduta pública no Estado
Democrático de Direito, o respeito daquela Casa, como ocorre sempre,
aos comandos constitucionais assegurados dos direitos fundamentais dos
investigados.

Entretanto, tendo o Poder Judiciário de responder aos pleitos


legitimamente apresentados na postulação apresentada pelos
impetrantes, há de se enfatizar a condição de testemunha do paciente e da
necessidade de se lhe assegurar o dever de comparecimento com o
resguardo de seus direitos constitucionais a não se autoincriminar.

12. Como acentuado pelo Ministro Alexandre de Moraes, em caso


idêntico ao presente, “na presente hipótese, em que pese Jorge Eduardo Naime
Barreto ser investigado nesta Suprema Corte por fatos abrangidos pelo objeto da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (Pet 10.921/DF), inclusive
encontrando-se preso preventivamente por decisão desta Corte, os fatos objeto da
investigação ocorrida no Congresso Nacional são mais amplos do que a análise
individualizada de sua conduta, sendo, portanto, possível sua convocação pela
CPMI, na condição de testemunha.

A testemunha tem o dever de se manifestar sobre os fatos e acontecimentos


relacionados ao objeto da CPMI ligados ao exercício de sua função pública que
então exercia, devendo, contudo, ser assegurada a garantia de não
autoincriminação, se instado a responder a perguntas cujas respostas possam
resultar em prejuízo ou em sua incriminação.” (Habeas Corpus n. 229.668

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HC 229323 / DF
MC/DF)

13. De se realçar que, no exercício de suas atribuições


constitucionalmente definidas, as Comissões Parlamentares de Inquérito
devem assegurar que a pessoa inquirida seja tratada “sem agressividade,
truculência ou deboche”, como afirmado, por exemplo, por Odacir Klein
(Comissões Parlamentares de Inquérito – A Sociedade e o Cidadão. Sergio
Antonio Fabris Editor, 1999, p. 48-49, item 4), resguardando-se o dever de
se respeitar a dignidade da pessoa humana.

Deve ser que igual tratamento e total respeito devem ser


dispensados aos membros da Comissão Parlamentar por quem a ela
compareça, sem agressividade ou desrespeito. Os congressistas lá estão
no exercício de seus deveres constitucionais. Os integrantes de Comissão
Parlamentar de Inquérito, membros do Poder Público, desempenham
funções de Estado, não podendo receber tratamento que importe em
desrespeito ou afronta a suas funções, não lhes devendo ser dirigida
palavra ou adotada conduta que indiquem falta de urbanidade, ofensa ou
desdém indevidos nessas condições.

13. Pelas especificidades do caso em apreço, em que o “paciente será


convocado para depor na condição de testemunha nos termos de 3 (três)
requerimentos e na condição de investigado nos termos de 3 (três) requerimentos
(doc3). A sua convocação atende ainda a outros 6 (seis) requerimentos, em que
não se declara a que título será ouvido” (fl. 16, e-doc. 24), não há fundamento
legal para que “[s]eja afastada (...) a compulsoriedade do comparecimento do
paciente na ‘CPMI – 8 de janeiro’, transmudando-a para uma facultatividade do
Paciente” (fl. 11, e-doc. 1).

O comparecimento para prestar esclarecimentos à Comissão


Parlamentar de Inquérito não representa mera liberalidade do convocado,
mas obrigação imposta a todo cidadão, nos termos do inc. V do § 2º do

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HC 229323 / DF
art. 58 da Constituição da República.

Confira-se, por exemplo, decisão proferida no habeas corpus n.


119.341:
“HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. ... REQUERIMENTO DE
OITIVA DOS PAACIENTES. DIREITOS DE NÃO PRODUZIR
PROVA CONTRA SI MESMO (NEMO TENETUR SE
DETEGERE) E DE ASSISTÊNCIA DE ADVOGADO. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal firmou-se no
sentido de ser oponível às Comissões Parlamentares de Inquérito a
garantia constitucional contra a autoincriminação e,
consequentemente, o direito ao silêncio quanto a perguntas cujas
respostas possam resultar em prejuízo dos depoentes, além do direito à
assistência do advogado. Precedentes.
2. Ordem parcialmente concedida” (Rel. Ministra Cármen
Lúcia. DJ 28.4.2014).

14. Idêntica conclusão tem-se quanto à pretensão de “não ser


submetido ao compromisso de dizer a verdade ou de subscrever quaisquer termos
com esse conteúdo” (fl. 12, e-doc. 1).

Esclarecido foi pelo digno Presidente da Comissão Parlamentar


Mista de Inquérito, Deputado Federal Arthur Oliveira Maia, a
providência de que “...a Presidência da CMPI dos Atos do Dia 8 de Janeiro já
determinou que, em nenhuma hipótese, o depoente será instado a assinar termo de
compromisso quanto a fatos ou a responder a inquirições que possam incriminá-lo”.

Nos arts. 206 e 216 do Código de Processo Penal, dispõe-se que “a


testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor” e o “depoimento da
testemunha será reduzido a termo, assinado por ela”. Esses são deveres
impostos por lei, dos quais não se pode escusar a testemunha, que não

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HC 229323 / DF
resvalam para a incriminação, mas que atendem a determinação de
colaboração de todo cidadão com o poder estatal investigatório de que
está investida a Comissão Parlamentar de Inquérito.

15. Pelo exposto, concedo parcialmente a ordem, apenas para


assegurar ao paciente, que tem o dever de comparecimento perante a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para a qual convocado, que,
ao ser inquirido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito “CPMI
– 8 de janeiro”, seja respeitado a) o direito de ser assistido por seu
advogado e com ele se comunicar pessoal e reservadamente, garantidas
as prerrogativas da Lei n. 8.906/1994; b) o direito de não ser obrigado a
produzir prova contra si, podendo manter-se em silêncio e não ser
obrigado a responder a perguntas que possam incriminá-lo, sendo-lhe
vedado faltar com a verdade quanto aos demais questionamentos não
inseridos nem contidos nesta cláusula.

Expeça-se ofício urgente ao Deputado Federal Arthur Oliveira


Maia, Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito “CPMI –
8 de janeiro”, sobre o conteúdo da presente decisão.

Remetam-se, com o ofício, cópias da inicial e da presente decisão.

Dê-se ciência à Procuradoria-Geral da República.

Publique-se.

Brasília, 26 de junho de 2023.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

19

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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00100.119838/2023-42

Polícia do Senado

Fl.: ___________

Rubr.:_________

Secretaria de Polícia do Senado Federal


Coordenação de Polícia de Investigação

Ofício nº 0130/2023-COPINV
Brasília, 12 de julho de 2023.

Il.mo Senhor
Dr. THOMAZ HENRIQUE GOMMA DE AZEVEDO
Advogado-Geral
ADVOCACIA DO SENADO FEDERAL

Assunto : Comunica registro de ocorrência visando apuração de


fato ocorrido no âmbito de Comissão Parlamentar Mista
de Investigação.
Ref. : Ofício nº 299/2023-CPMI8
Boletim de Ocorrência nº 0686/2023

Prezado Advogado-Geral,

De ordem do Diretor em exercício da Secretaria de


Polícia do Senado Federal, informo que em cumprimento a
determinação do Presidente da Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito criada pelo Requerimento do Congresso Nacional nº
1/2023 ínsita no ofício em referência, foi feito o registro do
boletim de ocorrência nº 0686/2023 visando apurar eventuais
violações cometidas pelo Sr. MAURO CID em seu depoimento prestado
perante a CPMI8 no dia 11/07/2023.

Considerando a eventual atuação desta douta


Advocacia perante o Supremo Tribunal Federal, coloco-me à
disposição para o esclarecimento de quaisquer dúvidas.

Respeitosamente,

(assinado digitalmente)
Everaldo Bosco Rosa Moreira
Chefe do SESTEC

Senado Federal | Praça dos Três Poderes | Anexo II | Subsolo | CEP 70165-900 | Brasília DF
Telefone: +55 (61) 3303-4404 | copinv@senado.leg.br
ARQUIVO ASSINADO DIGITALMENTE. CÓDIGO DE VERIFICAÇÃO: 68EC6C900054A652.

CONSULTE EM http://www.senado.gov.br/sigadweb/v.aspx.

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