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RECIFE
2020
PERTINÊNCIA AO GRUPO DE PESQUISA
1. OBJETO
Para Mendes2:
Por vezes, os cidadãos esperam que seus direitos sejam garantidos através do legislador
pátrio, mas devido a inércia dos membros do Poder Legislativo, o Supremo Tribunal Federal
toma decisões para preencher as lacunas normativas, garantindo dessa forma, o exercicío do
direito da população. Contudo ao fazer isso, esse Tribunal
Nessa sua atuação de proteção, por vezes, o Tribunal acaba por ir além de suas
atribuições e acaba decidindo casos que cabia originalmente a outro poder. Esse ativismo, por
vezes, acaba por desligitimar o outro poder, a quem caberia legislar sobre a matéria. Contudo
há casos que o STF como corrente contramajoritária atua para fazer valer o direito das
minorias, sendo essa atuação em dissonâncina com os outros poderes, contudo, refletindo os
anseios de todos os cidadãos e não apenas daquela maioria que elegeu determinado Governo.
Entretanto, por muitas vezes, a mais alta corte de justiça emite decisões sobre matérias
que não dizem respeito aos direitos fundamentais, mas sim, assuntos que podem aguardar o
legislador federal, cuja atribuição a Constituição lhe garantiu, de criar as normas para garantir
o cumprimento dos direitos dos cidadãos.
2
MENDES, Gilmar Ferreira. Estado de Direito e Jurisdição Constitucional:2002 – 2010. 2011, p.22.
2. PROBLEMATIZAÇÃO
Atualmente o Supremo Tribunal Federal tem-se destacado por ser a Instituição a falar
por último, ou seja, decidir sobre diversas questões que tem grande repercussão. Essa função é
chamada de Jurisdição Constitucional, que significa a interpretação e aplicação da
Constituição por Juízes e Tribunais.
Para Montesquieu, cada uma das funções típicas tem de ser efetivadas por poderes
diferentes. Esse exercício não pode ser concentrado por apenas um deles. Assim, tais
atribuições de cada Poder devem ter na Constituição seu âmbito de competência delineados,
próprios. Pois se apenas um poder concentrar todas as funções típicas, tenderia a abusar dessa
autoridade.
Para LIMA, Flávia Danielle Santiago3:
Contudo, com a inércia dos Parlamentares, cidadãos ingressam no Poder Judiciário para
pleitear o exercício de direitos que não estão disciplinados. Esse acionamento dos Juízes se dá
3
LIMA, Flávia Danielle Santiago. A Separação de Poderes e a Constituição do Estado Moderno: o papel do
Poder Judiciário na obra de Montesquieu, p. 4. Disponível em: http://www.academia.edu/31387968/A_Separa
%C3%A7%C3%A3o_de_Poderes_e_a_Constitui
%C3%A7%C3%A3o_do_Estado_Moderno_o_papel_do_Poder_Judici%C3%A1rio_na_obra_de_Montesquieu.
Acesso em: 20 de dezembro de 2020.
através do mandado de injunção se for um cidadão ou se for uma autoridade prevista na
Constituição ingressa com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão (ADIn).
Essa solicitação, visa assegurar o seu direito, que por ora não está redigido na Lei Maior ou
não há se quer qualquer tipo de norma que regulamente o seu exercício.
O Poder Judiciário na sua atribuição de dirimir conflitos deve-se atentar para não
adentrar na competência do Congresso Nacional. Sua atuação deve observar o regramento
constitucional delineado pelo Constituinte Originário. Dessa forma é possível preservar a Lei
Maior, que é bastante influenciada pelo Filósofo francês Montesquieu, que apresentou a teoria
da Separação de Poderes.
O exercício dessa atribuição principal cabe aos três poderes, cada um exercendo um tipo
de função. Dessa maneira, cabe ao Executivo exercer a função administrativa, função essa que
pode ser dividida em atribuições de Chefe de Governo e Chefe de Estado, cabendo ao Chefe
de Governo administrar o País, chefiar a União. Já o Chefe de Estado representa a nação
perante os outros Países. No Brasil, por ser adotado o sistema de governo Presidencialista,
essas duas funções são exercidas pelo Presidente da República, que chefia um dos Poderes da
República, o Poder Executivo.
O Poder Judiciário tipicamente tem a função de julgar. Essa atribuição foi fortalecida
com o advento da Constituição Federal de 1988. Essa atribuição é exercida em maior grau
pelo STF, a que cabe proteger a Constituição, emitindo decisões através do controle difuso ou
concentrado.
As atribuições típicas de criar as leis são resguardadas ao Poder Legislativo. Essa
importante função é desempenhada através da votação de projetos de lei que podem ser de
dois tipos, ordinária e complementar, observando sempre um quórum maior para a aprovação
dessa última.
A Constituição Federal de 1988 foi elabora pela Assembleia Nacional Constituinte por
representantes eleitos pelos cidadãos para legislarem de acordo com o seu pensamento. Dessa
maneira, os Constituintes elaboraram uma nova Carta Política de acordo com os anseios da
Sociedade da época, esse fenômeno é denominado de ideologia constitucional, na qual estão
consagrados os valores da sociedade em seu texto.
Dessa forma, pode-se afirmar que por serem independentes e harmônicos entre si, cada
poder exercer sua função e observa a atuação dos outros, interferindo nas decisões que
extrapolem a lei. Essa fiscalização de um poder sobre o outro é chamado de “Checks and
Balances”, que é o sistema de freios e contrapesos, que delimita que cabe a cada poder atue
dentro dos seus limites, observando sempre a sua competência estabelecida na lei maior.
Para Fux4:
4
FUX, Luiz. Jurisdição Constitucional: democracia e direitos fundamentais. Belo Horizonte. Fórum, 2012.
P.27.
ocupa no ordenamento jurídico, como importante garantidor de direitos e garantias
fundamentais. Está associada a um valoroso papel contramajoritário dos tribunais, situação
em que estes invalidam leis e atos normativos em desacordo com os direitos fundamentais e
as regras do jogo democrático. Diz respeito também ao importante papel representativo do
Poder Judiciário, em especial do STF, no atendimento a demandas sociais, em caso de
omissão ou morosidade do Poder Legislativo.
Para Fux5:
O Estado, como garantido da paz social, avocou para si a solução monopolizada dos
conflitos intersubjetivos pela transgressão à ordem jurídica, limitando o âmbito da
autotutela. Em consequência, dotou um de seus poderes, o Judiciário, da atribuição
de solucionar os referidos conflitos mediante a aplicação do direito objetivo,
abstratamente concebido, ao caso concreto. A supremacia dessa solução revelou-
se pelo fato incontestável de a mesma provir da autoridade estatal, cuja
palavra, além de coativa, torna-se a última manifestação do Estado soberano
acerca da contenda, de tal sorte que os jurisdicionados devem-na respeito
absoluto, porque haurida de um trabalho de reconstituição dos antecedentes do
litígio, com a participação dos interessados, cercados, isonomicamente, das
mais comezinhas garantias. Essa função denomina-se jurisdicional e tem o
caráter tutelar da ordem e da pessoa, distinguindo-se das demais soluções do
Estado pela sua imodificabilidade por qualquer outro poder, em face de
adquirir o que se denomina em sede anglo-saxônica de final enforcing power,
consubstanciando na “coisa julgada”. (Grifos Nossos)
5
FUX, Luiz. Jurisdição Constitucional: democracia e direitos fundamentais. Belo Horizonte. Fórum, 2012.
P.10
dois poderes, utiliza-se como justificativa para capacidade que um órgão não eletivo como
STF tem de se sobrepor a uma decisão do Presidente da República no ideal do Estado
constitucional democrático.
É necessário assim observar uma forma de ativismo judicial necessário, pois o Poder
Judiciário é instituído a decidir nos casos em que a lei for omissa. Dessa maneira, ratificando
a tese de que essa atuação não é necessariamente prejudicial, pois auxilia na efetivação dos
preceitos constitucionais, que apesar de adotar o modelo introduzido por Montesquieu, atribui
ao Judiciário a função de decidir caso ocorra algum conflito entre os poderes.
É inegável, portanto, que o Poder Judiciário vem expandindo seu campo de atuação,
gerando certos fenômenos, a judicialização e o ativismo judicial, que, embora parecidos, são
originalmente distintos. A judicialização decorre modelo constitucional brasileiro, isto é,
deriva-se da combinação do sistema de controle de constitucionalidade com a Constituição
extensa e abrangente adotados pelo Brasil, fazendo com que o judiciário amplie o seu âmbito
de interferência.
Portanto, o STF, investido de poderes pela Constituição Federal de 1988, diante da crise
de representatividade entre o povo e seus mandatários e da omissão destes na deliberação
sobre assuntos sensíveis à sociedade, vem assumindo crescente protagonismo na cena política
nacional, por meio de decisões com repercussão geral. Vale ressaltar que não se trata
unicamente de prerrogativa, mas também de papel irrenunciável do STF, o de guardar e
defender a Constituição, assegurando que os princípios, valores e ideais que norteiam a Carta
Magna sejam cumpridos e concretizados na vida do cidadão e no convívio da sociedade.
5. REAÇÃO LEGISLATIVA PERANTE A ATIVIDADE JURISDICIONAL
(EFEITO BACKLASH)
Diante da inércia do poder que tem a atribuição de ditar como será as leis no país e
diante da alta procura de pessoas que ingressam na justiça para pleitear um direito, o STF tem
julgado processos e decidido sobre temas, que não estão atribuídos a esse Tribunal. Essa
atuação do órgão julgador é realizada nos casos em que o titular do poder de criar normas
falhou na sua missão em legislar para atender os contentamentos dos seus representados.
O STF julgou matérias de grande repercussão no meio social. Temas esses de grande
ressentimento em ser abordado pelos parlamentares, pois ao votar de determinada forma,
podem desagradar seu eleitor, ao expressarem seu voto em posicionamento contrário do
discurso que se elegeu.
Os membros do Congresso Nacional, diante desse cenário veem seu poder se esvaziar,
perdendo apoio da população. Por conta dessa interferência, os parlamentares legislam leis
com conteúdo semelhante àquele decidido pela Suprema Corte. Essa reação legislativa é
chamada de “Backlash” que significa à atuação em resposta a intromissão do Poder Judiciário
em matéria de sua competência.
Para Barroso6:
6
BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Disponível em:
https://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_ para_Selecao.pdf. Acesso em: 10
dezembro 2020.
possuem suas funções escritas e delineadas pela Constituição. Assim, deve-se observar os
limites de separação entre os poderes pode ser ultrapassada pela crescente atuação do poder
Judiciário, que passa a intervir em atribuições que não lhe são atribuídas constitucionalmente.
Entretanto, tal poder atua desta forma, muitas vezes, porque possui a função de guardião
da Constituição, assim, o Poder Judiciário intervém para fazer valer os direitos fundamentais e
a democracia, ainda que em contraponto aos demais poderes. Além disso, o artigo 5º, XXXV,
da Constituição prevê a inafastabilidade do controle jurisdicional, isto é, que o juiz não pode
deixar de julgar uma causa que lhe foi submetida, proibindo a alegação do non liquet e
afirmando que, caso a lei seja omissa, o juiz deverá decidir o caso de acordo com analogias,
costumes e princípios gerais do direito, pois há lacunas somente na lei e não no Direito.
6.OBJETIVOS
3. Estudar as decisões do Supremo Tribunal Federal que tratam sobre matérias que ;
7. MARCO TEÓRICO
Diante disso, a pesquisa tenta observar a atuação do Supremo Tribunal Federal nos
casos em que a uma omissão legislativa de coneúdo da Constituição Federal de 1988,
analisando se o STF está cumprindo seu papel de Corte Constitucional. Para isso, é
imprescindível interpretar a Ideologia da Constituição de 1988 para responder a essa pergunta,
haja vista que no tocante as Lacunas Normativas, se o STF não sanar, correrá o risco de não
ater-se a Ideologia da Constituição, ocorrendo um Hiato Constitucional.
Busca-se como marco teórico o doutrinador Ivo Dantas, para tentar verificar se o STF
atua dentro dos seus limites constitucionais, para assegurar a aplicação da Constituição e
garantir assim a sua Supremacia perante as demais normas.
Além de Ivo Dantas como marco teórico e o Valor e a Ideologia Constitucional, busca-
se utilizar para a presente pesquisa o autor Konrad Hesse e o seu livro A força Normativa da
Constituição. Outros autores também serão utilizados, a exemplo de Samuel Sales Fonteles
com seu livro com o Título “Direito e Backlash”.
8. METODOLOGIA
Como presente estudo tem como objetivo o assentamento teórico de realidades
jurídicas, a pesquisa, a ser realizada, será amplamente a bibliográfica com uso de livros sobre
a temática Controle de Constitucionalidade, Força Normativa das Normas Constitucionais,
Ativismo Judicial, precedentes judiciais, interpretação constitucional e diálogos institucionais.
Para a construção desses temas, serão utilizadas as obras desses autores: Samuel Sales
Fonteles, Flávia Santiago Lima, Marcelo Labanca, José Afonso da Silva, Ferdinand Lassalle,
Konrad Hesse, Francisco Mário da Cunha, Alexandre de Moraes, Paulo Bonavides , Luis
Roberto Barroso, Gilmar Ferreira Mendes. .
REFERÊNCIAS
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Editora Arraes, 2017.
BASTOS. Celso Ribeiro de. Curso de direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros,
2010.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. Ed. Malheiros. São Paulo, 2018.
BULOS, Uadi Lamengo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo. Editora Saraiva.2020.
FERREIRA FILHO, Manoel Goncalves. Curso de direito constitucional. 36. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
GUIMARÃES, Jader Ferreira A (in)eficácia das decisões do STF em sede de Ação Direta
de Inconstitucionalidade por Omissão. Jader Ferreira Guimarães, Vitor Soares Silvares;
prefácio: Márcio Cammarosano. Belo Horizonte: Fórum, 2014.
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Por Gilmar Ferreira Mendes. SAFE.
2004.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 7. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
NEVES, Daniel Amorim Assunção, Ações constitucionais. 2. ed. Ver, atual e apl. Rio de
Janeiro: Forense, 2013.
SILVA, Jorge Pereira da. Dever de legislar e proteção judicial contra omissões
legislativas. Lisboa: Universidade Católica, 2003.
SOUZA JR. Antônio Umberto. O Supremo Tribunal Federal e as questões políticas. Porto
Alegre. Síntese, 2004.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª ed. Saraivajur. São Paulo:
2020.