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Acórdão Nº 1133803
EMENTA
1. A participação do amicus curiae tem por escopo a prestação de elementos informativos à lide a
fim de melhor respaldar a decisão judicial que irá dirimir a controvérsia posta nos autos, e não para
representação ou defesa de interesses. Não obstante a relevância da matéria, a solução a ser alcançada
está posta na legislação de regência, não se fazendo necessário robustecer a controvérsia jurídica com
mais fundamentos que tornem relevantes a atuação da OAB, sobretudo em face da celeridade inerente
ao processo mandamental, que exige prova pré-constituida do direito. Pedido de ingresso da OAB/DF
como amicus curiae indeferido.
4. SEGURANÇA CONCEDIDA.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Cuida-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato judicial praticado pelo MM. Juiz
da Primeira Vara de Família e de Órfãos e Sucessões de Ceilândia-DF, que nos autos da Ação
Revisional de Alimentos n. 0713099-25.2017.8.07.0003 - determinou a emenda da inicial para indicar
o Defensor Publico o seu número de inscrição da Ordem dos Advogados do Brasil a fim de comprovar
a capacidade postulatória, sob pena de indeferimento.
Sustenta que a referida decisão revela manifesta afronta aos princípios institucionais da Defensoria
Pública, além de negar vigência ao art. 4º, § 6º, da Lei Complementar n. 80/94, na redação dada pela
Lei Complementar n. 132/09, que dispõe que a capacidade postulatória dos Defensores decorre
exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público.
Nesse sentido, assevera que há fundamento relevante para suspender o ato impugnado, sob pena de
graves prejuízos às partes ante a possibilidade de extinção do processo caso não seja emendada a
petição inicial.
O Conselho Seccional da OAB/DF peticinou por seu ingresso no feito como amicus curiae, ID
3369553.
Em face do provimento do Agravo Interno, o pedido de liminar foi reapreciado e deferido para
suspender os efeitos do ato judicial impugnado e determinar o prosseguimento regular da Ação
Revisional de Alimentos n. 0713099-25.2017.8.07.0003. [ID Num. 4192508].
Parecer da Douta Procuradoria de Justiça pela concessão da Segurança (ID Num. 4505927).
É o relatório.
VOTOS
De inicio, observa-se que consta nos autos pedido de ingresso no feito na qualidade de amicus
curiae, formulado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Seccional do Distrito Federal –
OAB/DF.
A participação do amicus curiae tem por escopo a prestação de elementos informativos à lide, a fim
de melhor respaldar a decisão judicial que irá dirimir a controvérsia posta nos autos e não para
representação ou defesa de interesses. No caso, não obstante a relevância da matéria, a solução a ser
alcançada está posta na legislação de regência, de modo que não vislumbro a necessidade de dotar a
controvérsia jurídica com mais fundamentos que tornem relevantes a atuação da OAB neste caso.
Oportuno registrar que diante de idêntico pedido formulado pela OAB/DF em mandado de segurança
pretérito, envolvendo a mesma controvérsia, esta eg. 1ª Câmara Cível, à unanimidade, indeferiu sua
intervenção nos autos na qualidade de amicus curiae, conforme revela a ementa:
3. Em uma interpretação sistemática dos dispositivos, conclui-se que a capacidade postulatória dos
Defensores Públicos decorre da relação estatutária que possuem com o Estado, regulados por meio de
sua legislação própria (LC 80/94).
Com base nessas considerações, indefiro o pedido de ingresso no feito, na qualidade de amicus
curiae, formulado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Seccional do Distrito Federal –
OAB/DF.
Em relação à adequação do Mandado de Segurança para atacar o ato judicial proferido, a questão já
restou decidida por ocasião do julgamento do Agravo Interno interposto contra Decisão desta
Relatoria que indeferia a Inicial, oportunidade em que este eg. Colegiado considerou cabível a via
eleita. [ID Num. 3774468].
No tocante à impetração pela Defensoria Publica, por ocasião da apreciação do pedido liminar fiz
constar:
“Como se vê à pag. 1 do ID Num. 2911365, consta como parte Impetrante a Defensoria Publica do
Distrito Federal. Ocorre que a petição é subscrita pelo Defensor Publico Mauricio Neves Arbach (pag.
13). Ou seja, não está devidamente representada, haja vista que a Lei Complementar n.º 80/94 reserva
ao Defensor Publico-Geral a exclusividade da representação judicial da instituição.
[...]
Com efeito, se a Lei Complementar que organiza a Defensoria Publica da União e do Distrito Federal
expressamente atribuiu a representação do órgão ao Defensor Público-Geral, certo é que, neste caso,
não está adequadamente representada, pois embora conste como parte Impetrante, o subscritor do
mandamus não é a autoridade prevista em lei, mas Defensor Publico que não possui tal atribuição.
A questão envolve predicamentos da Defensoria Pública e deveria ser objeto de uma ação específica
movida por meio do seu representante legal. Como isso não foi feito, entendo que em relação à
primeira Impetrante – Defensoria Publica do Distrito Federal – impõe-se a extinção do processo sem
resolução do mérito com base no artigo 485, IV do CPC e a conseqüente denegação da Segurança, ex
vi do artigo 6º, § 5º da Lei 12.016/2009.” [ID Num. 4192508].
No entanto, o exame do pedido liminar não está prejudicado, pois o ilustre Defensor, sabiamente,
talvez até movido por uma grande dúvida que deve ter enfrentado, também incluiu como Impetrante a
parte autora da ação de origem, que é detentora da legitimidade para o mandado de segurança e em
relação o mandamus segue curso regular.” (ID Num. 4192508)
Reitero o mesmo entendimento e concluo que se impõe a extinção do processo sem resolução de
mérito em relação à Defensoria Publica por falta de pressuposto de constituição e desenvolvimento
válido do processo.
Todavia, tendo em vista que também figura como impetrante o autor da ação revisional, na qual foi
proferida a Decisão impugnada e que é o detentor da legitimidade para o mandado de segurança,
conheço da impetração e passo ao exame do mérito.
MÉRITO
É cediço que para que seja cabível mandado de segurança contra ato judicial, é necessária a
demonstração de teratologia, ilegalidade ou abuso de poder na Decisão objurgada, além da manifesta
ofensa a direito líquido e certo.
No caso, o ato judicial apresenta os referidos vícios, haja vista que a na petição inicial da ação de
origem o número da sua inscrição na Ordem dos exigência imposta pelo i. Magistrado ao Defensor
Público para que faça constar Advogados do Brasil a fim de comprovar a sua capacidade
postulatória, sob pena de indeferimento, mostra-se em dissonância com as normas que cuidam da
atuação da Defensoria Pública, extrapolando os limites do mero impulso oficial para definir uma
nova forma que considera correta para dar prosseguimento ao feito.
Nesse sentido, o entendimento do MM. Juiz, segundo o qual os Defensores Públicos, para
continuarem exercendo a advocacia, deveriam estar inscritos junto ao órgão de classe, no caso,
OAB-DF, mostra-se desarrazoada e não encontra amparo legal.
A controvérsia nos autos diz respeito a capacidade postulatória da Defensoria Pública, pelo fato de
haver a ADIn nº 4.636 que discute a constitucionalidade do art. 4º, § 6º da Lei Complementar 80/941.
Apesar dessa controvérsia é certo que a Defensoria Pública é instituição essencial a função
jurisdicional patamar estabelecido pelo Constituinte Originário e em decorrência disso possui regime
disciplinar próprio não estando submetida aos dispositivos do Estatuto da Advocacia, Lei nº
8.906/1994.
§ 1o. Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que
se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da
Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e das respectivas
Nota-se, assim, que há um aparente conflito de leis, devendo prevalecer a Lei Complementar 80/94 a
qual estabelece o regime jurídico aplicável aos Defensores Públicos, devendo por conseguinte
prevalecer sobre o estabelecido no Estatuto da Advocacia no tocante a capacidade postulatória dos
Defensores, a qual é automática pela nomeação e consequente posse no cargo de defensor.
[...] Por esses fundamentos a segurança pleiteada merece ser deferida a fim de que seja reconhecida a
capacidade postulatória dos Defensores Públicos independentemente de inscrição no quadro da OAB.
Ante o exposto, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por esta Procuradoria de Justiça
Cível oficia pela concessão da segurança.” ID Num. 4505927.
Confira-se:
2. O cerne da questão jurídica reside em aferir se há necessidade ou não de registro na Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB para que os Defensores Públicos tenham capacidade de postular em
juízo.
3. O art. 3º, caput e § 1º, da Lei nº 8.906/94, prevê que os integrantes da Defensoria Pública do
Distrito Federal sujeitam-se ao Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, além do
regime próprio a que se subordinem. Não obstante, certo é que os Defensores Públicos, por exercerem
funções institucionais incompatíveis com a advocacia privada (art. 134, § 1º, da Constituição Federal),
não devem se submeter ao Estatuto da Advocacia previsto em lei ordinária, tampouco necessitar de
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB para o desempenho de suas atribuições. 2.2. O
art. 134 da CF/88 assegura aos Defensores Públicos autonomia funcional e, como efeito desta
prerrogativa, o art. 4º, § 6º, da Lei Complementar nº 80/1994, com a redação que lhe foi atribuída pela
Lei Complementar nº 132/2009, anuncia que a capacidade postulatória do Defensor Público decorre,
exclusivamente, de sua posse em cargo público.
5. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal
que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte, nos termos da Súmula Vinculante nº 10.
1 Não se pode impor ao jurisdicionado, à luz da garantia constitucional de que todas as decisões
serão fundamentadas (inciso IX do art. 93 da Constituição Federal), bem como das
infraconstitucionais (art. 489 do Código de Processo Civil), obrigação sem que o juiz expresse os
motivos decisórios, fundamentadamente.
2 A Defensoria Pública do Distrito Federal abrange atividade caracterizada como múnus especial, que
não se identifica com a advocacia em geral privada ou pública, conforme se depreende do disposto
nos artigos 133 e 134 da Constituição Federal, os quais prevêem em paralelo o Ministério Público, a
Advocacia e a Defensoria Pública como instituições essenciais à Justiça, não atrelando o exercício de
uma à habilitação para o exercício de outra.
3 Para que o defensor público disponha de capacidade postulatória não se faz necessário que,
possuindo inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil por ocasião do concurso público
para o mencionado cargo ou a posse nele, permaneça inscrito no Conselho Profissional, pois, nos
termos do art. 4º, § 6º, da Lei Complementar nº 80/1994, que organiza a Defensoria Pública da União
e do Distrito Federal e dos Territórios.
2. Os Defensores Públicos não são advogados públicos, possuem regime disciplinar próprio e têm sua
capacidade postulatória decorrente diretamente da Constituição Federal. (RHC 61.848/PA, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 17/08/2016)
Diante do exposto, em relação à primeira impetrante - Defensoria Publica do Distrito Federal – julgo
extinto o processo sem resolução de mérito por falta de pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido e denego a Segurança, ex vi dos artigos 485, IV do CPC c/c artigo 6º, § 5º da
Lei 12.016/2009.
É COMO VOTO.
O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - 1º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - 2º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 3º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - 4º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ROBERTO FREITAS - 5º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - 6º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 7º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 8º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador FLAVIO ROSTIROLA - 9º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - 10º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador TEÓFILO CAETANO - 11º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - 12º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador GILBERTO DE OLIVEIRA - 13º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL - 14º Vogal
Com o relator
DECISÃO