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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 1ª Câmara Cível

Processo N. MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL 0716674-50.2017.8.07.0000


DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL e CELIO DE SENA
IMPETRANTE(S)
SILVA JUNIOR
JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DE FAMÍLIA, ORFÃOS E SUCESSÕES
IMPETRADO(S)
DE CEILÂNDIA
Relator Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA

Acórdão Nº 1133803

EMENTA

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA DEFENSORIA


PUBLICA. CAPACIDADE POSTULATORIA. EXIGENCIA DE COMPROVAÇÃO DE
INSCRIÇÃO NA OAB. DECISÃO CASSADA.

1. A participação do amicus curiae tem por escopo a prestação de elementos informativos à lide a
fim de melhor respaldar a decisão judicial que irá dirimir a controvérsia posta nos autos, e não para
representação ou defesa de interesses. Não obstante a relevância da matéria, a solução a ser alcançada
está posta na legislação de regência, não se fazendo necessário robustecer a controvérsia jurídica com
mais fundamentos que tornem relevantes a atuação da OAB, sobretudo em face da celeridade inerente
ao processo mandamental, que exige prova pré-constituida do direito. Pedido de ingresso da OAB/DF
como amicus curiae indeferido.

2. ALei Complementar 80/94 reserva ao Defensor Público-Geral a exclusividade da representação


judicial da instituição. Petição recursal subscrita por Defensor Público, que não possui tal atribuição,
esbarra na inadmissibilidade da ação mandamental em relação à Defensoria Publica, pois não obstante
o seu interesse jurídico, falta pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo. Nada obstante, figurando também como Impetrante o autor da ação originária, que é o
detentor da legitimidade para o mandado de segurança, impõe-se o conhecimento da impetração em
relação ao segundo impetrante.

3. A capacidade postulatória da Defensoria Publica tem índole constitucional e infraconstitucional,


não se exigindo de seus membros registro profissional na Ordem dos Advogados do Brasil, porquanto
decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público conforme estabelece o § 6º, do
artigo 4º da Lei Complementar 80/94, que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal
e dos Territórios, conforme redação da da Lei Complementar 132/2009.
4. A determinação de emenda da inicial para comprovação da capacidade postulatória do Defensor
Publico que atuou no processo, mediante indicação do número de inscrição na Ordem dos Advogados
do Brasil, sob pena de indeferimento, mostra-se desarrazoada e configura manifesta ofensa às
disposições constitucionais e legais pertinentes à atuação da Defensoria Pública.

4. SEGURANÇA CONCEDIDA.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator, ROMEU GONZAGA NEIVA -
1º Vogal, LEILA ARLANCH - 2º Vogal, GISLENE PINHEIRO - 3º Vogal, RÔMULO DE ARAÚJO
MENDES - 4º Vogal, ROBERTO FREITAS - 5º Vogal, ALVARO CIARLINI - 6º Vogal, FÁBIO
EDUARDO MARQUES - 7º Vogal, ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 8º Vogal, FLAVIO
ROSTIROLA - 9º Vogal, ANGELO PASSARELI - 10º Vogal, TEÓFILO CAETANO - 11º Vogal,
SEBASTIÃO COELHO - 12º Vogal, GILBERTO DE OLIVEIRA - 13º Vogal e FÁTIMA RAFAEL -
14º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora SIMONE LUCINDO, em proferir a seguinte
decisão: MANDADO DE SEGURANÇA CONHECIDO. JULGOU-SE EXTINTO O PROCESSO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO EM RELAÇÃO À PRIMEIRA IMPETRANTE, DEFENSORIA
PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL. CONCEDIDA A SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO
SEGUNDO IMPETRANTE. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 22 de Outubro de 2018

Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato judicial praticado pelo MM. Juiz
da Primeira Vara de Família e de Órfãos e Sucessões de Ceilândia-DF, que nos autos da Ação
Revisional de Alimentos n. 0713099-25.2017.8.07.0003 - determinou a emenda da inicial para indicar
o Defensor Publico o seu número de inscrição da Ordem dos Advogados do Brasil a fim de comprovar
a capacidade postulatória, sob pena de indeferimento.

Sustenta que a referida decisão revela manifesta afronta aos princípios institucionais da Defensoria
Pública, além de negar vigência ao art. 4º, § 6º, da Lei Complementar n. 80/94, na redação dada pela
Lei Complementar n. 132/09, que dispõe que a capacidade postulatória dos Defensores decorre
exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público.

Nesse sentido, assevera que há fundamento relevante para suspender o ato impugnado, sob pena de
graves prejuízos às partes ante a possibilidade de extinção do processo caso não seja emendada a
petição inicial.

Por considerar inadequada a via eleita, conforme Decisão de ID Num. 2957150.


Interposto Agravo Interno, restou provido pela eg. 1ª Camara Cível, por maioria, para determinar o
regular processamento do feito (ID 1083767).

O Conselho Seccional da OAB/DF peticinou por seu ingresso no feito como amicus curiae, ID
3369553.

Em face do provimento do Agravo Interno, o pedido de liminar foi reapreciado e deferido para
suspender os efeitos do ato judicial impugnado e determinar o prosseguimento regular da Ação
Revisional de Alimentos n. 0713099-25.2017.8.07.0003. [ID Num. 4192508].

Informações prestadas pela autoridade Impetrada às pags. 1/15 do ID Num. 4361484.

Parecer da Douta Procuradoria de Justiça pela concessão da Segurança (ID Num. 4505927).

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator

Conforme relatado, cuida-se de Mandado de Segurança impetrado pela Defensoria Publica do


Distrito Federal e por C.S.S.J. contra pronunciamento do MM. Juiz da Primeira Vara de Família e de
Órfãos e Sucessões de Ceilândia-DF, que nos autos da Ação Revisional de Alimentos n.
0713099-25.2017.8.07.0003 ajuizada pelo segundo Impetrante em face dos filhos D.L.S. e R.K.L.S,
determinou a emenda da inicial para que o Defensor Publico indique o seu número de inscrição da
Ordem dos Advogados do Brasil a fim de comprovar a capacidade postulatória, sob pena de
indeferimento.

De inicio, observa-se que consta nos autos pedido de ingresso no feito na qualidade de amicus
curiae, formulado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Seccional do Distrito Federal –
OAB/DF.

O pedido não merece deferimento.

A participação do amicus curiae tem por escopo a prestação de elementos informativos à lide, a fim
de melhor respaldar a decisão judicial que irá dirimir a controvérsia posta nos autos e não para
representação ou defesa de interesses. No caso, não obstante a relevância da matéria, a solução a ser
alcançada está posta na legislação de regência, de modo que não vislumbro a necessidade de dotar a
controvérsia jurídica com mais fundamentos que tornem relevantes a atuação da OAB neste caso.

Oportuno registrar que diante de idêntico pedido formulado pela OAB/DF em mandado de segurança
pretérito, envolvendo a mesma controvérsia, esta eg. 1ª Câmara Cível, à unanimidade, indeferiu sua
intervenção nos autos na qualidade de amicus curiae, conforme revela a ementa:

MANDADO DE SEGURANÇA. AMICUS CURIAE. INTERVENÇÃO DE TERCEIRO.


IMPOSSIBILIDADE. DEFENSOR PÚBLICO. OBRIGATORIEDADE DE INSCRIÇÃO DA OAB.
INCABÍVEL. CONFLITO APARENTE DE NORMAS. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA.
CONSTITUCIONALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. O Mandado de Segurança, por possuir tramitação balizada na celeridade e pré-constituição do
direito vindicado, não admite o ingresso de amicus curiae, por se tratar de uma forma de intervenção
de terceiros ao processo, hipótese não aceita pela Jurisprudência.

2. O tema relacionado à necessidade ou não de inscrição de Defensores Públicos na OAB configura


conflito aparente de normas, pois enquanto o artigo 4º, §6º prevê que a capacidade postulatória dos
Defensores decorre da nomeação e posse, o artigo 71 determina como requisito necessário para
inscrição no concurso público o registro na OAB.

3. Em uma interpretação sistemática dos dispositivos, conclui-se que a capacidade postulatória dos
Defensores Públicos decorre da relação estatutária que possuem com o Estado, regulados por meio de
sua legislação própria (LC 80/94).

4. Incabível a obrigatoriedade de registro junto à OAB dos membros da Defensoria Pública ao


exercerem suas funções institucionais de assistência judiciária e gratuita aos assistidos.

5. Mandado de segurança conhecido e ordem concedida. Decisão cassada.


(Acórdão n.1094386, 07150592520178070000, Relator: SEBASTIÃO COELHO 1ª Câmara Cível,
Data de Julgamento: 08/05/2018, Publicado no DJE: 11/05/2018.

Com base nessas considerações, indefiro o pedido de ingresso no feito, na qualidade de amicus
curiae, formulado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Seccional do Distrito Federal –
OAB/DF.

Em relação à adequação do Mandado de Segurança para atacar o ato judicial proferido, a questão já
restou decidida por ocasião do julgamento do Agravo Interno interposto contra Decisão desta
Relatoria que indeferia a Inicial, oportunidade em que este eg. Colegiado considerou cabível a via
eleita. [ID Num. 3774468].

No tocante à impetração pela Defensoria Publica, por ocasião da apreciação do pedido liminar fiz
constar:

“Como se vê à pag. 1 do ID Num. 2911365, consta como parte Impetrante a Defensoria Publica do
Distrito Federal. Ocorre que a petição é subscrita pelo Defensor Publico Mauricio Neves Arbach (pag.
13). Ou seja, não está devidamente representada, haja vista que a Lei Complementar n.º 80/94 reserva
ao Defensor Publico-Geral a exclusividade da representação judicial da instituição.

Confira-se o teor do artigo 56, II:

Art. 56. São atribuições do Defensor Publico-Geral:

[...]

II - representar a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios judicial e extrajudicialmente;

Nesse sentido, por ocasião do julgamento do MSG 0715613-57.2017.8.07.0000, a eminente Relatora,


Maria de Lourdes Abreu, destacou com propriedade que não se trata de mandado de segurança
impetrado pelo Defensor Público, em nome próprio, para defesa de suas prerrogativas funcionais, mas
em nome do próprio órgão, de modo que falta pressupostos de constituição e desenvolvimento regular
do processo.

Com efeito, se a Lei Complementar que organiza a Defensoria Publica da União e do Distrito Federal
expressamente atribuiu a representação do órgão ao Defensor Público-Geral, certo é que, neste caso,
não está adequadamente representada, pois embora conste como parte Impetrante, o subscritor do
mandamus não é a autoridade prevista em lei, mas Defensor Publico que não possui tal atribuição.

A questão envolve predicamentos da Defensoria Pública e deveria ser objeto de uma ação específica
movida por meio do seu representante legal. Como isso não foi feito, entendo que em relação à
primeira Impetrante – Defensoria Publica do Distrito Federal – impõe-se a extinção do processo sem
resolução do mérito com base no artigo 485, IV do CPC e a conseqüente denegação da Segurança, ex
vi do artigo 6º, § 5º da Lei 12.016/2009.” [ID Num. 4192508].

No entanto, o exame do pedido liminar não está prejudicado, pois o ilustre Defensor, sabiamente,
talvez até movido por uma grande dúvida que deve ter enfrentado, também incluiu como Impetrante a
parte autora da ação de origem, que é detentora da legitimidade para o mandado de segurança e em
relação o mandamus segue curso regular.” (ID Num. 4192508)

Reitero o mesmo entendimento e concluo que se impõe a extinção do processo sem resolução de
mérito em relação à Defensoria Publica por falta de pressuposto de constituição e desenvolvimento
válido do processo.

Todavia, tendo em vista que também figura como impetrante o autor da ação revisional, na qual foi
proferida a Decisão impugnada e que é o detentor da legitimidade para o mandado de segurança,
conheço da impetração e passo ao exame do mérito.

MÉRITO

É cediço que para que seja cabível mandado de segurança contra ato judicial, é necessária a
demonstração de teratologia, ilegalidade ou abuso de poder na Decisão objurgada, além da manifesta
ofensa a direito líquido e certo.

No caso, o ato judicial apresenta os referidos vícios, haja vista que a na petição inicial da ação de
origem o número da sua inscrição na Ordem dos exigência imposta pelo i. Magistrado ao Defensor
Público para que faça constar Advogados do Brasil a fim de comprovar a sua capacidade
postulatória, sob pena de indeferimento, mostra-se em dissonância com as normas que cuidam da
atuação da Defensoria Pública, extrapolando os limites do mero impulso oficial para definir uma
nova forma que considera correta para dar prosseguimento ao feito.

Quando da apreciação do pedido liminar, ressaltei que a capacidade postulatória da Defensoria


Publica tem índole constitucional e infraconstitucional, não se exigindo de seus membros registro
profissional na Ordem dos Advogados do Brasil, porquanto decorre exclusivamente de sua nomeação
e posse no cargo público conforme estabelece o § 6º, do artigo 4º da Lei Complementar 80/94, que
organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, conforme redação da da
Lei Complementar 132/2009.

Quanto à exigência contida na redação original do art. 71 da LC 80/94 – de apresentação da inscrição


na OAB como requisito a ser preenchido pelo candidato inscrito no concurso público para Defensor
Público –, vale tão somente para a inscrição no concurso. Tendo sido empossado e estando em efetivo
exercício do cargo em questão, o Defensor Público não mais terá que continuar comprovando a sua
inscrição e informando, em cada processo em que atuam o numero da respectiva inscrição.

Nesse sentido, o entendimento do MM. Juiz, segundo o qual os Defensores Públicos, para
continuarem exercendo a advocacia, deveriam estar inscritos junto ao órgão de classe, no caso,
OAB-DF, mostra-se desarrazoada e não encontra amparo legal.

Em relação à tramitação no Supremo Tribunal Federal da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4636,


ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e que tem por objeto o
parágrafo 6º, do artigo 4º da Lei Complementar 80/1994, com a redação dada pela Lei Complementar
132/2009, oportuno destacar que ainda não há pronunciamento sobre a matéria, de modo que as
disposições impugnadas permanecem válidas no ordenamento jurídico.

Oportuno ainda trazer à lume trechos do parecer ministerial:

A controvérsia nos autos diz respeito a capacidade postulatória da Defensoria Pública, pelo fato de
haver a ADIn nº 4.636 que discute a constitucionalidade do art. 4º, § 6º da Lei Complementar 80/941.

Apesar dessa controvérsia é certo que a Defensoria Pública é instituição essencial a função
jurisdicional patamar estabelecido pelo Constituinte Originário e em decorrência disso possui regime
disciplinar próprio não estando submetida aos dispositivos do Estatuto da Advocacia, Lei nº
8.906/1994.

Corroborando tal entendimento e a controvérsia sobre o tema, há a Ação Direta de


Inconstitucionalidade (ADI 5.334) ajuizada em face do artigo 3º, caput e parágrafo 1º, da Lei
8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), que impõe aos advogados públicos inscrição na Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Vejamos:

“Art. 3o. O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado


são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

§ 1o. Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que
se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da
Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e das respectivas

entidades de administração indireta e fundacional”.

Nota-se, assim, que há um aparente conflito de leis, devendo prevalecer a Lei Complementar 80/94 a
qual estabelece o regime jurídico aplicável aos Defensores Públicos, devendo por conseguinte
prevalecer sobre o estabelecido no Estatuto da Advocacia no tocante a capacidade postulatória dos
Defensores, a qual é automática pela nomeação e consequente posse no cargo de defensor.

[...] Por esses fundamentos a segurança pleiteada merece ser deferida a fim de que seja reconhecida a
capacidade postulatória dos Defensores Públicos independentemente de inscrição no quadro da OAB.

Ante o exposto, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por esta Procuradoria de Justiça
Cível oficia pela concessão da segurança.” ID Num. 4505927.

Mandados de Segurança contra pronunciamento judiciais idênticos ao objeto da presente impetração,


inclusive praticados pelo mesmo Juízo, já foram julgados nesta egrégia Câmara Cível, que
reiteradamente vem concedendo a Segurança ante o reconhecimento da manifesta ilegalidade e
teratologia do ato impugnado.

Confira-se:

MANDADO DE SEGURANÇA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. DEFERIMENTO. EMENDA À


INICIAL. DEFENSOR PÚBLICO. INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL – OAB. LEI Nº 8.906/94. INAPLICABILIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA.
AUTONOMIA FUNCIONAL. ART. 134 CF/88. CAPACIDADE POSTULATÓRIA
DECORRENTE DA NOMEAÇÃO E POSSE. LC Nº 80/1994. LC Nº 132/2004. ATO ILEGAL
DA AUTORIDADE COATORA. SÚMULA VINCULANTE Nº 10. DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. DEMONSTRADO. SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. Concede-se os benefícios da gratuidade de justiça havendo declaração de hipossuficiência e


inexistindo prova nos autos em sentido contrário.

2. O cerne da questão jurídica reside em aferir se há necessidade ou não de registro na Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB para que os Defensores Públicos tenham capacidade de postular em
juízo.

3. O art. 3º, caput e § 1º, da Lei nº 8.906/94, prevê que os integrantes da Defensoria Pública do
Distrito Federal sujeitam-se ao Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, além do
regime próprio a que se subordinem. Não obstante, certo é que os Defensores Públicos, por exercerem
funções institucionais incompatíveis com a advocacia privada (art. 134, § 1º, da Constituição Federal),
não devem se submeter ao Estatuto da Advocacia previsto em lei ordinária, tampouco necessitar de
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB para o desempenho de suas atribuições. 2.2. O
art. 134 da CF/88 assegura aos Defensores Públicos autonomia funcional e, como efeito desta
prerrogativa, o art. 4º, § 6º, da Lei Complementar nº 80/1994, com a redação que lhe foi atribuída pela
Lei Complementar nº 132/2009, anuncia que a capacidade postulatória do Defensor Público decorre,
exclusivamente, de sua posse em cargo público.

4. Os Defensores Públicos possuem estatuto próprio e regime disciplinar específico, necessitando de


submissão a concurso público de provas e títulos para ingresso na carreira (art. 134, § 1º, CF/88), de
modo que, exigir sua vinculação ao Estatuto dos Advogados da OAB, é desarrazoado.

5. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal
que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte, nos termos da Súmula Vinculante nº 10.

6. Ordem concedida.(Acórdão n.1069278, 07153294920178070000, Relator: GISLENE PINHEIRO


1ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 23/01/2018, Publicado no DJE: 29/01/2018)

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL.


AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. DEFENSORIA PÚBLICA. EXIGÊNCIA DE INSCRIÇÃO
NA OAB. DESNECESSIDADE. CAPACIDADE POSTULATÓRIA QUE DECORRE DA
CONSTITUIÇÃO E DA LEI. SEGURANÇA CONCEDIDA.

1 Não se pode impor ao jurisdicionado, à luz da garantia constitucional de que todas as decisões
serão fundamentadas (inciso IX do art. 93 da Constituição Federal), bem como das
infraconstitucionais (art. 489 do Código de Processo Civil), obrigação sem que o juiz expresse os
motivos decisórios, fundamentadamente.

2 A Defensoria Pública do Distrito Federal abrange atividade caracterizada como múnus especial, que
não se identifica com a advocacia em geral privada ou pública, conforme se depreende do disposto
nos artigos 133 e 134 da Constituição Federal, os quais prevêem em paralelo o Ministério Público, a
Advocacia e a Defensoria Pública como instituições essenciais à Justiça, não atrelando o exercício de
uma à habilitação para o exercício de outra.

3 Para que o defensor público disponha de capacidade postulatória não se faz necessário que,
possuindo inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil por ocasião do concurso público
para o mencionado cargo ou a posse nele, permaneça inscrito no Conselho Profissional, pois, nos
termos do art. 4º, § 6º, da Lei Complementar nº 80/1994, que organiza a Defensoria Pública da União
e do Distrito Federal e dos Territórios.

4. A capacidade postulatória do Defensor Público decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no


cargo público. Segurança concedida. ( Acórdão n.1072590, 07151909720178070000, Relator:
ANGELO PASSARELI 1ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 06/02/2018, Publicado no DJE:
09/02/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO QUE DETERMINA EMENDA À INICIAL.


DEFENSORIA PÚBLICA. CAPACIDADE POSTULATÓRIA. INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL. LEI Nº 8.906/94. INAPLICABILIDADE. AUTONOMIA
FUNCIONAL. ART. 134 CF/88. CAPACIDADE POSTULATÓRIA DECORRENTE DA
NOMEAÇÃO E POSSE. LC Nº 80/1994. LC Nº 132/2004. ATO ILEGAL DA AUTORIDADE
COATORA.

1. Os Defensores Públicos, por exercerem funções institucionais incompatíveis com a advocacia


privada (art. 134, § 1º, da Constituição Federal), não devem se submeter ao Estatuto da Advocacia
previsto em lei ordinária, tampouco necessitar de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB
para o desempenho de suas atribuições.

2. Os Defensores Públicos não são advogados públicos, possuem regime disciplinar próprio e têm sua
capacidade postulatória decorrente diretamente da Constituição Federal. (RHC 61.848/PA, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 17/08/2016)

3. Ordem concedida.( Acórdão n.1079783, 07168797920178070000, Relator: ROMEU GONZAGA


NEIVA 1ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 06/03/2018, Publicado no PJe: 13/03/2018.

Com efeito, a determinação de emenda da inicial para comprovação da capacidade postulatória do


Defensor Publico, mediante indicação do número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil,
sob pena de indeferimento, configura manifesta ofensa às disposições constitucionais e legais
pertinentes à atuação da Defensoria Pública e ofende direito liquido e certo da parte ao regular
prosseguimento do processo.

Diante do exposto, em relação à primeira impetrante - Defensoria Publica do Distrito Federal – julgo
extinto o processo sem resolução de mérito por falta de pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido e denego a Segurança, ex vi dos artigos 485, IV do CPC c/c artigo 6º, § 5º da
Lei 12.016/2009.

Em relação ao segundo Impetrante, CONCEDO A SEGURANÇA para cassar o ato judicial


impugnado e determinar o regular prosseguimento do processo originário.

É COMO VOTO.
O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - 1º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - 2º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 3º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - 4º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ROBERTO FREITAS - 5º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - 6º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 7º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 8º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador FLAVIO ROSTIROLA - 9º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - 10º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador TEÓFILO CAETANO - 11º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - 12º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador GILBERTO DE OLIVEIRA - 13º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL - 14º Vogal
Com o relator

DECISÃO

MANDADO DE SEGURANÇA CONHECIDO. JULGOU-SE EXTINTO O PROCESSO SEM


RESOLUÇÃO DO MÉRITO EM RELAÇÃO À PRIMEIRA IMPETRANTE, DEFENSORIA
PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL. CONCEDIDA A SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO
SEGUNDO IMPETRANTE. UNÂNIME

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