Você está na página 1de 2

Aluno: Diego Gregório Castanho RGM: 28082401 Data: 18/10/2022

Processo nº: 1000773-71.2020.8.26.0634 Vara/Tribunal: Tremembé 2ª Vara


Criminal
Autor: MARCELO VAQUELI (apelado); Réu: ARTHUR TAQUES DE AMORIM
BIZORDI (apelante);
Ação: Apelação criminal/calúnia

RELATÓRIO:
ARTHUR TAQUES DE AMORIMBIZORDI foi condenado pelo MM. Juiz de Direito da 2ª
Vara Criminal da comarca de Tremembé, à pena de 07 (sete) meses de detenção,
somado ao pagamento de 13 (treze) dias-multa, por violação ao art. 138, c.c. art. 141,
incisos II e III, todos do Código Penal (fls. 99/102).
Conforme a queixa-crime ajuizada por Marcelo Vaqueli, Arthur Taques teria praticado
o crime de calúnia ao imputar-lhe falsamente o crime descrito no artigo 268, do Código
Penal.
Narra a queixa-crime que em uma página da rede social Facebook, mantida por Arthur,
ele publicou um texto com os seguintes dizeres:
“#Acabou a quarentena? Prefeito Marcelo Vaqueli, secretários e amigos foram
flagrados no bar ao lado da estação bebendo e conversando normalmente. O que você
acha dessa atitude? Fazendo decretos para a população ficar em casa, mas ele mesmo
não cumpre”.
Apela o querelado, buscando a absolvição por ausência de dolo de imputar falsamente
fato criminoso à vítima e atipicidade da conduta, eis que o Decreto supostamente
infringido determinava o fechamento dos estabelecimentos comerciais, de forma que
seus frequentadores não praticavam a conduta típica, senão os responsáveis pelos
comércios (fls. 142/149).
Apresentadas as contrarrazões pelo querelante (fls. 153/157), tanto o Ministério
Público, em seu parecer (fls. 162/164), quanto a d. Procuradoria de Justiça (fls.
176/180), opinaram pelo desprovimento do recurso (fls. 176/180).

FUNDAMENTAÇÃO:
Em que pese a argumentação do querelante, é caso de absolver o querelado, senão
vejamos.
Inicialmente, tem-se que a conduta é atípica por ausência de dolo de difamar, ofender
ou, ainda, imputar falsamente o cometimento de crime em prejuízo do querelante. É
possível, pela simples leitura dos termos escritos, imputados ao querelado, dentro do
contexto apresentado na queixa-crime, inferir que o texto não ultrapassou o limite da
manifestação de pensamento, ato protegido constitucionalmente.
Neste sentido, se do conteúdo da manifestação em análise for verificada a presença de
mero animus narrandi, como é o caso dos autos, sem intenção de imputar falsamente
conduta criminosa, não há que se falar em infração aos artigos 138, do Código Penal,
pelo qual o querelado está sendo processado.
Ademais, o Magistrado de piso consignou na fundamentação da sentença
condenatória que “A participação de cidadão em evento com aglomeração pode ser
considerado crime contra saúde pública.”
Ora, se “pode ser considerado” crime contra a saúde pública, “pode”, também, não o
ser!
Por fim, anoto que o decreto de autoria do prefeito querelante proibia a abertura dos
estabelecimentos, de forma que a conduta de estar no interior de um estabelecimento
não compõe a conduta típica, sendo, portanto, atípica.
Tudo considerado, resta afastada a autoria delitiva.

DISPOSITIVO:
Nesse quadro, a meu ver, as publicações devem ser observadas sob a ótica das
garantias constitucionais de liberdade de expressão. Assim sendo, a absolvição é
medida que se impõe, eis que o relatado na queixa-crime não extrapola a liberdade de
expressão, não constituindo crime.
Por votação unânime, DERAM PROVIMENTO ao apelo, para o fim de absolver o
acusado, nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

COMENTÁRIOS SOBRE A DECISÃO JUDICIAL:


Analisando o caso em tela, fica claro a ausência de dolo de imputar falsamente fato
criminoso a vítima. Também não resta dúvidas sobre a atipicidade da conduta, pois na
data da publicação, dia 18/05/2020, o decreto assinado pelo prefeito, que
determinava o fechamento dos estabelecimentos, já não vigorava mais, pois estava
prorrogado até dia 10/05/2020. Sendo assim, não teria como imputar-lhe o crime
descrito no artigo 268 do CP.

Você também pode gostar