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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

________ /___

Gisele, já devidamente qualificada nos autos do processo crime nº ________, supostamente


por ter incorrido na prática da infração do art. 129 que lhe move Ministério Público Estadual,
através de seu advogado, com fulcro no art. 403. § 3º, do Código de Processo Penal, vem
apresentar as suas:

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

pelos fatos e fundamentos que serão expostos.

Dos Fatos

A ré é acusada por suposto crime ocorrido na data de 18/04/2018 quando contava com a
idade de 19 (dezenove) anos, em virtude de um desentendimento juvenil com a amiga da
suposta vítima, Amanda. Seguido posteriormente de uma alegada lesão em Carolina realizada
pela ré, que almejava acertar Amanda, mas confundiu-se e acertou Carolina, nas costas, com
um chute, que estava comprovadamente grávida.
Estando sozinha com Gisele no momento da conduta, Carolina, supostamente,dirigiu-se
até a casa da amiga Amanda para ser “socorrida”.
Logo após a vítima realizou uma viagem de intercâmbio, e assim que retornou da
viagem, convencida por Amanda, realizou a representação contra a ré na data de 18/10/2018,
tendo sido recebida denúncia somente na data de 31/10/2018.
Dando-se prosseguimento ao processo, vagarosamente, ocorrendo a primeira audiência
somente em 20/08/2020.
Sendo este o breve exposto.
Preliminar

Observando os fatos narrados, evidencia-se um longo percurso de tempo decorrido dos


fatos aludidos até a apresentação de representação da vítima. O direito penal brasileiro
estabelece prazos de decadência, baseando-se justamente na conduta da vítima em prorrogar
a representação ou queixa, claramente, ao permitir que se passe um longo lapso de tempo, o
ofendido manifesta, implicitamente ao menos, que a conduta do acusado não foi tão danosa
posto que prorrogou sua representação. Além de estabelecer a segurança jurídica ao acusado,
que não pode ficar eternamente sujeito à acusação, no tempo que quiser a vítima, posto que o
direito penal não se presta para frivolidades, mas sim para a justa equiparação de danos aos
bens jurídicos. Verificada e ocorrida a decadência, extingue-se a punibilidade, como
estabelecido no Código Penal:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

Possibilitada a decadência, bastaria verificarmos as datas e prazos do suposto crime pelo


qual é acusada a ré. Conforme se verifica na denúncia, a data do fato ocorrreu no dia 18 de
abril de 2018, e a data da representação da vítima foi apresentada somente no dia 31 de
outubro de 2018, portanto, mais de seis meses separam os fatos narrados e a referida
representação da vítima. Sendo seis meses justamente o prazo de decadência do crime em
que é acusada a ré, conforme artigo descrito no CPP, exposto abaixo:

Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu


representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se
não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a
saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se
esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou
representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo
único, e 31.

Não havendo interrupção neste caso, e contando-se o prazo apenas em meses,


verificando que o último dia do prazo de decadência para a representação da vítima ocorreu n
antes do dia 20 do mês em que feita a denúncia, sendo esta a maneira correta de contagem do
prazo decadencial penal, conforme lição do professor Guilherme Nucci:

Decadência:é a perda do direito de agir, pelo decurso de determinado


lapso temporal, estabelecido em lei, provocando a extinção da
punibilidade do agente. Trata-se de um prazo processual, que cuida do
exercício do direito de ação, mas com nítidos reflexos no direito penal,
uma vez que é capaz de gerar a extinção da punibilidade.Portanto conta-se
nos termos do art. 10 do Código Penal, incluindo-se o dia do começo e
excluindo-se o dia do final,, valendo-se da contagem do calendário
comum. (Nucci, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 10. ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011

Além da decadência, evidenciada nos presentes autos, verifica-se também, a ocorrência


de prescrição, que está no artigo 107, inciso IV, já aludido nestas alegações.
O processo está correndo desde o recebimento da denúncia que foi realizada na data de
31/10/2018, ocorrendo a primeira audiência somente na data de 20/08/2020, e ainda não
protocolada a sentença, percebe-se um grande lapso de tempo do recebimento da denúncia até
o presente momento processual, passados dois anos e dois meses de um vagaroso processo
penal. A lentidão para o julgamento, possibilita a ocorrência da prescrição da pretensão
punitiva, perdendo o Estado a possibilidade de punir em virtude do longo lapso temporal
ocorrido.
Estabelece o Código Penal o prazo prescricional de 3 anos para crimes com punições
menores de até 1 (um) ano, conforme o artigo citado abaixo:
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,
salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo
da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.


(Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

A pena proposta no artigo 129 do CP em que é acusada a ré, estabelece uma pena de
detenção de três meses a um ano, computando-se portanto o prazo de prescrição de 3 (três)
anos para o presente caso.
Contudo, verifica-se que a ré no momento dos fatos que lhe foram imputados se
encontrava com a idade de 19 (dezenove) anos, motivo que possibilita a diminuição do prazo
de prescrição pela metade, tornando o prazo de três anos em um ano e meio, manifestando-se
assim a prescrição, impossibilitando a punição da acusada.
Segue abaixo o artigo do Código Penal que possibilita a redução para o presente caso:

.Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o


criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984).

Preliminarmente, percebe-se no presente caso a extinção da punibilidade pela ocorrência


da decadência no direito de representação da vítima, e se observa a prescrição pela
vagarosidade do processo judicial, fazendo-se necessária a extinção da presente ação, pois
ausente a punibilidade da ré, não sendo necessária análise de mérito.
Sendo o entendimento dos tribunais, conforme jurisprudência transcrita abaixo:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIMES CONTRA A


HONRA. CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA (ARTS. 138, 139 E 140
DO CÓDIGO PENAL). DECISÃO QUE REJEITOU A
QUEIXA-CRIME.
1. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. JUSTIÇA GRATUITA. PLEITO
DE ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS. COMPETÊNCIA
AFETA AO JUÍZO DA CONDENAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO NO
PONTO.
2. IMPOSSIBILIDADE DA TRAMITAÇÃO EM SEGREDO DE
JUSTIÇA. REGRA CONSTITUCIONAL DE PUBLICIDADE DOS
PROCESSOS JUDICIAIS. AUSÊNCIA DE EXCEPCIONALIDADE.
3. PREJUDICIAL DE MÉRITO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA DECADÊNCIA. LAPSO
TEMPORAL SUPERIOR A SEIS MESES ENTRE A CIÊNCIA DA
AUTORIA DELITIVA ATÉ O OFERECIMENTO DA
REPRESENTAÇÃO. EXEGESE DO ART. 103 DO CÓDIGO PENAL.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO AGENTE (ART. 107, INCISO IV,
DO CÓDIGO PENAL). ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL
PREJUDICADA.
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA RECONHECIDA.
(TJSC, Recurso em Sentido Estrito n. 5112788-85.2022.8.24.0023, do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Cinthia Beatriz da Silva
Bittencourt Schaefer, Quinta Câmara Criminal, j. 16-02-2023).

Mérito

Sanada a questão preliminar, analisando a questão de mérito, verificamos a ausência de


materialidade dos fatos, ora, não foi feita prova pericial, tampouco houve qualquer
testemunha que comprovasse a veracidade dos fatos narrados pela vítima, valendo-se tão
somente da palavra da vítima.
Criando-se uma série de dúvidas sobre sobre a ocorrência do crime, dúvida que deve
aproveitar a ré, considerando-se o princípio do in dúbio pro reo, não se comprovando também
o animus vulnerandi da ré.
Ausente a materialidade do delito, deve-se declarar a inocência da parte ré.

Subsidiariamente

Caso Vossa Excelência não veja a legitimidade dos fundamentos expostos anteriormente,
negando as preliminares e as questões de mérito, e para evitar o que considero uma injustiça
maior contra a ré, subsidiariamente, evocando o que é justo e direito pede-se que seja retirada
a qualificadora das punições, por se constituir de erro de pessoa.
Comprovadamente, a parte ré não quis acertar a vítima, sendo fato indiscutível e
manifesto pela própria vítima, portanto não se pode qualificar, punindo mais severamente a
ré, em conformidade com os casos de erro de pessoa presentes no Código Penal, exposto
abaixo:
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades
da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
crime.

Exime-se, nos casos de erro sobre a pessoa, as qualidades da vítima acertada,


utilizando-se as qualidades da pessoa que pretendia-se acertar, posto que contra ela havia a
intenção e dolo completo em infringir o respectivo dano, sendo necessário o afastamento da
qualificadora.

Pedido

Ante o exposto, requer para Vossa Excelência:

1. O reconhecimento e a declaração da preliminar de nulidade absoluta prevista no artigo


2. Não havendo o reconhecimento da nulidade, quanto ao mérito, a absolvição do réu,
com fundamento no art. 386 do CPP,
3. Subsidiariamente pleiteia-se o afastamento da agravante do CP.
4. Por derradeiro, deve-se ressaltar que o acusado é primário, não tem antecedentes,
merecendo receber a pena no mínimo legal, se houver condenação, bem como
substituição por penas alternativas e o direito de recorrer em liberdade.

Cidade, 30 de março de 2023

Lucas Vinicius da Costa Antonio


Oab/ XXX

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