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AO JUÍZO DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TERESINA-PI

Processo nº XXXX.XXX-XX

GISELE, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, por meio de seu advogado e
procurador que este subscreve, conforme procuração em anexo, vem respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, com fundamento no art.403, §3º do Código de Processo Penal, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS pelos motivos de fato e direitos a seguir aduzidos:

1. DOS FATOS
De acordo com a denúncia, a acusada, no dia 01 de maio de 2014, na época com 69 (sessenta
e nove) anos, supostamente, teria acertado um chute nas costas de Carolina, após confundi-la com
Amanda. Em decorrência do chute, a vítima, ao tempo do fato grávida, teria caído de joelhos no
chão, lesionando-se.
Convencida por Amanda, no dia 01 de março de 2023, Carolina compareceu a delegacia após
voltar de outro país e representou a acusada informando que a lesão interferiu no seu parto, tendo
antecipado o momento planejado, mas não juntou nenhum documento médico sobre isso. Em
razão disso, o Ministério Público denunciou Gisele pela prática do delito de lesão corporal com
fundamento no art.129, inciso IV do Código Penal.
Na fase de inquérito, não foi realizado o exame de corpo de delito, para a comprovação da
materialidade, em razão do fato ter acontecido a muito tempo. Haja vista que Carolina só
compareceu a delegacia cerca de 9 anos depois do fato.
Recebida a denúncia, no dia 01 de maio de 2023, foi designada audiência de instrução e
julgamento onde Amanda foi testemunha e afirmou em depoimento que não viu a acusada bater
em Carolina e nem viu os ferimentos, alegando apenas que estava na casa da vítima quando esta
chegou chorando muito e narrando a história, e que ainda não acompanhou o parto pois Carolina
logo em seguida foi morar em outro local.

2. PRELIMINARMENTE
2.1 DA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO
A Ré foi acusada pela prática do delito de lesão corporal com fundamento no art.129, inciso
IV do Código Penal, no entanto, o crime deve ser tipificado nos termos do art.129, caput, do
Código Penal como lesão corporal simples com veremos a seguir:
A suposta vítima alega que estava grávida na época dos fatos, e que a suposta lesão praticada
por Gisele interferiu no seu parto. Ora Excelência, se passaram 9 (nove) anos desde o ocorrido até
a denúncia, Carolina então não fez o exame de corpo e delito bem como não juntou aos autos
nenhuma documentação que comprove que a suposta lesão interferiu no parto.
Ainda Amanda a única testemunha alega que não presenciou os fatos, que não viu
escoriações na vítima e nem o seu parto. Sendo assim Excelência não deve prosperar a agravante
prevista no inciso IV do referido código, desclassificando o crime imputado.
2.2 DA DECADÊNCIA DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Este juízo ententendo pela desclassificação do delito de lesão corporal grave para lesão
corporal leve, toma-se que este somente proceder-se-a mediante representação do ofendido, na
forma do Art. 88 da Lei 9.099/95:
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação
especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes
de lesões corporais leves e lesões culposas.
Diante disso, vislumbra-se a perda do direito de representação por parte de Carolina, pois o
seu direito entrou em decadência, haja vista que os fatos ocorreram no dia 01 de maio de 2014 e a
representação só foi feita no dia 01 de março de 2023. Não sendo possível alegar tal fato, conforme
cita o art.38 do Código de Processo Penal c/c art.103 do Código Penal:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em
que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do
dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Portanto, passados mais de 6 (seis) meses do ocorrido sem representação da vítima, ocorreu
a DECANDÊNCIA e por consequência, a EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE da Ré, nos
termos do art.107, IV do CP
Art.107. Extingue-se a punibilidade:
[...]
IV- pela prescrição, decadência ou perempção;
É possível a aplicação da nulidade do processo em questão, por falta de não observância ao
rito da Lei 9.099/95, que requer celeridade processual,no quesito a reparação de danos sofridos a
Carolina, uma vez que não atendida os requitos legais para tal demada, não a nada a se fazer contra
Gisele, processo esse devendo ser anulado de imediato o recebimento denúncia feita por Carolina,
pois tal demada tem consequências prescritivas quanto a pretensão punitiva.
Portanto resta cristalina a NULIDADE DO PROCESSO, nos termos do art.564, inciso
III, alínea “a” do CPP:
Art.564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
[...]
III- por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de
contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;
A decadência do direito de representação é causa de extinção de punibilidade na forma do
Art. 107, IV, CP. Por esse motivo, deverá o réu ser absolvido das acusações, na forma do
Art. 386, VI, CPP:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,
desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de
pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008)

3. DO DIREITO
3.1 DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
É sabido que o fato ocorreu no dia 01 de maio de 2014, e Gisele foi denunciada pela prática
do delito de lesão corporal com fundamento no art.129, inciso IV do Código Penal cuja pena
máxima é de 12 (doze) anos, porém prescreve em 6 anos segundo se pode analisar no art.109 do
Código Penal:

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo


o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da
pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

[...]

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não


excede a oito;

Por outro lado a época dos fatos Gisele tinha 69 (sessenta e nove) anos e na data do protocolo
desta demanda vai ter 78 (setenta e oito) anos completos, diante disso o seu processo quanto ao
prazo prescricional deverá reduzir-se pela metade, ou seja, ficando o prazo de 6 anos, assim
configurado a presença da prescrição punitiva, em observância ao art seguindo do Código Penal:
Art.115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o
criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
Portanto, na data da sentença do processo em epígrade Gisele, atualmente com 78 anos, por
obvio terá mais de 70 anos. Dessa forma, requer a extinsão da punibilidade da Ré nos termos do
art.107, IV do CP:
Art.107. Extingue-se a punibilidade:
[...]
IV- pela prescrição, decadência ou perempção;

Ainda assim, faz jus a circunstância atenuante da senilidade, nos termos do art. 65. I, do CP
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70
(setenta) anos, na data da sentença; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Nesse sentido, a jurisprudência:


APELAÇÃO CRIMINAL - LESÃO CORPORAL NO ÂMBITO
DOMÉSTICO - CONDENAÇÃO - RECURSO DA DEFESA
ALMEJANDO A ABSOLVIÇÃO - RECONHECIMENTO, EX
OFFICIO, DA PRESCRIÇÃO COM BASE NA PENA COMINADA
EM CONCRETO - RECORRENTE MAIOR DE 70 ANOS À
ÉPOCA DA SENTENÇA - APLICAÇÃO DA REDUÇÃO DOS
PRAZOS DE PRESCRIÇÃO NOS TERMOS DO ARTIGO 115 , DO
CÓDIGO PENAL - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO
RECORRENTE - EXAME DO MÉRITO PREJUDICADO. 1.
Transitada em julgado a Sentença penal condenatória para a Acusação, a
prescrição é regulada pela pena efetivamente aplicada (artigo 110 , § 1º ,
do Código Penal ). 2. Operada a prescrição da pretensão punitiva, resta
extinta a punibilidade do agente, nos termos do artigo 107 , IV , do Código
Penal . (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1685038-1 - Mallet - Rel.:
Desembargador Antonio Loyola Vieira - Unânime - J. 19.10.2017)

3.2 DA ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVA


Segundo a peça acusatória a Ré teria agredido a vítima com um chute nas costas,
ocasionando-lhe lesões corporais de natureza leve, entretanto, durante a fase de inquérito não foi
possível fazer exame de corpo de delito pois não havia mais vestígio das supostas escoriações
sofridas pela vítima, em razão do decurso de tempo entre a data dos fatos e a representação
criminal.
Ainda, Amanda a única testemunha ouvida em juízo alega não ter presenciado os fatos e nem
visto qualquer lesão ou consequências do delito na vítima à época dos fatos.
Nas lições do eminente professor Nestor Távora, na justa causa: “A ação só pode ser
validamente exercida se a parte autora lastrear a inicial com um mínimo probatório que indique os
indícios de autoria, da materialidade delitiva, e da constatação da ocorrência de infração penal em tese
(art. 395, I1I, CPP).”
Paralelo a isso, versa o art. 386, inciso II do Código de Processo Penal:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça:
II - não haver prova da existência do fato;
Não entendendo pela absolvição da acusada, cabe ainda elucidar nos termos do artigo 564,
inciso III, alínea b, do Código de Processo Penal,
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado
o disposto no Art. 167;

Nesse sentido, a jurisprudência:

PENAL. PROCESSO PENAL. ROUBO MAJORADO.


MATERIALIDADE INCERTA. AUSÊNCIA DE PROVAS
SUFICIENTES PARA CONDENAÇÃO. ABSOLVIÇÃO
MANTIDA. 1. A condenação penal deve estar alicerçada em
provas inequívocas, que não deixem dúvidas quanto à existência
do crime e sua autoria. 2. Mantém-se a absolvição se o acervo
probatório se mostra insuficiente quanto à materialidade da
infração penal, subsistindo dúvida razoável a respeito da existência
do crime. 3. Recurso conhecido e desprovido.

(TJ-DF 20170310167364 DF 0016365-61.2017.8.07.0003, Relator:


JESUINO RISSATO, Data de Julgamento: 06/12/2018, 3ª
TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
13/12/2018 . Pág.: 244/249)

A falta do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, cuja a prova
testemunhal não seja capaz de suprir, é causa de nulidade do processo. Dianto disso,a acusação
não obteve êxito em provar que o fato realmente ocorreu, assim requer a absolvição da acusada
por falta de prova da existência do fato nos termos do art. 386, inciso II do Código de Processo
Penal.

3.3 DA INEXISTÊNCIA DAS CAUSAS DE AUMENTO


No caso deste juízo entender pela condenação da acusada, que seja afastada o agravante
previsto no artigo 61, inciso alínea h, do Código Penal, devido ao fato da vítima estar grávida no
época os fatos.
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
II - ter o agente cometido o crime:
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
(Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Devendo a acusada responder como se estivesse praticado crime contra Amanda, já que não
tinha intensão de atingir Caroline, tendo agido e erro de execução. É importante ressaltar que a Ré
desconhecia a situação, tendo agido em erro na execução pessoa, pois em nenhum momento o
resultado pretendido era o de atingir a pessoa de Caroline, mas apenas e tão somente atingir
Amanda.
Nessa linha aduz MIRABETE:
“Entende-se por “aberratio ictus a aberração no ataque ou desvio do golpe. Faz-se presente quando
o sujeito pretende atingir determinada pessoa e vem a ofender outra. Aqui o agente não se engana quanto
à vítima, mas, por erro, atinge outra pessoa (art. 73, CP)”...(...).. “Aberratio criminis (ou
aberratio delicti) quer dizer desvio do crime, instituto diverso da aberratio
ictus. Nesta, há erro de execução a persona in personam. Na aberratio criminis o erro incide
na realização do tipo a RE in personam ou a persona in REM (de COISA para
pessoa ou vice-versa). (Grifou-se).
Ressalta-se ainda, que deve ser afastada a agravante de reincidência, mencionada pelo órgão
ministerial, uma vez que o Código Penal em seu inciso I, do art. 64 com relação ao instituto da
reincidência determina que após condenação criminal transitada os efeitos da condenação
perdurarão até 05 (cinco) anos o cumprimento efetivo ou extinção da pena.

Art. 64 – Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento

ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de

tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da

suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

A transação penal ocorrida em sede de juizado especal firmado pela acusada ocorreu no ano
de 2015, dessa forma, em hipótese de condenação, não incidirão os efeitos da reincidência, pois,
da extinção da punibilidade pelo efetivo cumprimento da penal e a nova prática delitiva, já se
passaram pouco mais de 05 (cinco) anos.

4. DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência:


a) que seja decretada a absolvição sumária da acusada, com fundamento no artigo 386, inciso
VI, do Código de Processo Penal, em razão de extinção da punibilidade, pela decadência
do direito de representação;
b) não entendo pela decadência do direito de representação, que seja decretada a absolvição
sumária da acusada, com base no artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, em
razão da extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva;
c) caso não acolha a tese de absolvição sumária, requer a absolvição da acusada, com
fundamento no artigo 386, inciso II, pela falta de provas quanto à ocorrência dos fatos;
d) não acolhida, requer que seja a acusada absolvida com fundamento no artigo 386, inciso
VII, Código de Processo Penal, por não existir prova suficientes para a condenação;
e) não seja acolhidas as teses de absolvição, requer a anulação da instrução probatória e a
consequente extinção do processo sem resolução do mérito, por ausência de exame de
corpo de delito e por não está suprido por prova testemunhal, com fundamento no artigo
564, inciso III, alínea b, do Código de Processo Penal.
f) que seja afastadas os agravantes de penas previstos no artigo 61 do Código Penal, em razão
de erro na execução sobre pessoa, nos termos do artigo 73 do Código Penal;
A desclassificação do delito de lesão corporal grave para o de lesão corporal leve
(Art.129,CP) caso Vossa Excelência rejeite as teses até então expostas;
g) Reconhecimento da atenuante da senilidade;

Nesses termos,
Pede e espera deferimento.

Teresina-PI, _ de _de 2023


ADVOGADO
OAB/PI

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