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ALBERTO CARLOS MARTINELLI IERVESE FILHO

Direito Processual Civil IV

Professor: Salomão Viana

Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito

Semestre 2018.2
Alberto Iervese

Sumário
Considerações Introdutórias .......................................................................................3

Liquidação da Sentença ..............................................................................................31

Cumprimento da Sentença.........................................................................................36
Ação Monitória.............................................................................................................60
Execução Fiscal .............................................................................................................66
Do processo de execução ............................................................................................70
Defesa do executado ....................................................................................................93

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 2


Alberto Iervese

Estudo da Execução Civil


Considerações Introdutórias
Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando
o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da
prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.

O professor Salomão Viana destaca o forte papel político da execução, pois é através
da execução que são efetivamente realizados e assegurados os direitos reconhecidos em
sentença, ou seja, é através da execução que o Estado consegue fazer valer seu poder sobre os
cidadãos. De nada basta a sentença por si só. Existe um direito fundamental a uma tutela
jurisdicional efetiva, o que tem como consequência a necessidade de um processo executivo
também efetivo (nenhuma tutela jurisdicional será efetiva se o respectivo processo executivo
também não o for).

Nosso ordenamento prioriza a efetivação das decisões judiciais ao assegurar a execução


no máximo de situações possíveis.

P. Ex. A única casa da família, um bem de família em tese impenhorável, será penhorável se os titulares
do imóvel oferecem o mesmo como garantia. Se foi o imóvel oferecido como garantia, como não
poderia vir a ser penhorado? Seria incoerente.

Qual a função da execução? Execução e efetivação de direitos a uma prestação. O


indivíduo tem o direito de provocar o estado para que intervenha e exerça sua função
jurisdicional (exercício do direito de ação). O Estado deve, obrigatoriamente, dar uma
resposta, positiva ou não. A execução e efetivação do direito assegurado pelo Estado é a função
da execução.

Entretanto, cabe lembrar que as decisões proferidas podem ser, separadamente ou


cumulativamente: i) declaratórias; ii) constitutivas ou iii) condenatórias.

Obviamente, as decisões de natureza meramente declaratória são efetivas por si só.


Não se faz necessária a ocorrência de execução. A mera existência de uma decisão declaratória
já satisfaz a necessidade do titular do direito levado a juízo.

P. Ex. A declaração de autenticidade de documento proferida por um magistrado por si só é suficiente


para a satisfação dos desejos da parte.

O mesmo vale para as decisões constitutivas (positiva, negativa e modificativa), que


constituem, desconstituem ou modificam situações jurídicas. Essas decisões produzem efeitos
imediatamente. O direito foi plenamente satisfeito pela decisão judicial, pois essas decisões
originam direitos potestativos.

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O direito potestativo efetiva-se normativamente: basta a decisão judicial para que


ele se realize no mundo ideal das situações jurídicas. É suficiente que o juiz diga “anulo”,
“rescindo”, “dissolvo” ou “resolvo” para que a situações jurídicas desapareçam, se
transformem ou surjam.

Entretanto, esse direito potestativo, para ser efetivado, pode vir a gerar um direito de
prestação, e, em nome desse, poderá o indivíduo utilizar dos meios executórios. Ao certificar
e efetivar um direito potestativo, o órgão jurisdicional certifica, também, por consequência,
o direito a uma prestação que daquele é corolário.

P. Ex. A decisão que desconstitui uma alegada relação jurídica de locação é suficiente por si só, pois
trata-se de um direito potestativo. Se for necessária a realização de despejo por ordem judicial, pode
esse ser obtido através de uma execução, pois o direito potestativo reconhecido na sentença gerou um
direito de prestação (Um efeito da sentença – a saída do imóvel é o efeito de se ter desconstituído a
relação. Não há necessidade de outro processo de conhecimento para que seja ordenada a saída do
imóvel).

Lado outro, quando é a decisão condenatória haverá uma pretensão de PRESTAÇÃO,


ou seja, a decisão por si só não satisfaz o direito.

Em uma decisão que acolha o pedido de obrigação de dar, fazer, não fazer ou de dar
coisa distinta de dinheiro (coisa certa e coisa incerta), apenas por existir a decisão, ela não
produz efeitos na vida real automaticamente (não é porque o juiz determinou o pagamento de
uma quantia, que essa quantia será automaticamente paga pela parte).

• Obrigação de dar;
• Obrigação de fazer; São essas as obrigações às prestações.
• Obrigação de não fazer;
• Obrigação de dar coisa distinta
de dinheiro (coisa certa ou incerta).

É para satisfação dessa prestação que existe o processo de execução. O processo de


execução está a serviço da efetivação de um direito dependente da realização de uma
prestação.

I. Peculiaridades Terminológicas a serem observadas

Não importa o nome conferido ao procedimento, se o objetivo for a efetivação de uma


prestação de fazer, não fazer, dar, ou dar coisa incerta de dinheiro estaremos tratando de uma
execução.

A execução pode ser fundada em título judicial ou em título extrajudicial. No caso de


título judicial o legislador a denomina no CPC como “Cumprimento da sentença”. Lado outro,
denomina como “Do processo de execução” a execução fundada em título extrajudicial e
apenas ela, apesar da nomenclatura utilizada.

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O primeiro artigo de cumprimento de sentença – que trata sobre execução de título


judicial – (Art. 513 do CPC) já reconhece essa relação, visto que afirma ser aplicável, no que
couber, as disposições de execução de título extrajudicial à execução de título judicial. Da
mesma forma, o primeiro artigo da parte do processo de execução de título extrajudicial faz a
relação inversa (Art. 771 do CPC).

Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título,
observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto
no Livro II da Parte Especial deste Código.

Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título


extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos
procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no
procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou
fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.

II. Opções políticas quanto as técnicas processuais para a execução

Existem duas técnicas processuais para viabilizar a execução de sentença: a) processo


autônomo de execução ou b) fase de um processo.

Na execução como um processo autônomo, a efetivação é objeto do processo,


instaurado com essa preponderante finalidade. Em sentido diverso, na execução como fase do
processo, não é a finalidade preponderante.

Há execução sem processo autônomo de execução, mas não há execução sem


processo. É possível que exista uma execução sem que exista um processo ali nascido, mas
algum processo precisa ter existido (varas criminais, câmaras arbitrais, etc.).

Aprofundando: O legislador autoriza que o detentor de um título extrajudicial (nota


promissória, p.ex.) parta diretamente para a execução do título extrajudicial (ação autônoma
de execução), ou seja, sem que seja declarado judicialmente a exigibilidade do título através
de um processo de conhecimento.

OBS: Nada impede que o exequente opte por ingressar com um processo para que seja
reconhecida a dívida. Nesse caso, após os trâmites, ocorrerá a execução de um título JUDICIAL
(Art. 785 do CPC).

No mesmo sentido, a decisão arbitral e a sentença penal condenatória transitadas em


julgados são títulos JUDICIAIS que também autorizam uma execução autônoma (não ocorreu
um processo no juízo cível e sim no arbitral ou penal). Nesses casos pode o exequente fazer
nascer um processo autônomo de execução. O mesmo para a sentença estrangeira homologada
pelo STJ. Esses títulos são chamados de títulos judiciais externos (pois vieram de outro juízo).

OBS: Quando o título judicial externo não ter valor certo, ou seja, uma situação em que seja
necessária a ocorrência do processo de liquidação para só então ocorrer a execução, nesse caso
será a execução considerada fase de um processo.

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Em suma, a execução pode ser uma fase de um processo sincrético, que não nasceu com o fim
objetivo de execução (nesse caso será sempre fundada em título judicial, inclusive externo) ou
mesmo consistir em um processo autônomo, “nascido” com a finalidade de executar
(fundado em título judicial externo ou título extrajudicial).

A execução como fase do processo é sempre fruto de uma ação de procedimento


comum, procedimento especial previsto no CPC ou de procedimento especial previsto em
legislação extravagante.

III. Títulos Executivos Judiciais


Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título:

I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de


obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer


Títulos Judiciais
natureza;
stricto sensu
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante,
aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários


tiverem sido aprovados por decisão judicial;

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

VII - a sentença arbitral;


Títulos Judiciais
Externos VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta


rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

§ 1o Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o
cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2o A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e


versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

Comentários:

A autocomposição como título judicial, como visto nos incisos II e III, abrange tanto a
autocomposição judicial (no curso de um processo) quanto a extrajudicial. No caso de
autocomposição judicial, por força do §2º, poderá esta envolver sujeito estranho ao processo,
bem como versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

Inciso V: Este era considerado pelo CPC-73 como título extrajudicial, algo ilógico, visto que se
trata de decisão judicial.

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Inciso VI: O valor fixado na seara penal não é definitivo, pode ser aumentado na esfera cível.
Entretanto, uma vez transitada em julgado essa sentença penal, esse valor não poderá ser
reduzido. Deverá o exequente solicitar a execução do valor assegurado no âmbito penal e
apresentar justificativos para que esse valor seja aumentado pelo juízo cível.

Inciso IX: A parte final do dispositivo é de fundamental importância, pois a concessão do


exequatur somente será devida após uma análise pelo STJ acerca da compatibilidade da decisão
com nosso ordenamento (p. Ex.: decisão que ordena interrogatório mediante tortura não pode
ser cumprida em território brasileiro).

A hipótese de homologação de sentença estrangeira (inciso VIII) é diferente da hipótese


acima estudada, de decisão interlocutória estrangeira (inciso IX). Essa última é para
cumprimento de simples diligências.

Nas hipóteses dos incisos VI, VII, VIII e IX, por se tratarem de títulos judiciais externos,
ou seja, em que não houve um prévio processo naquele âmbito, deverá o envolvido ser
CITADO (ato que dá ciência da existência de processo), na forma do §1º.

IV. Títulos Executivos Extrajudiciais

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;

III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;

IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela


Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou
por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;

V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de


garantia e aquele garantido por caução;

Inciso modificado pelo CPC-15 VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;

VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel,


bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma
da lei;

X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de


Novidade do CPC-15
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;

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Novidade do CPC-15 XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de
emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados
nas tabelas estabelecidas em lei;

XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva.

§ 1o A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título


executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.

§ 2o Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não


dependem de homologação para serem executados.

§ 3o O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos


de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for
indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.

Comentários:

Inciso I: O título de crédito contém a característica da literalidade, de sorte que somente se


pode considerar o que esteja nele contido expressamente. Os requisitos legais para a emissão
do título devem estar nele expressos, devendo estar igualmente estar inequivocamente
indicados o valor, o devedor e todos os elementos fundamentais para a propositura de uma
demanda executiva. Em razão do princípio da cartularidade, deve, na ação de execução, ser
apresentado o título de crédito original, para assegurar que o título não esteja mais em
circulação, tenha sido endossado ou transferido a outrem. O STJ decidiu que é permitida a
execução sem o original desde que o exequente comprove que o título não se encontra nas
situações listadas atrás;

Inciso II: Celebrado o negócio jurídico perante o tabelião, esse irá lavrar escritura pública,
dotando o instrumento de fé pública. Quanto ao termo “outro documento público”, o STJ
mantém o entendimento de que documento público é aquele produzido por autoridade
pública. Em ambos os casos, independente da espécie de obrigação contida no documento,
estaremos tratando de títulos executivos.

Inciso III: A exigência de duas testemunhas serve para conferir uma força maior ao documento.
É com base no descumprimento desse inciso que muitos advogados pleiteiam o não cabimento
da ação de execução.

Inciso IV: Não é preciso que o instrumento de transação seja referendado por todos esses
órgãos, mas somente por um.

Inciso V: Através da abertura conferida pelo legislador em “outro direito real de garantia”
inclui-se aqui, p. ex., a alienação fiduciária em garantia, contrato muito comum atualmente,
visto que não oferece riscos para as instituições financeiras.

OBS: Nessa situação não precisamos das duas testemunhas previstas no inciso III. A
exigência ali posta é para contratos em geral, enquanto que aqui tratamos de contratos
específicos.

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Inciso VI: Apenas em caso de morte. Não mais em outros casos, como invalidez, como era
previsto pelo antigo código. Trata-se de uma novidade do CPC decorrente de lobby das
empresas seguradoras. A justificativa jurídica é a de que permitir a execução em caso de
invalidez traria para o processo de execução discussão não compatível com ele (o indivíduo
está invalido ou não?).

Inciso VII: Laudêmio é o valor pago pelo enfiteuta ao senhorio (possuidor do domínio direto)
toda vez que aliena onerosamente o imóvel do qual possui o domínio útil. Esse valor é
decorrente do não exercício do direito de preferência pelo senhorio. Foro, por sua vez, é um
valor pago anualmente ao senhorio pelo direito de possuir o domínio útil do imóvel (usar,
gozar e dispor do imóvel). O professor Salomão Viana aduz em sala que a região do Garcia e
do Canela, no passado foram objetos de contratos de enfiteuse pela Igreja local, motivo pelo
qual até hoje as negociações onerosas dos imóveis obrigam o vendedor a pagar o laudêmio à
Igreja.

Inciso VIII: Esse inciso não autoriza que o condomínio execute o condômino em razão das
taxas condominiais. Essa autorização se dá no inciso X. A menção final desse artigo deve aqui
ser entendida como a situação em que o proprietário paga as taxas de condomínio que
deveriam ter sido pagas pelo locatário.

Inciso IX: Inciso que embasa a execução fiscal. A inscrição na dívida ativa se dá por atuação
exclusiva do poder público (ex: indivíduo não paga IPTU, o poder público simplesmente o
insere na dívida pública, expede uma certidão e o executa).

Inciso X: Novidade do CPC-15. Esse inciso autoriza a execução pelo condomínio em desfavor
do condômino em razão do não pagamento de taxas condominiais.

Inciso XI: Outra novidade do CPC-15. Essa certidão também se dá por ato exclusivo do credor.

Inciso XII: Autorização para que leis extravagantes criem títulos extrajudiciais.

O professor Fredie Didier entende que é possível a criação de título executivo extrajudicial
através de negócio jurídico, por ser ele previsto em lei. O professor Salomão Viana discorda,
para ele é preciso uma lei especifica.

V. Classificações da execução

1. Execução Comum x Execução Especial


• Execução Comum: São as execuções tratadas pelo Código de Processo Civil.

• Execução Especial: São as execuções disciplinadas em legislação extravagante (p.ex. Lei n


6.830/80, a lei da execução fiscal, que trata da execução de título específico, a certidão da
dívida ativa). Nesse tipo de execução aplica-se as normas do CPC no que couber.

Dívida Passiva x Dívida Ativa: Dívida passiva é o que comumente chamamos de


dívida, enquanto que dívida ativa é um crédito. Assim sendo, a certidão da dívida ativa

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é uma certidão que atesta um crédito da União perante aquele que virá a ser executado.
Importante perceber que esse crédito não precisa ser tributário, como muitos pensam.

OBS: Se a lei apenas cria um título de crédito, mas não disciplina sua execução, estamos
tratando de uma execução comum.

2. Execução Fundada em Título Judicial x Execução Fundada em Título


Extrajudicial
• Execução fundada em título judicial: Fundada em títulos que simbolizam a prestação
jurisdicional, que não são necessariamente proferidos pelo poder judiciário (p. ex. decisão
proferida por árbitro ou tribunal arbitral). Aqui aplica-se o capítulo do CPC “Cumprimento
da Sentença”.

OBS: Tribunal Arbitral não é o órgão recursal na arbitragem. Tribunal Arbitral é a


denominação utilizada nas situações em que mais de um árbitro fora indicado para a
resolução da questão.

• Execução fundada em título extrajudicial: Fundada em títulos expressamente previstos em


lei (estudados no tópico anterior) e que possuem uma eficaz força executiva. Aqui aplica-se o
Livro II da parte especial do CPC: “Do processo de execução”.

Importantíssimo: Execução Judicial e Execução Extrajudicial são diferentes de Execução


fundada em título judicial e execução fundada em título extrajudicial, como veremos a seguir.

3. Execução Judicial e Execução Extrajudicial


• Execução judicial: É a execução que se dá junto ao poder judiciário. É a regra tradicional no
Direito Brasileiro, tanto é que até mesmo a decisão arbitral deve ser operada perante o
judiciário.

• Execução extrajudicial: É a execução que não se dá junto ao poder judiciário. É preciso


expressa previsão legal (como nos casos de cédula hipotecária e alienação fiduciária de bem
imóvel).

Nesse caso são contratadas empresas especializadas que devem obrigatoriamente notificar o
executado para que pague. Se não o fizer, poderá inserir seus bens em leilão. São nesses leilões
que as pessoas costumam adquirir bens mais baratos. Entretanto, muitas vezes ocorrem
disputas judiciais, visto que o executado quase sempre ingressa judicialmente para que não
seja admitida a execução extrajudicial contra ele ocorrida.

Trata-se a execução extrajudicial do foco da chamada “desjudicialização da execução civil”


que vem ocorrendo no Brasil. O professor Fredie Didier salienta que, em respeito à carta
magna, essa execução judicial deve, evidentemente, estar sujeita a controle jurisdicional,
preventivo ou repressivo.

É um tipo de execução muito comum no direito estrangeiro, enquanto que em território


brasileiro somente agora vem aumentando seu espaço.

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4. Execução Direta e Execução Indireta


• Execução direta/por sub-rogação: Aquela que para a prática dos atos executivos não há a
necessidade de participação do executado. É aquela que impõe uma prestação ao réu e prevê
uma medida executiva direta, que será adotada em substituição à conduta do devedor, caso
ele não cumpra voluntariamente o dever que lhe é imposto.

Como dito acima, aqui o Poder Judiciário prescinde/não precisa da colaboração do executado
para a efetivação da prestação devida, pois, poderá o próprio Estado ou um terceiro adotar
uma medida substitutiva considerando a conduta do executado.

P. Ex.: Bloqueio do patrimônio do executado inadimplente através do sistema BACEN JUD para
satisfação da execução.

• Execução Indireta: Em situações em que é necessária a atuação do indivíduo (p. ex.,


obrigação do pintor de pintar um quadro ou de um escritor de escrever um livro), utiliza-se
métodos de coação indireta, p. ex. multas, visando com que o executado cumpra o
determinado.

Antes era cabível somente nos casos de obrigações de fazer ou não fazer infungíveis, ação
alimentos e de obrigação de dar dinheiro* estabelecido em sentença como devido (essa mais
recente, desde 2006).

*Na obrigação de dar dinheiro, um exemplo claro é a multa por atraso. Esse é um
método coercitivo em que a mora é desestimulada.

Essa execução indireta pode ser baseada também em um benefício, ou seja, uma vantagem. É
o que denominamos sanção premial.

P. Ex.: Na ação monitória o sujeito que paga dentro do prazo de 15 dias não paga custas e tem os
honorários reduzidos pela metade.

É comum que seja cumulada a coação indireta com a sanção premial, ou seja, há um estímulo
ao adimplemento e uma sanção ao atraso.

O CPC-2015, inovando e demonstrando um avanço da execução em território brasileiro,


autoriza ao magistrado, em qualquer tipo de execução, a utilização de medidas executivas
indiretas atípicas, após a utilização das mediadas típicas. Assim, se autoriza a utilização de
tais métodos até mesmo para compelir um indivíduo a pagar dívidas.

P. Ex.: Juiz pode determinar a inserção dos dados do devedor nos bancos de dados de maus pagadores,
vide enunciado nº 76 do XXI Encontro Nacional dos Juizados Especiais.

A execução indireta pode ser patrimonial (p.ex., imposição de multa coercitiva) ou


pessoal (p. ex., imposição civil do devedor de alimentos). O estímulo ao
cumprimento da prestação pode dar-se pelo temor (p. ex., multa coercitiva, prisão
civil do devedor de alimentos, divulgação de notícia em jornal revelando o
descumprimento) ou pelo incentivo (p. ex., a chamada “sanção premial”).1

1 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Volume 5. 8ª edição. Págs. 53 e 54.

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5. Execução Definitiva x Execução Provisória


Essa diferenciação possui utilidade apenas quando discutimos sobre a execução
fundada em título judicial, visto que a execução fundada em título extrajudicial sempre será
definitiva.
• Execução Provisória: Fundada em título judicial, baseada em ato decisório não revestido da
imutabilidade própria da decisão. Enquanto houver possibilidade de discussão do conteúdo e
interposição de recurso, estaremos tratando de uma execução provisória. O professor Salomão
afirma que na verdade o que é provisório é o título, não a execução (a provisoriedade não
repousa sobre os atos executivos e sim sobre o título).
P. Ex.: Decisão (seja decisão interlocutória ou seja sentença/acórdão) que foi desafiada por recurso
recebido sem efeito suspensivo. Nessa situação ocorrerá a execução provisória, posto que os efeitos
dessa decisão poderão ser exauridos desde já.

O professor Salomão Viana destaca que, apesar do ordenamento permitir que o beneficiado
aproveite os efeitos da decisão ainda não transitada em julgado através da execução
provisória, ao mesmo tempo transfere a ele a responsabilidade pelos danos eventualmente
causados por essa execução.
• Execução definitiva: É a execução completa, que vai até a fase final (com entrega do bem da
vida) sem exigências adicionais para o exequente. A execução de título extrajudicial é sempre
definitiva.
O critério para a diferenciação é a estabilidade do título executivo em que se
funda a execução: se se tratar de decisão acobertada pela coisa julgada
material, a execução será definitiva; se se tratar de decisão judicial ainda
passível de alteração (reforma ou invalidação), em razão da pendência de
recurso contra ela interposto, a que não tenha sido atribuído efeito
suspensivo, a execução é provisória.2

VI. Juízo de admissibilidade do exame do mérito e Juízo de mérito na


execução
Há uma diferença na estruturação do processo de execução quando comparada com o
processo de conhecimento. Os atos efetivos típicos do processo de execução são praticados no
curso do processo, enquanto que a sentença é o símbolo do fim do processo (o exequente não
almeja a sentença, e sim a obtenção do seu crédito através dos atos que a precedem. A sentença
é objeto de desejo do executado, visto que ela encerra a execução). Lado outro, no processo de
conhecimento a sentença é o desejo do autor e o ápice do processo, pois é ela que reconhece os
pleitos do autor. Diferentemente do processo de conhecimento, o processo executivo não é
um procedimento de decisão (em que o ato final é uma solução a um litígio).
Isso não quer dizer que no processo de execução não existe juízo de mérito, apenas
quer dizer que ele não atingirá seu ápice na sentença, como no processo de conhecimento,
visto que a sentença no processo de execução, é o símbolo do fim da mesma.
Quando se alega a existência de prescrição da pretensão executiva ou de
pagamento da prestação, o órgão jurisdicional é chamado a resolver a questão
de mérito: deve-se ou não executar essa obrigação? Surge a pergunta.3

2 DIDIER JR, Fredie. Pg. 59.


3 DIDIER JR, Fredie. Pg. 63

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Esse juízo de mérito ocorrerá regularmente todas as vezes que o juiz decidir sobre as
postulações do exequente ou do executado sobre as mais diversas questões. Entretanto, para
chegar a essa análise, antes é preciso superar o obstáculo do juízo de admissibilidade do exame
do mérito (partes, causa de pedir, pedido, interesse de agir, legitimidade, tempestividade,
exigências específicas, etc.).
O não cumprimento dessas exigências, depois de concedida a chance de saná-las (se
possível for) dará origem a uma sentença de extinção do processo sem resolução de mérito
(que não faz coisa julgada).
P. Ex.: Se no curso da execução for penhorado um bem que supostamente vale metade do valor da
execução, o juiz irá se manifestar afirmando a satisfação parcial da execução e o prosseguimento da
mesma quanto ao restante (Há aqui uma decisão de mérito, mas não é ela sentença). Lado outro, haverá
sentença quando essa execução for plenamente satisfeita ou haveria sentença também se, na
propositura da ação – peça inicial – não tivessem sido percebidos os seus pressupostos.

As exigências específicas da petição inicial que propõe a execução fundada em título


extrajudicial estão previstas no art. 798 e no art. 799 do Código de Processo Civil.
Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:
I - instruir a petição inicial com:
a) o título executivo extrajudicial;
b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação,
quando se tratar de execução por quantia certa;
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;
d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe
corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for
obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do
exequente;
(...)
Art. 799. Incumbe ainda ao exequente:
I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou
fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca,
anticrese ou alienação fiduciária;
II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a
penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação;
III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair
sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada;
(....)
Como pode ser percebido através de análise do artigo 799, o terceiro interessado
deverá sempre ser informado acerca da execução, em razão dos impactos que ela pode causar
na relação firmada com o executado.

P. Ex.: João (executado) perdeu no processo de execução um imóvel que havia adquirido através de um
contrato de alienação fiduciária em garantia. O terceiro interessado precisa ser informado acerca da
execução para que adote as providências necessárias no momento devido.

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VII. Cognição na execução


No processo de execução, há criação de resistências dentro do próprio processo, mas
são elas meras provocações para que o juiz decida sobre questões que poderia tomar
conhecimento de ofício (ex officio) e que não demandem dilação probatória (o processo de
execução não foi estruturado para essas situações). Casos que não se enquadrem nessa situação
devem ser tratados em autos apartados.

A peça que alega essas questões que podem ser discutidas dentro do processo é
comumente chamada de exceção de pré-executividade, que, segundo o professor Salomão,
possui uma péssima denominação. Para ele o nome ideal seria exceção de não executividade.

Apesar do cabimento dessa peça (Exceção de pré-executividade) e o nascimento de


uma discussão endoprocessual ser aceita pela jurisprudência há certo tempo, apenas com a
entrada em vigor do CPC-15 que a mesma passou a encontrar respaldo em lei (Parágrafo único
do art. 803).

Art. 803. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida


e exigível;

II - o executado não for regularmente citado;

III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo.

Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada


pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de
embargos à execução.

VIII. Coisa julgada na execução


Se há decisão, cognição e preclusão (trânsito em julgado) no procedimento
executivo, pode haver também coisa julgada – tanto mais quando a decisão
se pautar em exame de mérito. Trata-se de uma consequência inevitável.4

Há coisa julgada na execução e essa deve ser tratada com muito cuidado, visto que
pode haver mais de um título em que se pretende que seja ali executado (cumulação de
execuções). A coisa julgada pode recair sobre um título, mas não sobre o outro.

P. Ex.: Em uma execução fundada em dois títulos diversos: Sobre o primeiro o juiz reconhece a
prescrição enquanto que sobre o segundo o juiz inadmite em razão de não existirem os requisitos
previstos em lei. Nessa situação estaremos diante de uma situação peculiar. Sobre a decisão que
reconheceu a prescrição, há coisa julgada. Sobre a outra, não.

Nas hipóteses de extinção da execução previstas no art. 924 do CPC, apenas uma
hipótese não faz coisa julgada (inciso I), por se tratar de uma questão de juízo de
admissibilidade. Todas as demais tratam sobre mérito e formam coisa julgada.

4 DIDIER JR, Fredie. Pg. 64.

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Art. 924. Extingue-se a execução quando:


I- Juízo de Admissibilidade.
I - a petição inicial for indeferida;
Não faz coisa julgada
II - a obrigação for satisfeita;

III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida;
Demais incisos: Tratam de
juízo de mérito. Fazem coisa IV - o exequente renunciar ao crédito;
julgada.
V - ocorrer a prescrição intercorrente.

IX. Cumulação de execuções


Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas
em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e desde que para
todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento.

Poderá haver cumulação de execuções (a execução de mais de um título – mais de uma


demanda - no mesmo processo) desde que estejam presentes os seguintes requisitos:

i) Competência: Que o juízo seja competente para processar todas as demandas;


ii) Adequação Procedimental: Que exista uma compatibilidade entre os
procedimentos dos pedidos (essa compatibilidade NÃO pode ser forçada (indivíduo
optar por abrir mão do procedimento especial em uma das demandas), pois aqui na
execução não poderá o exequente abrir mão desse procedimento especial, visto que,
diferentemente do processo de conhecimento, não foi o procedimento especial criado
para beneficiar o autor/exequente);

iii) Compatibilidade dos Pedidos: Os pedidos precisam ser compatíveis entre


si (não excluam um ao outro).

IMPORTANTE: Segundo o professor Salomão Viana a exigência de identidade de partes


prevista no art. 780 não é absoluta, devendo ser observado primeiro no que consiste a
“identidade de partes”, vide lição do professor Fredie Didier Jr5.

Se o título, conquanto único, aponta A e B como devedores, pode,


obviamente, pode obviamente, o credor C demandar contra ambos, caso em
que haverá cumulação subjetiva de demandas. O mesmo se diga quando
houver mais de um título, figurando em todos eles A e B como devedores.
Também aí poderá o credor C demandar contra ambos. O que não se admite
é que, sendo A o devedor de um título X e sendo B o devedor de um título
Y, o sujeito C, que é credor em cada um deles, venha a cumular, num
único procedimento, demandas executivas contra A, fundada no título X,
e contra B, fundada no título Y.

Litisconsórcio Ativo: Somente se admite a demanda cumulada de mais de


um credor contra o mesmo devedor (litisconsórcio ativo), se esses
litisconsortes ativos forem, todos eles, credores no único ou em todos os

5 DIDIER JR, Fredie. Págs. 160 e 161.

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títulos executados, conforme haja apenas um ou mais de um título,


respectivamente.

Litisconsórcio Misto: Somente se admite a demanda cumulada de mais de


um credor contra mais de um devedor (litisconsórcio misto), se todos os
litisconsortes, ativos e passivos, forem credores e devedores no único ou em
todos os títulos executados, conforme haja apenas um ou mais de um título,
respectivamente.

X. Normas fundamentais do Processo Civil na execução


Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme
os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

O artigo 1º do CPC, ao mencionar os valores constitucionalmente consagrados nos


direciona ao Acesso à Justiça, que é muito mais que a simples possibilidade de propositura de
uma ação, ou “bater na porta do judiciário”. Vide lições de Mauro Cappelletti e do professor
Wilson Alves de Souza, o acesso à justiça é também o acesso a uma ordem jurídica justa. No
que consiste uma ordem jurídica justa? Tutela adequada, efetiva e justa. Nesse sentido, quando
se fala em tutela efetiva, fala-se em execução.

Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso


oficial, salvo as exceções previstas em lei.

Por força do artigo 2º do CPC, toda vez que for deflagrado um processo autônomo de
execução, ele assim o será por iniciativa da parte, ou seja, não poderá o juiz, ex officio, fazer o
processo “nascer”. Lado outro, a execução como fase do processo poderá se desenvolver por
impulso oficial.

Exceção: Por opção política, a execução (fase de processo) por quantia certa depende da
iniciativa da parte (§1º do Art. 513). Ns demais tipos de execução (fazer, não fazer, dar coisa
distinta de dinheiro), o juiz poderá declarar de ofício a prática dos atos executivos.

OBS: O professor Salomão destaca a necessidade de saber quando se aplicar ou não essa
exceção.

P. Ex.: Existe a obrigação da Caixa Econômica Federal de realizar o depósito relativo ao FGTS, é ela de
fazer ou de pagar? Utilizando a interpretação de que é uma obrigação de fazer, poderá o juiz instaurar
de ofício a execução.

Trata-se da regra de concretização do princípio do respeito ao autorregramento da


vontade no processo, em que é reconhecida como regra a dispositividade (iniciativa da parte)
para se iniciar o processo autônomo de execução e a inquisitoriedade (desenvolvimento por
impulso oficial) para o desenvolvimento da execução.

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
intervir no processo.

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Essa dispositividade como regra é também vista no art. 133, que trata do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica. O incidente não pode ser declarado de ofício,
devendo sempre ser instaurado por iniciativa das partes ou do MP.

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos


conflitos.

§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de


conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial.

Como um exemplo da solução consensual mencionada pelo art. 3º do CPC temos o


direito potestativo do executado em pagar uma parte do valor e dividir o resto em 6 parcelas,
como estabelece o art. 916 do CPC.

Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e


comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido
de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe
seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de um por cento ao mês.

Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral


do mérito, incluída a atividade satisfativa.

A parte final desse dispositivo (atividade satisfativa) se refere à execução. O prazo


razoável mencionado se dá em respeito ao princípio da duração razoável do processo (deve-
se sempre procurar punir no processo a ocorrência de dilações indevidas). O processo não
deve durar muito nem pouco, deve durar o tempo necessário.
Já em “solução integral do mérito” há uma referência ao princípio da primazia da
decisão de mérito.
Esses princípios podem ser percebidos em outros dispositivos do código, a exemplo do
inciso IX do art. 139.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:

IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento


de outros vícios processuais;

Havendo defeitos formais sanáveis no processo (vícios processuais), deverá (é um


dever) o juiz lançar mão dos instrumentos cabíveis para saná-los. Não pode o juiz desde já
extinguir o processo, pois isso apenas faria com que fosse proposta nova demanda, o que
demandaria ainda mais tempo do poder judiciário.
Também podem ser percebidos nos §1º e §2º do art. 282, em que está disposto que a
nulidade dos atos posteriores ao do vício somente ocorrerá se houver prejuízo ao processo.
Não havendo, não ocorrerá. O mesmo vale para os Art. 485, §7º e Art. 488

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Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e
ordenará as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou
retificados.

§ 1o O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não
prejudicar a parte.

§ 2o Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a


decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o
ato ou suprir-lhe a falta.

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

§ 7o Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos


deste artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.

Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão
for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos
termos do art. 485.

A atividade satisfativa está intrinsicamente ligada ao princípio da efetividade. Daqui


nasce o chamado poder geral de efetivação das decisões judiciais. Destaque para medidas
necessárias no caput e §1 do art. 536 e para a responsabilização por crime de desobediência de
ordem judicial (§3º).
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento,
para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente.

§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre


outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de
pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade
nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.

§ 3o O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando


injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de desobediência.

OBS: A lei do mandado de segurança também classifica desobediência como crime


No mesmo sentido vão os seguintes dispositivos, que tratam sobre cumprimento,
efetivação e sanções por descumprimento de ordem judicial:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou


sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas


para efetivação da tutela provisória.

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Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas


referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.

Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva


ou omissiva do executado que:

I - frauda a execução;

II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios


artificiosos;

III - dificulta ou embaraça a realização da penhora;

IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à
penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e,
se for o caso, certidão negativa de ônus.

Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em
montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em
execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos
próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza
processual ou material.

Art. 799. Incumbe ainda ao exequente:

IX - proceder à averbação em registro público do ato de propositura da


execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de
terceiros.→ Ex.: Quem pensa em comprar carro de alguém que figura
como executado.

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do
processo:

IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória


ou final, e não criar embaraços à sua efetivação;

Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-


se de acordo com a boa-fé.

O art.5º trata sobre a boa-fé: O indivíduo que figura em um processo de execução deve
se atentar para: Regras de concretização do princípio da boa-fé; proibição geral de conduta
dolosa, proibição geral de abuso de direito, proibição geral de comportamento contraditório e
“supressio” processual.
O professor Salomão Viana destacou a “supressio” processual:
P.Ex.: É contrário à boa-fé que o beneficiado por multa em razão de descumprimento fique inerte por
um período considerável almejando obter grandes valores através da multa imposta na decisão. Ocorreu
aí uma supressio processual, em que o cumprimento não mais poderá ser exigido.

Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

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Quanto ao Art. 6º, o mesmo trata do princípio da cooperação: No Brasil vigora o


modelo cooperativo (um equilíbrio entre o modelo adversarial – juiz como mero espectador
no desenrolar do processo - e o modelo inquisitorial – juiz como parte ativa no curso do
processo)
Já o art. 7º faz alusão ao princípio da isonomia e ao princípio do contraditório,
enquanto que o art. 11 traz princípio da publicidade e a regra da necessária fundamentação
das decisões judiciais.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício
de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo
efetivo contraditório.

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos,
e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.

Voltando ao autorregramento da vontade no processo, o mesmo possui uma vertente


que pode ser percebida através de análise do art. 190, que traz o princípio da adequação.
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,
é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus,
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

O princípio da adequação consiste em adequar a situação processual para fora do seu


procedimento normal, atendendo as exigências do processo.
P. Ex.: o CPC prevê a utilização do BACEN JUD sem exigir a intimação da parte contrária após sua
realização. Os juízes costumam realizar a intimação e assim o fazem com base no princípio da
adequação.

XI. Normas fundamentais especificas da execução

• Princípio da menor onerosidade


Trata-se de um importante princípio que deve ser observado. O poder judiciário deve
sempre buscar alcançar o resultado pretendido pelo exequente, mas se esse o puder ser feito
por mais de uma maneira, há de ser escolhida a maneira menos onerosa ao executado. É um
princípio que recai sobre os meios, não sobre os resultados.
Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução,
o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.

Ocorre que a alegação de maior onerosidade está submetida a preclusão. Deve o


executado alegar na primeira oportunidade que lhe couber falar nos autos.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais
gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob
pena de manutenção dos atos executivos já determinados

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IMPORTANTE: A alegação de onerosidade excessiva não é capaz de afastar a penhora em


dinheiro, com o objetivo de que a constrição recaia sobre outros bens, por ser o dinheiro um
meio mais eficaz para satisfazer o processo de execução.
Esse, inclusive, é o limite do princípio: o meio menos oneroso somente será aplicado se
for tão eficaz quanto o mais oneroso.
No caso da penhora em dinheiro, ela é sempre mais eficaz do que a constrição sobre
outros bens, visto que esses bens vão ter que ser leiloados para obtenção dinheiro. Assim, não
faria sentido se afastar a penhora em dinheiro. Dinheiro é o bem preferencial em uma
execução por quantia certa (Art. 835, §1º).
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

§ 1o É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses,


alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso
concreto.

Importante notar a ficção jurídica imposta pelo legislador no §2º do art. 835:
Equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não
inferior ao débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

§ 2o Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança


bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do
débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
Assim, ocorrendo penhora sobre dinheiro, pode ele ser substituído por fiança
bancária ou seguro garantia judicial, únicos casos em que será aplicável o princípio da
menor onerosidade em face de penhora realizada sobre dinheiro.

• Regra de que não existe execução sem título (“nulla executio sine titulo”)

Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título


de obrigação certa, líquida e exigível.

A execução deve ser apresentada, obrigatoriamente, com um título a qual a lei


reconheça sua natureza executiva. Isso somente se aplica no caso de títulos extrajudiciais e
judiciais externos. O judicial interno já consta no processo, não é necessário ser novamente
apresentado pelo exequente.
O professor Salomão esclarece que o título executivo, diferentemente do que muitos
pensam, não é somente o documento em si, mas é, na verdade, composto por todo o
procedimento. Assim sendo, um processo em que o executado não foi citado ou foi citado
invalidamente, caberá querella nulitatis, visto que não houve citação. Não havendo assim,
portanto, formação de título.
OBS: Como pode ser visto pela redação do CPC-15, finalmente foi consertado um erro que
existia no CPC-73: O que deve ser líquida, certa e exigível é a obrigação decorrente do título,
não o título em si.

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A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe
o credor de promover-lhe a execução (Art. 784, §1º). Não pode ser obstado o direito de ação,
entretanto, se em processo diverso for reconhecida pelo juiz a não-exigibilidade da obrigação,
a execução poderá ser promovida, mas será desde logo indeferida, em razão de existir decisão
judicial que entende a obrigação como inexigível (foi possível promover a execução, como
manda o dispositivo legal, mas isso não significa que a execução continuará).
Assim, é nula a execução se o título não corresponder à obrigação líquida, certa e
exigível (Art. 803).
Art. 803. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida


e exigível.

• Regra da disponibilidade da execução


Via de regra, a execução será sempre disponível, ou seja, o exequente poderá sempre
e a qualquer tempo desistir da demanda, sem precisar da aquiescência do executado
(diferentemente do processo de conhecimento).
Exceção: Isso não se aplica quando o executado estiver atuante no processo questionando algo
em torno da própria dívida (comumente feito por embargos, impugnação ou, mais raramente,
exceção de pré-executividade). Reitera-se que essa discussão deve ser travada sobre a própria
dívida e não sobre vícios formais. Nessa situação será necessária a aquiescência do executado.

Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas


alguma medida executiva.

Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:

I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre


questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os
honorários advocatícios;

II - nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante


ou do embargante.

• Regra da responsabilidade objetiva do exequente


A execução corre por conta e risco do exequente. Prejuízos indevidos causados ao
executado haverão de ser ressarcidos pelo exequente, independentemente de culpa. A
responsabilidade do exequente pela execução injusta é objetiva basta a prova do dano, material
ou moral, e do nexo de causalidade entre o dano e a execução indevida

Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso


desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o
cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime:

I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a


sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido;

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Art. 776. O exequente ressarcirá ao executado os danos que este sofreu, quando
a sentença, transitada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a
obrigação que ensejou a execução.

Se porventura a ação rescisória da sentença exequenda for julgada procedente,


extinguindo o crédito do exequente, todos os prejuízos causados ao executado
("executado", qualquer um, e não apenas o devedor, cf. art. 776, CPC, abrangendo
terceiros indevidamente executados, em razão da execução que, afinal, se mostrou
injusta, haverão de ser ressarcidos pelo exequente, em hipótese de
responsabilidade objetiva. Se, do mesmo modo, os embargos à execução (defesa do
executado) forem acolhidos, com o reconhecimento de que não há a obrigação
executada, todos os prejuízos sofridos pelo executado terão de ser ressarcidos pelo
exequente. Da mesma maneira, após o julgamento favorável do pedido de revisão
criminal da sentença penal condenatória, que reconheça a inexistência de autoria
ou materialidade do fato, fazendo desaparecer o efeito anexo de reparar o prejuízo
(Código Penal, art. 91, 1)6;
Repita-se: a responsabilidade é objetiva. O dever de indenizar surge de um ato-fato
lícito processual; não há ilicitude, mas, se houver dano, haverá de ser indenizado. O risco da
execução justifica que o exequente seja responsável. A norma é justa e faz parte da tutela
jurídica da ética no processo, resguardando a parte de execuções infundadas.
O ressarcimento do prejuízo dar-se-á nos próprios autos do procedimento executivo,
seguindo-se, por analogia, o disposto no art. 520, II, CPC, que cuida da responsabilidade
objetiva em cumprimento provisório.
• Princípio da primazia da tutela específica ou princípio da maior coincidência
possível ou princípio do resultado
O objetivo da execução é fazer com que se alcance aquilo que consta no título. Todos
os atos devem ser praticados de modo que o que está no título seja efetivado. Somente se isso
não for possível, serão utilizados meios alternativos. A execução deve acontecer e funcionar
como se não tivesse havido resistência.
P. Ex.: Se a execução for sobre um carro, a preferência é a obtenção do carro. Entretanto, se não
for possível, pode ser utilizado dinheiro para satisfação da execução.

XII. Execução Indireta – Estudo aprofundado


O novo CPC é a comprovação física de uma opção legislativa: a de adotar um sistema
jurisdicional de suporte ao direito fundamental à tutela executiva, em que as normas que
disciplinam a tutela executiva devem ser aplicadas de modo a se obter a maior efetividade
possível, como pode ser inferido pela leitura do art. 831 do Código, em que o legislador traz
que a “a penhora deve recair sobre tantos bens quantos bastem” para o pagamento do devido, dos
juros, das custas e dos honorários.

6 DIDIER JR, Fredie. 2017. Págs. 89 e 90.

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Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários
advocatícios.

Não se deve penhorar apenas os valores referentes à dívida do título, mas também os
juros, as custas e os honorários advocatícios. Todos os valores devidos em razão da existência
do processo executivo também devem ser penhorados, em razão da máxima efetividade.
Devem ser adotados todos os meios executivos necessários à prestação integral da
tutela executiva, sejam eles típicos ou atípicos.
O dinheiro será a prioridade na execução, vide art. 835, mas devem ser respeitados os
valores necessários para subsistência do executado e de sua família (Art. 833, IV).
Exceção: Na situação de existência de dívida alimentícia, pode ser penhorado qualquer valor,
até mesmo os excetuados acima, pois aqui entra em cena um outro direito fundamental,
referente aos direitos do menor. (Art. 833, §2º)
Art. 833. São impenhoráveis:

§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora


para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem,
bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art.
529, § 3o.

As normas restritivas da execução somente devem aplicadas se houver necessidade de


proteção a outro direito fundamental.
Exemplo 01: Não se pode prender ninguém por dívida (dívida x direito fundamental à
liberdade de ir e vir) com exceção da situação de dívida alimentícia, pois entra em cena um
direito fundamental ainda mais importante nesse caso (direito fundamental à liberdade de ir
e vir x direito fundamental à dignidade da pessoa humana referente à criança)
Exemplo 02: Penhora BACEN JUD sobre dinheiro em conta corrente de empresa de home care
utilizado para manter o funcionamento da empresa. Não é razoável “matar” a empresa para
satisfazer a dívida e deixar dezenas de famílias desempregadas. Uma solução adequada seria
penhorar uma porcentagem do faturamento mensal da empresa.

Dos textos dos artigos 139, II, 297, 536, §1º e 538, §3º, extraem-se regras que permitem
uso de técnicas de execução direta ou indireta.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais


ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária;

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para
efetivação da tutela provisória.

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Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de


obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento,
para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente.

§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre


outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção
de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de
atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial.

Na execução direta o Estado “substitui o devedor” e faz, por si só, cumprir a execução:
Pode se dar por desapossamento, por transformação ou por expropriação.
(i) Na expropriação os bens do devedor se submetem a atos executivos; os bens dos
executados são expropriados e vendidos ou transferidos para a satisfação do crédito.
A execução é forçada, ou seja, independe da vontade do devedor.

(ii) No tipo desapossamento, há a identificação, localização e retirada do bem da posse


do executado com entrega ao exequente. Igualmente forçada.

(iii) Já no tipo transformação, visa mudar a realidade fática presente. A tutela jurisdicional
visa, conforme a natureza obrigacional, coagir a parte em fazer ou não fazer algo para
mudar a realidade

Na execução indireta, o Estado busca atuar para que o próprio devedor cumpra com a
obrigação. Essa atuação pode se dar através de medidas de cunho pessoal ou patrimonial,
sejam elas por temor (sanção negativa), seja por incentivo (sanção premial).
(i) Coerção patrimonial: que incide sobre a esfera patrimonial do executado, como as
multas.

(ii) Coerção pessoal: incide sobre a esfera pessoal, ou seja, sobre a liberdade do executado.
Trata-se de meio primitivo, mas que previsto na Constituição Federal, como forma de
coagir o devedor a pagar o que deve. Ex. prisão civil do devedor de alimentos.

As técnicas de execução direta e indireta podem ser utilizadas indistintamente tanto


nas execuções fundadas em título judicial quanto nas execuções fundadas em extrajudicial
(Artigos 513 e 773).
Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste
Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o
disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.

Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas


necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados.

Diante de todo o exposto, podemos chegar a algumas conclusões no que tange à


aplicação de medidas executivas típicas e atípicas:

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1º Conclusão: Nas execuções em geral (sem distinção entre aquelas fundadas em título judicial
ou em título extrajudicial), pode o órgão julgador utilizar medidas atípicas*, de execução direta
ou indireta, incluídas as sanções premiais.
*Medidas atípicas são aquelas que não estão previstas em lei.
No que se refere às medidas ATÍPICAS, estas podem ser utilizadas, de logo, em qualquer
tipo de execução?
O art. 139, IV (poder geral de efetivação), que menciona a execução por quantia certa
(pecuniária), diz respeito a uma regra genérica que abrange todos os tipos de execução. No
art. 297 também não há especificidade do tipo de execução. Já o art. 536 trata especificamente
da obrigação de fazer ou não fazer. O art. 538, que trata sobre entregar coisa distinta de
dinheiro, traz, em seu §3º, que no que couber aplicam-se as regras das obrigações de fazer ou
não fazer. Existem mais de 100 artigos que tratam sobre execução por quantia certa, ainda
assim o legislador não especificou a utilização de medidas atípicas. Disso, podemos extrair 04
observações:
(i) Quanto às prestações de fazer, de não fazer e de entregar coisa distinta de dinheiro há
previsão específica de uso de medidas atípicas;

(ii) Não há previsão específica de uso de medidas atípicas para a efetivação de prestação
pecuniária;

(iii) Há, no CPC, mais de 100 dispositivos disciplinando a execução por quantia certa;

Logo, conclui-se que, por opção política do legislador, na execução por quantia certa
o juiz precisa ser mais moderado, não podendo utilizar de logo medidas atípicas. Tanto é
assim, que a 4ª observação é a seguinte:
(iv) Frustrada a execução por quantia certa por não haver bens penhoráveis, a solução
legislativa é a suspensão do curso da execução (CPC. Art. 921, III e IV)

2ª Conclusão: A execução por quantia certa é marcada pela TIPICIDADE, em razão do que,
nela, a utilização de medidas atípicas deve se dar subsidiariamente.

3ª Conclusão: As execuções de obrigações de fazer, de não fazer e de entregar coisa distinta


de dinheiro são marcadas pela ATIPICIDADE, em primeiro plano. Entretanto, a utilização
dessas medidas atípicas deve seguir certos princípios e postulados:

• Princípio da menor onerosidade: Se o resultado for passível de ser obtida com medidas
menos onerosas ao executado, é por esse caminho que o juiz deve seguir;
• Princípio da efetividade: Devem ser adotadas medidas efetivas, que assegurem o
cumprimento da execução;
• Princípio da eficiência: Essas medidas devem dispender a menor energia possível, ou
seja, deve o juiz promover a menor quantidade de atos possíveis, desde que mantida a
efetividade das medidas;
• Postulado da proporcionalidade: Deverá ser feito um juízo acerca da:

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I. Necessidade: É essa medida necessária? Há outra medida que possa satisfazer


adequadamente o resultado pretendido? É um postulado intrinsicamente ligado
com o princípio da menor onerosidade.
II. Adequação: A medida deve ser apta a alcançar o resultado
P. Ex.: Multa com valor alto para quem não possui patrimônio disponível ou multa de baixo
valor para uma empresa com elevada capacidade financeira são medidas inadequadas. Nesse
último caso medidas adequadas seriam a intervenção ou a publicação em imprensa oficial da
situação de descumprimento.
III. Proporcionalidade em sentido estrito: Deve ser feito uma ponderação entre
custo e benefício. As vantagens trazidas pela medida justificam os prejuízos?
P. Ex.: Em vez de proibir a produção de determinado insumo, é melhor ordenar que sejam
instalados equipamentos de prevenção a danos ao meio ambiente.
• Postulado da razoabilidade: Dever de equidade (harmonização da norma geral com
o caso concreto); Dever de congruência (harmonização da norma com a realidade para
qual ela foi editada); Dever de equivalência (harmonização entre a medida adotada e o
critério que a dimensiona).
Assim, concluímos o seguinte:
5ª Conclusão: Para fixação da medida executiva atípica, devem ser observados, pelo menos,
os princípios da menor onerosidade, da efetividade e da eficiência, além dos postulados da
proporcionalidade e da razoabilidade.
6ª Conclusão: A fixação da medida executiva atípica deve se dar por meio de decisão
adequadamente fundamentada, observado o contraditório, mesmo que diferido (em algumas
medidas se a parte não for pega de surpresa, a efetividade estará ameaçada, p. ex. o BACEN
JUD. Nesses casos o contraditório será permitido após a prática da medida).
7ª Conclusão: A fixação da medida atípica não está adstrita a eventual pedido de adoção de
uma medida especificamente indicada pela parte.
8ª Conclusão: A fixação da medida atípica pode se dar de ofício.
9ª Conclusão: O juiz não pode contrariar negócio jurídico processual ao fixar medida
executiva atípica. O processo não é do Poder Judiciário.
P. Ex.: As partes podem ter acordado previamente em negócio jurídico processual que não
poderia ser utilizado o sistema BACEN JUD em eventual execução.
10ª Conclusão: O juiz, de ofício ou a requerimento, deve alterar a medida executiva atípica, se
ela se mostrou ineficaz ou se tornou desnecessária.
11ª Conclusão: O juiz não pode impor, de ofício, como medida executiva atípica, providência
para a qual a lei, tipicamente, exige provocação da parte.
12ª Conclusão: O juiz não pode impor, na adoção de medida executiva atípica que seja prevista
tipicamente na lei, um procedimento distinto do que está legalmente estabelecido.

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13ª Conclusão: A previsão, como medida típica, da multa a que se refere o §1º do art. 523
impede a adoção da multa diária, como medida atípica, na execução por quantia certa. O
ordenamento jurídico não deixou espaço para que o juiz acrescente uma multa que não seja a
do art. 523, §1º. Medidas executivas atípicas devem ser aplicadas subsidiariamente. Entretanto,
o professor Salomão não descarta, caso seja avaliado necessário, a majoração da multa.

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação,


e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo
da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado
intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de
custas, se houver.

§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será


acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado
de dez por cento.

14ª Conclusão: Na execução por quantia certa, as medidas executivas atípicas, inclusive a
multa diária, podem ser utilizadas diretamente, e não subsidiariamente, para forçar o
cumprimento de deveres processuais.
15ª Conclusão: Não é possível a decretação de prisão civil como medida executiva atípica para
a efetivação de prestação de conteúdo patrimonial não alimentícia.
16ª Conclusão: É possível a decretação de prisão civil como medida executiva atípica para a
efetivação da prestação de conteúdo não patrimonial.
Não existe direito absoluto, nem mesmo a liberdade de ir e vir, pois é possível que outro direito
fundamental, em dada situação, tenha precedência sobre o direito fundamental à liberdade (p.
ex.: direito à vida, direto à saúde, direito à integridade física, etc.). Obviamente, essa prisão
civil deve ser por tempo determinado e, tão logo cumprida a obrigação, deve o indivíduo ser
solto. São indispensáveis:
1 – Fundamentação profunda;
2 – Esgotamento prévio de outras medidas menos onerosas;
3 – Contraditório prévio (Segundo o professor Salomão, com toda sua experiência, esse
contraditório é muito útil, pois quando o indivíduo é informado que está sendo
considerada sua prisão civil, é comum que cumpram a obrigação com uma velocidade
impressionante);
4 – Fixação do prazo de duração da medida atípica;
5 – Observação de que o cumprimento da prestação faz cessar a medida atípica.
17ª Conclusão: Não pode o juiz impor, como medida atípica, providência que constitua ilícito
de qualquer natureza (civil, penal ou internacional).
P. Ex.: Algo humilhante; Privação de sono; forçar o sujeito a dar voltas na praça do campo
grande, etc.

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XIII. O CPC e a efetividade da execução – A multa


A multa é, de longe, a medida executiva atípica mais utilizada, principalmente a diária,
e, por isso, merece aqui um estudo mais detalhado.

a) Atributos da Multa
Como veremos a seguir, a multa como medida executiva indireta possui natureza
processual, finalidade coercitiva, caráter acessório e é destinada à parte contrária.
Vejamos:
(i) Natureza Processual: Essa multa tem natureza processual, ou seja, não tem natureza
indenizatória. Dessa forma, não há qualquer problema em ocorrer sua cumulação com
uma multa de natureza indenizatória (p. ex.: perdas e danos resultantes da conversão
de obrigações de fazer, não fazer, entregar coisa distinta de dinheiro – CPC, Artigos
499 e 500).
Ademais, por não ter natureza indenizatória, essa multa não está submetida a teto. Se
houvesse natureza indenizatória o teto corresponderia ao valor do dano apurado.
(ii) Finalidade Coercitiva: Tem finalidade coercitiva, ou seja, tem finalidade de agir sobre
a vontade do sujeito. Não possui ela finalidade punitiva. Portanto, poderá ela conviver
tranquilamente com multas punitivas (p. ex.: a multa por litigância de má-fé). Por não
ter finalidade punitiva, não tem limite legal, nem está vinculada à fixação de um limite
pelo juiz (o limite tratado pelo código civil trata das multas punitivas).
(iii) Caráter acessório: Essa multa tem caráter acessório, ou seja, se o cumprimento da
obrigação for impossível, ela não incide. O mesmo ocorre se o cumprimento e tornar
impossível ou a obrigação for adimplida, ela cessa a incidência; se vier a ser
reconhecida a inexistência da obrigação, ela não é devida (seria ilógico a parte ser
obrigada a pagar uma multa pelo descumprimento de uma obrigação indevida).
A multa é exigível desde já, devendo ser depositada em juízo, permitido o
levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença, favorável à parte (Art. 537,
§3º). É a solução perfeita para não estimular o descumprimento (a execução será possível) nem
submeter as partes às injustiças (é injusto que a obrigação não seja devida, mas a multa seja).
(iv) Destinada à parte contrária: É uma multa destinada à parte contrária (Art. 537, §2º).

Observação: Nada impede que o juiz, no exercício do seu poder geral de efetivação, já
estabeleça um limite para a multa, desde que se trate de um limite que pressione o devedor a
cumprir a obrigação e não faça o credor se desinteressar pelo descumprimento da obrigação
principal.

b) Multas Vincendas e Multas Vencidas

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada


na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de
execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

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§ 1o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a


periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

I - se tornou insuficiente ou excessiva;

II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da


obrigação ou justa causa para o descumprimento.

O dispositivo legal apenas menciona as multas vincendas, mas e sobre as multas


vencidas?
Para o professor Salomão, existem alguns fatores a serem considerados diante da
possibilidade da multa vencida haver se tornado desproporcionalmente elevada:
• A revisão do valor acumulado da multa vencida somente deverá se dar em situação
excepcional; → IMPORTANTE!
• Como está a relação entre o valor acumulado da multa e a expressão monetária do bem
tutelado? Se for constatado uma desproporcionalidade óbvia, estaremos diante de um
elemento que justifica, mas não sozinho, a excepcionalidade da situação;
• Está havendo afronta à regra da proibição do enriquecimento sem causa? Esse fator é
revestido de uma alta carga de subjetividade;
• Ao ser fixada a multa, atendeu-se ao critério da adequação (postulado da
proporcionalidade)?;
• Ao ser fixada a multa, atendeu-se ao critério da necessidade (postulado da
proporcionalidade)?;
• Ao ser fixada a multa, atendeu-se ao critério da proporcionalidade em sentido estrito?;
• A fixação da multa se deu mediante decisão adequadamente fundamentada?;
• O valor fixado a título de multa periódica foi adequado?;
• Foi fixado prazo razoável para cumprimento da obrigação?;
• A periodicidade da multa foi adequada?;
• Como se conduziu o devedor da multa quanto ao cumprimento da ordem judicial?;
• Como se conduziu o credor da multa, quanto ao cumprimento da ordem judicial? Há
situações em que o credor nem mesmo notifica ao magistrado o descumprimento da decisão,
visando a obtenção de altos valores a título de multa.

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Liquidação da Sentença
Primeiramente, destacamos que o vocábulo “sentença” deve ser aqui entendido como
decisão judicial, e não como sentença em sentido estrito.
Para que ocorra o cumprimento da sentença é necessário que exista um título executivo
judicial (“nulla executio sine titulo”) e que este contenha uma obrigação certa, líquida e exigível.
Disso surge uma pergunta: o que é uma obrigação certa, líquida e exigível?

(i) Certeza: A certeza da obrigação deve ser auferida a partir do conteúdo constante no título.
Aqui não importa se a obrigação já foi paga ou se foi obtida mediante coação. Para que a
obrigação seja certa, basta que a mesma conste do título. A certeza é intrinsicamente
relacionada com a existência.
P. Ex. A obrigação assumida verbalmente não é certa. A certeza dela só é percebida quando a
mesma consta de um título. Para isso, é necessária a propositura de uma ação, que ocasionará
uma sentença (título executivo).

(ii) Liquidez: Para aferição da liquidez da obrigação contida no título não se considera fatores
externos, mas apenas o que consta no título. Se a obrigação estiver quantitativamente
determinada, estaremos diante de uma obrigação líquida. Entretanto, diferentemente do que
muitos pensam, não é necessário que o valor seja precisamente indicado, mas apenas que
ele seja identificável através da análise do título (a realização de simples cálculos não
desnatura a liquidez da obrigação).
P. Ex.: Um título que contenha uma obrigação de pagar cem mil reais. Essa obrigação é líquida,
ainda que esses cem mil reais não sejam devidos.
P. Ex.: O cheque especial, em que uma quantia fica disponível para utilização da pessoa, mas
não obrigatoriamente será totalmente utilizado, não será uma obrigação líquida, pois o
próprio título não consegue dizer o valor devido.
OBS: Liquidez não se refere somente às obrigações de pagar. Pode ser necessária, por
exemplo, para identificação do objeto devido (p. ex. bezerros de determinada fazenda).
A liquidez pode acontecer até mesmo para definição dos credores (p. ex. uma
obrigação em que o credor são os funcionários de determinado estabelecimento. Será
preciso identificar quem são esses funcionários).

(iii) Exigibilidade: A obrigação é exigível quando não estiver submetida à condição (evento
futuro e incerto) ou termo (evento futuro e certo). O recurso é uma condição em relação a uma
obrigação consubstanciada em uma sentença.
OBS: Não existe obrigação líquida ou exigível se ela não for certa. Lado outro, uma vez
certa, ainda que ela não seja líquida ou exigível, a parte pode tomar providências para
IMPORTANTE! obter essas características.
Assim, podemos dizer, de forma bem pobre e simplória, que a certeza é o elemento
mais importante.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 31


Alberto Iervese

OBS: A liquidação somente é possível quanto às obrigações constantes em título


executivo judicial. As obrigações títulos executivos extrajudiciais já devem “nascer”
líquidas. Se assim não o for, será necessário ingressar com processo de conhecimento
IMPORTANTE!
ou processo monitório para que este se torne um título judicial.

Agora entrando propriamente na liquidação da sentença (aqui entendida como decisão


judicial, não apenas sentença em si): Ainda quando estudávamos o processo de conhecimento
e os requisitos da inicial, em que lá constava “pedido certo e determinado”, a liquidez se faz
deveras importante. Ademais, o CPC-15 fechou o cerco ainda mais em relação a pedidos
genéricos.
Isso se dá em razão da demora adicional que a iliquidez traz: o autor deve ingressar
com ação, para depois ocorrer a liquidação e posteriormente a execução. Se pouparmos a fase
da liquidação, estaremos diante de uma excelente economia processual, tanto para o autor
quanto para o abarrotado Poder Judiciário.
Na ação relativa à obrigação de pagar, a regra é a liquidez existente desde, pelo
menos, a sentença, exceto em algumas situações.

Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que


formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da
obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo
inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o
caso, salvo quando:

I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante


devido;

II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de


realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim
reconhecida na sentença.

§ 1o Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor


devido por liquidação.

§ 2o O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a


sentença.

Pela leitura do dispositivo legal podemos inferir a regra geral e a exceção no que tange
à liquidação de uma ação relativa à obrigação de pagar.
Regra geral: Havendo imposição da obrigação de pagar quantia, a decisão deve ser líquida.
Exceção: Se não tiver jeito, não teremos outra opção que não o procedimento de liquidação
(§1º.)
Importante: As exceções atingem apenas a extensão da obrigação, mas não as demais
determinações que devem ser estabelecidas pelo juiz em sentença (índice de correção
monetária, a taxa de juros, termo inicial, etc.).

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Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles:

1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a


existência de obrigação líquida ou ilíquida.

§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida


na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução,
ainda que haja recurso contra essa interposto.

I. Espécies de Liquidação
Existem duas espécies de liquidação, a liquidação por arbitramento (inciso I do art. 509)
ou pelo procedimento comum (inciso II do art. 509). O antigo CPC trazia a denominação
“liquidação por artigos”, que nada mais é do que a liquidação pelo procedimento comum.

Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,


proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:

I - por arbitramento, quando determinado pela sentença,


convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da
liquidação;

II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de


alegar e provar fato novo.

§ 1o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao


credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em
autos apartados, a liquidação desta.

§ 2o Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético,


o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença.

§ 3o O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos


interessados programa de atualização financeira.

§ 4o Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença


que a julgou.

Uma situação que poderia ser enquadrada como uma terceira espécie seria a prevista
no §2º do art. 509, que traz a situação em que a situação apenas depende de cálculo aritmético,
mas, como vimos anteriormente, a mera necessidade de realização de cálculos não configura
a iliquidez da obrigação. A discussão sobre esse valor e eventual impugnação ocorrerá no
cumprimento da sentença.

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É bom perceber que a liquidação pode ser requerida tanto pelo credor quanto pelo
devedor, como dita o caput do art. 509.
A iliquidez de uma parcela da sentença não impede a execução da parcela líquida
enquanto ocorre a liquidação da parcela ilíquida (§1º)
Aqui será somente discutido o quantum e não mais se é devida ou não a execução. NA
EXECUÇÃO NÃO HÁ DISCUSSÃO DA LIDE. A cognição do magistrado é parcial, somente
poderá decidir acerca do procedimento da liquidação em si. (§4º)
Voltando ao assunto cálculos, precisamos destacar as normas contidas no art. 524 do
CPC:
Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição
conter: (...)

§ 2o Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista


do juízo, que terá o prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la,
exceto se outro lhe for determinado.

§ 3o Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder


de terceiros ou do executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação
do crime de desobediência.

§ 4o Quando a complementação do demonstrativo depender de dados


adicionais em poder do executado, o juiz poderá, a requerimento do
exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o
cumprimento da diligência.

§ 5o Se os dados adicionais a que se refere o § 4o não forem apresentados


pelo executado, sem justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão
corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas com base nos
dados de que dispõe.

Assim, percebemos que a tarefa de realizar os cálculos pode vir a envolver até mesmo
o executado, que, se não colaborar, serão considerados corretos os cálculos apresentados pelo
exequente.
OBS: A gratuidade da justiça compreende também os custos com a elaboração da memória de
cálculo, quando exigida para instauração da execução. (Art. 98, §1º, VII).

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

§ 1o A gratuidade da justiça compreende:

VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para


instauração da execução;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 34


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a) Liquidação por Arbitramento


Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a
apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e,
caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que
couber, o procedimento da prova pericial.

Antigamente essa espécie de liquidação trazia, obrigatoriamente, a necessidade de um


perito. De forma mais correta, o novo CPC traz que a perícia somente ocorrerá quando o juiz
não poder decidir de plano.

b) Liquidação pelo Procedimento Comum


Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a
intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de
advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação
no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o
disposto no Livro I da Parte Especial deste Código.

Trata-se do procedimento cabível apenas quando existir fato novo a ser provado. Por
ser uma intimação, percebemos que se trata de uma continuação de um processo existente.
Lado outro, se o título for judicial externo, será necessária uma citação, pois estaremos diante
de um processo autônomo de execução (Art. 515, §1º).

Mesmos autos ou atos apartados? A liquidação deverá ser realizada em autos apartados e
poderá ser realizada mesmo na pendência de recurso (Art. 512).

Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso,


processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao
liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

Há recurso cabível? Caberá Agravo de Instrumento contra as decisões interlocutórias


proferidas na fase de liquidação de sentença (Art. 1.015, Parágrafo único).
Art. 1015, Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

Fase do processo, processo autônomo ou incidente processual? A regra é a liquidação como


fase do processo, mas é possível que ela seja buscada por meio de: (i) processo autônomo, nas
hipóteses de sentença penal condenatória transitada em julgado, sentença arbitral (que não
possa, eventualmente, ser liquidada no juízo arbitral), sentença estrangeira homologada pelo
STF, do acórdão que julga procedente revisão criminal, bem como a sentença coletiva nas ações
que versam sobre direitos individuais homogêneos; (ii) liquidação incidente, em situações
como, p.ex., apurações das benfeitorias indenizáveis feitas pelo devedor ou terceiro na coisa
que se pede. 7

7 DIDIER JR, Fredie. Curso de Processo Civil, Vol.5, Pg. 228.

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Cumprimento da Sentença
I. Considerações Iniciais
Aqui trataremos da execução fundada em título judicial que, como anteriormente
afirmado, optou o legislador por denominar como “Cumprimento da Sentença”, com
regramento legal no Livro I, Título II da Parte Especial do CPC.

Disposições Gerias → Art. 513 ao 519


Cumprimento Provisório (Obrigação de pagar quantia certa, de fazer, de não fazer e de dar coisa
diversa de dinheiro) → Art. 520 a 522
OBS: No que tange ao cumprimento provisório, apesar de parecer que o legislador somente
trata da obrigação de pagar quantia certa, existe um dispositivo (Art. 520, §5º) que estabelece
a aplicação dessa disciplina para os demais tipos de obrigação.

Cumprimento definitivo/Obrigação de pagar quantia certa → Art. 523 a 527

Cumprimento definitivo/ Obrigação de prestar alimentos → Art. 528 a 533

Cumprimento definitivo/Obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública → Art. 534 e
535.

Cumprimento definitivo/Obrigação de fazer, não fazer e de dar coisa diversa de dinheiro → Art.
536 a 538.
Como vimos, a execução fundada em título judicial pode ser instaurada tanto por
requerimento da parte quanto ex officio pelo magistrado, exceto quando se tratar de execução
fundada em obrigação de pagar quantia certa, hipótese em que apenas poderá ser instaurada
a requerimento da parte.

Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste


Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o
disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.

§ 1o O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia,


provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente.

§ 2o O devedor será intimado para cumprir a sentença:

I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído


nos autos;

II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela


Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos
autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;

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III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1o do art. 246, não tiver
procurador constituído nos autos

IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na
fase de conhecimento.

O devedor será obrigatoriamente intimado para cumprir a sentença (Art. 513, §2º). A
citação por edital mencionada no inciso IV somente será aplicável quando a parte for revel e
se manter ausente no processo, visto que pode ela pode, ao mesmo tempo, ser revel e estar
presente processualmente (A revelia é pura e simplesmente a não apresentação de defesa no
prazo legal).
§3º. Na hipótese do § 2o, incisos II e III, considera-se realizada a intimação
quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao
juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274.

Quanto ao §3º, trata-se de dispositivo legal inserido para superar os meios ardilosos
comumente utilizados pelos executados para se manterem inadimplentes. É obrigação do
executado comunicar ao juízo a mudança de endereço, sob pena de ser considerada realizada
a intimação.
§ 4o Se o requerimento a que alude o § 1o for formulado após 1 (um) ano do
trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor,
por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço
constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e
no § 3o deste artigo.

O §4º trata da necessidade de intimação na pessoa do devedor caso tenha decorrido


mais de um ano após o trânsito em julgado da sentença.
§ 5o O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador,
do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de
conhecimento.

No §5º o legislador estabelece que o fiador, coobrigado ou corresponsável não será


executado se não tiver participado do processo de conhecimento, visto que isso seria uma
ofensa brutal ao contraditório e ampla defesa. No mesmo sentido se encontra a Súmula nº
268 do Superior Tribunal de Justiça.

Súmula nº 268 do STJ – O fiador que não integrou a relação processual


na ação de despejo não responde pela execução do julgado.

a) Títulos Executivos Judiciais


Como bem sabemos, as regras dispostas na parte do CPC denominada “Cumprimento
da Sentença” são destinadas, via de regra, às execuções fundadas em títulos executivos
judiciais, sendo aplicáveis, no que couber, às execuções fundadas em títulos executivos
extrajudiciais.
Disso nasce a seguinte pergunta: Quais são esses títulos executivos judiciais?

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 37


Alberto Iervese

Os títulos judiciais já foram detalhadamente analisados aqui, momento em que


destacamos sua previsão legal no art. 515 do Código de Processo Civil.

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título:

I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de


obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer


Títulos Judiciais
natureza;
stricto sensu
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante,
aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários


tiverem sido aprovados por decisão judicial;

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

VII - a sentença arbitral;


Títulos Judiciais
Externos VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta


rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

§ 1o Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o
cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2o A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e


versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

A autocomposição como título judicial, como visto nos incisos II e III, abrange tanto a
autocomposição judicial (no curso de um processo) quanto a extrajudicial. No caso de
autocomposição judicial, por força do §2º, poderá esta envolver sujeito estranho ao processo,
bem como versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

Inciso V: Este era considerado pelo CPC-73 como título extrajudicial, algo ilógico, visto que se
trata de decisão judicial.

Inciso VI: O valor fixado na seara penal não é definitivo, pode ser aumentado na esfera cível.
Entretanto, uma vez transitada em julgado essa sentença penal, esse valor não poderá ser
reduzido. Deverá o exequente solicitar a execução do valor assegurado no âmbito penal e
apresentar justificativos para que esse valor seja aumentado pelo juízo cível.

Inciso IX: A parte final do dispositivo é de fundamental importância, pois a concessão do


exequatur somente será devida após uma análise pelo STJ acerca da compatibilidade da decisão
com nosso ordenamento (p. Ex.: decisão que ordena interrogatório mediante tortura não pode
ser cumprida em território brasileiro).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 38


Alberto Iervese

A hipótese de homologação de sentença estrangeira (inciso VIII) é diferente da hipótese


acima estudada, de decisão interlocutória estrangeira (inciso IX). Essa última é para
cumprimento de simples diligências.

Nas hipóteses dos incisos VI, VII, VIII e IX, por se tratarem de títulos judiciais externos,
ou seja, em que não houve um prévio processo naquele âmbito, deverá o envolvido ser
CITADO (ato que dá ciência da existência de processo), na forma do §1º.

O inciso X, revogado, referia-se a acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo

b) Competência
Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;

II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;

III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal


condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar
pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se
encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser
executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos
autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

Terá competência para promover a execução o órgão julgador que teve competência
para originariamente conhecer da matéria. Esse órgão terá competência absoluta (funcional).
→ Regra Geral
Se tratando de título judicial externo, o juízo competente será o juízo cível competente.
P. Ex.: Se promovido pela Justiça Federal na área criminal, o competente será um juízo da
justiça federal da área cível. Se promovida por uma vara criminal de Recife, será competente
uma vara cível de Recife.
Observação 01: Por força do parágrafo único do art. 516, nas situações de competência
originária do primeiro grau de jurisdição ou no caso de títulos judiciais externos, ou seja, as
IMPORTANTE! situações dos incisos II e III, o legislador autoriza a propositura em diversos juízos, em respeito
ao princípio da efetividade:
(i) Atual domicílio do executado;
(ii) Local onde se encontrem os bens sujeitos à execução;
(iii) Local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou não fazer, casos em que
a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 39


Alberto Iervese

Observação 02: O professor Salomão Viana entende que a cláusula de eleição de foro somente
afasta essa faculdade do exequente caso nela conste, expressamente, que o foro eleito
IMPORTANTE! também o será para eventual execução da sentença. Na omissão dos negociantes na
elaboração da cláusula, entende-se que essa se restringe ao processo de conhecimento.
Observação 03: Trata-se (o parágrafo único do art. 516) de direito potestativo do exequente,
mas seu abuso é vedado, como todo abuso de direito. Caso opte por um foro que seja
demasiadamente prejudicial ao executado, poderá este alegar tal situação em juízo.

c) Protesto da Decisão Judicial

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a


protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento
voluntário previsto no art. 523.

§ 1o Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de


teor da decisão.

§ 2o A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três)


dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o
número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para
pagamento voluntário.

§ 3o O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão


exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a
anotação da propositura da ação à margem do título protestado.

§ 4o A requerimento do executado, o protesto será cancelado por


determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de
3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que
comprovada a satisfação integral da obrigação.

O artigo trata de “decisão judicial”, e, consequentemente, deveria abarcar todas as


decisões transitadas em julgada, mesmo não definitivas, a exemplo da decisão interlocutória
agravável, mas não agravada no prazo legal. Entretanto, infelizmente não é assim que a
jurisprudência vem interpretando o dispositivo.
Para a ocorrência do protesto existem dois requisitos:
(i) Decisão transitada em julgado;
(ii) Inadimplemento da obrigação após decorrido o prazo de 15 dias para pagamento
voluntário previsto no art. 523.
O protesto ex officio é possível apenas nas decisões de ações alimentícias. Nas demais
ações o protesto depende de atuação da parte. Nas ações alimentícias, para realização do
protesto, nem mesmo se exige o trânsito em julgado (diferença em relação às demais ações).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 40


Alberto Iervese

Para que a parte realize o protesto, deve se dirigir à vara que tramita o processo e
solicitar a expedição de uma certidão detalhada sobre a decisão e então o levar em um cartório
de títulos e documentos.
Caso o executado tenha proposto uma ação rescisória, também poderá requerer uma
certidão e levar ao mesmo cartório para que conste a propositura ao lado do protesto
realizado.
Sendo satisfeita integralmente a execução, o juiz, no prazo de 03 dias, a pedido do juiz,
expedirá ofício ao cartório para cancelamento do protesto.

d) Exceção de Pré-executividade e a impugnação


Art. 518. Todas as questões relativas à validade do procedimento de
cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes poderão ser
arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo juiz.

A exceção de pré-executividade, antes não prevista no código de processo, apesar de


admitida, é o requerimento feito pelo executado, dentro do processo, para que o juiz se
pronuncie sobre questões que poderia se manifestar ex officio e que não demande dilação
probatória.
Entretanto, há a necessidade de manutenção da segurança jurídica, logo, esse prazo
precisa ser suscetível à preclusão.
A impugnação prevista no art. 525 prevê um prazo de 15 dias para sua apresentação e
o §11º traz o prazo para petição de fato superveniente.
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado,
independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios
autos, sua impugnação.

§ 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para


apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à
adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes,
podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos
casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da
comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

Assim, entende-se que o art. 518 será aplicável em duas situações:


a) Questão que tenha surgido supervenientemente ao fim dos prazos mencionados no
caput e no §11º do art. 525 do CPC;
b) Questão relativa à matéria que, não tendo sido apreciada, possa ser alegada a qualquer
tempo.

e) Cabimento – Tutela Provisória


Art. 519. Aplicam-se as disposições relativas ao cumprimento da sentença,
provisório ou definitivo, e à liquidação, no que couber, às decisões que
concederem tutela provisória.

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Alberto Iervese

II. Cumprimento Provisório da Sentença


Há aqui um regime jurídico, como mencionado no caput e no §5º do art. 520 do CPC,
aplicável a todos os tipos de obrigações impostas em decisões judiciais.
Importante notar que o que é provisório é a decisão proferida, mas não os atos
executórios, visto que alguns desses são até mesmos irreversíveis.
Art. 527. Aplicam-se as disposições deste Capítulo ao cumprimento provisório
da sentença, no que couber.

Nesse regime do cumprimento provisório da sentença, por força do art. 527 do CPC,
naquilo em que não houver tratamento específico, aplica-se, no que couber, as normas
atinentes ao cumprimento definitivo.

Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso


desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o
cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime:

I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a


sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido;

II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença


objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-
se eventuais prejuízos nos mesmos autos;

III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou


anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução;

IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem


transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real,
ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução
suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

Pela leitura do caput do art. 520, extraímos uma importante regra do cumprimento
provisório da sentença: se o recurso interposto contra a decisão não estiver revestido de
IMPORTANTE! efeito suspensivo, a execução provisória da decisão que ele desafia obedecerá às regras
relativas ao cumprimento definitivo.
Entretanto, como já visto anteriormente, aquele que executa provisoriamente uma
decisão ainda não transitada em julgado é responsável pelas consequências do ato. (Inciso I
e Inciso II)
Se a sentença for anulada em parte, somente nessa a execução ficará sem efeito (inciso
III).

§ 1o No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar


impugnação, se quiser, nos termos do art. 525.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 42


Alberto Iervese

No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação,


se quiser, nos termos do art. 525, que é um incidente processual, ou seja, não faz nascer outro
processo e deverá ser apresentada dentro dos próprios autos, exceto se o juiz entender em
sentido contrário (§1º).
OBS: É necessário destacar que não necessariamente novos autos significarão a existência de
um novo processo. Os autos apartados recebem uma numeração diversa do processo, para
identificá-lo, mas não necessariamente significam a criação de um novo processo.
Se estivermos tratando de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa,
serão devidos a multa e os honorários a que se refere o §1º do art. 523 (§2º).
§2º. A multa e os honorários a que se refere o § 1o do art. 523 são devidos no
cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia
certa.

Não será um ato contrário à resistência à execução (consolidada pela interposição de


recurso) aquele em que o executado depositar o valor, tempestivamente, com a finalidade de
isentar-se da multa (§3º).
§3º. Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a
finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível
com o recurso por ele interposto.

Como dissemos anteriormente, a decisão que é provisória, mas não os atos executivos,
tanto que alguns são irreversíveis, que é o que veremos aqui: o §4º protege os terceiros de boa-
fé.
§ 4o A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o
desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou
de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito
à reparação dos prejuízos causados ao executado.
Uma importante questão sobre o tema diz respeito à caução: O cumprimento
provisório da sentença dependente da caução? Possuímos normas divergentes sobre o tema,
vejamos:
Art. 520, IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que
importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro
direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem
de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos
próprios autos.

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles. (...) § 2o A parte poderá liquidar ou
executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar
parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja
recurso contra essa interposto.

Enquanto o inciso IV do art. 520 fala que se dará somente mediante caução em certos
casos, o §2º do art. 356 nos traz que não necessita de caução. Como conciliar?

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 43


Alberto Iervese

Para o professor Salomão, há de ser aplicado aqui o postulado da unidade de


interpretação: Fora dos casos específicos previstos no art. 520, IV, haverá caução na
IMPORTANTE! provisória nas mesmas situações em que for exigível caução no cumprimento definitivo.
Essa caução poderá ser dispensada, conforme art. 521.
Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos
casos em que:
I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem;
II - o credor demonstrar situação de necessidade;
III – pender o agravo do art. 1.042;
IV - a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com
súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no
julgamento de casos repetitivos.
Parágrafo único. A exigência de caução será mantida quando da dispensa
possa resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação.

Observação ao Inciso I - Crédito de natureza alimentar, independentemente de sua origem

IMPORTANTE!
Essa exceção deve ser analisada de acordo com a razoabilidade. Os honorários
advocatícios, por exemplo, que possuem natureza alimentícia, se forem devidos na ordem de
um milhão de reais, esse valor não será inteiramente considerado como verba alimentícia,
visto que correspondem a um valor muito maior do que o necessário para a subsistência do
advogado. O STF entende que o limite ao valor das verbas alimentícias mensais corresponde
ao máximo que um servidor público federal pode receber mensalmente, que no caso é o teto
do supremo.
Observação ao Parágrafo Único: Por conta de o legislador estabelecer, no parágrafo único do
art. 521 do CPC, que a exigência de caução será mantida quando da dispensa possa resultar
manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação, ocorreu o que podemos
denominar esvaziamento das hipóteses de dispensa de caução, pois, com essa regra,
dificilmente as hipóteses previstas nos incisos virão a ser aplicadas no dia a dia jurídico.
Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição
dirigida ao juízo competente.
Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será
acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade
poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade
pessoal: (...)
II - certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;
O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo
competente (Art. 522).
Comentário ao inciso II: É exigido que seja comprovada a interposição de recurso NÃO
dotado de efeito suspensivo (O efeito suspensivo nos recursos é exceção, afora o recurso de
apelação, que tem o efeito suspensivo como regra).

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Alberto Iervese

III. Cumprimento definitivo da sentença que reconhece a


exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa
Observação Inicial: Aqui tratamos do cumprimento definitivo em que não seja a fazenda
pública a executada ou que não envolva alimentos, pois essas terão um tratamento específico,
que será visto adiante.

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação,


e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo
da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado
intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de
custas, se houver.

§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será


acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado
de dez por cento.

§ 2o Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os


honorários previstos no § 1o incidirão sobre o restante.

§ 3o Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido,


desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de
expropriação.
Como podemos perceber pela análise do caput do art. 524, quanto tratamos de
execução definitiva de quantia certa, se faz indispensável o requerimento do exequente (não
pode se dar ex officio). Terá o executado o prazo de 15 dias para realizar o pagamento.
§1º: Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo de 15 dias estabelecido no caput, o débito
será acrescido de multa de dez por cento, e também, de honorários de advogado de dez por
cento.
Observação ao §1º: Importante perceber que, apenas não ocorrendo pagamento voluntário,
serão devidos os honorários advocatícios e a multa de 10%.
IMPORTANTE!
§3º: Ao lado do início do prazo para apresentação dos embargos à execução (prazo que se
inicia após o prazo de pagamento voluntário), não efetuado tempestivamente o pagamento
do valor, iniciam-se os atos executivos (mandado de penhora e avaliação).

Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com


demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição
conter:

I - o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas


ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado,
observado o disposto no art. 319, §§ 1o a 3o;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;

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Alberto Iervese

V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;

VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.

Se alguém está cobrando precisa demonstrar o que está cobrando, o porquê de estar
cobrando, quanto está cobrando e deve juntar os cálculos relativos ao valor requerido.
§ 1o Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os
limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a
penhora terá por base a importância que o juiz entender adequada.

Comentário ao §1º: Para o professor Salomão, trata-se de um parágrafo de importância


imensa, pois é ele que autoriza o juiz a limitar o valor pretendido na penhora se entender o
valor total da execução como excessivo.
§ 2o Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do
juízo, que terá o prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se
outro lhe for determinado.

Comentário ao §2º: O custo com elaboração de memória de cálculo está incluído na gratuidade
da justiça, vide art. 98 do CPC.
§ 3o Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de
terceiros ou do executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do
crime de desobediência.

§ 4o Quando a complementação do demonstrativo depender de dados


adicionais em poder do executado, o juiz poderá, a requerimento do
exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o
cumprimento da diligência.

§ 5o Se os dados adicionais a que se refere o § 4o não forem apresentados pelo


executado, sem justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão corretos os
cálculos apresentados pelo exequente apenas com base nos dados de que
dispõe.

Comentário ao §3º, §4º e §5º: Seria incoerente exigir tais provas do exequente, visto que os
dados necessários não estão sem seu poder. Se estes estiverem em poder do executado e não
forem apresentados por este, serão reputados como verdadeiros os cálculos apresentados pelo
IMPORTANTE!
exequente.
Se estes dados estiverem em mãos do terceiro, mas não do executado, e este não entregar,
além do crime de desobediência, os cálculos apresentados pelo autor serão reputados
corretos? NÃO! Em nenhuma hipótese, no incidente de exibição movida contra o terceiro,
admite-se que o juiz presuma como corretos os cálculos apresentados pelo exequente, porque
essa é a consequência aplicável apenas ao descumprimento pelo devedor8.

8 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 5. 2017. Editora Juspodium.

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Alberto Iervese

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento


voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado,
independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios
autos, sua impugnação.
Terminado o prazo para pagamento voluntário, automaticamente se inicia outro
prazo de 15 dias para apresentação da impugnação do executado, sem necessidade de
intimação.→ (Art. 525)
A impugnação não depende da ocorrência de penhora, bem como não depende de
prévia garantia do juízo através de depósito judicial ou caução (assim como os embargos à
execução), por configurar um óbice ao acesso à justiça.
Observação: Apenas na execução fiscal ainda sobrevive o entendimento de que é necessária a
garantia do juízo como requisito para defesa do executado. Antigamente, era um requisito
IMPORTANTE! geral de todas as execuções.
Essa impugnação, diferentemente dos embargos à execução, deve ser apresentada nos
próprios autos, exceto se o juiz, analisando o caso e suas especificidades, entender de maneira
diversa, como esclarece o professor Salomão.
§ 1o Na impugnação, o executado poderá alegar:

I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu


à revelia;

II - ilegitimidade de parte;

O executado somente poderá alegar a ilegitimidade de parte da demanda executiva,


mas não do processo de conhecimento, pois houve uma preclusão quanto a isso (p.ex.: credor
morre e outra pessoa, ilegítima, inicia os atos executivos)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

Inexequível é a obrigação que não é certa, líquida e exigível.


IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;

§ 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para


apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à
adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes,
podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos
casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da
comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

O inciso IV se encontra diretamente relacionado com o §11º, que trata da preclusão da


possibilidade de alegação de fato superveniente, que se dará após 15 dias da comprovada
ciência do fato ou da intimação referente ao ato.
Esse prazo independe de a impugnação ter sido ou não oferecida. A alegação de fato
superveniente deve ser feita através de petição simples e serve para alegar fatos
supervenientes relativos à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos
executivos subsequentes.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 47


Alberto Iervese

V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

Excesso e cumulação são coisas distintas. Excesso consiste, mas não somente, na
cobrança de uma quantia maior do que é devida, enquanto que cumulação é a cobrança de
mais de um título na mesma ação.
São situações caracterizadoras do excesso de execução, segundo o art. 917, §2º do
Código de Processo Civil:
(i) Quando o exequente pleiteia quantia superior à do título;
(ii) Quando a execução recai sobre coisa diversa daquela que foi declarada no
título;
(iii) Quando se processa de modo diferente do que foi determinado no título;
(iv) Quando o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o
adimplemento da prestação do executado;
(v) Se o exequente não provar que a condição se realizou.
§ 4o Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução,
pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de
imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo.

§ 5o Na hipótese do § 4o, não apontado o valor correto ou não apresentado o


demonstrativo, a impugnação será liminarmente rejeitada, se o excesso de
execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será
processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.

Diretamente relacionados com o inciso V, pois tratam do procedimento a ser adotado


na hipótese de excesso de execução.
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,


novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à
sentença.

§ 2o A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts.


146 e 148.

Na hipótese de alegação de impedimento ou suspeição, o procedimento se dará


seguindo as regras do processo de conhecimento: Apresentação de petição no processo. Caso
aceita, o processo passa a ser julgado pelo juiz substituto. Lado outro, se o juiz não aceita, essa
peça sai do processo e é remetida para o tribunal para averiguação de possível impedimento
ou suspeição.
§ 3o Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229.

O art. 229 do CPC é o dispositivo legal que traz o prazo em dobro para litisconsortes
com advogados distintos em processos que os autos sejam físicos.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 48


Alberto Iervese

§ 6o A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos,


inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e
desde que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes,
atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o
prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao
executado grave dano de difícil ou incerta reparação.

A impugnação prevista no art. 525, via de regra, não possui efeito suspensivo. Para
que esse seja concedido, é preciso que seja requerido (não pode se dar ex officio) e que o juiz
perceba a necessidade de sua concessão. Ademais, é necessária a garantia do juízo, que os
fundamentos apresentados sejam relevantes, e que o prosseguimento da execução venha a
causar danos irreversíveis ao executado (periculum in mora)
Por não possuir efeito suspensivo, a impugnação não impede a prática de atos
executivos, como visto acima. Entretanto, esse efeito suspensivo pode ser concedido a
requerimento da parte (não pode ser ex officio) e desde que garantido o juízo com penhora,
caução ou depósito.
São quatro os requisitos para concessão do efeito suspensivo:
(i) Requerimento do executado;
(ii) Garantido o juízo;
(iii) Fundamentos relevantes;
(iv) Periculum in mora: prosseguimento da execução causará danos irreversíveis ao
executado.

§ 7o A concessão de efeito suspensivo a que se refere o § 6 o não impedirá a


efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e
de avaliação dos bens

§ 8o Quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser respeito


apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte
restante.

§ 9o A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos


executados não suspenderá a execução contra os que não impugnaram,
quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
impugnante.

§ 10. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao


exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e
IMPORTANTE! prestando, nos próprios autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada
pelo juiz.

Os parágrafos 7º, 8º, 9º e 10º continuam a tratar do efeito suspensivo, tendo como
pontos mais importantes.
Destacamos o disposto no §8º, em que o legislador autoriza a aplicação do efeito
suspensivo também em apenas uma parte da execução.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 49


Alberto Iervese

Ademais, também destacamos que consta do §10º, em que o legislador admite o


prosseguimento da execução, mesmo em caso de concessão do efeito suspensivo requerido
pelo executado, desde que prestado caução suficiente e idônea, que haverá de ser arbitrada
pelo juiz.→ Professor Salomão destacou que isso é MUITO IMPORTANTE.

§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1o deste artigo, considera-se


também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível
com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado
ou difuso.

§ 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal


poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica.

§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior


ao trânsito em julgado da decisão exequenda.

§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado


da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do
trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal

DECISÃO INCONSTITUCIONAL
Abriremos um espaço em separado para tratar deste assunto, devido à sua grande importância.
O tema encontra amparo legal nos parágrafos 12, 13, 14 e 15 do art. 525 do CPC, transcritos acima.
Na impugnação, o executado poderá alegar que a decisão exequenda é inconstitucional, ou seja,
que a decisão que se pretende a execução foi fundada em lei, ato normativo ou interpretação tidos
pelo STF como inconstitucional.
A lei, o ato normativo ou a interpretação – cuja inconstitucionalidade tenha sido proclamada pelo
STF – deve ter sido essencial para a procedência do pedido. Se, mesmo afastado o ato normativo
considerado inconstitucional pelo STF, persistir a conclusão a que chegara o órgão julgador, não faz
sentido acolher-se a impugnação ou a ação rescisória que se baseiam no argumento.
É preciso, em outras palavras, que haja uma relação de causa e efeito, de sorte que
afastada a lei que fundamenta a sentença, a conclusão desta seja, inevitavelmente, alterada.
Se a decisão do STF que considerou inconstitucional foi antes da decisão, não afetará a coisa
julgada em si, mas há a ficção jurídica de que é retirado dessa decisão a sua executividade (não poderá
ser executada). O executado poderá alegar essa ausência de executividade através de impugnação.
Se a decisão do STF for posterior à decisão exequenda, será aberto um espaço para uma ação
rescisória (§15º), caso não tenha havido uma modulação dos seus efeitos no tempo ou mesmo quando
exista uma modulação, mas que esta abranja um período que abarque a decisão exequenda.
Entretanto, na hipótese da decisão do STF ter sido posterior à decisão exequenda, mas tendo
seus efeitos modulados para frente ou a partir de um período que não abarque a decisão exequenda,
nada poderá alegar o executado, pois a executividade dessa decisão se mantém intacta.

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IV. Cumprimento definitivo da sentença que reconhece


obrigação de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública*
* O conceito de Fazenda Pública abrange a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações públicas, sendo certo que as agências executivas ou reguladoras,
por ostentarem a matiz de autarquias especiais, integram igualmente o conceito de Fazenda Pública.
Estão excluídas do conceito de Fazenda Pública as sociedades de economia mista e as empresas
públicas.

Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever


de pagar quantia certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado
e atualizado do crédito contendo:

I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas


ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;

V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados.

§ 1o Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu


próprio demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for o caso, o disposto nos
§§ 1o e 2o do art. 113.

§ 2o A multa prevista no § 1o do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública.

Observação Inicial: Quando a Fazenda Pública é o devedor, as regras gerais de expropriação


não têm aplicação, porque os bens públicos são impenhoráveis e inalienáveis.

O exequente, quando envolvido em processo cuja executada é a Fazenda Pública,


deverá realizar uma requisição de pagamento, que possui dois regimes distintos:

(i) Regime de Precatórios;


(ii) Regime RPV (Requisições de Pequeno valor)
• Regime de Precatórios: Precatório é forma de requisição. As requisições feitas através de
precatórios serão pagas no ano seguinte e serão previstos na LOA. Somente serão pagos no
ano seguinte se forem registrados na dívida pública até 01º de julho do ano anterior. Após essa
data, o pagamento será no ano subsequente ao seguinte.
Para ser requisitada por precatória, a dívida deverá ser igual ou superior a determinado valor,
que dependerá da fazenda pública executada.
F.P. União/Federal – 60 salários mínimos
F.P. Estados e DF – 40 salários mínimos ou outro valor definido em lei estadual;

F.P. Município – 30 salários mínimos ou outro valor definido em lei local → Em


Salvador (BA) são 20 salários mínimos.

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• Regime RPV (Requisições de Pequeno Valor): Os valores contidos em decisões exequendas


que estiverem abaixo do piso do regime de precatórios, serão considerados pequeno valor. Sua
requisição de pagamento não se dá por meio de precatório e sim por requisição de pequeno
valor (RPV). As RPV devem ser pagas no prazo de dois meses.

Precatórios RPV
Valores Acima de: 60 salários Igual ou inferior: 60 salários
mínimos (União); 40 salários mínimos (União); 40 salários
mínimos (Estados e DF), mínimos (Estados e DF), sendo
sendo passível de alteração; passível de alteração; 30 salários
30 salários mínimos mínimos (Municípios), sendo
(Municípios), sendo passível passível de alteração.
de alteração.

Prazo para pagamento Ano seguinte ao do registro Dois meses.


na dívida pública, se feito o
registro até 01º de julho. Se
feito após, apenas no ano
subsequente.

Observação: Por força da lei, os bens das entidades autárquicas, dos correios e da fundação
habitacional do exército também são impenhoráveis e inalienáveis.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante


judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de
30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:

Pela leitura do caput percebemos que, por ser um prazo processual, o prazo para
impugnação da Fazenda Pública (30 dias), o dobro em relação aos demais.
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu
à revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,
novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes
ao trânsito em julgado da sentença.
§ 1o A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts.
146 e 148.
§ 2o Quando se alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia
quantia superior à resultante do título, cumprirá à executada declarar de
imediato o valor que entende correto, sob pena de não conhecimento da
arguição.

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Alberto Iervese

§ 3o Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada:


I - expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente,
precatório em favor do exequente, observando-se o disposto na Constituição
Federal;
→ Previsão legal de aplicação do regime de precatórios na execução contra a Fazenda
Pública.
II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público
foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será
realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisição,
mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do
exequente.
→ Previsão legal de aplicação do regime de requerimentos de pequeno valor (RPV) na
execução contra a Fazenda Pública.
§ 4o Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela
executada será, desde logo, objeto de cumprimento.
→ Impugnação parcial.
§ 5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se
também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato
normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a
Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou
difuso.
→ Decisões Inconstitucionais (mesmas regras tratadas no capítulo anterior)
§ 6o No caso do § 5o, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal
poderão ser modulados no tempo, de modo a favorecer a segurança jurídica.
§ 7o A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5o deve ter sido
proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 8o Se a decisão referida no § 5o for proferida após o trânsito em julgado da
decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do
trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

V. Cumprimento definitivo da sentença que reconheça a


exigibilidade de pagar quantia certa. Condenação em
verbas alimentícias.
O legislador, ao elaborar o novo CPC, visando concentrar o regramento das obrigações
alimentícias, revogou diversos dispositivos processuais da lei específica que trata sobre o
assunto (Lei nº 5.478/1968). Ocorre que não foi revogado expressamente o dispositivo que
trata do prazo da prisão civil do devedor de alimentos, entretanto, como adiante será
esclarecido, esse artigo, abaixo transcrito, sofreu uma revogação tácita.
Art. 19. O juiz, para instrução da causa ou na execução da sentença ou do
acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 53


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esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a


decretação de prisão do devedor até 60 (sessenta) dias.

O tema aqui tratado é regulado no novo CPC nos arts. 528-533, sendo os mais
importantes pontos:
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de
prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o
juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou
justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

Como podemos ver pelo dispositivo, tratamos aqui tanto de sentença quanto de
decisão interlocutória. Haverá aqui um respeito ao contraditório e ampla defesa, devendo
ocorrer a intimação para pagar cumulada com a possibilidade de defesa (parte final).
Essa impossibilidade efetuação da prestação de alimentos, após decisão condenatória
em sentença, deve ser oriunda de fato superveniente, em razão da preclusão. Já em
cumprimento de decisão interlocutória, o campo para essa alegação de impossibilidade é
IMPORTANTE!
amplo, pois ainda não foi dada à parte executada o direito de um efetivo contraditório.
§ 2o Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de
pagar justificará o inadimplemento.

Ademais, como consta do §2º, essa impossibilidade de pagamento deve ser absoluta e
comprovada.
§ 1o Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento,
não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de
efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se,
no que couber, o disposto no art. 517.

O protesto (art. 517) aqui nas ações alimentícias não exige trânsito em julgado, apenas
o decurso do prazo para pagamento voluntário, o que é uma exceção.

§ 3o Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita,


o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1 o,
decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

No §3º, temos o regramento referente ao prazo da prisão (é esse o dispositivo que


revogou tacitamente o art. 19 da Lei nº 5.478).

O CPC trouxe a novidade de tempo mínimo para prisão (1 mês), o que significa dizer
que o juiz não decretará a prisão por menos tempo do que 01 (um) mês.

A antiga legislação apenas trazia o tempo máximo para a prisão civil pelo não
pagamento dos alimentos, qual seja o de 60 (sessenta) dias.

Obviamente, isso não significa dizer que o indivíduo ficará preso por 1 mês ainda que
pague logo suas obrigações. Isso apenas impede o juiz de colocar o prazo da prisão o de 10
dias, por exemplo.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 54


Alberto Iervese

§ 4o A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar


separado dos presos comuns.

O devedor de alimentos preso cumprirá a pena em regime fechado, mas por estarmos
tratando de um indivíduo em situação de prisão civil, ou seja, não tendo sido condenado pela
prática de ilícito penal, ele terá direito a estar separado dos presos comuns.
§ 5o O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas.

§ 6o Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem


de prisão.

Feito o pagamento, a ordem não será cumprida. O pagamento pode ser feito à
exequente, e se essa recusar o pagamento, deverá o devedor realizar o depósito judicial.
§ 7o O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução
e as que se vencerem no curso do processo.
Súmula nº 309 do STJ - O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

É preciso muito cuidado na interpretação desse dispositivo. A parte exequente não está
limitada a cobrar apenas as 03 prestações anteriores. O que o dispositivo traz é que a prisão
apenas poderá ser fundamentada nas 03 prestações anteriores e não pagas e as que vencerem
IMPORTANTE!
no curso do processo. No mesmo sentido está o texto da Súmula nº 309 do STJ.

Isso se fundamenta na seguinte lógica: A prisão civil é autorizada no caso de dívidas


alimentícias pois se preza pela saúde, desenvolvimento e integridade do menor e, por ser,
verba alimentícia, é intrínseca e urgente para sua subsistência. Entende-se então que, como o
menor já ficou mais de 03 meses sem essa verba, ela não possui mais esse caráter de urgência,
o que desautoriza a prisão civil.

Pago os valores correspondentes referente às 03 prestações anteriores e as que se


vencerem no curso do processo, o executado será liberto e, se houverem valores anteriores a
esse sendo executados, a execução correrá normalmente, sem manutenção da prisão.

§ 8o O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou


decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III,
caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora
em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que
o exequente levante mensalmente a importância da prestação.

§ 9o Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode
promover o cumprimento da sentença ou decisão que condena ao
pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio.

A regra geral da competência na execução é a de que o juízo competente é aquele do


local que primeiro decidiu a causa (sendo autorizado em alguns casos no domicílio do réu ou
dos bens), mas quando tratamos da execução de verbas alimentícias, o legislador também dá
a opção de ajuizamento da ação de execução no foro de domicílio do alimentando.

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Alberto Iervese

Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou


gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o
exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da
importância da prestação alimentícia.

§ 1o Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao


empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto
a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do
protocolo do ofício.

§ 2o O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas


Físicas do exequente e do executado, a importância a ser descontada
mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o
depósito.

§ 3o Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de


execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de
forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à
parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos.

O desconto em folha mencionado nesse dispositivo pode ser requerido tanto quanto
as prestações vincendas quanto as vencidas (Novidade do CPC/15), mas esse desconto em
folha da soma das prestações vencidas e vincendas) não poderá exceder 50% dos ganhos
IMPORTANTE! líquidos do executado, em razão da necessidade de garantia da sua subsistência.

Art. 530. Não cumprida a obrigação, observar-se-á o disposto nos arts. 831 e
seguintes.

Procede-se à execução comum (penhora, etc.)

Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou


provisórios.

§ 1o A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados


em sentença ainda não transitada em julgado, se processa em autos
apartados.

A necessidade de autos apartados nessa situação é para evitar, por exemplo, que o
processo suba para o tribunal em razão de eventual recurso e a execução seja levada junto, no
caso de processo físico.

§ 2o O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será


processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida a sentença.

Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se


for o caso, dar ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime
de abandono material.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos,
caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja
renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 56


Alberto Iervese

OPÇÕES DO CREDOR – EXECUÇÃO DE VERBAS ALIMENTÍCIAS

Como pode ser inferido dos dispositivos legais acima postos, o credor possui três
opções na execução de verbas alimentícias: i) Prisão civil em caso de inadimplemento; ii)
Execução imediata; iii) Inclusão dos valores na folha de pagamento do executado. Vejamos:
Art. 528, § 3o Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de
mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1 o, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1
(um) a 3 (três) meses. → Prisão civil por inadimplemento

Art. 528, § 8o O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo,
nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do
executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não
obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação. → Execução imediata

Art. 529, § 3o Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode
ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput
deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos
líquidos. → Inclusão dos valores na folha de pagamento

VI. Cumprimento definitivo da sentença. Reconhecimento da


exigibilidade de obrigação de fazer, não fazer ou entregar
coisa distinta de dinheiro.

a) Obrigações de fazer e não fazer


Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento,
para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente.

O art. 536 do CPC, acima transcrito, traz a possibilidade de utilização de medidas


atípicas para efetivação da sentença/decisão interlocutória (poder geral de efetivação das
decisões judiciais).

§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras


medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e
coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva,
podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.

Importante perceber que assim traz o dispositivo: “o juiz poderá determinar, entre
outras medidas.... → Percebe-se que o rol é exemplificativo, ou seja, o juiz não deve a ele se
limitar.

§ 2o O mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por


2 (dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no art. 846, §§ 1o a 4o, se
houver necessidade de arrombamento.

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Alberto Iervese

A busca e apreensão é uma diligência, uma forma de garantir um direito já


assegurado, é ela uma forma de cumprimento (P. ex.: quando é judicialmente garantida a
IMPORTANTE! guarda de um menor e há resistência, o juiz pode determinar a busca e apreensão do menor).
Busca e apreensão pode recair tanto sobre coisa quanto sobre incapazes.

§ 3o O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando


injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de desobediência.

§ 4o No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação


de fazer ou de não fazer, aplica-se o art. 525, no que couber.

§ 5o O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de


sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não
obrigacional.

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada


na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de
execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

§ 1o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a


periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

I - se tornou insuficiente ou excessiva;

II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da


obrigação ou justa causa para o descumprimento.

Importante perceber que aqui tratamos da multa vincenda. Quanto à possibilidade


de redução de valor de multas já vencidas, já houve estudo nos capítulos anteriores.

§ 2o O valor da multa será devido ao exequente.

§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório,


devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o
trânsito em julgado da sentença favorável à parte. (Redação dada
pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

§ 4o A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento


da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver
cominado.

§ 5o O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de


sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não
obrigacional.

b) Entrega de coisa distinta de dinheiro


Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido
na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na
posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.

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Observação: Entrega de coisa envolve também incapaz, apesar de esse não ser coisa.

IMPORTANTE! § 1o A existência de benfeitorias deve ser alegada na fase de conhecimento,


em contestação, de forma discriminada e com atribuição, sempre que possível
e justificadamente, do respectivo valor..

No caso de benfeitorias, poderá haver indenização, desde que de boa-fé o possuidor,


no caso de benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias (essa última apenas se não puder ser
levantada

§ 2o O direito de retenção por benfeitorias deve ser exercido na contestação,


na fase de conhecimento.

As benfeitorias voluptuárias não ensejam direito de retenção, já as necessárias ensejam.


As úteis dependerão do negócio jurídico realizado
O direito de retenção não pode ser exercido quando se tratar de execução fundado
em título extrajudicial, somente quando for judicial.

Somente pode ser exercido na fase de conhecimento, por força do direito de defesa. Se
não feita nesse momento, ocorrerá preclusão.

O direito de defesa pode ser dividido em objeções (que o juiz pode tomar conhecimento
de oficio) ou exceções (que o juiz não pode tomar conhecimento de ofício).

§ 3o Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couber, as


disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 59


Alberto Iervese

Ação Monitória
Monitorização é a possibilidade de conferir caráter definitivo à execução sem que o
eventual direito tenha passado por uma cognição profunda.

Aqui há um documento robusto e escrito, mas, apesar disso, não possui caráter
executivo.

A ação monitória está no meio do caminho entre a pretensão de certificação do direito


(procedimento comum) e da pretensão de execução (ação executória).

A ação monitória, quando possível, sempre será uma opção para o exequente, nunca
uma obrigação.

Na ação monitória o sujeito é citado para cumprir a obrigação, mas se não cumprir, o
“mundo não desaba sobre ele” como na execução. Tudo aqui dependerá da apresentação ou
não de defesa por parte do executado.

Se uma vez citado, o réu, possível executado, não cumpre a obrigação, mas se defende,
puxará o processo para o lado da certificação (procedimento comum). Lado outro, se não
cumpre a obrigação e também não se defende, puxará a ação para o lado da execução.

A peça de defesa nessa ação é denominada embargos monitórios.

Não há a necessidade de sentença que reconheça a conversão da ação em uma


execução, como muitos juízes erroneamente pensam e aplicam diariamente, é apenas
necessário que não seja apresentada defesa.

Muitas vezes o mandado de citação tem em seu corpo que “não sendo apresentada
defesa, esse mandado se converterá em mandado para cumprimento da execução”, mas na
verdade o que se converte é a ação.

Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com
base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do
devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
Como podemos inferir pelo caput do art.700, o devedor deve ser capaz, e a ação deve
ter como base prova escrita sem eficácia de título executivo.

Pela análise dos incisos I, II e III, percebemos que a ação monitória é cabível em
qualquer tipo de obrigação (pagar, fazer, não fazer, dar coisa distinta de dinheiro). No antigo
CPC somente se admitia na obrigação de pagar e na obrigação de dar coisa
§ 1o A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida
antecipadamente nos termos do art. 381.
A prova pode ser documental ou documentada e previamente produzida (novidade,
pois o CPC antigo só admitia prova documental).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 60


Alberto Iervese

§ 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:


I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico
perseguido.
Os requisitos previstos no §2º são requisitos extras da petição inicial da ação monitória
e se somam aos requisitos de toda ação judicial, como afirma o §4º.

§ 3o O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2 o,


incisos I a III.
§ 4o Além das hipóteses do art. 330, a petição inicial será indeferida quando
não atendido o disposto no § 2o deste artigo.
§ 5o Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada
pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial,
adaptando-a ao procedimento comum.
Se a prova apresentada não for suficiente, o juiz deve intimar o autor para que,
querendo, emende a inicial, e seja o processo transformado e adaptado para o procedimento
comum. O juiz não pode, ex officio, determinar essa conversão.

§ 6o É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública.


No mesmo sentido de admitir a ação monitória em face da Fazenda Pública vai a
Súmula nº 339 do STJ.
§ 7o Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos
para o procedimento comum.
Observação: Na obrigação de pagar quantia certa, a Fazenda Pública é citada para embargar,
não para pagar, devido às restrições para realização de pagamento que existem para a Fazenda
IMPORTANTE! Pública aqui já estudadas (Requisições de pagamento, Regime de Precatórios, RPV...).

Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de


mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação
de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o
cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por
cento do valor atribuído à causa.

Há aqui um direito evidente (tutela provisória da evidência) e imposição de honorários


de 05% (que destaca a importância no rigor quanto à atribuição do valor dado à causa).
Observação: Os honorários advocatícios sucumbenciais em processos que envolva a Fazenda
Pública seguem uma tabela própria, que é progressiva (art.85, §3º). No caso de honorários
IMPORTANTE! advocatícios na ação monitória, esses valores devem ser diminuídos pela metade (pois 05%
previsto no artigo é metade do 10% que é regra, no procedimento comum). Os parâmetros não
são divididos pela metade.
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 61


Alberto Iervese

§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários
observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2 o e os seguintes
percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da


condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos)
salários-mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da


condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos)
salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da


condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil)
salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da


condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte
mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da


condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem
mil) salários-mínimos.

A cobrança de honorários advocatícios na ação monitória consiste em uma novidade


do CPC-15, pois o CPC-73 dispensava os honorários advocatícios sucumbenciais, o que
desestimulava o uso desse tipo de ação.
§ 1o O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o
mandado no prazo.

Se o réu cumprir o mandado no prazo designado, ficará isento do pagamento das


custas processuais.
Há aqui um duplo benefício para o réu que paga dentro do prazo, pois paga somente
metade dos honorários habituais, bem como não pagará custas
§ 2o Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial,
independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento
e não apresentados os embargos previstos no art. 702, observando-se, no que
couber, o Título II do Livro I da Parte Especial.

Esse é o núcleo da ação monitória: Não realizado pagamento e não apresentados os


embargos, será constituído um título executivo judicial.
§ 3o É cabível ação rescisória da decisão prevista no caput quando ocorrer a
hipótese do § 2o.

Cabe ação rescisória da decisão judicial que reconhecer a constituição do título judicial,
caso ocorra uma das hipóteses do art. 966.
§ 4o Sendo a ré Fazenda Pública, não apresentados os embargos previstos no
art. 702, aplicar-se-á o disposto no art. 496, observando-se, a seguir, no que
couber, o Título II do Livro I da Parte Especial.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 62


Alberto Iervese

Em caso de monitória contra fazenda pública, caberá remessa necessária, caso o valor
não esteja dentro dos parâmetros que a dispensam. Também não caberá quando a decisão
estiver em consonância com decisões vinculantes dos tribunais superiores.
§ 5o Aplica-se à ação monitória, no que couber, o art. 916.

O parcelamento do valor devido previsto no art. 916 do CPC é aplicável à monitória e


consiste em um direito potestativo do réu.
Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e
comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido
de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe
seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de um por cento ao mês.

§ 1o O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento


dos pressupostos do caput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias.

§ 2o Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de


depositar as parcelas vincendas, facultado ao exequente seu
levantamento.

§ 3o Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e serão


suspensos os atos executivos.

§ 4o Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o


depósito, que será convertido em penhora.

§ 5o O não pagamento de qualquer das prestações acarretará


cumulativamente:

I - o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do


processo, com o imediato reinício dos atos executivos;

II - a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor


das prestações não pagas.

§ 6o A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao


direito de opor embargos

§ 7o O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença.

Observação: Importante notar que esse parcelamento não se aplica ao cumprimento da


IMPORTANTE!
sentença (§7º), e sim apenas no caso de execução fundada em título extrajudicial.

I. Embargos Monitórios
A peça de defesa na ação monitória é chamada “embargos monitórios”. No caso de
embargos monitórios parciais, será aberto o contraditório no que tange à matéria embargada,
bem como ocorrerá a realização da execução daquilo que não fora embargado.
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá
opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação
monitória.

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Alberto Iervese

Os embargos monitórios independem de prévia segurança do juízo e devem ser


apresentados no prazo de 15 dias.
§ 1o Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação como
defesa no procedimento comum.
Qualquer matéria passível de alegação no procedimento comum pode ser alegada
nos embargos monitórios.
§ 2o Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida,
cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando
demonstrativo discriminado e atualizado da dívida.
Quando o valor cobrado for entendido, pelo réu, como acima do devido, deve
apresentar o valor que entende correto, apresentado demonstrativo discriminado e atualizado.
§ 3o Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os
embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento,
e, se houver outro fundamento, os embargos serão processados, mas o juiz
deixará de examinar a alegação de excesso.
Se o excesso for o único fundamento e o demonstrativo junto com o valor correto não
forem apresentados, os embargos serão liminarmente rejeitados. Havendo outro fundamento,
esse será apreciado, mas o excesso não será apreciado.
§ 4o A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no
caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau.
A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no art. 701 apenas até
o julgamento em 1º grau, ou seja, o recurso interposto contra a decisão de mérito que rejeita
os embargos (apelação) não possuirá efeito suspensivo, exceto se este for estabelecido na
IMPORTANTE!
decisão que recebe o recurso.
§ 5o O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15
(quinze) dias.
O autor terá o mesmo prazo de 15 dias para se manifestar sobre os embargos.
§ 6o Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo vedado o
oferecimento de reconvenção à reconvenção.
Nos embargos à execução cabe a utilização reconvenção, mas não caberá reconvenção
à reconvenção.
§ 7o A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais,
constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à
parcela incontroversa.
No caso de embargos parciais, a critério do juiz, estes podem tramitar em autos
apartados.
§ 8o Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo
judicial, prosseguindo-se o processo em observância ao disposto no Título II
do Livro I da Parte Especial, no que for cabível.
Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial.
§ 9o Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos.

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O recurso cabível contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos é a


APELAÇÃO.
ATENÇÃO: Há a possibilidade de decisão parcial do mérito, caso em que caberá AGRAVO
DE INSTRUMENTO.
§ 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e
de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre
o valor da causa.
Multa de 10% ao autor que propor a ação monitória indevidamente e com má-fé.
§ 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória
ao pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa,
em favor do autor.
A mesma multa de 10% será aplicada ao réu que embargar de má-fé a ação monitória

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Execução Fiscal
I. Histórico
No Código de Processo Civil (1973), as execuções de obrigações pecuniárias se
dividiam exclusivamente em execução de título judicial e execução de título extrajudicial. O
procedimento dessas execuções eram muito próximos entre si.
Em 1980 veio a Lei 6.830, com o propósito de conferir à execução da Certidão de Dívida
Ativa a um grau e uma forma de exequibilidade diferenciada. Esse propósito foi efetivamente
alcançado. Por esse força executiva da Certidão da Dívida Ativa foi de tal forma relevante que
a CLT elegeu o procedimento de Execução Fiscal em que seriam buscadas as normas
suplementares da Execução Trabalhista.
Lado outro, todos foram percebendo a inefetividade do procedimento de execução tal
como estava no Código de Processo Civil. Por conta disso, as reformas em área de processo
civil tiveram como foco a execução prevista no CPC/73, que acabou por tornar o procedimento
comum de execução ainda mais eficaz do que os procedimentos especiais à época existente. O
STJ, ao longo de todo esse tempo, vem afirmando que a Execução Fiscal é submetida a uma
lei especial e, portanto, a entrada de normas gerais posteriores não tem o condão de alterar
as disposições especiais prevista na lei especial da Execução Fiscal.

II. Disposições Gerais


Precisamos nos libertar da ideia de que por se tratar de uma execução fiscal se trata da
cobrança de um tributo. Não se trata disso. A execução fiscal se destina a executar o título
chamado Certidão da Dívida Ativa (CDA). Há créditos não tributários cobrados por esse
mesmo procedimento.
Quanto à inscrição na dívida ativa, esse título executivo que embasa a execução fiscal
possui grande peculiaridade: pode ser produzido sem qualquer participação do executado.
Somente com a entrada do CPC/15 essa peculiaridade passou a se estender a outro título
executivo, a certidão relativa ao crédito de notários e registradores. A nota promissória, cédula
de crédito bancário e outros títulos executivos devem ter a participação do executado no
mecanismo de constituição do próprio título executivo.
Exemplo: O sujeito recebe cobrança de pagamento do IPTU e não o paga. O município
prontamente pode abrir pequeno processo administrativo que, diante da inércia do
contribuinte, pode ser constituído o título de certidão da dívida ativa.
O fato de a execução fiscal prestar a execução de dívidas tributárias e dívidas não
tributárias possui reflexos práticos:
Tudo quanto disser respeito a crédito tributário, lançamento tributários, e outras
matérias semelhantes, é matéria reservada a lei complementar. Com exceção do CTN que,
mesmo sendo lei ordinária, foi recepcionada pela Constituição Federal como sendo
equivalente a lei complementar. A Lei 6.830 informa que o que interrompe a prescrição era a

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ordem de citação, enquanto que o CTN dispunha que a interrupção se daria com a efetiva
citação. Com o fito de se compatibilizar os dois dispositivos, entendeu-se que deveria aplicar
a regra disposta na Lei 6.830 se for execução de crédito não tributário; sendo crédito
tributário, deverá ser considerada a regra prevista no CTN. Contudo, em 2005, Lei
Complementar alterou o CTN, passando a dispor que a prescrição se interrompe com a
expedição da ordem de citação e compatibilizando-se com a LEF e o CPC/15.
Prescrição intercorrente – consiste na possibilidade de se verificar a prescrição, mesmo
que já haja um processo nascido, mesmo depois de já exercida a pretensão. Prevista no art. 40
da LEF. Trata-se de prescrição de direito material, contudo os elementos que se precisa colher
para concluir que a prescrição intercorrente ocorreu são de direito processual. Ex: suspensão
por 1 ano da prática de atos procedimentais, arquivamento provisório dos autos, dentre
outros. O CPC/15 copiou a disciplina da prescrição intercorrente das execuções ficais e aplicou
para as execuções civis de um modo geral, previsto no art. 921 do referido diploma legal. A
diferença é que no campo da lei de execução fiscal o prazo prescricional é fixo de 5 anos,
enquanto que no CPC o prazo prescricional variará de acordo com o tipo de obrigação a ser
executada.
No campo civil, a prescrição atinge tão somente a pretensão, continuando o direito a
existir. Como consequência, se a obrigação é adimplida, não pode ser exigido de volta o valor
pago alegando prescrição. No âmbito tributário, a prescrição possui efeito diverso. A
prescrição extingue não somente a pretensão, mas também a extinção da obrigação tributária.
Exemplo: Cliente procura diante da existência de vultosa dívida tributária. Ao mesmo tempo,
foi aberto programa de facilitação de pagamento das dívidas tributárias e, por isso, ele pagou.
Contudo, descobriu-se que depois estava prescrita a dívida da Fazenda Pública. Nesse caso, o
STJ possui jurisprudência consolidada no sentido de que ao aderir a esses programas de
parcelamento realiza-se a confissão do débito, como regra. Contudo, a obrigação tributária já
estava extinta, de modo que a confissão, enquanto incidente sobre matéria de fato, não pode
ser dada sobre algo que não existe.

III. Competência
A LEF não versa sobre competência, possuindo dispositivo que remete ao CPC/15 em
casos de lacunas normativas, sendo a competência uma dessas lacunas.
Nesse particular, é no art. 46 do CPC em que encontramos a competência para a
execução fiscal, devendo ter sido disposto entre os dispositivos que versam sobre a
competência de execução de um modo geral.

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens
móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu,
no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Há uma situação de competência concorrente (fórum shopping), podendo ser escolhido
o local em que ocorrerá a execução dentre as opções apresentadas. Mas há que se perguntar:
trata-se de competência absoluta ou relativa? Se trata de competência relativa, já que o critério

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territorial foi o utilizado para identificar quais os foros possíveis. Mesmo diante de um critério
que em tese é de competência relativa, é possível que o ordenamento jurídico absolutize a
competência. Ocorre isso com a competência territorial como, por exemplo, no art. 47, §1º do
CPC.
Mesmo sendo de aparente competência relativa e, portanto, impossível de ser alegada
de ofício pelo magistrado. O STJ possui entendimento de que, se tratando de execução fiscal,
a possibilidade de propositura da execução nesses foros apresentados no dispositivo acima é
fixada em razão da facilitação da defesa do executado. Desse modo, seria possível não somente
ao executado questionar a incompetência, mas também o próprio juiz, de ofício. Isso terminou
tornando a execução fiscal de critério territorial em uma competência absoluta.

IV. Citação
A Fazenda Pública possui uma enormidade de cobranças para fazer, de modo que não
há como exigir em cada petição inicial conste exatamente a descrição dos fatos que conduziram
a exigência de pagamento do crédito, como ocorre em qualquer outra petição inicial da
execução. Com base nesse contexto fático, a LEF traz uma série de dispositivos que busca
facilitar a propositura da ação por parte da Fazenda Pública, como a possibilidade de o único
documento necessário para início da ação ser a própria certidão da dívida ativa.
Houve, inclusive, grandes questionamentos sobre essas disposições, afirmando que
seria uma forma de cerceamento do direito de defesa do executado. Contudo, o STJ possui o
entendimento consolidado de que a própria certidão e o conteúdo necessário para a
apresentação da petição inicial pela Fazenda Pública já seria suficiente para realizar a defesa
devida.
O despacho inicial de citação promovido pelo órgão jurisdicional deflagra, por
disposição legal, uma série de atos processuais, autorizando o próprio juízo
administrativamente a realiza-los. Não seria necessária a autorização constante por parte do
juiz.
Há ainda a possibilidade da citação se dar por correio, mediante a simples entrega da
citação no endereço do executado. Todo contribuinte possui a obrigação de manter seus dados
cadastrais atualizados junto aos órgãos da Fazenda Pública. Em tese, não há
inconstitucionalidade dos dispositivos, mas na prática isso se revelou infrutífero. A execução
fiscal é, de longe, o tipo de processo que mais existe no Poder Judiciário.

V. Resistência à execução
O executado é citado para no prazo de cinco dias, pagar ou indicar bens que possam
ser penhorados. Diferente do NCPC que dá prazo de três dias para pagamento e sem
necessidade de indicação de bens de garantia.
Passados o prazo de cinco dias e não ocorrido o pagamento, busca-se bens a serem
penhorados para garantia da dívida. O prazo de trinta dias para embargar será deflagrado
depois de feita a penhora.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 68


Alberto Iervese

Quanto a sua suspensividade, esses embargos estão submetidos ao regime do CPC/15?


Na Lei 6.830 nada há acerca do efeito suspensivo dos embargos, de modo que se recorria ao
disposto no CPC/73 para essa matéria, que dava aos embargos efeitos suspensivos
automáticos. O professor Salomão e Fredie Didier entendem que não mais possui o efeito
suspensivo em razão do CPC/15 não mais garanti-lo. Mesmo considerando dessa maneira,
Salomão afirma que na prática concede efeito suspensivo automático aos embargos pelo só
fato de apresentar garantia por uma questão de gestão processual. A existência de milhares
de processos de execução que não tem prazos suspensos ocorrerá a sobrecarga da secretaria
do juízo, sendo impossível dar conta de todos os processos da maneira devida. Afirma ainda
que já há acórdãos isolados em tribunais superiores no sentido de que é possível aplicar a
disciplina do efeito suspensivo dos embargos do CPC/15 à execução fiscal, de modo que a
tendência parece ser a de semelhança ao procedimento comum nesse aspecto.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 69


Alberto Iervese

Do processo de execução
Utilizando a nomenclatura adotada pelo Código de Processo Civil de 2015,
estudaremos agora a execução fundada em título extrajudicial. Vejamos:

I. Execução por quantia certa contra a Fazenda Pública


fundada em título extrajudicial
Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será
citada para opor embargos em 30 (trinta) dias.

§ 1o Não opostos embargos ou transitada em julgado a decisão que os rejeitar,


expedir-se-á precatório ou requisição de pequeno valor em favor do exequente,
observando-se o disposto no art. 100 da Constituição Federal.

§ 2o Nos embargos, a Fazenda Pública poderá alegar qualquer matéria que lhe
seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento.

§ 3o Aplica-se a este Capítulo, no que couber, o disposto nos artigos 534 e 535.

Antigamente havia o entendimento de que não cabia execução fundada em título


extrajudicial contra a Fazenda Pública, mas esse entendimento foi superado pelo STJ.
Atualmente, essa discussão não mais existe, visto que o CPC-15 trouxe, expressamente, a
autorização de executar a Fazenda Pública com base em um título extrajudicial.

Relembramos aqui a peculiaridade que envolve o pagamento de quantia certa por parte
da Fazenda Pública, que deverá se dar por meio de requisições, seja pelo regime de precatórios
ou pelo regime de requisições de pequeno valor (RPV).

O que difere a execução contra a F.Z. fundada em título extrajudicial da execução


contra a F.Z. fundada em título judicial? 03 pontos principais as distinguem. Vejamos:

(i) Aqui há citação e não intimação (pois há aqui um novo processo) – Nessa
citação a F.Z. não é compelida a pagar (em razão da obediência ao regime de
requisições);
(ii) A resistência à execução fundada em título extrajudicial se dá através da
apresentação de uma demanda incidental que faz surgir um novo processo,
obviamente incidental, peça essa denominada Embargos à execução. A
demanda incidental na execução fundada em título judicial para oferecer
resistência não faz nascer um novo processo (apesar de existir a possibilidade
de tramitar em autos separados);
(iii) O campo de alegação na peça de defesa/resistência na execução fundada em
título extrajudicial é muito maior do que na fundada em título judicial, pois
aqui não houve um processo de conhecimento, ou seja, não houve uma prévia
oportunidade de defesa.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 70


Alberto Iervese

Sobre a citação, sua previsão consta do caput do art. 910 e traz também o prazo para
apresentação dos embargos, que é o mesmo que o da impugnação (execução fundada em título
extrajudicial), qual seja o de 30 (trinta) dias

A obediência ao regimes de requisições está prevista no §1º, enquanto que as matérias


a serem alegadas na peça de resistência estão previstas no §2º.

Por força do §3º, na execução contra a F.Z. fundada em título extrajudicial aplica-se,
no que couber, a disciplina referente à execução por quantia certa contra a fazenda pública
fundada em título judicial.

OBS: Se nos dois polos tivermos Fazendas Públicas distintas e o título a ser executado for uma
certidão da dívida ativa, aplica-se as regras da execução fiscal.

Ocorre que nem toda execução feita pela Fazenda Pública é fundada em certidão da
dívida ativa, como por exemplo o acórdão do TCU, após julgamento de irregularidades
detectadas por parte do gestor público.

II. Execução de alimentos fundada em título extrajudicial


Distinções em relação à execução de alimentos fundada em título judicial:

(i) Aqui há a citação e não a intimação, pois há o nascimento de um novo processo;


(ii) O campo de alegação na peça de defesa é muito mais amplo, pois aqui não
houve um processo de conhecimento;
Aplica-se aqui as disposições relativas ao protesto judicial, determinação de prisão
civil em caso de não pagamento, a expropriação de bens, a retenção do mensal em folha que
IMPORTANTE! não ultrapasse 50%.

Art. 911. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha


obrigação alimentar, o juiz mandará citar o executado para, em 3 (três) dias,
efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se
vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-
lo.

Parágrafo único. Aplicam-se, no que couber, os §§ 2o a 7o do art. 528.

Observação ao parágrafo único: O legislador não incluiu o §1º, pois este versa exclusivamente
sobre o protesto da decisão judicial (sentença ou decisão interlocutória), e que aqui não existiu,
logo não será aplicável, pois aqui não se protesta a decisão judicial e sim o próprio título

Art. 912. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente
de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, o
exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento de pessoal da
importância da prestação alimentícia.

§ 1o Ao despachar a inicial, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao


empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto a
partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo
do ofício.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 71


Alberto Iervese

§ 2o O ofício conterá os nomes e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas


Físicas do exequente e do executado, a importância a ser descontada
mensalmente, a conta na qual deve ser feito o depósito e, se for o caso, o tempo
de sua duração.

Art. 913. Não requerida a execução nos termos deste Capítulo, observar-se-á o
disposto no art. 824 e seguintes, com a ressalva de que, recaindo a penhora em
dinheiro, a concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução não obsta
a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação .

III. Execução para entrega de coisa fundada em título


extrajudicial
Nessas obrigações, não sendo possível o cumprimento específico da obrigação, deverá
ser feita uma conversão em indenização por perdas e danos. O procedimento será então
convertido em execução por quantia certa.

Para a obtenção desse valor, será preciso que se pratique atos cognitivos, mesmo que
estejamos aqui tratando de um processo executivo.

Estamos aqui tratando de uma liquidação, que apenas é possível pois a execução
começou líquida, mas houve uma inviabilidade no decorrer do processo, visto que não há
como executar uma obrigação contida em título extrajudicial se ela não for líquida.

Sobre a entrega de coisa, poderá ela ser certa ou incerta. No caso de coisa certa, basta
a decisão que determine sua entrega. Lado outro, na coisa incerta, pertencente a uma
universalidade, caberá ao exequente ou ao executado (a escolha pode vir a pertencer a
qualquer um dos dois) definir qual coisa deverá ser entregue, sendo que isso não exclui a
liquidez da obrigação.

Na entrega de coisa certa (Seja ela originalmente certa ou incerta) poderá essa coisa ser
móvel ou imóvel.

Art. 806 [...] § 2o Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse
ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo
cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no
prazo que lhe foi designado.

Tratando-se de coisa móvel, a diligência a ser realizada é a de busca e apreensão. O


sujeito é citado para no prazo de 15 dias realizar a entrega da coisa. Se não cumprir essa
determinação, será expedido o mandado de busca e apreensão.

No caso de bem imóvel, haverá uma imissão na posse do bem imóvel. O devedor é
citado para realizar a transferência da posse no prazo de 15 dias e, em caso de
descumprimento, será imitido na posse de modo forço.

Ocorrendo a deterioração ou perda da coisa, deverá ser realizada a determinação do


valor da coisa por meios diversos, como a perícia.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 72


Alberto Iervese

Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor
da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou
não for reclamada do poder de terceiro adquirente.

§ 1o Não constando do título o valor da coisa e sendo impossível sua


avaliação, o exequente apresentará estimativa, sujeitando-a ao
arbitramento judicial.

§ 2o Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos.

Pode ser que a coisa esteja em mãos de terceiros, podendo mesmo assim ser
IMPORTANTE! alcançada pela busca e apreensão. O terceiro terá que depositar a coisa, e só depois será
ouvido.

Art. 808. Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido mandado contra o
terceiro adquirente, que somente será ouvido após depositá-la.

OBS: O exequente estará protegido no caso de fraude à execução e nos casos de bens
submetidos a registros, que deveriam ter seus bancos de dados consultados acerca da
propriedade ou situação do bem, como no caso de imóveis e automóveis (não poderá o terceiro
adquirente, mesmo que de boa-fé, se beneficiar da sua própria torpeza).

No caso de benfeitorias, poderá haver indenização, desde que de boa-fé o possuidor,


no caso de benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias (essa última apenas se não puder ser
levantada).

Art. 810. Havendo benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo executado ou por
terceiros de cujo poder ela houver sido tirada, a liquidação prévia é obrigatória.

Parágrafo único. Havendo saldo:

I - em favor do executado ou de terceiros, o exequente o depositará ao requerer a


entrega da coisa;

II - em favor do exequente, esse poderá cobrá-lo nos autos do mesmo processo.

Já em relação ao direito de retenção, ele aqui é INAPLICÁVEL, por força do art. 807 e
do art. 538, §2º, que no caso da execução fundada em título judicial é passível de ser exercido
apenas no caso de benfeitorias necessárias ou úteis (se previsto no negócio jurídico), nunca em
razão de benfeitorias voluptuárias e durante o processo de conhecimento.

Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e


considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o
pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver.

O direito de retenção não poderá ser exercido quando estivermos tratando de


execução fundada em título extrajudicial.

O juiz poderá fixar multa para obrigar o executado a cumprir a obrigação por ele
determinada e no título consubstanciada (Art. 806, §1º).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 73


Alberto Iervese

Lado outro, como dito anteriormente, a execução também poderá estar fundada em
título extrajudicial em que esteja consubstanciada uma obrigação de entregar coisa incerta.

Na coisa incerta, pertencente a uma universalidade, caberá ao exequente ou ao


executado (a escolha pode vir a pertencer a qualquer um dos dois) definir qual coisa deverá
ser entregue, sendo que isso não exclui a liquidez da obrigação.

Art. 811. Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e pela
quantidade, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe
couber a escolha.

Parágrafo único. Se a escolha couber ao exequente, esse deverá indicá-la na


IMPORTANTE! petição inicial.

Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a
escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo
perito de sua nomeação.

Art. 813. Aplicar-se-ão à execução para entrega de coisa incerta, no que couber,
as disposições da Seção I deste Capítulo.

IV. Execução das obrigações de fazer ou de não fazer fundadas


em título extrajudicial
Assim como na execução fundada em título extrajudicial para entrega de coisa, o juiz
fixará uma multa para o caso de descumprimento e assinará um prazo para o cumprimento.

Art. 814. Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em título


extrajudicial, ao despachar a inicial, o juiz fixará multa por período de atraso no
cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida.

Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto no título e for


excessivo, o juiz poderá reduzi-lo.

O parágrafo único fala somente de diminuir o valor da multa, se excessivo, mas


Salomão não vê qualquer óbice também na realização de majoração, se ineficaz.

a) Obrigação de Fazer

Art. 815. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será
citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe designar, se outro não estiver
determinado no título executivo.

Art. 816. Se o executado não satisfizer a obrigação no prazo designado, é lícito


ao exequente, nos próprios autos do processo, requerer a satisfação da
obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se
converterá em indenização.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 74


Alberto Iervese

Parágrafo único. O valor das perdas e danos será apurado em liquidação,


seguindo-se a execução para cobrança de quantia certa.

Art. 817. Se a obrigação puder ser satisfeita por terceiro, é lícito ao juiz autorizar,
a requerimento do exequente, que aquele a satisfaça à custa do executado.

Parágrafo único. O exequente adiantará as quantias previstas na proposta


que, ouvidas as partes, o juiz houver aprovado.

Na obrigação de fazer não adimplida pelo executado após a realização da citação descrita
no art. 815, o credor da obrigação possui duas opções quanto a forma de execução:
(i) Conversão da obrigação em perdas e danos;
(ii) Requerer que a obrigação seja feita cumprida por terceiro às custas do executado.
Ocorre que o exequente é que irá adiantar o valor do cumprimento para depois ser
cobrado do executado. Nesses casos temos a conversão do procedimento em
execução por quantia certa, já que teremos uma quantia líquida em dinheiro para
ser cobrada do executado.
É preciso se atentar para duas situações possíveis: (1) Primeiro, é possível que o exequente,
pelo mesmo valor, realize a obrigação ele mesmo. (2) Segundo, é possível que o terceiro
contratado não realize de modo adequado ou incompleto, podendo ser realizado uma
execução contra esse terceiro no mesmo processo. Disposições essas presentes nos artigos 819
e 820, abaixo transcritos.

Art. 818. Realizada a prestação, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias
e, não havendo impugnação, considerará satisfeita a obrigação.

Parágrafo único. Caso haja impugnação, o juiz a decidirá.

Art. 819. Se o terceiro contratado não realizar a prestação no prazo ou se o fizer


de modo incompleto ou defeituoso, poderá o exequente requerer ao juiz, no
prazo de 15 (quinze) dias, que o autorize a concluí-la ou a repará-la à custa do
contratante.

Parágrafo único. Ouvido o contratante no prazo de 15 (quinze) dias, o


juiz mandará avaliar o custo das despesas necessárias e o condenará a
pagá-lo.

Art. 820. Se o exequente quiser executar ou mandar executar, sob sua direção e
vigilância, as obras e os trabalhos necessários à realização da prestação, terá
preferência, em igualdade de condições de oferta, em relação ao terceiro.

Parágrafo único. O direito de preferência deverá ser exercido no prazo de


5 (cinco) dias, após aprovada a proposta do terceiro.

Art. 821. Na obrigação de fazer, quando se convencionar que o executado a


satisfaça pessoalmente, o exequente poderá requerer ao juiz que lhe assine
prazo para cumpri-la.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 75


Alberto Iervese

Parágrafo único. Havendo recusa ou mora do executado, sua obrigação


pessoal será convertida em perdas e danos, caso em que se observará o
procedimento de execução por quantia certa.

b) Obrigação de Não Fazer

Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei
ou por contrato, o exequente requererá ao juiz que assine prazo ao executado
para desfazê-lo.

Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz


que mande desfazer o ato à custa daquele, que responderá por perdas e danos.

Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação


resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a liquidação, se
observará o procedimento de execução por quantia certa.

V. Execução por quantia certa fundada em título executivo


extrajudicial
Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários
advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado.

§ 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos


honorários advocatícios será reduzido pela metade.

§ 2o O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento,
quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso
não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo,
levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente.

O próprio CPC, no caput do art. 827, estabelece o valor de 10% do valor da obrigação
como o valor dos honorários advocatícios sucumbenciais, a serem pagos pelo executado. A
partir do momento em que o sujeito é citado para pagar a quantia certa por ele devida, já será
citado para pagamento dos honorários sucumbenciais.

Entretanto, como forma de estimular o adimplemento e a rápida resolução das ações


de execuções, o legislador estabeleceu que, sendo pago o valor devido no prazo de 3 dias, terá
o executado o direito à redução dos honorários pela metade.

Terá o executado um prazo de 15 dias para embargar. Nesse mesmo período, mesmo
que depois do prazo de 3 dias, poderá ele ainda pagar o valor devido, mas não terá direito à
redução dos honorários pela metade. Lado outro, terá o direito de pagar o valor devido
parceladamente (depositando um valor de entrada equivalente a 30% do valor da obrigação)
– Direito potestativo do executado.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 76


Alberto Iervese

O embargante que tiver o pleito formulado nos embargos rejeitado terá os honorários
advocatícios da sucumbência majorados pelo juiz em até 20%. Esses honorários serão
majorados nos autos dos embargos, mas serão cobrados nos autos da execução.

Há, no entanto, outras formas de se elevar os honorários advocatícios sucumbenciais


sem ser por meio da rejeição dos embargos à execução. Isso ocorreria nas situações em que a
outra parte cria obstáculos excessivos que aumentam o trabalho do advogado
consideravelmente. O professor entende que não seria necessário requisição pelo advogado,
mas poderia ser feito por ofício.

A petição inicial da execução de quantia certa por título extrajudicial deverá atender os
requisitos de admissibilidade, sendo o mandado de citação do executado um juízo tácito de
admissibilidade.

Contudo, esse juízo de admissibilidade tácito não impede que questões atinentes ao
conteúdo dessa petição inicial ou questões processuais sejam alegadas pelo executado. Não
gera esse tipo de preclusão.

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida
pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade.

§ 1o No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá


comunicar ao juízo as averbações efetivadas.

§ 2o Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da


dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o
cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados.

§ 3o O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a


requerimento, caso o exequente não o faça no prazo.

§ 4o Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens


efetuada após a averbação.

§ 5o O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou


não cancelar as averbações nos termos do § 2 o indenizará a parte
contrária, processando-se o incidente em autos apartados.

De qualquer sorte, gera para o exequente a possibilidade buscar em cartório uma


certidão de admissibilidade da execução contra o executado. Com ela, sem necessidade de
autorização ou determinação judicial, terá direito de fazer constar no registro de bens do
executado a existência da execução. Aqui não há penhora ou qualquer outra constrição do
bem. Serve para que possíveis adquirentes do bem saiba que existe contra aquele sujeito um
processo de execução, não podendo alegar sua boa-fé para manter o bem.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 77


Alberto Iervese

Contudo, realizada a penhora efetiva de algum bem, qualquer outro registro que venha
a constranger outros bens do executado deverá ser cancelado por iniciativa do próprio
exequente. Poderá essa medida, se não feita pelo exequente, ser requerida pelo exequente ou
determinada pelo juiz de ofício. Não desfeita no prazo de 10 dias, poderá o executado alegar
prejuízos decorrentes da continuidade indevida desse registro e requerer indenização. A
apuração desses eventuais prejuízos irá se dar em autos apartados.

O executado poderá, a qualquer tempo, remir a execução. Ou seja, poderá ele pagar o
valor do que foi requerido pelo exequente. Essa remição é da execução. Mas existe a chamada
remição do bem, que é diferente. Familiares do executado poderiam remir o valor de bem que
está sendo executado. Nesse caso, o valor restante da execução continua ocorrendo.

Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do
executado, ressalvadas as execuções especiais.

Art. 825. A expropriação consiste em:

I - adjudicação;

A adjudicação consiste no oferecimento de bem do executado como forma de total ou


parcialmente realizar o adimplemento da dívida. É medida coercitiva, sendo diferente da
dação em pagamento.

II - alienação;

A alienação consiste na transferência do bem para terceiros. É possível que seja


promovida uma alienação por iniciativa particular (o próprio exequente procura no mercado
a venda do bem, sem as burocracias de alienação judicial) ou pode ser uma alienação judicial.
Pode ser que o bem seja bursátil (aquele com cotação em bolsa), que será vendido no valor do
dia.

III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de


estabelecimentos e de outros bens.

Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo


tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da
dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios.

Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias,
contado da citação.

Ou seja, aqui não há contagem de prazo a partir da juntada do mandado de citação aos
autos do processo, até mesmo porque esse não ocorre. O oficial de justiça mantém o mandado
consigo e, não verificado o pagamento, prosseguirá nos atos de execução.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 78


Alberto Iervese

Observação: Cuidado para não confundir os prazos! O executado será citado para pagar no
prazo de 03 dias, mas terá 15 dias para apresentar seus embargos à execução. Nada impede o
IMPORTANTE!
executado de realizar o pagamento após o prazo de 03 dias, mas nesse período ele não mais
terá o benefício de pagar apenas metade dos honorários advocatícios.

§ 1o Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e


a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado
o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com
intimação do executado.

§ 2o A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se


outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante
demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e
não trará prejuízo ao exequente.

A penhora normalmente recai sobre os bens indicados pelo exequente em conjunto


com o demonstrativo do débito. Salvo se o executado apresentar outros bens que lhe trará
menos ônus e não provocará prejuízo à efetividade do processo.

Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos


bens quantos bastem para garantir a execução.

Aqui não é o caso de desaparecimento do executado. Será para o caso de, tentando
IMPORTANTE! citar, não ser possível entregar a citação pelo oficial de justiça.

§ 1o Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça


procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo
suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa, certificando
pormenorizadamente o ocorrido.

Arresto é medida cautelar pré-penhora, de possível apreensão, mas obrigatória


listagem, de bens indeterminados que tem por objetivo assegurar a efetividade de uma
IMPORTANTE! execução por quantia certa. O parceiro do arresto é o sequestro, que também é medida
cautelar, só que voltada para assegurar execução de obrigação de entregar coisa determinada,
ou seja, incide sobre bens específicos, objetos do litígio. A penhora é o ato executivo em si
mesmo, garantido pelo arresto, mas nunca pelo sequestro, pois esse gerará um depósito.

Esse arresto sequer depende de autorização judicial. Ao não encontrar o executado,


deverá proceder a citação por hora certa e, frustrada, procederá à citação por edital.

O máximo que se pode obter do arresto é a sua posterior conversão em penhora. Mas
é possível que proceda à remoção dos bens móveis que são encontrados pelo oficial de justiça,
muito embora não necessariamente o arresto implicará em apreensão de bens.

Na execução fiscal, a lei de execução fiscal, exige que o oficial de justiça proceda ao
cartório de registro de bens imóveis e proceda à averbação da penhora. Na execução
convencional, isso é função do exequente.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 79


Alberto Iervese

Não pode o exequente ficar de braços cruzados, cabendo a ele lançar mão dos
instrumentos executivos que estão a sua disposição.

§ 2o Incumbe ao exequente requerer a citação por edital, uma vez


frustradas a pessoal e a com hora certa.

§ 3o Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o


arresto converter-se-á em penhora, independentemente de termo .

Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários
advocatícios.

Aqui já temos ultrapassado o prazo de 3 dias para pagamento voluntário.

Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis.

Pode haver negócio jurídico processual no sentido de tornar determinado bem


penhorável. Não existem mais bem relativa ou absolutamente penhoráveis. Apenas são hoje
impenhoráveis. A situação concreta é que dirá ao juiz se essa impenhorabilidade será
desconsiderada.

Apenas o inciso “I”, que trata sobre os bens inalienáveis, a exemplo dos bens públicos,
que podemos dizer ser uma impenhorabilidade absoluta. Todos os demais devem ser
analisados de acordo com o caso concreto.

Um exemplo de bem inalienável por declaração através de ato voluntário mencionado


no inciso “I” é o bem doado com a cláusula de inalienabilidade.

Art. 833. São impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à


execução;

II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a


residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem
as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,


salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações,


os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios,
bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas
ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 80


Alberto Iervese

Essa proteção encontra um limite construído jurisprudencialmente: não serão


considerados impenhoráveis os valores acima do salário concedido aos ministros do STF,
pois, os valores superiores a esse, jamais serão indispensáveis para a proteção da dignidade
humana.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos


ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do
executado;

VI - o seguro de vida;

Há aqui uma proteção ao direito expectativo, o de receber um valor decorrente de um


sinistro com a vida.
Essa proteção, de acordo com a maior parte da doutrina, não se estende aos valores já
pagos em razão do seguro de vida, visto que a intenção do legislador foi entendida como a de
evitar um comportamento corvinal/de abutre, em que se espera que um indivíduo morra para
então reaver o crédito.

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas


forem penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que


trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para


aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40


(quarenta) salários-mínimos;

O Governo Federal, historicamente, sempre divulgou e promoveu a caderneta de


poupança como o modelo de conta ideal para a população, por ser mais seguro. Tornar
vulneráveis os valores ali depositados e inferiores ao limite imposto (40 salários mínimos) seria
de uma incoerência colossal. Na verdade, esse limite será de salário de 50 salários mínimos,
por força do §2º, como veremos adiante.
Existem decisões do STJ em que a corte estendeu essa impenhorabilidade aos valores
depositados nas demais contas, desde que no total não ultrapasse 40 salários-mínimos. Esse
entendimento não é dominante.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido


político, nos termos da lei;

XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob


regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 81


Alberto Iervese

§ 1o A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio


bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição
IMPORTANTE!

Dispositivo utilizado para possibilitar a penhora de bens de família na situação descrita


pelo artigo e também naquelas em que o imóvel é colocado como garantia.

§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora


para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem,
bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art.
529, § 3o.

Trata-se de um dispositivo que não foi bem escrito, visto que abre espaço para
interpretações diversas. Na verdade, o artigo trata de duas situações diversas:

(i) Vencimentos, subsídios (IV)) devem observar o limite de 50% mencionados nos
artigos e aqui já estudado: “O desconto em folha mencionado nesse
dispositivo pode ser requerido tanto quanto as prestações vincendas quanto
as vencidas (Novidade do CPC/15), mas esse desconto em folha da soma das
prestações vencidas e vincendas) não poderá exceder 50% dos ganhos líquidos
do executado, em razão da necessidade de garantia da sua subsistência”;
(ii) Vencimentos, subsídios (IV), e os valores depositados em cadernetas de
poupança (X), colocados como bens impenhoráveis, serão penhoráveis no que
exceder a 50 salários-mínimos. → Real limitação do inciso X

§ 3o Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os


equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa
física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais bens tenham
sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio
jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou
previdenciária.

Art. 834. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e os


rendimentos dos bens inalienáveis.

Trata-se de uma possibilidade de execução condicionada, ou seja, apenas será possível


de ocorrer na falta de outros bens.

É possível até mesmo penhorar o faturamento de uma empresa. Isso é possível e é feito
pelo juiz colocando dentro da empresa um administrador.

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição


financeira;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 82


Alberto Iervese

II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal


com cotação em mercado;

III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;

IV - veículos de via terrestre;

V - bens imóveis;

VI - bens móveis em geral;

VII - semoventes;

VIII - navios e aeronaves;

IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;

Esse inciso traz uma situação peculiar: é possível a entrada de um novo sócio em uma
sociedade simples ou empresária em razão da ocorrência de penhora. Entretanto, para que
isso ocorra, primeiro é preciso que nenhum dos demais sócios queiram comprar essas cotas (o
valor será então repassado ao exequente) ou até mesmo a sociedade em si não as compre (nos
casos em que for possível), hipótese em que “será dona de si mesma”. Não ocorrendo
nenhuma das situações, essas cotas serão postas à venda.
X - percentual do faturamento de empresa devedora;

XI - pedras e metais preciosos;

XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de


alienação fiduciária em garantia;

XIII - outros direitos.

§ 1o É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses,


alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso
concreto.

§ 2o Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança


bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do
débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.

§ 3o Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa


dada em garantia, e, se a coisa pertencer a terceiro garantidor, este também
será intimado da penhora.

Art. 836. Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto
da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento
das custas da execução.

O ordenamento veda a penhora inútil, assim considerada aquela que tenha seu valor
inteiramente ou significativamente superado pelos custos com o procedimento para a penhora
(p.ex.: custos com o leiloeiro, etc.)

§ 1o Quando não encontrar bens penhoráveis, independentemente de


determinação judicial expressa, o oficial de justiça descreverá na certidão

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 83


Alberto Iervese

os bens que guarnecem a residência ou o estabelecimento do executado,


quando este for pessoa jurídica.

Esse inciso, novidade do CPC-15 e ainda pouco cumprido pelos oficiais, determina que,
não encontrados bens penhoráveis, deverá descrever todos os bens que guarnecem a
residência ou o estabelecimento, para que, uma vez elaborada a lista, o juiz avalie sobre a
impenhorabilidade destes bens (apenas o juiz pode realizar juízo de impenhorabilidade).

§ 2o Elaborada a lista, o executado ou seu representante legal será


nomeado depositário provisório de tais bens até ulterior determinação
do juiz.

Esse depositário poderá ser até mesmo o próprio executado, mas não é a regra. Nesse
caso, o autor, deixa de estar com o bem na qualidade de proprietário para estar na qualidade
de depositário.

Art. 837. Obedecidas as normas de segurança instituídas sob critérios uniformes


pelo Conselho Nacional de Justiça, a penhora de dinheiro e as averbações de
penhoras de bens imóveis e móveis podem ser realizadas por meio eletrônico.

A penhora deverá ser documentada, seja através de auto ou termo de penhora. Qual a
diferença? Termo é gênero e auto é uma espécie de termo. Termo é uma documentação escrita
de um ato praticado por um auxiliar da justiça no exercício de suas funções. O auto, uma
espécie de termo, é uma documentação referente à ato praticado pelo auxiliar da justiça fora
das dependências do fórum.

Art. 838. A penhora será realizada mediante auto ou termo, que conterá:

I - a indicação do dia, do mês, do ano e do lugar em que foi feita;

II - os nomes do exequente e do executado;

III - a descrição dos bens penhorados, com as suas características;

IV - a nomeação do depositário dos bens.

É mais comum que seja lavrado auto de penhora, visto que essas costumam ocorrer
fora do fórum. Ocorre que também é possível que seja lavrado um termo de penhora, nas
hipóteses de bens informados ao juízo pelo executado e de bens imóveis, em que será lavrado
o termo de penhora e expedido ofício ao órgão competente para que o mesmo seja registrado.

Art. 839. Considerar-se-á feita a penhora mediante a apreensão e o depósito


dos bens, lavrando-se um só auto se as diligências forem concluídas no mesmo
dia.

Parágrafo único. Havendo mais de uma penhora, serão lavrados autos


individuais.

Art. 840. Serão preferencialmente depositados:

I - as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais


preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco
do qual o Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do capital

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 84


Alberto Iervese

social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer


instituição de crédito designada pelo juiz;

II - os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos


sobre imóveis urbanos, em poder do depositário judicial;

III - os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as


máquinas, os utensílios e os instrumentos necessários ou úteis à atividade
agrícola, mediante caução idônea, em poder do executado.

§ 1o No caso do inciso II do caput, se não houver depositário judicial, os bens


ficarão em poder do exequente.

§ 2o Os bens poderão ser depositados em poder do executado nos casos de


difícil remoção ou quando anuir o exequente.

§ 3o As joias, as pedras e os objetos preciosos deverão ser depositados com


registro do valor estimado de resgate.

Art. 841. Formalizada a penhora por qualquer dos meios legais, dela será
imediatamente intimado o executado.

A data de intimação da penhora perdeu muito da sua antiga importância, pois, a partir
de 2016, a data de início do prazo para embargos deixou de ser a data de intimação da penhora
e passou a ser data da juntada do mandado de intimação aos autos.
Observação: No caso da Execução Fiscal a data de início do prazo para embargos ainda é a
data de intimação da penhora.
§ 1o A intimação da penhora será feita ao advogado do executado ou à
sociedade de advogados a que aquele pertença.

§ 2o Se não houver constituído advogado nos autos, o executado será


intimado pessoalmente, de preferência por via postal.

§ 3o O disposto no § 1o não se aplica aos casos de penhora realizada na


presença do executado, que se reputa intimado.

Há aqui uma presunção de intimação da penhora, pois se presume que o executado,


presenciando o ato, entenda a natureza do ato que ameaça seu patrimônio.
§ 4o Considera-se realizada a intimação a que se refere o § 2 o quando o
executado houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao
juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274.

É obrigação do executado manter o seu endereço atualizado perante o juízo, sob pena
de ser a intimação que informa sobre a penhora ser considerada válida.
Art. 842. Recaindo a penhora sobre bem imóvel ou direito real sobre imóvel,
será intimado também o cônjuge do executado, salvo se forem casados em
regime de separação absoluta de bens.

Não houve referência a companheiro (a), entretanto, à luz da unidade do postulado


da interpretação, em relação às interpretações equitativas dadas ao companheiro em relação

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 85


Alberto Iervese

ao cônjuge pelo CC/2002 e pelo CPC/2015, entende-se que o companheiro (a) também deverá
ser intimado.
Art. 843. Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-
parte do coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o
produto da alienação do bem.

§ 1o É reservada ao coproprietário ou ao cônjuge não executado a


preferência na arrematação do bem em igualdade de condições.

§ 2o Não será levada a efeito expropriação por preço inferior ao da


avaliação na qual o valor auferido seja incapaz de garantir, ao
coproprietário ou ao cônjuge alheio à execução, o correspondente à sua
quota-parte calculado sobre o valor da avaliação.

Sendo divisível o bem, não há de ser penhorado a parte de terceiro, ainda que cônjuge
(a depender do regime de bens), pois não são responsáveis pelo inadimplemento do
executado. Se desobedecido essa premissa, caberá ao prejudicado opor Embargos de Terceiro.
Lado outro, sendo indivisível, a quota-parte do coproprietário e do cônjuge, além de
terem preferência na arrematação do bem, terão o valor de suas partes ressarcidos através da
verba obtida com a alienação judicial do bem (que geralmente ocorre através de leilão). Desta
forma, é muito importante para o coproprietário e para o cônjuge que acompanhem a
avaliação do bem, pois definirá o valor do bem a ser alienado.
Há uma proteção extra no §2º, ao ser vedada a expropriação de bem indivisível cujo
valor da alienação não seja suficiente para satisfazer sua quota-parte calculada sobre o valor
da avaliação (o que torna ainda mais importante que o terceiro acompanhe a avaliação).
Podemos perceber ao longo do CPC uma série de dispositivos legais que formam um
Sistema de Proteção dos Interesses dos Sujeitos Vinculados a Bem Submetido a Penhora
(Terceiros). Vejamos apenas alguns:
• Art. 799 → Exequente deve requerer a intimação a respeito da penhora do bem;
• Art. 804 → Ineficácia da alienação no caso de falta de intimação a respeito da penhora;
• Art. 876, §5º → Direito de adjudicar o bem penhorado;
• Art. 889 → Direito de ser cientificado a respeito da data marcada para que ocorra a
alienação judicial;
• Art. 892, §2º → Tratando-se de bem tombado e havendo igualdade de oferta, há um
direito de preferência da União, dos Estados e do Município na Arrematação.
Observação: Com a recente entrada em vigor de Lei nº 13.465/2017, terá sempre de ser
observado o chamado Direito de Laje, que garante a proteção do terceiro que ocupa a
superfície da propriedade. Assim, apesar de não ter previsão de intimação nesse sentido na
maioria dos artigos, o titular da superfície da propriedade (laje) deverá ser intimado.

Art. 850. Será admitida a redução ou a ampliação da penhora, bem como sua
transferência para outros bens, se, no curso do processo, o valor de mercado
dos bens penhorados sofrer alteração significativa.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 86


Alberto Iervese

A redução ou substituição da penhora, no caso de esta ser excessiva, ou ampliação, no


caso de esta ser insuficiente, deverá sempre obedecer aos princípios da efetividade e da menor
onerosidade, por nós já amplamente estudados.
Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação
financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao
executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema
eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional,
que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado,
limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução.

O art. 854 consiste na previsão legal da chamada penhora eletrônica/online,


comumente realizada pelo sistema BACEN JUD.
O BACEN JUD é um sistema controlado pelo Banco Central e, uma vez requisitada por
este, as demais instituições financeiras, a ele submetidas, devem proceder com a “penhora”
dos valores ordenados e depositados em nome do executado.
Diferentemente do que muitos pensam, não consiste o BACEN JUD em uma penhora
eletrônica, propriamente dita. Primeiramente, os valores requisitados ao sistema serão
arrastados e considerados indisponíveis (indisponibilidade dos valores), e, somente após
avaliação sobre impenhorabilidade e/ou excesso na indisponibilidade, é que esses valores
serão efetivamente penhorados. Por isso, Salomão sustenta que o procedimento feito pelo
BACEN JUD é, tecnicamente, um arresto.

ARRESTO X SEQUESTRO X PENHORA


Arresto é medida cautelar pré-penhora, de possível apreensão, mas obrigatória listagem, de bens
indeterminados que tem por objetivo assegurar a efetividade de uma execução por quantia certa. O parceiro
do arresto é o sequestro, que também é medida cautelar, só que voltada para assegurar execução de
obrigação de entregar coisa determinada, ou seja, incide sobre bens específicos, objetos do litígio.

A penhora é o ato executivo em si mesmo, garantido pelo arresto (após a possibilidade de


contraditório pelo executado), mas nunca pelo sequestro, pois esse gerará um depósito (também após a
possibilidade de contraditório pelo executado).

Arresto → Indisponibilidade dos bens → Intimação do Executado → Penhora

Sequestro → Indisponibilidade dos bens → Intimação do Executado → Depósito

Observação: O bem ser considerado indisponível não significa, necessariamente, que será retirado da posse
do executado.
Nesse artigo destacamos a previsão feita pelo legislador de que a penhora eletrônica
será realizada “sem dar ciência ao executado”, visto que tal ciência, inevitavelmente
acarretaria no esvaziamento das contas bancárias e consequente inefetividade do ato.
§ 1o No prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da resposta, de ofício,
o juiz determinará o cancelamento de eventual indisponibilidade
excessiva, o que deverá ser cumprido pela instituição financeira em igual
prazo.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 87


Alberto Iervese

§ 2o Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, este será


intimado na pessoa de seu advogado ou, não o tendo, pessoalmente.

§ 3o Incumbe ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, comprovar que:

I - as quantias tornadas indisponíveis são impenhoráveis;

II - ainda remanesce indisponibilidade excessiva de ativos


financeiros.

§ 4o Acolhida qualquer das arguições dos incisos I e II do § 3o, o juiz


determinará o cancelamento de eventual indisponibilidade irregular ou
excessiva, a ser cumprido pela instituição financeira em 24 (vinte e quatro)
horas.

§ 5o Rejeitada ou não apresentada a manifestação do executado,


converter-se-á a indisponibilidade em penhora, sem necessidade de
lavratura de termo, devendo o juiz da execução determinar à instituição
financeira depositária que, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas,
transfira o montante indisponível para conta vinculada ao juízo da
execução. → Arresto

§ 6o Realizado o pagamento da dívida por outro meio, o juiz determinará,


imediatamente, por sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do
sistema financeiro nacional, a notificação da instituição financeira para que,
em até 24 (vinte e quatro) horas, cancele a indisponibilidade.

§ 7o As transmissões das ordens de indisponibilidade, de seu cancelamento e


de determinação de penhora previstas neste artigo far-se-ão por meio de
sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro
nacional.

§ 8o A instituição financeira será responsável pelos prejuízos causados ao


executado em decorrência da indisponibilidade de ativos financeiros em
valor superior ao indicado na execução ou pelo juiz, bem como na
hipótese de não cancelamento da indisponibilidade no prazo de 24 (vinte
e quatro) horas, quando assim determinar o juiz.

§ 9o Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a


requerimento do exequente, determinará às instituições financeiras, por meio
de sistema eletrônico gerido por autoridade supervisora do sistema bancário,
que tornem indisponíveis ativos financeiros somente em nome do órgão
partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha dado causa
à violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a
responsabilidade pelos atos praticados, na forma da lei.

→ Cada diretório (nacional, regional, municipal) possui personalidade jurídica


própria
Art. 855. Quando recair em crédito do executado, enquanto não ocorrer a
hipótese prevista no art. 856, considerar-se-á feita a penhora pela intimação:

I - ao terceiro devedor para que não pague ao executado, seu credor;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 88


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II - ao executado, credor do terceiro, para que não pratique ato de


disposição do crédito.

Art. 856. A penhora de crédito representado por letra de câmbio, nota


promissória, duplicata, cheque ou outros títulos far-se-á pela apreensão do
documento, esteja ou não este em poder do executado.

§ 1o Se o título não for apreendido, mas o terceiro confessar a dívida,


será este tido como depositário da importância.

§ 2o O terceiro só se exonerará da obrigação depositando em juízo a


importância da dívida.

§ 3o Se o terceiro negar o débito em conluio com o executado, a


quitação que este lhe der caracterizará fraude à execução.

§ 4o A requerimento do exequente, o juiz determinará o


comparecimento, em audiência especialmente designada, do
executado e do terceiro, a fim de lhes tomar os depoimentos.

Art. 860. Quando o direito estiver sendo pleiteado em juízo, a penhora que
recair sobre ele será averbada, com destaque, nos autos pertinentes ao direito
e na ação correspondente à penhora, a fim de que esta seja efetivada nos bens
que forem adjudicados ou que vierem a caber ao executado.

Aqui no art.860 falamos da “penhora no rosto dos autos”, que, para Salomão, é de
fundamental importância para garantia da proteção de terceiros na execução.
O artigo 860 do novo CPC preserva o mesmo sentido do artigo 674 do CPC/1973. O
legislador apenas reforçou que quando o direito estiver sendo pleiteado em juízo, a penhora
que recair sobre ele será averbada, 'com destaque', nos autos pertinentes ao direito e na ação
correspondente à penhora, a fim de que esta seja efetivada nos bens que forem adjudicados ou
que vierem a caber ao executado

Nas palavras de Teresa Alvim Arruda Wambier:

"Assim, caso o direito penhorado esteja sendo pleiteado em juízo pelo


devedor, procede-se à penhora, mediante averbação no rosto dos
autos, a fim de que eventual produto favorável ao executado (credor
do terceiro) seja revertido em prol da execução. Dessa forma, o
exequente estará sujeito ao resultado do litígio envolvendo o
executado e o terceiro, porquanto a constrição se efetivará 'nos bens
que forem adjudicados ou vierem a caber ao executado”

Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade


simples ou empresária, o juiz assinará prazo razoável, não superior a 3
(três) meses, para que a sociedade:

I - apresente balanço especial, na forma da lei;

II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito


de preferência legal ou contratual;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 89


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III - não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações,


proceda à liquidação das quotas ou das ações, depositando em
juízo o valor apurado, em dinheiro.

§ 1o Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá


adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de reservas, para
manutenção em tesouraria.

§ 2o O disposto no caput e no § 1o não se aplica à sociedade anônima de


capital aberto, cujas ações serão adjudicadas ao exequente ou alienadas em
bolsa de valores, conforme o caso.

§ 3o Para os fins da liquidação de que trata o inciso III do caput, o juiz poderá,
a requerimento do exequente ou da sociedade, nomear administrador, que
deverá submeter à aprovação judicial a forma de liquidação.

§ 4o O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamento


das quotas ou das ações liquidadas:

I - superar o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem


diminuição do capital social, ou por doação; ou

II - colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou


empresária.

§ 5o Caso não haja interesse dos demais sócios no exercício de direito de


preferência, não ocorra a aquisição das quotas ou das ações pela sociedade e
a liquidação do inciso III do caput seja excessivamente onerosa para a
sociedade, o juiz poderá determinar o leilão judicial das quotas ou das ações.

O legislador buscou, a todo momento, proteger o vínculo que forma as sociedades,


que é baseado na confiança, evitando ao máximo que terceiros aleatórios a esse vínculo
adquiram as ações e passem a fazer parte de uma sociedade que não o tinha como membro.
Apenas em último caso isso será possível, visto que a sociedade e os sócios terão preferência.
Art. 862. Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial
ou agrícola, bem como em semoventes, plantações ou edifícios em
construção, o juiz nomeará administrador-depositário, determinando-lhe que
apresente em 10 (dez) dias o plano de administração.

§ 1o Ouvidas as partes, o juiz decidirá.

§ 2o É lícito às partes ajustar a forma de administração e escolher o


depositário, hipótese em que o juiz homologará por despacho a
indicação.

§ 3o Em relação aos edifícios em construção sob regime de


incorporação imobiliária, a penhora somente poderá recair sobre
as unidades imobiliárias ainda não comercializadas pelo
incorporador.

→ Esse parágrafo consiste em uma proteção ao consumidor adquirente de imóvel


comercializado pelo incorporador.

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§ 4o Sendo necessário afastar o incorporador da administração da


incorporação, será ela exercida pela comissão de representantes
dos adquirentes ou, se se tratar de construção financiada, por
empresa ou profissional indicado pela instituição fornecedora dos
recursos para a obra, devendo ser ouvida, neste último caso, a
comissão de representantes dos adquirentes

Art. 865. A penhora de que trata esta Subseção somente será


determinada se não houver outro meio eficaz para a efetivação do
crédito. → IMPORTANTÍSSIMO:

A penhora de que trata essa subseção (Da Penhora de Empresa, de Outros


Estabelecimentos e de Semoventes) somente será utilizada pelo magistrado quando não
existirem outras escolhas.
Isso se dá como forma de proteger a empresa e a atividade empresarial, bem como o
mercado como um todo.
Art. 866. Se o executado não tiver outros bens penhoráveis ou se, tendo-os,
esses forem de difícil alienação ou insuficientes para saldar o crédito
executado, o juiz poderá ordenar a penhora de percentual de faturamento de
empresa. → O STJ costuma entender que percentuais razoáveis são
aqueles entre 5% e10%

Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora de frutos e rendimentos de coisa


móvel ou imóvel quando a considerar mais eficiente para o recebimento do
crédito e menos gravosa ao executado.

Mas como transformarmos essa penhora em satisfação do crédito? Através da


adjudicação, da alienação ou apropriação de frutos e rendimentos da empresa ou de
estabelecimento e outros bens, conforme art. 825 do CPC.
Art. 825. A expropriação consiste em:

I - adjudicação;

A adjudicação consiste no oferecimento de bem do executado como forma de total ou


parcialmente realizar o adimplemento da dívida. É medida coercitiva, sendo diferente da
dação em pagamento.

II - alienação;

A alienação consiste na transferência do bem para terceiros. É possível que seja


promovida uma alienação por iniciativa particular (o próprio exequente procura no mercado
a venda do bem, sem as burocracias de alienação judicial) ou pode ser uma alienação judicial.
Pode ser que o bem seja bursátil (aquele com cotação em bolsa), que será vendido no valor do
dia.

Os leilões (alienação judicial) hoje em dia raramente são feitos presencialmente. Cresce
cada vez mais o número de leilões realizados online.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 91


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III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de


estabelecimentos e de outros bens.

Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a


todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância
atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios.

O executado poderá, a qualquer tempo, remir a execução. Ou seja, poderá ele pagar o
valor do que foi requerido pelo exequente. Essa remição é da execução. Mas existe a chamada
remição do bem, que é diferente. Familiares do executado poderiam remir o valor de bem que
está sendo executado. Nesse caso, o valor restante da execução continua ocorrendo.

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Defesa do executado
– Aulas ministradas após a realização da segunda prova

A defesa do executado aqui se dará por meio de uma demanda incidental, chamada de
EMBARGOS À EXECUÇÃO, que, como perceberemos mais a frente, se tratou de uma solução
política do legislador.

Observação: Aqui há o nascimento de um novo processo, diferentemente da impugnação, que


é a defesa do réu na execução de título judicial (essa pode ter apenas um novo número, mas
não gera um novo processo).

Foi feita uma opção política, lançando mão do sistema da imputação (Sistema jurídico
brasileiro é um sistema de imputação – os fatos jurídicos terão seus efeitos determinados pelo
sistema jurídico, com uma liberdade significativa), ao reconhecer uma série de relações
jurídicas novas, visto que é um novo processo, não tendo efeitos apenas incidentais, como na
execução de título judicial. Aqui temos um novo processo incidental.

Observação: Há outras defesas que podem ser apresentadas pelo executado, a exemplo da
Exceção de Pré-Executividade (passível no caso de matérias que podem ser alegadas ex officio
e que não demandem dilação probatória), mas não será de todas as defesas que nascerá um
novo processo (p.ex.: a exceção de pré-executividade não dá origem a um novo processo).

Qual a motivação do legislador em reconhecer esse complexo de relações jurídicas,


ao determinar a criação de um novo processo? Nos autos do processo de execução, somente
devem ser praticados atos que vão em direção à execução, de forma a preservar a credibilidade
dos títulos de crédito na economia e no mercado. A defesa na execução por título judicial
permite uma discussão dentro do processo, mas possui matérias para alegação muito restritas,
visto que, em sua maioria, já foram cobertos pela preclusão (deveriam ter sido alegados na fase
de conhecimento).

Existe um prazo decadencial para oferecimento dos embargos à execução, que atinge
não o seu direito de se defender, mas sim o seu direito de se defender através dos embargos.

Devemos raciocinar sobre os Embargos à Execução sempre o considerando como uma


peça de defesa, apesar de formalmente consistir na propositura de uma demanda.

ART. 914 DO CPC

Na execução fiscal exigir a garantia do juízo para apresentação do juízo (apesar do STJ
considerar que poderá ser uma garantia parcial. Apenas na etapa de julgamento dos embargos
que se costuma exigir a garantia integral, sendo concedido prazo para complementação, sob
pena de não conhecimento dos embargos).

Lado outro, nas execuções “civis”, a apresentação dos embargos está desvinculada da
garantia ao juízo.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 93


Alberto Iervese

Em razão disso, houve também uma desvinculação da apresentação dos Embargos ao


momento da citação. No caso dos embargos, por não ser possível audiência de conciliação, o
prazo correrá a partir do momento de juntada do mandado aos autos.

Formarão um novo processo, com novos autos, obviamente distribuídos por


dependência ao processo de execução. Por ser um novo processo, os embargos devem estar
acompanhados dos documentos essenciais, ainda que disponíveis no processo principal
(p.ex.: a própria petição inicial).

Não se trata de excesso de autonomia, mas a de dar autonomia a esses autos, ou seja,
dar a possibilidade de análise do mesmo sem depender da análise de outro processo. Isso é
importante, inclusive, por conta da possibilidade de subida dos autos para o nível recursal.

§2º→ No caso de bens localizados em local diferente do qual foi apresentada a


execução, o juízo competente fará a citação e expedirá carta precatório em que o juízo
deprecado deverá “fazer todo o trabalho sujo” (penhora, avaliação e até mesmo alienação).
Apenas não poderá transferir os valores para o exequente, devendo transferir para uma conta
vinculada ao juízo deprecante. Nessa situação os Embargos poderão ser oferecidos tanto no
juízo deprecante quanto juízo deprecado, mas somente serão de competência para
julgamento do juízo deprecado no que tange a discussões sobre a penhora, avaliação e/ou
alienação por ele próprio praticados. Qualquer alegação para além disso, a competente é do
juízo deprecante.

ART. 915

O prazo para ajuizamento dos Embargos à Execução é decadencial, sendo ele de 15


(quinze) dias, na forma do art. 915 do CPC.

No caso de mais de um executado, a regra geral é que os prazos contem a partir da


juntada do respectivo mandado. A exceção é a situação de cônjuges ou companheiros, quando
o prazo para ambos será contado a partir da juntada do último. Trata-se de uma previsão que,
apesar de justa, pode causar sérias complicações no processo no que diz respeito à
comprovação da União Estável.

ART. 916 → Parcelamento é um direito potestativo do executado

§1º → o exequente poderá se manifestar sobre o preenchimento dos pressupostos do


caput (para concessão do parcelamento).

ART. 917 → O campo de defesa aqui é muito amplo (tudo pode ser alegado, tanto
matérias de execução – incisos I a V – quanto matérias do processo de conhecimento – inciso
VI, pois no processo de execução fundada em título extrajudicial não houve ainda a
possibilidade de apresentação de contraditório.

A incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por simples petição,


no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do ato.

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Art. 918 → IMPROCEDÊNCIA LIMINAR

NATUREZA PROTELATÓRIA

Art. 919 → Os embargos à execução não terão efeito suspensivo, via de regra. O juiz
pode atribuir efeito suspensivo se assim for requerido pelo embargante, desde que garantida
a execução e que presentes o fumus bonis iuris e o periculum in mora.

Há uma suspensão dos atos executivos, mas não da execução em si. É possível, por
exemplo, a realização da avaliação de um bem, substituição de um bem, diminuição da
penhora, reforço da execução, etc. Os atos necessários à organização da execução poderão ser
realizados (§5º)

Art. 920

Art. 921 → Segundo Salomão, é um artigo muito importante, principalmente no que


tange ao §4º e §5º, pois disciplina a prescrição intercorrente.

Esse artigo visa proteger o executado, pois assegura a suspensão da execução no caso
de não serem encontrados bens, e, posteriormente, o início do prazo para prescrição
intercorrente (05 anos).

Segundo o STJ, não importa nem mesmo se foram solicitadas diligências nesse tempo
(BACEN JUD, RENA JUD...), o prazo correrá mesmo assim. Exceto se forem encontrados bens.

Entretanto, se solicitadas diligências antes de decorrido o prazo prescricional, e apenas


após o prazo essas diligências apresentarem frutos, esses resultados retroagirão e serão
considerados validos.

Art. 922

Art. 923

Art. 924 → EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

Destacar incisos I e V

Art. 925

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