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Direito Processual

Civil Executivo e
01-01-2022

Recursos
Aulas Passadas

Rita G. E. Braamcamp
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
1º TESTE

Prática – 16/09/2022 (01)

Numa ação executiva a finalidade é que o tribunal adote as providencias adequadas à realização coativa de uma
obrigação que não foi cumprida voluntariamente. E que providências são essas? São as que atuem, desde logo, para
efetuar o cumprimento dessa obrigação. Nomeadamente, opera, desde logo, a penhora. A penhora é uma apreensão
judicial.

Como é que se chama a parte ativa da ação executiva? Exequente. E a parte passiva? Executado. Depois, quando o
executado se opõe à execução, o executado passa a ser o? Embargante. E o exequente passa a ser o? Embargado.

Aqui vamos falar muito daquele pressuposto sem o qual não existe ação executiva. Que é o título executivo. Só existe
ação executiva havendo processo declarativo antes. Podemos usar, como título executivo, para a ação executiva uma
sentença. Qualquer sentença? Não, só se for uma sentença condenatória. Pode ser título executivo qualquer sentença
que contenha uma imposição, comando, nem que seja a condenação em custas, nessa. O que é que falou o vosso
colega quando falou ali das condenações implícitas? Pode acontecer. Exemplo: declaração de nulidade. Qual é que é a
consequência? Restituição de tudo o que foi prestado. Se for inequívoco que da interpretação da causa de pedido e da
própria sentença, que embora o pedido não tenha sido feito expressamente, mas se resultar, de forma inequívoca, de
que resulta para além da declaração de nulidade, a condenação na restituição. Se resultar daí, sem que o tribunal viole
o princípio do pedido. Aqui há uma realização coativa.

Se olharmos para o art. 703º, significa o quê? Está vedado à liberdade contratual das partes criar títulos executivos.
Depois temos a enumeração taxativa destes. Temos de reparar na parte final da al. b) temos que certifiquem ou
constituam uma obrigação. Quando é que o documento constitui uma obrigação? Quando a obrigação não existe sem
aquele. Quando é que o documento certifica a existência da obrigação? Quando a obrigação existe previamente, o
documento limita-se a reconhecer a existência de uma obrigação.

Prática – 23/09/2022 (02)

1º requisito da exequibilidade da sentença: trânsito em julgado, salvo se o recurso contra ela interposto tiver efeito
meramente devolutivo, ou seja, a sentença pode ser executada.

Depois do trânsito em julgado, quando é que a sentença transita em julgado? Quando já não seja suscetível recurso
ordinário nem reclamação.

Eu tenho de saber que para o recurso ordinário é necessário que o valor da ação, o valor da causa, seja superior à
alçada do tribunal de que se recorre. Estou a recorrer do tribunal de 1ª instância, qual é a alçada do tribunal de 1ª
instância? 5.000.

Ora, se o valor da causa não excede essa alçada, significa que não é suscetível de recurso ordinário.

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Mas significa que ela transitou logo em julgado? Não, porque não sendo suscetível recurso ordinário, pode ser
suscetível de reclamação, e não havendo norma especial em contrato aplica-se o prazo geral, que são 10 dias. O que
significa que esta sentença só transitará em julgado depois decorridos esses 10 dias.

Mas mesmo nos casos em que a sentença seja suscetível de recurso ordinário, porque o valor da causa lhe permite, é
possível iniciarmos a execução antes do transito em julgado se for interposto recurso dessa sentença, desde que o
efeito, desse, seja meramente devolutivo.

Porquê essa palavrinha meramente? Porque é natural, é inato, aos recursos o efeito devolutivo. Devolutivo, aqui, no
sentido de enviar, remeter, a reapreciação da decisão para um tribunal de hierarquia superior àquilo que a proferiu, isto
chama-se, efeito devolutivo. Isto todos os recursos têm, porquê? Porque é esta característica que permite distinguir um
recurso da reclamação. Enquanto o recurso é apreciado num tribunal superior, a reclamação é dirigida ao próprio
tribunal que proferiu a decisão.

Ora, a este efeito devolutivo, que todos os recursos têm, pode acrescer o efeito suspensivo, no sentido de que suspende
a eficácia da decisão e, portanto, se suspende a eficácia da decisão a decisão não é eficaz até ao resultado do recurso e,
portanto, significa que não se pode executar.

Mas se ao efeito devolutivo não acrescer o efeito suspensivo e, regra geral, não acresce, diz-se então que o efeito do
recurso é meramente devolutivo. Ou seja, não suspende a eficácia da decisão e pode ser imediatamente executado.

Também constitui requisito de exequibilidade que a sentença que tenha condenado num pedido genérico, ao abrigo do
disposto no art. 609º CPC, só possa ser executada depois de liquidada previamente no processo declarativo, art. 704º
nº6.

Hipótese: A intenta uma ação contra B. Pede que B seja condenado a pagar 25.000.00. A ganha, B recorre.

Recurso ordinário para a relação, este recurso tem efeito meramente devolutivo. O que significa que o A pode
executar e a execução inicia-se e anda. O que é que a relação vem dizer? A relação vem dizer que B tem razão,
portanto, revoga a sentença. O que significa que deixa de haver TE porque já não há sentença condenatória, art. 704º
nº2, a execução extingue-se.

Mas o A agora recorre para o Supremo. Primeira coisa, temos de mudar o pedido, se for 25.000.00 não há recurso para
o Supremo. Temos de mudar para 50.000.00. E este recurso tem que efeito? É que o recurso de revista apenas tem
efeito suspensivo nos casos que dizem respeito ao estado e capacidade das pessoas. Mas, mesmo que, este recurso,
tivesse efeito suspensivo, era suspensivo do quê? Suspendia a revogação? Suspendia este acórdão que revogava? E,
portanto, qual é que era a eficácia prática? Era que a execução continuasse a correr.

O que é o que o acórdão da relação fez? Se este recurso que o A intenta tivesse efeito suspensivo, era suspensivo do
acórdão da relação, portanto, era como se esta revogação não existisse e, portanto, mantínhamos a sentença
condenatória, portanto, a execução mantinha-se.

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Ao intentar, o A irritado com a relação, recorre para o supremo, se este recurso tivesse efeito suspensivo, era
suspensivo do quê? Da decisão anterior. Qual é a decisão anterior? É a decisão da relação, suspendia o acórdão da
relação. Se suspende esse acórdão, o que é que nós temos em vigor? A sentença condenatória e, portanto, a execução
podia continuar.

Se formos ao art. 676º, o recurso de revista só tem efeito suspensivo em questões sob o estado das pessoas. Por regra,
o recurso para o supremo tem efeito apenas meramente devolutivo. A execução mantém-se porque não há decisão
definitiva.

O acórdão da relação se foi interposto recurso contra ele, não transitou em julgado, se não transitou em julgado não
há decisão definitiva. E o art. 704º nº2, diz que a execução se extingue ou modifica apenas com a decisão definitiva do
recurso. Só depois do supremo se pronunciar e do acórdão do supremo transitar em julgado é que vamos saber se a
execução se extingue, se a execução se modifica.

- Enquanto a sentença estiver pendente de recurso não pode o exequente ou qualquer credor ser pago sem prestar
caução. Significa que, nós, por este nº3, houve uma sentença condenatória, foi interposto recurso e que esse teve efeito
meramente devolutivo, porque se não tivesse nem sequer existia isto. E, ficamos a saber que, a execução prossegue,
podem ser penhorados os bens, mas o credor não será pago enquanto não prestar caução. Porquê? Porque não se sabe
ainda qual é que é a decisão definitiva.

Convém que façam uma revisão do art. 609º nº2. Se não houver elementos para fixar o objeto ou a quantidade o
tribunal condena no que vier a ser liquidado sem prejuízo de condenação imediata na parte que seja liquidada. É
aquele pedido genérico em que não é possível determinar toda a extensão dos danos e o tribunal pode condenar
naquilo que se vier a liquidar.

Quando estamos a falar de título executivo sentença e quando essa liquidação, como diz o art. 704º nº6, não dependa
de simples cálculo aritmético, quando é que não depende? Quando existem facto controvertidos e, portanto, é preciso
uma decisão de mérito. A sentença só constitui título executivo depois de se proceder à sua liquidação no processo
declarativo, art. 358º e seguintes, nomeadamente no nº8, o incidente de liquidação pode ser deduzido depois de ser
proferida sentença de condenação genérica, nos termos do nº2 do art. 609º e caso seja admitido a instância extingue-se
ou considera-se. Especifica os danos derivados do facto ilícito. Isto faz-se no processo declarativo, enquanto não se
fizer não se pode executar a sentença nesta parte ilíquida e cuja liquidação não depende de uma simples conta.

Agora um exemplo de iliquidez que depende de simples cálculo aritmético. Os juros de mora. Sentença, condeno o réu
a pagar ao autor 50.000.00 acrescido dos juros de mora vencidos e os que se vencerem até efetivo integral pagamento.
Agora vou executar, juros vencidos desde a data da citação, faço a conta.

Para haver ação executiva tem que haver título executivo, qual é o título executivo que temos? Sentença condenatória.
Já sabemos que a sentença condenatória só constitui título executivo depois do trânsito em julgado, salvo se o recurso
contra ela interposto tiver efeito meramente devolutivo. Isto estamos a falar dos requisitos aquilo a que o professor
lebre Freitas chama de exequibilidade extrínseca. O que é que é a exequibilidade extrínseca? São os requisitos do
título. O título executivo tem que ter lá dentro uma obrigação, a esta obrigação, é extrínseco, é o exterior que envolve
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a obrigação que está lá dentro. É isto que, no fundo, declara o direito do credor. Se houver direito o título comprava a
existência de tal obrigação. E agora vamos olhar ‘’para dentro’’, vamos analisar os requisitos de exequibilidade
intrínseca. Então, a obrigação tem que ser certa, líquida e exigível.

Aqui estivemos a falar da liquidez, o que é que é a liquidez? Significa que a obrigação tem que estar quantitativamente
determinada. Eu tenho de saber qual é que é o quantum da obrigação. Mas se o título executivo é a sentença e se a
sentença condenou nos termos do art. 609º nº2, eu tenho uma condenação numa obrigação ilíquida e, portanto, eu
tenho que a liquidar. Regra geral: a liquidação das obrigações faz-se por uma simples conta, através de um cálculo
aritmético, mas quando a sentença condena nos termos do art. 609º nº2 não basta essa simples conta, porque há factos
que necessitam de ser apreciados pelo tribunal e tem que haver uma decisão de mérito sobre esses factos para que o
tribunal então diga ao certo qual é que é o resultado que o devedor fica depois obrigado a incluir.

O autor vai novamente ao processo declarativo e vai, nesse processo, que deu origem a esta sentença, pedir o incidente
de liquidação.

OT – 29/09/2022 (03)

HIPÓTESES

Ana, Bernardo e Carlos herdeiros de Daniel, acordaram proceder à partilha da herança deste último,
estipulando, para além do mais, que um prédio rústico sito em Almada seria "dividido em três parcelas de igual
valor". O acordo foi formalizado em documento autêntico, assinado pelos três herdeiros. Após ter encetado
todas as diligências destinadas à outorga da escritura de partilha, Ana foi informada, pelos demais herdeiros,
que estes se recusam a cumprir o acordado.

Ana pode intentar ação executiva? Justifique

Para que Ana possa intentar uma ação executiva a mesma carece de título executivo. A lei enumera taxativamente
quais os documentos que podem ser considerados títulos executivos, designadamente o art.703º. Da leitura do preceito
resulta que os documentos autênticos desde que sejam constitutivos ou certificativos da existência de uma obrigação
podem servir de base à execução. Agora falta saber se neste caso há título executivo ou não. Esta introdução ajuda a
resolver o problema. Para que Ana possa intentar uma ação executiva tem que ser portadora de um título executivo, os
título executivo só são aqueles que estão enumerados no art.703º, importa depois verificar se o documento junto por
Ana é constitutivo ou certificativo de uma obrigação.

Qual é que é a obrigação exequenda aqui? Eles obrigaram-se a fazer o que? Dividir um terreno em três parcelas. Qual
é que é o problema? Há aqui uma armadilha, porque é uma hipótese que aponta para um caminho, mas não é o que é
suposto se fazer. O problema nesta hipótese é que para intentar uma ação executiva é preciso que exista uma ação
executiva para aquele fim. Qual é que é a finalidade da ação executiva? Pagamento de quantia certa? Não é o caso.
Entrega de coisa certa? Não é o caso. Prestação de facto? Qual é prestação de facto que pode ser aqui exigida se
necessário? Não há. Não há ação executiva aqui. Também não há ação executiva para o incumprimento de um
contrato promessa, o que há é uma ação de execução em específico.
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A ação executiva tem alguns limites. Ana não poderia intentar ação executiva porque as finalidades da ação executiva
não se ajustam à pretensão de Ana (art.10º), nenhuma das finalidades da ação executiva é suscetível de satisfazer os
interesses de Ana. No caso Ana teria que intentar uma ação declarativa, neste caso ação de divisão de coisa comum.

II

António e Bernardo celebraram, por documento particular autenticado, um contrato promessa de compra e
venda de um imóvel pelo preço de € 250.000; À data da celebração do contrato Bernardo na qualidade de
promitente-comprador, entregou a António a quantia de € 50.000,00 a título de sinal e princípio de pagamento.
O prazo acordado para a outorga do contrato prometido terminou a 31.08.2021

A escritura de compra e venda foi marcada para dia 30.08.2021; Bernardo compareceu no Cartório Notarial à
hora acordada; António não compareceu e, até á data não deu qualquer justificação;

Bernardo pretende, agora, intentar ação executiva para obter o pagamento de € 100.000,00, a titulo de
restituição do sinal em dobro, ou pelo menos para a restituição do sinal em singelo; Pode faze-lo? Justifique.

Em abstrato um documento autenticado pode ser título executivo mas deste que seja constitutivo ou certificativo de
uma obrigação. Um contrato promessa não é constitutivo ou certificativo, por si só, de uma obrigação.

III

Amílcar entregou a Bernardo, seu amigo de longa data, em Agosto de 2012, um documento particular,
assinado por aquele, onde se pode ler o seguinte:

Reconheço que devo a Bernardo a quantia de €500,00, que me emprestou, numa altura em que passava grandes
dificuldades. Mais declaro que me obrigo a proceder à devolução da mesma quantia logo que, decorrido 1 ano,
Bernardo me interpele para a devolução.

Em janeiro de 2020, Bernardo escreveu uma carta registada a Amílcar, onde — sublinhando que se encontrava
a passar graves dificuldades — o interpelava a proceder à restituição dos € 500,00.

Recusando-se Amílcar a proceder à devolução daquela quantia; Bernardo pretende saber se pode intentar de
imediato ação executiva. Justifique.

Para internar ação executiva é necessário que o exequente disponha de título executivo. Nos termos do art.703º
constitui título executivo os documentos autênticos ou autenticados. O documento particular não autenticado não é
título executivo. Mas é de Agosto de 2012, o que signifca que é anterior à data em vigor do código de processo civil
(setembro de 2013), assim sendo para os documentos particulares antes de 2013 temos que considerar a lei vigor à
data anterior, que permitia que documentos particulares constitutivos ou certificativos da existência de obrigações
podiam ser usados como título executivo.

Vamos imaginar que agora é documento particular autenticado. Aqui há uma confissão de dívida. É possível intentar
ação executiva ou não? Tem que se fazer prova da entrega ou não? Teremos que aplicar o art.707º?

Erro fácil de dar: mútuo é um contrato real quanto à constituição por isso temos que ir ao art.707º e tem-se que fazer
que entregou a quantia, se não se faz prova que entregou a quantia, não se verificam um requisito de exequibilidade.
Isso é responder automaticamente.
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Não aplicamos aqui o art.707º porque não há aqui um contrato em que alguém se esteja a obrigar, o que há é uma
confissão de dívida. Se reconhece que deve fica a prova da existência da obrigação. Este documento prova que houve
a entrega do dinheiro. A prova exigida no art.715º é qualquer prova, pode ser uma carta registada. A prova do art.707º
é mais exigente, o que se diz é que tem que fazer prova com base nos termos que as partes tiverem acordado ou com
base num documento que tenha força executiva, ou seja, documento autentico ou autenticado.

Então Bernardo pode intenção de imediato ação executiva? Sim, art.10º, art.56º do CPP anterior, à luz os documentos
particulares podiam ser usados como títulos executivos. Quanto à exequibilidade ele teria que fazer prova nos termos
do art.715º e essa prova pode ser feita com carta registada. Este documento é constitutivo ou certificativo de uma
obrigação? “Reconheço que deve”, ele não é devedor por reconhecer que é, é certificativo, certifica a existência de
uma obrigação.

Para aplicar o art.707º o que é que se tinha que provar? Que a obrigação surgiu, provar que ele entregou a quantia. O
artigo aplica-se quando a obrigação exequenda resulta de um determinado negocio e tem que se fazer prova que esse
negócio se concluiu. Ora, se o devedor diz que confessa que deve e que está obrigado a devolver, então não tem que
fazer prova de mais nada.

IV

“A” intentou contra “B” ação declarativa pedindo a condenação de “B” no pagamento do preço do


automóvel “X” que aquele vendeu a este.  “B” contestou invocando a nulidade do contrato. 

A. Admita que  a exceção foi julgada procedente e “B” veio a ser absolvido do pedido;

Bem que,  após o trânsito em julgado daquela sentença, “A”  intenta contra “B” ação executiva para
entrega (restituição) do automóvel “X”. Pode fazê-lo? Justifique.

Qual é a consequência da nulidade? As partes devem ser colocadas na situação que estariam se não tivessem celebrado
o contrato. O B provou que o contrato era nulo. Agora o A fica sem o dinheiro e sem o carro? O A provou que vendeu,
o contrato é nulo, há alguma duvida que o A tem o direito à restituição do automóvel? Pode fazê-lo?

1ª resposta possível → nos termos do art.703º, só as sentenças condenatórias é que podem servir de base à execução.
No caso em apreço não é uma sentença condenatória, sendo que não há título executivo.

2ª resposta possível → a lei estabelece como título executivo, sentenças condenatórias. No caso não há uma
condenação expressa, mas há orientações jurisprudências segundo as quais se resultar, ainda que tacitamente, de uma
decisão a vinculação de alguém a uma determinada conduta a sentença pode servir para base à execução.

Como é que é possível estarem as duas respostas bem? É uma ciência argumentativa, temos que ir à lei. O professor
não diz que estão as duas bem, diz que estão as duas mal explicadas. Depois quer saber a nossa opinião, mas não há
título executivo porque a teoria da condenação implícita implica que a obrigação exequenda seja uma obrigação que
resulta da própria sentença.

B. Admita agora que a ação é julgada procedente;

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Bem que, após o trânsito em julgado daquela sentença, “B”  intenta contra “A” ação executiva para entrega do
automóvel “X”;

Pode fazê-lo? Justifique

O que é que foi o pedido? O réu condenado a pagar o preço. Agora quem vem intentar a ação executiva? É o réu a
pedir que o autor seja condenado a entregar o automóvel que ainda não entregou. Eu tenho um título executivo para a
entrega de coisa certa. O que é que resulta da sentença? O que é que foi julgado procedente? A intentou contra B ação
declarativa de B no pagamento do preço e a ação foi julgada procedente, ou seja, B ficou obrigado a pagar a A o
preço. Não há duvida nenhuma que há título executivo de A contra B. Agora o problema é outra, há título executivo
para entrega de coisa móvel? Nada na hipótese permite concluir que o A está obrigado a entregar. A sentença não
condenatória só pode servir de base à execução se não houver duvidas que a obrigação exequenda, apesar de não
haver condenação expressa, a obrigação exequenda existe.

Estas hipóteses servem para pensar na teoria da condenação implícita, que nos diz mesmo que não haja condenação
expressa, em alguns casos podemos subentender a existência da obrigação exequenda. Agora é preciso que da leitura
da decisão resulte que exista obrigação exequenda, que não é o caso desta hipótese.

Prática – 30/09/2022 (04)

HIPÓTESE

O A por documento particular autenticado emprestou 50.000 € ao B. Na respetiva data de vencimento o B não
restitui o dinheiro. O A tem título executivo para iniciar, desde já, a ação executiva?

 Documentos – autênticos
 Documentos – particulares:
 autenticados (elaborados pelas partes mas que o conteúdo é certificado por um notário ou por outra
entidade com competência para tal),
 legalizados, particulares em sentido restrito.

Art.703º, nº1, al.b) → só são título executivos os documento autênticos, os documentos particulares autenticados. Os
documentos podem ser autênticos ou particulares, e os documentos particulares, por sua vez, podem ser autenticados,
legalizados ou simplesmente particulares em sentido restrito. Os documentos particulares autenticados são aqueles
que são elaborados pelas partes mas cujo conteúdo é certificado perante um notário ou perante uma entidade
profissional com competência para tal. Os documentos legalizados são aqueles cujas assinaturas se mostram
reconhecidas. Os documentos particulares em sentido restrito são os documentos escritos meramente assinados.

REGRA GERAL: Nos termos da alínea deste artigo, apenas são título executivo os documentos autênticos e os
particulares autenticados. E só são título executivo desde que deles conste a constituição ou o reconhecido da
existência de uma obrigação. Portanto, se eu tiver um documento autêntico ou se tiver um documento autenticado que
importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação é o que basta para haver título executivo.

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Sempre que temos um documento autentico ou autenticado não é para aplicar desde logo o art.707º, porque pode não
estar numa das situações em que é para aplicar esse artigo.

Porque é que existe o art.707º? A norma refere-se aos documentos autênticos e autenticados, mas depois diz mais
qualquer coisa, não se limita a falar apenas dos documentos. Para se aplicar o artigo é necessário que se verifique a
situação que constitui o seu âmbito da previsão. Qual é? É necessário que os documentos exarados ou autenticados
por notário ou entidades profissionais com competência para tal, em que se convencione prestações futuras ou se
preveja constituição de obrigações futuras. Portanto, para se aplicar este artigo é necessário que as partes
convencionem prestações futuras ou que prevejam a constituição de obrigações futuras. Nesse caso, estes documentos
para serem títulos executivos tem de ser complementados por outro documento. Qual documento? Qualquer que
seja desde que previsto ou na falta de previsão das partes tenha uma força executiva própria que prove que alguma
prestação foi efetuado para a conclusão do negócio ou que alguma obrigação foi constituída na sequência
daquilo que as partes previam. Isto pressupõe um primeiro momento em que temos um documento autêntico ou
autenticado, neste documento as partes convencionam prestação futuras ou prevêem a constituição de obrigações
futuras e depois um segundo momento em que temos um segundo documento que vai complementar este. Este
segundo documento das duas uma, o tipo de documento ou esta previsto no documento autentico ou autenticado ou o
documento tem de ter força executiva própria. O documento visa provar o que? Visa provar que alguma prestação foi
efetuada para conclusão do negócio ou que alguma obrigação foi constituída na sequência daquilo que as partes
convencionaram no primeiro momento.

Que situações é que cabem no art.707º? Diz o professor Lebre Freitas, acompanhado pela jurisprudência, que cabem
neste artigo aquelas situações de contratos preparatórios de contratos reais com onus constitutione, ou seja, que só
estão prefeitos com a efetiva entrega da coisa ou então em que as partes só prevêem apenas obrigações eventuais.
Exemplo: neste primeiro documento as partes constituem logo uma hipoteca que servirá para garantir uma futura
obrigação, que é eventual, não se sabe se vai constituir ou não.

Exemplo sobre os contratos de mútuo em conta corrente : um banco disponibiliza uma determinada quantia a um
particular quando este o solicitar. Já houve empréstimo? Não, porque o empréstimo só está perfeito com a entrega e
aqui o banco apenas se disponibiliza. É preciso que no momento posterior haja um documento que comprove a
respetiva entrega. Que documento é esse? É um documento que já está previsto ou se não tiver previsto, essa entrega
tem de ser provada com um documento que tenha força executiva própria.

Na hipótese o A emprestou, não se está a dizer que irá emprestar. Se já emprestou já houve contrato de mútuo, já
houve a entrega. Não é preciso um segundo documento a provar que houve entrega.

É este o âmbito do art.707º, não confundir com os contratos sinalagmáticos em que o credor de uma das obrigações
cumpre em primeiro lugar (exemplo: contrato de fornecimento – eu cumpro mas a outra parte ainda não cumpriu. Eu
tenho que ter um segundo documento para provar? Não, porque as prestações já existem. Aqui é uma situação de
exigibilidade onde se tem que aplicar o art.715º em que o credor tem que provar, para poder exigir da outra parte, que
já cumpriu a sua obrigação ou pelo menos que se oferecer para cumprir, sob pena de não o fazer de levar com uma
exceção de não cumprimento do contrato. Aqui não há futuro nenhum porque as obrigações já existem).
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O art.707º serve para fazer prova de que o contrato foi efetivamente efetuado. Como é que se efetiva um contrato? Se
o âmbito é dos contratos reais quanto à constituição , ele só está perfeito com a entrega, se já houve a entrega no
momento em que se celebrou o primeiro documento não é preciso o segundo documento. O segundo só é preciso
quando no primeiro documento apenas prevêem essa possibilidade. O tipo que vai revestir este segundo documento ou
está já previsto no primeiro ou se não tiver tem que ser um documento com força executiva própria, que é o que diz o
art.707º. “Desde que se prove, por documento passado em conformidade com as cláusulas deles constantes ou, sendo
aqueles omissos, revestido de força executiva própria” → este é o âmbito de aplicação do art.707º.

Nas outras situações, no art.715º é uma questão de se fazer prova da exigibilidade, para evitar que o devedor venha
invocar a exceção do não cumprimento do contrato. Exige-se ao credor que prove que já cumpriu ou que se ofereceu
para cumprir. Isto só existe nas situações dos contratos sinalagmáticos, em que o credor cumpriu em primeiro lugar.

Exemplo: o A vendeu um automóvel a B mas o automóvel era só para ser entregue daqui a 12 meses. Aqui não é
preciso ir para o art.707º. Se o vendedor do automóvel quiser executar a obrigação do comprador de pagar o preço só
tem que fazer prova que já entregou o automóvel (art.715º) → “Quando a obrigação esteja dependente de condição
suspensiva ou de uma prestação por parte do credor ou de terceiro, incumbe ao credor alegar e provar
documentalmente, no próprio requerimento executivo, que se verificou a condição ou que efetuou ou ofereceu a
prestação”. Há uma diferença, aqui, no nº1 o legislador diz apenas “provar documentalmente” mas não diz que tipo de
documento é que é, portanto pode ser um qualquer, não diz que tem de ser um documento revestido com força
executiva própria e mesmo que não seja possível provar com documento, diz o nº2 “o credor, ao requerer a execução,
oferece de imediato as respetivas provas” o que significa que pode ser feita a prova a qualquer momento. No art.707º
não. Aqui é a prova da exigibilidade, o art.707º é a prova complementar. O título executivo é sempre o primeiro, é por
isso que o outro documento tem de ser sempre complementar.

Quando virem um caso prático em que aparece um documento autentico ou um documento autenticado não vão logo
ao art.707º porque isso pode ser morte do artista. Regra geral: os documentos autênticos ou autenticados, desde que
constituam ou reconheçam uma obrigação são título executivo. Só precisam de prova complementar se estivermos no
campo do art.707º. Antes de 2013 discutia-se se o art.707º se aplicava aos documentos particulares, hoje em dia já não
temos esse problema porque documento particular não é um título executivo.

Exemplo: contrato de fornecimento de refeições → uma sociedade obrigou-se a fornecer 50 refeições diárias a uma
outra empresa tinha que pagar o montante que elas tinham combinando. A sociedade forneceu durante 3 meses e
depois deixou de fornecer porque a outra não pagava e intentou uma ação executiva porque o contrato tinha sido
celebrado por documento particular autenticado. Há título executivo? O fornecedor só tinha que fazer prova que já
cumpriu a sua obrigação, para o outro não dizer que não paga porque a sociedade não forneceu nada. As prestações já
existem, não preciso de provar que eu já cumpri a minha obrigação. Aqui não se aplica o art. 707º, aqui é uma situação
de exigibilidade que se tem de aplicar o art. 715º, o credor tem de provar que já cumpriu para poder exigir a outra.

Também pode acontecer que no mesmo documento se façam várias coisas, como por exemplo existir uma
determinada quantia que já foi entregue mas há outra para entregar. Para essa a entregar já se pode aplicar o art.707º.
Tudo depende da situação concreta.
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Art.707º → tem duas situações: acordos preparatórios ou contratos preparatórios de contratos reais quanto à
constituição ou constituição de obrigações eventuais futuras.

Art.715º → o que se pretende é fazer prova da exigibilidade. Requisitos da exequibilidade extrínseca e intrínseca.
Exequibilidade extrínseca é o próprio título (art.703º). Exequibilidade intrínseca tem haver com a obrigação da
exequenda, que tem que ser certa, líquida e exigível.

OT – 06/10/2022 (05)

HIPÓTESES

VI

António instaurou, nesta data, contra Bento, uma ação executiva, juntando ao requerimento inicial um
documento escrito autenticado, assinado por ambas as partes, em Fevereiro de 2021. De acordo com o referido
documento, António "emprestou" a Bento a quantia de € 20.000,00, devendo este proceder à restituição da
importância mutuada em 12 prestações mensais.

O empréstimo é um contrato real quanto à constituição. O contrato mútuo, empréstimo, só se concluiu com a entrega
da coisa, e nestas situações o art.707º expõe que o exequente tem que fazer prova complementar que o contrato se
concluiu. Ou nos concluímos que o documento faz prova que o contrato se concluiu ou não. Aqui ou o juiz interpreta a
palavra “emprestou” no sentido de entrega, que já entregou ou que ainda não houve entrega. Ambas as respostas são
corretas, no sentido que ambas estão justificadas.

A razão de ser do art.707º é querer que exista o maior grau de certeza quanto à existência da obrigação exequenda. A
situação em causa é permitir que alguém recorra ao tribunal e que possa penhorar bens de outra pessoa e
eventualmente vendê-los sem que seja necessário que o juiz declare se existe ou não uma obrigação. E é isso que está
em causa. Quando estamos a optar entre permitir que a ação executiva prossiga assim como está ou exigir que o autor
faça uma prova complementar, o que é que está aqui em causa? O que é que o legislador quer? Quer aumentar o grau
de certeza quanto à existência da obrigação exequenda. Se não fosse assim não era preciso pedir uma prova
complementar, esta serve para ter uma maior certeza. Dizer “empresto” não é a mesma coisa que dizer “entrego”.
Empréstimo não quer dizer que entreguei o dinheiro, apenas que me obrigo a entregar. Considerando a razão de ser do
art.707º o documento tem que fazer prova inequívoca da entrega da coisa cuja restituição se quer. Se não fizer prova
de que entregou qual é que vai ser o resultado final daquela execução? Se o credor não consegue provar que
emprestou porque provar que emprestou é provar é que entregou, porque é que foi deixar prosseguir? Se por acaso
existir obrigação e não conseguir fazer prova ainda tem todo o campo da ação declarativa para o fazer.

A ação prossegue se for feita a prova complementar. Agora é preciso justificar a interpretação teleológica do
art.707º. É uma interpretação que vai à procura ratio legis. Como é que nos resolvemos as questões em que há
divergência na interpretação? É fazer uma interpretação teleológica, que é uma interpretação que vai à procura do
sentido da norma, ou seja, tentar perceber o que é que o legislador entendeu.

10
Porque é que serve o art.707? Para existir um maior grau de de certeza quanto à existência da obrigação exequenda.
Aumentar o grau de certeza quanto à existência da obrigação exequenda, dizer empresto não é a mesma coisa que
dizer entrego.

FREQUÊNCIA

VII

A sociedade "MotorCrédito Lda", com sede na cidade de Lisboa, intentou contra Bernardo (residente no
Porto) e Carlos (residente em Luanda) uma ação executiva, dizendo que:

a) No dia 10 de agosto de 2021, emprestou a Bernardo e Carlos a quantia de € 100.000,00;


b) A "MotorCrédito Lda" obrigou-se a proceder à entrega daquela quantia no prazo máximo de
30 dias.
c) Bernardo e Carlos obrigaram-se a devolver a importância em causa no prazo máximo de 10
meses.
d) Até à data os executados apenas devolveram € 20.000,00.

A "MotorCrédito Lda" juntou ao requerimento inicial um documento autenticado, assinado pelo seu
representante legal, assim como por Bernardo e Carlos, onde resulta terem sido efetivamente estipuladas as
cláusulas invocadas.

A Exequente requereu a citação dos Executados para procederam, cada um, ao a pagamento de € 80.000,
acrescido de "todos os juros vencidos e vincendos".

Temos que ver qual é a forma do processo e depois, em função da forma do processo, dizemos se o requerimento é
entregue ao juiz para despacho ou entregue ao juiz de agente para penhora imediata. Admitindo que o processo é
imediato concluso ao juiz, indique qual o despacho liminar que a seu entender deveria ser proferido.

Ao requerimento inicial foi junto um documento onde podemos ler as três primeiras cláusulas [a), b) e c)]. Onde
podemos ler que a sociedade emprestou a Bernardo e Carlos 100.000,00 € e que a exequente obrigou-se a proceder à
entrega no prazo máximo de 30 dias e que Bernardo e Carlos obrigaram-se a devolver a importância no prazo máximo
de 10 meses e que até agora só devolveram 20.000,00.

A prova que devolveram 20.000,00 é o exequente que tem que provar? Não. A al.d) é uma informação que o
exequente faz no requerimento inicial. O juiz não tem que acreditar se aquilo que o exequente diz na petição é verdade
ou não. Um colega diz que se o exequente fez prova que só devolveram 20, então está a fazer prova que entregou 100.
Mas, isso não é prova, é uma alegação. Isso é o que exequente que diz. Ele deste documento não resulta que a
sociedade entregou 100.000,00 €. Antes pelo contrário, resulta que não entregou. Porque na al.b) diz que a sociedade
obrigou-se a proceder à entrega no prazo máximo de 30 dias. Se tem 30 dias para entregar, então é porque não
entregou. Se entrego, não fico obrigado a pagar no prazo de 30 dias. Tem de fazer prova complementar de que
entregou.

11
Então e agora é o art.707º ou art.715º?

O art.715º diz respeito à exigibilidade da obrigação. Qual é a diferença entre uma obrigação existente e uma obrigação
inexigível? Uma obrigação existente é aquela que se constituiu (exemplo: alguém está obrigado a fazer x). Quando
olhamos para este documento ficamos com a certeza absoluta que a obrigação de devolver existe? Não podemos ficar.
Porque se eu digo que me obrigo a entregar x no prazo de 30 dias, eu não estou a entregar, eu estou-me a obrigar a
entregar. E tenho que fazer prova que entreguei. A prova que entreguei é uma prova para a existência da obrigação ou
para a exigibilidade da obrigação? Para a existência da obrigação. Se a sociedade não entregou não é existente a
obrigação.

A obrigação pode ser existente mas não ser exigível – exemplo: o A empresta a B 1.000.000 € e diz que tem que
devolver o preço total daqui a 1 ano. Está obrigado a devolver, mas não posso exigir que me devolva já.

A obrigação exequenda é a obrigação que se esta a executar, que é a obrigação de devolver. Para existir a obrigação
de devolver é necessário que eu tenha entregue e este documento não faz prova daquela entrega.

Temos todos que perceber o porque de subsumirmos esta hipótese ao art.707º. A obrigação exequenda que está em
causa é a obrigação de devolver os 80.000,00. A obrigação de devolver pressupõe a existência do contrato de
empréstimo e o contrato de empréstimo só se conclui com à entrega. Este documento não prova a entrega, prova que
alguém se obrigou a entregar, não prova que cumpriu esta obrigação. Logo, o exequente tinha que fazer prova
complementar da entrega da quantia dos 100.000,00. Ele pede 80.000,00 porque depois confessa que já recebeu
20.000,00. Isto é uma confissão, é um facto que é desfavorável ao exequente. Porquê? A confissão é a declaração de
algo que é contrário aos interesses de quem declara. Quando a exequente diz que devolveram-lhe 20.000,00 está a
invocar um facto modificativo do direito, não está a invocar um facto constitutivo (que era eu emprestei 100.000,00).

Esta hipótese subsume-se ao art.707º. Invés de subsumir esta hipótese ao art.707º subsumimos ao art.715º? Ia dar ao
mesmo? O exequente nos termos do art.715º não tem tambem de fazer prova que cumpriu a prestação a que estava
vinculado? Ou seja, que entregou. Não é a mesma coisa. A previsão (indica a realidade a que essa norma se aplica) das
normas é diferente, mas a estatuição (efeito da norma) é igual ou não? Ia dar ao mesmo? No art.707º o legislador é
mais exigente, porque? Diz que tem que fazer prova complementar, de que forma? Com um documento passado em
conformidade com estipulado pelas partes. Quando as partes celebram o acordo podem ter dito: “para a prova da
conclusão é necessário um documento autentico/autenticado, é necessário isto ou aquilo”. Se as partes nada tiverem
dito quanto ao modo de provar, o que é que art.707º impõe? Que a prova seja feita com base num documento que
tenha força executiva própria. Que tipo de documento é este? Vamos ao art.703º (documento autentico ou autenticado)
E se eu aplicar o art.715º, está lá a prova documental. Não é a mesma coisa. Não é a mesma coisa a lei dizer: tem que
fazer prova documental nos termos acordados ou com documento com força executiva própria OU dizer só prova
documental.

Mas porque é que é assim? Porque razão é que o legislador é mais exigente no art.707º a do que no art.715º? Porque
no art.707º a prova tem que ser mais forte. Mas qual é a razão de ser? É aqui que entra a interpretação teleológica das
normas. Qual é a ratio legis (razão de ser da lei)?

12
 No art.715º a obrigação esta determinada e pede-se que se prove a sua exigibilidade, no art.707º essa
obrigação não está determinada.
 No art.707º visa demonstrar que está constituída uma obrigação.

O que é que é mais grave? Que uma execução prossiga para uma obrigação que não existe ou que uma uma execução
prossiga para uma obrigação que existe, mas ainda não é exigível naquele momento? Mais grave é que uma execução
possa prosseguir quando a obrigação exequenda não existe. Então o legislador quer mais garantias e por isso quer uma
prova mais forte.

Quando é que há indeferimento liminar? Quando não existe o título, é manifesta a inexistência do título. Aqui existe
título, faltam é os requisitos de exequibilidade do próprio título. Há um documento autentico ou autenticado, o que
falta é provar que efetivamente aquele negócio que está ali se concretizou.

É possível nos termos uma hipótese em que se aplique o art.707º e o art.715º? Ou seja, aplicamos o art.707º, mas
depois também temos que aplicar o art.715º. A hipótese diz “Bernardo e Carlos obrigaram-se a devolver a importância
em causa no prazo máximo de 10 meses” – se acrescentarem aqui alguma coisa temos que aplicar aqui também o
art.715º.

O que a hipótese tinha que dizer era “Bernardo e Carlos obrigaram-se a devolver a importância em causa no prazo
máximo de 10 meses (não a contar daqui, mas) a contar da data em que foram interpelados para devolver”. Então aí
tínhamos que fazer prova que entregou (art.707º) e prova que interpelou (art.715º). Se ele não fizesse prova de que
interpelou ficamos com duvidas quanto à existência da obrigação? A sociedade intentava a ação executiva, mas não
fazia prova da interpelação. Ele provava que entregou e estava demonstrada a existência da obrigação de devolver. Se
não provava a interpelação, estava por demonstrar a exigibilidade.

Exemplo: o A empresta a B 1.000.000,00€ e não combina com o B quando é que está obrigado a devolver. O B está
obrigado a devolver? Sim. Agora se não convencionarmos quando é que tem que devolver, só fica obrigado quando o
A interpelar. Há obrigação, mas não é exigível porque ainda não acabou o prazo para devolver.

Prática – 07/10/2022 (06)

Em primeiro lugar temos que saber o que é que o litisconsórcio e o que é a coligação. O que distingue a coligação do
litisconsórcio é que, no litisconsórcio à pluralidade de partes corresponde a unicidade de pedido, na coligação à
pluralidade de partes corresponde pluralidade de pedidos deduzidos de forma diferenciada.

 Litisconsórcio, pluralidade de partes e um único pedido;


 Coligação, pluralidade de partes e pluralidade de pedidos.

Um credor contra devedores coligados, vários credores litisconsortes contra vários devedores coligados, vários
credores coligados contra vários devedores coligados ou vários credores coligados contra um devedor. Vários credores
coligados contra vários devedores litisconsortes, isto é a coligação ativa. Ou seja, no fundo, os vários pedidos que são
produzidos são todos eles dirigidos àqueles devedores e não diferenciadamente.

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Exemplos: Repare na coligação, no processo declarativo quando a estudamos até dizemos que, o A intenta uma ação a
pedir a anulabilidade de um contrato e, depois, como o réu já tinha vendido a 3º, ele vai ter que também pedir a 3º, por
falta de legitimidade do réu que já vendeu, a nulidade desse contrato. Há dois pedidos, um contra o réu e outro contra
3º. Os pedidos são deduzidos diferenciadamente. Mas podemos ter, por exemplo, dois credores em que um faz um
pedido contra... imaginemos que temos duas pessoas que foram acidentadas, o acidente é o mesmo, mas cada um tem
o seu dano, os responsáveis do acidente são estes. Um faz o pedido contra estes dois, são litisconsortes, e o outro faz
um outro pedido, diferente, contra estes dois também. O que é que temos? Temos credores coligados e devedores
litisconsortes.

Na ação executiva, o processo executivo corre de forma diferente do declarativo. Nós no processo declarativo a
finalidade é obter uma determinada sentença, no executivo não é isso.

Na ação executiva o legislador toma umas atitudes mais restritivas, daí que no art. 56º, que tem que ser conjugado
com o art. 709º, se diga assim: quando não se verifica as circunstâncias impeditivas previstas no nº1 do art. 709º é
permitido a coligação. É permitida a coligação nestas situações. O que é que diz a lei:

1. Al. a), é permitido a vários credores coligados, estamos a falar da coligação ativa, demandar o mesmo
devedor, portanto, cada um dos devedores tem o seu título executivo, mas o devedor é o mesmo OU vários
devedores litisconsortes.

Exemplo: portanto imagine que tem um credor com um título executivo, outro credor com outro título executivo, outro
credor com outro título executivo, claro que todos eles têm o seu pedido. Intentam a ação contra o mesmo devedor,
portanto, o devedor é comum a eles três. OU então vários devedores comuns com vários pedidos, os pedidos não são
os mesmos, são distintos.

Credor 1, credor 2, credor 3 e depois temos devedor 1, devedor 2, devedor 3. Só que é como se os devedores fossem
só um. O credor 1 faz um pedido contra os três. O credor 2 faz um outro pedido contra os mesmo três. E o credor 3 faz
um outro pedido contra os mesmos 3. Devedores em litisconsorte. Um pedido contra três pessoas diferentes.

2. Al. b, temos a coligação passiva, é permitido a um credor ou vários credores litisconsortes demandar
vários devedores coligados desde que eles estejam obrigados no mesmo título. Aqui temos que ver que temos
vários devedores, cada um tem a sua obrigação, mas todos eles estão obrigados no mesmo título.

Vamos por partes: um credor vai demandar o devedor 1, o devedor 2 e o devedor 3.

Situação 1: Cada um, atenção que ele faz um pedido e, portanto, todos eles estão obrigados no mesmo título. Um
credor demanda vários devedores coligados, desde que obrigados no mesmo título, é a esta situação. Esta é a
primeira situação.

Situação 2: Ou vários credores litisconsortes, a situação é a mesma só que, credor 1, credor 2 e credor 3, todos eles
fazem o mesmo pedido, portanto, o credor 1,2 e 3 fazem um pedido contra o devedor 1, o credor 1, 2 e 3 faz um

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pedido contra o devedor 2, vários credores litisconsortes contra vários devedores coligados, desde que os
devedores estejam obrigados no mesmo título.

Situação 3: Credor 1, credor 2, credor 3, é a situação em que OU vários credores coligados demandam, devedor 1,
devedor 2, devedor 3, vários devedores coligados, desde que estejam obrigados pelo mesmo título:

 o credor 1 faz um pedido contra o devedor 3


 o credor 3 faz um pedido contra o devedor 1
 e o credor 2 faz um pedido contra o devedor 2

São pedidos diferentes deduzidos contra vários devedores coligados. Significa que só há um título executivo.

 Só interessa que o pedido seja o mesmo quando os devedores são coligados, NÃO litisconsortes.

E temos as três situações da alínea b) do art. 56º.

3. Al. c), a um OU a vários credores litisconsortes OU a vários credores coligados, a parte ativa é igual à que
vimos na al. b), demandar vários devedores coligados, *tomem atenção, na al. c) NÃO se exige que os devedores
coligados estejam obrigados no mesmo título*.

O que é que se exige? Que os devedores coligados sejam titulares de quinhões de um mesmo património autónomo
OU direitos relativos ao mesmo bem indiviso sobre os quais se faça incidir a penhora. O que significa que nós só
podemos saber se aplicamos a al. c) perante um caso concreto em que exista penhora. Só é possível demandar
por dois títulos diferentes dois devedores coligados se a penhora incidir sobre o bem indiviso.

Exemplo: temos o A que é uma agência de viagens e vende uma viagem à senhora B e que vende uma viagem à
senhora C. Elas são irmãs e até iam viajar juntas. Quis o destino que nenhuma delas pagasse as viagens. O A intentou
requerimento de injunção contra a B e um requerimento de injunção contra a C. Elas não responderam, foi aposta a
fórmula executória. Temos título executivo.

Pergunta: pode A intentar apenas uma ação executiva contra elas as duas? Vamos ao art. 56º e vemos: a al. a) não
aplico porque só se aplica quando existem vários credores coligados. Aqui só tenho um credor, portanto, a al. a) está
fora. Bem, mas a al. b), a um credor é possível demandar vários devedores coligados. Claro, um pedido executivo
contra B e um pedido executivo contra C. Mas é possível aplicar a al. b) aqui neste caso? Não porque eles não estão
obrigados no mesmo título. Portanto, qual era a ação do A para não intentar duas ações executivas? Era aplicar a al. c)
mas como é só pode aplicar a al. c)? É se, entretanto, elas, tinham aqui a mãe ou o pai, deixou-lhes determinado bem
que ainda não foi partilhado, portanto, têm aqui direitos relativos ao mesmo bem indiviso. Ora, só é possível
demandar por dois títulos diferentes dois devedores coligados se a penhora incidir sobre o bem indiviso e aí já
se justifica por que elas são ambas titulares de direitos sobre aquele mesmo bem.

Depois de nós vermos que há uma situação suscetível de criar uma situação de coligação é conveniente ir ao art. 709º
vermos então se se verifica alguma das situações impeditivas.

15
Art. 703º al. c), os títulos de crédito.

Nós estudamos basicamente 3 títulos de crédito, letras, livranças e cheques. As letras e os cheques já perderam a sua
normalidade, hoje em dia já quase nunca se paga com cheques. Mas as livranças ainda se costumam usar bastante.

Questão: saber ler a al. c).

 1ª situação: Títulos de crédito;


 2ª situação: não sendo já títulos de crédito são documentos que certificam a existência de uma obrigação,
ainda que meros quirógrafos.

Portanto, nós temos, o cheque que é um título de crédito que tem características próprias porque quando executando
um título de crédito como título de crédito estamos a executar a obrigação que decorre, que está incorporada, do
próprio título de crédito. Porque quando nasce a emissão de título de crédito estamos perante aquilo a que se chama
uma obrigação cartular que é autónoma da relação subjacente, da relação que porventura deu origem à emissão do
título de crédito. O negócio cambiário é um exemplo típico de um negócio abstrato.

Em teoria estudamos a diferença entre negócios causais e negócios abstratos. Os negócios abstratos são aqueles que
podem ter uma multiplicidade de causas.

Portanto, eu quando vos apresento um cheque, no cheque está lá dito: fulano tal, depois tem o banco, depois tem o
sítio para pôr o local de emissão, a data, o montante, à ordem de alguém, Rosa, a quantia de, paga-se à Rosa. E com
este cheque estou a dar uma ordem ao banco para que o banco vá à minha conta e me tire o dinheiro.

Alguém sabe o que é que foi isto? Pode ter sido para pagar qualquer coisa, pode ter sido uma doação, um empréstimo,
não sabemos, nem interessa. Porquê? Porque a obrigação decorrente do título de crédito é autónoma da relação
subjacente. Mas pode acontecer, pelas mais variadíssimas razões, que este título de crédito perca a sua natureza, a sua
força de título de crédito. Ou porque a relação cartular prescreveu, que é a emissão que decorre do título de crédito,
enquanto o prazo de prescrição, nós sabemos, o prazo ordinário é 20 dias. Num título de crédito é muito mais curto,
portanto se prescreveu já não vale como título de crédito. Ou no que diz respeito ao cheque, ao não apresentar num
prazo de 8 dias a contar da data da sua emissão e, se por acaso, o cheque bater na trave e voltar para trás acabou,
perdeu a sua força como título de crédito. Ou se não intentarmos a ação executiva num prazo de 6 meses já não serve.

Exemplo: um título de crédito que deixou de ser título de crédito, porque a obrigação cartular prescreveu, porque não
se respeitaram os requisitos de exequibilidade desse título de crédito como no caso de o cheque apresentá-lo no prazo
de 8 dias a pagamento a contar da data de emissão ou não intentar a ação num prazo de 6 meses a contar da data em
que foi comprovada a falta de provisão, perdeu a natureza de título de crédito.

Perdeu a natureza de título de crédito, mas a lei permite que ele possa ser título executivo, já não como título de
crédito, mas como mero quirógrafo.

O que é que é um mero quirógrafo? É apenas um documento que certifica a existência de uma obrigação. Mas qual
obrigação? A decorrente do título de crédito? Não porque já não estamos a falar de título de crédito. A obrigação da
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relação subjacente e, por isso é que a lei exige que tenham que ser alegados os factos constitutivos da relação
subjacente, porque um mero quirógrafo não diz. Porque um mero quirógrafo é um ex-cheque, ou uma ex-letra, ou uma
ex-livrança e o cheque, a lei ou a livrança não dizem lá para que é que são.

Ora como não diz, mas quando é título de crédito não tem que dizer porque o que se pretende é o cumprimento da
obrigação que está incorporada naquele próprio papelinho, que é o pagamento de uma determinada quantia
independentemente do porquê, mas quando esse papelinho deixa de ter a força de título de crédito, é um mero
documento que certifica a existência de uma obrigação, mas aí, que obrigação? Já não é a obrigação cartular porque
isto já não é título de crédito, a obrigação que decorreu da relação subjacente e aí já se tem que invocar os factos
constitutivos.

Exemplo: vendi não sei quantas toneladas de batata a fulano tal, ele para pagar passou este cheque, mas eu,
infelizmente, não pus o cheque a tempo ao banco, isto deixou de ter a natureza de título de crédito, mas olhe isto
comprova que ele me devia ter pagado a quantia de 5.000€ porque eu lhe vendi umas batatas. E a lei admite que isto
seja título executivo.

 Quando a lei se refere a mero quirógrafo é ex título de crédito.

Um mero quirógrafo é um documento particular. Certifica a existência de uma obrigação. Se alegar os factos
constitutivos da relação subjacente passa a valer como título executivo, se for um ex título de crédito. Não pode ser
um mero escrito assinado pelas partes.

Primeira situação complicada: suponham que eu vos fazia um mútuo. Uma doação e queria-vos doar 50.000€.
Passou-nos um cheque. Nós temos o cheque, vamos ao banco e o banco devolve-nos porque não tem provisão. E
deixamos passar os 6 meses para intentarmos a ação executiva. E queremos intentar ação contra o A. Não temos título
de crédito, passa a mero quirógrafo. Mas o que é que é a relação subjacente? É o mútuo no valor de 50.000€. Só é
válido se for celebrado por escritura pública ou documento autenticado. Então o mútuo é nulo, por falta de forma.
Pode-se executar na mesma? Não. E se eu vos disser que a jurisprudência diz que sim. Isto é que é mais complicado.
Foi só a entrega do cheque, não houve mais nada, portanto, o mútuo é nulo por falta de forma. A jurisprudência
entende que sim. O fundamento é que a lei diz desde que sejam invocados os factos constitutivos da relação
subjacente, só que lá está, a relação subjacente é uma relação formal. Só que a jurisprudência vem dizer que não nos
podemos esquecer que isto antes era um título de crédito abstrato, logo se era abstrato era independente da relação
subjacente, etc., etc., são uns argumentos que não convencem absolutamente nada o professor.

Segunda situação complicada: os títulos de crédito são essencialmente títulos de crédito à ordem que circulam através
do endosso. Então o que é que temos? Pensemos aqui numa letra. Temos o sacador e o sacado. E o sacador dá uma
ordem ao sacado para ir pagar a uma determinada data uma determinada quantia. Sabemos nós que estes 50.000€ era o
pagamento do preço que o sacado tinha que pagar ao sacador pelo fornecimento de qualquer coisa. Só que, o que é que
o sacador faz? Endossa, porque deve dinheiro a C, a letra a C. O que é que é um endosso? O endosso é uma nova
ordem de pagamento dada ao sacado para pagar, neste caso, ao endossado.

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Vamos supor que a obrigação decorrente desta letra prescreveu. E agora o C vai intentar a ação executiva contra
quem? Contra o sacado. Mas já não há título de crédito. Vai ter que invocar os factos constitutivos da relação
subjacente. Qual relação subjacente? O sacado não tem nenhuma relação subjacente com C. Portanto, o que é que o C
tinha que fazer? Tinha era que intentar a ação contra o sacador. O sacador é que é o devedor de C. Mas reparem que
isto no fundo é para facilitar a circulação do dinheiro. O sacador é credor do sacado, mas é devedor do C. Para que é
que o sacador há de estar a pagar ao C se tem haver do sacado, o que é que ele faz? Em vez de ele me pagar a mim e
eu te pagar a ti, eu dou-lhe uma ordem que ele pague a ti e fica tudo resolvido e tu se quiseres podes continuar a
endossar. Se tu C fores devedor de D endossas a D.

Isto que estamos aqui a falar, os factos constitutivos da relação subjacente, só vale no âmbito das relações imediatas.
O que é que isto quer dizer? É enquanto a letra não sai do âmbito dos titulares da relação subjacente. Tem que haver
uma coincidência entre os titulares da relação subjacente, entre os sujeitos da relação subjacente e os sujeitos da
relação cartular. Quando a relação cartular deixa de existir, deixamos de ter título de crédito, passamos a ter só a
relação subjacente e a ação executiva tem que ser movida entre os sujeitos da relação subjacente. Quando a letra sai, já
estamos no âmbito das relações mediatas e, portanto, aquilo que acabamos de dizer vai se repercutir nas outras.

OT – 13/10/2022 (07)

HIPÓTESES

VIII

António, comerciante, com residência em Lisboa, intentou contra Bernardo (casado com Carla, ambos
residentes no Porto) e Duarte, residente em Lisboa, ação executiva para pagamento das quantias de
6700.000.00 e € 25.000,00. Atento o requerimento inicial:

(i) a primeira quantia (€ 700.000,00) corresponde ao preço de um imóvel, sito em Cascais, que por
escritura pública António vendeu a Bernardo e Caria, tendo Duarte outorgado a mesma na
qualidade de fiador;

(ii) a segunda quantia (€ 25.000.00) corresponde ao valor da indemnização em que Bernardo foi
condenado, em consequência das agressões cometidas contra António.

Ao requerimento inicial, foi junto:

A) Cópia certificada da escritura pública referida;

B) Certidão judicial da sentença, ainda não transitada em julgado, proferida por um Tribunal Judicial da
Comarca do Porto em que Bernardo foi condenado a pagar a António a quantia global de € 725.000,00.

Pronuncie-se sobre a admissibilidade da ação executiva.

A pergunta é: se podia intentar a ação executiva nestes termos?

Temos o A, intentou contra B, que é casado com C, e intentou também a ação contra D, uma ação executiva para
pagamento de 725.000.00€. A primeira quantia, os 700.000.00€, corresponde ao preço de um imóvel situado em
Cascais, por escritura pública A vendeu a B e C. Depois, A foi agredido por B e o B foi já condenado na sentença a
18
pagar-lhe + 25.000.00€. Quem é que é o D? O D é o fiador na venda que A fez a B e C. Em que é que se traduz a
qualidade de fiador? Se B e C não pagarem pago eu, é o garante de obrigação de outrem. A intentou a ação executiva
contra B e D. Ao requerimento inicial foi junto cópia de certificado da escritura pública e a certidão judicial da
sentença que ainda não transitou em julgado e executou B e D.

Na hipótese temos um exequente A, dois executados B e D, uma obrigação de pagar 700.000.00€ dirigida contra B e
D e uma obrigação de pagar 25.000.00 mais para B. B tem a obrigação de pagar os 700.000.00 + os 25.000.00 e D tem
a obrigação solidária para com B de pagar os 700.000.00.

Sobre a admissibilidade da ação executiva começa-se sempre por dizer a mesma coisa:

1º - a admissibilidade da ação executiva está dependente da existência de título executivo.

No caso em apreço, na hipótese em causa, o exequente juntou uma cópia certificada da escritura pública e juntou uma
sentença. Ora se nos termos do art. 10º a execução pressupõe a existência de título executivo temos, antes de mais, de
verificar se os documentos juntos constituem título executivo para aquela execução.

2º - depois, verificar se estão preenchidos os requisitos de exequibilidade para as diferentes obrigações.

3º - saber se há uma coligação e se a coligação é admissível.

Relativamente a B:

Qual é o título que temos? A junta uma sentença condenatória que impôs a obrigação de pagar 725.000.00€.

Nos termos do art. 703º as sentenças condenatórias constituem título executivo. O A tem uma sentença contra B,
condenou o pagar 725.000.00€. Diz-se que a sentença ainda não transitou em julgado, mas nós sabemos que o facto
de a sentença não ter transitado em julgado não impede a ação executiva. Porquê? Porque os requisitos da
exequibilidade da sentença quais são? Que a sentença seja condenatória, que a sentença tenha transitado em julgado
ou que o recurso não tenho efeito suspensivo, ou seja, que o recurso tenha efeito meramente devolutivo.

Portanto, eu diria: a ação executiva pressupõe a existência de um título, art. 10º. Nos termos do art. 703º as sentenças
condenatórias constituem título executivo. Diz-se na hipótese que ainda não transitou, mas o transito da decisão não é
a única condição de exequibilidade, porque pode não ter transitado, porque foi interposto recurso, e ainda assim ser
possível a ação executiva porque o recurso tem efeito meramente devolutivo.

Relativamente a D:

Temos aqui uma dificuldade: a sentença não o condenou, e se a sentença não o condenou, não pode constituir título
executivo contra D. Ele juntou a escritura pública e o que é que tem a escritura pública? Temos que D outorgou a
escritura na qualidade de fiador. Temos que pensar: esta escritura pode servir de base à execução? Uma escritura
pública não é sempre título executivo, é título executivo SE for constitutiva ou certificativa da existência de uma
obrigação.

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Temos que ver se daquele documento resulta que o D ficou obrigado a pagar? É constitutiva? É certificativa? A
escritura formaliza um contrato, portanto, seria constitutiva da obrigação. Agora, o que é que nós lemos numa
escritura? D obriga-se a pagar 700.000.00€ a A, se ele não liquidar.

Este contrato pode subsumir-se ao art. 707º ou ao art. 715º? A exequibilidade dos documentos autênticos está prevista
no art. 707º. Se o título executivo é um documento autêntico temos que ir ao art. 707º e ver se a hipótese se subsume
ou não. Olhando para este artigo podemos incluir lá este contrato de garantia prestada por um 3º ou não?

Parece que há aqui uma condição suspensiva, o D só fica obrigado se o B não pagar. Condição suspensiva é um facto
futuro e incerto que faz depender a produção de efeitos de um contrato. O contrato não produz efeitos se não verificar
aquela condição. Saber se com a condição suspensiva ele está obrigado a pagar.

Ele celebrou hoje a escritura, HOJE ele está obrigado a pagar? Ele ficou obrigado a pagar sujeito a uma condição
suspensiva? Quando é que surge a obrigação? Qual é que é a melhor saída?

 É dizer que ele já está obrigado a pagar, mas esta obrigação só lhe é exigível quando se verificar a condição
do não pagamento,
 OU ele não está obrigado e a obrigação só surge quando o B não pagar.

Na perspetiva do professor, que é a da maioria dos autores, para podermos aplicar o art. 707º é a segunda situação.
Nós estamos a pensar no art. 707º para os contratos reais, aqueles contratos em que a obrigação só surge com a
entrega. Mas o art. 707º o que é que se prevê aí? Ainda outro tipo de situações, e que pode ser esta. Num contrato
prevê-se que alguém possa ficar vinculado no futuro vincular uma conduta. O fiador não está, desde logo,
obrigado a pagar. Agora vamos ver quando é que ele pode exigir? NÃO. Eu só estou obrigado a pagar quando o
outro não pagar. Prevê-se que no futuro alguém vá ficar obrigado.

Então subsumimos ao art. 707º, logo, o exequente tem que fazer prova de que a obrigação estava prevista de poder
acontecer, aconteceu. Então o A tem que fazer prova complementar, nos termos do art. 707º, que B não pagou. Como
é que ele faz essa prova? Com a sentença.

Ou seja, nesta hipótese, a sentença que condenou B é título executivo contra B e constitui a prova complementar do
título que a escritura pública representa relativamente a B.

Título executivo contra B sentença. Título executivo contra D escritura pública, porquê? Porque temos um contrato
em que se prevê que ele pode ficar obrigado a, não basta prever isto, tem de se demonstrar que ele ficou obrigado. Art.
707º, tem que se fazer prova de que a obrigação se veio a verificar tal como previsto. Como é que tem que fazer
prova? Com um documento passado em conformidade com o acordo ou com o documento que tenha força probatória,
tenha força executiva, ora, a sentença tem, logo, o A tem título executivo contra B, é a sentença, e título executivo
contra D, é a escritura.

B não tem que fazer prova complementar de nada, é uma sentença, condenou-o. D tem que fazer prova que B não
pagou, tem a prova mais que perfeita, tem a sentença, foi condenado a pagar.

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A responsabilidade do D relativamente a B é uma responsabilidade solidária.

Pergunta: B e D são devedores na mesma quantia ou são devedores em quantias diferentes? B e D são devedores
litisconsortes ou devedores coligados? Quanto aos 700.000.00€ como é que qualificamos a situação, é a mesma
obrigação ou são duas obrigações diferentes? É a mesma obrigação, se um pagar libera o outro. Estamos perante dois
devedores litisconsortes.

 É possível esta execução?

Há exequente, dois devedores litisconsortes, já vimos que o título é diferente. Pode esta execução ser instaurada
assim? Temos um credor, dois devedores litisconsortes. Se são litisconsortes, devemos admitir isto ou não? Art. 56º. É
a mesma obrigação, faz sentido que no mesmo processo se vá discutir se esta obrigação existe ou não. Imaginem que o
B já pagou. A intentava ação executiva contra B, discutia-se se B já pagou ou não. Depois, o A ia intentar uma nova
ação contra D e ia discutir-se exatamente a mesma coisa. Não, faz todo o sentido que a execução possa prosseguir
assim. Agora, vamos ver se a lei tem o mesmo entendimento que nós. Um credor, dois devedores litisconsortes.
Tínhamos aqui de ter em atenção que os títulos são diferentes, mas o facto de os títulos serem diferentes impede esta
coligação? Não, art. 56º al. a), a lei permite a vários ou um.

Outra hipótese: Vamos imaginar que na escritura se dizia que d ficava obrigado a pagar se B não pagasse e
desde que seja interpelado para pagar no prazo de...

Aqui tínhamos que aplicar o art. 715º. Sim, mas o 707º também. Aplicávamos os dois, o 707º para demonstrar que
a obrigação surgiu e o 715º para demonstrar que se tornou exigível.

Aqui podiam se levantar outras questões: A vendeu a B e C. A ação teria que ser também intentada contra a C?

O A tinha uma sentença condenatória contra o B, mas a sentença condenatória não era título executivo contra a mulher
porque não tinha sido condenada.

Nós vamos aprender, mais à frente, que em alguns casos quando o título executivo é apenas assinado por um dos
cônjuges no requerimento executivo vai invocar a comunicabilidade da divida. Se o título executivo for uma sentença
não pode invocar a comunicabilidade da divida. Faz sentido, porquê? Se quisesse responsabilizar tivesse demandado
ambos os cônjuges. Pode acontecer o título executivo ser um documento assinado apenas por um dos cônjuges e o
credor intentar a ação executiva contra ambos. Porque no requerimento inicial se prevê isso. No caso de título
negocial, não no caso da sentença.

IX

Duarte intentou ação executiva contra Ernesto, juntando como título um documento particular autenticado
assinado pelo executado e Fátima com o seguinte teor:

‘’Os abaixo-assinados obrigam-se a entregar a Duarte, no prazo máximo de 60 dias, o automóvel X, ou a


quantia correspondente ao seu valor, como contrapartida da entrega por parte de Duarte do automóvel y’’.

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Pergunta: A execução é admissível, nos termos indicados? Justifique.

Começamos por saber se temos título executivo ou não, não comecemos a pensar logo na legitimidade. Título
executivo, temos ou não? Documento autenticado assinado pelos dois, obrigam-se a entregar, no prazo de 60 dias, o
automóvel X ou uma quantia de dinheiro, mediante a entrega do automóvel Y.

Eles estão já obrigados a entregar o automóvel ou não? Ele ficou obrigado a partir do momento em que assinou o
documento. Ele está obrigado a entregar o automóvel, a obrigação de entregar o automóvel surgiu hoje. Tem que
cumprir a obrigação no prazo de 60 dias.

Lendo assim, qual é que é o artigo que vamos aplicar? Eu, a partir de hoje, tenho até 60 dias para entregar o
automóvel. EU TOU OBRIGADO. Eu fiz prova, com este documento, da existência da obrigação. Agora, já passaram
60 dias ou não? Não sabemos, não temos as datas. Vamos cair no 715º.

A execução é admissível nos termos indicados? Nós podíamos dizer assim, mas a pergunta té está mal feita. Isto foi
uma ação executiva intentada para quê? Qual é que é a execução? Não diz qual é. É uma execução para quê?

Pode ser uma execução para a entrega do automóvel X ou para a entrega da quantia. Nós o que é que temos aqui?
Temos uma obrigação alternativa. Ele obrigou-se em alternativa a entregar o automóvel X ou a entregar a quantia
correspondente. Então o exequente podia intentar a ação executiva, mas tinha que escolher a obrigação exequenda. A
quem é que pertence a escolha? Ao devedor, ele fica com a possibilidade de cumprir a sua obrigação entregando o
automóvel ou a quantia correspondente.

O exequente tem que tornar certa uma obrigação incerta. Então requer a notificação dos executados para optarem pela
obrigação que querem cumprir ou querem ser executados.

A Fátima emprestou a Guilhermina e Hélder a quantia de 100.000.00€. Obrigando-se a restituir a importância


até 10 de abril de 2022. À data da transferência da importância mutuada Guilhermina e Hélder entregaram a
Fátima, cada um, um cheque no valor de 50.000.00€. Com as datas: o de G 15 de abril e o Hélder 30 de abril.

A Fátima entregou os cheques e os cheques não tinham provisão.

O cheque assinado pela G foi apresentado a pagamento no 20 de abril e o cheque assinado pelo Hélder foi
apresentado a 10 de maio.

Temos que ver os requisitos de exequibilidade do título cambiário.

O cheque para valer como título executivo cambiário tem que ser apresentado a pagamento no prazo de 8 dias a contar
da data. Um foi o outro não. O último não foi. E a ação tem que ser proposta num prazo de 6 meses a contar da
devolução.

O que é que aqui parece que aconteceu? Um cheque vale como título executivo ainda como título de crédito e o outro
pode valer como mero quirógrafo. Como documento particular assinado. Temos títulos diferentes, e temos obrigações

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diferentes ou a obrigação é a mesma? Parece que um ficou obrigado a pagar 50 e o outro 50, parece que são devedores
coligados. Então, se são devedores coligados, coligados com títulos diferentes, parece que, a Fátima vai ter que propor
uma ação executiva contra o Hélder e uma ação executiva contra a Guilhermina.

A questão é saber: isto obriga a pensar se estão preenchidos os requisitos de exequibilidade dos cheques, relativamente
a um sim, relativamente a outro não, e quais é que são as implicações que daí resulta.

Depois, eu posso propor uma ação executiva, só uma, contra os dois? Vou ao art. 56º, o que é que diz? Um credor
pode demandar credores coligados desde que obrigados no mesmo título. Eu não tenho o mesmo título. Então tinha
que propor duas ações executivas, uma contra cada um.

Prática – 14/10/2022 (08)

Divergência doutrinária na competência internacional, art. 24º.

Esta divergência não tem razão de ser porque a jurisprudência resolve a situação. Reparem, o que é que o art. 24º do
regulamento diz? É competente o tribunal do local da execução. E porquê? Tem é que se entender o que é que é isso
de execução. Obviamente que para efeitos do regulamento execução vai ter que ser o lugar onde vão ser praticadas as
providências adequadas à realização coativa de uma obrigação porque não se pode pretender que um outro Estado
possa praticar atos revestidos de ius imperi no nosso Estado. Portanto, deve-se entender por lugar de execução o lugar
onde são praticados os atos de penhora. Exemplo: se vamos penhorar bens que estão situados em Portugal, neste caso,
a ação executiva tem que ser intentada em Portugal.

Além disso, mesmo que não se aplicasse o regulamento, sabe que só quando está em causa cidadãos de um Estado
membro, independentemente da sua nacionalidade, é que se aplica o regulamento, não nos podemos esquecer do art.
63º do CPC, que diz que a competência é exclusiva dos tribunais portugueses. Não se aplicando o regulamento. Mas o
que o regulamento vem apenas dizer é isto, é que é competente o tribunal do local da execução. Agora se se pretender
atos de penhora sobre bens imóveis situados em Portugal temos que ver qual é que é o tribunal competente e são os
tribunais portugueses.

E não nos podemos esquecer também, tratando-se de um título executivo quer seja ele sentença, é o mais importante, é
dispensável a necessidade de revisão de sentença estrangeira processo especial previsto nos códigos de processo civil.
Desde que traduzida, executa-se.

1º lugar importa saber quando é que os juízos locais ou centrais cíveis têm competência executiva.

Se a dúvida for só esta, rapidamente se resolve. Basta ir ao art. 117º da LOSJ. Diz o quê? Diz-nos o art. 117º, exercer
no âmbito das ações executivas de natureza cível no valor superior a 50.000.00€ as competências previstas no CPC,
agora vem a pedra no sapato, em circunscrições não abrangidas pela competência de outro juízo ou tribunal.

Portanto, só vai para o juízo central cível se:

1. a execução tiver valor superior a 50.000.00€

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2. se não houver circunscrição abrangida por outro juízo ou tribunal, porque se houver circunscrição abrangida
por outros juízos é para aí que vai. E que juízo é que é? Os juízos de execução.

Porque se formos ao art. 129º diz-se assim: ‘’ 1 - Compete aos juízos de execução exercer, no âmbito dos processos
de execução de natureza cível, as competências previstas no Código de Processo Civil. ’’. portanto, a distinção entre
juízo central e juízo local só interessa se houver circunscrição que não esteja abrangida por juízo de execução ou por
outro tribunal e, desde que, a execução tenha um valor superior a 50.000.00€.

Exemplo: título de crédito, 52.000.00€. quer intentar ação executiva com base neste título de crédito. Ação para
pagamento de quantia certa, 52.000.00€.

Qual é que é a regra da competência em razão do território? Neste caso, art. 89º, regra geral, domicílio do executado.
O executado tem domicílio em Tavira. Tavira fica no distrito de Faro. Qual é que é o tribunal competente? Tribunal
Judicial da Comarca de Faro, a comarca de Faro abrange o município de Tavira. Então, agora nos juízos de
competência especializada, nos termos do art. 81º nº3 da LOSJ, os tribunais de comarca podem se desdobrar em
juízos de competência especializada, de competência genérica ou de proximidade. Sabendo nós que a competência
especializada prevalece sobre a genérica, temos de ver se há algum juízo de execução que abranja Tavira, temos o
juízo de execução de Loulé. Onde é que vamos propor esta ação? No Tribunal Judicial da Comarca de Faro, no
juízo de competência especializada de execução de Loulé.

Agora supomos que na comarca de Faro não existe nenhum juízo de execução. Para onde é que íamos? Começamos
sempre pelos juízos de competência especializada. 50.000.00€ é num juízo central. Tavira tem juízo central cível?
Não. Então qual é o juízo central cível que abrange a circunscrição de Tavira? Juízo de competência especializada
central cível de Faro.

Agora vamos supor que não existia juízo central cível. Íamos ver qual é que podia ser. Então, temos o juízo de
competência genérica de Tavira. Mas só vamos para a genérica quando esgotamos a especializada.

Exemplo: a hipótese é a mesma, mas o réu tem domicílio em Seia. Seia pertence ao distrito da Guarda. Não tem juízo
de execução. E tem juízo central cível, temos que ir ver se abrange Seia. Não abrange. Temos que ir ver se Seia tem
competência genérica. E tem.

A regra do art. 89º tem aquela opção, nós já conhecemos, semelhante à do art. 71º, ‘’podendo o exequente optar pelo
lugar onde a obrigação devia ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o
domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha domicílio na mesma área
metropolitana.’’ Não é um em Lisboa e outro no Porto, ambos têm que ter na mesma área metropolitana, nos casos de
ser uma destas.

Mas atenção, temos que ver, no lugar onde a obrigação devia ser cumprida, obviamente que há uma regra supletiva, se
as partes não disserem onde é que a obrigação deve ser cumprida, é que quando se trata de obrigações pecuniárias, diz
no CC, onde é que deve ser cumprida? No domicílio do credor. Nós temos sempre que saber qual é o lugar, não basta

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dizer que o exequente pode optar. Está bem, mas optar onde? Temos que saber as regras e elas estão no direito
substantivo.

Agora, no art. 85º. Quando o título executivo for uma sentença temos que ir ao art. 85º.

O art. 85º nº1 consagra uma regra, o requerimento executivo, que é o documento que dá início à ação executiva. Mas
atenção, se houve uma sentença é porque houve uma ação declarativa previamente. É apresentado no processo em que
aquela foi proferida, aquela quem? A decisão. Portanto, o requerimento executivo vai ser apresentado no processo
declarativo. Correndo a execução, obviamente que se temos requerimento, inicia-se a execução, no processo
declarativo. A execução vai correr nos próprios autos da ação declarativa. Significa que isto são os autos da ação
declarativa, temos aqui o processo declarativo, e, obviamente, dou início à ação executiva com base naquele
requerimento e a ação executiva vai correr nos próprios autos da ação declarativa.

Mas continua. E, sendo tramitada, portanto, a marcha do processo, de forma autónoma, ou seja, a forma do
processo executivo não é a mesma do processo declarativo, e, portanto, é tramitada, marcha, com uma forma
autónoma do processo declarativo. Isto é a regra, agora vem a exceção: exceto quando o processo tenha, entretanto,
subido em recurso, qual processo é que subiu em recurso? O declarativo, a sentença.

Ora, se o processo subiu em recurso, subiu para onde? Para um tribunal superior ao que proferiu a decisão. Portanto se
subiu o processo não está no tribunal que proferiu a decisão, está num tribunal superior, logo, a execução não pode
correr nos próprios autos porque os autos não estão ali, estão num superior. Caso em que correr no traslado. O que é
que fica cá em baixo? Na 1ª instância? Fica uma certidão da sentença. Que é o traslado. O traslado mais não é que uma
certidão da sentença e, portanto, a execução vai correr no traslado. O processo já está no tribunal superior porque
subiu em recurso.

Isto faz sentido? O nosso legislador andou a criar juízos de execução e agora a execução vai correr nos próprios autos
da ação declarativa?

Nº2, ‘’quando, nos termos da lei de organização judiciária, seja competente para a execução secção especializada de
execução, deve ser remetida a esta, com caráter de urgência, cópia da sentença, do requerimento que deu início à
execução e dos documentos que o acompanham.’’ Quando nos termos da LOSJ o juízo competente seja o juízo
execução, porque existe na sua circunscrição territorial, o que é que a secretaria do tribunal em que correu a ação
declarativa deve fazer? Deve remeter a este, para o juízo de execução, com caracter de urgência. Havendo na
comarca, onde se situa o tribunal onde correu a ação declarativa, juízo de execução competente, a secretaria
onde correu a ação declarativa deve remeter, para esse, a cópia da sentença, do requerimento e dos documentos
que o acompanham.

Exemplo: esta sentença foi proferida pelo juízo central cível de Faro. A ação declarativa correu no juízo central cível
de Faro. O autor faz o requerimento ao processo declarativo e o que é que faz a secretaria? Remete para o juízo de
execução de Loulé, que abrange Faro.

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Não havendo juízo de competência especializada de execução o processo vai correr nos próprios autos da ação
declarativa.

Na execução para pagamento de quantia certa o processo executivo tem duas formas, ordinário e sumário. E
como é que nós sabemos que é a forma ordinária ou sumária? A lei diz. Vamos ao art. 550º. Neste caso, vai ser
executada no próprio processo, não podemos aplicar a al. a).

Ou seja, só quando a execução vai correr num juízo de execução, porque existia na circunscrição onde foi proferida a
sentença, aí é que vai correr fora dos autos da ação declarativa e, nesse caso, aplica-se o nº2 al.a) . Aqui é forma
sumária, mas a situação não é esta.

A situação é que não há juízo de execução e a execução vai ter que correr nos próprios autos da ação declarativa. Qual
é a forma? Autónoma porque é o art. 85º que o diz. Mas o que é que é isto de forma autónoma? É autónoma do
processo declarativo.

O legislador deu pelo erro, no art. 626º nº2, ‘’Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 550.º, a execução da decisão
condenatória no pagamento de quantia certa segue a tramitação prevista para a forma sumária , havendo lugar à
notificação do executado após a realização da penhora.’’. Com uma diferença, é que se vai substituir a citação pela
notificação. O que faz todo o sentido, porque se estamos a executar no próprio processo declarativo não faz sentido
haver nova citação.

Porque quando se aplica o processo sumário por força do art. 550º nº2 al. a), ou seja, quando se executam decisões
judiciais que não devam correr nos próprios autos, aí aplica-se o processo sumário puro, e, neste, se formos ao art.
856º, aqui há uma citação e faz sentido porque a execução está a correr fora do processo declarativo.

Processo ordinário, entra o requerimento, a secretaria faz o processo concluso ao juiz para despacho liminar que, ao
contrário do processo declarativo, é regra no processo declarativo, e só se tudo estiver como deve de ser é que o juiz
ordena a citação do executado para pagar ou para se opor à execução. no processo sumário não é assim.

No processo sumário, primeiro penhora-se e só depois é que se notifica ou cita quando corra fora dos autos para se
opor à execução e à penhora. Porque o processo sumário é menos formal do que o processo ordinário.

OT – 20/10/2022 (09)

HIPÓTESES

XI

António, residente no Porto, instaurou a 1 de Julho de 2022, contra Bento e Carla, ambos com residência em
Lisboa, uma ação executiva, juntando ao requerimento inicial (i) um cheque assinado por Bento, para
pagamento da quantia de € 35.000,00 com data de vencimento de 27 de Maio de 2022, e apresentado a
pagamento a 15 de Junho (ii) um documento particular autenticado, assinado por Carla onde se podia ler o
seguinte:

"Reconheço dever a António a quantia de € 35.000,00,"


26
No Requerimento Inicial, António limitava-se a afirmar ser credor dos executados, nos termos "dos
documentos juntos”.

1. Qual o tribunal competente para a execução

A competência deve ser aferida em razão de diversos critérios. No caso em apreço não há elementos de conexão com a
ordem jurídica estrangeira, pelo que não é preciso aplicar o art.59º. Em razão da matéria, os tribunais competentes
para as ações executivas são os tribunais judiciais, não está aqui em causa matéria atribuída aos tribunais
administrativos ou fiscais. Em razão da hierarquia os tribunais competentes para as ações executivas são os tribunais
judiciais de 1ª instância. Nos tribunais judiciais de 1ª instância, a competência pertence, por regra, aos tribunais de
comarca. Dentro dos tribunais de comarca temos que ter em conta a existência de juízos de competência especialidade.
Temos depois de determinar a competência em razão do território para aferir qual é a comarca em causa, para depois
vermos quais os tribunais que existem nessa mesma comarca.

Competência em razão do território: a regra geral está prevista no art.89º e o tribunal competente é o tribunal do
domicílio do executado, que é Lisboa. Logo, nos termos do nº1 do art.89º, o tribunal competente seria um Tribunal
Judicial da Comarca de Lisboa. Sabendo que na comarca de Lisboa existem todos os tribunais de competência
especializada, podemos concluir que o tribunal competente em razão do território seria o Juízo de Execução do
Tribunal da Comarca de Lisboa, nos termos conjugados do art.89º CPC e art.129º da LOSJ.

Na comarca de Lisboa temos dois juízos de execução:

 Juízo de execução da comarca de Lisboa, situado em Lisboa → área de jurisdição equivalente ao município de
Lisboa;
 E o juízo de execução da comarca de Lisboa, situado em Almada → área de jurisdição equivalente a todos os
municípios da margem sul. Até Setúbal.

Se o réu invés de ter residência em Lisboa tivesse em Almada, então poderíamos dizer que o tribunal competente seria
o Juízo de Execução do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa situado em Almada.

2. Quid juris se o requerimento executivo não se mostrasse assinado por Advogado?

Quanto é que é obrigatório constituir advogado na ação executiva? É sempre obrigatório constituir advogado nas
ações de valor superior à Alçada da Relação e nas de valor igual ou inferir a esta quantia, mas superior à Alçada do
Tribunal de 1ª instância, portanto, é obrigatório a cima de 30.000 (art.58º).

E agora? O juiz convidava o exequente a constituir advogado para sanar a falta do pressuposto processual.

3. A execução podia prosseguir conforme pretendido pelo exequente? Justifique.

A admissibilidade da ação executiva está dependente da existência de título executivo (art.10º), sem título não é
possível inteirar a execução porque o título executivo é um pressuposto sem o qual a ação não pode ser proposta. No
caso em apreço, relativamente a Bento, António juntou um cheque. Um cheque nos termos do art.703º pode constituir
título executivo. Para que um cheque possa constituir título executivo como cheque, é necessário nos termos da lei
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aplicada, designadamente da lei uniforme do cheque, para tanto é necessário que a obrigação cambiária não tenha
prescrito. Nos termos da lei aplicada a obrigação cambiária não prescreve se, se verificarem estas situações:

 é necessário que o cheque seja apresentado a pagamento no prazo de 8 dias a contar da data dele aposta;
 e que a execução seja intentada no prazo de 6 meses.

Basta que não se verifique alguma das situações para a obrigação cambiária prescrever. O que é que nos temos aqui?
O cheque, com data de vencimento de 27 de Maio, é apresentado a pagamento a 15 de Junho. Temos que concluir, nos
termos da lei uniforme do cheque (art.27º) que a obrigação cambiária prescreveu. O cheque, no caso em apreço não
pode ser considerado título executivo como título de crédito, podendo no entanto valer como mero quirógrafo desde
que, conforme o art.703º, al.c), o exequente alegue os factos constitutivos da relação subjacente. Sempre que aparecer
um cheque é este o nosso raciocínio:

 o cheque vale como título executivo enquanto título de crédito se a obrigação não tiver prescrito;
 Se a obrigação não tiver prescrito, o exequente não tem que alegar o que é que seja;
 Se a obrigação cambiária tiver prescrito, o cheque pode falar como mero quirógrafo, documento particular,
desde que o exequente alegue os factos constitutivos da relação subjacente.

Ora, no caso em análise o exequente cumpriu esse requisito? Não, no requerimento inicial António limitou-se a
afirmar ser credor dos executados nos termos dos “documentos juntos”, não sabemos o que deu origem ao cheque.
Relativamente a Bento, António não tem título executivo, para ter título precisava ter indicado os factos constitutivos
da relação subjacente. E quanto a Carla há título executivo ou não? António juntou um documento, ao particular
autenticado onde Carla dizia que reconhecia dever a António a quantia de 35.000,00€. Temos título executivo? Vamos
ao art.703º → documento autentico ou autenticados constitutivos ou certificativos da existência de uma obrigação .
Este documento é certificativo da existência de uma obrigação, ela reconhece que deve a António (confissão).

Então, relativamente a Bento, António não tem título executivo, mas tem título executivo quanto a Carla.

O António tinha que fazer alguma prova complementar para que a execução pode-se prosseguir contra Carla? Não, ela
confessa, é um documento certificativo, a dívida existe e é exigível..A execução podia prosseguir conforme pretendido
pelo exequente? Não, a execução não poderia prosseguir contra Bento porque o exequente não tem título executivo.
Mas relativamente a Carla poderia prosseguir porque há título executivo.

Sub-hipótese: vamos imaginar que invés de o cheque ter sido apresentado em 15 de julho tinha sido apresentado a 3
de julho, ou seja ainda não tinham recorrido os 8 dias, a obrigação cambiária não prescreveu e o cheque pode ser
apresentado como título de crédito. O exequente não disse porque é que o Bento lhe entregou o cheque, nem tem que
dizer, juntou o cheque, a obrigação cambiária não prescreveu. A execução pode prosseguir contra o Bento. Problema:
saber se é admissível esta coligação? Temos dois títulos, válidos e eficazes contra dois executados. Quando isso
acontece nos temos que aplicar o art.56º. É admissível esta coligação? Porque é que é uma coligação? Pressupõe a
existência de duas obrigações e dois executados, o que é o caso.

28
Antes de perguntarmos se o título é o mesmo ou não, temos que qualificar os devedores. Eles são devedores
litisconsortes ou são devedores coligados? Se forem devedores litisconsortes não tenho que ir à al.b). Temos uma
obrigação cambiaria e uma obrigação de natureza civil. Assim sendo, temos que dizer que eles são dois devedores
coligados. Eles são dois devedores coligados em que a coligação não é admissível porque pressupõe que eles tivessem
vinculados pelo mesmo título, e não estão porque temos dois documentos diferentes. Nesta sub-hipótese a execução
também não poderia prosseguir contra os dois.

XII

Aníbal, com residência em Lisboa, intentou contra Bernardo, residente em Almada, ação executiva para
pagamento da quantia de € 10.100,00. Ao Requerimento Inicial, Aníbal juntou uma sentença, proferida por um
Juízo Local Cível da Comarca do Porto, que condenou Bernardo e Carla a procederem ao pagamento de
€10.000,00.

Perguntas:

1. Qual o tribunal competente. Considere todos os critérios.

Uma vez que o título executivo é uma sentença aplicamos o art.85º. Onde é que foi proferida a decisão? No Juízo
Local Cível da Comarca do Porto, logo o requerimento executivo tinha que ser enviado para o Juízo Local Cível da
Comarca do Porto, que remetia esta execução para onde? O art.85º, nº2 diz que “ Quando, nos termos da lei de
organização judiciária, seja competente para a execução secção especializada de (juízo de) execução, deve ser
remetida a esta”. Qual o tribunal competente? O requerimento deveria ser apresentado no Tribunal Cível da Comarca
do Porto, mas quando nos termos da LOSJ seja competente para a execução secção especializada “ deve ser remetida a
esta, com caráter de urgência, cópia da sentença, do requerimento que deu início à execução e dos documentos que o
acompanham”. E isto vai para onde? Art.129º, nº3 LOSJ → “Para a execução das decisões proferidas pelo juízo
central cível é competente o juízo de execução que seria competente se a causa não fosse da competência daquele
juízo em razão do valor” – aqui não foi o juízo central cível, mas temos que aplicar o mesmo regime. Qual seria o
tribunal competente? Aplicamos a regra geral que é o domicílio dos executados. Então, aqui a execução deveria ser
remetida para o Juízo de Execução do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, sítio em Almada.

2. Pronuncie-se sobre a admissibilidade da ação executiva, nos termos apresentados.

A admissibilidade da ação executiva pressupõe a existência de um título. A sentença condenatória é título. Seria
admissível? O valor não é igual. 10.100,00€ para pagamento na quantia de 10.000,00€, mas foram condenados a
10.000,00€. Pode ser assim ou não? Art.703º → nº2 – consideram-se abrangidos pelo título os juros de mora, à taxa
legal, da obrigação dele constante. Então posso intentar uma ação executiva no valor de 10.100,00€ quando a
condenação foi só de 10.000,00€? A sentença não diz lá que são devidos juros de mora, mas o que tem que constar do
título não é a taxa, é a obrigação. Está lá juros de mora à obrigação que consta do título, portanto, o juiz não tem que
indicar lá a taxa, nem tem que condenar nos juros. Basta que esteja lá a obrigação. Desde que o exequente explica-se
porque é que chegou aos 100, esta sentença condenatória de 10.000,00€ podia ser título executivo para 10.100,00€.

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E não há aqui um problema de ilegitimidade? Quem é que foi condenado? A sentença foi contra Bernardo e Carla. Ele
pode intentar uma ação executiva só contra um? Pode, porque o litisconsortes é voluntário. Quando é que o
litisconsorte é necessário? Obrigação de entrega de coisa certa em que estejam vinculados mais do que um sujeito,
prestação de facto em que esteja vinculado mais do que um sujeito, ou obrigação pecuniária nos casos em que as
partes acordaram ou a lei expressamente determina que a obrigação tem que ser exigida a todos os devedores. Aqui o
Anibal poderia renunciar o direito relativamente a um e não renunciar relativamente a outro.

Prática – 21/10/2022 (10)

DÚVIDAS:

Art.726º - DESPACHO LIMINAR E CITAÇÃO DO EXECUTADO → nº2 – o juiz indefere liminarmente quando
seja manifesto a falta ou insuficiência do título executivo. Se o título executivo é a base da ação executiva, se for
manifesta, evidente para o juiz que não foi um mero lapso, um mero esquecimento do exequente quando intentou a
ação executiva não juntou o título executivo, se o juiz considerar que é manifesta a falta, tem que indeferir. Ou seja, se
por acaso apresentar como título executivo um documento particular do qual consta um contrato de compra e venda de
um bem imóvel e o exequente pretende usar esse documento para exigir o cumprimento da obrigação do preço, é
óbvio que é insuficiente porque não se prova uma compra e venda de um bem imóvel por um documento particular.
Manifesto tem que ser que para ao juiz que não exista dúvidas que não há título executivo ou para o juiz não existam
dúvidas que aquele título apresentado é manifestamente insuficiente para a obrigação que se pretende exigir.

Se não é manifesta, o que é que o juiz deve fazer? O juiz deve convidar a suprir a irregularidade. Se por acaso não
existir mesmo é óbvio que o exequente não pode inventar e o juiz indefere. Mas se não for manifeste o juiz não pode
indeferir logo, tem que convidar, é por isso que existe o nº4. Manifesto quer dizer que é inequívoco.

Exemplo → Eu apresento um título executivo no qual consta uma obrigação de pagar 500 e eu estou a pedir 800,
obviamente que na parte em que os 500 e os 800 não há título executivo. Se for ao art.724º o facto de haver título
executivo isso não dispensa o exequente do ónus de alegar factos. Até aos 500 tem título executivo e até aos 800 não
tem. O que é que ele faz? Tem que indeferir a parte que não tem mas não pode indeferir a parte que tem, por isso faz
um indeferimento parcial (nº3).

Exemplo → o que fariam se fossem juizes, num juízo de execução, e se vos fosse apresentando, como título executivo,
um documento autenticado no qual constam estes dizeres: eu confesso ser devedor da quantia de 50.000,00 a fulano
tal. Recebem o requerimento executivo, recebem o documento autenticado no qual consta a certificação do
reconhecimento da existência de uma obrigação e o que é que fariam? Na forma sumária não vamos ao art.726º (só
vamos a este artigo, na forma sumária quando o agente de execução suscita a intervenção do juiz). Portanto, segue a
forma ordinária. Seria execução para pagamento de quantia certa.

 Na ação executiva para pagamento de quantia certa a execução pode seguir a forma ordinária ou sumária.
Aqui onde fundamentavam que a forma é a ordinária? Ir ao art.550º, nº2 que nos diz quais as situações em que
o processo de execução para pagamento de quantia certa segue a forma sumária. Esta situação cabe aqui? Não,

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é um título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida superior a 10.000,00€ por isso tem que ir para a
ordinária.
 Qual seria o despacho liminar do juiz? É título executivo, segue a forma ordinária, o exequente preenche o
requerimento executivo, submete-o, junta o título executivo, a secretaria recebe, faz concluso ao juiz e agora o
juiz tem que fazer um despacho liminar. Qual? Cita. O executado apresenta embargos de executado (opõe-se à
execução), dizendo que o requerimento executivo é inédito por falta de causa de pedir, invoca o art.458º do
CC. Não se sabe qual é a causa, e o artigo diz que fica o credor dispensado de provar a relação subjacente (a
relação que deu origem ao documento). Mas não fica dispensado de a alegar no requerimento executivo
quando no art.724º diz “expõe sucintamente os factos” [al.e)]. O juiz não sabe a causa, o exequente não tem
que a provar, mas tem que a alegar, o que a lei diz é que dispensa a prova. O credor, embora esteja dispensado
de provar a causa, não está dispensado de alegar a causa: ele deve-me porque eu lhe emprestei ou ele deve-me
porque eu lhe vendi e ele não pagou. Tem que alegar qualquer coisa para saber qual é a causa. O credor
beneficia da presunção, o devedor é que fica com o ónus de provar que a causa indicada pelo credor não existe
ou se existe é inválida.
 O que é que o juiz deveria ter feito? Indeferir, porque não há causa de pedir. Ineptidão do requerimento
executivo.
 O requerimento executivo é inepto.

Exemplo desta situação de um caso que o professor foi advogado: um filho (A) intenta uma ação executiva contra o
pai (B). Quando eles estavam bem fizeram uma partilha de herança pela morte da esposa do B e o B ficou com a
maior parte da herança e teve que dar tornas aos filhos. O B assinou um documento no notário a dizer que se
reconhecia devedor da quantia de 400.000,00€ a A, que pagaria logo que possível. O pai não tinha direito para pagar
(a herança era imóveis) por isso reconheceu-se devedor. Não estava lá mais nada. O B entretanto vende um dos
imóveis e A soube disso e fez um arresto da quantia que estava no banco da quantia que o B tinha recebido da venda
do imóvel. Portanto, essa quantia está registada e que transformou na ação executiva em penhora. O A intenta a ação
executiva e junta o documento, mas não preenche nada. O professor não pode fazer nada quanto ao arresto. Ação
executiva – o juiz mandou citar e o professor embargou. Porque? Porque é inepto. O professor não pode dizer que não
há causa, porque aí o juiz ia pedir para provar que não havia. O professor só consegue alguma coisa dizendo que o
requerimento executivo é inepto por falta de pedir, porque não se sabe qual é a causa. E o professor não pode ser
obrigado a provar a inexistência de uma multiplicidade de causas. Agora não pode haver despacho convite porque de
ser citado, não pode o exequente vir a alterar a causa de pedir. Porque depois de citado tornam-se estáveis e o B não
confessou nada e só há a possibilidade de alterar a causa de pedir nos termos do art.265º. Qual é o remédio? Ineptidão.

Não esquecer que tem que ler também o art.724º. Neste artigo, o nº5 diz que quando o título executivo é um título de
crédito, obriga o exequente, a num determinado prazo, a juntar o original (10 dias).

Se o que está a executar já não é a obrigação cartular, ou seja, em que o cheque serve apenas para certificar a
existência da obrigação, o art.703º, nº1, al.c) diz logo que tem que indicar os factos constitutivos da relação subjacente
no próprio requerimento executivo. Se for cheque cheque acabou.

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Diferença entre Embargos de Terceiro e Embargos de Executado – os embargos de executado são o modo que a
lei faculta ao executado para se opor à execução. Tramitação da forma ordinária da forma executiva a pagamento de
quantia certa – requerimento executivo – secretaria – juiz – despacho liminar – estava tudo bem – citação do
executado para pagar ou opor-se - abre-se uma outra fase que é a fase da oposição.

A oposição na forma executiva assume a forma de embargos de executado (art.728º e seguintes). O executado passa
a chamar-se embargante e o exequente passa a ser o embargado. Quem dá início a este processo, que corre por apenso
à ação executiva, é o executado/embargante e é o exequente/embargado que depois vai contestar a petição de
embargo. Os embargues iniciam-se pelo executado por uma petição de embargos (foi isso que o professor fez quando
invocou a ineptidão da causa de pedir).

Os fundamentos da oposição variam consoante o titulo seja judicial ou extrajudicial. Se o título executivo for judicial
os fundamentos estão taxativamente indicados no art.729º. Mas se o título executivo for extrajudicial, para além dos
fundamentos do art.729º, o embargante/executado pode indicar qualquer meio de defesa que seria lícito invocar no
processo declarativo (art.731º).

Os embargos de terceiro são movidos por alguém que não é parte e que viu o seu património atingido ou por uma
penhora ou por uma outra diligência judicial que afete esse mesmo património. Exemplo: o A é credor de B, esta
dívida esta garantida por uma hipoteca de um imóvel que pertence a C, mas o A apenas intentou a ação executiva
contra o B, deixou de fora nos termos do art.54º o terceiro titular do bem que serve de garantia. É um litisconsórcio
voluntário nos termos do art.54º, nº2 e nº3. O C não é parte. O agente de execução penhora o bem do C, que não é
parte, então o C pode lançar mão dos embargos de terceiro (art.342º).

OT – 27/10/2022 (11)

HIPÓTESES

XIII

António, comerciante de automóveis, com residência em Lisboa, vendeu a Bernardo, casado, residente em
Paris, um automóvel pelo preço de € 10.000,00. Acordaram as partes que o preço seria pago, no prazo de dois
meses.

À data da celebração do contrato (1.1.2020) António entregou o automóvel a Bernardo e este entregou a
António dois cheques:

 o primeiro com a data de 31.01.2020, assinado por Bernardo com o valor de € 5.000,00.
 o segundo assinado por Carla (mulher de Bernardo), datado de 28.02.2020, com o valor de € 5.000,00.

Ambos os cheques foram apresentados a pagamento, na data constante dos mesmos, e devolvidos por falta de
provisão.

Depois de promessas sucessivas de Bernardo, de que iria proceder ao pagamento, António intentou uma ação
executiva contra Bernardo e Carla, pedindo que cada um dos executados fosse citado para proceder ao
pagamento, ou opor-se à execução de E 5.000,00 (cada), acrescida dos respetivos juros.

32
António no requerimento inicial, para alem de alegar os factos supra, juntou os dois cheques. Não foi
constituído mandatário.

Qual o despacho liminar a proferir pelo juiz.

Primeiro: temos que ver se há título executivo ou se não há título. Temos dois cheques. Os cheques foram
apresentados a pagamento na data constante dos mesmos. O que é que isto significa? Significa que o primeiro
requisito para que a obrigação cambiária não tenha prescrito está verificado. Quando é que prescreve a obrigação?
Quando não é apresentado num prazo de 8 dias. Se foi apresentado na data aposta não há problema. Quando é que a
execução foi proposta? Agora temos que verificar se está preenchido o outro requisito para que a obrigação cambiária
não prescreva. Os cheques foram apresentados e foram devolvidos por falta de provisão. Então? Não diz quando é que
ação foi intentada. Temos que abrir uma sub hipótese. Vamos admitir que a ação foi instaurada depois do prazo dos 6
meses, se houve muitas promessas o exequente não foi a correr constituir advogado para propor a ação em tribunal.

Tendo decorrido o prazo dos 6 meses sem proposta da execução temos de concluir que a obrigação cambiária
prescreveu. Se a obrigação cambiária prescreveu os cheques só valem como título executivo se o exequente indicar a
relação subjacente.

Temos que ver se é obrigatório constituir mandatário porque na hipótese diz que não constitui. Ver se é obrigatória a
constituição de mandatário ou não. Não é obrigatório a constituição de mandatário se o valor da ação for igual ou
inferior a 5.000.00€. Não é o caso, são dois cheques de 5.000.00€, ou seja, 10.000.00€, é obrigatória a constituição de
mandatário. As partes têm de se fazer representar, não é obrigatório ser por advogado, art. 58º nº3.

Mas é obrigatório constituir advogado nas ações de valor superior a 10.000.00€? Temos que ir ao art. 58º. As partes
têm que se fazer representar por advogado nas execuções de valor superior à alçada da Relação, 15.000.00€, não é o
caso. E nas de valor igual ou inferior a esta quantia, mas superior à alçada da 1ª instância, entre 5.000.00€ e
30.000.00€, tem que se constituir advogado quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos do processo
declarativo, e aqui? É obrigatório ou não.

O que é que é isso de seguir os termos do processo declarativo? É o juiz obrigar a pronunciar-se sobre a existência de
um direito, quando seja necessário praticar atos que exigem do juiz a decisão sobre a existência ou inexistência da
obrigação. O processo declarativo, o que é que é a ação declarativa? É aquela em que se pede ao juiz que declare se
qual a solução que resulta do direito para os factos que as partes levam ao tribunal. A ação declarativa é aquela em que
se pede ao juiz uma sentença. Procedimento declarativo é enxertar na ação executiva, é aquele conjunto de atos na
ação executiva que têm em vista obter uma decisão de um tribunal sobre a existência ou inexistência de uma
obrigação.

Ora, quando o exequente apresenta o requerimento executivo estamos perante um procedimento de natureza
declarativa? Não. Até este momento não há nenhum procedimento de natureza declarativa. Se o executado não
deduzir oposição o juiz não vai intervir. Não se vai pronunciar. Por isso, não constitui advogado, mas também não tem
que constituir. Qual é que era a possibilidade?

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Há aqui uma coisa importante, o juiz não devia convidar o exequente a constituir advogado, mas pode-se fazer
constituir por advogado, advogado estagiário ou solicitador. É UMA OPÇÃO DELE. Ele não é obrigado a constituir
mandatário/advogado porque não está aqui em causa um procedimento de natureza declarativa, mas não aplicando o
nº2, nós temos o nº3. E o que é que o nº3 diz?

Nós aplicamos o nº2 e nós dizemos que não é obrigatório fazer nada aqui porque não há um procedimento de natureza
declarativa, mas depois, temos de ir ver o nº3 e acima de 5.000.00 ele tem que ser representado , não tem que ser
representado por advogado, mas tem que ser representado. Logo, o juiz, convidava o exequente a constituir
mandatário, podia ser advogado, advogado estagiário ou solicitador.

Se o valor for superior a 30.000.00€ é sempre obrigatória a constituição de advogado, art. 58º nº1.

E agora o que é que o juiz tinha que fazer, tinha que pensar há título executivo ou não há. Juntou dois cheques, vamos
admitir que já passaram os 6 meses, mas o exequente invocou a relação subjacente. A relação subjacente é a compra e
venda do automóvel, mas a compra e venda a quem? A vendeu a B, não vendeu ao casal. António vendeu a Bernardo.
Depois, para além de alegar os factos supra... então o que é que ele alegou: eu vendi a Bernardo. Para me pagarem o
preço do automóvel, que eu já entreguei, entregaram-me dois cheques. Um assinado por B e outro assinado pela
mulher. Entreguei os cheques e vieram os dois devolvidos. Executo os dois.

É manifesta a falta de título? Não, não é manifesta, os cheques mesmo quando a obrigação tenha prescrito podem ser
título executivo desde que se invoque a relação subjacente. Integra-se no art. 703º. Os títulos são insuficientes?
Reparem, de acordo com a relação subjacente quem é que está obrigado a pagar? O Bernardo. Só o Bernardo é que
está obrigado.

Parece que não tem título executivo contra a Carla, só tem título contra B.

O que é que fazíamos? Indeferimento liminar? Parcial? Com que fundamento?

O juiz indefere liminarmente, já dissemos e bem, parcialmente. Indefere liminarmente a execução relativamente a
Carla, fundamento art. 726º nº2 al. b), é insuficiência do título porque o título contra a Carla não é certificativo ou
constitutivo da obrigação exequenda que é o pagamento do preço pela parte de B a A. Então é a insuficiência do título,
aquele cheque, não é manifesta a falta de título porque o cheque pode constituir título nos termos do art. 703º, é
insuficiente para aquela obrigação.

E porque não um despacho convite ao exequente? O que é que o exequente podia ter dito que não disse? Podia ter
invocado a comunicabilidade da dívida, a lei prevê que a execução possa prosseguir contra o cônjuge que não conste
no título como devedor desde que o exequente invoque a comunicabilidade da dívida. Aqui o que é que vos parece,
fazia sentido que o juiz convidasse? Não porque a obrigação exequenda não é uma obrigação de 10.000.00€, o
exequente disse: quero que a execução seja 5.000.00 para um e 5.000.00 para outro e, por isso, se diz 5.000.00 para
um e para o outro não está a pensar na comunicabilidade da dívida.

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O juiz diz assim, em função daquilo que o exequente me disse eu tenho que concluir que a dívida não se comunicou.
Ele quer executar duas obrigações, cada uma consta no seu cheque.

Então, indeferimento liminar parcial, porque não pode executar Carla, a execução podia prosseguir só contra o
Bernardo.

Ele tinha que fazer prova complementar de alguma coisa ou não? Ele tem título, indicou a relação subjacente. A
execução prosseguia para 10 ou para 5? Mas só tem título contra o B de 5. O juiz não vai deixar prosseguir a execução
por 10 quando ele apenas pediu 5.

Agora, mais alguma coisa? O exequente diz que vendeu a Bernardo. A relação subjacente é o contrato de compra e
venda, é um contrato sinalagmático. Quando o contrato é sinalagmático o exequente tem o ónus de provar que
entregou a coisa. Ele tem que juntar alguma prova de que juntou o automóvel ou não? Ele só juntou os cheques, se
fossemos juízos convidávamos o exequente a.…? Devíamos convidá-lo a fazer prova exigida nos termos do art. 715º.
O art. 715º diz-nos que quando a obrigação exequenda esteja dependente de uma prestação a ser efetuada pelo seu
exequente, o exequente tem que fazer prova de que cumpriu a sua obrigação. O art. 715º trata aqui da exigibilidade e
se o credor não fizer prova de que cumpriu a obrigação a que estava vinculado, a parte contrária pode invocar a
exceção de incumprimento. O legislador exige que se faça prova que ele cumpriu a sua parte. Quando a obrigação
esteja dependente de obrigação suspensiva incube ao credor alegar, ele alegou, e provar documentalmente, no próprio
requerimento executivo, que se verificou a condição ou que efetuou a prestação. Portanto, aqui podíamos levantar esta
hipótese. Ele alegou que entregou, mas o art. 715º exige que se faça prova documentalmente ou, reparem no nº2,
quando a prova não pode ser feita por documento o credor ao querer a execução oferece de imediato as referidas
provas.

O juiz olha para o requerimento executivo e diz a obrigação de pagar depende de o credor ter cumprido a sua
obrigação, ele alegou que entregou, mas tem que provar, ou apresenta prova documental ou requere a apresentação de
prova testemunhal. Não fez uma coisa nem outra, pelo que, convida-se o exequente a fazer prova documental de que
entregou ou a requerer a produção de prova. Tínhamos a possibilidade de o juiz convidar o exequente a fazer
prova complementar nos termos do art. 715º e indeferir liminar parcialmente a execução contra Carla.

Agora vamos complicar um bocadinho.

Imaginem que o exequente dizia: vendi a Bernardo e Carla o automóvel por 10.000.00€. o resto é exatamente a
mesma coisa. Ele diz que vendeu aos dois, isto altera alguma coisa ou não? Sim, nós passamos a ter dois títulos
executivos. 5.000.00 para um e 5.000.00 para outro. A execução podia prosseguir? Alterou-se a relação subjacente.
Ele não vendeu a B, vendeu a B e C. Cada um entregou um cheque de 5. O que é que fazíamos? Haveria um
litisconsórcio ou há uma coligação?

Temos: 1 exequente, 2 executados, 2 obrigações exequendas, 2 títulos. Isto é o quê? É uma coligação,
processualmente é uma coligação, pluralidade de partes, pluralidade de obrigações, é admissível? Para ser admissível,
nos termos do art. 56º, quando há coligação temos que aplicar a al. b), e então, não estão obrigados no mesmo título,
eles tinham que estar obrigados no mesmo título.
35
Então o que é que o juiz faz? Art. 56º, isto não pode seguir assim. Aqui o título executivo são dois cheques não dá.
Temos que ir ao art. 711º ver se há alguma exceção, não há. Se não é admissível nos termos do 56º podemos ir ver nos
termos do art. 59º.

Neste caso temos dois devedores coligados, dois títulos diferentes. Portanto, não há dúvida que o art. 56º não permite
esta coligação, agora o que se pergunta é: e o que é que o juiz faz? A execução não pode prosseguir. A dúvida é:
indeferimento liminar ou despacho convite. Convidava o exequente a sanar esta irregularidade. Notifique-se o
exequente nos seguintes termos, esta coligação não pode prosseguir, nos termos do art. 56º, uma vez que os
executados não estão obrigados no mesmo título, pelo que se convida o exequente a sanar a irregularidade.

E o que é que o exequente fazia? Como é que o exequente sanava isto? Das duas uma ou deixava cair a execução ou
desistia da execução relativamente a um dos sujeitos para que a execução pudesse prosseguir apenas contra um. Qual
é o princípio que está subjacente ao código? É o princípio da economia processual. Quando pode aproveitar aproveita.
Faz sentido aproveitar aqui? Faz. Qual é que é o outro lado? Indefere liminarmente. Íamos ao art. 726º. E onde é
que fundamentávamos o indeferimento liminar? Manifesta a falta de título? Não, tem dois cheques e invocou a relação
subjacente, temos insuficiência do título? Também não. Os títulos são suficientes, agora na 2ª hipótese, quando ele diz
que vendeu aos dois.

Ocorrem exceções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso, onde é que está a exceção dilatória? Art. 577º,
al. f) ‘’ A coligação de autores ou réus, quando entre os pedidos não exista a conexão exigida no artigo 36.º’’. Esta
está pensada para a ação declarativa, mas temos de adaptar para a nossa situação.

Para indeferir liminarmente teria que ser, aqui, por uma irregularidade de natureza processual. A única
possibilidade de indeferir liminarmente é esta.

Ora, o juiz tem aqui campo para convidar, o nº4 do art. 726º diz, ‘’Fora dos casos previstos no n.º 2, o juiz convida o
exequente a suprir as irregularidades do requerimento executivo, bem como a sanar a falta de pressupostos’’, fora das
situações previstas o juiz convida o exequente a sanar as irregularidades do requerimento executivo, bem como a falta
de pressupostos.

O juiz convidava o exequente a sanar a irregularidade que se traduzia aqui numa coligação não convertida.

Prática – 28/10/2022 (12)

A oposição já não sai, só sai até aos autos.

A falta é omissão e insuficiente é, por exemplo, naquelas situações em que o documento tem que ter uma determinada
forma e não tem. Se é falta é porque não foi apresentado. Agora, do requerimento executivo o juiz pode verificar que é
manifesta a falta, ou seja, que não existe. Ou melhor, o juiz até pode partir do princípio que existe, está na dúvida, mas
não foi junto e, por isso, é uma falta manifesta.

HIPÓTESE

36
XIV

Abel, construtor civil, residente no Porto, intentou em 01/07/2021, contra Bento (casado com Carla, ambos
residentes em Lisboa) e Daniel, residente em Coimbra ação executiva para pagamento das quantias de
50.000,00€ e 15.000,00€.

De acordo com o alegado no requerimento executivo, a quantia de 50.000,00€ correspondia ao preço das obras
que Abel efetuou num imóvel sito em Faro de que Bento e Daniel são comproprietários. E a segunda quantia
(15.000,00€) correspondia ao preço das remodelações que Abel havia efetuado na casa em que Bento vive com a
mulher.

Ao requerimento executivo, Abel juntou um requerimento de injunção instaurado contra Bento e Daniel, no
valor dos 50.000,00€ e no qual foi aposta fórmula executória e um cheque (15.000,00€) devolvido por falta de
provisão, imitido por Bento à ordem de Abel, em 01/03/2021 e apresentado a pagamento no dia 03/03/2021.

1- Pronuncie-se sobre a admissibilidade da ação executiva intentada e indique qual o despacho liminar que,
no seu entender, o juiz deveria proferir. Justifique.

Resposta de um aluno: Relativamente há admissibilidade da ação executiva diz-se que há aqui uma coligação que não
é permitida porque há duas obrigações e dois requerimentos. O cheque em relação há compra e venda seria um
indeferimento parcial, ou seja, Abel poderia deixar cair uma das obrigações e prosseguia ou podia fazer-se um convite
ao aperfeiçoamento, mas crê que não fosse possível, sendo que a justificação ao despacho seria o art. 726º nº2 al. b),
quando há exceções dilatórias, neste caso, relativamente à coligação.

Professor: Ou seja, o que é que temos aí? Temos que o Abel, numa ação executiva, contra Bento e Daniel faz um
pedido executivo, para o qual, junta um requerimento de injunção com fórmula executória no valor de 50.000.00€ e
deduz, quer, apenas quanto a Bento um pedido de 15.000.00€, relativamente a umas obras que fez, juntando como
título executivo um cheque. Portanto, deduz um pedido contra dois devedores litisconsortes, mas o Daniel e Bento por
referência à obrigação dos 15.000.00€ são devedores coligados. E, portanto, havendo uma coligação á que analisar os
requisitos da coligação, art. 56º. E, reparem, que também há cumulação de execução, ele quer os 50.000.00€ e os
15.000.00€, está prevista no art. 711º.

Analisando os títulos executivos, verifica-se que temos um requerimento de injunção ao qual foi aposta uma fórmula
executória e temos um cheque sem problema nenhum. O cheque foi devolvido por falta de provisão, mas fora isso não
temos nenhum problema em lei uniforme. Temos um título de crédito e sabemos que os títulos de crédito são títulos
executivos nos termos do art. 703º nº1 al. c), tal como sabemos que o requerimento de injunção ao qual foi aposta
a fórmula executória é também título executivo nos termos do art. 14º do decreto-lei 269/1998, portanto, por aqui,
não temos qualquer tipo de problema.

Agora, analisando o modo como a ação foi proposta contra Bento e Daniel e contra Bento para que sejam executadas
DUAS obrigações deduzidas diferenciadamente, portanto, há pluralidade de pedidos corresponde a pluralidade de
partes, é obvio que existe uma situação de coligação. Ora, e coligação passiva, sendo uma situação de coligação

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passiva há que analisar o art. 56º. Nos termos do art. 56º nº1 al. b) só é admissível a coligação passível se os
devedores estiverem obrigados no mesmo título, portanto, é patente que os devedores não estão obrigados no mesmo
título e, assim sendo, também não se aplica a al. c), só se admite no caso de penhora, aqui nem se fala de penhora, por
violação do disposto na al. b) do nº1 do art. 56º a coligação não é admissível.

E, portanto, qual o despacho que o juiz devia proferir? O juiz em homenagem, em cumprimento, ao disposto no art. 6º
nº2 e 726º nº4, deveria proferir o despacho convite para que no que convidar o exequente a vir dizer por qual dos
pedidos executivos optava. Sob pena de o requerimento ser totalmente indeferido. Sob pena de, se ele não
corresponder ao convite do juiz, se indeferir o requerimento executivo na sua totalidade.

2- Qual o tribunal competente? Justifique.

Sabendo que o Abel é do Porto, o Bento é de Lisboa e o Daniel é de Coimbra. Vamos começar do início. Quanto em
razão da matéria não há dúvida, absolutamente, nenhuma que isto é da matéria dos tribunais judiciais.

Não esquecer o que está dito no art. 129º da LOSJ, temos aqui certos juízos de competência especializada e tribunais
de competência territorial alargada que têm competência executiva para a execução das suas próprias decisões. É
irrelevante, não temos nenhuma decisão.

Quanto à hierarquia, aqui, é que não há dúvida nenhuma, porque em termos de hierarquia só os tribunais de 1ª
instância é que têm competência.

Quanto ao valor, juízo central cível ou local cível consoante o valor. Já sabemos o que é que diz o art. 117º da LOSJ.
Isto só é importante para as situações em que na Comarca territorialmente competente não exista o juízo de execução.
Havendo juízo de execução, diz o art. 129º nº1, é esse o competente para exercer a jurisdição.

Quanto ao território, a questão não é complicada. Nós temos que avaliar a ação independentemente de sabermos se é
admissível ou não. Estamos perante dois títulos executivos extrajudiciais e, portanto, quando o título executivo é
extrajudicial não temos que nos dirigir a nenhuma outra norma que não seja a do art. 89º. E o art. 89º consagra a
regra do domicílio do executado. Não se pode aplicar a segunda parte do art. 89º nº1 porque ninguém tem domicílio
nas mesmas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, nem os executados são pessoas coletivas.

Agora, coloca-se a questão, mas temos dois executados como domicílios diferentes, um com domicílio em Lisboa e
outro com domicílio em Coimbra. O Abel pode escolher onde é que quer intentar a ação, ou em Lisboa ou em
Coimbra, nos termos do art. 82º. Temos como critério de competência em razão do território o domicílio do
executado, mas havendo mais que um executado e com domicílios diferentes, o exequente pode optar. Temos que
aplicar a regra que está pensada no art. 82º. Se houvesse vários executados com o mesmo domicílio era no da
maioria, não havendo maioria o exequente pode optar. E, quer em Lisboa, quer em Coimbra existem juízos de
execução.

Art. 89º nº2, dividas providas com garantia real ou para entrega de coisa. Aqui, não tem nada a ver com o imóvel.
Aqui era art. 89º nº 1, primeira parte.

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Por exemplo, se aqui tivéssemos uma decisão, imaginem que o título executivo era uma sentença, teríamos sempre
que aplicar o art. 85º. Não se pode executar uma sentença de forma diferente daquela que diz o art. 85º.

Sabem o que é que é complicado? É interpretar o art. 129º nº3 da LOSJ. Atenção, o 129º nº3 pressupõe a execução de
uma decisão, decisão judicial. Nº3 → “Para a execução de decisões proferidas pelo juízo local civil é competente o
juízo de execução que seria competente se a causa não fosse da competência daquele juízo em razão do valor”.

Qual foi o tribunal que proferiu a decisão? Foi um juízo central cível. Portanto, atenção, estamos a falar das Comarcas
onde existem juízo de execução. Portanto, o juízo central cível proferiu uma sentença. E, nós agora, queremos
executá-la.

Já sabemos o que é que temos de fazer, temos que dirigir o requerimento executivo ao tribunal que proferiu a
decisão, mas depois se houver juízo de execução, a secretaria, vai ser remetido para o juízo de execução. Qual juízo
de execução? O juízo de execução cuja circunscrição caiba na circunscrição territorial do juízo local cível com
competência genérica com forme os casos.

Isto é para garantir o quê? O que o legislador quer é retirar aos juízos centrais cíveis as execuções das decisões que
elas possam ter que correr nos próprios autos e, portanto, é mais fácil encontrar um juízo de execução que caiba no
âmbito da circunscrição territorial do juízo local cível ou do de competência genérica do que um juízo central. Então
ele diz, ok, em vez de estares a executar nos próprios autos, uma vez que na Comarca até existe um juízo de execução,
mas que só tem circunscrição territorial para o juízo local cível ou de competência genérica, seria competente para ter
proferido esta sentença se não tivesse sido o valor. O requerimento executivo é sempre apresentado no 1º tribunal, a
secretaria depois é que tem que remeter para o juízo de execução que seria competente em função da circunscrição do
juízo local cível ou de competência genérica.

Isto só se consegue perceber num caso concreto, temos que ir procurar nos mapas, 1 situação em que tenha um juízo
de execução cuja circunscrição territorial não abranja a do juízo central cível, mas esteja dentro da circunscrição
territorial do juízo local ou de competência genérica. Geralmente a circunscrição do juízo de execução abrange toda a
Comarca e a do juízo central cível a mesma coisa, se houver uma ou duas situações já é muito, são raras as situações
em que isso possa acontecer.

Exemplo: ação declarativa de valor 100.000.00€ em que o tribunal competente é o domicílio do réu, art. 71º. Onde é
que o réu tem domicílio? Tavira. Onde é que esta ação declarativa devia ser proposta? Tavira fica no Algarve e no
Algarve só há uma Comarca, que é a de Faro. Vamos ao mapa 3, à Comarca de Faro e qual é que era o juízo
competente? Juízo central cível de Faro, porque no âmbito da sua circunscrição territorial está lá Tavira. Proferiu a
sentença, agora vamos executá-lo. Já sabemos o que é que o exequente deve fazer, deve apresentar o requerimento ali
e agora vai ser enviado para onde? Para o juízo de execução de Loulé porque a circunscrição territorial abrange
Tavira.

Só existiria como, existiria se, agora, o juízo de execução de Loulé, vamos supor, não tivesse na sua circunscrição
Faro, mas tinha que ter Tavira. Porquê? Porque em Tavira há um juízo de competência genérica, não há juízo local,
mas há juízo de execução. E vamos supor que a circunscrição do juízo de execução de Loulé não abrangia Faro, mas
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Faro estava abrangido pelo juízo de execução de Silves. Vamos supor que Silves era o juízo de execução que abrangia
o central cível de Faro. Portanto, se a decisão foi proferida pelo juízo central cível de Faro, em princípio deveria ter
sido executada em Silves, supondo, porque Silves é que é o juízo de execução que abrangeria e, então, nessa situação,
nos termos do art. 129º nº3, como se não fosse por causa do valor o juízo central cível seria o juízo de competência
genérica de Tavira e Tavira estaria abrangida pela circunscrição territorial do juízo de execução de Loulé.

2º TESTE

Prática – 04/11/2022 (13)

Correção do 1º teste

Qual o tribunal competente?

Vejo aqui um elemento de conexão internacional. Espero que não tenham ido ao art. 24º do regulamento. Não se pode
aplicar porque é só para decisões, só para sentenças.

Pergunta de uma aluna: então quando não se aplica esse, aplica-se qual? Aplicam-se as regras gerais, a doutrina assim
o entende, não faz distinções entre ações executivas e ações declarativas.

E sendo relativo a matéria contratual, aplicamos o art. 7º do regulamento de Bruxelas I. A obrigação não era a
entrega, a celebração do contrato foi feita em Portugal, era um contrato-promessa, a obrigação é a celebração do
contrato definitivo. Poderia ser demandado no Estado membro onde a obrigação foi ou devia ser cumprida, portanto,
em Portugal. Portanto, os tribunais portugueses eram internacionalmente competentes.

Depois, em termos de regras de competência interna, aqui era simples, tribunais judiciais, dentro dos tribunais
judiciais tribunais de 1ª instância, dentro da 1ª instância comarca, dentro da comarca juízos de execução, se os houver,
se não houver temos de atender ao valor. Quanto ao território, art. 80º nº3 do CPC, era o domicílio do autor, uma vez
que não consta que eles estão cá em Lisboa, e o autor é uma sociedade com sede em Lisboa. Portanto, Lisboa tem
juízo de execução? Tem. Então pronto, estava respondido.

O professor explica de novo: Estamos perante uma situação jurídica plurilocalizada e se estamos perante uma situação
jurídica plurilocalizada, diz o art. 59º do CPC, sem prejuízo do que se ache estabelecido em regulamentos europeus, os
tribunais portugueses são internacionalmente competentes.

Um aluno usou o art. 89º porque não sabia o que usar e o professor explicou: O art. 89º usa-se quando já chegámos à
conclusão de que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes, mas antes temos de chegar a essa
conclusão.

Portanto, situação jurídica plurilocalizada, critério material, critério pessoal, preenchidíssimos. Depois, das duas umas,
para o art. 24º nem pensar porque não há decisão, ou se aplica a regra geral do art. 4º, mas se se aplicasse o art. 4º do

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regulamento íamos parar a França e a questão é saber se a ação podia ser proposta em Portugal, ora uma pessoa
domiciliada num Estado membro pode ser demandada noutro Estado membro se se verificarem as regras das secções
2 a 7 do regulamento. Logo a primeira, art. 7º nº1 al. a), em matéria contratual, no lugar onde a obrigação foi ou deva
ser cumprida. Era o nosso caso.

Depois, chegando à conclusão de que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes é só uma questão
de se aplicar as regras em razão da matéria, hierarquia, valor, território. Portanto, matéria tribunais judiciais,
hierarquia 1ª instância, voltando à matéria de comarca, dentro da comarca juízo de execução.

Depois o que é que temos? Admitindo que o requerimento executivo foi imediatamente concluso ao juiz, indique
qual o despacho liminar que devia ser proferido.

O que é que ele juntou? Juntou um documento particular autenticado, bem como as cópias dos referidos cheques de
onde resultava, segundo o que aqui esta, a veracidade de todo o alegado nas alíneas a) a e). E intentou a ação contra o
Bernardo e contra a Carla, sendo que só o Bernardo é que celebrou o contrato-promessa sendo que Bernardo e Carla
entregaram cada um cheque de 40.000.00€. O cheque entregue por Bernardo foi apresentado a pagamento no dia 1 de
junho e foi devolvido por falta de provisão e o cheque entregue por Carla foi apresentado a pagamento no dia 11 de
julho e foi igualmente devolvido.

Ora, o cheque apresentado por Carla foi ao ar, a obrigação cartular estava prescrita porque foi apresentado fora do
prazo dos 8 dias e do que consta aqui do que ele disse no requerimento executivo não alegou os factos constitutivos da
relação subjacente relativamente à Carla, ou seja, do que aqui resulta, ele conta a história toda relativamente ao
Bernardo, mas contra o Bernardo não tínhamos nenhum problema porque o cheque estava impecável. Relativamente à
Carla, ele, não conta história nenhuma e apresenta um cheque que não pode valer. Portanto, relativamente ao pedido
de Carla não tem fundamento nenhum.

Devia, desde logo, ter sido proferido um despacho de indeferimento liminar parcial quanto ao pedido feito
contra a Carla.

O professor explica de novo: Contra o B ele junta um documento particular autenticado, que há de ser o contrato-
promessa, no qual está constituída a obrigação do Bernardo, apenas do Bernardo, de fazer o reforço do sinal no valor
de 80.000.00€. E, portanto, ele junta contra o Bernardo isto mais o cheque. Tudo ótimo.

Ele devia ter intentado a ação apenas contra o Bernardo porque tinha título suficiente para pedir os 80.000.00€ contra
ele. Mas foi totó e também apresentou contra a Carla.

Mas contra a Carla, só tem o quê? O cheque. Mas o cheque que ele tem contra a Carla foi apresentado fora dos 8 dias
previstos no art. 29º da LUC, ora se assim foi, o cheque perdeu a natureza de título de crédito. Se perdeu a natureza de
título de crédito só vale como mero quirógrafo, mas para valer como mero quirógrafo das duas uma: ou o cheque
contém os factos constitutivos da relação subjacente, que nunca contém, ou se não contém, esses factos, devem ser
alegados no requerimento executivo. Foram? Não. Então, não é título executivo.

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Contra o Bernardo está tudo bem, obviamente como ele só pede 40.000.00€, só lhe pode ser dado 40.

Alguém colocou a questão se poderia ser despacho de convite: e o professor explicou, a filosofia do nosso código é a
de, art. 6º nº 1 do CPC e do art. 726º nº 4 de onde resulta o despacho convite, evitar que as ações caiam por vícios
formais, aquelas vitórias de secretaria. Mas, aqui, é um bocadinho complicado. Aqui nem sabemos qual é que seriam
os factos constitutivos à emissão deste cheque, relativamente à Carla.

Mas desde que falássemos que contra a Carla o exequente não tem título, podíamos dizer que havia despacho de
convite uma vez que o cheque foi apresentado fora da data. O professor não concorda muito com esta posição. Na sua
opinião, isso devia ser dito logo no requerimento executivo, não é à posteriori, o art. 703º diz lá que devem ser
alegados, mas pronto, admite. Se não qualquer dia não se faz porque partimos do princípio que mais tarde o juiz vai
convidar e depois logo se faz, isto não é correto.

Depois, admita agora que Bernardo intentou em março de 2022 a ação executiva contra a sociedade para
pagamento de 100.000.00€ invocando a obrigação de devolução do sinal entregue por ter tomado que aquela
sociedade havia vendido o imóvel a terceiro.

A obrigação de restituição do sinal entregue não pode ser obviamente executada com contrato-promessa nem com a
escritura que demonstre que o promitente-vendedor vendeu a terceiro. Tinha que ser declarado por sentença transitada
em julgado, isto não vale como título executivo.

Qual o despacho liminar a proferir? Indeferimento. Aqui era total.

Alunos dizem que falaram no art. 715º. O documento que formalizou o contrato-promessa não existe, não está
constituída, nem reconhecida nenhuma obrigação. Como nós sabemos a única obrigação que decorre do contrato-
promessa, para além da celebração do contrato definitivo, é aquelas que lá estão, relativamente ao reforço do sinal.
Agora, não está uma obrigação de restituir o sinal porque não está devidamente declarado o incumprimento do
contrato. Tinha que intentar a ação declarativa primeiro para se provar o incumprimento.

Várias questões e afirmações dos alunos, o professor:

No requerimento, nem vale a pena, o art. 703º al. c) diz o que é que deve constar no requerimento quando o título
perdeu a natureza de título de crédito e passa a mero quirógrafo, factos constitutivos da relação subjacente, não vale a
pena inventar. E nós só temos factos constitutivos da relação subjacente, relativamente, contra o Bernardo, mas não
contra a Carla. A única coisa que sabemos é que no contrato-promessa, o Bernardo se obrigou a reforçar o sinal em
80.000.00€ e depois aparece um pagamento com dois cheques, um assinado por Bernardo e outro assinado por Carla.
Um como cheque na mesma, outro já não.

Prática – 11/11/2022 (14)

Quanto é que do vosso salário pode ser penhorado?

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Um terço. Sempre um terço? Se uma pessoa ganhar 15.000.00€ por mês, como é que é? Só pode ser penhorado
5.000.00€? Se são dois terços impenhoráveis, será um terço, só 5.000.00€, será? Isto vem na lei.

Art. 378º nº 3, como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais, ou seja, significa que
no mínimo essa pessoa tem é que ficar com três ordenados mínimos, o resto pode ser tudo penhorado. Claro, há um
limite máximo e um limite mínimo. Ou seja, não se pode ficar com menos do que um ordenado mínimo e depois o
outro é que fique pelo menos com três salários mínimos.

A impenhorabilidade, ou seja, aquilo que não pode ser penhorado, tem como limite máximo o montante equivalente a
três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite mínimo um salário mínimo nacional.

Imagine: ganha 1.000.00€, se for penhorado, pela regra do nº 1, um terço de mil é 366,66..., se diminuirmos estes ao
valor do ordenado ficamos abaixo do ordenado mínimo, portanto, significa que não podemos ir pela regra do nº1.
Temos que aplicar o limite do nº3, o limite mínimo, significa que só poder penhorado até ao montante de que a pessoa
fique com 705€, atualmente.

Aqui o legislador tem que considerar dois interesses, estamos no âmbito da ação executiva e, portanto, há que atender
ao interesse do credor, mas obviamente temos que atender também aquele mínimo considerado indispensável para que
uma pessoa consiga sobreviver.

Depois, é possível penhorar um frigorifico? Depende. Nos termos do art. 737º, se se tratar de uma execução que
tenha haver com a aquisição do mesmo ou com o custo da sua reparação.

No art. 737º a lei diz: estão ainda isentos de penhora os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se
encontrem na casa de habitação efetiva do executado, salvo quando se trate de execução destinada ao pagamento da
respetiva aquisição ou do custo da sua reparação. Portanto, se eu adquiri um frigorifico, adquiri-o a prestações e deixei
de pagar as prestações, obviamente, pode ser penhorado. Ou se o mandei reparar e não paguei.

Não esquecer a conjugação do nº1 do art. 738º com o nº3 e depois relativamente aos bens relativamente penhoráveis
ver aí também as exceções.

Regra d’Ouro: está no art. 735º nº2. Em primeiro lugar, só podem ser penhorados bens de 3º nos casos
especialmente previstos na lei e em segundo lugar é desde que esse 3º seja executado. Os casos que estão
especialmente previstos na lei, estão no CC, são só o do art. 818º, que o professor saiba é só este.

Se formos ao art. 818º do CC, sobre a epígrafe execução bens de 3º, o direito de execução pode incidir sobre bens de
3º quando estejam vinculados à garantia do crédito, no caso do 3º que concedeu ao devedor uma garantia sobre um
determinado bem, temos o caso da hipoteca, ou quando sejam objeto de ato praticado em prejuízo do credor, que este
haja precedentemente impugnado, precisamente naqueles casos que o devedor, precisamente, para fugir aos credores
aliena o seu património a um 3º e o credor que impugnou essa alienação, por exemplo através da impugnação Paulina,
impugnou precedentemente esse ato, significa que o credor pode atacar o bem que o devedor vendeu a esse 3º. A
venda é válida, é ineficaz se for julgada precedentemente a impugnação.

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E, portanto, é só nos casos especialmente previstos na lei, temos este travão, e o segundo é e desde que o 3º seja
executado.

Pergunta de uma aluna: nós só podemos executar os bens de 3º nesses dois casos, ele tem que estar na ação?

Professor: ele tem que ser parte claro, não se podem penhorar bens de quem não é parte, porque senão já sabemos do
que é que esse 3º pode lançar mão, o 3º que vê um bem seu penhorado e não é parte pode lançar de embargos de 3º.

Porque só sendo o 3º parte é que ele se pode defender. Se não lá se vai o princípio do contraditório ao ar.

Não confundir o 3º garante de um divida através de uma garantia rela com o fiador, porque o fiador é um devedor.

Exemplo: celebramos um contrato e arrendamento com alguém. E o senhorio exige um fiador e aparece o professor
como fiador. Ele assume a obrigação de pagar, de cumprir, caso nós não cumpramos. Eu sou fiador, sou devedor e,
por isso, o fiador assume a obrigação no mesmo documento que o devedor assume. Depois das duas uma ou, regra
geral, como resulta da lei no direito civil, o fiador é um devedor subsidiário, ou seja, só responde depois de executado
o património do devedor principal, ou então renuncia ao benefício da excussão e se renuncia o credor pode logo agir
contra o devedor.

Porque é que fiz a ressalva de no direito civil? Porque no direito comercial, a fiança comercial é sempre solidária.

Não esquecer isto porque há sempre a tendência de que quando vemos um fiador irmos para o art. 54º, mas não. O
fiador, a legitimidade do fiador, como é um devedor, afere-se nos termos do art. 53º. E isto é importante porquê?
Porque não havendo um único documento que posse servir para executar o bem do 3º garante, por exemplo no caso de
uma hipoteca, a escritura de constituição de hipoteca, os devedores somos nós e ele apenas garante a nossa divida,
para executar o bem do 3º garante é necessário que o exequente apresente um documento que demonstre o
incumprimento por parte do devedor, o que não acontece no caso do fiador, porque o mesmo título que serve para o
devedor principal serve para o fiador.

O art. 745º é exatamente para os casos do fiador e para todas aquelas situações que haja garantias pessoais em que
exista uma responsabilidade subsidiária e, por isso, reparem bem no que a lei diz: na execução movida contra devedor
subsidiário, portanto, devedor, é o caso do fiador.

O professor pergunta: sabem de mais algum caso em que possa haver devedores subsidiários?

Em comercial temos as sociedades em nome coletivo. Estas, não são sociedades de responsabilidade limitada, o que
significa que pelas dívidas da sociedade responde o património dos sócios. os sócios de uma sociedade em nome
coletivo são devedores subsidiários. O mesmo se passa com as sociedades civis, para não falarmos sempre da fiança.

Depois, temos de ter atenção algumas regras do código civil, sobre a penhora:

1ª regra, está no art. 819º, ‘’sem prejuízo das regras do registo são inoponíveis à execução os atos de disposição,
oneração ou arrendamento dos bens penhorados’’. Significa que se o executado que vê um bem seu penhorado, se

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dispor dele, onerá-lo ou arrendá-lo, estes atos são inoponíveis à execução, ou seja, são ineficazes. Reparemos que o
professor não utilizou a expressão nem nulos, nem anuláveis, eles são ineficazes relativamente à execução.

Exemplo: O executado vendeu um bem penhorado a um 3º. Pegou no dinheiro, foi ao processo e pagou. Extinguiu a
execução. Agora o agente de execução só tem é que levantar a penhora.

Se vendeu ao 3º, pegou no dinheiro e foi fazer uma viagem, aí o agente de execução vai vender o imóvel. E o 3º vem
de lá e diz que não sabia, é inoponível. Ele tem o ónus, está registada a penhora.

Para o processo executivo é como se aquela venda não existisse. É ineficaz.

2ª regra, art. 822º, ‘’salvo os casos especialmente previstos na lei, o exequente adquire pela penhora o direito de ser
pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior’’. Portanto, a penhora confere ao
exequente o direito de ser pago com preferência relativamente a outro credor que não tenha garantia real anterior.

Uma nota: nunca dizer apenas que a penhora confere direito de preferência ao exequente. Porque basta o professor
questionar ‘’mas que direito de preferência’’ e metemos a pata na poça, muitos alunos foram para o art. 416º do CC.
Esquecer, não tem nada a ver com esta preferência. Por isso é que a lei diz ‘’confere ao exequente o direito de ser pago
primeiro que outros credores que não tenham garantias reais anteriores’’, porque se tiverem o credor vai para a fila.
Por isso é que existe o concurso de credores. Pode acontecer que o exequente, teve o trabalho de iniciar a ação
executiva, gastou dinheiro com advogado, paga a provisão de honorários ao agente de execução, já pagou a taxa de
justiça. Penhorou o bem, o agente de execução vai ter que notificar várias entidades, incluindo credores que tenham
garantias reais registadas anteriores à penhora, para virem reclamar os seus créditos. Reclamando os seus créditos, o
juiz vai ter que os graduar e pode acontecer que o exequente seja graduado em último lugar e, portanto, pode
acontecer que não chegue para lhe pagar.

3ª regra, a penhora transfere para o tribunal os poderes de gozo sobre os bens penhorados. A filosofia base é mesmo
desapossar o executado, apreender o bem e afastá-lo do bem penhorado. Obviamente, depois temos algumas exceções,
como é o caso da morada efetiva do executado.

OT – 17/11/2022 (15)

Correção do teste entregue na aula de hoje:

Considere a seguinte hipótese:

XV

"Alugauto Lda", com sede em Lisboa, celebrou com Bernardo, espanhol, casado com Carla, portuguesa, ambos
com residência habitual em Faro, um contrato de "Aluguer de Longa Duração" do automóvel XPT, que
entregou a Bernardo. O contrato foi formalizado por documento autenticado, assinado por Alugauto Lda e
Bernardo, no dia 1 de agosto de 2019.

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Bernardo obrigou-se, para além do mais:

a) "A pagar até ao dia 8 de cada mês, durante 36 meses, o montante de € 1.000.00".
b) "A restituir o automóvel XPT, até 8 de agosto de 2022, a menos que até dia 1 desse mesmo mês,
manifeste vontade de adquirir o automóvel pelo valor (remanescente) de € 5.000,00.

Como "garantia de pagamento", Carla entregou, naquela mesma data, à "Alugauto Lda", três cheques,
datados de 1 de agosto de 2020, 1 de agosto de 2021 e 1 de agosto de 2022, no valor de € 12.000,00 cada. Não
tendo Bernardo efectuado o pagamento do aluguer correspondente aos últimos 12 meses, "Alugauto Lda"
apresentou, no dia 10 de agosto de 2022, o último cheque referido, que foi devolvido por falta de provisão.

"'Alugauto Lda", pretende, agora, obter o pagamento dos € 12.000,00,) 2 tento ( assim como a entrega do
automóvel XPT.

Perguntas:

1. Qual o Tribunal competente? Justifique

Próxima aula.

2. Admita que "Alugauto Lda" intenta uma ação executiva contra Bernardo com aquelas duas
pretensões? Qual o despacho liminar a proferir? JUSTIFIQUE
Admita, agora, que a execução é intentada contra Bernardo e Carla para o pagamento da quantia de €
12.000,00 ? Qual o despacho liminar a proferir?

Parte 1: Qual é o problema desta hipótese? O contrato foi formalizado por documento autenticado, a sociedade juntou
este documento e o cheque. Há dois títulos – o contrato e o cheque. A sociedade intentou a ação contra quem? Contra
Bernardo.

Há título executivo contra o Bernardo, que é o documento autenticado. Bernardo obrigou-se a pagar 1.000 por mês e
já passaram 3 anos, e a obrigação venceu-se.

A sociedade pediu o pagamento de coisa certa e a entrega de coisa certa. Pode fazê-lo? Pode intentar uma ação
executiva cumulando as duas finalidades? Não, art.714º.

A sociedade quer obter o pagamento de 12.000. Aquele documento é certificativo da constituição de pagar 12.000? É
constitutivo ou certificativo da obrigação de pagar 12.000? É, constitutivo. Ele ficou obrigado a pagar 1.000 € por mês
até agosto de 2022, já passou o tempo. Vamos por partes. Quem é o agente? Quem são as personagens? As partes são
a empresa e o Bernardo.

Art.709º → Cumulação De Execuções Fundadas Em Títulos Diferentes →

“permitido ao credor, ou a vários credores litisconsortes, cumular execuções, ainda que fundadas em títulos
diferentes, contra o mesmo devedor, ou contra vários devedores litisconsortes, salvo quando (…)” – aqui não há um
46
problema de coligação, é a empresa contra Bernardo, há um problema de cumulação, logo art.709º → finalidades
diferentes, pode haver execução ou não? Al.b) → al.b) salvo quando as execuções tiverem fins diferentes – tem fins
diferentes, logo qual era o despacho liminar a proferir? Se eu fosse juiz ou juíza, o que eu faria era ou despacho de
indeferimento liminar ou despacho convite. Proferiam um despacho liminar a convidar o exequente para escolher
uma das finalidades. Se não escolhe-se indeferia por razões de economia processual.

Parte 2: a execução é intentada contra Bernardo e Carla. Tem título executivo contra Bernardo para 12.000 e contra a
Carla? Já não temos um problema de cumulação de pedidos (porque ele só pede o pagamento), temos um problema de
coligação. Art.56º. Não temos título executivo contra a Carla, porque a obrigação cambiaria prescreveu, passaram 8
dias o cheque já não vale como título de credito, logo só valeria nos termos do art.703º se o exequente tivesse
invocado os factos constitutivos e aqui não invocou. Despacho de indeferimento limiar parcial e a execução
prosseguia só contra Bernardo.

Vamos imaginar que o exequente dizia que queria que a execução prosseguisse para entrega de coisa certa. Teria
título executivo ou não? Não. Porquê? A obrigação de devolver resultava do contrato? Sim, ele devolve a menos que
pague. Do contrato resulta a obrigação de devolver a menos que pague, a execução poderia prosseguir.

Teórica – 18/11/2022 (16)

1. Qual o tribunal competente?

Aqui o problema era que o professor pretendia executar duas prestações. Para a entrega do automóvel – entrega de
coisa certa – era o lugar de onde o automóvel se encontra-se (art.89º, nº2). Seria o tribunal da comarca onde o
automóvel se encontra-se. Para a obrigação do pagamento dos 12.000,00€ – pagamento de coisa certa – entrava no
art.89º, nº1, ele tinha residência habitual em Faro, portanto, o juízo de execução do tribunal judicial da comarca de
Faro.

Há aqui um elemento de conexão com a ordem jurídica estrangeira, nacionalidade do executiva. Vamos ao
regulamento de Bruxelas, em que a regra geral do art.4º - “sem prejuízo do disposto no presente regulamento, as
pessoas domiciliadas num Estado-Membro devem ser demandadas, independentemente da sua nacionalidade, nos
tribunais desse Estado-Membro”. Bernardo está domiciliado em Portugal, por isso deve ser demandado em Portugal.

3. Pode Bernardo executar a "Alugauto Lda" alegando e provando que exerceu o direito de adquirir o
automóvel? JUSTIFIQUE.

A sociedade alugou o automóvel e Bernardo ficava obrigado a restituir o automóvel a menos que até dia 01 de Agosto
manifesta-se vontade de adquirir o automóvel pelo valor remanescente. Pode Bernardo executar a sociedade? Primeiro
não tem título executivo, segundo…

Qual é o direito que Bernardo pretende exercer? Quer ficar proprietário, ora, a ação executiva não se adequa a esta
finalidade.O que é que se pode executar? Que tipo de obrigações ou de direito é que são suscetíveis de realização
coerciva? Ou seja, de ser imposto um determinado direito. O direito que eu tenho de adquirir um bem como é que eu

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posso exercer coercivamente? Não posso, só por via da ação declarativa, através da ação de execução espenicai, tem
que ter uma sentença. A ação executiva pode ter uma de três finalidades, pode ter a finalidade de obter a entrega de
uma coisa, que não é o que ele pretende, pode ser obter o pagamento de uma coisa, que não é o que ele pretende, e a
prestação de facto positiva ou negativa, ele não quer a prestação de um facto, ele quer tornar-se proprietário. Como?
Só com uma sentença constitutiva. A ação executiva não é o meio de ónus para a realização deste direito. Bernardo
não pode executar porque não estamos perante uma obrigação suscetível de ser realizada coercivamente, só pro via da
ação declarativa é que ele podia exercer o direito de adquirir. Base legal: art.10º → a ação executiva tem 3 finalidades,
a finalidade pretendida não se coaduna com a ação executiva, tem que ir para a ação declarativa.

RECURSO

O recurso, tal como a reclamação, é o meio de impugnar as decisões judicias. São os meios que o legislador faculta às
partes para querer impugnar as decisões judiciais. Quando falamos em decisões judiciais temos que considerar 2 tipos
de decisões: temos as sentenças e o despachos, e as decisões obedecem a uma destas situações, ou são sentenças ou
são despachos. Qual é a diferença? Art.152º → nº1 – “os juízes têm o dever de administrar justiça, proferindo
despacho ou sentença sobre as matérias pendentes e cumprindo, nos termos da lei, as decisões dos tribunais
superiores”.

1. Sentenças – nº2 – “diz-se «sentença» o ato pelo qual o juiz decide a causa principal ou algum incidente que
apresente a estrutura de uma causa”. Sentença é então a decisão de um juiz que ponha termo a uma causa.
Decide um processo ou algum incidente que apresente a estrutura de uma causa.
→ Incidente - questão anómala que pode surgir num processo, o incidente mais comum é o incidente de
habilitação de herdeiros – uma das partes morre, o autor ou o réu, suspende o processo até que os herdeiros
sejam chamados a substituir a parte. O processo pelo qual os herdeiros vão tomar a posição da parte principal
é o incidente de habilitação. Chama-se incidente porque é uma questão que pode ou não ocorrer no processo e
esse incidente tem a estrutura de uma causa. Uma causa nos temos alguém que pede alguma coisa, outra
pessoa que contesta e o juiz decide como por termo à controvérsia. No incidente de habilitação de herdeiros
também temos um pedido de que alguém seja citado para vir ocupar a posição da parte, que pode contestar e o
juiz pode decidir. O incidente tem a estrutura de uma causa, uma pretensão, uma contestação e uma oposição.
Quando a questão anómala assume a natureza da natureza de uma causa, a forma de decidir de incidentes
chama-se também sentença, que é a decisão do juiz pela qual ele decide a causa principal ou o incidente que
tenha a mesma natureza de uma causa, que tenha a estrutura típica da causa – alguém pede contra outra algo e
o juiz vai decidir.
2. Despachos – são as decisões que não ponham termo à causa nem aos incidentes que tem estrutura de uma causa.
Exemplo: despacho limiar, despacho pré-saneador, despacho de condensação, despacho saneador.

Mini-hipótese: a réu requereu a produção de uma determinada prova, uma serie de documentos para a prova do facto
tal, o juiz indefere. Sentença ou despacho? É despacho porque não está a pôr termo à causa.

A sentença não é só as decisões de mérito.

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Mini-hipótese: o juiz absolve o réu da instância, é sentença ou despacho? Está a pôr termo à instância por isso é
sentença – art.152º.

Quanto à elaboração da sentença temos que considerar os art.607º e seguintes. É matéria da ação declarativa e que
trata da elaboração da sentença. A sentença tem uma determinada estrutura – começa por identificar as partes e o
objeto do litigo, enunciando as de seguida as questões que cumpre ao tribunal solucionar (nº2). Depois vem os
fundamentos (nº3), devendo o juiz discriminar os factos que considera provados e indicar, interpretar e aplicar as
normas jurídicas correspondentes. Na fundamentação da sentença (nº4), o juiz declara quais é que são os factos que
considera provados, os meios de prova que considerou e depois o juiz vai terminar a sentença com aquilo que se
chama a parte dispositiva da sentença. Temos então:

 Parte introdutória da sentença – identificação das partes, do objeto do litigo


 Fundamentação – factos que estão provados e que não estão provados;
 Conclusão da sentença – absolve-se ou condena-se o réu do pedido.

Depois há que ter em conta as disposições, que já falamos na ação declarativa, como os limites da condenação,
questões que o juiz tem que resolver, tem que primeiro apreciar as questões que podem obstar à apreciação do mérito
da causa e depois apreciam o mérito da causa – regulada nos artigos 607º e seguintes.

Ter em atenção: tenham sempre presente que proferida a decisão esgota-se o poder jurisdicional do juiz, art.613º,
nº1, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto ao mérito da causa. O juiz decidiu, está
decidido, mas isto não signifca que a decisão transitou em julgado. Porque? Porque pode haver impugnação e o juiz
do tribunal superior pode alterar a decisão. Esgotar o poder jurisdicional significa que o juiz não pode voltar atrás
quanto à decisão de mérito. Imaginem que o juiz condenou o réu a pagar 500€. O réu recorre, e o juiz até lê as
alegações e acha que ele tem razão e que condenou mal e quer alterar a decisão, mas não pode fazer isso, porque
proferida a decisão esgotou-se o sue poder jurisdicional, deixou de poder decidir quanto ao mérito da causa. Mas isso
não quer dizer que transitou pois pode ser alterada em sede de recurso ou em sede de reclamação.

Art.613º, nº2 – é lícito porém retificar erros materiais, suprir nulidades e reformar a sentença, ou seja: é possível a
parte:

 apresentar um requerimento, dirigido ao próprio juiz, para ratificação de erros materiais (art.614º) – erros
materiais não é qualquer má interpretação da lei ou má apreciação dos factos. O que é que são? Está explícito
no artigo. São lapsos manifestos que facilmente podem ser supridos pelo juiz. Exemplo: erros de escrita ou de
cálculo. É o erro ostensivo, que é aquele erro que se evidencia com a simples leitura da sentença, é manifesto,
é evidente, o juiz enganou-se, como por exemplo usou o artigo errado;
 pode apresentar uma reclamação invocando as nulidades previstas no art.615º - aqui a figura que nos aparece
é a reclamação. Quando alguma parte quiser invocar nulidades, o procedimento que tem que utilizar é
apresentar uma reclamação. Quando é que a sentença é nula? Quando não contenha a assinatura do juiz, não
especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão, os fundamentos estejam em
oposição com a decisão,  o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de

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questões de que não podia tomar conhecimento, quando o juiz condene em quantidade superior ou em objeto
diverso do pedido.
Nº4  - as nulidades mencionadas na al.b) a e) do nº1 só podem ser arguidas perante o tribunal que proferiu a
sentença, isto quer dizer que só podem ser objeto de reclamação, se esta não admitir recurso ordinário
podendo o recurso, no caso contrário, ter como fundamento qualquer dessas nulidades. O que é que tem que
ter presente? Se a parte quiser invocar uma nulidade da sentença, o que é que tem que fazer? Se aquela
sentença admitir recurso, recorre e no recurso invoca a nulidade, se a sentença não admitir recurso, reclama
invocando a nulidade;
 e ainda pode apresentar um pedido de reforma da decisão (art.616º) – pede-se a reforma da decisão quando
há um lapso quanto a matéria de custas (quem é que tinha que as pagar, como é que se calculava as custas) e
multas. A parte pode requerer a reforma da sentença ou não havendo recurso da decisão, é ainda lícito a
qualquer das partes “requerer a reforma da sentença quando, por manifesto lapso do juiz:  Al.a) tenha ocorrido erro
na determinação da norma aplicável ou na qualificação jurídica dos factos; Al.b) constem do processo documentos ou
outro meio de prova plena que, só por si, impliquem necessariamente decisão diversa da proferida” → aqui são
situações mais graves, a lei permite permite que a parte requeira a alteração, mas só nos casos em que seja
uma situação de lapso, também manifesto, e não seja admissível recurso;
 e pode interpor um recurso (art.627º e ss) – é a situação mais comum.

O pedido de ratificação de erros materiais, a condenação de nulidades e o pedido de reforma da sentença é


dirigido ao próprio juiz que proferiu a decisão. Nestes casos pede-se ao próprio juiz que altere a decisão. É um desvio
daquilo que vimos que quando é proferida a decisão esgotou-se o poder jurisdicional. No recurso não é o juiz que vai
alterar a decisão, quem pode altear a decisão são os tribunais superiores.

Então proferida a decisão as partes tem estes 4 mecanismos para reagir. A forma mais comum é o recurso, que é o que
vamos tratar agora em diante.

DISTINGUIR O RECURSO DA RECLAMAÇÃO

Como é que se podem impugnar as decisões judiciais? Ou por recurso ou por reclamação. Os recursos podem ser
definidos como meios de impugnação de decisões judiciais dirigidos a um tribunal superior, ao passo que a
reclamação são meios de impugnação de decisões judicias dirigidas ao próprio juiz que proferiu a decisão. No recurso
eu peço a um tribunal superior que altere a edição proferida em 1ª instância, dirigidos a um tribunal superior. A
reclamação é um meio de impugnação dirigido ao juiz que proferiu a decisão. No recurso eu peço ao juiz para alterar a
decisão proferida em 1ª instância. Na reclamação eu peço ao juiz para alterar a decisão que proferiu.

 Quando é que o meio de impugnação adequado é o recurso ?


 Quando é que o meio de impugnação adequando é a reclamação ?

A regra é: a relação que existe entre o recurso e a reclamação é a relação que existe entre a regra geral e a regra
especial. Ou seja, se a lei nada disser quanto ao meio de impugnação a regra é o recurso. Portanto, o recurso só é
admissível se a lei não estabelecer expressamente que o meio de impugnação é a reclamação . A regra é o recurso, a

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exceção é a reclamação. Por regra, se a lei nada diz eu posso impugnar por via de recurso, se a lei estabelecer que o
meio de impugnação é a reclamação, eu NÃO POSSO RECORRER.

Exemplo: reclamação contra erros materiais da sentença – art.614º - ele vem pedir ao próprio juiz para alterar a
decisão;

Exemplo: impugnação do despacho que identifica o objeto do processo ou indica os temas da prova. Na audiência
prévia, o juiz vai proferir o despacho de condensação, o objeto do processo é tal e os temas da prova são tais. Se a
parte quiser impugnar esse despacho, qual é o meio? O meio é a reclamação - art.596º, nº2 – a lei diz que se não
aceitar essa decisão temos a considerar aqui a reclamação.

REGRA: se a lei nada diz vamos para o recurso. Depois temos de ver se é mesmo admissível o recurso. Se a lei
expressamente determinar que o meio de impugnação é a reclamação, eu primeiro reclamo. E, atenção, eu reclamo e
depois da decisão que o juiz profere da reclamação eu posso recorrer para o tribunal superior (redundância).

EXCEÇÃO: nos vimos um caso em que a lei estabelece uma regra diferente. Art.615º, nº4 – nulidades da sentença -
o legislador não segue a regra, segue a regra oposta. Nestes casos só é possível reclamar se não for possível recurso.
Inverteu a regra, regra aqui é ao contrário. As nulidades só podem ser reclamadas se esta não admitir o recurso.

Muitas vezes no processo se fala em reclamação num sentido diferente de meio de impugnação de decisões judicias.
Até agora só falamos dos meios de impugnar as decisões judiciais, ou recurso ou reclamação. Como é que eu sei qual
é o meio? Tenho que ir ver na lei. E se a lei nada diz? Recorro.

Hipótese: imaginem que o réu contestou por exceção, portanto o réu não produziu nenhum pedido convencional e o
autor replica (articulado que o autor pode responder à contestação). A réplica é admissível quando o réu apresentou
uma contestação de defesa por convenção ou aquelas ações de simples apreciação negativa. Admitam que o autor
replica. O que é que nos temos aqui? A pratica de um ato que a lei não permite. Quando temos um ato destes, que
pode influenciar a apreciação do mérito da causa, temos uma nulidade processual, que é uma divergência daquilo que
a lei permite fazer e aquilo que se faz. Se essa divergência for suscetível de afetar a apreciação da causa temos uma
nulidade. Como é que o réu vai reagir quanto à replica apresentada pelo autor que não é admissível? Vai reclamar.
Quando dizemos que ele vai reclamar, ele não vai impugnar uma decisão do juiz , o réu vai dizer que o autor não
podia ter apresentando aquela réplica e pede que a mesma seja retirada do processo. O meio que as partes têm para
invocar nulidades, mesmo que não se estejam a considerar decisões dos juizes, é a reclamação.

A reclamação surge ou como meio de impugnar decisões ou como um meio de invocar nulidades processuais.
Imaginem que se vai inquirir uma testemunha e a parte diz que essa testemunha não pode depôr. O juiz ainda não
proferiu nenhuma decisão e eu peço o juiz para determinar que essa testemunha não pode depôr. Qual é o despediente
que eu utilizo para dizer que vai ser praticado um ato que a lei não permite? Invocando uma nulidade. Quanto a
nulidades que não sejam cobertas por uma decisão judicial, o meio de impugnação é a reclamação. A parte apresenta
um documento, a outra parte vem dizer não pode apresentar esse documento porque é uma nulidade. O que é que eu
chamo a esta conduta? Uma reclamação. A reclamação não é só um meio de impugnação, é também um meio para
invocar nulidades.
51
Prática – 18/11/2022 (17)

Referente ao 1º teste de dia:

Mais complicado que o nosso porque metia a possibilidade de discussão sobre se se aplicava o art. 707º ou art. 715º. A
dificuldade era que o fiador é um devedor e, portanto, ele assinou o próprio documento particular autenticado onde
constava a dívida do devedor principal. Só que concomitantemente ele também garantiu através de uma hipoteca. O
fiador, regra geral, responde com todo o seu património, mas limitou, enquanto fiador, a responsabilidade aquele
concreto bem que deu de hipoteca. Só se que é um bocadinho diferente ser fiador e apenas garante. Porque um fiador é
um devedor. É um devedor subsidiário e, portanto, a sua legitimidade não advém do art. 54º, advém do art. 53º.

E, portanto, havendo título executivo contra o devedor, há título executivo contra o fiador e se o credor exequente não
necessita de complementar o título contra o devedor também não precisa de o fazer relativamente contra o fiador.

A questão era mais do art. 715º do que do art.707º.

Se ele fosse apenas garante, se apenas tivesse garantido a dívida, não fosse devedor, e apenas tivesse garantido a
dívida com a hipoteca, aí teria que se fazer prova, o exequente teria que fazer prova relativamente ao garante de que
obviamente tinha entregado a obra, mas não era este o caso.

A primeira pergunta era qual a tramitação, eles tinham que dizer qual era a forma da execução para pagamento de
quantia certa, se era ordinária ou sumária.

Pedia os juros vencidos e os vincendos, quanto aos vincendos não se pode liquidar porque não se sabe quando é
que vai ser feito o pagamento, mas quanto aos vencidos ele não os tinha liquidado e aí justificava-se o despacho
de aperfeiçoamento.

Depois era saber se havia título executivo ou não e depois qual era o tribunal competente.

Professor a ler uma hipótese:

XVI

Temos que o António, com residência habitual em Lisboa, intentou contra Belmira, com residência em Cascais,
ação executiva para pagamento de 30.000.00€.

No requerimento inicial António invocou ter emprestado à executada 50.000.00€ e que esta findo o prazo
acordado para a restituição apenas restituiu a quantia de 30.000.00€ e não pagou os juros remuneratórios
acordados.

António juntou ao requerimento inicial um documento autenticado assinado por Belmira onde esta declarava o
seguinte:

52
‘’ Reconheço que António e mulher me entregaram a título de empréstimo a quantia de 50.000.00€, que restituirei
quando para isso for interpelada, decorrido pelo menos o prazo de um ano, bem que para garantir o cumprimento
da obrigação a que me vinculo, o Gualdino constitui uma hipoteca sobre o prédio X, sito na cidade do Porto, é
proprietário conforme o registo da hipoteca que anexo’’.

1. Qual a tramitação da execução após a apresentação do requerimento inicial?

Portanto, tínhamos que ir ao art. 550º e sabemos que, nos termos deste artigo, a ação executiva para pagamento de
quantia certa pode seguir a forma ordinária ou a forma sumária. E o nº2 do art. 550º diz ‘’a execução segue a forma
sumária nos seguintes casos...’’ portanto, só segue a forma sumária nesses casos.

A execução para entrega de coisa certa e prestação de facto segue a forma de processo única.

Então o que é que temos? Temos a al. a) que se refere às decisões arbitrais ou judiciais quando estas não devam correr
nos próprios autos; na al. b) temos o requerimento de injunção ao qual é aposta a forma executória. Nisto que
acabamos de ler não temos nenhuma decisão, nem o título é um requerimento de injunção, portanto, estas duas
primeiras alíneas estão afastadas.

Temos agora as alíneas c) e d). A al. c) diz-nos título extrajudicial de uma obrigação pecuniária que esteja vencida e
garantida por hipoteca ou penhor. A al. d) começa por dizer a mesma coisa, mas acrescenta uma coisa, cujo valor não
exceda o dobro da alçada do tribunal de 1ª instância. Na al. c) não há limites de valor, na al. d) há.

Ora, se esta dívida que consta de um título extrajudicial está garantida por hipoteca segue a forma de processo
sumária. Se não se aplicar a al. c) tem que se ver se se aplica a al. d).

Mas mesmo que se aplique a forma de processo sumária ainda temos que ir ao nº3 porque o nº3 diz ‘’porém não se
aplica a forma de processo sumário se...’’, ou seja, mesmo que cheguemos à conclusão que nos termos do nº2 se aplica
a forma sumária, não aplicamos esta forma se se verificarem alguma das exceções do nº3.

Se a forma de processo for a sumária a tramitação é diferente. Porquê? Porque entrado o requerimento executivo, a
secretaria nem sequer olha para ele, limita-se a enviar, por via eletrónica, para o agente de execução. E é o agente de
execução que vai ter que analisar se recebe ou se recusa o requerimento. Se aceitar, ainda tem que ver se estamos
perante alguma situação que ele deva suscitar a intervenção do juiz para o juiz proferir em despacho, se se lhe afigurar
que existem algumas das situações previstas no art. 726º nº2. Isto é o que está dito no art. 855º.

Se a forma do processo for ordinária aí o requerimento entra, a secretaria vê se recusa ou se recebe e se receber o
que é que faz? Faz concluso o processo ao juiz para proferir um despacho liminar.

2. As partes são legitimas?

O António intentou a ação contra a Belmira. E a Belmira reconhecesse devedora. E, portanto, se se reconhece
devedora, nos termos do art. 53º, figura no título como devedora, logo, tem legitimidade como executada. E,
obviamente, que no título também figura a pessoa que é credor.

53
A questão que se colocava é que ela diz que reconhece que António e mulher me lhe entregaram a título de
empréstimo. E a ação é só proposta por António. A questão prendia-se em saber se havia litisconsórcio necessário.

Temos que reparar que a ação não foi intentada com o Gualdino.

A questão é que há uma perguntinha que diz assim: o prédio dado em hipoteca podia ser penhorado?

Não, porque a ação não foi intentada contra ambos, nem contra Gualdino diretamente. E não podem ser penhorados
bens de quem não seja parte.

O Gualdino deu o seu prédio como garantia do pagamento do empréstimo da Belmira. O Gualdino não deve nada ao
António. Constitui uma hipoteca apenas para garantir que a Belmira pagava ao António.

Se o António pretender a penhora do prédio que foi dado em hipoteca por um 3º, a ação tem que ser movida contra
esse 3º sob pena de não poder ser penhorado porque nos termos do art. 735º nº2 só podem ser penhorados bens de
3º desde que a execução tenha sido movida contra ele.

E esta é uma situação em que podem ser penhorados bens de 3º? Hipoteticamente sim. Base legal art. 818º do CC,
porque é um caso especialmente previsto na lei, diz que o direito de execução pode incidir sobre bens de 3º quando
estejam vinculados à garantia do crédito. Só que para poderem ser penhorados a ação tem de ser movida contra ele.

3. Admitindo que havia lugar a despacho liminar, qual deveria ser o seu conteúdo?

Agora já não faz sentido, nesta pergunta, estarmos a falar outra vez da legitimidade das partes. No entanto, há
litisconsórcio voluntário. A mulher não tem que intentar a ação juntamente com o António. Portanto, as partes são
legitimas.

A questão, agora aqui, é outra. Nós sabemos que o contrato de mútuo de valor superior a 25.000.00€ só é válido se for
celebrado por escritura pública ou por documento particular autenticado. Aqui temos um documento autenticado, mas
este documento autenticado não constitui o mútuo, neste documento ela apenas reconhece que lhe entregaram a título
de empréstimo a quantia de 50.000.00€. Por aqui não há problema absolutamente nenhum.

A questão que se coloca agora é a de saber se, quando foi constituído o mútuo, houve efetivamente a entrega ou se
essa entrega é posterior. Porque se não houve entrega no momento em que eles constituíram o mútuo então aí estamos
perante uma situação em que temos que aplicar o art. 707º. Mas o que está dito é ‘’me entregaram’’, ela afirmou que já
recebeu. Se está entregue, está feito. Aqui não haveria necessidade.

Ora bem, o que é que nós não temos título? Não temos título para os juros, porque não são juros moratórios que ele tá
a pedir, ele tá a pedir os juros remuneratórios acordados. Os juros de mora legal não precisam de lá vir. O art. 703º nº2
o que é que diz? ‘’Consideram-se abrangidos pelo título executivo os juros de mora, à taxa legal, da obrigação dele
constante’’. Mas estes não são juros de mora. São remuneratórios. Para isso nós não tínhamos título porque o
documento autenticado assinado por Belmira não toca em quaisquer juros. Portanto, nesta parte temos um problema.

54
Concluímos que haveria que proferir um despacho liminar de indeferimento parcial porque não há título para os
juros.

Quanto à questão da interpelação também, só que aqui podia justificar-se um despacho não de indeferimento, mas
de convite para juntar a prova de que interpelou.

4. Qual o tribunal competente?

E aqui nós já sabemos, há um artigo. Sempre que, ainda para mais aqui que estamos a falar de decisões, tribunais
judiciais, comarca, dentro da comarca juízos de execução a menos que não exista dentro da comarca e, por isso, temos
que aferir em razão do valor vai para o central ou para o local.

Em razão do território já sabemos que só tínhamos uma hipótese, ir ao art. 89º, só que agora a nossa questão era:
aplico o nº1 ou o nº2?

Então porque é que não aplicamos já o nº2? Isto não é uma dívida onerada por uma garantia real? Porque ele não quis
fazer valer a garantia real. Temos que ver todos estes pormenores.

Vamos lá ver uma coisa: empresto 50.000.00€ ao João. Emprestei já, não há aqui dúvidas. Tem que me restituir
passado o prazo de 6 meses, mas eu disse olha tens que me arranjar uma garantia. Então, a Catarina tem um prédio,
em cascais, garante a dívida do João a mim fazendo uma hipoteca sobre esse prédio.

O João é interpelado, já passaram os 6 meses, interpelo o João para cumprir. E o João não cumpre. Tenho título
executivo.

Tenho a certidão da escritura pela qual a Catarina constitui a hipoteca. Mas o que é que eu faço? Não vou chatear a
Catarina, intento a ação só contra o João. Sou obrigado a intentar a ação contra a Catarina? Não. Também posso, mas
não sou obrigado. Há um litisconsórcio necessário? Não.

Por isso é que o art. 54º diz o quê? A execução por divida provida por garantia real por bens de 3º, segue diretamente
contra este SE o exequente pretender fazer valer a garantia. Mas neste caso eu não quis fazer valer a garantia.

Até há aqui uma discussão na doutrina: eu ao não estar a fazer valer a garantia, porque a lei diz ‘devo intentar a ação
diretamente contra o 3º se pretender fazer valer a garantia’, ora eu não intentei a ação contra o 3º, isso significa que
substantivamente estou a renunciar à hipoteca? Há uma discussão sobre saber se isto configura ou não uma renúncia,
ainda que tácita à hipoteca.

Isto é só para nós vermos que não há uma obrigatoriedade de mover a ação contra o 3º, podemos e devemos fazê-lo,
mas não é obrigatório.

Ora bem, então se eu intento a ação apenas contra o João e deixei a Catarina de fora, eu estou a fazer valer a garantia?
Não.

55
Resposta: aplico o nº1 ou o nº2 do art. 89º? O nº1, porque o nº2 é só se se fizer valer a garantia, só aí é que faz
sentido que o tribunal seja o do local dos bens onerados, aqui o bem está onerado, mas a execução não vai incidir
sobre ele, porque é que eu vou perguntar sobre os bens onerados?

Podíamos dizer: mas se a ação tivesse sido movida também contra o Gualdino e para fazer valer a garantia então já se
aplicaria o nº2.

Hipóteses do art. 54º:

 ou demanda apenas o 3º;


 ou demanda só o devedor;
 ou demanda o 3º e o devedor.

Prática – 25/11/2022 (18)

Correção do 2º teste:

Foi estipulada uma cláusula penal.

1. Qual a tramitação da ação após a entrada do requerimento na secretaria?

Obviamente que estávamos perante uma execução para pagamento de quantia certa sob a forma de processo ordinário,
art. 550º, porque não se aplica nenhuma das situações do nº2. Temos que explicar a tramitação do processo até ser
concluso ao juiz.

Na marcha do processo a única coisa que difere é que no processo ordinário, o processo é entregue na secretaria,
aceita, vai para o juiz para despacho liminar e depois citação para se opor ou pagar; no processo sumário, o processo
entra, a secretaria não vê nada, remete ao agente de execução, o agente de execução analisa, vê se está tudo bem, se
não há nada que deva suscitar a intervenção do juiz, o que é que vai fazer? Vai citar o executado da execução e da
penhora.

As regras da penhora que estão no CPC são iguais quer o processo seja ordinário ou sumário. Depois a fase de
oposição à execução é igual consoante seja processo ordinário ou sumário.

2. Qual o despacho ou os despachos?

Havia aqui um despacho de aperfeiçoamento, porque mais uma vez o pedido não estava liquidado quanto aos juros
vencidos. Mas o grosso da coisa era o despacho de indeferimento liminar por insuficiência do título.

Para que um documento autêntico ou autenticado seja título executivo, é necessário, nos termos do art. 703º nº1 al. b),
que o próprio contenha a constituição de uma obrigação ou o reconhecimento da existência de uma obrigação.

A única obrigação que estava aqui constituída era a do António pagar os 200.000.00€. Mas o António é o exequente,
não é o executado. O que estava estipulado era no caso de incumprimento tenho uma clausula penal, mas isso não

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importa a constituição de obrigação, porquê? Porque a constituição da obrigação pressupõe o incumprimento. O
incumprimento tem que ser declarado judicialmente e daí é que nasce depois.

O que é que o documento autenticado constituía? A obrigação dos fulanos de construírem e a obrigação do dono da
obra de pagar. Isto é que era.

O que é que a clausula penal pressupõe? O incumprimento tem que ser declarado, não podemos supor, adivinhar.

A cláusula penal é apenas a fixação da indemnização em caso de incumprimento, ainda por cima tem que ser
incumprimento culposo. Sabemos que foi culposo? Não. Não há título ou mesmo era insuficiente.

*Ele a discutir com o João sabichão*

O art. 707º só se aplica naquelas situações em que num primeiro momento as partes se comprometeram no futuro a
celebrar um contrato real modo constitucione. São aqueles contratos que só ficam perfeitos com a entrega da coisa.
Este artigo não é uma norma geral, é uma norma excecional. Tem um âmbito de aplicação restrito.

Num caso que o professor já deu em aula: num processo declarativo, as partes chegaram a acordo. E o acordo era, era
um contrato-promessa, tinha que pagar o que tinha sido prestado em não sei quantas prestações acrescido, clausula
penal, de uma indemnização de não sei quê não sei que mais. Foi este o acordo. O juiz homologou. Sentença
homologatória, mas depois houve incumprimento, e para alem de ser pedido as prestações em dia, era pedido também
a tal clausula penal. Mas, essa, clausula penal, não estava abrangida pela força do caso julgado a sentença.

Da mesma maneira que esta cena, obrigação que eles assumiram ter que devolver em caso que incumprimento do
contrato, não está abrangida pela força executiva do título, porquê? Porque isto não constitui uma obrigação e muito
menos uma obrigação certa, porquê? Porque é necessário que se demonstre que houve incumprimento e aqui neste
caso, ainda mais, culposo. Como é que eu vou executar uma obrigação se eu não tenho um documento que me
demonstre que houve incumprimento culposo? O que se tem que ver é no mesmo documento existe constituição de
obrigação ou reconhecimento da existência de uma obrigação que se possa executar. Se não, tem que haver uma ação
declarativa anterior, nestes casos. Para que se obtenha a clausula penal. O despacho era de indeferimento por
insuficiência manifesta do título.

João sabichão: quantos aos juros vincendos, se houvesse título, não haveria título quanto a esses juros?

Professor: errado. Porque os juros consideram-se incluídos, os vincendos são sempre contabilizados a final pelo
agente de execução, art. 716º.

Quanto aos vencidos, esses, têm que ser liquidados, se não forem liquidados o juiz tem que convidar o exequente a
liquidar.

E despacho de convite para vir liquidar os juros vencidos.

3. Qual o tribunal competente?

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Espero que aqui não tenham falado no regulamento.

Os executados residem em Luanda, Angola. Tínhamos que ver pelo art. 62º do CPC se os tribunais portugueses eram
internacionalmente competentes. E como sabemos, 1ª coisa, ir ao art. 62º, critério da coincidência, mas não havia
coincidência, porquê? Se formos ao art. 89º remete para o domicílio do réu, nem a segunda parte serve porque os
executados não são pessoas coletivas e não têm domicílio na mesma área metropolitana de Lisboa ou no Porto,
portanto, não havia coincidência.

Tínhamos que ir à al. b) do art. 62º e de facto os factos ocorreram em Portugal e, portanto, nós já sabemos que
quando vamos ao art. 62º al. b) depois temos sempre de ir ao art. 80º nº3 e, portanto, já sabemos qual seria a resposta.
Tribunal do domicílio do autor, o autor tinha domicílio no Porto e, portanto, seria no juízo de execução.

O professor quer-nos chamar à atenção para uma pergunta, mas não nos vai dar a resposta hoje.

Nesta matéria dos recursos vamos que ter mais em atenção o processo declarativo também. Mas o grosso é sentença,
sentença de processo declarativo, portanto, temos que ter sempre em conta a marcha do processo declarativo.

Por exemplo: vai haver casos práticos, decisões que o juiz profere em sede de despacho saneador. Em que fase é que é
proferido o despacho saneador? É a chamada fase de saneamento e condensação do processo, é quando estamos a
meio, mas depois temos a sentença.

Reparem: o processo iniciou, petição inicial, citação do réu, contestação, processo concluso ao juiz, despacho
saneador e aqui o juiz pode tomar certas decisões, produção da prova, julgamento, sentença.

Mas pode haver situações em que quando se recorre da sentença ainda se pode recorrer de decisões que foram
tomadas há dois anos antes no despacho saneador e outras que não, ou seja, há outras que têm que ser recorridas logo
que seja proferido o despacho saneador.

A matéria dos recursos não se compadece com distrações.

1ª coisa que vamos analisar é o art. 629º. O art. 629º só se aplica aos recursos ordinários, essa questão do valor e da
sucumbência só se aplica aos recursos ordinários.

Quais são os recursos ordinários? A apelação e a revista. E quais são os extraordinários? Os de revisão e os de
unificação.

2ª nota, o que é que distingue o recurso ordinário do recurso extraordinário? Para que eu possa interpor um recurso
ordinário é necessário que a decisão não tenha transitado em julgado, no extraordinário é que pressupõe que a decisão
tenha transitado em julgado.

3ª nota, não admitimos confusões entre valor da causa e o valor da alçada. O valor da alçada é um valor fixo, não
muda. A não ser que mude a lei. Portanto, eu sei que o valor da alçada da 1ª instância é 5.000.00€ e sei que a alçada do

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tribunal da Relação é 30.000.00€. e sei que só é admissível recurso ordinário se o valor da causa for superior à alçada
do tribunal de que eu estou a recorrer. Não é a que se recorre, é de que se recorre.

Vamos olhar para o valor da causa: eu tenho uma ação cujo valor da causa é 10.000.00€, foi proferida a sentença.
Sentença, se eu falo em sentença quer dizer que há uma decisão proferida por um tribunal de 1ª instância, logo, se eu
quero interpor recurso, quero interpor recurso de apelação para a Relação.

Quanto ao valor era admissível recurso ordinário? Sim, o valor da causa é superior ao valor da alçada de que eu estou
a recorrer, que por acaso é o tribunal de 1ª instância e que por acaso lo valor da alçada é de 5.000.00€. posso agora
interpor o recurso. É proferido um acórdão pela Relação.

E eu agora quero saber se posso recorrer para o supremo. Não, porque eu agora estou a recorrer da Relação cuja alçada
é 30.000.00€. portanto, o art. 629º aplica-se a todos os recursos ordinários, quer seja para a Relação, quer seja para o
Supremo.

A questão é que não basta o valor da causa, para que o recurso seja admissível, é necessário ainda, os requisitos são
cumulativos, que o valor da sucumbência, o decaimento, o valor em que a parte decaiu, se viu vencida, seja superior a
metade dessa alçada, qual? Do tribunal de que estamos a recorrer.

Se for, obviamente, de uma sentença, estou a recorrer de um tribunal de 1ª instância cuja alçada é 5.000.00€, a
sucumbência tem que ser superior a 2.500.00€, se for a recorrer de um acórdão a sucumbência tem que ser superior a
15.000.00€.

Exemplo: O A intentou uma ação contra o B. O A pede que o réu seja condenado a pagar-lhe 10.000.00, o réu contesta
dizendo que não deve pagar nada ao autor. O processo prossegue. Sentença, condena o réu a pagar ao autor 7.000.00€.

Valor da causa: 10.000.00

Estamos a recorrer de 1ª instância, alçada: 5.000.00.

Portanto, pelo valor da causa não há dúvida que é superior à alçada do tribunal de que se recorre. Este primeiro
critério está verificado. Agora, vamos ver o da sucumbência. O autor decaiu em quanto: 3.000.00. é ou não é superior
a metade da alçada do tribunal de que se recorre? É. O autor pode recorrer.

Réu, qual foi a sua sucumbência? 7. É superior ou não é superior? É. Pode recorrer.

Podem ambos interpor recurso ordinários. Cada um interpõe o seu.

Para as coisas mudarem bastava o professor ter dito que o réu contestava dizendo que a divida era apenas de 5.000.00
e por isso não tinha que pagar absolutamente mais nada. E que já tinha pagado esses 5. Agora, o tribunal condenava-o
a pagar 2. Quanto é que ele tinha perdido? 2. Já não podia recorrer. Porque 2 não excede metade da alçada.

O art. 629º ainda prevê situações em que é sempre admissível recurso independentemente do valor da causa. No nº2
sem qualquer limitação no nº3 apenas não há limitação até à Relação.
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Mas da mesma maneira que a lei estabelece, também há situações em que apropria lei nega a recorribilidade. Por
exemplo: art. 590º, despacho pré-saneador, último número, não cabe recurso.

Prática – 02/12/2022 (19)

HIPÓTESE

XVII

O banco X intentou contra Bernardo, Carlos e Duarte ação declarativa pedindo a condenação dos réus na
obrigação solidária de 55.000,00€, com fundamento na outorga de um contrato de mútuo.

Bernardo contestou sustentando a incompetência do tribunal, bem como a nulidade do contrato. Carlos
contestou invocando, para além do mais, a sua ilegitimidade. Duarte não contestou.

No despacho saneador o juiz julgou improcedente as exceções invocadas por Bernardo, mas procedente a
contestação de Carlos, absolvendo este réu da instância.

Na sentença Bernardo e Duarte foram condenados a restituir ao banco X a quantia de 53.000,00€.

1. Notificado da sentença, o banco X pode impugnar as decisões proferidas? Justifique.

Reparem como é que a pergunta está feita – notificado da sentença… se o banco x podia impugnar as decisões
proferidas. O que significa que há mais do que uma decisão.

 Primeiro é preciso identificar as decisões que o banco x pode impugnar;


 Depois é preciso ver se tem legitimidade;
 Depois temos que verificar se o recurso ordinário é admissível;
 E só depois dizer quando é que ele pode recorrer.

Signifca que o banco x há de ter aí algumas posições que, eventualmente, possa ter a legitimidade para recorrer. E se a
resposta for sim, ver as condições de admissibilidade de recurso, e depois os momentos. E não se esqueçam que ele já
foi notificado da sentença. O que é que não transitou em julgado? A sentença. O prazo para recorrer da sentença são
30 dias.

O Banco tem legitimidade para interpor recurso da sentença? Tem porque é parte principal e ficou vencido. Ficou
vencido porque? Porque poderia ter obtido uma decisão mais favorável, logo tem legitimidade.

Mas o recurso ordinário era admissível? Não, porque embora o valor da causa seja superior à alçada do tribunal de
1ª instancia (5.000), o valor da sucumbência não é superior a metade dessa alçada. Porque ele caiu em 2.000 e tinha
que ser 2.500,01€. Isso significa que ele não é parte vencida? Continua a ser, e então e não pode interpor algum
recurso? Pode se os réus interpuserem recurso, o banco pode interpor recurso subordinado. Art.633º, nº5.

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Se os outros podem fazer recurso independente então a parte vencida, que de forma independente não podia por
causa da sucumbência não exceder metade da alçada do tribunal que se recorre, pode interpor recurso subordinado,
que para esse efeito a sucumbência é irrelevante.

Quanto à sentença estávamos vistos. Mas a pergunta é decisões. Será que ele não poderia interpor recurso de uma
outra decisão? Da decisão que considerou Carlos parte ilegítima e que absolveu esse réu da instância. Mas, será que o
banco, notificado da sentença, podia interpor recurso? Dessa decisão que considerou Carlos parte ilegítima e o
absolveu da instância? A decisão que considera Carlos parte ilegítima e absolveu o réu da instância foi proferida no
despacho saneador. E então notificado da sentença o banco pode recorrer e impugnar essa decisão? Art.644º, nº1,
al.b). O nº1 e o nº2 compõe aquilo a que se chamam apelações autónomas, só que o nº1 refere-se a decisões finais e o
nº2 refere-se a decisões interlocutórias. As apelações não autónomas, ou dependentes, são as do nº3 – são aquelas
apelações que visam impugnar decisões que se impugnam com o recurso que se vier interpor da decisão final. Ok?
Pronto.

Atenção, estamos a analisar se o banco pode, após ter sido notificado da sentença (que é a decisão fina) pode, agora,
com o recurso, que eventualmente puser na sentença, se pode impugnar a decisão do despacho saneador (andar para
trás), que considerou o réu (Carlos) parte ilegítima e que o absolveu da instância. E a resposta é: o banco após
notificado da sentença já pode impugnar a decisão do despacho saneador que considerou Carlos parte ilegítima por
ilegitimidade e o absolveu da instância. Porquê? Porque nos termos do art.644º, nº1, al.b) cabia apelação autónoma do
despacho saneador, que sem pôr termo ao processo, absolva da instância o réu. O que foi o que aconteceu. Mas cabe a
apelação autónoma. O que significa que o banco devia, no prazo de 30 dias contados da notificação do despacho
saneador que absolveu o Carlos da instância, interpor recurso de apelação.

Esta situação cabe no art.595º, nº3. Neste artigo já la dito que se no caso previsto na al.a) do nº1, o despacho constitui
logo que transite caso julgado formal. Se constitui, é porque já transitou. O art.595º, nº3 tem que ser conjugado com o
art.644º, porque há outras decisões que podem ser tomadas no despacho saneador que só podem ser impugnadas com
o recurso que se venha a interpor da decisão final. São aquelas que estão no nº3 do art.644º.

Portanto, O banco, já não podia impugnar a decisão do despacho saneador que considerou Carlos parte legítima e o
absolveu da instância, porque nos termos do art.644º, nº1, al.b) cabe apelação autónoma do despacho saneador que
sem pôr termo ao processo, absolva o réu da instância. O professor só esta a ler a parte que interessa à hipótese.

É a apelação autónoma. O que significa que aquela decisão é objeto de um recurso autónomo, só para ela. E, portanto,
30 dias a contar da notificação da decisão, neste caso despacho saneador. Portanto, se o banco puder recorrer da
sentença, seja através de recurso independentemente, seja recurso subordinado, já não pode impugnar a decisão que
considerou Carlos parte ilegítima.

Início do processo (2018) – despacho saneador (2020) – sentença (2022)

Início do processo, tramitação toda, despacho saneador, o juiz aqui tomou várias decisões, considerou Carlos parte
ilegítima no despacho saneador, mas reparem que a pergunta é feita já depois de proferida a sentença. Após o banco
ser notificado da sentença pode impugnar as decisões? Há duas decisões que afetam o banco. A sentença, porque o
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banco pedia 55.000,00 € e só levou 53.000,00 € e há outra decisão que afeta o banco, que é o despacho saneador que
absolve um dos réus da instância. O que se pergunta agora é: notificado da sentença pode agora o banco impugnar
quer a sentença, quer esta decisão do despacho saneador? Na sentença já vimos, ele é parte e tem legitimidade para
interpor recurso porque é parte principal e ficou vencido, poderia ter obtido uma decisão mais favorável, mas já vimos
que embora, embora pelo valor da causa seja admissível recurso a sucumbência não permite por isso só pode recorrer
se alguma das outras partes interpuser recurso e eles interporem recurso subordinado. Ok, quanto à sentença está
resolvido.

E quanto ao despacho saneador? Pode agora depois da sentença impugná-lo? A reposta é NÃO, porque os termos do
art.644º, nº1, al.b) cabe apelação autónoma (que não depende de nada) do despacho saneador que sem pôr termo o
processo – o processo prosseguiu – absolva o réu da instância. Isto significa que o banco tinha que ter interposto
recurso no prazo de 30 dias a contar da notificação desta decisão, mas não o fez, então não pode interpor recurso
porque nos termos do art.595º, nº3 esta decisão já transitou em julgado e logo que transite constitui caso julgado.

2. Bernardo e Duarte podem impugnar as decisões proferidas? Justifique.

Bernardo, notificado da sentença, pode impugnar as decisões?

Vamos começar pela outra vez pela sentença. Bernardo invoca a nulidade e a incompetência, foi condenado, em
princípio, sendo parte principal, podia ter obtido uma decisão mais favorável. Portanto tem legitimidade para interpor
recurso. Quanto ao Bernardo não se verifica nenhuma situação impeditiva nos termos do art.629º -o valor da causa
admite recurso e a sucumbência dele foram 53.000,00 €.

Mas pode agora com o recurso que quer interpor da sentença, pode impugnar as decisões do despacho saneador que o
afetaram? Quais foram as decisões do despacho saneador que o afetaram? Foi quanto à questão da incompetência que
o tribunal entendeu que não e foi quanto à questão da nulidade do contrato de mútuo. Aqui voltamos outra vez à
mesma história. Vamos ver se aplicamos uma das alíneas do art.644º, nº1.

Vamos começar pela questão da incompetência que ele invocou dizendo que o tribunal era incompetente e o tribunal
disse que ele não tinha razão porque julgou as exceções invocadas pelo Bernardo improcedentes. Está a dizer que o
tribunal é competente. Quando é que o Bernardo pode impugnar isto? Agora com o recurso que ele vai interpor da
sentença? Ou já devia ter recorrido? Vamos analisar o art.644º:

 Nº1 – cabe recurso de apelação: 


a) Da decisão, proferida em 1.ª instância, que ponha termo à causa ou a procedimento cautelar ou incidente
processado autonomamente – é o caso? Não; 
b) Do despacho saneador que, sem pôr termo ao processo, decida do mérito da causa ou absolva da instância o
réu ou algum dos réus quanto a algum ou alguns dos pedidos – esta questão está abrangida por esta alínea?
Não, não se aplica.
 Nº2 – cabe AINDA recurso de apelação das seguintes decisões do tribunal de 1.ª instância – é ainda apelação
autónoma: 
a) Da decisão que aprecie o impedimento do juiz – não é o caso
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b) Da decisão que aprecie a competência absoluta do tribunal – o professor referiu-se a algum tipo de
competência? Não, o que signifca que vamos ter que abrir duas sub-hipóteses:

A questão esta abrangida no nº1? Não. Agora temos que ir ao nº2 que diz “cabe ainda”, ou seja, ainda é apelação
autónoma. Se a incompetência for absoluta e se o juiz lhe der para trás, o que deu, o que é que o Bernardo poderia
ter feito? Interposto um recurso de interpelação autónoma no prazo de 30 dias a contar da notificação do despacho
saneador. Mas se for uma questão e incompetência relativa cabe no nº3, que significa que quando ele recorrer da
sentença ainda pode impugnar a questão da incompetência relativa proferida no despacho saneador. O que significa
que o recurso que se interpõe do despacho senador que julgue improcedente a incompetência relativa é objeto de uma
apelação dependente ou não autónoma, ou seja, que cabe no nº3 do art.644º.

Estamos a ver aqui uma situação em que nos termos do art.595º, nº3 o despacho saneador não transita logo em
julgado. Ou seja, temos uma situação em que o tribunal se pronunciou sobre uma exceção dilatória relativa em que 30
dias após a notificação do mesmo às partes, quanto essa questão ele não transita em julgado, porque como se pode
recorrer com a própria sentença final não transitou. Se tivesse transitado não podia e aqui pode.

Mas o Bernardo ainda é afetado por outra decisão do despacho saneador porque ele invoca a nulidade do contrato e o
juiz também lhe deu um pontapé. É improcedente. Pode agora o recurso que interpuser da sentença impugnar essa
decisão? Não, porque aqui vamos aplicar o art.644º, nº1, al.b) porque embora o despacho saneador não ponha termo à
causa, conheceu do mérito da causa porque está a conhecer de uma exceção perentória, e quando o tribunal conhece
de exceções perentórias está a conhecer do mérito da causa, porque estas encontram o seu fundamento no direito
substantivo e, portanto, relativamente a isto o despacho saneador transitou em julgado, relativamente à nulidade do
contrato. Portanto, o Bernardo já não podia impugnar essa decisão no recurso que interpuser da sentença final.

O Duarte é só quanto à sentença e reparem que é revele, não contestou e, portanto, quanto a este, mesmo não
contestando, mesmo sendo parte revele, obviamente tem legitimidade porque a decisão poderia ser sempre mais
favorável.

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FREQUÊNCIA

Prática – 09/12/2022 (20)

CORREÇÃO DO 3º TESTE DE AVALIAÇÃO CONTÍNUA

António, residente em Coimbra, propôs contra Bernardo Carla (casados, com residente em Coimbra) e Duarte,
com residência em Lisboa, uma ação judicial pedindo a citação dos executados para procederem ao pagamento
de € 125.000,00, correspondente ao pagamento do preço em falta, do imóvel que havia vendido a quantia
Bernardo e que, após o casamento com Carla, passou a ser utilizado como casa de morada de família.

Ao Requerimento Inicial, em que invocou a comunicabilidade da dívida, António juntou:

(i) Cópia certificada da sentença, proferida por um Juízo Cível Central do Tribunal Judicial da
Comarca de Coimbra (com nota de que não havia transitado em julgado), que condenou Bernardo
ao "pagamento de € 123.000,00” e absolveu Carla da instância por a considerar parte ilegítima, não
obstante esta não ter apresentado contestação.
(ii) Cópia certificada da escritura pública, em que Duarte constituiu uma hipoteca, sobre o imóvel de
que é proprietário, sito em Cascais, para garantia do pagamento do preço estipulado na compra e
venda do imóvel supra referida

O Requerimento Inicial foi apresentado 15 dias após a notificação da sentença supra.

20 dias após a notificação da sentença: Carla e Duarte (informado da condenação de Bernardo), interpuseram
recursos de apelação.

1. Qual era o tribunal competente para a execução?

Tínhamos que começar pelo art.85º, porque estamos perante título executivo judicial, ainda que depois se junto outro
título executivo, mas sempre que Sempre que se queira executar uma sentença é necessário que o requerimento
executivo seja apresentando perante o tribunal onde correu a ação declarativa. Mas, isso não quer dizer que quando a
secretaria tenha que remeter o processo para o juízo de execução, porque na comarca respetiva existe juízo de
execução, isso não quer dizer que não seja remetido para o juízo de execução competente. E, de facto, vamos executar
uma dívida que tem uma garantia real. E, portanto, a secretaria deveria remeter o processo para o juízo de execução de
Oeiras porque o imóvel dado em garantia se situa em Cascais – art.85º, nº2 conjugado com o art.89º, nº2 e com o
art.129º, nº1 e nº2 da LOSJ.

O requerimento teria que sempre que ser apresentado perante o tribunal que proferiu a decisão da sentença. Porque é
que o legislador nos diz que quando se trate de execução de dívida provida com garantia real se remete para o tribunal
da situação dos bens onerados? Precisamente porque aquele bem vai ser penhorado (?).

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Correr nos próprios autos da ação declarativa seria no próprio juízo central civil. Não se aplica a excepção. A regra é a
de que o requerimento executivo é apresentado perante o tribunal onde foi proferida a decisão, correndo a execução de
forma autónoma nos próprios autos, salvo se entretanto o recurso tiver subido em sede de recurso porque aí
obviamente não pode correr nos próprios autos porque os autos não estão lá. Depois diz-nos o nº2 do art.85º que se na
comarca existir juízo de execução que a secretaria do tribunal onde foi apresentado o requerimento executivo o remeta
para o juízo de execução competente. Aqui se não houvesse a execução da hipoteca, tendo sido proferida por um juízo
central cível haveria necessidade de aplicar o art.129º, nº3 da LOSJ.

2. Admitindo a sua possibilidade, indique qual despacho liminar a proferir pelo juiz.

Espero que não tenham caído na questão da comunicabilidade da dívida da dívida porque só se pode invocar a
comunicabilidade da dívida se tiver explícito na sentença. O que significa que a Carla era parte ilegítima e, portanto,
despacho liminar de indeferimento contra a Carla.

Havia aqui a questão do António ter pedido na execução o pagamento de 125.000,00 € e a sentença ter condenado em
123.000,00 €, pode ser a questão dos juros de mora, mas não se diz. Se não fosse juros, teria que ser haver um
indeferimento parcial. Se fossem juros de mora o art.703º, nº2 resolve o problema.

Outra questão que tinham que ver, é que não sei se repararam que o título executivo é uma sentença e a sentença só
constitui título executivo depois do transito em julgado ou quando o recurso interposto interposto for meramente
devolutivo. Mas, não sei se repararam que o requerimento executivo entrou antes do recurso. Tinha que se saber se
havia recurso ou não e se assim fosse não havia título executivo. Tinham que levantar esse problema. Obviamente que
o juiz só deve indeferir liminarmente quando a falta seja manifesta. Estava lá a sentença e 20 dias depois foi interposto
recurso. 15 dias após a notificação da sentença foi apresentado requerimento. 20 dias após a notificação da sentença
foi interposto recurso. O requerimento não tinha ainda ido ao juiz para proferir despacho liminar. Se o efeito fosse o
meramente devolutivo não haveria qualquer problema.

Quanto ao Duarte, este tinha ilegitimidade porque ele obrigou-se a garantir o pagamento e temos sentença que julgou
o incumprimento. Portanto, significa que quanto ao Duarte não é preciso juntar documento complementar, nem
exigibilidade, não é preciso ir ao art.707º nem art.715º. Se na sentença a pessoa que ele garantiu o cumprimento
através da hipoteca for condenado, é porque houve incumprimento, se houve incumprimento, ele garantiu em caso de
incumprimento e o incumprimento está judicialmente comprovado. Aqui não havia questão nenhuma a colocar.

A Carla, essa sim, é que tinha que ser posta daqui.

3. As impugnações apresentadas são admissíveis?

Depois a Carla e o Duarte interpuseram recurso de apelação.

A Carla pode interpor recurso? Absolvida do pedido é melhor que ser absolvida da instância, fase ao critério adotado
no art.631º.

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O Duarte não era parte, mas o art.631º permite que quem não seja parte possa interpor recurso, desde que seja direta e
efetivamente prejudicado. Signifca isto o que? Que a jurisprudência e a doutrina tem vindo a concretizar, em primeiro
lugar é necessário que esse terceiro alegue factos que permitam ao tribunal verificar se ele é direta e efetivamente
prejudicado e em segundo lugar, é necessário que esse terceiro seja diretamente visado pela sentença, porque se não o
interesse que ele tem não é direto, não é um prejuízo direito, pode ser meramente reflexo ou indireto, mas não é
direito. E a lei exige que o prejuízo seja direito e efetivo, portanto o terceiro tem que ser visado pela sentença e pela
decisão e aqui não é. Mas, mais do que isso o que é que signifca “efetivamente prejudicado”? Só é efetivamente
prejudicado quem for titular da situação, quem for titular do interesse afetado na decisão, e obviamente que o Duarte
não é afetado e não tinha legitimidade nenhuma para interpor recurso.

A impugnação da Carla era admissível e a do Duarte não.

Dúvida de uma aluna: no art.638º na falta dos prazos fala dos processos urgentes. Resposta: porque é que o legislador
no art.85º, nº2 diz que deve ser remetido com urgência? É para responsabilizar a secretaria, entrando o requerimento
executivo, remete com urgência mas não tem nada haver com a atribuição do caráter de urgência ao processo. O
art.644º, nº2 quando se refere às decisões interlocutórias, como são decisões proferidos a meio do processo também
convém que o recurso seja conhecido o mais rapidamente possível, o ideal era que fosse conhecido até antes da
sentença proferida em 1ª instância e é por isso que o legislador reduz o prazo e como são decisões interlocutórias hão
de ser situações em que as alegações são mais fáceis de fazer do que uma sentença final.

Uma coisa é a sentença final, em que correm quaisquer questões jurídicas complicadas, portanto, tem que ser estudas,
pode haver a necessidade de impugnar a matéria de facto e indicar concretamente a parte da matéria de facto que quer
que seja revista. Imagine que há um facto que o juiz deu como provado e a Catarina acha que houve uma testemunha
que disse qualquer coisa que contrarie o que está aprovado na matéria de facto, vai ter que transcrever a passagem
daquilo que a testemunha disse [art.640º, nº1, al.b)]. Compreende-se que o legislador nos recursos de apelação
autónoma previstos no art.644º, nº2 reduza o prazo.

O Duarte não tinha legitimidade para interpor recurso porque não sendo parte principal era um mero terceiro, em que
embora a lei atribuía legitimidade a terceiros para impor recurso essa legitimidade só existe quando esses terceiros
sejam direta e efetivamente prejudicado pela decisão.

O nº1 do art.631º está pensado para que casos? Exemplo típico de um terceiro que pode ser afetado direta e
efetivamente por uma decisão: casos das pessoas que são titulares do direito de remissão. Quando é penhorado um
determinado e o bem já está na fase da venda há certas pessoas que podem “preferir” relativamente à venda executiva
desse bem, como por exemplo o cônjuge. Imaginem que é penhorado um imóvel, que era um bem que vinha da
família, e o bem agora vai ser vendido. Desde que esses familiares tenham oferecido o mesmo que foi oferecido pelo
interessado adquirente, podem preferir. É uma coisa diferente da preferencia. O tal terceiro adquirente pode ser
prejudicado por esse familiar, é uma pessoa que não sendo parte é direta e efetivamente prejudicada por essa decisão.
Outro exemplo: quando a venda executiva fica sem efeito o adquirente da venda executiva é uma pessoa direta e
efetivamente prejudicada por essa decisão. Nessa situações essas pessoas tem legitimidade no recurso. Art.842º.

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O juiz quanto ao Duarte só poderia indeferir se a falta do título executivo fosse manifesta. Estava lá a sentença.

O Bernardo diz na escrita que se obriga a garantir o cumprimento do pagamento do preço do Duarte com aquele bem.
Agora imaginem que o António intentava ação executiva apenas contra o Duarte só com isto. O que é que o Duarte
dizia? Que apenas garantiu, que é uma coisa que o fiador não pode fazer, mas este é só garante, o fiador tem que
assinar a própria divida. Ele só se obrigou a garantir em caso de incumprimento, o António tem que provar com a
sentença que Duarte é obrigado a pagar. O Duarte só é chamado quando há necessidade de executar.

O art.704º, nº1 diz que a sentença só constitui título executivo após o transito em julgado salvo se o recurso contra ela
interposto tiver efeito meramente devolutivo. Como é que é eu sei se o recurso tem efeito meramente devolutivo? Só
depois de haver recurso. Até lá a parte ganhadora da ação declarativa tem que esperar pelos 30 dias ou antes disso,
sendo notificada que foi interposto recurso. Se eu ganhei, e já sei que o outro não vai pagar não posso logo executar,
tenho que esperar 30 dias ou esperar pela notificação da interposição de recurso. Só início depois de ter sido interposto
do recurso. Eu quando intento a ação executiva, ainda estou a intentar numa altura em que não sei se vai ser interposto
recurso, se eu não sei, tenho que aguardar pelo trânsito em julgado. Se a parte interpuser recurso no trigésimo terceiro
dia? É possível praticar o ato até ao final do terceiro dia útil após o termo do prazo, a sentença ainda não constitui
título executivo. Nesse caso ainda não há título executivo, mas para o juiz indeferir por falta de título executivo é
preciso que a falta seja manifesta e inequívoca.

OT – 15/12/2022 (21)

HIPÓTESES

XVIII

António, Bernardo e Carlos intentaram contra a Sociedade de Construções Lda, ação declarativa pedindo a
condenação da Ré no pagamento a cada autor do montante de € 2.500,00.

Na sentença, a Ré foi condenada a pagar a quantia de € 2.000,00 a cada um dos autores.

As partes podem recorrer? Justifique.

 Pedido: pague 2.500,00 € a cada um.


 Sentença: condenação da ré a pagar a cada autor 2.000,00 €.

Será que alguém pode recorrer?

O que está aqui em causa é a aplicabilidade do art.629º - questão do valor. Reparem que A, B e C são partes vencidas
porque pediram 2.500,00 € e obteriam 2.000,00 €, ou seja, f podiam ter obtido uma decisão mais favorável e a ré
também é parte vencida porque também poderia obter uma decisão mais favorável.

O primeiro requisito do art.629º é que para que o recurso seja admissível é necessário que o valor da ação seja
superior à alçada do tribunal de que se recorre. Quando temos uma pluralidade de pedidos o valor da ação

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corresponde à soma de todos os pedidos. Essa é a regra. O valor da ação neste caso é então de 7.500,00€. Eles podem
recorrer? Não, não porque cada um caiu em 500€, que é um valor inferior a metade da alçada do tribunal de que se
recorre, logo eles não podem recorrer.

E sociedade pode recorrer? Ela sucumbiu em quanto? 6.000,00€. Pode. Esta é a resposta mais fácil.

O que é que os tribunais de justiça tem vindo a entender? Vamos ver o art.35º, a propósito do litisconsórcio, a relação
entre a pluralidade de partes e a ação → “no caso de litisconsórcio necessário, há uma única ação com pluralidade de
sujeitos; no litisconsórcio voluntário, há uma simples acumulação de ações, conservando cada litigante uma posição
de independência em relação aos seus compartes → este regime que está previsto para o litisconsórcio voluntário, por
maioria da razão, aplica-se à coligação. Lembram-se da diferença entre litisconsórcio e coligação?

 Litisconsórcio – pluralidade de partes + um único pedido;


 Coligação – pluralidade de partes + pluralidade de pedidos.

Se a lei vem dizer que quando há pluralidade de partes e um único pedido e o litisconsórcio é voluntário vamos
considerar que há uma situação de acumulação de ações e cada parte, cada litigante mantém a sua posição de
independente. Cada parte deve ser configurada como uma parte independente das demais. O que é que o legislador
quer aqui? Quando diz no litisconsórcio voluntário (e nos vamos acrescentar) e na coligação tudo se passa como se
existisse uma pluralidade de ações. Quer que na aplicação da lei pessoal se consideram as partes isoladamente. A
propósito do recurso isto depois tem recupersões.

O que é que o legislador no diz olhando para a nossa hipótese? Diz para tratarmos esta questão como se estivéssemos
perante 3 ações diferentes. Se diz isto no litisconsórcio voluntário, com um único pedido, por maioria da razão tem
que o dizer para as situações em que eu tenho pluralidade de partes e pluralidade de pedidos. Esta situação podia dar
lugar a: uma ação de A contra a sociedade, outra ação de B contra a sociedade e ainda outra ação de C contra a
sociedade. Tudo se passa como se tivéssemos perante 3 ações, temos um processo com 3 ações. O legislador diz que
quando estivermos a aplicar o processo considerarmos cada uma das partes isoladamente. Isto agora vai ficar tudo
alterado. Na parte dos autores não altera nada, eles não podiam recorrer e continuam a não poder recorrer. O supremo
veio dizer que a ré não pode recorrer, porque se estivéssemos perante 3 ações não podia recorrer em nenhuma dela,
logo, não é pela circunstância de estarmos perante 3 ações em acumulação que o pode fazer. E o Supremo Tribunal de
Justiça já considerou que aplicando o art.35º quer no litisconsórcio quer na coligação obriga-nos a pensar a posição de
cada sujeito separadamente.

Exemplo: imaginem que cada um dos autores pede 3.000,00 € e que a sentença é absolvição do réu. O Supremo
Tribunal de Justiça diz que não podem recorrer. Porque? Aqui já não temos o problema do decaimento, que já é
superior a 2.500,00 €, mas o Supremo vai dizer que para este efeito o valor da ação é o valor correspondente ao pedido
de cada um, é a aplicação do art.35º. Tudo se passa como se estivéssemos perante 3 ações separadas. Qual é o valor da
ação intentada de A contra a sociedade? 3.000,00 €, que é um valor inferior à alçada de que se recorre. Aqui nesta
situação é pacifico, ninguém vai dizer o contrário, faz sentido dizer que eles não podem recorrer. O valor da ação é

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9.000,00 €, é o valor da soma de todos os pedidos, mas depois para efeito de recurso, por força deste artigo temos que
considerar que o valor para cada um dos sujeitos é o que corresponde ao pedido apresentado.

Aqui, olhamos para o art.35º, que diz que há uma cumulação de ações, então olhamos para cada um dos sujeitos e
vamos responder às questões como se fosse uma ação como se ele estivesse sozinho.

O professor concorda com este entendimento, só não concorda com a mesma posição do Supremo na primeira
hipótese. Imaginem que são 100 autores, pedido cada um 1.000,00 €, a ação é considerada procedente condenado a
sociedade a pagar 100.000,00 € e não pode recorrer. O argumento do Supremo era se admitíssemos o recurso, violava
o princípio da igualdade porque que estaríamos perante um processo em que a ré poderia recorrer mas os autores não
poderiam. Mas o professor disse que isso faz sentido porque o prejuízo de uma parte é de 100.000 e o prejuízo da
outra é de 1.000, não há violação do princípio da igualdade porque as posições das partes não são iguais.

Estas normas interpretadas neste sentido violam a própria constituição porque criam um processo que não é equitativo,
que é alguém ser condenado a pagar 100.000,00 € e não poder recorrer. Quando noutras situações, as pessoas que são
lesadas com um prejuízo superior a 5.000,00 € já podem. Isto viola o princípio da igualdade, mas o Supremo não
considera inconstitucional.

Se invés de uma ação, tivessem sido propostas 100 ações e a sociedade tivesse sido condenada nas 100 ações não
poderia recorrer em nenhuma. Eu tinha 100 juizes a pensar nesta questão e poderia haver um ou outro que desse razão.
O problema é que eu tenho uma decisão, um juiz que vai decidir, são 100.000,00 € a ficar dependentes na mão de um
juiz e se eu tivesse 100 ações tinha 100 juizes. Não há aqui um princípio da igualdade. Deveria ser considerado em
função do réu. O se o juiz se enganou, não há possibilidade de recorrer.

O que interessa aqui reter é que o Supremo, por força da aplicação do art.35º exige que nas situações de litisconsórcio
voluntário e na coligação se analise a admissibilidade do recurso considerando que invés de estarmos perante uma
única ação estamos perante uma pluralidade de ações.

XIX

António intentou contra Bernardo e Carlos uma ação declarativa, pedindo a condenação dos réus no
pagamento de € 10.000,00, invocando para o efeito a venda de um automóvel que teria entregue de imediato aos
réus.

Bernardo contestou sustentando, para além do mais: (i) a incompetência absoluta do Tribunal; (ii) a prescrição
da obrigação em causa.

Carlos contestou invocando a sua ilegitimidade.

No despacho saneador: O juiz (i) julgou improcedente ambas exceções invocadas por Bernardo e (ii) relegou
para a sentença final a apreciação da exceção de ilegitimidade de Carlos.

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O juiz aqui disse que o tribunal é absolutamente competente e que a obrigação não prescrever e quanto à
ilegitimidade que o Carlos invocou que só vai decidir dessa matéria na sentença final.

Ainda na fase de saneamento o juiz (iii) indeferiu o requerimento de agendamento de audiência prévia
apresentado por Carlos, nos termos do art.593º nº3 do CPC; (iv) indeferiu o requerimento, apresentado por
Bernardo, de junção ao processo de um conjunto de documentos.

Desta última decisão (iv) Bernardo apresentou reclamação que veio a ser indeferida.

Não vamos falar deste despacho

Na sentença: Bernardo foi condenado a pagar ao autor a quantia de € 8.000,00. Carlos foi absolvido da
instância.

Vamos recapitular: o António pede 10.000,00 €, o Bernardo contesta dizendo que o tribunal é incompetente e que
tinha prescrito a obrigação e o Carlos diz que é parte ilegítima e o juiz o que faz? No despacho saneador que é
improcedente a exceção de incompetência e improcedente a exceção de prescrição e quanto à questão da legitimidade
diz que só vai conhecer disso na sentença. Na sentença condena Bernardo a pagar 8.000,00 € e absolve Carlos da
instância.

Perguntas:

1. Decorridos 20 dias, após a notificação da sentença, Bernardo pretende interpor recurso do despacho
saneador e da sentença. Esta pretensão é viável? Justifique.

Já depois da sentença, o Bernardo pode recorrer do despacho saneador e da sentença?

Quanto ao despacho saneador temos que ir ao art.644º e ver se aquele despacho saneador admitia recurso ou não. Se
admitia recurso, se admitia uma apelação autónoma, agora o Bernardo já não vai poder impugnar porque já passou o
prazo. A pergunta que temos que fazer é: ele pode ainda recorrer do saneador que ficou lá para trás, e pode recorrer da
sentença? A conclusão que temos que chegar é se aquele despacho podia ter sido impugnado quando foi proferido e
não foi impugnado precludiu o direto de impugnar. Se aquelas decisões não podiam ser objeto de uma apelação
autónoma, se não podiam ter sido impugnada, verificando-se os outros requisitos de admissibilidade, pode agora
impugnar conjuntamente com a sentença. Temos que olhar para as decisões em causa e subsumir-las no art.644º, no
nº1, no nº2 ou no nº3.

Incompetência absoluta do tribunal – o juiz julgou improcedente a incompetência absoluta. Onde é que ela cabe? Na
al.b) do nº2 do art.644º. Se essa decisão pode ser subsumível , se a essa decisão se pode aplicar o nº2, isso que dizer
que estávamos perante uma apelação autónoma. Recorreu? Não, então já não pode. Ele tinha 15 dias para recorrer
(art.638º, nº1 e art.644º, nº2) e não o fez e por isso perdeu o direito de recorrer.

No despacho o juiz julgou improcedente a prescrição da obrigação. Esta decisão vamos subsumir onde? Prescrição da
obrigação é conhecimento do mérito, que está previsto na al.b) do nº1 do art.644º. Decidir do mérito é decidir de

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questões matérias, substantivas, saber se prescreveu ou não está relacionado com a existência ou inexistência do
direito, não tem nada haver com o processo civil. Nos não vamos ver se prescreveu ou não aplicando a regra do
processo, vamos ver a regra do código civil. Se não conseguirmos distinguir questões de mérito e questões de natureza
processual não conseguimos resolver isto. Se o juiz diz que o direito não prescreveu, não caducou, não está a aplicar a
regra do processo está a aplicar regras do direito substantivo, está a conhecer do mérito. Uma vez que essa decisão de
julgar improcedente a prescrição da decisão cabe na al.b) do nº1, concluímos que poderia ter recorrido, mas como não
recorreu, já não vai recorrer após a notificação da sentença.

Então quanto ao despacho saneador não, uma vez que a decisão do despacho saneador podia ser objeto de recurso, não
tendo sido, precludiu o direito de recorrer. Só seria admissível recurso destas decisões interlocutórias se esta decisão
pudesse ser subsumida no nº3 do art.644º, que diz que das demais decisões pode recorrer-se juntamente com a
sentença – das demais decisões que não estejam previstas no nº1 e no nº2, mas como estas estão não cabem no nº3, e
sendo assim não podem ser impugnadas juntamente com a sentença.

E da sentença Bernardo pode recorrer? Claro, foi condenado a pagar 8.000,00 € - art.629º - o valor da ação é superior,
a sucumbência é superior, podia recorrer da sentença.

2. A reclamação apresentada por Bernardo era admissível? Justifique.


3. Carlos podia recorrer das decisões referidas em (ii) e (iii) ? E da sentença final? Justifique.

O Carlos podia recorrer da sentença que o absolveu da instância ou não? O Carlos contestou dizendo que era parte
ilegítima, o juiz no despacho disse que não ia conhecer dessa matéria e que ia conhecer da exceção na sentença final e
nesta absolveu o réu da instância. Carlos podia recorrer? É parte vencida? Ele é parte vencida porque poderia ter
obtido uma decisão mais favorável, poderia ter sido absolvido do pedido. Parte vencida não é a pessoa que não obtém
aquilo que pede, é a pessoa que podia ter obtido uma decisão mais favorável e ser absolvido do pedido é melhor do
que ser absolvido da instância. Agora atenção: aqui podia, mas se ele tivesse sido absolvido no despacho saneador?
Ele é parte vencida, mas não pode recorrer porque? Por causa do abuso do direito. O conceito de parte vencida é
aquele que poderia ter obtido uma decisão mais favorável, obriga-nos a dizer que ele poderia ter sido absolvido do
pedido, logo ter obtido uma decisão mais favorável, mas aqui não parece razoável porque o réu pede algo e o juiz
defere o seu pedido e ele vem impugnar a decisão que ele pediu, mas isso configura uma situação de abuso de direito.
Ele pode recorrer quando pode obter decisões mais favoráveis, mas nestas situações não se justifica o recurso na
medida em que ele vem uma decisão que ele próprio adicionou.

Então porque é que não há abuso de direito quando ele é absolvido da instância na sentença? Quando eu peço a
absolvição da instância eu peço ao juiz para não observar o mérito da causa, porque ele não tem interesse direito em
contradizer, ponha termo ao processo de imediato. Entre o despacho saneador e a sentença o que é que se pratica no
processo? O que vai acontecer? Há produção de prova e audiência de julgamento, estão a ver o porquê do réu já não
estar em abuso de direito? Face à produção de prova fica demonstrado que o autor não tem nenhum direito contra o
réu, então invés de ser absolvido da instância aproveite-se a prova e absolva do pedido. Há abuso de direito porque
não se justifica que o réu peça uma decisão e o juiz dê essa decisão e que ele vá pedir ao tribunal superior que ele a
altere uma decisão que ele pediu.
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Podia recorrer das decisões recorridas em (iii)? Indeferiu o requerimento do agendamento de uma audiência prévia. O
juiz pode praticar atos no processo que estão no âmbito do seu poder discricionário, pode ser o caso do juiz agendar
uma audiência prévia pode depender do seu poder discricionário.

Exemplo: o juiz marca audiência de julgamento para o dia 10, e eu digo que no dia 10 não posso e recorro. Posso
recorrer? Não, é um despacho mas expediente.

Podia recorrer das decisões recorridas em (ii)? Cabe também nos poderes discricionários do juiz, aliás a lei diz
expressamente que dessa decisão não cabe recurso.

Podia recorrer das decisões recorridas em (iv)? Este documento está elencado no nº2, al.d) – “do despacho de
admissão ou rejeição de algum articulado ou meio de prova” – o juiz rejeitou um articulado ou rejeita algum meio de
prova al.d) onde diz que esta decisão subsume ao nº2, já não entra no nº3 logo não pode recorrer.

E se o juiz julgar improcedente a exceção da incompetência relativa? Não cabe no nº1, não cabe no nº2, logo entra no
nº3 e já é impugnada conjuntamente com a sentença.

4. António podia recorrer? Justifique.

Prática – 16/12/2022 (22)

HIPÓTESE

O senhor A intentou ação contra o senhor B em que pede a condenação do B a pagar 60.000,00€. B contesta a
dizer que não tem que pagar nada. E B foi condenado a pagar os 60.000,00€

O réu recorreu e no acordão da relação altera a sentença e condena o réu a pagar ao autor, 50.000,00€. O réu
pode interpor recurso de revista?

Temos de ir verificar o art. 671º - disse uma colega.

A Catarina acha que o réu pode interpor recurso por causa do art. 671º.

O professor pergunta: então, mas o art. 671º só tem o nº1?

Resposta: não.

Ele confirmou? Não, então se não confirmou aplica-se o nº3? Não. Então, é admissível recurso? É. Parece que sim,
para já.

Vejam só uma coisa, o B ficou mais ou menos favorecido com a decisão da Relação? Ficou mais favorecido, tem de
pagar menos 10.000.00€. Temos de ficar com esta ideia.

Se agora tirarmos aqui um 5 e se pusermos um 6 e pusermos aqui, em vez de altera, confirma, o réu pode recorrer?
Não. Aqui há dupla conforme porque confirma o voto de vencido ok, portanto, ele aqui não pode recorrer, certo.
72
Vamos pôr outra vez altera e 50 e nós aqui dissemos que ele podia. Faz sentido? Ele aqui poder recorrer quando é
beneficiado e na outra, mantem tudo na mesma, não pode? É um problema que se levanta e o legislador não resolve,
nestes casos, temos de ir à doutrina e à jurisprudência.

Reparem: na 1º situação ele fica beneficiado e pode recorrer, na outra, não fica beneficiado não pode. Faz sentido?
Não faz, não faz de facto sentido absolutamente nenhum. E daí que, na doutrina, o professor Teixeira de Sousa tenha
logo levantado este problema. Então numa situação em que o réu fica na mesma não pode recorrer e numa que é
beneficiado face à sentença já pode? Não faz sentido. E de facto a jurisprudência tem adotado a tese do professor
Teixeira de Sousa. E nas situações em que o réu, o condenado, é beneficiado face à sentença da 1ª instância,
então, também não pode recorrer.

Qual é a única hipótese que ele tem? Aqui também não vai dar, mas podemos alterar para dar, vamos pôr 40. Está a
beneficiar, em princípio não pode recorrer, qual é a única hipótese que ele tem? É se agora, nesta situação, quem é que
pode recorrer? O A, porquê? Porque temos valor e temos sucumbência porquê? Qual é a diferença? Porque é superior
a metade da alçada do tribunal de que se recorre, quanto é que é neste caso? 15.000.00€. Ele tem uma sucumbência de
20, portanto, o A pode recorrer. Se o A pode recorrer, o B pode interpor recurso subordinado. É a única hipótese que
o B tem.

Mas há uma parte da doutrina que entende que não é assim. Entende que neste caso o réu pode interpor recurso de
revista, porquê? É o professor Rui Pinto que entende assim. Porque no art. 671º nº3 o que está dito é que não é
admitida revista do acórdão da Relação que confirme, ora, confirmar é manter na integra e é obvio que o acórdão da
Relação não mantém na integra a sentença da 1ª instância. Porquê? Qual é que é a razão da dupla conforme? É que se
há duas decisões idênticas, há uma segurança grande de que a decisão está correta e é este o fundamento da dupla
conforme. Se já dois tribunais decidiram exatamente da mesma maneira para quê interpor recurso para o STJ. O
professor Rui Pinto entende que neste caso não há essa segurança, porquê? Porque o acórdão da Relação alterou, ainda
que só quanto ao pedido, a sentença da 1ª instância. O professor Rui entende que perante este caso basta que o acórdão
da Relação não confirme para que possa ser.

Mas o Supremo não tem entendido assim. O Supremo segue a tese do professor Teixeira de Sousa. Que abre a porta
apenas à possibilidade de ele vir a poder interpor recurso subordinado.

Segunda nota: vocês sabem que a decisão da Relação é um acórdão. E já sabem que um acórdão é a decisão de um
tribunal coletivo. E sabem que cada secção da Relação é composta por 3 juízes desembargadores e, portanto, basta
haver um voto de vencido para que esteja aberta a porta à possibilidade de recurso, desde que os requisitos do art. 629º
estejam preenchidos. Nunca se esqueçam do art. 629º.

Por falar nisso, exemplo: o réu é condenado no pedido. O valor da causa é 29.000.00. E o acórdão da Relação
confirma na integra, sem voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente. E dizem logo vocês assim:
aí verifica-se dupla conforme. Aqui não há dúvida, pois não? Pois é. Mas é que o B agora entende que estão em causa
interesses de particular relevância social. Revista excecional. Portanto, o B pode interpor recurso de revista
excecional, art. 672º nº3. Portanto, todos vocês diziam que o B podia interpor recurso, certo? Ou errado? Errado! Por

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causa do valor da ação. Claro que aqui não pode haver recurso. A revista excecional é uma revista, só é excecional
porque é uma exceção à dupla conforme. Aqui não poderia haver recurso de revista, nem normal, nem excecional,
nada. Porquê? Porque o valor da causa não excede a alçada do tribunal de que se recorre, não excede a alçada do
tribunal da Relação, logo, não pode haver recurso para o supremo. Seja simples, seja excecional, seja o que for, não
pode.

Mas se fosse possível, se mudarmos o valor para 35.000.00€. Isto é logo assim? Basta que o B entenda que estão em
causa interesses de particular relevância social para que o recurso de revista excecional seja admitido? Não. Quem é
que vai apreciar se estão em causa interesses de particular relevância particular, é o juiz do tribunal da Relação que vai
ter de proferir despacho de admissibilidade do recurso? Porque não se esqueçam, este recurso é interposto aonde? É o
tribunal da Relação, portanto, o recurso é sempre interposto perante o tribunal que proferiu a decisão. O recurso de
revista é interposto na Relação. Quem é que vai apreciar isto? É o juiz relator da Relação que vai apreciar se o recurso
é admissível ou não? Não, não é. Quem é então? É o nº3 do art. 633º (?), são os 3 juízes, é essa comissão de juízes que
vai apreciar a verificação dos pressupostos do nº1 do art. 672º. E vejam que esta decisão, desta comissão, é definitiva.
Não sendo suscetível de reclamação ou recurso, aqui temos uma situação em que a lei corta a possibilidade de recurso
desta decisão.

Agora suponham outra coisa: o A intenta a ação contra B e C e o A pede a condenação do B a pagar os 35.000.00 (?).
e no despacho saneador o tribunal julga B parte ilegítima e absolve B da instância. Quem é que pode recorrer deste
despacho saneador? O A através de uma apelação autónoma ou de uma apelação dependente? Art. 644º nº1 al.b). E
recorre para a Relação, do despacho saneador que julgou o B parte ilegítima. A Relação revoga o despacho saneador.
B pode interpor recurso de revista? Neste caso, reparem, o A interpôs recurso do despacho saneador, através de uma
apelação autónoma, art 644º nº1 al. b). porquê? Porque o despacho saneador que sem pôr termo a causa absolveu um
dos réus da instância, está lá. O A agiu bem, não esperou pela sentença para impugnar. Mas agora, a Relação arrasa o
despacho saneador, portanto, revoga-o. portanto, o B deixa de ser parte ilegítima e passa a ser outra vez parte legitima.
Pode agora o B interpor recurso do acórdão da Relação que revogou o despacho saneador? A resposta está no art.
671º. Acham que o acórdão da Relação conheceu do mérito da causa? Essa parte é para esquecer. Ou que ponha termo
ao processo absolvendo ... foi o que aconteceu? Não. Portanto, por aqui era admissível recurso de revista? Não.
Vamos ao nº2, onde é que sabemos que o recurso é sempre admissível, onde é que vamos ver isso? Ao art. 629º nº2 ou
3. Cabe lá esta situação, da ilegitimidade, claro que não. Existe contradição? Não. Era admissível recurso daquele
acórdão da Relação? Não. Então, o B não podia recorrer do acórdão da Relação que revogou o despacho saneador.

Resumindo: Não esquecer a interpretação do art. 671º nº3. Não esquecer que a revista excecional é um recurso de
revista e sendo um recurso de revista é um recurso ordinário e sendo um recurso ordinário está sujeito as condições do
art. 629º nº1 e, portanto, não é porque lá esteja em causa interesses de particular relevância social ou que esteja em
causa uma decisão para uma melhor interpretação do direito que é admissível o recurso de revista excecional, porque
tem de respeitar os requisitos do art. 629º. Conhecer bem o art. 671º nº1 e 2 para saber quais são os acórdãos da
Relação que são suscetíveis de recurso para o Supremo e, portanto, acórdão da Relação que conhecendo da decisão
da 1ª instância conheça do mérito da causa, ou que ponha termo ao processo absolvendo da instância o réu ou
algum dos réus, esses admitem recurso de revista, à contrário, não conheça do mérito da causa ou que não ponha

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termos ao processo absolvendo o réu ou algum dos réus quanto ao pedido não admite. Depois, relativamente à questão
dos acórdãos da Relação que apreciem decisões interlocutórias que recaiam unicamente sobre a relação processual,
esses, só podem ser objeto de revista nos casos em que o recurso é sempre admissível ou quando estejam em
contradição com um acórdão já transitado em julgado...

A sequência das perguntas costuma ser sempre esta:

→ uma para ver da, quanto à oportunidade do recurso, portanto, há um despacho saneador, tem varias
decisões e perguntamos se pode haver, após notificado da sentença, se ainda podem recorrer dessas decisões
do despacho saneador;
→ depois levantamos sempre a hipótese do acórdão da Relação vir com uma decisão contrária aquela que foi
tomada no despacho saneador, que é para depois verificarem o art. 644º e 671º.

Qual é o efeito do recurso de revista? Efeito meramente devolutivo, mas meramente devolutivo que o de apelação
porque só há uma situação em que o recurso de revista tem efeito suspensivo. O recurso de revista só tem efeito
suspensivo em questões sobre o estado das pessoas.

Há alguma possibilidade de o Supremo Tribunal de Justiça em sede de recurso de revista poder conhecer ou alterar a
matéria de facto fixada pelas instâncias? Não, nenhuma? Essa é a resposta natural, porque é que me estão a dar essa
resposta? Porque o Supremo é um tribunal de revista, só conhece questões de direito. Mas, há aí uma situação que diz
assim ‘’o erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não pode ser objeto de recurso de
revista’’, porquê? Porque os factos são fixados pelas instancias e o Supremo não é uma 3ª instancia.

OT – 05/01/2023 (23)

HIPÓTESE

António, casado, intentou contra Bernardo e Carla ação declarativa pedindo: (i) a anulação do contrato de
compra e venda outorgado com Bernardo, com fundamento em dolo de terceiro (Carla) (ii) a condenação de
Carla em indemnização no valor € 5.500,00, pelos prejuízos causados pelo dolo. Na petição inicial António
invocava que só adquiriu o bem em causa pelo preço de €50.000,00, por ter sido enganada por Carla.

Bernardo contestou, invocando, para além do mais, que o invocado direito de anulação já haveria caducado,
bem que o autor era parte ilegítima, pois a acção devia ter sido intentada pelo seu conjugue. Carla não
contestou.

Em despacho saneador o juiz julgou improcedente toda a defesa por excepção do réu Bernardo.

Na sentença final foi julgado procedente o pedido de anulação e Carla foi condenada no pagamento ao Autor
no montante de €4.000.00.

Esquema:

 A casado, intentou contra B e C uma ação declarativa;


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 Pedido: anulação do contrato + indemnização de 5.500,00 €;
 Anulação do contrato – pediu apenas contra B;
 Ação de indemnização – pediu contra C;
 Contestação do réu – B invoca a caducidade e a ilegitimidade + C não contesta;
 Despacho saneador – juiz julga improcedente a defesa de B;
 Sentença – juiz anula (julgado procedente) e condena no pagamento.

1. António, Bernardo e Carla podem impugnar as decisões proferidas na sentença final? Justifique.

Não falar aqui do despacho saneador, porque só fala da sentença final.

António pediu a anulação do contrato contra Bento e pediu uma indemnização contra Carla. Quanto à anulação o juiz
impugnou. Ele pode impugnar? Ele tem legitimidade? António para recorrer tem que ser parte vencida, ele é parte
vencida relativamente ao pedido de condenação, quanto ao pedido de anulação obteve vencimento total. Ele só teria
legitimidade quanto a condenação de Carla – ele pediu 5.500,00 € e foi condenado em 4.000,00€. Quanto ao pedido de
anulação, ele não é parte vencida, quanto ao pedido de condenação em indemnização ele é parte vencida porque
poderia ter obtido uma decisão mais favorável.

O valor da ação é a soma dos pedidos, portanto 50.000,00 € era o pedido de anulação e 5.500,00 €, portanto o valor da
ação era de 55.500,00. A sucumbência era de 1.500,00 €. Apesar de ter legitimidade, não podia recorrer porque o
valor da sucumbência é inferior a metade da alçada do tribunal de que se recorre (art.629º). Só poderia recorrer se a
sucumbência fosse superior a metade da alçada ou se Carla recorre-se, porque aí seria recurso subordinado e aí não
conta o requisito da sucumbência.

Então, António é parte vencida porque poderia ter obtido uma decisão mais favorável, mas não podia recorrer porque
o valor da sucumbência não o permitia, a menos que Carla recorre-se.

Quanto a Bernardo, a pergunta é se ele pode impugnar as decisões proferidas na sentença. O Bernardo pode impugnar
a decisão de anulação, porque ele foi parte vencida, ele contestou e podia ter obtido uma decisão mais favorável. Não
pode impugnar a parte da decisão em que foi condenada Carla, porque ele aí não é parte vencida. Ele só pode
impugnar a parte da anulação.

Carla não contestou, o valor da ação não levanta problema, mas é parte vencida porque poderia ter obtido uma
decisão mais favorável.

2. Admitindo que Bernardo pode interpor recurso, bem que o mesmo não se conforma com as decisões
proferidas, elabore o respectivo requerimento de interposição de recurso.

Aqui já temos que falar nos dois. Aqui já estamos a falar de todas as decisões.

O Bernardo podia impugnar o despacho saneador ou não? Já vimos que Bernardo pode interpor recurso da sentença.
Mas pode interpor recurso do saneador? Temos que ir ao art.644º. O que é que o Bernardo pediu? A declaração de
caducidade e a ilegitimidade. E o que é que o juiz fez? Julgou improcedente as duas exceções. O que é que temos que
fazer? Para saber se agora, depois de proferida a sentença, se o Bernardo ainda pode impugnar as decisões tomadas no

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despacho saneador, temos de saber se não terá já precludido esse direito. O Bernardo ainda pode impugnar? Ou já
precludiu esse direito?

O despacho saneador julgou improcedente a exceção de caducidade. Onde é que podemos subsumir o despacho
saneador quanto à parte que julgou improcedente a exceção de caducidade? Temos que ir ao art.644º e temos o nº1,
al.a) e al.b), nº2 e nº3. Eu tenho que subsumir a uma das normas do art.644º. Quando o juiz julga improcedente a
exceção de caducidade, está a julgar o mérito, logo entra no nº1, al.b). Decidiu do mérito sem pôr termo ao processo.
Caducidade é uma questão substantiva, de direito material. Não é uma questão processual. Eu sei que, neste parte, o
despacho saneador admitia recurso. Se admitia recurso, nos termos da al.b) do nº1 do art.644º qual era o prazo que
tinha? Tinha 30 dias. Se já foi proferida a sentença, provavelmente já passou o prazo e não podia. Não podia recorrer
porquê? Porque ou recorria de imediato ou depois só depois podia recorrer juntamente com a sentença, nos termos do
nº3 do art.644º. O nº3 diz “as restantes decisões”, isto é, as que não se subsumam ao nº1 ou ao nº2 entram aqui no
nº3, podem ser impugnadas com a sentença. Aqui ele já não podia recorrer porque tinha uma apelação autónoma que
ele podia ter interposto.

Quanto ao despacho saneador em que o juiz julgou improcedente a exceção da ilegitimidade. O juiz disse que
Bernardo não tinha razão quanto entende que o autor é parte ilegítima e julga improcedente essa defesa. Onde
subsumimos a decisão? Temos que ir ver o art.644º. No nº1, al.a) não dá porque não é uma decisão que ponha termo
ao processo, não absolveu o réu da instância, não conheceu do mérito, no nº2 não consigo encaixar. As decisões
proferidas no despacho saneador sobre pressupostos processuais entram no nº3 com a exceção da questão da
competência absoluta que está na b) do nº2. Se conhece do mérito vamos para a al.a) ou b) do nº1. Se são questões
de natureza processual, se absolve o réu da instância, o autor interpõe logo recurso, se o juiz julga improcedente as
exceções, o réu pode depois impugnar com a sentença final. Decisões do despacho saneador sobre pressupostos
processuais se não absolve o réu da instancia, só a questão da competência é que aparece no nº2, de resto os
pressupostos processuais entram no nº3, pelo que podem ser impugnados juntamente com a sentença.

Eu tenho que subsumir o despacho saneador, uma decisão interlocutória (atenção que isto não se aplica só ao
despacho saneador, aplica-se as todas as decisões interlocutórias) a umas das normas do art.644º.

VAMOS AGORA ELABORAR O REQUERIMENTO DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – tenho que ir à lei ver
onde está o requerimento de interposição de recurso e verificar quais os elementos que tem que constar no
requerimento – art.637º - o recurso interpõe-se por meio de requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão
recorrida. Eu sou o Bernardo e quero recorrer das decisões que me foram desfavoráveis, ou seja, da sentença e do
despacho. Como eu estou a dirigir-me ao juiz de 1ª instancia é o Juiz De Direito, se fosse para a relação era
Excelentíssimos Senhores Juizes Desembargadores. Então, tenho que começar a dizer excelentíssimo senhor juiz de
direito.. Bernardo é réu por isso digo “réu do processo à margem identificado”. Continuando, tendo sido notificado
da sentença – eu só posso recorrer na parte em que o juiz anulou o contrato – que anulou o contrato venho da
mesma interpor recurso. Agora o que é que me diz o art.637º? Eu tenho que dizer ao juiz ao que venho, e eu venho
interpor recurso. Venho interpor recurso. No qual, no requerimento que se indique a espécie. Qual é a espécie de
recurso? Venho interpor recurso de apelação. Agora falta o efeito - com efeito meramente devolutivo, que é a regra
(art.647º). Qual é o modo de subida? A questão é saber se sobre o processo todo ou se sobe apenas parte do processo.
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Como é decisão final do despacho vai subir tudo – art.645º “sobem nos próprios autos as apelações interpostas das
decisões que ponham termo ao processo”. Subir nos próprios autos quer dizer que todo processo é enviado para o
tribunal. Vai tudo para a relação. Com subida nos próprios autos (art.645º). Agora tenho que dizer o que? Mais se
recorre do despacho saneador – eu só posso recorrer da questão da ilegitimidade, do outro já não posso. Então, mais
se recorre do despacho saneador que julgou improcedente a exceção dilatória (art.644º, nº3). Está feito o
requerimento de interposição de recurso. Como é que eu vou terminar? Normalmente diz-se o seguinte: porque está
em tempo e ter legitimidade, deve o recurso ser admitido. E agora o que é que falta sob pena deste recurso não ser
admitido? Como é que eu termino o requerimento? Junta as alegações. Se eu não as alegações “já fui”. Art.637º, nº2 –
o requerimento de interposição de recurso contém obrigatoriamente a alegação do recorrente. As alegações são a
razão de ser do recurso. Porque é que ele está a recorrer? Ele vai pedir a alteração da decisão. As alegações são
dirigidas a quem? Aqui já vamos pôr excelentíssimos juizes desembargadores. Aqui é que ele vai dizer que quer que a
relação altere a decisão. As As alegações são os fundamentos do recurso mas eu não apresento as alegações ao juiz
que proferiu a decisão, não é ele que vai decidir do recurso. Eu terminei a dizer “deve o recurso ser admitido”. Admitir
o recurso não é dar-me razão, é dizer que é recorrível, envie para a relação. E agora o que é que a relação vai fazer?
Vai ver as minhas alegações.

Excelentíssimo Senhor Juiz De Direito, réu do processo à margem identificado, tendo sido notificado da sentença
que anulou o contrato venho da mesma interpor recurso de apelação, com efeito meramente devolutivo (art.647º)
com subida nos próprios autos (art.645º). Mais se recorre do despacho saneador que julgou improcedente a
exceção dilatória (art.644º, nº3). Porque está em tempo e ter legitimidade deve o recurso ser admitido. Junta as
alegações.

O requerimento de interposição de recurso é um pedido ao juiz que admita o recurso. Ao tribunal superior vou pedir
que julgue procedente o recurso e que altere as decisões impugnadas. As motivações do recurso não estão no
requerimento de interposição do recurso, estão nas alegações do recurso. Se eu não juntar as alegações é
indeferimento liminar [art.641º, nº2, al.b)].

3. Admita que em sede de recurso, o Tribunal de Relação mantinha todas as decisões proferidas em
primeira instância. Tal acórdão poderia ser impugnado? Justifique.

Admitir agora que em sede de recurso (não foi agora uma ação proposta no tribunal da relação), que o tribunal da
relação mantinha todas as decisões proferidas em 1ª instancia. Este acordão podia ser impugnado. Estamos a ver se é
admissível recurso de revista.

 Temos uma sentença → anulação e condenação de indemnização – 4.000,00.


 Temos um despacho saneador → declara improcedente a exceção de caducidade e a exceção de
ilegitimidade;
 Temos um acordão da relação → confirmação na integra da sentença e do despacho saneador.

Posso recorrer deste acordão para o STJ? Estou a pedir que olhem para o art.

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A primeira coisa que vamos pensar é que é suposto falarmos da dupla conforme e, portanto, se o acordão da relação
confirma, temos dupla conforme e tenho que ver se é admissível a revista excecional ou não. O professor quer que a
gente pense nisto, mas também quer que pensámos noutras coisas. Quando se coloca a questão de admissibilidade do
recurso do acordão da relação para o supremo, tem que pensar em 3 questões:

1. Na questão da dupla conforme;


2. No art.671º;
3. No art.629º.

Para recorrer para o STJ tenho que respeitar o art.629º. Só é admissível recurso para o supremo quando o valor da
ação seja superior a alçada do tribunal da relação – 30.000,00 €. E é necessário que o valor da sucumbência seja
superior a metade da alçada do tribunal da relação – 15.000,00 €.

A dupla conforme não elimina as outras questões. Não posso dizer que há dupla conforme e dizer logo que não há
recurso a menos que possa haver revista excecional, se eu disser que o valor não permite a revista, não é possível
revista excecional para ultrapassar a dupla conforme. A Carla sucumbiu em 4.000,00 €, Carla não pode recorrer.
Podemos dizer que pelo valor não pode e analisar as outras questões. A dupla conforme diz-nos que se a relação
confirma a decisão da 1ª instância só é admissível recurso nas situações excecionais, no caso da revista excecional –
situação prevista no art.671º - o supremo tribunal de justiça é um tribunal especial, é um tribunal de revista porque não
é uma verdadeira instância, o supremo não vai por regra julgar matéria de facto, mas para além disso, sobre as
questões de natureza processual o supremo não tem o mesmo poder jurisdicional que tem a relação. Vamos ver o
art.671º para saber se podíamos recorrer para o supremo ou não (independentemente do valor). Do despacho que
julgou improcedente a exceção de caducidade podia recorrer para o supremo ou não? Quer dizer, do acordão que
confirmou o despacho, de que não havia caducidade podia recorrer ou não? Conheceu do mérito ou não? Sim,
art.671º, nº11 “cabe revista para o Supremo Tribunal de Justiça do acórdão da Relação, proferido sobre decisão da
1.ª instância, que conheça do mérito da causa ou que ponha termo ao processo”, o despacho saneador conheceu do
mérito da causa, logo o acordão da relação que confirmou o despacho saneador dizendo que não tinha caducado, está a
conhecer do mérito. Logo posso recorrer para o supremo.

E quanto ao despacho que conheceu da legitimidade? Nº2 – “os acórdãos da Relação que apreciem decisões
interlocutórias (despacho saneador) que recaiam unicamente sobre a relação processual só podem ser objeto de
revista” se estivermos perante a situação da al.a) ou da al.b). Não temos dados na hipótese para saber se estamos
perante a al.a) ou perante a al.b) 

a) Nos casos em que o recurso é sempre admissível – situações do art.629º em que independentemente do valor é
admissível recurso, não é o caso
b) Quando estejam em contradição com outro, já transitado em julgado, proferido pelo Supremo Tribunal de
Justiça, no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito, salvo se tiver sido
proferido acórdão de uniformização de jurisprudência com ele conforme – só poderia haver recurso se o
recorrente pudesse demonstra a existência de um acordão em sentido contrário aquele que foi proferido.

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Em princípio não podia haver recurso a menos que pudéssemos subsumir a hipótese na al.b) do nº2 do art.671º.

Eu tenho que me preocupar com 3 coisas: o valor da ação para ir para o supremo, ver se há ou não dupla conforme, se
houver tenho que ir ao art.672º e ver se verificada alguma situação do art.672º poderia recorrer e ainda tenho que
subsumir a hipótese no art.671º, que há decisões sobre questões processuais proferidas no saneador, que não são
suscetíveis de recurso no supremo a menos que exista uma contradição entre acórdãos.

Prática – 06/01/2023 (24)

COMO FAZER O REQUERIMENTO DE INJUNÇÃO DE RECURSO

O modelo está no art. 637º. Portanto, fulano tal, autor ou réu. Exemplo: autor nos autos supra referenciados, temos de
indicar o nº do processo e o tribunal, notificado da sentença, não concordando com a mesma, vem dela interpor
recurso que é de apelação com efeito meramente devolutivo e a subir nos próprios autos, junta alegações com as
respetivas conclusões.

Agora temos de ir à procura dos artigos para justificar. Portanto, estamos a recorrer de uma sentença, é uma decisão
que põe termo ao processo art. 644º nº1 al. a), já estamos a dizer que é um recurso de apelação, cabe apelação da
sentença que ponha termo ao processo; com efeito meramente devolutivo art. 647º nº1; a subir nos próprios autos art.
645º nº1 al. a), todos do CPC.

A quem é que é dirigido este requerimento? Ao tribunal que proferiu a sentença, será, obviamente, já que estamos a
falar de uma sentença, o tribunal de 1ª instância. Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito.

Se fosse um recurso de revista:

Tínhamos de trocar sentença para notificado do acórdão da Relação, não concordando com o mesmo, vem dele
interpor recurso que é de revista com o efeito meramente devolutivo a subir nos próprios autos. E agora tínhamos de ir
pôr os artigos próprios da revista.

E se tivermos naquelas situações em que temos um recurso de apelação, o recurso foi distribuído e o relator por
entender que é uma questão de pouca complexidade faz uma decisão sumária. E eu, autor ou réu, não concordo com
aquela decisão. O que é que eu devo fazer? Interponho recurso de revista ou devo fazer outra coisa qualquer?

O que é que diz o art. 671º? ‘’1 - Cabe revista para o Supremo ... do acórdão da relação...’’, aqui houve algum
acórdão? Não, houve uma decisão do relator, não é um acórdão. Não tenho um acórdão porque foi uma decisão do
relator da relação. E como é que eu agora obtenho um acórdão? Para depois poder recorrer para o Supremo se depois o
acórdão mantiver a decisão do relator. O que é que eu devo fazer?

Art. 656º ‘’Quando o relator entender que a questão a decidir é simples..., ou que o recurso é manifestamente
infundado, profere decisão sumária, que pode consistir em simples remissão para as precedentes decisões, de que se
juntará cópia.’’. Agora, eu quero saber como é que impugno esta decisão sumária. Porque nós vamos ao art. 671º e nós
sabemos que cabe recurso do acórdão e nós sabemos que o acórdão é uma decisão de um tribunal coletivo, porque se

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não, não se chamava acórdão. Porque é que a decisão da 1ª instância se chama sentença? Porque é de um tribunal
singular.

Ora, se eu tenho uma decisão sumária de um relator como é que eu agora consigo um acórdão ? Art. 652º nº3 ‘’...
quando a parte se considere prejudicada por qualquer despacho do relator, que não seja de mero expediente, pode
requerer que sobre a matéria do despacho recaia um acórdão; o relator deve submeter o caso à conferencia...’’. O
relator tem de submeter a decisão à conferencia. E então, na conferencia temos 3 desembargadores que vão proferir
um acórdão, esse, sim, suscetível de recurso de revista. Portanto, a parte prejudicada tem de reclamar e que requerer
sobre a matéria do despacho recaia um acórdão.

Temos de saber qual é que é o prazo para recorrer. Para interpor recurso de revista temos 30 dias, mas para reclamar
para obter o acórdão não são 30 dias, são 10 dias. Quando a lei não indique expressamente um prazo, o prazo
supletivo são 10 dias. E esse prazo pode já ter ido ao ar, já foi quase de certeza, a parte quando já está a pensar no
recurso nunca pensa em 10, pensa sempre em 30. Temos de ter cuidado com estas coisas.

Ação executiva

*não percebi o que o João disse, qualquer coisa haver com títulos executivos e o professor diz que foi uma questão
que já saiu no teste.

1ª coisa: os documentos autênticos ou autenticados são título executivo quando deles conste a constituição ou
reconhecimento de uma obrigação. A questão coloca-se quando nesses documentos, e até mesmo numa sentença, se
prevê o incumprimento. Não é a constituição de uma obrigação, é o incumprimento e depois desse incumprimento
nascer uma obrigação de indemnização, através do que seja. O que acontece é que a obrigação de indemnizar ou de
pagar a clausula penal só nasce com o incumprimento. E o incumprimento não está atestado no documento.

A 1ª aula que vos dei, chamei-vos à atenção para um acórdão do Supremo, sobre o acordo que as partes tinham
chegado no tribunal, uma transação, estavam lá os termos do acordo e em caso de incumprimento será devida
indemnização tal. Depois mostrei-vos no acordo, o não sei quê confessa-se devedor da quantia tal que será paga em
não sei quantas prestações, um acordo normal. E, depois, no final em caso de incumprimento. E depois o juiz na
sentença que homologa o acordo diz ok condene-se as partes a cumprirem os termos do acordo, o normal de uma
sentença homologatória, e houve incumprimento, e o exequente o que é que pede? Junta como título a sentença
homologatória, o que é que pede? Não pede apenas as prestações que não foram cumpridas, pede a tal clausula penal.
Ora, a sentença homologatória não é título executivo dessa clausula penal, porquê? Porque no caso do caso julgado da
sentença homologatória não abrange essa situação. O incumprimento daquilo que está estipulado no acordo é uma
coisa, a clausula penal em função desse incumprimento é outra. E, portanto, isso não é título, isso está no acórdão do
Supremo.

Num documento autêntico ou autenticado obviamente não se pode falar em caso julgado, mas é a questão de o
incumprimento, a obrigação de indemnização, da clausula penal, ou o que for, decorrente do incumprimento, essa, não
nasce do próprio documento. Portanto, tem de ser comprovada. Nesse sentido, através de uma ação declarativa. Aí a
sentença que vier a condenar só por si é título executivo.
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Não devem confundir essa questão com o art. 707º. Porque no 707º de alguma maneira, mais numa situação do que
noutra, numa há, há um comprometimento, naquela situação em que as partes prevêem prestações futuras são
prestações decorrentes de uma obrigação já constituída, portanto, as partes obrigam-se. As prestações decorrentes
dessa obrigação é que são futuras e, portanto, é preciso comprová-las. E reparem que na primeira situação é o credor
que se obriga a um comportamento e é esse comportamento que vai ser, que é futuro, que tem de ser comprovado e
para quê? Para que depois o credor possa executar as prestações do devedor. Exemplo típico: a abertura da conta de
crédito. Em que o credor diz sim senhor, eu disponibilizo-te o dinheiro quando tu precisares. Portanto, já se está a
obrigar. Ou quando eu numa escritura pública digo que vos irei emprestar. Eu já me estou a comprometer que vou
emprestar, mas como estamos a falar de negócios jurídicos quo constituicione só por si o negócio não está perfeito, só
está perfeito quando eu entregar o dinheiro ou quando o banco disponibilizar o dinheiro. E é essa disponibilização, é
essa entrega que tem de ser comprovada por um documento complementar.

Na segunda situação as partes nem sequer se obrigam a nada, apenas prevêem a hipótese de se virem a obrigar no
futuro e, geralmente, na prática isso acontece em que situações? Nas situações em que eu estou a constituir uma
garantia de um determinado empréstimo presente e em que digo ‘’olhem se por acaso eu vier a precisar de mais este
imóvel que eu lhe estou a dar como garantia fica já também como garantia’’ ou seja, serve como garantia deste
empréstimo, mas de futuros que me venhas a fazer. Então o que é que vai ser necessário? Vai ser necessário, se existir
esse futuro empréstimo, porque nós ainda não nos comprometemos a nada, eu apenas para precaver digo já que este
bem também vai servir de garantia para aquele futuro se por acaso vier a existir, então, vai ser necessário comprovar o
quê? A existência da obrigação futura, que é o tal empréstimo. Este é o âmbito do art. 707º. Não tem nada a ver com
as situações de incumprimento.

Diferença: Uma é não haver título executivo, na outra há, mas não é suficiente. Naquelas situações que estivemos a
falar da sentença homologatória, do acordo num documento autêntico ou autenticado em que as partes convencionam
aquela clausula penal, não há título executivo, não há. No art. 707º há, mas não basta, por isso é que se chama prova
complementar só título. Há título, mas não chega porque tem de ser feita prova complementar. E como é que é feita a
prova complementar? Ou através de um documento qualquer que as partes tenham previsto no título ou então se não
tiverem previsto no título tem de ser um documento com força de título executivo.

E não se esqueçam nunca disto, colocarem na cabeça isto não têm hipótese de errar, porque a doutrina para dizer isto
já pensou nisto: o art. 707º está pensado para aqueles negócios preparatórios de contratos quo constitucione, ou seja,
naqueles contratos que só estão perfeitos com a entrega da coisa. Por isso, quando sai num teste ou numa frequência,
como já saiu, em que o fulano vai comprar um carro, mas não lhe entregam logo o carro e depois entregam e o outro
não paga, a questão aqui EU NÃO PRECISO de prova complementar de nada, do 707º. Eu aqui não tenho de fazer
prova porque já houve a compra e venda e como sabem a compra e venda não é um negócio quo constitucione é de
quo efectum. Já foi feita a compra e venda, eu tenho é que fazer prova que já cumpri a minha prestação, para quê?
Para impedir que a outra parte, quando eu lhe for exigir por via do tribunal que me pague, venha com a chamada
exceção de não cumprimento e aí é art. 715º.

Numa frequência ou num teste já saiu isto, portanto, dois fulanos iam ao stand, compravam um carro tinham dado uma
parte do dinheiro, mas os carros não estavam disponíveis logo para entrega, o homem do stand mandou vir os carros,
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passado dois meses chegaram os carros, ele entregou os carros e claro os outros passaram dois cheques sem provisão e
isso tinha sido feito por documento autêntico ou autenticado. E foram para o art. 707º, ERRO. NADA A VER COM O
707º. Havia um contrato de compra e venda e obviamente que o art. 715º está pensado para aquelas situações dos
contratos sinalagmáticos em que o credor cumpre em primeiro lugar, portanto, em que não há simultaneidade das
prestações e o credor cumpre em primeiro lugar. E ele vai exigir o cumprimento da prestação da outra parte,
coercivamente, pois claro faz todo o sentido se é um contrato sinalagmático para que ele só possa exigir do outro se
comprovar que cumpriu ou se ofereceu para cumprir. É o que diz o 715º.

*não ouvi nado do que a estranha do cabelo esticado disse, mas tem haver com a ampliação do recurso.

Claro, isso é chamada a atitude à cautela. Recorrido, significa que... eu sou o recorrido, eu no processo que correu em
1ª instância acham que ganhei ou que perdi? *alunos, perdeu* errado, se eu sou o recorrido significa que houve um
recorrente. Ora, se eu sou o recorrido é porque ganhei, eu não recorri. O que é que acontece? Acontece é que na minha
ação eu tinha utilizado vários argumentos e o juiz como entendeu que logo pelo primeiro eu ganhava não conheceu os
outros como é obvio, ficam prejudicados. Bem, os juízes dizem sempre isso face à pluralidade de fundamentos na
ação desde logo uma vez que a ação é julgada procedente os outros ficam prejudicados. Ora, se a Catarina é a
recorrente, recorreu com base naquilo que a sentença entendeu e agora eu sou notificado do seu recurso para contra
alegar e na fundamentação das minhas contra alegações eu vou dizer olha para o caso de vossas excelências darem
sopa no fundamento da decisão da 1ª instância me deu vencimento olha não se esqueçam que eu também tinha
invocado este, este, este e este, portanto, façam lá vocês também o favor de conhecerem estes fundamentos para o
caso de não me darem razão no fundamento que do qual eu obtive vencimento na sentença. Estou a ampliar o recurso,
a ampliar um recurso que não é meu, porque eu não recorri, eu sou o recorrido, mas posso fazer essa ampliação.

E se agora lermos o que diz a lei no art. 636º, vamos chegar a esta conclusão, ‘’ 1- No caso da pluralidade de
fundamentos da ação ou da defesa, o tribunal de recurso conhece do fundamento em que a parte vencedora decaiu,
desde que esta o requeira, mesmo a título subsidiário, na respetiva alegação, prevenindo a necessidade da sua
apreciação.’’. Por isso é que eu disse à cautela. Eu ganhei porque invoquei a exceção da prescrição, mas para alem da
prescrição também tinha invocado a caducidade…, olha conheçam também destas para o caso de vocês entenderem
que não houve prescrição. É este o âmbito do art. 636º. O facto é que a minha ação ou a minha defesa tinha uma
pluralidade de fundamentos e o juiz deu-me razão só com um, isso é que interessa. A outra parte não ficou contente,
recorreu. E eu nas contra-alegações, à cautela, apreciem lá também os outros, se for necessário.

E já agora diz o nº2 do art. 636º ‘’ Pode ainda o recorrido, na respetiva alegação e a título subsidiário, arguir a
nulidade da sentença ou impugnar a decisão proferida sobre pontos determinados na matéria de facto, não impugnados
pelo recorrente, prevenindo a hipótese de procedência das questões por este suscitadas.’’. Mais uma vez, é sempre
para prevenir.

O recurso subordinado é um recurso eu passo a ser recorrente por isso é que no 633º nº1 qual é que é a frase, se ambas
as partes ficarem vencidas, ficarão vencidas não relativamente aos fundamentos, mas aí sim quanto ao pedido.
Imagine eu pedi mil ganhei, mas o tribunal só me deu 700. Fiquei vencido, podia ter obtido uma decisão mais
favorável. Claro, mas eu aí recorro, aí tenho lá dois recursos, um é independente, o outro é subordinado. Ambas as
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partes são recorrentes ainda que uma a título subordinado, mas são dois recursos. AQUI NÃO, só há um recurso, o do
recorrente, o que perdeu a ação, o outro apenas se limita a pedir para aproveitarem para apreciar os outros.

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