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Fichamento:

Processo Civil: Recursos e Processos nos Tribunais (APELACAO)


Disciplina: Direito Processual Civil III
Professora: Renata Maria Silveira Toledo

ATIVIDADE CONTINUADA 04

RIBEIRO, Marcelo
Processo civil [recurso eletrônico] / Marcelo Ribeiro. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Método, 2023.

Formato: epub. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786559646166/epubcfi/
6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dcover]!/4/2/2%4051:40

CONCEITO
A apelação é o mais conhecido recurso do âmbito processual. Sua regulamentação se
faz entre os arts. 1.009 e 1.014 do CPC, sem prejuízo das lições apresentadas nas disposições
gerais dos recursos, tais como a primazia do mérito e o dever de correção.

O objeto da apelação, tradicionalmente, reside na sentença, seja ela terminativa ou


definitiva, declaratória, constitutiva ou condenatória, em processo de conhecimento ou de
execução, em jurisdição voluntária ou contenciosa. As poucas exceções resultam da Lei de
Execução Fiscal, em que a sentença é atacada por embargos infringentes de alçada, e pela
sentença que decreta a falência, quando o recurso cabível, por expressa disposição legal, é o
agravo de instrumento.

O novo Código de Processo Civil, nesse ponto, promove ampliação do objeto da


apelação, pois contempla a possibilidade de atacar também as decisões interlocutórias não
passíveis de agravo de instrumento, cuja previsão se encontra no art. 1.015. Para tanto, a parte
que interpuser o recurso deve suscitar em preliminar, da apelação ou das contrarrazões, que,
antes de julgar o pedido de revisão da sentença, seja julgado o pedido de revisão da decisão
interlocutória não agravável, que, como se pode deduzir, mesmo proferida há muito tempo,
não se submete à preclusão, e, por essa razão, pode ser revista em momento posterior.

Nesse sentido, o art. 1.009, § 1º, vai dizer que: “As questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são
cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente
interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões”.

Feito isso, deverá o tribunal reexaminar primeiro a decisão interlocutória. Concluindo


por sua alteração, o processo retornará à fase em que ela foi proferida, com possível prejuízo
dos atos subsequentes que lhe sejam conexos. Sendo, por exemplo, afetada a sentença, por
consequência lógica, também ficará prejudicada a apelação. De outro lado, entretanto, pode o
tribunal concluir pela manutenção da interlocutória e seguir para reexaminar o pedido de
impugnação da sentença.

Questão interessante consiste em saber se a apelação pode ser utilizada somente para
atacar a decisão interlocutória não agravável ou se essa possibilidade pressupõe o ataque
conjunto da sentença. Em que pese a divergência doutrinária, entendemos pela possibilidade
de a apelação atacar somente a decisão interlocutória, sobretudo porque o interesse em
recorrer não se limita pelo gravame da parte dispositiva, mas sim pela possibilidade de obter-
se um resultado mais favorável e seguro, com o julgamento do recurso.

Visto o conceito e o objeto da apelação, seguimos para identificar seus requisitos de


admissibilidade. No que se refere à tempestividade, disponibiliza-se aqui o prazo geral dos
recursos, de quinze dias, contados apenas em dias úteis.

Ao tratar do preparo, o apelante deve observar as leis estaduais para identificar o valor
das custas, uma vez que a apelação, sem prejuízo de isenções objetivas, reclama o
recolhimento da taxa para assegurar um juízo positivo de admissibilidade.

Já sobre os aspectos formais, informados pelo art. 1.010 do CPC, deve o apelante
observar que sua interposição se faz perante o juízo de primeiro grau que proferiu a decisão,
com os nomes e a qualificação das partes, a exposição de fato e de direito, as razões do pedido
de reforma ou invalidação e o pedido expresso de nova decisão.

Em que pese a apelação ser interposta perante o juízo a quo, este não mais exerce
qualquer juízo de admissibilidade, devendo remetê-lo ao órgão competente, após cumprir o
procedimento de entrega do recurso e oferecimento das contrarrazões.

Avançando agora para os efeitos da apelação, podemos afirmar que, como toda
espécie recursal, aqui constatamos o efeito devolutivo. No plano horizontal, fala-se na
extensão da impugnação, que, como se sabe, pode ser total ou parcial. Já no plano vertical,
trata-se da profundidade, cuja amplitude se estabelece em respeito aos §§ 1º e 2º do art.
1.013 do CPC e permite que o tribunal conheça de todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, ainda que não tenham sido solucionadas, se estiverem presentes no capítulo
impugnado. Note que, por essa via, tratamos dos fundamentos e não do pedido de revisão,
sendo possível ao tribunal, no julgamento da apelação, manter a decisão judicial por
fundamento distinto daquele utilizado em primeira instância. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p.
633)

DOS EFEITOS

- DEVOLUTIVO
Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que
relativas ao capítulo impugnado. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 634)

- SUSPENSIVO
Em regra, a apelação goza do efeito suspensivo, e, por isso, a decisão atacada não está
apta a produzir efeitos desde sua prolação. É claro que, por conta da isonomia material e do
resgate da faticidade, algumas hipóteses afastam esse efeito suspensivo, permitindo o
cumprimento provisório da decisão judicial. Sobre o tema, destacamos, pelo art. 1.012, § 1º, a
sentença que: (I) homologa divisão ou demarcação de terras; (II) condena a pagar alimentos;
(III) extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; (IV)
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; (V) confirma, concede ou revoga tutela
provisória; (VI) decreta a interdição. O rol é apenas exemplificativo, mas ilustra muitas
hipóteses em que se admite o cumprimento provisório da decisão judicial. Em qualquer delas,
o requerimento de concessão do efeito suspensivo pode ser formulado diretamente ao
tribunal, no período que compreende a interposição do recurso e sua distribuição, caso em que
o relator sorteado será prevento para julgar o recurso, quando este chegar à Corte.

De modo geral, a atribuição do efeito suspensivo ao recurso demanda da parte a


demonstração de que o cumprimento provisório da decisão possa causar-lhe dano de grave ou
difícil reparação. Há, entretanto, aqui na apelação e no recurso de embargos declaratórios,
permissão para que o efeito suspensivo seja atribuído apenas por justa e relevante
fundamentação. Na prática, isso significa que o apelante não precisa, necessariamente, evocar
os fundamentos já conhecidos para a concessão das tutelas provisórias de urgência, podendo
elidir o cumprimento provisório mesmo quando não exista risco de dano grave, se a
fundamentação evocada for convincente. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 634)

- REGRESSIVO

Em decorrência da primazia do mérito, o recurso de apelação é dotado de efeito


regressivo, permitindo ao magistrado, diante de sua interposição, que se retrate da sentença
proferida com base em qualquer das hipóteses de extinção sem resolução do mérito, e, ainda,
quando concluir pela improcedência liminar da petição inicial, nos termos do art. 332, § 3º, do
CPC. Em ambos os casos, o prazo para a retratação é de cinco dias (RIBEIRO, Marcelo – 2023
– p. 635)

- TRANSLATIVO

O efeito translativo, por sua vez, permite ao tribunal conhecer de ofício matéria de
ordem pública ainda não suscitada, desde que afeta ao capítulo impugnado pela apelação. Do
contrário, não sendo o capítulo da decisão objeto da apelação, o vício é sanado pela formação
da coisa julgada e não será conhecido pelo tribunal. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 635)

O efeito devolutivo é próprio de qualquer recurso, e representa a transferência do


conhecimento da matéria impugnada para um novo julgamento, que pode se dar perante o
mesmo órgão ou em órgão distinto.
A devolução se desdobra pela extensão e profundidade. Ao tratar da extensão, verifica-
se o que se submete à revisão, pelo consagrado termo: tantum devolutum quantum
appellatum. Determina-se, com isso, o objeto litigioso do procedimento recursal, que aqui
traduz a dimensão horizontal do efeito devolutivo.

Evocando-se as lições sobre a coisa julgada, conclui-se que, em havendo capítulos


independentes na decisão judicial, aquele que não for objeto de recurso se tornará imutável e
indiscutível, sendo defeso ao órgão revisor alterar seu conteúdo, mesmo ao argumento de
existirem violações de ordem pública, conhecidas a qualquer tempo, já que, sobre o tema, não
se exerce mais jurisdição.

No que se refere à profundidade, o efeito devolutivo trata das questões que podem ser
analisadas pelo órgão revisor para proferir o julgamento. Nesse caso, consideram-se os
fundamentos deduzidos perante o juízo que proferiu a decisão atacada pelo recurso, ainda que
sobre eles não tenha ocorrido qualquer manifestação judicial. Pense, por exemplo, em
demanda que almeje uma resolução contratual, arguindo, para tanto, coação e incapacidade.
Analisando os fundamentos em primeira instância, resolve o magistrado pela procedência do
pedido, apenas com base no primeiro argumento, sem, entretanto, avaliar a incapacidade do
agente. Diante do gravame, o réu interpõe recurso para o tribunal de justiça, que, ao analisar a
matéria, deve levar em conta não apenas a coação, mas também a incapacidade, sendo-lhe
possível concluir pelo não provimento do recurso, com a consequente manutenção da
resolução contratual, por esse último fundamento. Trata-se, aqui, da dimensão vertical do
efeito devolutivo.

Majoritariamente se defende que o efeito suspensivo é a terceira consequência


recursal. Sendo assim, por conta de sua interposição, prolongamos o estado de ineficácia da
decisão. Essa é a afirmação corrente, hoje consagrada em nossa prática forense. Há,
entretanto, quem pense diferente, para afirmar, com Barbosa Moreira, que o efeito suspensivo
não decorre do recurso e, portanto, não depende de sua interposição. Ele se projeta antes
disso, pela mera recorribilidade do ato impugnado.309 Dito de outra forma: se uma sentença,
por exemplo, é proferida em prejuízo do réu, condenando-lhe a pagar quantia certa, fixada em
doze mil reais; já no prazo de quinze dias para a interposição do recurso de apelação, com o
correlato pedido de revisão, nada se executa em primeiro grau. Note que para essa segunda
corrente, por conta do efeito suspensivo, o réu, nesse período, mesmo sem qualquer recurso,
não está obrigado a cumprir a decisão.

A maioria das decisões judiciais no sistema processual civil é atacável por recursos sem
efeito suspensivo. Sobre o tema, destacamos a redação do art. 995 do CPC: “Os recursos não
impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso”.
Sendo assim, caberá ao recorrente pedir a concessão desse efeito, a fim de evitar o
cumprimento do ato impugnado, nos termos do parágrafo único desse mesmo dispositivo: “A
eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata
produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar
demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”.

O efeito regressivo também é conhecido na academia como a possibilidade de


retratação. Em termos práticos, isso significa que, em alguns casos, a interposição do recurso
permite, ao juízo que proferiu a decisão, rever sua conclusão.
Em decorrência das normas fundamentais, que, pela redação do art. 4º do CPC,
estabelecem a primazia do julgamento do mérito, aqui, na seara recursal, percebe-se uma
correlação com o efeito regressivo, atribuído ao recurso de apelação, no combate das
sentenças terminativas, sentenças que indeferem a petição inicial. Esse mesmo efeito também
se encontra no recurso de apelação que combate as sentenças de improcedência liminar do
pedido, no agravo interno, no agravo de instrumento e nos recursos especial e extraordinário
repetitivos. Todos eles, advirta-se, estudados em momento oportuno deste curso.

O efeito expansivo subjetivo permite, em sentido contrário ao princípio da


pessoalidade do recurso, que, em casos excepcionais, o provimento do órgão julgador possa,
em sendo favorável, alcançar aqueles que mesmo participando do processo e tendo interesse
em combater a decisão, permaneceram inertes. Para exemplificar isto, basta recordar do
litisconsórcio unitário, que, sob a classificação apresentada em páginas anteriores, indica não
ser possível ao Judiciário, nesse caso, entregar conclusões diferentes, e, por essa razão, ainda
que somente um dos litisconsortes recorra e consiga anular ou revisar a decisão, ter-se-á uma
extensão disso para incluir aquele outro litisconsorte que não interpôs o recurso.

O efeito expansivo objetivo, por sua vez, decorre da relação de prejudicialidade entre
os capítulos da decisão, de sorte que a impugnação de um deles acaba repercutindo em
capítulos outros, não objeto do recurso. Veja, por exemplo, o que acontece quando o autor, na
inicial, cumula pedidos de reconhecimento de paternidade, e, em função disso, associando-se
o binômio possibilidade-necessidade, requer também o pagamento de pensão alimentícia.
Supondo que ambos os pedidos sejam julgados procedentes e que em decorrência disto o réu
interponha recursos de apelação, ainda que somente ataque parte da decisão judicial relativa
ao reconhecimento da paternidade, se o órgão revisor prover o recurso modificando a
conclusão, agora pela inexistência do vínculo, cairá, mesmo sem ataque direto, também a
condenação em alimentos, já que para esse provimento, ao final, faltaria fundamentação para
justificar o cumprimento da ordem.

Pode-se ainda destacar o efeito translativo, que permite ao órgão revisor examinar
matérias de ordem pública pertinentes à parte impugnada, mesmo que sobre essas questões,
não tenha se manifestado o recorrente, no sentido de pleitear a revisão. Esse efeito é atribuído
aos assim chamados recursos ordinários, sendo vedado apenas para os recursos excepcionais:
especial e extraordinário (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 623)

SÍNTESE

Vistos os efeitos da apelação, passamos ao estudo da teoria da causa madura, hoje


consagrada pelo art. 1.013, § 3º, do CPC. Por ela, admite-se que o tribunal, ao julgar o recurso
de apelação que combata sentença terminativa, incongruente com os limites do pedido ou da
causa de pedir, omissa no exame de um dos pedidos, ou, quando decretar a nulidade da
sentença por ausência de fundamentação, possa avançar para resolver o mérito, se o processo
estiver em condições de imediato julgamento. Com isso, suprime-se, por expressa disposição
legal, o duplo grau de jurisdição, vez que o tribunal será o primeiro a se manifestar sobre o
mérito. Flexibiliza-se a vedação de que o recurso possa agravar a situação da parte, já que a
decisão terminativa, ao ser reformada pode, por exemplo, traduzir-se em decisão de
improcedência do pedido.
Pelo mesmo dispositivo, permite-se que o julgamento da apelação sirva para suprir
omissões da sentença, com a consequente correção das chamadas decisões citra petita, e que
eventuais falhas na fundamentação, por descumprimento do art. 489 do CPC, sejam corrigidas
diretamente pelo tribunal, afastando, com isso, um possível retorno do processo à primeira
instância.

Concluído o estudo sobre o conceito, o objeto, os requisitos e os efeitos da apelação,


passamos a comentar seu procedimento. Como se sabe, a interposição é feita perante o juízo a
quo, sem que este lhe promova qualquer juízo de admissibilidade, ainda quando houver vício
evidente.

Recebida a apelação, a parte contrária será intimada para apresentar as contrarrazões


em quinze dias. Caso essa manifestação traga um pedido de revisão de decisão interlocutória
não agravável, que, como se sabe, também pode ser feita em preliminar de contrarrazões, o
apelante será intimado para falar, no prazo de quinze dias, a fim de que dessa forma assegure-
se o exercício do contraditório.

Cumpridas as formalidades em primeiro grau, o processo segue para o órgão revisor.


Lá, o processo é registrado e distribuído para o relator, em acordo com as disposições do
regimento interno, mas observa também a disposição do art. 931 do CPC, que estabelece prazo
de trinta dias para o relator, após a elaboração de seu voto, restituí-lo com o respectivo
relatório, à secretaria.

Na sessão de julgamento, que contará com a participação de três magistrados, pode


haver pedido de vistas por qualquer deles, caso não se sinta habilitado para julgar o recurso,
pelo prazo máximo de dez dias.

Se o resultado do julgamento da apelação for não unânime, dar-se-á prosseguimento, em nova


sessão, a ser designada com a presença de outros julgadores, convocados em acordo com as
regras do regimento interno do tribunal, em número que seja suficiente para reverter o
primeiro resultado. Tal procedimento, por exigência constitucional do contraditório, hoje
consagrado pelo binômio influência e não surpresa, disponibiliza para as partes e para
eventuais terceiros, o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.

Esse procedimento, previsto para viabilizar a reversão de conclusões iniciais não


unânimes na apelação, também se aplica nas hipóteses do agravo de instrumento, quando
houver reforma da decisão que julgar parcial de mérito, e, ainda, no julgamento da ação
rescisória, quando houver rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seguir-se com o
julgamento e apreciação pelo órgão de maior composição previsto no regimento interno do
tribunal. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 636)

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

O juízo de admissibilidade, como se pôde afirmar em linhas anteriores desse curso, é o


juízo acerca da validade do procedimento. Evocando essa premissa, podemos concluir que o
juízo de admissibilidade recursal é preliminar ao juízo de mérito, e se faz sobre as exigências
formais de constituição válida e regular de seu procedimento. Sendo negativo, o órgão
examinador é impedido de avaliar o pedido de revisão, e assume a natureza de provimento
constitutivo negativo, já que não existe nulidade processual que se imponha sem prévia
manifestação judicial. Diz-se, nesses casos, que o recurso não foi conhecido. De outro lado, se
o juízo for positivo, pela constatação de validade do procedimento, o pronunciamento assume
natureza declaratória, e viabiliza o julgamento sobre o mérito recursal.

Retomando-se aqui as diretrizes apresentadas pelas normas fundamentais, com


destaque para a primazia do mérito, para a cooperação, para o dever de correção estampado
pelo art. 321 do CPC ao tratar da petição inicial, e para o efeito regressivo dos recursos, com
resultados práticos em favor de um pronunciamento de mérito, também agora, ao tratarmos
do procedimento recursal, é possível identificar diretrizes pela superação de vícios eventuais, a
fim de que o mérito recursal seja julgado pelo órgão revisor. Nesse sentido, destaca-se o
parágrafo único do art. 932 do CPC, que preleciona: “Antes de considerar inadmissível o
recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício
ou complementada a documentação exigível”. Com isso, acreditamos, supera-se a rejeição
liminar do recurso, em favor de uma atuação cooperativa de todos aqueles que de alguma
forma participam da relação processual. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 624)

DOS REQUISITOS

- INTRINSECOS

Os requisitos intrínsecos tratam do cabimento do recurso, do interesse de agir, da


legitimidade recursal, e, ainda, da inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de
recorrer: renúncia, desistência ou preclusão lógica.

Por meio do cabimento, destaca-se a possibilidade jurídica do pedido de revisão, o que


nos remete, impreterivelmente, ao rol taxativo do art. 994 do Código de Processo Civil, e,
ainda, à possibilidade jurídica da revisão, uma vez que há, em nosso ordenamento, decisões
irrecorríveis, como a que releva a pena de deserção.

Retomando os estudos acerca do interesse recursal, ressalta-se aqui uma concepção


mais ampla, não atrelada exclusivamente à ideia do prejuízo. Assim, será possível identificar o
interesse recursal quando houver a possibilidade de um segundo provimento jurisdicional
melhorar a situação do recorrente.

Acerca da legitimidade, retomam-se as lições sobre a autorização do Ministério


Público, do terceiro interessado, do amicus curiae, que, ao lado das partes, podem interpor ou
opor recursos no processo civil.

Por fim, destaca-se a inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de


recorrer, que na doutrina também são conhecidos como requisitos negativos de
admissibilidade, para ilustrar que nenhum deles deve estar presente na interposição do
recurso. Nesse rol, incluem-se a renúncia, a aquiescência e a desistência.

A desistência é causa impeditiva do direito de recorrer, cuja regulamentação é descrita


pelo art. 998 do CPC. Por ela, o recorrente, a qualquer tempo, e sem a anuência da parte
contrária, pode desistir de prosseguir com o recurso já interposto. Isso, entretanto, não impede
a análise de questão cuja repercussão geral tenha sido reconhecida e percebida como objeto
de julgamento pelos recursos especiais e extraordinários repetitivos.

Admite-se a desistência até o início da sessão de julgamento, sendo expressa ou tácita.


No primeiro caso, a manifestação é inequívoca no sentido de que o procedimento recursal não
avance para uma decisão de mérito. Na forma tácita, verifica-se uma preclusão lógica pela
adoção de comportamento contrário àquele que se espera do recorrente, como, por exemplo,
o cumprimento integral da decisão, antes do julgamento do recurso, dotado de efeito
suspensivo.

A renúncia, por sua vez, consiste em manifestação unilateral, que, assim como a
desistência, não demanda anuência da parte contrária, mas que dela se destaca por ser feita
em momento anterior à interposição do recurso. Trata-se de manifestação irrevogável que
antecipa a formação da coisa julgada, permitindo a execução definitiva da decisão judicial.

A aquiescência, por sua vez, também decorre de manifestação expressa ou tácita do


recorrente, que, de modo semelhante à desistência, implica preclusão lógica pela adoção de
comportamento contraditório, mas em momento anterior ao da interposição do recurso.
Observe, por exemplo, que, se o cumprimento de uma sentença condenatória em entregar
quantia certa for feito antes mesmo da interposição do recurso de apelação, sendo essa, em
tese, recebida com efeito suspensivo, elide-se que após o recolhimento da importância
prevista na condenação, a parte possa recorrer para mudar a decisão. (RIBEIRO, Marcelo –
2023 – p. 625)

- EXTRINSECOS

Os requisitos extrínsecos, que nesta classificação, já se sabe, reportam-se ao


procedimento de interposição do recurso, tratam respectivamente da tempestividade, do
preparo e da regularidade formal. Neste ponto, advirta-se, já não se versa apenas sobre o
direito de recorrer, mas sim sobre a forma pela qual se deve deduzir em juízo a pretensão de
revisão da decisão judicial. Vejamos, detidamente, cada uma das exigências legais.

A tempestividade é requisito dos mais importantes, pois informa que o direito de


recorrer deve ser exercido dentro de determinado lapso temporal. A regra, neste ponto, é que
o recurso, no Processo Civil, observe o prazo de quinze dias, com ressalva, apenas, para os
embargos declaratórios, cujo prazo é de cinco dias. Há, todavia, contagem realizada em dobro
para o Ministério Público, para a Defensoria e para os escritórios de prática jurídica das
faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e para as entidades que prestam assistência
jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública; para a Advocacia
Pública e para os litisconsortes que sejam representados por procuradores distintos, se estes
atuarem em diferentes escritórios de advocacia. Essas disposições sobre a dobra do prazo
recursal, advirta-se, valem também para a entrega das contrarrazões.

Trata-se de prazo processual, e, por essa razão, qualquer que seja a espécie recursal,
computar-se-ão somente os dias úteis. Seu termo inicial, em acordo com o art. 1.003 do CPC,
decorre da intimação da decisão, que pode ser feita na pessoa do advogado ou da sociedade
de advogados. Sendo a decisão proferida em audiência, consideram-se intimados os sujeitos
nesse mesmo ato.
O recurso terá sua tempestividade aferida pela data do protocolo, que segue as normas
de organização judiciária e pode ser feito em cartório ou por meio de protocolos
descentralizados. Se os autos forem eletrônicos, a interposição do recurso deve observar a
hora local do órgão julgador, para onde o recurso é dirigido. Note que, em nosso país, com
diversos fusos e horário de verão, pode haver razoável diferença entre o prazo final no local de
origem e no local de destino do recurso.

Atento à diretriz fundamental de primazia do julgamento do mérito, o CPC/2015


supera antiga jurisprudência defensiva, considerando válido recurso interposto antes da
fluência do prazo. Será tempestivo, portanto, o recurso prematuro.

Destaca-se, ainda, que a existência de feriado local deve ser comprovada no ato de
interposição do recurso, sob pena de inadmissão do recurso.

O preparo consiste no recolhimento de uma taxa, devida em função do processamento


do recurso. No cálculo, inserem-se a taxa judiciária e as despesas com o porte de remessa e
retorno do recurso. Este último fator, por razões operacionais, não se aplica aos processos
eletrônicos: não se cobra, ainda, por upload. Sua comprovação é feita no momento da
interposição, anexando-se à peça recursal a guia de recolhimento, se assim exigir a legislação,
com ressalva feita aos Juizados Especiais Cíveis, por força do art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995,
que permite a comprovação do recolhimento do preparo em até quarenta e oito horas após a
interposição.

A ausência ou insuficiência do preparo implica pena de deserção, o que, tecnicamente,


traduz o juízo de admissibilidade negativo desse requisito. Esse resultado, entretanto, não se
produz sem que antes incida o dever de correção e a primazia do mérito recursal. Na prática,
isso significa que havendo insuficiência do valor do preparo, incluindo-se aí o porte de remessa
e retorno, o recorrente deve ser intimado, na pessoa de seu advogado, para suprir a falta no
prazo de cinco dias e com isso evitar a pena de deserção. Disposição semelhante se estabelece
para o caso de o recorrente interpor o recurso sem a devida comprovação do preparo. Aqui,
intima-se o recorrente para efetuar o preparo em dobro, sob pena de deserção. Como a
legislação não estabelece previamente o prazo para esse recolhimento, aplica-se a disposição
geral de cinco dias, prevista pelo art. 218, § 3º, do CPC.

A legislação pode conferir isenções objetivas e subjetivas. Nas isenções objetivas, a


interposição dispensa o preparo em função da espécie recursal, a exemplo dos embargos de
declaração. Nas isenções subjetivas, por sua vez, a dispensa se justifica em razão do recorrente.
É o que acontece com recursos interpostos pela Defensoria, Ministério Público, União, Distrito
Federal, Estados, Municípios e suas respectivas autarquias, ou pela parte que tenha sido
agraciada com o benefício da gratuidade da justiça.

Provando-se o justo impedimento, a pena de deserção pode ser relevada, por decisão
irrecorrível, fixando-se em seguida prazo de cinco dias para efetuação do preparo. (RIBEIRO,
Marcelo – 2023 – p. 626)

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