Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ATIVIDADE CONTINUADA 04
RIBEIRO, Marcelo
Processo civil [recurso eletrônico] / Marcelo Ribeiro. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Método, 2023.
CONCEITO
A apelação é o mais conhecido recurso do âmbito processual. Sua regulamentação se
faz entre os arts. 1.009 e 1.014 do CPC, sem prejuízo das lições apresentadas nas disposições
gerais dos recursos, tais como a primazia do mérito e o dever de correção.
Nesse sentido, o art. 1.009, § 1º, vai dizer que: “As questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são
cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente
interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões”.
Questão interessante consiste em saber se a apelação pode ser utilizada somente para
atacar a decisão interlocutória não agravável ou se essa possibilidade pressupõe o ataque
conjunto da sentença. Em que pese a divergência doutrinária, entendemos pela possibilidade
de a apelação atacar somente a decisão interlocutória, sobretudo porque o interesse em
recorrer não se limita pelo gravame da parte dispositiva, mas sim pela possibilidade de obter-
se um resultado mais favorável e seguro, com o julgamento do recurso.
Ao tratar do preparo, o apelante deve observar as leis estaduais para identificar o valor
das custas, uma vez que a apelação, sem prejuízo de isenções objetivas, reclama o
recolhimento da taxa para assegurar um juízo positivo de admissibilidade.
Já sobre os aspectos formais, informados pelo art. 1.010 do CPC, deve o apelante
observar que sua interposição se faz perante o juízo de primeiro grau que proferiu a decisão,
com os nomes e a qualificação das partes, a exposição de fato e de direito, as razões do pedido
de reforma ou invalidação e o pedido expresso de nova decisão.
Em que pese a apelação ser interposta perante o juízo a quo, este não mais exerce
qualquer juízo de admissibilidade, devendo remetê-lo ao órgão competente, após cumprir o
procedimento de entrega do recurso e oferecimento das contrarrazões.
Avançando agora para os efeitos da apelação, podemos afirmar que, como toda
espécie recursal, aqui constatamos o efeito devolutivo. No plano horizontal, fala-se na
extensão da impugnação, que, como se sabe, pode ser total ou parcial. Já no plano vertical,
trata-se da profundidade, cuja amplitude se estabelece em respeito aos §§ 1º e 2º do art.
1.013 do CPC e permite que o tribunal conheça de todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, ainda que não tenham sido solucionadas, se estiverem presentes no capítulo
impugnado. Note que, por essa via, tratamos dos fundamentos e não do pedido de revisão,
sendo possível ao tribunal, no julgamento da apelação, manter a decisão judicial por
fundamento distinto daquele utilizado em primeira instância. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p.
633)
DOS EFEITOS
- DEVOLUTIVO
Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que
relativas ao capítulo impugnado. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 634)
- SUSPENSIVO
Em regra, a apelação goza do efeito suspensivo, e, por isso, a decisão atacada não está
apta a produzir efeitos desde sua prolação. É claro que, por conta da isonomia material e do
resgate da faticidade, algumas hipóteses afastam esse efeito suspensivo, permitindo o
cumprimento provisório da decisão judicial. Sobre o tema, destacamos, pelo art. 1.012, § 1º, a
sentença que: (I) homologa divisão ou demarcação de terras; (II) condena a pagar alimentos;
(III) extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; (IV)
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; (V) confirma, concede ou revoga tutela
provisória; (VI) decreta a interdição. O rol é apenas exemplificativo, mas ilustra muitas
hipóteses em que se admite o cumprimento provisório da decisão judicial. Em qualquer delas,
o requerimento de concessão do efeito suspensivo pode ser formulado diretamente ao
tribunal, no período que compreende a interposição do recurso e sua distribuição, caso em que
o relator sorteado será prevento para julgar o recurso, quando este chegar à Corte.
- REGRESSIVO
- TRANSLATIVO
O efeito translativo, por sua vez, permite ao tribunal conhecer de ofício matéria de
ordem pública ainda não suscitada, desde que afeta ao capítulo impugnado pela apelação. Do
contrário, não sendo o capítulo da decisão objeto da apelação, o vício é sanado pela formação
da coisa julgada e não será conhecido pelo tribunal. (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 635)
No que se refere à profundidade, o efeito devolutivo trata das questões que podem ser
analisadas pelo órgão revisor para proferir o julgamento. Nesse caso, consideram-se os
fundamentos deduzidos perante o juízo que proferiu a decisão atacada pelo recurso, ainda que
sobre eles não tenha ocorrido qualquer manifestação judicial. Pense, por exemplo, em
demanda que almeje uma resolução contratual, arguindo, para tanto, coação e incapacidade.
Analisando os fundamentos em primeira instância, resolve o magistrado pela procedência do
pedido, apenas com base no primeiro argumento, sem, entretanto, avaliar a incapacidade do
agente. Diante do gravame, o réu interpõe recurso para o tribunal de justiça, que, ao analisar a
matéria, deve levar em conta não apenas a coação, mas também a incapacidade, sendo-lhe
possível concluir pelo não provimento do recurso, com a consequente manutenção da
resolução contratual, por esse último fundamento. Trata-se, aqui, da dimensão vertical do
efeito devolutivo.
A maioria das decisões judiciais no sistema processual civil é atacável por recursos sem
efeito suspensivo. Sobre o tema, destacamos a redação do art. 995 do CPC: “Os recursos não
impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso”.
Sendo assim, caberá ao recorrente pedir a concessão desse efeito, a fim de evitar o
cumprimento do ato impugnado, nos termos do parágrafo único desse mesmo dispositivo: “A
eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata
produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar
demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”.
O efeito expansivo objetivo, por sua vez, decorre da relação de prejudicialidade entre
os capítulos da decisão, de sorte que a impugnação de um deles acaba repercutindo em
capítulos outros, não objeto do recurso. Veja, por exemplo, o que acontece quando o autor, na
inicial, cumula pedidos de reconhecimento de paternidade, e, em função disso, associando-se
o binômio possibilidade-necessidade, requer também o pagamento de pensão alimentícia.
Supondo que ambos os pedidos sejam julgados procedentes e que em decorrência disto o réu
interponha recursos de apelação, ainda que somente ataque parte da decisão judicial relativa
ao reconhecimento da paternidade, se o órgão revisor prover o recurso modificando a
conclusão, agora pela inexistência do vínculo, cairá, mesmo sem ataque direto, também a
condenação em alimentos, já que para esse provimento, ao final, faltaria fundamentação para
justificar o cumprimento da ordem.
Pode-se ainda destacar o efeito translativo, que permite ao órgão revisor examinar
matérias de ordem pública pertinentes à parte impugnada, mesmo que sobre essas questões,
não tenha se manifestado o recorrente, no sentido de pleitear a revisão. Esse efeito é atribuído
aos assim chamados recursos ordinários, sendo vedado apenas para os recursos excepcionais:
especial e extraordinário (RIBEIRO, Marcelo – 2023 – p. 623)
SÍNTESE
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
DOS REQUISITOS
- INTRINSECOS
A renúncia, por sua vez, consiste em manifestação unilateral, que, assim como a
desistência, não demanda anuência da parte contrária, mas que dela se destaca por ser feita
em momento anterior à interposição do recurso. Trata-se de manifestação irrevogável que
antecipa a formação da coisa julgada, permitindo a execução definitiva da decisão judicial.
- EXTRINSECOS
Trata-se de prazo processual, e, por essa razão, qualquer que seja a espécie recursal,
computar-se-ão somente os dias úteis. Seu termo inicial, em acordo com o art. 1.003 do CPC,
decorre da intimação da decisão, que pode ser feita na pessoa do advogado ou da sociedade
de advogados. Sendo a decisão proferida em audiência, consideram-se intimados os sujeitos
nesse mesmo ato.
O recurso terá sua tempestividade aferida pela data do protocolo, que segue as normas
de organização judiciária e pode ser feito em cartório ou por meio de protocolos
descentralizados. Se os autos forem eletrônicos, a interposição do recurso deve observar a
hora local do órgão julgador, para onde o recurso é dirigido. Note que, em nosso país, com
diversos fusos e horário de verão, pode haver razoável diferença entre o prazo final no local de
origem e no local de destino do recurso.
Destaca-se, ainda, que a existência de feriado local deve ser comprovada no ato de
interposição do recurso, sob pena de inadmissão do recurso.
Provando-se o justo impedimento, a pena de deserção pode ser relevada, por decisão
irrecorrível, fixando-se em seguida prazo de cinco dias para efetuação do preparo. (RIBEIRO,
Marcelo – 2023 – p. 626)