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G - Recursos
A Constituição garante a todos o acesso aos Tribunais para defesa dos seus direitos
(art. 20º/1 CRP) e prevê a existência de Tribunais de recurso (art. 32º/1 CRP),
decorre que o legislador, dispondo embora de uma larga margem de liberdade no
tocante à definição das decisões susceptíveis de ser impugnadas por via de recurso,
e bem assim no que concerne à identificação das pessoas legitimadas a recorrer, não
pode eliminar pura e simplesmente a faculdade de recorrer em todo e qualquer caso,
nem inviabilizar na prática essa faculdade.
O art. 401º/2 CPP, significa que, para poder recorrer, além dos requisitos da
legitimidade, deva ainda o requerente ter necessidade de, no caso concreto, para
realizar o seu direito usar do meio processual que é o recurso.
Em face das disposições combinadas dos arts. 48º a 52º e 401º/1-a CPP, e atentas à
origem, natureza e estrutura, bem como o enquadramento constitucional e legal do
Ministério Público tem este, legitimidade e interesse para recorrer de quaisquer
decisões mesmo que lhe sejam favoráveis e assim concordantes com a sua posição
anteriormente assumida no processo.
No art. 403º/2 CPP especifica-se o caso em que a lei considera haver autonomia
entre as partes da decisão recorrida, para efeito de interposição de recurso;
trata-se de enumeração que não é taxativa.
Qualquer das alíneas do art. 403º/2 CPP, terá sempre que ser criteriosamente
equacionada com o comando do art. 403º/1 CPP.
O art. 403º/3 CPP, significa que deve começar-se pela apreciação do recurso, e
seguidamente retirar-se da decisão do mesmo todas as consequências quanto à decisão
do Tribunal inferior, alterando-a na medida estritamente necessária para que não
haja contradição com a decisão do Tribunal superior, respeitando porém sempre as
limitações decorrentes da reformatio in pejus.
85. Reclamação contra despacho que não admitir ou retiver recurso, art. 405º CPP
Crê-se que a notificação deve ser ordenada pelo Tribunal onde a reclamação foi
apresentada, após comunicação ao mesmo Tribunal da decisão do presidente do
Tribunal superior.
O art. 408º/1-b CPP tem que ser equacionado com o art. 310º CPP. Como se deduz
desse art. 310º CPP, e de outras disposições, a decisão que pronunciar o arguido de
harmonia com a acusação do Ministério Público é irrecorrível. Porém, pode haver
pronúncia por factos diferentes apontados pelo Ministério Público, mais
precisamente por factos objecto de requerimento do assistente para a abertura da
instrução. Em tal caso, o recurso é admissível, e se for interposto tem efeito
suspensivo no processo.
A proibição, com a ressalva do art. 409º/2 CPP, aplica-se a todas as sanções, sejam
penas ou medidas de segurança, constantes da decisão recorrida.
A proibição reformatio in pejus não é absoluta, tendo uma limitação, que diz
respeito à agravação da pena de multa, que é sempre possível no recurso, desde que
a situação económica e financeira do arguido tenha entretanto melhorado de forma
sensível.
É de salientar porém que os vícios apontados no art. 410º/2 CPP, com fundamento do
recurso, têm que resultar do próprio texto da decisão recorrida[40], por si ou
conjugada com as regras da experiência comum.
89. Desistência
Confrontando o texto do art. 415º CPP, com o do art. 401º CPP, sobre a legitimidade
para recorrer, nota-se que no art. 415º CPP, quanto à possibilidade de desistência
do recurso, se omitiram as pessoas indicadas no art. 401º-d CPP.
Crê-se, que se trata de lapso do legislador, e que portanto o art. 415º CPP, deve
sofrer interpretação extensiva. O art. 415º CPP, consagra uma regra geral, e foi
formulado mais com o propósito de deixar bem explicita a possibilidade de
desistência por parte do Ministério Público, do arguido e do assistente e indicar
até que momento se pode efectivar a desistência do que com o propósito de aflorar
uma regra geral.
No visto a que se refere o art. 416º CPP, o Ministério Público emite o seu parecer,
podendo suscitar quaisquer questões que se lhe oferecem como cabidas para a decisão
e devendo, logicamente, seguir a ordenação estabelecida nas alíneas do art. 417º/2
CPP; em casos que se afigurem de extrema simplicidade aporá o visto no processo.
92. Audiência
Recursos ordinários
Como se deduz do art. 427º CPP, o regime regra é o da interposição para as Relações
dos recursos de decisões dos Tribunais de primeira instância. Assim, os recursos
que são interpostos directamente para o Supremo Tribunal de Justiça nos casos
taxativamente enumerados na lei (art. 432º-c), d), e) CPP.
Mas há também a assinalar que, mesmo quando as Relações não conhecem da matéria de
facto, isso não prejudica a possibilidade desses Tribunais superiores usarem da
faculdade conferida pelo art. 410º/2 e 3 CPP, o que em certos aspectos de algum
modo implicaria a apreciação de matéria fáctica.
Nos casos em que as Relações detectam vícios referidos nas alíneas do art. 410º/2
CPP procedem à renovação da prova se se afigurar que a renovação perante elas
permite evitar o envio do processo para novo julgamento.
Daqui conclui-se que bem reduzidos são os casos em que se procede à renovação de
prova; só ela se procede verificando-se cumulativamente as condições de se
verificar algum dos vícios enumerados nas alíneas do art. 410º/2 CPP, e de haver
fundadas razões para crer que a renovação evita o reenvio do processo para novo
julgamento.
Mas o Supremo Tribunal de Justiça tem agora poderes que, de algum modo, se
intrometem na apreciação de aspectos fácticos, e que são os da apreciação da
matéria referida no art. 410º/2 e 3 e no art. 434º CPP. Ainda nestes casos porém, o
Supremo Tribunal de Justiça não procede à renovação de prova, limitando-se a
apontar o vício que apurou e a determinar o reenvio do processo para novo
julgamento (arts. 426º e 434º CPP).
Recursos extraordinários
Os ns.º 1 e 2 do art. 447º CPP, têm campos de aplicação diferentes, o n.º 1 do art.
447º CPP, destina-se a permitir que o Procurador-geral da República, interponha
recurso para fixação de jurisprudência de decisão transitada em julgado há mais de
30 dais; o n.º 2 do art. 447º CPP, destina-se a permitir que a mesma entidade
interponha recurso para alteração de jurisprudência já fixada, no sentido de
alterar a decisão que foi confirmada, por se impor o seu reexame.
Em qualquer destes casos, a decisão para resolver o conflito não tem qualquer
eficácia no processo em este recurso extraordinário tiver sido interposto (art.
447º/3 CPP), assim se distinguindo do recurso extraordinário regulado nos arts.
437º a 445º CPP, o qual é interposto no prazo de 30 dias a contar do trânsito em
julgado e tem eficácia no processo em que foi interposto.
Qualquer sentença penal com trânsito em julgado ou despacho que tenha posto fim ao
processo pode ser objecto de revisão.
Estas noções decorrem da natureza utilitária (de prevenção especial) das mediadas
de segurança e correspondem a ensinamentos de toda a doutrina autorizada. Daí
decore também, que na sucessão, do tempo, de leis que prescrevem diversas medidas
de segurança, se aplicará sempre a lei mais recente, embora mais grave, já que,
aplicando-se à perigosidade actual, nunca haverá retroactividade.
Deve entender-se ser bastante, para fundamentar o pedido de revisão que os meios de
prova considerados falsos por sentença transitada em julgado tenham influenciado a
decisão de rever, não sendo necessária a prova de que esses meios, só por si,
tenham sido determinantes dessa decisão.
b) Crime cometido por juiz ou jurado, relacionado com o exercício da sua função no
processo
Há aqui uma presunção iuris et iure de que o crime cometido pelo juiz ou jurado, e
relacionado com o exercício das suas funções no processo influenciou a decisão, e
de que portanto esta foi injusta, pelo que não há mais que indagar se esse crime
teve ou não influência no processo, admitindo-se a revisão sem mais delongas.
c) Inconciliabilidade de decisões
d) Descoberta de novos factos ou meios de prova que suscitem graves dúvidas sobre a
justiça da condenação
[40] Não sendo assim portanto permitida a consulta de outros elementos constantes
do processo.
[41] Art. 428º CPP.
[42] Art. 434º CPP.
[43] Acórdão Tribunal Constitucional n.º 743/96, de 28 de Maio, declara a
inconstitucionalidade com força obrigatória geral, o art. 2º CC, na parte em que
atribui aos Tribunais competência para fixar doutrina com força obrigatória geral,
por violação do disposto no art. 115º/5 CRP.
[44] Art. 451º CPP.