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ROSILAINE DE ARAUJO CANDIDO LAGE (200300103)


Curso: Direito/DIR6NB Semestre: 02/2020

Dissertar sobre o artigo 28-A do Código de Processo Penal

O acordo de não persecução penal foi regulamentado pelo Artigo 28-A do


Código de Processo Penal – Lei 13. 964/2019 (Pacote Anticrime), irá analisar as
determinações legais a respeito do instituto do acordo de não persecução
penal. Também buscar esclarecimentos quanto a sua aplicabilidade e
demostrar os benefícios da utilização da justiça consensual poderá trazer para
a Administração Pública. O Ministério Público poderá propor ao investigado o
acordo de não persecução penal. Devendo ser fundamental a confissão formal
e detalhada da materialidade e autoria do delito. Desta forma, o Ministério
Público irá dispensar a instrução processual, ou seja, não irá denunciar o
acusado
Os requisitos é que a conduta criminosa não seja superior a 4 (quatro) anos, e
que não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça, dentre outros
elencados no art. 28-A do CPP.
O maior objetivo do acordo de não persecução penal, tem como desígnio a
relativização do princípio da obrigatoriedade da ação penal, que em
consequência disso, irá aliviar as demandas judicias criminais e conduzindo a
realidade à aplicação aos princípios constitucionais, como por exemplo, a
celeridade, economia ao erário público, eficiência, proporcionalidade,
acusatório e maior efetividade ao direito penal, e assim, expondo as discussões
a respeito do tema nos últimos anos e analisando em qual estágio a sua
implementação nos dias de hoje.
Segundo a lei, caso Juiz considere inadequadas, insuficientes ou abusivas as
condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao
Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com
concordância do investigado e seu defensor.
Neste aspecto, deu-se ao Juiz uma possibilidade de fiscalizar os termos do
acordo, algo incompatível com um processo penal de estrutura acusatória (art.
3º.-A, CPP). Interferir o Juiz nesta fase procedimental, com sugestão ao MP a
reformulação da proposta, não está conforme um processo de modelo
acusatório; assim, apresentado o acordo, das duas uma: homologa-se ou não
se homologa.

O Juiz não deverá homologar o acordo no qual não foram observados os


requisitos legais; recusada a homologação, o Juiz devolverá os autos ao MP
para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o
oferecimento da denúncia. Da mesma maneira, se as condições estabelecidas
não estejam em conformidade com a lei, o Juiz também deve recusar a
homologação, consignando expressamente os motivos pelos quais a
homologação foi rejeitada. Caberá ao MP, então, ajustar os termos do acordo,
apresentando uma nova proposta ao investigado que aceitará ou não.

Caso o MP entenda que a proposta atende os parâmetros legais não sendo o


caso de ajustes poderá interpor um recurso em sentido estrito (art. 581, XXV,
CPP). Este recurso também poderá ser utilizado pelo investigado, claramente
prejudicado pela não homologação.

Em caso de interposição do recurso, sendo ele julgado procedente, e


transitada em julgado a decisão, o acordo deverá ser obrigatoriamente
homologado pelo Juiz; julgando-se-lhe improcedente.

Daí surge uma dúvida: estará o MP obrigado a oferecer denúncia, já que o


Tribunal entendeu pela rejeição da proposta? Sim, positivo, pois o princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública ainda vige no Brasil.

Este princípio, corresponde ao dever do Estado de administração e realização


da justiça penal, obtendo a condenação judicial de todos os culpados e só dos
culpados da prática de uma infração. Continua não havendo no Brasil, ao
menos nos casos de ação penal pública, qualquer juízo de oportunidade sobre
a promoção e prossecução do processo penal, antes esta se apresenta como
um dever para o MP, uma vez presentes os pressupostos processuais e a
inexistência de obstáculos processuais, a punibilidade do comportamento, o
conhecimento da infração e existência de indícios suficientes que
fundamentem a acusação.
No caso de recusa por parte do Ministério Público em propor o acordo, a lei
possibilita que o investigado recorra para o órgão colegiado do MP, aquele
mesmo que tem atribuições para homologar ou não a promoção de
arquivamento, na forma do art. 28 do CPP. O prazo para este recurso
administrativo será de 30 dias, contados da data da intimação (art. 28, § 1º.,
CPP).
Assim, sempre que, em tese, seja cabível o acordo e o MP, ao contrário, optar
pelo oferecimento da denúncia, deve, em separado, expor as razões pelas
quais não foi feita a proposta, intimando-se o investigado. Este
pronunciamento deve ser fundamentado, conforme exige a CF (arts.
129, caput, VIII, in fine, c/c arts. 129, § 4º. e 93, IX).
Não deve ser cogitada a aplicação, por analogia, da Súmula 696 do STF,
primeiro porque de analogia não se trata mesmo, e, segundo, em razão da
estrutura acusatória que deve tero nosso processo penal, por força da CF e do
CPP (art. 3º.-A).

Se houver o oferecimento da peça acusatória, nada obstante ser caso de


acordo, restará ao Juiz, em obediência ao art. 129, I, CF, receber a denúncia (se
não for inepta, se houver justa causa e se estiverem presentes os pressupostos
processuais e as condições da ação); neste caso, o réu poderá interpor um HC
para trancar o processo, afinal, trata-se de exercício abusivo do dever de
acusar.

Finalmente, estando o acordo em conformidade com o pressuposto legal,


presentes os seus requisitos e estabelecidas as condições, o Juiz deverá
homologá-lo por sentença, devolvendo-se os autos ao MP para que, junto à
Vara de Execuções Penais, providencie o início da execução. Como dito acima,
a recusa em homologar trata-se de uma decisão recorrível (art. 581, XXV,CPP).

Entendo, nada obstante a lei não estabelecer expressamente, que a sentença


homologatória do acordo penal é apelável, nos termos do art. 593, II (segunda
parte), do CPP, tal como se dá com a sentença homologatória da transação
penal (art. 76, § 5º., da Lei nº. 9.099/95).

A vítima deverá ser intimada da homologação do acordo e de seu


descumprimento, nada obstante não ter legitimidade para recorrer (judicial ou
administrativamente) da sentença homologatória, já que se trata de uma
atribuição do órgão de execução do MP. Tampouco será cabível a ação penal
de iniciativa privada subsidiária da pública, pois, às escâncaras, não houve
inércia do MP.

A sentença homologatória deverá ser enviada ao membro do MP junto à Vara


de Execuções Penais para que inicie a sua execução. A iniciativa será do MP,
não do Juiz, como se dá com as sentenças condenatórias, devendo ser
observadas as disposições contidas na Lei nº. 7.210/84.

Já no Juízo da Vara de Execuções Penais, descumpridas quaisquer das


condições estipuladas no acordo, o MP deverá comunicar ao juízo, para fins de
sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. Segundo a lei, o
descumprimento também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como
justificativa para o eventual não oferecimento da suspensão condicional do
processo; assim, temos um novo requisito negativo para a suspensão
condicional do processo prevista no art. 89 da Lei nº. 9.099/95: o
descumprimento do acordo anterior de não persecução penal.

A celebração e o cumprimento do acordo não constarão de certidão de


antecedentes criminais, exceto para impedir um novo acordo, conforme acima
referido. Cumprido integralmente, o Juízo da Vara de Execuções Penais
declarará extinta a punibilidade, observando-se que o prazo prescricional fica
suspenso enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo (art. 116, IV, do
CP).

Concluimos que, observa-se que este novo art. 28-A não encerra no Brasil,
muito pelo contrário, o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,
aliás, decorrente do princípio da legalidade. O que houve, e já o havia, foi uma
sua relativização, perfeitamente possível em um processo penal de feição
acusatória.

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