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ANOTAÇÕES – Processo Civil (Recurso Especial e Recurso Extraórdinário)

 Juízo de Admissibilidade:

Por se tratarem de recursos, tanto o Recurso Especial, quanto o Extraordinário, se


submetem às regras de juízo de admissibilidade trazidas pelo NCPC, sem se esquecer das
disposições contidas na CF/88, em seu art. 102, §3º.

O Juízo de admissibilidade consiste na verificação dos requisitos mínimos os quais


devem ser preenchidos pelo recurso para que possa ser processado e examinado quanto ao
seu conteúdo (mérito).

Ou seja, no juízo de admissibilidade analisa-se se o recurso preenche os requisitos


recursais mínimos (requisitos formais) que o tornam apto a ser apreciado pelo Tribunal.

Os requisitos são classificados pela doutrina em requisitos intrínsecos e extrínsecos. Os


intrínsecos são relativos a existência do poder de recorrer. Os extrínsecos relacionam-se ao
modo de recorrer.

REQUISITOS INTRINSECOS:

- Cabimento/adequação -> A decisão que se deseja impugnar deve admitir o emprego de


algum recurso, e o recurso manejado pela parte deve ser o adequado para impugnar a decisão
indesejada.

Obs: no que tange a adequação, frisa-se que o nosso sistema admite a fungibilidade recursal.
Este princípio permite o recebimento de um recurso em lugar de outro quando ocorrer
equívoco da parte, em razão da previsão do princípio da instrumentalidade das formas. Porém,
para que se admita a fungibilidade três requisitos devem ser observados:
a) Deve existir dúvida objetiva em relação a qual recurso adotar;
b) Não pode haver erro grosseiro da parte que recorreu usando o recurso
equivocado;
c) Deve ser observado o prazo do recurso que realmente caberia aquele caso (esse
requisitos perdeu força considerando que o NCPC unificou os prazos recursais em
15 dias).

-Legitimidade -> Trata-se de quem pode recorrer. Quem detém este poder/direito de
impugnar a sentença proferida. O art. 996, do NCPC, diz que são legitimados:

a) A parte vencida;
b) O terceiro prejudicado;
c) O Ministério Público, tanto quando atuar como parte, quanto quando atuar
como fiscal da ordem jurídica.

Obs: o amicus curie, em regra não pode recorrer, salvo para apresentar embargos de
declaração, e para impetrar recurso contra a decisão em incidente de resolução de demandas
repetitivas. Atenção para essas hipóteses!!

-Interesse -> O interesse consiste na demonstração da necessidade de se recorrer,


buscando-se a melhora da situação fática prejudicada pela sentença.
Segundo a doutrina, para que se configure o interesse recursal, o provimento do
recurso tem que trazer alguma utilidade jurídica prática para o recorrente, o seja, uma
situação jurídica objetivamente melhor do que a que ele tinha com a decisão recorrida.

-Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer-> Estes são os


pressupostos negativos de admissibilidade. Ou seja, se estiverem presentes conduzem o
recurso à inadmissibilidade.

Os fatos extintivos são a renúncia e aquiescência. O fato impeditivo é a desistência do


recurso.

A renúncia e a aquiescência são sempre prévias à interposição do recurso, ao contrário


da desistência que pressupõe que o recurso já tenha sido apresentado.

A renúncia é manifestação unilateral de vontade, pela qual o titular do direito de


recorrer declara a sua intenção de não o fazer. Sua finalidade, em regra, é antecipar a
preclusão ou a coisa julgada. Caracteriza-se por ser irrevogável, prévia e unilateral, o que
dispensa a anuência da parte contrária.

A aquiescência pode ser expressa ou tácita. Consiste na concordância do titular do


direito de recorrer com a decisão judicial. Obsta o recurso por força de preclusão lógica. Pode
ser expressa quando o interessado comunica ao juízo a sua concordância com o que ficou
decidido; e tácita, quando pratica algum ato incompatível com o desejo de recorrer. Por
exemplo, cumprindo aquilo que foi determinado na decisão ou sentença.

OBS: Não se admite renúncia prévia, feita antes da decisão ou da sentença, exceto nos
casos em que já seja possível conhecer de antemão o seu teor, como nos casos em que as
partes fazer um acordo e apenas pedem ao juízo que o homologue, renunciando o direito de
recorrer. Nesse caso já se sabe o teor da decisão, portanto a renúncia pode ser prévia.

No que tange à desistência, esta é uma causa impeditiva, regulada pelo art. 998, do
NCPC. Diferencia-se da renúncia porque sempre será posterior a interposição do recurso.

A desistência do recurso poderá ser feita a qualquer tempo e sem a anuência da parte
contrária, ainda que esta já tenha apresentado as contrarrazões. Diferente do que ocorre lá na
desistência da ação, que após o oferecimento da contestação (resposta), exige-se o
consentimento do réu para que se consolide.

Ainda que se diga que pode ser manifestada a qualquer tempo, entende-se que a
desistência deve ocorrer até o início do julgamento do recurso, podendo ser expressa ou
tácita. A desistência pode ser manifestada até o início do julgamento do recurso e ser expressa
ou tácita. Será expressa quando o recorrente manifestar o seu desejo de que ele não tenha
seguimento; e será tácita quando, após a interposição, o recorrente praticar ato incompatível
com o desejo de recorrer.

Não se admite a retratação da desistência, pois desde a sua manifestação, ocorrerá


preclusão ou coisa julgada.

Se o tribunal, sem ter acesso a informação de desistência, julgar o recurso, haverá


praticado ato jurídico inexistente, considerando que com a desistência o recurso não mais
existia.

Obs: DESISTÊNCIA NO ÂMBITO DOS RECURSOS ESPECIAIS E EXTRAÓRDINÁRIOS: No


CPC de 73, caso o RESP ou o RE houvesse sido escolhido para decisão no julgamento por
amostragem de demandas repetitivas, não se admitia a desistência, sob a alegação de que
nesse caso surgia um interesse público que afastava do recorrente o direito de desistir do
processo. Com o NCPC isso mudou. Buscou-se conciliar o direito de desistência, mas
preservando-se o interesse público oriundo do julgamento de demandas repetitivas. Assim,
caso seja conferida repercussão geral a um RESP ou RE, mesmo que haja a desistência do
recurso, o mérito da questão será enfrentado pelos tribunais superiores.

Em outras palavras, o pedido de desistência será deferido, mas a controvérsia contida


no recurso será julgada normalmente pelos tribunais superiores.

REQUISITOS EXTRINSECOS:

- Tempestividade recursal -> o recurso deve ser interposto no tempo correto, ou seja,
no prazo previsto no NCPC.

-Regularidade Formal -> Nas lições de Wambier e Talamine, o recurso precisa adequar-
se a certas exigências formais para que possa ser admitido. Vigoram os princípios da tipicidade
mitigada e da instrumentalidade dos atos processuais. Mas há parâmetros mínimos que a
petição recursal precisa observar, sob pena de inviabilizar até mesmo em termos práticos a
possibilidade de compreensão da questão pelo órgão.

Na regularidade formal do processo engloba-se a necessidade de que a parte contrária


seja intimada da interposição do recurso, para que possa contrarrazoá-lo, além da exigência de
que o recurso seja formulado por meio de uma petição, indicando-se os motivo de fato e de
direito que levam à pretensão de novo julgamento da matéria.

-Preparo -> Consiste no pagamento das custas processuais incidentes sobre aquela
espécie recursal, e a respectiva comprovação no ato de interposição recursal.

 Dos Recursos:

Antes de falarmos especificamente dos Recursos Especiais e dos Recursos


extraordinários, é importante esclarecer que em nosso ordenamento existe um sistema de
impugnações de decisões judiciais que compreende, além dos recursos, as ações autônomas e
os sucedâneos recursais.

As ações autônomas são instrumentos de impugnação de decisão judicial que dão


origem a um novo processo. Podem se desenvolver de forma concomitante ao processo
principal, mas também, em alguns casos, pode ser desenvolvida posteriormente à ação
principal, como ocorre com a Ação Rescisória, por exemplo. Os sucedâneos recursais são todos
os meios de impugnação de decisão judicial que não se constitui nem em um recurso, nem em
uma ação autônoma, a exemplo da remessa necessária, e do pedido de reconsideração de
sentença.

O art. 994, do NCPC, elenca como espécies recursais os seguintes instrumentos:

a) Apelação;
b) Agravo de instrumento;
c) Agravo interno;
d) Embargos de declaração;
e) Recurso ordinário;
f) Recurso especial;
g) Recurso extraordinário;
h) Agravo em recurso especial e extraordinário;
i) Embargos de divergência.

Para o certame do STM cobra-se apenas as alíneas “f”, “g”, e “h”, ou seja: RESP, RE e
Agravo em RESP e RE.

Contudo, como visto, o NCPC traz várias pessoas legitimadas a recorrer. Em razão disso
é possível que ocorra, na prática, mais de um recurso em razão da mesma sentença. Nesse
contexto, o art. 997, do NCPC, caracteriza esses recursos múltiplos como independentes. Não
obstante a regra acima, temos uma exceção a independência dos recursos, que é o caso do
recurso adesivo, que interessa sobremaneira ao estudo do RESP e do RE.
Ocorre que o inc. II, do §2º, do art. 944, explicita que podem ser interpostos de forma
adesiva os recursos de apelação, o recurso extraordinário e recurso especial. Portanto, ao se
falar em recurso adesivo se está a falar, na realidade, em apelação, RESP ou RE.

Na realidade o recurso adesivo não é uma espécie recurso, mas apenas uma forma de
interposição de apelação, RESP ou RE.

Caberá ao recorrente, quando possível, optar entre interpô-los sob a forma principal
ou adesiva.

São dois os requisitos do recurso adesivo:

■ que tenha havido sucumbência recíproca, isto é, que nenhum dos litigantes tenha obtido no
processo o melhor resultado possível;

■ que tenha havido recurso do adversário.

Mas quando o recurso deve ser interposto como principal, ou adesivo?

Imagine-se, por exemplo, que A ajuíza em face de B uma ação de cobrança de 100 e
que o juiz julga parcialmente procedente o pedido, condenando o réu a pagar ao autor 80.
Houve sucumbência recíproca.

Pode ocorrer que essa sentença não satisfaça nenhum dos litigantes e que ambos
queiram que seja reformada pelo órgão ad quem. Intimadas, as partes apresentarão o seu
recurso sob a forma principal.

Serão recursos autônomos, cujos requisitos de admissibilidade serão examinados pelo


juiz, individualmente.

Mas pode ocorrer, por exemplo, que A, conquanto não tenha obtido o resultado mais
favorável, o aceite e esteja disposto a não recorrer, para que, havendo logo o trânsito em
julgado, a sentença passe a produzir efeitos. Sendo assim, deixará transcorrer o seu prazo in
albis. Mas A descobre que o seu adversário recorreu, o que impede o trânsito em julgado: os
autos terão de ser remetidos ao tribunal. O autor, se soubesse que o réu interporia recurso e
que os autos subiriam, também teria recorrido, para tentar obter um resultado ainda mais
favorável.

Nessa circunstância, a lei processual lhe dá uma segunda oportunidade de recorrer,


desta feita sob a forma adesiva. É como se o autor “pegasse carona” no recurso do adversário,
apresentando também o seu. Essa breve explicação esclarece por que é indispensável que
tenha havido sucumbência recíproca e recurso do adversário, pois do contrário não haveria
como “pegar a carona”.

Aquele que recorreu adesivamente preferiria que a sentença transitasse logo em


julgado; mas, como houve recurso do adversário, ele aproveita para também recorrer.

Isso explica o caráter acessório do recurso adesivo. Se o principal não for admitido, ou
se houver desistência, ele ficará prejudicado, pois só sobe e é examinado com o principal.

Os efeitos recursais serão tratados apenas quando relevantes ao estudo destas


espécies recursais, considerando que não se trata de um tópico específico do edital.
O recurso adesivo processa-se da seguinte forma:

* O prazo para apresentação de recurso adesivo é aquele disponibilizado para


contrarrazoar. Assim, a parte que não recorreu, pode no prazo concedido para contrarrazões
(15 dias) apresento recurso adesivo.

* Apresentado o recurso adesivo, a outra parte poderá contrarrazoá-lo. Ou seja,


haverá contrarrazões ao recurso principal e ao recurso adesivo.

* Os requisitos de admissibilidade do recurso adesivo são os mesmos do recurso


principal, tanto os intrínsecos, quanto os extrínsecos.

* Aquele que apelou sob a forma principal, não pode, posteriormente, recorrer sob a
forma adesiva. Imagine-se, por exemplo, que uma das partes tenha apelado sob a forma
principal e que seu recurso não tenha sido admitido, por estar sem preparo ou fora do prazo.
Havendo recurso do adversário, não será possível que ele tente agora interpor recurso sob a
forma adesiva, uma vez que já exauriu o seu direito de recorrer.

 Recurso Especial e Recurso Extraordinário

O Recurso Especial e o Recurso Extraórdinário possuem caráter excepcional. É que os


recursos podem ser catalogados em duas categorias: ordinários e extraordinários lato sensu.
São ordinários os recursos que têm por finalidade permitir ao tribunal que reexamine a
decisão, porque o recorrente não está conformado com a que foi proferida (ou, no caso dos
embargos de declaração, para que seja sanado algum vício). Esse tipo de recurso serve para
discutir a correção ou a justiça da decisão.
Já os recursos extraordinários lato sensu têm outra finalidade: visam a impedir que as
decisões judiciais contrariem a Constituição Federal ou as leis federais, mantendo a
uniformidade de interpretação, em todo país, de uma e outras. Aquele que apresenta um
desses recursos está insatisfeito e pretende que a decisão seja revista. Mas o fundamento que
apresentará não poderá ser de que a sentença foi injusta, porque eles não constituem uma
espécie de “terceira instância” que visa assegurar a justiça das decisões.
Os recursos extraordinários lato sensu são: o extraordinário, o especial e os embargos
de divergência, sempre julgados pelo STF ou pelo STJ. O STF e o STJ também julgam os
recursos ordinários strictu sensu, previstos nos art. 102, II, e 105, II, da CF.

Estes só cabem quando preenchidas as condições estabelecidas na CF/88, somente


podendo, também, terem os fundamentos contidos na Carta Magna.
Podem ser impetrados não apenas do julgamento de apelação, mas também de agravo
de instrumento ou agravo interno (Súmula n. 86 STJ).
Se preenchidos os requisitos, também poderão se interpostos contra decisões
interlocutórias.
Também se tem admitido o recurso especial contra acórdão proferido em remessa
necessária. Antes tal hipótese não era admitida, sob o argumento de que haveria preclusão
lógica, considerando que não tinha havido manifestação de inconformismo da Fazenda
Pública. Contudo o STJ mudou seu entendimento admitindo o REsp contra acórdão proferido
na remessa necessária.

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