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PRÁTICA DESCOMPLICADA EM JUIZADOS ESPECIAIS

PROFª SABRINA DOURADO

Modelo de recurso inominado

O Recurso Inominado, que equivale ao Recurso de Apelação, serve para


atacar sentenças desfavoráveis submetendo o processo à análise de um órgão
colegiado, formado por 3 (três) juízes de 1 o grau de jurisdição, denominado Turma
Recursal Cível, (§ 1o , art. 41 da Lei 9.099/95). Dispõe o art. 41 da Lei 9.099/95:
“Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral,
caberá recurso para o próprio juizado.”

MODELO DE RECURSO INOMINADO

A elaboração da peça compreende uma folha de apresentação (endereçada


ao juízo a quo) e uma folha das razões (endereçada ao juízo ad quem).
1o Passo: Endereçamento
Excelentíssimo Senhor juiz de direito do juizado especial cível da comarca
de ... Estado ...
2o Passo: Qualificação das partes
O Recurso inominado terá duas folhas, sendo uma de apresentação,
qualificada da seguinte forma:
Processo n o ...
FULANO, já devidamente qualificado nos autos do processo referenciado
em epígrafe, em que é demandada por BELTRANO, em face da sentença de
fls. ..., vem, pelas razões em anexo, interpor o presente RECURSO
INOMINADO para a egrégia Turma Recursal a que for distribuído.

3o passo: encerramento
Termos em que
Pede deferimento.
Local, dia, mês e ano.
Advogado
OAB...
4o passo: endereçamento das razões
O examinando deverá iniciar a folha das razões da seguinte forma:
EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO ESTADO DA...

5o passo: qualificação das partes


Processo n o ...
Recorrente:
Recorrido:
Juízo de origem:
Colenda Turma,

6o passo: requisitos de admissibilidade


O presente recurso é tempestivo, uma vez que apresentado dentro do prazo
legal, qual seja, 10 dias.
Assim, tendo sido intimado da r. sentença no dia X, começando a contagem
no dia Y, é tempestivo o presente recurso apresentado na presente data.
O recurso inominado encontra-se devidamente preparado, conforme faz
prova as guias de recolhimento em anexo, cumprindo o determinado no art.
1007 do CPC, aplicável subsidiariamente. Da mesma forma, a parte recorrente
é legítima, já que foi vencida na presente demanda consoante preceito do art.
996 do CPC.
Neste sentido, o inominado, em tela, é cabível, visto que preenchidos seus
requisitos de admissibilidade.
Por fim, há interesse no presente recurso, já que a parte recorrente foi
vencida na instância inferior.
Pelo exposto, estando demonstrados todos os requisitos para
admissibilidade do presente recurso, requer seja o mesmo conhecido para ao
final, dar-lhe provimento.

7o passo: resumo da decisão


Neste ponto, faça uma síntese do enunciado. Pontue os principais pontos do
caso. Faça uma introdução, desenvolvimento e conclusão.
8o passo: fundamentos do recurso
Aqui, você deve demonstrar as razões de forma ou invalidação da decisão.
Destaque que o juízo cometeu um equívoco e que a sua decisão merece ser
revista. Fundamente suas razões com artigos de lei e possíveis súmulas
aplicáveis ao caso. Mencione os dispositivos e desenvolva-os com suas ideias.
9o passo: pedidos
Aqui será requerido o provimento do presente recurso:
Ante o exposto, espera que a egrégia Turma Recursal dê provimento ao
presente recurso, para acolher a preliminar de ilegitimidade passiva,
extinguindo o processo sem resolução de mérito, ou anular a sentença,
determinando a correta instrução do processo em audiência, ou julgar
improcedente a demanda, ou, se for o caso, reduzir a quantia para patamar
justo. Também impor multa por litigância de má-fé.

NÃO HÁ VALOR DA CAUSA EM SEDE DE RECURSO.


10o passo: encerramento
Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se do local, data
e advogado. Por exemplo:
Termos em que pede deferimento.
Local, data,
Advogado...
OAB...

Embargos de declaração

O princípio do amplo acesso é atendido na medida em que o cidadão não apenas


extrai do poder judiciário um decisório qualquer, mas uma decisão límpida,
despida de qualquer vício que possa dificultar a postulação ou defesa de direitos
perante o aparato estatal.
Pensando nisso, o legislador previu os embargos de declaração como
instrumento apropriado a integrar as decisões judiciais, de modo a expurgar
eventuais vícios (obscuridade, omissão ou contradição) que a mesma venha
possuir.
O recurso em tela classifica-se como espécie intermediária, na medida em que
o mesmo se situa entre a sentença e a apelação, o acórdão e o RESP ou REX;
entre a decisão interlocutória e o agravo de instrumento.
A) Conceito
É o remédio recursal, previsto nos artigos 1.022 a 1.026 do CPC, que visa
integrar decisório judicial (sentença, acórdão, decisão interlocutória e decisão
monocrática), sanando obscuridade, omissão ou contradição existente.
B) Condições específicas para a utilização do recurso
O recurso será apresentado quando a decisão contiver um dos seguintes vícios:
obscuridade: a obscuridade surge de decisão incompreensível, ininteligível,
como quando o magistrado transcreve considerações acerca de um possível
direito que teria alguma das partes (benfeitorias, por exemplo) e, ao final, se
omite no pronunciamento da questão. Ou mesmo no caso de quando o julgador,
não obstante tenha sido postulado danos morais e estéticos separadamente,
atribui condenação de único montante a ambos, impossibilitando a compreensão
do quantum dirigido a cada dano.
omissão: ocorre quando o magistrado deixa de apreciar questões relevantes,
arguidas pelas partes. Certamente que o magistrado não está obrigado a
apreciar todas as questões levantadas pelos litigantes.
Porém existem aquelas que possuem suma relevância de modo a poder
influenciar, inclusive, no julgamento da questão controvertida (por exemplo,
pronúncia do magistrado acerca de condenação do vencido em custas e
honorários advocatícios, a existência de caso fortuito, prescrição, culpa exclusiva
da vítima, etc.). É por isso que, não raro, a omissão é a causa ou condição que
possibilitar o manejo dos embargos de declaração com efeitos modificativos.
contradição: ocorre geralmente quando há uma contraposição entre o
raciocínio veiculado na fundamentação e o resultado emitido no dispositivo do
decisório (por exemplo, no corpo da sentença o magistrado transcreve raciocínio
que indica o deferimento de determinado título e, na parte dispositiva, o indefere,
ou vice-versa).
erro material: o CPC/2015 passou a admitir o manejo dos embargos
declaratórios quando houver mero erro material.
C) Efeitos
O recurso interrompe o prazo para a propositura de quaisquer recursos, por
ambas as partes, devolvendo-se, por conseguinte, a totalidade do mesmo. Urge
ressaltar que a interposição intempestiva dos embargos não implica na
interrupção do prazo para se aviar outros recursos.
Os embargos declaratórios existentes na lei dos Juizados especiais cíveis (Lei
n o 9.099/95) - que até então apenas suspendiam o prazo para a interposição de
outras espécies recursais – passaram, com o novo CPC, a também interromper
o prazo para apresentação de outros recursos, conforme se extrai da nova
redação do artigo 50, CPC.
D) Processamento
O prazo de interposição é de cinco dias, inexistindo deferimento de prazo para
as contrarrazões (salvo no caso de possibilidade de efeitos modificativos). A
interposição fora do prazo não terá o condão de interromper o prazo em questão.
Inexiste preparo para a espécie recursal em exame. O julgamento se dará pelo
mesmo órgão que emitiu o decisório a ser reexaminado.
E) Embargos de declaração com efeitos modificativos
Ocorre quando o suprimento da omissão havida é capaz de modificar o julgado.
Neste caso, o magistrado deverá conceder prazo para a parte contrária
apresentar as contrarrazões ao recurso, sob pena de nulidade por cerceio de
defesa.
Exemplo clássico é o do magistrado que se esquece de apreciar a alegação de
prescrição, julgando a demanda procedente. Aviando os embargos, o réu solicita
manifestação jurisdicional sobre a questão, seja para negá-la, seja para acolhê-
la. Verifique que, declarando a existência da prescrição, o resto do decisório
restará comprometido.
Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da
decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a
decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos
exatos limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da
intimação da decisão dos embargos de declaração. É o que a doutrina chama
de “princípio da complementariedade”.
F) Embargos protelatórios e penalidade
Quando opostos com o intuito manifestamente protelatório, o manejo do
instrumento em questão ensejará a aplicação de multa não excedente a 2% (um
por cento) sobre o valor da causa, a ser revertida a favor do embargado. Caso
haja reiteração no manejo, a multa será elevada para até 10% (dez por cento),
ficando condicionada a interposição de outro recurso ao recolhimento do
montante em questão, pelo que constituirá novo pressuposto recursal para a
admissibilidade do recurso aviado. Esta exigência não será feita à Fazenda
Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que recolherão a multa apenas
ao final.
G) Embargos e prequestionamento
Além dos objetivos já estudados, os ED também têm a serventia de
prequestionar o órgão recorrido acerca da questão federal que será objeto de
futuros recursos extremos (Resp ou Rex), tudo com o intuito de evitar a preclusão
processual.
Por exemplo, por mais que tenha sido proferida sentença cujo teor é violador de
matéria federal ou constitucional, deve-se aviar, em primeiro lugar, os recursos
ordinariamente previstos (ex: apelação), de modo a haver o prévio esgotamento
das instâncias ordinárias. Entretanto, a matéria constitucional ou federal há de
ser tratada pelos tribunais inferiores, não podendo as mesmas ser arguidas pela
primeira vez em sede dos recursos extremos (de modo a haver a supressão de
instâncias). É por isso que, a despeito de ter sido levantada a matéria por ocasião
do recurso respectivo, omitindo-se o tribunal a quo, serão cabíveis os embargos
declaratórios com o propósito de prequestionamento.
Neste sentido é o texto da Súmula 98 do STJ: “Embargos de Declaração
manifestados com notório propósito de prequestionamento não tem caráter
protelatório.”
Urge ressaltar que se considera incluídos no acórdão os elementos que o
embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos
de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior
considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade (art. 1.025,
NCP).
MODELO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:


1a passo: Endereçamento;
Será feito ao próprio órgão que prolatou a decisão. Juiz, relator ou colegiado, o
qual tenha proferido a decisão.
Tomemos por base, para a construção do modelo abaixo, a decisão de um juiz
de primeiro grau.
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da n o Vara Cível da Comarca de
... (confira os dados do enunciado).
2o passo: Qualificação das partes
Aqui, você deverá identificar as partes. Poderá ser utilizada a expressão: já
devidamente qualificado nos autos.
Tratamento: embargante e embargado;
O verbo que deve ser utilizado para os embargos é o OPOR.
3o passo: resumo da decisão
Abordar de forma objetiva os principais pontos fáticos do enunciado. Seja breve
e lembre-se de não trazer dados não fornecidos. Retrate as principais
informações do já mencionado enunciado.
4o passo: requisitos de admissibilidade
Destacar a tempestividade, legitimidade, cabimento e demais requisitos de
admissibilidade.
Eles independem de preparo!
No cabimento, reforçar a omissão, contradição, obscuridade ou possível erro
material.
5o passo: Fundamentos do recurso
Destacar o ponto OMISSO, CONTRADITÓRIO ou OBSCURO.
Ao proferir a sentença, o juiz se omitiu quanto à existência do dano moral, o qual
fora pleiteado e objeto de prova produzida nos autos. Desenvolver melhor,
levando em consideração os dados do enunciado.
6o passo: Pedidos
Requerer o conhecimento e provimento dos embargos, a fim de que seja sanada
a omissão, contradição, obscuridade ou erro material.
Se sobrevier efeito modificativo, requerer a intimação do embargado para
apresentar contrarrazões.
Requer seja sanada a irregularidade....
7o passo: Encerramento
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, dia, mês e ano.
Advogado...
OAB...

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