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Execução

JUR0233_v1.0
Disciplina: Execução
Autoria do Estudo de Caso: Luís Henrique Bortolai

Estudo de Caso
1. Caso – Análise de caso em sede de execução
Asdrubral é autor de uma ação de cobrança, em face de Blênio, devido ao não pagamento
de uma mercadoria que foi entregue no prazo correto. Mesmo após ser notificado
extrajudicialmente pelo autor da ação, bem como pelo cartório de protestos da cidade de
Cabrobrozinho Mirim do Sul, Blênio não realizou o pagamento como devido. Após o trâmite
regular da ação de conhecimento, contra a decisão que indeferiu pedido do réu de
produção de prova pericial, seu advogado interpõe embargos de declaração, que foram
considerados manifestamente protelatórios pelo juiz de primeiro grau, razão pela qual o
magistrado, de ofício, aplica-lhe uma multa de 02% (dois por cento) do valor da causa, por
considerar os embargos protelatórios, além de uma multa de 20% (vinte por cento) do valor
da causa, por ato atentatório à dignidade da justiça, e uma multa de 10% (dez por cento) do
valor da causa, por litigância de má-fé, bem como determina que a parte contrária seja
indenizada, fixando desde logo a indenização no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

2. Papel do aluno
Você é o advogado da parte ré e precisa elaborar um parecer, devidamente fundamentado,
com relação aos seguintes questionamentos:

a) Qual o fundamento legal para aplicação de cada uma dessas multas? É possível a
cumulação das multas na forma determinada pelo juiz? Apresente uma resposta
fundamentada na doutrina e na jurisprudência.

b) Analise a indenização fixada pelo juiz de primeiro grau, bem como quanto ao seu
cabimento e ao procedimento adotado pelo juiz, no caso em análise. Justifique sua
resposta.
c) A quem são devidas as multas apresentadas no caso em questão? Pode-se, desde
logo, executar as multas e a indenização? Justifique sua resposta de forma
fundamentada.

d) Caso o tribunal superior ao magistrado reconhecesse a litigância de má-fé, em


análise recursal sobre a matéria, e não sendo possível se mensurar os danos a serem
indenizados, como deveria se proceder no caso em questão? Justifique sua resposta,
com base na doutrina e na jurisprudência mais recente sobre o assunto.

3. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado, e para a resolução desse estudo
de caso, use as seguintes leituras complementares, tanto doutrinárias como
jurisprudenciais disponíveis, como base:

ABDO, Helena Najar. O abuso do processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar; GOUVÊA, José Roberto Ferreira; NEGRÃO, Theotonio;
DA FONSECA, João Francisco Naves. Código de processo civil e legislação processual em
vigor. São Paulo: Saraiva, 2017.

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Informativo 497 do STJ - 2012. Conteúdo Jurídico,
Brasilia-DF: 24 maio 2012. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=238.37170&seo=1>. Acesso em: 28
mar. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Processo n. 0006550-
52.2013.8.07.0012. Relator: Fernando Habibe. Data de julgamento: 12/07/2017, Quarta
Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 18/07/2017.
BRASIL. Recurso Especial 861.471/SP. Relator Ministro João Otávio de Noronha, Quarta
Turma, Recorrente Empresa Paulista Cinematográfica Ltda. Recorrido: Escritório Central
de Arrecadação e Distribuição ECAD. Julgado em 09/02/2010, DJe 22/03/2010.
BRASIL. Recurso Especial n. 1.250.739/PA. Relator: Ministro Mauro Campbell Marques,
pel. p/ acórdão Ministro Luís Felipe Salomão, Corte Especial, Recorrente: União;
Recorrido: Raimunda Rosa da Silva e Outros. Julgado em 04.12.2013, Dje 17.03.2014.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 10. Região. ROPS 1238200801810001.
Desembargador Relator: André R. P. V. Damasceno. Recorrente: Viplan - Viação Planalto
Ltda., Recorrido: Iranéia Rego Bezerra da Silva. Julgamento em 05/05/2009; Data de
publicação: 18/05/2009.
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1 Região. EDAC: 179157520024013800, Relator:
Desembargador Federal Olindo Menezes, Quarta Turma, Data de Julgamento:
12/09/2014, Data de Publicação: 23/09/2014.
CÂMARA, Alexandre. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

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<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/9903-9902-1-PB.pdf>.
Acesso em: 28 mar. 2019.

DE MESQUITA, José Ignácio Botelho; DELLORE, Luiz Guilherme Pennachi; ZVEIBEL, Daniel
Guimarães; TEIXEIRA, Guilherme Silveira; SILVEIRA, Susana Amaral; LOMBARDI, Mariana
Capela; AMADEO, Rodolfo da Costa Manso Real; RIBEIRO, Débora. Breves considerações
sobre a exigibilidade e a execução das astreints. Revista Forense, v. 384, 2006.

DE SOUZA E SOUZA, Maicon. Dever de lealdade processual e análise econômica da


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148, 2012. Disponível em:
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MUNIZ, Maristela Cury. A cobrança de multas e indenizações decorrentes das


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(dissertação). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.

NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e Legislação processual em vigor. 39ª ed.,
São Paulo: Saraiva, 2017.

NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades sobre o Processo Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997.

NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
Comentado. 16ª ed., revista atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017.

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SOARES, Carlos Henrique. Litigância de má-fé no novo código de processo civil.


Disponível em: <http://www.rkladvocacia.com/litigancia-de-ma-fe-no-novo-codigo-de-
processo-civil/#_ftn1>. Acesso em: 28 mar. 2019.
4. Resolução
Resolução do caso de forma escrita, bem como a gravação de vídeo de até dois minutos
com a respectiva resposta, deve ser postado no ambiente virtual acadêmico respectivo.

a) Qual o fundamento legal para aplicação de cada uma dessas multas? É possível a
cumulação das multas na forma como determinada pelo juiz? Apresente uma
resposta fundamentada na doutrina e na jurisprudência.

Resposta:

A multa por embargos de declaração protelatórios está disciplinada no artigo 1.026, § 2º


do Código de Processo Civil de 2015, determinando uma multa de 02% (dois por cento)
sobre o valor atualizado da causa, destinada ao embargado. Pode ainda, o juiz majorar o
valor da multa em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, no caso de
reiteração dos embargos, tidos como protelatórios, nos termos do § 3º do artigo 1.026,
do CPC/15.

O uso das vias recursais com fins protelatórios agride os princípios constitucionais da
eficiência (artigo 37) e a duração razoável do processo (artigo 5º, inciso LXXVIII). Portanto,
são manifestamente protelatórios os embargos que pretendem rediscutir matéria sobre
a qual não há nenhuma obscuridade, contradição, omissão ou erro matéria.

Os embargos de declaração prestam-se à tutela de direito e ao abuso de direito, como diz


Ludwig (2014)1, “diante deste restrito rol de hipóteses tipificadas é facilmente observado
que a pura e simples reapreciação das provas produzidas ou uma nova discussão acerca
das teses adotadas para decidir o feito escapam completamente do alcance e do objetivo
desta via recursal. ”

1
LUDWIG, Guilherme Guimarães. Embargos de declaração protelatórios: uma análise à luz do princípio da eficiência no
processo. Disponível em: <revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2787/2027>. Acesso em: 29 mar. 2019.
Há discussões sobre a natureza dessa multa, porém os Tribunais, em suas decisões,
despertam o caráter punitivo da multa do artigo 1026, § 2º, do Código de Processo Civil
de 2015, reconhecendo o abuso de litigar:

DESAPROPRIAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE


OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO. EMBARGOS PROTELATÓRIOS. APLICAÇÃO DE MULTA
PUNITIVA. 1. Todos os temas supostamente deixados de tratar no acórdão, em verdade o
foram, de forma objetiva e destacada, não procedendo as imputações de omissão. Os
embargos de declaração, na realidade, pretendem, de forma inútil (em sede inadequada),
rediscutir os fundamentos do julgado, em dimensão infringente. 2. Em matéria de pré-
questionamento, deveria a parte interessada (se fosse o caso), no rigor dos termos, fazê-lo
desde os primeiros passos da sua postulação, a fim de que, com disciplina processual, e sem
caráter protelatório, pudesse (sendo o caso) ter acesso aos recursos excepcionais. 3. Embora
se admita o uso dos embargos de declaração para tal fim, objetivando o processamento dos
recursos especial e extraordinário, o manejo do recurso com esse objetivo deve (ou deveria)
estar fundado concretamente (no histórico dos autos) num dos seus permissivos legais, que,
não acatados no seu julgamento, propiciem (ou propiciassem) a interposição dos recursos
excepcionais, hipótese que não se apresenta nos autos. 4. Embargos de declaração com
discussão de mérito, manifestamente protelatórios, impondo-se o reconhecimento
(declaração) do abuso do direito de litigar, com a aplicação da penalidade adequada, na
ordem de 1% (um por cento) do valor da causa, em proveito da parte embargada (art. 538,
parágrafo único - CPC). 5. Rejeição dos embargos de declaração. Aplicação, ao INCRA,
de multa punitiva. (BRASIL, 2014)2
A multa prevista no art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil (1973) tem caráter
eminentemente administrativo – punindo conduta que ofenda a dignidade do tribunal e a
função pública do processo – sendo possível sua cumulação com a sanção prevista nos artigos
17, VII e 18, § 2º, do Código de Processo Civil, de natureza reparatória. (BRASIL, 2014)3

2
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1 Região. EDAC: 179157520024013800, Relator: Desembargador Federal Olindo
Menezes, Quarta Turma, Data de Julgamento: 12/09/2014. Data de Publicação: 23/09/2014.
3
BRASIL. Recurso Especial n. 1.250.739/PA. Relator Ministro Mauro Campbell Marques, pel. p/ acórdão Ministro Luís
Felipe Salomão, Corte Especial, Recorrente: União; Recorrido: Raimunda Rosa da Silva e Outros; julgado em 04.12.2013,
Dje 17/03/2014.
Somado a isso, segundo Silva e Mazzola (2017), a doutrina apresenta a seguinte colocação
sobre o tema: “a que tudo indica, na seara recursal esse entendimento se manterá
incólume, podendo a multa do artigo 81 do NCPC ser cumulada com as penalidades
específicas prevista no capítulo recursal do NCPC (por embargos de declaração – artigo
1.026, § 2º e 3º, e para o Agravo Interno – artigo 1.021, § 4º).”4
Já a multa por ato atentatório à dignidade da jurisdição, está discriminada no artigo 77
do § 2º do CPC/15 (antigo artigo 14, CPC/73), com o fim de sancionar as partes e terceiros
(com exceção dos advogados, defensores públicos e os membros do Ministério Público)
pela prática de atos atentatórios ao exercício da jurisdição. Dispõe o dispositivo: “§ 2o A
violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça,
devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao
responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade
da conduta.”

Assim, a quantia arbitrada de acordo com a conduta praticada possui teto de 20% (vinte
por cento) do valor da causa, que seguirá o parâmetro da gravidade do ato praticado, sem
prejuízo de outros sansões civis, processuais e criminais, a que está sujeito o agente.

Segundo Souza e Souza (2012)5, trata-se de multa que será revertida em favor do Estado
ou da União ao final da lide, como dívida ativa, caso não haja adimplemento espontâneo
no prazo fixado, após o trânsito em julgado. Logo, em que pese não possuir caráter
reparatório, a multa revertida em favor do ente público, descortina a natureza publicista
e social da sanção, decorrente do ato desleal.

Os artigos 80 e 81 do CPC/15, dispõem sobre a litigância de má-fé, trazendo um rol de


comportamentos, taxativos. Abaixo exemplo de julgado que traz bem essa situação:

4
SILVA, Bruno Freire; MAZZOLA, Marcelo. Litigância de má-fé no novo CPC. Penalidades e questões controvertidas.
Responsabilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264. ano 42, São Paulo: Revista dos Tribunais, fev. 2017.
5
DE SOUZA E SOUZA, Maicon. Dever de lealdade processual e análise econômica da litigância de má-fé à luz dos
punitive damages. In: Direito UNIFACS-Debate Virtual. n. 148, 2012. Disponível em:
<https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/2311>. Acesso em: 29 mar. 2019.
MULTAS POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E POR PRÁTICA DE ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA
JUSTIÇA. CUMULAÇÃO. LEGALIDADE. É o próprio parágrafo único do art. 14 do CPC que
autoriza a cumulação da multa nele estipulada com as demais "sanções criminais, civis e
processuais cabíveis". Assim, uma vez evidenciado que a reclamada não apenas alterou a
verdade dos fatos em contestação, deduzindo defesa contra fato incontroverso, como insistiu,
em sede recursal, na alegação comprovadamente inverídica de que o período de estabilidade
teria sido respeitado, demonstrando sua renitência em observar as regras da boa conduta
processual, não se vislumbra ilegalidade na cominação cumulada das penalidades previstas
nos artigos 14, parágrafo único , e 18 , caput, do CPC.6 (BRASIL, 2009)

Portanto, sempre que um dos sujeitos processuais violar a boa-fé e praticar um ato capaz
de causar prejuízo a outrem, surgirá o chamado dano processual, passível de reparação.
O juiz então, poderá, de ofício ou a requerimento, condenar o litigante de má-fé a pagar
multa, que deverá ser superior a dois por cento e inferior a vinte por cento do valor
corrigido da causa, a fim de indenizar a parte contraria dos prejuízos que sofreu e ainda
arcar com os honorários advocatícios e despesas processuais, conforme apresentação
feita pelo Código de Processo Civil de 2015.

Considerando o grande prejuízo causado a parte vítima da litigância de má-fé, a


modificação quanto ao tema foi uma boa forma de educar aqueles que,
propositalmente, alteram a verdade dos fatos, opõe resistência injustificada ao
andamento do processo, provocam incidente manifestamente infundado, dentre outras
situações. Portanto, a multa é devida à parte prejudicada e não ao Estado, já que a norma
não faz destinação expressa dessa verba ao ente público.

O artigo 80, do Código de Processo Civil Brasileiro, de 2015, estabelece diversos


comportamentos processuais reprováveis que, se verificarmos a presença do elemento
dolo, devemos punir o agente, do ponto de vista processual, como também do ponto de

6
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 10 Região. ROPS 1238200801810001. Desembargador Relator: André R. P.
V. Damasceno. Recorrente: Viplan - Viação Planalto Ltda. Recorrido: Iranéia Rego Bezerra da Silva. Julgamento em
05/05/2009. Data de publicação: 18/05/2009.
vista de direito material, com a reparação dos prejuízos, nos termos do artigo 927 do
Código Civil.

É bom ressaltar que as condutas processuais previstas no artigo 80, do Código de Processo
Civil, de 2015, podem simplesmente gerar uma sanção pecuniária, com a aplicação apenas
de multa e, se verificado o dano, aplicar a teoria da responsabilidade civil e determinar o
ressarcimento pelos prejuízos materiais e morais causados à parte contrária.

As condutas previstas no artigo 80, do CPC/15, são condutas objetivas e possuem o intuito
de balizar o julgador, com objetivo de reprimir as condutas antijurídicas claramente
contrárias aos interesses processuais e a duração razoável do processo, nos termos do
artigo 6º do CPC/2015.

Câmara (2016) aponta que:

[…] a responsabilidade processual por litigância de má-fé é uma responsabilidade subjetiva.


Em outros termos, deve haver aqui não só a verificação da conduta, do dano e do nexo de
causalidade, mas também de um elemento subjetivo por parte do causador do dano.
(CÂMARA, 2016, p. 67)7

Ainda, por possuir fatos geradores diferentes, há a possibilidade de cumulação da


apenação em indenização, multa e as despesas. Carpena (2005), elucida que:

[…] a condenação em multa de 01% (CPC/73) sobre o valor da causa possui, particularmente,
natureza punitiva e reflete o aspecto moral de repreensão contra o agente faltoso,
independentemente de o fato por ele cometido ter causado dano ou não. (CARPENA, 2005,
s/n)8

Nery Júnior e Nery (2017) elencam que é possível a cumulação das multas por litigância
de má-fé e por ato atentatório à dignidade da jurisdição (antigo instituto chamava-se ato
de embaraço à atividade jurisdicional), com a indenização:

7
CÂMARA, Alexandre. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
8
CARPENA, Márcio Louzada. Da (des)lealdade no processo civil. Curitiba: Gênesis. In: Revista de Direito Processual Civil
nº 35, 2005. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/9903-9902-1-PB.pdf>. Acesso
em: 29 mar. 2019.
Caracterizada a litigância de má-fé, há para o “improbus litigador” o dever de indenizar,
mesmo que seja vencedor na ação, pois independe do resultado da demanda. Essa
condenação pode ser imposta cumulativamente com a pena pelo embaraço à atividade
jurisdicional (contempto of court) e o dever de probidade e a parte prejudicada (litigância por
má-fé). (NERY JÚNIOR; NERY, 2017, p. 458-459) 9

É certo que os institutos em comento têm, por assim dizer, sujeitos passivos imediatos
distintos, quem sejam: 1) as próprias partes, no caso da multa por litigância de má-fé e
oposição de embargos de declaração protelatórios; 2) o Estado-Juiz, no caso da multa por
ato atentatório à dignidade da justiça. Contudo, isso não significa que não existam
repercussões reflexas sobre os demais sujeitos do processo além daqueles aos quais tais
institutos se destinam em um primeiro plano, pois, por exemplo, uma conduta atentatória
à dignidade da justiça é também, de certo modo, ato de litigância de má-fé e vice-versa.
O que se sobressai é que apenas optou o legislador por apenar com maior rigor condutas
que tenham como sujeito passivo incontinenti, a seu ver, a figura estatal.

Dessa forma, vemos que a lei elege os atos de litigância de má-fé e os de oposição de
embargos de declaração protelatórios como sendo condutas que causam dano nuclear a
uma das partes da relação processual e dano marginal ao órgão julgado. Os atos
atentatórios à dignidade da justiça, por sua vez, são como aqueles que violam
diretamente o necessário respeito às decisões da autoridade judiciária, em
descumprimento a provimento de caráter mandamental.

Com isso, a prática de ato atentatório à dignidade da justiça nada mais é do que uma
espécie qualificada de litigância de má-fé, que, a seu turno, é gênero do qual os embargos
protelatórios são espécies, razão pela qual é de se concluir que, à exceção da previsão
legal do § 4º do artigo 77 do CPC/15, a cumulação em comento não se mostra possível,
haja vista a relação de continência existente entre os referidos institutos (litigância de má-
fé/ embargos de declaração protelatório e ato atentatório à dignidade da justiça).

9
NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 16ª ed. Revista atualizada
e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
Em que pese o exposto, insta salientar, todavia e por fim, que acarrete o descumprimento
dos imperativos de conduta processual prejuízos à parte ou ao Estado, devem os
respectivos atos ser coibidos como forma de garantir o respeito à lealdade e à boa-fé,
bem como, consequentemente, à razoável duração do processo e à celeridade de sua
tramitação.

Essa é a lição de Negrão (2017)10 ao comentar o artigo 18 do Código de Processo Civil:

A multa prevista neste artigo é uma sanção punitiva. Para que ela possa ser aplicada
conjuntamente com outras sanções é necessário que elas exerçam funções distintas (p. ex.,
coercitiva ou reparatória). Um mesmo comportamento não pode ser sancionado mais de uma
vez com a mesma finalidade. São também punitivas as sanções previstas nos arts. 14 § ún.,
164, 196, 233, 538 § ún., 557 § 2º, 601 – caput, 740 § ún. e 746 § 3º; logo, não podem ser
impostas cumulativamente. Em cada caso concreto, deve ser aplicada a multa mais específica.
Dado o caráter genérico da multa prevista no art. 18, sua efetiva incidência fica prejudicada
nas situações em que também exista suporte material para a aplicação de punição prevista
nos artigos arrolados anteriormente. Todavia, isso não impede que, conjuntamente com as
sanções dos arts. 14 § ún., 538 § ún., 557 § 2º, 601- 'caput', 740 § ún. e 746 § 3º, seja imposta
a condenação a indenizar, a pagar honorários advocatícios e a ressarcir despesas previstas
neste art. 18, na medida em que se trata de sanção reparatória, ou seja, distinta da punitiva.
Não existem óbices para que uma outra conduta do litigante no mesmo processo venha a ser
objeto de nova punição, fazendo incidir mais uma vez a pena do art. 18 (RT 623/113) ou dando
azo à incidência de outra sanção mais específica, sem prejuízo da pena imposta pelo
comportamento anterior. (NEGRÃO, 2017, p. 711)

Segundo Bondioli et al. (2017)11, não seria admissível a imposição das multas referidas,
mas seria possível a cumulação da multa prevista no parágrafo único do artigo 538 do
CPC/15 com a indenização prevista no artigo 18 do CPC/15, em razão da natureza distinta
das sanções.

10
NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e Legislação processual em vigor. 39ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017.
11
BONDIOLI, Luís Guilherme Aidar et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. São Paulo: Saraiva,
2017.
Defende-se que a natureza jurídica do instituto é de verdadeira indenização (não multa
ou de pena pecuniária), haja visto que para sua incidência há a necessidade de
demonstração do prejuízo experimentado pela parte prejudicada no deslinde do
processo, seja parte vencedora ou não, pois, mesmo na perda, pode haver prejuízos à
parte que sofre lesão em seu direito constitucional da prestação jurisdicional efetiva.
Logo, o vencedor do mérito da lide, durante a marcha processual, pode cometer atos
desleais, sendo apenado ao final.

Entretanto, houve grande discussão quanto fixação da indenização por perdas e danos,
se era preciso comprová-la ou não. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça consolidou
que essas perdas e danos seriam presumidas:

INDENIZAÇÃO. PROVA DO PREJUÍZO. DESNECESSIDADE. Aplica-se a Súmula n. 7 do STJ na


hipótese em que a tese versada no recurso especial reclama a análise dos elementos
probatórios produzidos ao longo da demanda. É desnecessária a prova do prejuízo para que,
constatada litigância de má-fé, haja condenação ao pagamento de indenização à parte
contrária. Recurso especial não-conhecido. (BRASIL, 2010)12

No entanto, verificando a ocorrência de uma das hipóteses indicadas no artigo 80, do


CPC/2015, surge a seguinte questão: qual seria a melhor técnica para que o processo
possa reprimir as condutas antijurídicas praticadas pelos sujeitos processuais, em
litigância de má-fé?

Dito os argumentos, se as sanções não têm a mesma natureza, podem ser cumuladas; ou
quando o destinatário é diferente, também podemos cumular as punições com mesma
natureza, evitando assim, o bis in idem.

Como vemos, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal tem o mesmo entendimento:

REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ARRENDAMENTO MERCANTIL. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE


DA JUSTIÇA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. MULTAS. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. INDENIZAÇÃO.
VRG. CPC/73. 1. A venda do veículo em afronta à proibição judicial atenta contra a dignidade

12
BRASIL. Recurso Especial n. 861.471/SP. Relator Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, Recorrente Empresa
Paulista Cinematográfica Ltda; Recorrido: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição ECAD; julgado em 09/02/2010,
DJe 22/03/2010.
da Justiça e enseja a aplicação da multa cominada no CPC 14, § único, além da indenização
prevista no art. 18, caput e § 2º, prejudicada a multa neste cominada para a litigância de
má-fé, pois, tendo a mesma natureza punitiva daquela outra, representaria inaceitável bis
in idem. 2. O arrendatário não tem direito à restituição do VRG, mas, sim, a um eventual saldo
apurado após a venda do veículo, representado pela diferença entre o VRG contratado e o
valor da alienação somado ao VRG quitado. 3. No atual estágio, ignora-se a existência de saldo
favorável ao arrendatário, o que inviabiliza a prolação de sentença, que seria condicional,
assegurando, desde já, a restituição. (BRASIL, 2017)13

()

Tanto a penalidade por ato atentatório à dignidade da jurisdição, quanto a multa por
litigância de má-fé têm, em sua essência, a mesma justificativa: punir a deslealdade
processual.

Assim, a aplicação das duas multas, pune duas vezes o mesmo fato, o que não tem
permissivo legal. Em cada caso concreto deve ser aplicada a multa mais específica.

A indenização tem caráter reparatório, portanto, poderá ser combinada com outra
penalidade de caráter punitivo, conforme o caso. Conclui-se que, nesse caso, não é
possível a cumulação da multa por ato atentatório e litigância de má-fé, sob pena de
configurar bis in idem.

b) Analise a indenização fixada pelo juiz de primeiro grau, bem como quanto ao seu
cabimento e ao procedimento adotado pelo juiz no caso em análise. Justifique
sua resposta.

Inicialmente, cumpre salientar que em se tratando de matéria que envolva


conhecimentos técnicos ou científicos sobre determinada área, o juiz deverá ser assistido
por perito, como preceitua o artigo 156, § 1º do CPC/15.

13
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Processo n. 0006550-52.2013.8.07.0012, Relator: Fernando Habibe.
Data de Julgamento: 12/07/2017, Quarta Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 18/07/2017.
No entanto, o pedido de prova pericial poderá ser indeferido quando o juiz entender que
não há necessidade de conhecimento técnico para provar o fato controverso, quando já
estiver comprovado por outros meios de prova ou quando a verificação for impraticável,
nos moldes do artigo 475 do CPC/15.

Ademais, a prova pericial também poderá ser rejeitada quando as partes já apresentarem,
na inicial e na contestação, pareceres técnicos ou documentos que deixem claro ao
magistrado, destinatário da prova, a verdade acerca do fato controverso.

Ocorre que a indenização deverá ser imposta quando existir dano ou prejuízo à parte.
Dessa forma, o que se vê é prejuízo à parte que teve seu direito à produção de prova
pericial indeferido e não dano à parte que sequer postulou pela perícia.

Dessa maneira, entende-se a indenização em R$ 10.000,00 (dez mil reais) é descabida e,


ainda, exacerbada, principalmente porque a multa de litigância de má-fé já possui cunho
indenizatório, de modo que a dupla indenização claramente poderá ser vista como
enriquecimento ilícito da parte contrária.

Há discussões sobre a aplicação da multa por litigância de má-fé pelo juiz, de ofício. Será
que essa maneira feriria os princípios do contraditório e da ampla defesa, entendendo-o
como um princípio que veda uma decisão surpresa?

Soares (2018), escreve sobre este dilema:

No entanto, a melhor técnica para a repressão do abuso de direito processual e,


consequentemente, a litigância de má-fé não seria a aplicação de ofício pelo julgador das
hipóteses previstas enumerativas e exaustivas no art. 80 do CPC, pois, assim, estaria vedando
o contraditório, entendido como garantia de vedação a uma decisão surpresa, e contrariando
os arts. 6º e 10 do CPC/2015. Em nome da garantia do contraditório, verificando o juiz que
ocorreu algumas das hipóteses previstas no art. 80 do CPC/2015, deve abrir, ainda que
incidentalmente, nos próprios autos do procedimento ou em procedimento próprio, uma
discussão paralela entre as partes, sobre a ocorrência ou não de algumas das hipóteses de
litigância de má-fé e seus eventuais danos. Isso significa dizer que, se o julgador tomar a
decisão pela aplicação de alguma punição por litigância de má-fé sem que haja o devido
respeito ao contraditório, essa decisão estaria vedando a participação em contraditório, e
seria, do ponto de vista constitucional-democrático, uma decisão passível de anulação, por
absoluta falta de garantia do contraditório e da ampla defesa. (SOARES, 2019, s/n)14

Segundo Marques (2013)15, quando temos a verificação de um ato processual abusivo,


com intuito de atrasar o processo e ferir a dignidade da justiça e sua prestação
jurisdicional, estamos diante da violação de um direito fundamental. Essa violação deve
ser punida de forma enérgica, com a aplicação de multa e indenização para ser pago pelo
agressor, pois é inconcebível que direitos fundamentais sejam flagrantemente violados
pelas partes com o objetivo escuso de lesar a credibilidade do Judiciário e da parte
contrária. Infelizmente, no Brasil, o que observamos é que a presente discussão sobre a
violação de direitos fundamentais e a possibilidade de reparação e aplicação de multa
processual ainda caminham devagar, do ponto de vista prático.

Apesar de grande parte da doutrina defender a possibilidade, e até a necessidade, de


responsabilizar o Estado pelas violações da garantia constitucional da duração razoável
do processo, no Brasil, ainda há grande resistência dos tribunais em condenar o Estado a
indenizar o jurisdicionado nos casos.

Os tribunais brasileiros terão de mudar sua postura conservadora, não podendo aplicar o
artigo 81 do CPC/2015 ex officio, sob pena de violação ao contraditório, à ampla defesa,
ao estado democrático, à cooperação judicial e à vedação de decisão surpresa, o que
impede a decisão sobre a responsabilidade processual sem o devido debate e produção
de prova necessários para tal. Ou se garante o artigo 10 do CPC/2015 e o aplica em
conjunto com o artigo 81 do CPC/2015; ou teremos o desvirtuamento do novo Código de
Processo Civil, que repetirá práticas antigas e antidemocráticas, o que não se espera com

14
SOARES, Carlos Henrique. Litigância de má-fé no novo código de processo civil. Disponível em:
<http://www.rkladvocacia.com/litigancia-de-ma-fe-no-novo-codigo-de-processo-civil/#_ftn1>. Acesso em: 29 mar.
2019.
15
MARQUES, Camila Salgueiro da Purificação. O princípio do contraditório e a condenação por litigância de má-fé. vol.
15 – n. 22 - jul/dez 2013, p. 137/152.
esse novo instrumento normativo processual e pela vigência incondicional do artigo 1º da
CF/1988, segundo Marques (2013)16.

A melhor técnica para a repressão do abuso de direito processual e, consequentemente,


a litigância de má-fé, não seria a aplicação de ofício pelo julgador, pois assim vedaria o
contraditório como garantia de vedação a uma decisão surpresa.

Em nome da garantia do contraditório, verificando o juiz que aconteceu algumas das


hipóteses previstas no artigo 80 do CPC/2015, deve abrir, ainda que incidentalmente, nos
próprios autos do procedimento uma discussão paralela, entre as partes, sobre a
ocorrência ou não da litigância de má-fé e seus eventuais danos. Isso significa dizer que,
se o julgador tomar a decisão pela aplicação de alguma punição por litigância de má-fé
sem que haja o devido respeito ao contraditório, essa decisão estaria vedando a
participação e seria, do ponto de vista democrático, uma decisão passível de anulação por
absoluta falta de garantia do contraditório e da ampla defesa, como aponta Marques
(2013).

Claro que não basta apenas que o julgador, no momento da verificação da litigância de
má-fé, abra às partes vista dos autos para que possam, sobre ela, se pronunciar. Há a
necessidade, atendendo ao disposto no artigo 5º, inciso LV, da Constituição da República,
à ampla defesa, com a garantia de produção de todas as provas necessárias para
demonstrar ou não a ocorrência de uma das hipóteses previstas no artigo 80 do CPC.

Não vislumbramos a necessidade de abertura de um incidente processual para a


caracterização e verificação da ocorrência da litigância de má-fé, no entanto, se isso for
necessário para evitar prejuízo às partes e as argumentações, verificamos que não existe
nada no ordenamento jurídico brasileiro que desaconselhe tal prática. Se a discussão será
feita nos próprios autos ou em incidente processual, isso revela uma preocupação com a

16
MARQUES, Camila Salgueiro da Purificação. O princípio do contraditório e a condenação por litigância de má-fé. vol.
15 – n. 22 - jul/dez 2013, p. 137/152.
economia processual, de acordo com Marques (2013). No entanto, o que não pode faltar
é o devido respeito ao contraditório e à ampla defesa, bem como é vedado ao julgador,
de ofício, aplicar penas processuais, pelas hipóteses verificadas no artigo 80 do CPC/15,
sem oportunizar a devida manifestação e provas pelas partes interessadas no resultado
do julgamento.

Por ter entendido ter o embargante incorrido em tais penalidades, fixou o magistrado
desde logo indenização na monta de R$ 10.000,00 (dez mil reais), conduta essa que, prima
facie, mostra-se possível, consoante permissivo legal insculpido no artigo 81 do CPC/15,
que é claro a respeito.

No que toca ao procedimento, é taxativo o § 3º da mencionada lei adjetiva ao autorizar


seja a indenização fixada de pronto pelo juízo, caso não haja necessidade de prévia
liquidação do montante, motivo pelo qual, em não tendo a questão trazido elementos a
indicar ter sido precipitada a realização de plano do arbitramento do quantum
indenizatório, tem-se que esse procedimento adotado pelo juiz também se apresenta
hígido.

Portanto, além de dar oportunidade às partes para de manifestarem, há a necessidade


também, da ampla defesa, com a garantia de produção de provas, a fim de demonstrar
ou não a ocorrência de umas das hipóteses previstas no artigo 80 do CPC/15.

Importante dizer que a decisão do juiz que fixa multa e indenização para o litigante de
má-fé deve ser fundamentada, tipificando a conduta que se encaixa naquela situação. Isso
porque caso não faça, a aplicação da má-fé é carecedora de fundamentação, visto que
temos fixação de uma penitência.

c) A quem são devidas as multas apresentadas no caso em questão? Pode-se, desde


logo, executar as multas e a indenização? Justifique sua resposta de forma
fundamentada.
A multa aplicada por litigância de má-fé será devido à parte adversa e indenização, é
devida para a parte ofendida. Já a multa por ato atentatório ao exercício de jurisdição, é
devida à Fazenda Pública.

De Souza e Souza (2012), explica sobre a multa por ato atentatório ao exercício de
jurisdição:

Trata-se de multa, que será revertida em favor do Estado ou da União ao final da lide, como
dívida ativa, caso não haja adimplemento espontâneo no prazo fixado, após o trânsito em
julgado. Logo, em que pese não possuir caráter reparatório, a multa revertida em favor do
ente público, descortina a natureza publicista e social da sanção, decorrente do ato desleal.
(DE SOUZA E SOUZA, 2012, s/n)17

Há que se ressaltar, todavia, que mais adequado seria se falar em parte prejudicada, pois
não apenas a parte contrária pode ser vítima de litigância de má-fé, mas também outros
participantes do processo, como o assistente, o litisconsorte, o denunciado da lide, por
exemplo.

Segundo Muniz (2010)18, podem figurar como litigantes de má-fé, consoante uma
interpretação ampliada dos artigos 16 e 18 do Código de Processo Civil 73 (artigos 79 e
81, do Código de Processo Civil de 2015), não só as partes, como também todos os
participantes do processo, que poderão ser prejudicados, ainda que beneficiários da
justiça gratuita.

De acordo com Marinoni (2011)19, quanto ao procedimento para recebimento do valor da


multa, se possível, desde logo se demonstra o montante do dano causado, assim, o juiz
fixa na sentença, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa. Caso não seja

17
DE SOUZA E SOUZA, Maicon. Dever de lealdade processual e análise econômica da litigância de má-fé à luz dos punitive damages.
In: Direito UNIFACS-Debate Virtual. n. 148, 2012. Disponível em: <https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/2311>.
Acesso em: 29 mar. 2019.

18
MUNIZ, Maristela Cury. A cobrança de multas e indenizações decorrentes das hipóteses e litigância de má-fé
previstas pelo artigo 17 do Código de Processo Civil (dissertação). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2010.
19
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011.
possível, ocorrerá a liquidação por arbitramento (artigos 475-C e 475-D, do Código de
Processo Civil 1973 - artigos 509 e 510 do, Código de Processo Civil de 2015).

Em que pese boa parte da doutrina ter entendimento contrário, o legislador, encampando
a jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em matéria análoga,
optou por atribuir a titularidade da multa pela prática de ato atentatório à dignidade da
justiça ao Estado (artigo 77, § 3º, do CPC/15) e as impostas pela oposição de embargos
protelatórios ao embargante (artigo 1.026, § 2º, do CPC/15), portanto à parte.

Já as impostas por litigância de má-fé, embora o artigo 81 do CPC/15 não deixe claro quem
seja seu titular, em razão de pacífico entendimento do STJ sobre caso semelhante,
consolidou-se a jurisprudência no sentido de que o titular da multa por litigância de má-
fé também é a parte, não obstante a natureza sancionatória do instituto.

No que atine à execução das multas e da indenização, entendemos ser aplicável ao caso,
por analogia, o disposto no artigo 537 do CPC/15, que prevê a imediata exequibilidade da
multa/ indenização.

E, ainda, se o dano causado for superior ao patamar estabelecido no artigo 81, § 2º, do
Código de Processo Civil de 2015, cabe ação autônoma para a apuração de
responsabilidade pelo restante, consoante decidiu o Superior Tribunal de Justiça –
Informativo 497/201220, abaixo transcrito.

A Turma, por maioria, assentou o entendimento de que é o autor da demanda o destinatário


da multa diária prevista no art. 461, § 4º, do CPC – fixada para compelir o réu ao cumprimento
de obrigação de fazer. De início, ressaltou o Min. Marco Buzzi não vislumbrar qualquer lacuna
na lei quanto à questão posta em análise. Segundo afirmou, quando o legislador pretendeu
atribuir ao Estado a titularidade de uma multa, fê-lo expressamente, consoante o disposto no
art. 14, parágrafo único, do CPC, em que se visa coibir o descumprimento e a inobservância
de ordens judiciais. Além disso, consignou que qualquer pena ou multa contra um particular
tendo o Estado como seu beneficiário devem estar taxativamente previstas em lei, sob pena
de afronta ao princípio da legalidade estrita. Cuidando-se de um regime jurídico sancionatório,

20
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Informativo 497 do STJ - 2012. Conteúdo Jurídico, Brasilia-DF: 24 maio 2012.
Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=238.37170&seo=1>. Acesso em: 01 abril 2019.
a legislação correspondente deve, necessária e impreterivelmente, conter limites à atuação
jurisdicional a partir da qual se aplicará a sanção. Após minucioso exame do sistema jurídico
pátrio, doutrina e jurisprudência, destacou-se a natureza híbrida das astreintes. Além da
função processual – instrumento voltado a garantir a eficácia das decisões judiciais –, a multa
cominatória teria caráter preponderantemente material, pois serviria para compensar o
demandante pelo tempo em que ficou privado de fruir o bem da vida que lhe fora concedido
seja previamente, por meio de tutela antecipada, seja definitivamente, em face da prolação
da sentença. Para refutar a natureza estritamente processual, entre outros fundamentos,
observou-se que, no caso de improcedência do pedido, a multa cominatória não subsiste.
Assim, o pagamento do valor arbitrado para compelir ao cumprimento de uma ordem judicial
fica, ao final, dependente do reconhecimento do direito de fundo. Resp. 949.509-RS, Rel.
originário Min. Luís Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min. Marco Buzzi, julgado em
8/5/2012.

d) Caso o tribunal superior ao magistrado reconhecesse a litigância de má-fé, em


análise recursal sobre a matéria, e não sendo possível se mensurar os danos a
serem indenizados, como se deve proceder no caso em questão? Justifique sua
resposta, baseada na doutrina e na jurisprudência mais recente sobre o assunto.

No CPC/73, o litigante de má-fé poderia ser condenado ao pagamento de indenização,


fixada desde logo pelo juiz em valor não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da
causa ou liquidada por arbitramento (artigo 18, § 2º).

Caso o tribunal reconheça a litigância de má-fé e em não sendo possível mensurar os


danos a serem indenizados, deverá a referida corte baixar os autos ao juízo a quo, para
que, nos termos do § 3º do artigo 81 do CPC/15, seja aberto o regular procedimento de
liquidação.

Entretanto, o legislador foi mais duro com o litigante de má-fé, prevendo que o valor da
indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por
arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos (artigo 81, § 3º, CPC/15).
Assim, eliminou o teto de 20% do valor da causa, permitindo que a penalidade alcance
patamares mais condizentes com a infração cometida, com harmonia ao artigo 944 do
CC/02 (SILVA, Bruno Freire; MAZZOLA, Marcelo. Litigância de má-fé no novo CPC.
Penalidades e questões controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revista de
Processo. vol. 264. ano 42, São Paulo: Revista dos Tribunais, fev. 2017, p. 51/81).

De acordo com Nery Júnior (1997)21:

Caso o juiz reconheça a litigância de má-fé, mas não tenha parâmetros para fixar o valor da
condenação, deverá fixá-la desde logo, não podendo exceder 20% do valor dado à causa,
corrigido monetariamente. Na hipótese de os prejuízos excederem esse limite, o juiz deverá
reconhecer a litigância de má-fé (am debeatur) e remeter a apuração do quantum
debeatur para a liquidação por arbitramento. Neste último caso, o prejudicado deverá
demonstrar a extensão do dano na ação de liquidação por arbitramento, que se dará nos
mesmos autos. (NERY JÚNIOR, 1997, p. 32-33)

O limite de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, portanto, é para que o juiz possa,
de imediato, fixar a indenização. Não significa que não possa haver prejuízo maior do que
20% (vinte por cento) do valor da causa, pelos atos do litigante malicioso. Havendo
prejuízo, qualquer que seja seu montante, deve ser indenizado integralmente pelo
causador do dano. Segundo Silva e Mazzola (2017)22, entender-se o contrário é permitir
que, pelo comportamento malicioso da parte, haja lesão a direito de outrem não
inteiramente reparável, o que se afigura motivo de empobrecimento indevido da parte
inocente, escopo que, por certo, não é perseguido pelo direito processual civil.

Estabelece-se, assim, que nas causas de alto valor, quando 20% (vinte por cento) já
representarem por si só um valor vultuoso, o juiz pode, sem recorrer a ninguém e logo de
início, determinar a indenização. No entanto, nas causas de valor baixo, em que de pronto
se percebe que a quantidade determinada pelo artigo 18 CPC/73 (artigo 81 do CPC/15)
não será suficiente para sanar o ilícito, o juiz ou o tribunal ficam presos à necessidade de

21
NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades sobre o Processo Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
22
SILVA, Bruno Freire; MAZZOLA, Marcelo. Litigância de má-fé no novo CPC. Penalidades e questões controvertidas.
Responsabilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264. ano 42, São Paulo: Revista dos Tribunais, fev. 2017.
arbitramento, não podendo decidir um valor maior que, se contestado, pudesse, então,
ir a arbitramento.

Em outras palavras, dá-se poder ao magistrado para o mais, porém não para o menos, e
se determina que a máquina estatal aja quando não haveria necessidade para tanto.

Dessa forma, de acordo com Silva e Mazzola (2017)23, conclui-se que o §2º do artigo 18
do CPC/73 (artigo 81 do CPC/15), cuja redação fora dada em reforma de 1998 pela Lei n.
9.668/98, peca por dois motivos: em estabelecer um percentual para o caso de
indenização, quando o valor só poderia ser mensurado considerando-se cada caso e sua
consequente gravidade e em relacionar tal percentual com o valor da causa,
principalmente, porque é sabido que tal valor representa um momento estanque, isto é,
o da propositura da ação, sendo comum que, nos casos de indenizações ou condenação
a pagamento de quantia certa, o valor final ultrapasse o inicial proposto. Mais razoável
seria a base no valor da execução ou da condenação.

De acordo com Nery Júnior (1997)24, podemos considerar que o legislador,


provavelmente, pensou nas causas em que não cabem indenização ou pagamento por
quantia certa, quando não haveria possibilidade de arbitramento senão subjetivo, ou
mesmo para os casos de valor simbólico. Justamente aí é que o percentual de 10% (dez
por cento) - CPC73 (20% - vinte por cento) - CPC/15 poderia ser inócuo para a solução da
litigância de má-fé.

A luz do CPC/15, artigo 81, §3º diz que caso o valor da multa não seja suficiente para
desestimular a conduta de má-fé ou o juiz fique com dificuldade na fixação do valor,
poderá fixar multa em até dez salários-mínimos, porém, de toda forma, não deixará de
punir o infrator por causa das dificuldades apontadas.

23
SILVA, Bruno Freire; MAZZOLA, Marcelo. Litigância de má-fé no novo CPC. Penalidades e questões controvertidas.
Responsabilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264. ano 42, São Paulo: Revista dos Tribunais, fev. 2017.
24
NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades sobre o Processo Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

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