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Conceitos Fundamentais
JUR0227_v1.1
3. Objetivos
Gerais
• Desenvolver a prática do advogado, diante de um caso concreto
apresentado.
Específicos
• Retratar determinada situação jurídica hipotética capaz de instigar a
reflexão do tema de forma ampla e profunda.
• Compreender a necessidade de um estudo aprofundado do tema, seja
em relação à pesquisa doutrinária e jurisprudencial sobre a situação,
de modo a apresentar uma manifestação processual coerente.
• Promover a interpretação contextual para que melhor se possa
compreender a manifestação geral de um dado problema.
• Estimular o desenvolvimento de raciocínio crítico e argumentativo.
• Desafiar o aluno a identificar e avaliar a problematização e a propor
solução.
• Compreender o instituto da análise da competência a partir do estudo
de caso proposto.
• Identificar os requisitos apresentados sobre o assunto no Novo Código
de Processo Civil em questão e verificar se eles foram respeitados.
4. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado deste estudo de caso,
você deve desenvolver seguindo as etapas a seguir:
Apoiar-se nas leituras complementares, tanto doutrinárias como
jurisprudenciais disponíveis:
ARRUDA ALVIM, José Manoel. Manual de Direito Processual Civil. 16. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002.
CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e competência. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
CUNHA, Leonardo José Carneiro. Jurisdição e Competência. 2 ed. São Paulo.
Revista dos Tribunais, 2013.
DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito processual civil. V. 1. 18 ed. Salvador:
Juspodivm, 2016.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Declaração ex officio da incompetência relativa?
Fundamentos do Processo Civil Moderno. T. 1. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
JATAHY, Vera Maria Barrera. Do conflito de jurisdições. Rio de Janeiro: Forense,
2003.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. 6 ed.
Curso de Processo Civil. V. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: Teoria Geral do Processo. V.
1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma teoria contemporânea do
processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de
Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Notas sobre o foro de eleição. Revista de
Processo 97/149-156.
MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro. Competência Cível da Justiça Federal. 8.
ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Processo e constituição. Rio de Janeiro:
Forense, 2004.
SILVA, Ovídio Batista da; GOMES, Fábio. Teoria Geral do Processo Civil. 6 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
5. Resolução
Em um processo que tramita hoje na comarca de Barueri/SP, o magistrado
da primeira vara cível, esgotadas as providências preliminares, apresenta a
seguinte decisão:
“Trata-se de ação em que a autora pleiteia a declaração da nulidade do
contrato empresarial de fornecimento de insumos mantido com a ré. Embora a
autora tenha sede em Sorocaba/SP e a ré em Santos/SP, e não obstante o
contrato tenha por objeto a entrega de matéria-prima para a planta industrial
da autora em Boituva/SP, a ação foi ajuizada nesta Comarca de Barueri/SP, que
não guarda relação alguma com as partes ou com o litígio. O contrato indica que
as partes elegeram esta Comarca em razão da equidistância entre as sedes.
Caberia à ré suscitar a incompetência em contestação, mas foi silente. Isso não
convalida, contudo, a nulidade da cláusula de eleição de foro. Não é dado às
partes escolher o juízo que lhes prestará jurisdição. Caso assim pretendam,
deveriam optar pela arbitragem. No Poder Judiciário, há critérios para a fixação
de competência. Admite-se a eleição de foro, mas desde que tenha relação com
o litígio ou com as partes, e não aleatoriamente, como no presente caso. Ante
o exposto, declaro a nulidade da cláusula de eleição de foro, reconheço a
incompetência deste Juízo e determino a remessa eletrônica dos autos a
Santos/SP para redistribuição”.
Você é contratado pelo advogado da parte autora para elaboração de um
parecer, devidamente embasado, com relação aos seguintes questionamentos:
a) Com o reconhecimento da nulidade da cláusula contratual de ofício, agiu
corretamente o juiz? Fundamente a sua resposta com base na doutrina e
jurisprudência.
No início da década de 1990, o Superior Tribunal de Justiça pacificou por meio
da Súmula 33 o entendimento que “A incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício”. Dentro dessa dinâmica, portanto, não seria permitido ao juiz
invalidar a cláusula de eleição de foro e remeter os autos ao juízo do domicílio do
réu por se tratar de competência relativa e não absoluta.
Porém, após o advento do Código de Defesa do Consumidor, o STJ passou a
relativizar a Súmula 33, a fim de proteger a parte hipossuficiente da relação
consumerista, especialmente em relação à cláusula de eleição de foro. Na lição
de Fredie Didier Junior:
A ‘exceção de incompetência’ foi abolida pelo novo CPC, que preserva, não
obstante, os principais efeitos (e diferença) da incompetência relativa e da
incompetência absoluta como se verifica deste art. 64 e do art. 65. Assim, de
acordo com o art. 64, caput, tanto a incompetência relativa como a
incompetência absoluta devem ser arguidas em preliminar de contestação pelo
réu. (…) o § 4º traz novidade importante: diferentemente do CPC de 1973, as
decisões proferidas por juízo absolutamente incompetente não se consideram,
desde logo, nulas. Seus efeitos são preservados até que nova decisão seja
proferida pelo juízo competente a respeito de sua conservação. A redação do
dispositivo permite a aplicação desta mesma sistemática para os casos de
incompetência relativa já que, em última análise, a manutenção, ou não, das
decisões anteriores pressupõe proferimento de nova decisão em um ou em
outro sentido. O § 1º do art. 64 permite que a incompetência absoluta seja
alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição, sem prejuízo de ela também
ser reconhecida de ofício pelo magistrado. Há antinomia com o caput? A melhor
resposta à questão é no sentido de superar eventual incompatibilidade entre as
duas regras. Nada de diferente, aliás, do que existe no sistema do CPC de 1973.
Assim, cabe ao réu arguir a incompetência absoluta desde logo, fazendo-o em
preliminar de contestação. Se não o fizer, contudo, poderá levantá-lo ao longo
do processo porque não há preclusão. Tanto que é dever do magistrado
pronunciar-se sobre a incompetência absoluta de ofício (e sempre após prévio
contraditório) em qualquer tempo e grau de jurisdição. (BUENO, Cassio
Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 82/83).
O juiz, por força do seu dever de imparcialidade, coloca-se entre as partes, mas
equidistante delas: ouvindo uma, não pode deixar de ouvir a outra; somente
assim se dará a ambas a possibilidade de expor suas razões, de apresentar suas
provas, de influir sobre o convencimento do juiz. Somente pela soma da
parcialidade das partes (uma representando a tese, e a outra, a antítese) o juiz
pode corporificar a síntese, em um processo dialético. É por isso que foi dito que
as partes, em relação ao juiz, não têm papel de antagonistas, mas sim de
colaboradores necessários”: cada um dos contendores age no processo tendo
em vista o próprio interesse, mas a ação combinada dos dois serve à justiça na
eliminação do conflito ou controvérsia que os envolve. (...) Em virtude da
natureza constitucional do contraditório, deve ele ser observado não apenas
formalmente, mas sobretudo pelo aspecto substancial, sendo de se considerar
inconstitucionais as normas que não o respeitem (CINTRA, Antônio Carlos de
Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria Geral
do Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005. p. 57/59.)
Portanto, ainda entendesse que ele não seria competente para o caso, no
início do trâmite da demanda deveria o magistrado possibilitar que as partes se
manifestassem, em prol do princípio da publicidade e do contraditório, de modo
a permitir uma efetiva e real participação dos verdadeiros interessados no feito.
c) Em que situações pode ser tida como inválida a eleição de foro?
Fundamente a sua resposta com base na doutrina e jurisprudência.
Diferente do que determinava o parágrafo único do artigo 112 do CPC/1973,
a abusividade da cláusula de eleição de foro não está mais limitada aos contratos
de adesão de acordo com o texto do novo CPC. Assim, a abusividade será
verificada sempre que o foro eleito representar obstáculo ao acesso da parte
contrária à justiça. Esse é, inclusive, o entendimento do STJ sobre o assunto: