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5.

Lealdade processual (boa-fé) - continuação

Relevamento

Artigo 601, p. ú., do CPC: o magistrado poderá relevar a multa se a parte se


comprometer a não reiterar o ato atentatório à dignidade da justiça.

Parágrafo único. O juiz relevará a pena, se o devedor se


comprometer a não mais praticar qualquer dos atos definidos no
artigo antecedente e der fiador idôneo, que responda ao credor pela
dívida principal, juros, despesas e honorários advocatícios. (Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Na prática, isso não funciona muito. Não há grandes discussões na jurisprudência.


Como uma garantia para que efetivamente a parte não pratique o ato novamente, a lei
exige a designação de um fiador judicial. Se, eventualmente, a parte reiterar o ato, o
fiador será legitimado passivo, conforme o artigo 568, inciso IV, do CPC.

A doutrina costuma dizer que a fiança não precisa ser fidejussória, poderia ser real (um
bem em garantia). Mas isso não é relevante para prova de concurso.

Cobrança da multa

O regramento da cobrança vem previsto no artigo 739-B do CPC.


A cobrança é efetivada na própria execução, mas em autos apartados para facilitar a
instrução.

Compensação
E se o executado tiver um crédito com o exequente?
Ex: exequente praticou ato de litigância de má-fé no início do processo e foi condenado
a multa a ser paga ao executado.
Se o executado, posteriormente, praticar um ato que gerar a ele o pagamento de uma
multa, esses créditos podem ser compensados.

Cumulação de multas

4 multas mais importantes: artigo 14, inciso V; artigo 18; artigo 461, §4º (astreinte);
artigo 601.

o É possível, por exemplo, cumular uma multa do artigo 601 com multa do
processo de conhecimento do artigo 14?
A doutrina majoritária entende que sim, tendo em vista que a incidência de cada uma é
diferente. O destinatário é diferente: o beneficiário da multa do artigo 601 é a parte e do
artigo 14 é o Estado. O fato de serem credores diferentes afasta o bis in idem.

Há um artigo do CPC que autoriza a aplicação da multa por litigância de má-fé em


outras incidências.
Artigo 656, §1º: prevê o diálogo das fontes entre o artigo 601 e o artigo 14.

o É possível cumular a multa do artigo 601 com a multa do artigo 18?


Não, já que possuem a mesma incidência. As duas são revertidas para o exequente.
OBS: Marinoni defende ser possível.

o É possível cumular a multa do artigo 601 com a multa do artigo 461, §4º?
Sim! O problema não é a incidência, é a natureza. São multas de natureza diferente.

Elementos de prova

Como comprovar no Judiciário o contempt of court?


O juiz pode eventualmente decretar de ofício. Mas se a parte tiver que comprovar, o que
é preciso?
Temos 4 requisitos para responsabilidade civil:
- Ação e omissão;
- Nexo causal;
- A culpa e o dolo;
- O dano.

De acordo com a doutrina e a jurisprudência, não é preciso provar a culpa e o dolo e


nem o dano.
Para a comprovação da má-fé processual, deve-se provar a ação ou omissão e o nexo
causal. O ilícito pode gerar dano, mas isso não é requisito para que se constate o
contempt of court.

6. Título executivo

a) Definição

Título executivo é condição necessária e suficiente para a execução.


É condição necessária porque o CPC exige o título executivo para desencadear
os atos efetivos de execução. Sem o título, não se pode executar. Artigos 586; 614,
inciso I; e 618, inciso I.
É condição suficiente porque somente o título basta para que a execução possa
ser desencadeada. Não é preciso nenhum outro elemento probatório para demonstrar a
existência do crédito. Eficácia abstrata do título: o título executivo já demonstra a
existência do direito material. Se eu sou portador de um cheque, é o tanto quanto basta
para promover a execução. O julgador vai abstrair a existência ou não do crédito. Essa
discussão pode ser afeta ao processo de conhecimento. O executado pode impugnar o
título, mas, em condições normais, não há discussão de mérito. O objetivo é satisfazer o
crédito (desfecho único).

b) Efeitos

i. Presunção da dívida
Não se questiona a dívida porque se presume que a dívida existe (presunção relativa).
Os artigos 489 e 585, §1º autorizam a execução mesmo se estiver discutindo o crédito.

ii. Limitação cognitiva


O juiz não vai perquirir a dívida. Por isso, sua cognição é limitada. O juiz não vai abrir
amplo contraditório. É uma cognição sumária, rarefeita, que se limita ao controle dos
atos executivos.
(É claro que se for uma execução indireta, em que o juiz pode escolher o procedimento,
aí a cognição é naturalmente um pouco maior).

iii. Procedimento executivo célere


Em decorrência da não discussão do crédito, o procedimento é moldado para cumprir o
título no plano prático.
O fim da execução é tirar o título do plano teórico, do dever ser, e passá-lo para o plano
concreto.

O título executivo é uma condição da ação executiva (assim como é legitimidade,


interesse e possibilidade)?

1ª corrente (Dinamarco, Vicente Grego Filho, Alexandre Freitas Câmara): Título


executivo é uma condição da ação. Os argumentos dos autores variam. Dinamarco
entende que o título executivo estaria relacionado ao interesse; Alexandre Câmara
defende que o rol de condições da ação previsto não é taxativo. O título executivo
constitui nova condição da ação.

2ª corrente (professor, Araken de Assis, Moacir Amaral Santos e Didier): Título


executivo NÃO é uma condição da ação. A doutrina se preocupou em atacar
especialmente aqueles que defendem e existência de mais de 3 condições da ação
(Alexandre Câmara, por exemplo). Entendem que o rol do artigo 267, inciso VI, é
taxativo. Se for ampliado o rol, será criado um número incontável de condições da ação.
Isso porque toda ação, de alguma forma, precisa de um requisito mais específico para
ser proposta.
Ex: prova do direito líquido e certo no MS seria uma condição da ação; prova
documental da ação monitória; recusa do credor em receber o crédito na consignação
em pagamento.
Esses atos não são condições da ação! Assim, não se poderia falar, da mesma forma,
que o título executivo seria condição da ação de execução.

iv. Princípio da taxatividade

Só há título por previsão legal.

OBS: Não confundir taxatividade com tipicidade.


Taxatividade é a previsão em lei do título.
Tipicidade é a forma do título.

Quem tem competência para criar títulos no Brasil?


Somente a União: artigo 22, inciso I, da CRFB.
OBS: O artigo 24, inciso XI, confere competência concorrente aos estados para que
possam regulamentar procedimento. Mas título executivo é matéria de processo, e não
de procedimento.
OBS: Na verdade, é difícil identificar o que é processo e o que é procedimento.

c) Natureza jurídica do título executivo


3 correntes explicitam a natureza do título:

1ª corrente: Teoria documental (Carnelutti). Documento prova a existência do


crédito. Constitui uma prova legal, pois a eficácia está na lei. A natureza jurídica do
título é de um documento, que prova um direito (prova legal = prova de um direito, e
não de um fato). Essa corrente não é adotada no Brasil por ninguém.

2ª corrente: Teoria do ato (Liebman e Dinamarco). É ato constitutivo da


concreta vontade do Estado. Para Liebman, muito mais que se preocupar com a forma,
entende que o conteúdo do título é o que importa.

Nenhuma das duas teorias está errada: há títulos em que o documento é mais
importante, e outros em que o conteúdo é mais importante.

3ª corrente: Teoria mista (defendida pela doutrina majoritária – Araken de Assis


e Sérgio Shimura). É instituto bifronte. Não basta o ato. Ele precisa ser documentado. O
título executivo é uma junção das duas primeiras teorias: é um documento e tem que se
preocupar com o ato também. Título = documento + ato.
Essa é a corrente adotada no Brasil e que deve ser considerada em concurso.

d) Requisitos do título executivo

i. Requisitos formais
 Deve haver um documento escrito (não há título verbal no Brasil).
 Deve preencher as regras de tipicidade. A lei estabelece quais são os títulos
executivos. O direito material vai enumerar os requisitos para que seja de fato
um título.

ii. Requisitos substanciais


 A dívida deve ser certa, líquida e exigível. Dívida certa e líquida são requisitos
que se encontram dentro do título executivo. Já a exigibilidade é um evento
exterior ao título.

O artigo 586 corrigiu um equívoco do CPC. Dizia que o título devia ser certo, líquido e
exigível. Corrigiu para ser a obrigação certa, líquida e exigível.
OBS: Não confundir certeza da obrigação do título com convicção do juiz nem com a
existência do direito. Se a obrigação é certa, não quer dizer que o crédito existe.

Certeza
A certeza da obrigação está ligada ao preenchimento de 3 requisitos. A dívida será certa
quando:
- For possível verificar os elementos subjetivos na obrigação (credor e devedor);
- For possível verificar qual é o objeto (se é pagamento, se é um fazer...);
- Individualiza o bem. Ex: um quadro, uma saca de café, dinheiro...

Liquidez
Em complemento à obrigação certa, a obrigação deve ser líquida.
O que é uma sentença líquida? É aquela que contém o quantum debeatur.
Para que uma dívida seja líquida, é necessário que no título conste exatamente o valor
devido (ex: 40 mil reais) ou é suficiente indício do valor (ex: 30% da condenação, 40
salários mínimos)?
Nos dois casos, a sentença é líquida. A apuração do valor do segundo caso depende de
meros cálculos aritméticos. Artigo 475-B do CPC.

Exigibilidade
Há, ainda, a exigibilidade. Obrigação exigível é a obrigação que pode ser cobrada.
Uma dívida é exigível:
o Com o vencimento da dívida (isso acontece normalmente com os títulos
extrajudiciais);
o Trânsito em julgado da sentença (em título judicial);
o Recurso recebido no efeito devolutivo (nos casos de execução provisória).

e) É juridicamente possível que a execução tenha como fundamento mais de um


título executivo?

1ª situação: 2 ou mais títulos referentes à mesma obrigação.


Existem 2 títulos ou mais que provam a mesma obrigação negocial entre credor e
devedor.
Ex: reforço de garantia. Para garantir um contrato, atrela-se a ele uma nota promissória.
De per si, o contrato já provaria a obrigação. Para torná-lo mais seguro, atrela-se uma
nota promissória, um documento a mais que comprova a existência do crédito.
Súmula 27 do STJ.

2ª situação: 2 ou mais títulos referentes a obrigações distintas.


Artigo 573 do CPC: trata da cumulação executiva.
Para a cumulação, devem ser preenchidos 2 requisitos:
- O juiz deve ser competente para ambos os títulos;
- Identidade de procedimento (daí porque é complicado cumular título judicial
com título extrajudicial).

PEGAR DA ALINE – 30 MINUTOS

É possível executar seguro de vida pela apólice. STJ, REsp 434831.


A apólice se aplica somente para seguro de vida; não se aplica para acidentes pessoais, a
não ser que o acidente pessoal tenha resultado em morte. Aí é possível executar com
fundamento no Decreto Lei 73/66, artigo 27. Artigo 777 do CPC.

7. Responsabilidade patrimonial (ou executiva)

O objetivo da execução é a satisfação do crédito. Para isso, é necessário que aquele que
responde pela obrigação tenha patrimônio suficiente e penhorável.

a) Conceito de responsabilidade patrimonial

Responsabilidade patrimonial é a sujeição do patrimônio do responsável


(devedor/terceiros) para com a execução.
Artigo 591 do CPC e artigo 391 do CC.
b) Quais bens respondem pela obrigação?

O artigo 591 diz que todos os bens do devedor presentes e futuros respondem pela
obrigação.
A lei não diz quais bens são penhoráveis; diz quais não são penhoráveis.

IMPENHORABILIDADE

 Impenhorabilidade do bem de família (Lei 8.009/90)


É o único bem da entidade familiar não sujeito à expropriação judicial.
Estão protegidos pela impenhorabilidade do bem de família:
- União estável;
- União homoafetiva;
- Irmãos – STJ, REsp 1095611;

E uma única pessoa, pode ser beneficiada pelo bem de família?


Súmula 364 do STJ.

Questões sobre imóvel:

Se o imóvel estiver em construção, é protegido pelo bem de família?


Sim! STJ, REsp 1087727.

A vaga de garagem é protegida?


Não. Súmula 449 do STJ (ver no Pablo).

E se o imóvel estiver alugado?


Se o produto do aluguel for revertido para a subsistência da família, é protegido.
Súmula 486 do STJ.

Existe valor para o bem de família?


A proteção independe do valor do imóvel. REsp 1178469 e REsp 1320370 (ver no
Pablo – pode separar parte não residencial).

A lei do bem de família alcança penhoras pretéritas?


Sim. Súmula 205 do STJ.

Se uma pessoa possui muitos imóveis, qual deles é o bem de família?


3 critérios:
Bem de família voluntário: a parte pode, por força do artigo 1.711, designar um
bem de família. Não havendo bem de família voluntário, passa-se ao próximo critério.
Moradia: o bem destinado à moradia é o bem de família.
Menor valor: se a família não morar no imóvel, o bem de família será o de
menor valor.

c) Quem responde?

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